Acts (BAV) 9

9 1 Enquanto isso, Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Apresentou-se ao príncipe dos sacerdotes,
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e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém todos os homens e mulheres que achasse seguindo essa doutrina.
3
Durante a viagem, estando já perto de Damasco, subitamente o cercou uma luz resplandecente vinda do céu.
4
Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
5
Saulo disse: Quem és, Senhor? Respondeu ele: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão.
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Então, trêmulo e atônito, disse ele: Senhor, que queres que eu faça? Respondeu-lhe o Senhor:] Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer.
7
Os homens que o acompanhavam enchiam-se de espanto, pois ouviam perfeitamente a voz, mas não viam ninguém.
8
Saulo levantou-se do chão. Abrindo, porém, os olhos, não via nada. Tomaram-no pela mão e o introduziram em Damasco,
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onde esteve três dias sem ver, sem comer nem beber.

Batismo de Saulo por Ananias

10 Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor, numa visão, lhe disse: Ananias! Eis-me aqui, Senhor, respondeu ele.
11
O Senhor lhe ordenou: Levanta-te e vai à rua Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso, chamado Saulo; ele está orando.
12
(Este via numa visão um homem, chamado Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista.)
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Ananias respondeu: Senhor, muitos já me falaram deste homem, quantos males fez aos teus fiéis em Jerusalém.
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E aqui ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender a todos aqueles que invocam o teu nome.
15
Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este homem é para mim um instrumento escolhido, que levará o meu nome diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel.
16
Eu lhe mostrarei tudo o que terá de padecer pelo meu nome.
17
Ananias foi. Entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Saulo, meu irmão, o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho, enviou-me para que recobres a vista e fiques cheio do Espírito Santo.
18
No mesmo instante caíram dos olhos de Saulo umas como escamas, e recuperou a vista. Levantou-se e foi batizado.

Primeiras pregações de Saulo em Damasco

19 Depois tomou alimento e sentiu-se fortalecido. Demorou-se por alguns dias com os discípulos que se achavam em Damasco.
20
Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus.


21 Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Este não é aquele que perseguia em Jerusalém os que invocam o nome de Jesus? Não veio cá só para levá-los presos aos sumos sacerdotes?
22
Saulo, porém, sentia crescer o seu poder e confundia os judeus de Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.


23 Decorridos alguns dias, os judeus deliberaram, em conselho, matá-lo.
24
Estas intenções chegaram ao conhecimento de Saulo. Guardavam eles as portas de dia e de noite, para matá-lo.
25
Mas os discípulos, tomando-o de noite, fizeram-no descer pela muralha dentro de um cesto.

Apostoldao de Saulo em Jerusalém

26 Chegando a Jerusalém, tentava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não querendo crer que se tivesse tornado discípulo.
27
Então Barnabé, levando-o consigo, apresentou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, e que lhe havia falado, e como em Damasco pregara, com desassombro, o nome de Jesus.
28
Daí por diante permaneceu com eles, saindo e entrando em Jerusalém, e pregando, destemidamente, o nome do Senhor.
29
Falava também e discutia com os helenistas. Mas estes procuravam matá-lo.
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Os irmãos, informados disso, acompanharam-no até Cesaréia e dali o fizeram partir para Tarso.

Periodo de tranquilidade

31 A Igreja gozava então de paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Estabelecia-se ela caminhando no temor do Senhor, e a assistência do Espírito Santo a fazia crescer em número.

Milagre de Pedro em Lida

32 Pedro, que caminhava por toda parte, de cidade em cidade, desceu também aos fiéis que habitavam em Lida.
33
Ali achou um homem chamado Enéias, que havia oito anos jazia paralítico num leito.
34
Disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te cura: levanta-te e faze tua cama. E levantou-se imediatamente.
35
Viram-no todos os que habitavam em Lida e em Sarona, e converteram-se ao Senhor.

Resurreição de uma mulher em Jope

36 Em Jope havia uma discípula chamada Tabita - em grego, Dorcas. Esta era rica em boas obras e esmolas que dava.
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Aconteceu que adoecera naqueles dias e veio a falecer. Depois de a terem lavado, levaram-na para o quarto de cima.
38
Ora, como Lida fica perto de Jope, os discípulos, ouvindo dizer que Pedro aí se encontrava, enviaram-lhe dois homens, rogando-lhe: Não te demores em vir ter conosco.
39
Pedro levantou-se imediatamente e foi com eles. Logo que chegou, conduziram-no ao quarto de cima. Cercavam-no todas as viúvas, chorando e mostrando-lhe as túnicas e os vestidos que Dorcas lhes fazia quando viva.
40
Pedro então, tendo feito todos sair, pôs-se de joelhos e orou. Voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te! Ela abriu os olhos e, vendo Pedro, sentou-se.
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Ele a fez levantar-se, estendendo-lhe a mão. Chamando os irmãos e as viúvas, entregou-lha viva.
42
Este fato espalhou-se por toda Jope e muitos creram no Senhor.


43 Pedro permaneceu ainda muitos dias em Jope, em casa dum curtidor, chamado Simão.

O centurião Cornélio, primeiro estrangeiro convertido

10 1 Havia em Cesaréia um homem, por nome Cornélio, centurião da coorte que se chamava Itálica.


2 Era religioso; ele e todos os de sua casa eram tementes a Deus. Dava muitas esmolas ao povo e orava constantemente.
3
Este homem viu claramente numa visão, pela hora nona do dia, aproximar-se dele um anjo de Deus e o chamar: Cornélio!
4
Cornélio fixou nele os olhos e, possuído de temor, perguntou: Que há, Senhor? O anjo replicou: As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus como uma oferta de lembrança.
5
Agora envia homens a Jope e faze vir aqui um certo Simão, que tem por sobrenome Pedro.
6
Ele se acha hospedado em casa de Simão, um curtidor, cuja casa fica junto ao mar.
7
Quando se retirou o anjo que lhe falara, chamou dois dos seus criados e um soldado temente ao Senhor, daqueles que estavam às suas ordens.
8
Contou-lhes tudo e enviou-os a Jope.

Visão de Pedro

9 No dia seguinte, enquanto estavam em viagem e se aproximavam da cidade - pelo meio-dia -, Pedro subiu ao terraço da casa para fazer oração.
10
Então, como sentisse fome, quis comer. Mas, enquanto lho preparavam, caiu em êxtase.
11
Viu o céu aberto e descer uma coisa parecida com uma grande toalha que baixava do céu à terra, segura pelas quatro pontas.
12
Nela havia de todos os quadrúpedes, dos répteis da terra e das aves do céu.
13
Uma voz lhe falou: Levanta-te, Pedro! Mata e come.
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Disse Pedro: De modo algum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma profana e impura.
15
Esta voz lhe falou pela segunda vez: O que Deus purificou não chames tu de impuro.
16
Isto se repetiu três vezes e logo a toalha foi recolhida ao céu.
17
Desconcertado, Pedro refletia consigo mesmo sobre o que significava a visão que tivera, quando os homens, enviados por Cornélio, se apresentaram à porta, perguntando pela casa de Simão.
18
Eles chamaram e indagaram se ali estava hospedado Simão, com o sobrenome Pedro.
19
Enquanto Pedro refletia na visão, disse o Espírito: Eis aí três homens que te procuram.
20
Levanta-te! Desce e vai com eles sem hesitar, porque sou eu quem os enviou.
21
Pedro desceu ao encontro dos homens e disse-lhes: Aqui me tendes, sou eu a quem buscais. Qual é o motivo por que viestes aqui?
22
Responderam: O centurião Cornélio, homem justo e temente a Deus, o qual goza de excelente reputação entre todos os judeus, recebeu dum santo anjo o aviso de te mandar chamar à sua casa e de ouvir as tuas palavras.
23
Então Pedro os mandou entrar e hospedou-os. No dia seguinte, levantou-se e partiu com eles, e alguns dos irmãos de Jope o acompanharam.

Pedro em Cesaréia

24 No outro dia chegaram a Cesaréia. Cornélio os estava esperando, tendo convidado os seus parentes e amigos mais íntimos.


25 Quando Pedro estava para entrar, Cornélio saiu a recebê-lo e prostrou-se aos seus pés para adorá-lo.
26
Pedro, porém, o ergueu, dizendo: Levanta-te! Também eu sou um homem!


27 E, falando com ele, entrou e achou ali muitas pessoas que se tinham reunido e disse:
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Vós sabeis que é proibido a um judeu aproximar-se dum estrangeiro ou ir à sua casa. Todavia, Deus me mostrou que nenhum homem deve ser considerado profano ou impuro.
29
Por isso vim sem hesitar, logo que fui chamado. Pergunto, pois, por que motivo me chamastes.
30
Disse Cornélio: Faz hoje quatro dias que estava eu a orar em minha casa, à hora nona, quando se pôs diante de mim um homem com vestes resplandecentes, que disse:
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Cornélio, a tua oração foi atendida e Deus se lembrou de tuas esmolas.
32
Envia alguém a Jope e manda vir Simão, que tem por sobrenome Pedro. Está hospedado perto do mar em casa do curtidor Simão.


33 Por isso mandei chamar-te logo e felicito-te por teres vindo. Agora, pois, eis-nos todos reunidos na presença de Deus para ouvir tudo o que Deus te ordenou de nos dizer.


34 Então Pedro tomou a palavra e disse: Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas,


35 mas em toda nação lhe é agradável aquele que o temer e fizer o que é justo.


36 Deus enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos.


37 Vós sabeis como tudo isso aconteceu na Judéia, depois de ter começado na Galiléia, após o batismo que João pregou.
38
Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele.


39 E nós somos testemunhas de tudo o que fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, suspendendo-o num madeiro.
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Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia e permitiu que aparecesse,
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não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia predestinado, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressuscitou.
42
Ele nos mandou pregar ao povo e testemunhar que é ele quem foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos.
43
Dele todos os profetas dão testemunho, anunciando que todos os que nele crêem recebem o perdão dos pecados por meio de seu nome.


44 Estando Pedro ainda a falar, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a (santa) palavra.


45 Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram, vendo que o dom do Espírito Santo era derramado também sobre os pagãos;
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pois eles os ouviam falar em outras línguas e glorificar a Deus.
47
Então Pedro tomou a palavra: Porventura pode-se negar a água do batismo a estes que receberam o Espírito Santo como nós?
48
E mandou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Rogaram-lhe então que ficasse com eles por alguns dias.

Pedro, em Jerusalém, justifica seu proceder

11 1 Os apóstolos e os irmãos da Judéia ouviram dizer que também os pagãos haviam recebido a palavra de Deus.
2
E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os fiéis que eram da circuncisão repreenderam-no:
3
Por que entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles?
4
Mas Pedro fez-lhes uma exposição de tudo o que acontecera, dizendo:
5
Eu estava orando na cidade de Jope e, arrebatado em espírito, tive uma visão: uma coisa, à maneira duma grande toalha, presa pelas quatro pontas, descia do céu até perto de mim.
6
Olhei-a atentamente e distingui claramente quadrúpedes terrestres, feras, répteis e aves do céu.
7
Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come.
8
Eu, porém, disse: De nenhum modo, Senhor, pois nunca entrou em minha boca coisa profana ou impura.
9
Outra vez falou a voz do céu: O que Deus purificou não chames tu de impuro.
10
Isto aconteceu três vezes e tudo tornou a ser levado ao céu.
11
Nisso chegaram três homens à casa onde eu estava, enviados a mim de Cesaréia.
12
O Espírito me disse que fosse com eles sem hesitar. Foram comigo também os seis irmãos aqui presentes e entramos na casa de Cornélio.
13
Este nos referiu então como em casa tinha visto um anjo diante de si, que lhe dissera: Envia alguém a Jope e chama Simão, que tem por sobrenome Pedro.
14
Ele te dirá as palavras pelas quais serás salvo tu e toda a tua casa.
15
Apenas comecei a falar, quando desceu o Espírito Santo sobre eles, como no princípio descera também sobre nós.
16
Lembrei-me então das palavras do Senhor, quando disse: João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo.
17
Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus?
18
Depois de terem ouvido essas palavras, eles se calaram e deram glória a Deus, dizendo: Portanto, também aos pagãos concedeu Deus o arrependimento que conduz à vida!

Fundação da igreja de Antioquia

19 Entretanto, aqueles que foram dispersados pela perseguição que houve no tempo de Estêvão chegaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, pregando a palavra só aos judeus.
20
Alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene, entrando em Antioquia, dirigiram-se também aos gregos, anunciando-lhes o Evangelho do Senhor Jesus.


21 A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor.
22
A notícia dessas coisas chegou aos ouvidos da Igreja de Jerusalém. Enviaram então Barnabé até Antioquia.
23
Ao chegar lá, alegrou-se, vendo a graça de Deus, e a todos exortava a perseverar no Senhor com firmeza de coração,
24
pois era um homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé. Assim uma grande multidão uniu-se ao Senhor.
25
Em seguida, partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo. Achou-o e levou-o para Antioquia.
26
Durante um ano inteiro eles tomaram parte nas reuniões da comunidade e instruíram grande multidão, de maneira que em Antioquia é que os discípulos, pela primeira vez, foram chamados pelo nome de cristãos.

Fome predita para os tempos de Cláudio

27 Por aqueles dias desceram alguns profetas de Jerusalém a Antioquia.
28
Um deles, chamado Ágabo, levantou-se e deu a entender pelo Espírito que haveria uma grande fome em toda a terra. Esta, com efeito, veio no reinado de Cláudio.
29
Os discípulos resolveram, cada um conforme as suas posses, enviar socorro aos irmãos da Judéia.
30
Assim o fizeram e o enviaram aos anciãos por intermédio de Barnabé e Saulo.

Perseguição de Herodes, morte de Tiago, prisão e libertação de Pedro

12 1 Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para os maltratar.
2
Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João.
3
Vendo que isto agradava aos judeus, mandou prender Pedro. Eram então os dias dos pães sem fermento.
4
Mandou prendê-lo e lançou-o no cárcere, entregando-o à guarda de quatro grupos, de quatro soldados cada um, com a intenção de apresentá-lo ao povo depois da Páscoa.
5
Pedro estava assim encerrado na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a Deus.
6
Ora, quando Herodes estava para o apresentar, naquela mesma noite dormia Pedro entre dois soldados, ligado com duas cadeias. Os guardas, à porta, vigiavam o cárcere.
7
De repente, apresentou-se um anjo do Senhor, e uma luz brilhou no recinto. Tocando no lado de Pedro, o anjo despertou-o: Levanta-te depressa, disse ele. Caíram-lhe as cadeias das mãos.
8
O anjo ordenou: Cinge-te e calça as tuas sandálias. Ele assim o fez. O anjo acrescentou: Cobre-te com a tua capa e segue-me.
9
Pedro saiu e seguiu-o, sem saber se era real o que se fazia por meio do anjo. Julgava estar sonhando.
10
Passaram o primeiro e o segundo postos da guarda. Chegaram ao portão de ferro, que dá para a cidade, o qual se lhes abriu por si mesmo. Saíram e tomaram juntos uma rua. Em seguida, de súbito, o anjo desapareceu.
11
Então Pedro tornou a si e disse: Agora vejo que o Senhor mandou verdadeiramente o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de tudo o que esperava o povo dos judeus.


12 Refletiu um momento e dirigiu-se para a casa de Maria, mãe de João, que tem por sobrenome Marcos, onde muitos se tinham reunido e faziam oração.
13
Quando bateu à porta de entrada, uma criada, chamada Rode, adiantou-se para escutar.
14
Mal reconheceu a voz de Pedro, de tanta alegria não abriu a porta, mas, correndo para dentro, foi anunciar que era Pedro que estava à porta.
15
Disseram-lhe: Estás louca! Mas ela persistia em afirmar que era verdade. Diziam eles: Então é o seu anjo.
16
Pedro continuava a bater. Afinal abriram a porta, viram-no e ficaram atônitos.
17
Ele, acenando-lhes com a mão que se calassem, contou como o Senhor o havia livrado da prisão, e disse: Comunicai-o a Tiago e aos irmãos. Em seguida, saiu dali e retirou-se para outro lugar.
18
Logo que amanheceu, houve um sobressalto pouco comum entre os soldados sobre o que acontecera a Pedro.
19
Herodes, procurando-o e não o achando, instaurou um processo contra os guardas e mandou supliciá-los. Em seguida, desceu da Judéia para Cesaréia, onde permaneceu.

Morte de Herodes

20 Estava Herodes em conflito com os habitantes de Tiro e de Sidônia. Estes, porém, de comum acordo, se apresentaram a ele, e, com o favor de Blasto, que era camareiro do rei, pediram a paz. (Porque a sua região era abastecida por ele.)
21
No dia marcado, Herodes, vestido em traje real, sentou-se no tribunal e lhes dirigiu uma alocução.
22
O povo aplaudia: É a voz de um deus, e não de um homem!
23
No mesmo instante, o anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado honra a Deus. E, roído de vermes, expirou.

Barnabé e Saulo regressam a Antioquia

24 Entretanto, a palavra de Deus crescia e se espalhava sempre mais.
25
Tendo Barnabé e Saulo concluído a sua missão, voltaram de Jerusalém (a Antioquia), levando consigo João, que tem por sobrenome Marcos.

DIFUSÃO DA IGREJA NO ESTRANGEIRO ("Atos de Paulo" 13-28)

Primeira viagem de Paulo e de Barnabé

13 1 Havia então na Igreja de Antioquia profetas e doutores, entre eles Barnabé, Simão, apelidado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaém, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo.
2
Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito Santo: Separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado.
3
Então, jejuando e orando, impuseram-lhes as mãos e os despediram.

Os dois apóstolos em Chipre

4 Enviados assim pelo Espírito Santo, foram a Selêucia e dali navegaram para a ilha de Chipre.
5
Chegados a Salamina, pregavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham com eles João para auxiliá-los.


6 Percorreram toda a ilha até Pafos e acharam um judeu chamado Barjesus, mago e falso profeta,
7
que vivia na companhia do procônsul Sérgio Paulo, homem sensato. Este chamou Barnabé e Saulo, e exprimiu-lhes o desejo de ouvir a palavra de Deus.
8
Mas Élimas, o Mago - pois assim é interpretado o seu nome -, se lhes opunha, procurando desviar da fé o procônsul.
9
Então Saulo, chamado também Paulo, cheio do Espírito Santo, cravou nele os olhos e disse-lhe:
10
Filho do demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor!
11
Eis que agora está sobre ti a mão do Senhor e ficarás cego. Não verás o sol até nova ordem! Caíram logo sobre ele a escuridão e as trevas, e, andando à roda, buscava quem lhe desse a mão.
12
À vista deste prodígio, o procônsul abraçou a fé, admirando vivamente a doutrina do Senhor.

Paulo em Antioquia de Pisídia

13 Paulo e os seus companheiros navegaram de Pafos e chegaram a Perge, na Panfília, de onde João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém.


14 Mas eles, deixando Perge, foram para Antioquia da Pisídia. Ali entraram em dia de sábado na sinagoga, e sentaram-se.


15 Depois da leitura da lei e dos profetas, mandaram-lhes dizer os chefes da sinagoga: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação ao povo, falai-a.


16 Paulo levantou-se, fez um sinal com a mão e falou: Homens de Israel e vós que temeis a Deus, ouvi.
17
O Deus do povo de Israel escolheu nossos pais e exaltou este povo no tempo em que habitava na terra do Egito, de onde os tirou com o poder de seu braço.


18 Por espaço de quarenta anos alimentou-os no deserto.
19
Destruiu sete nações na terra de Canaã e distribuiu-lhes por sorte aquela terra durante quase quatrocentos e cinqüenta anos.
20
Em seguida, lhes deu juízes até o profeta Samuel.
21
Pediram então um rei, e Deus lhes deu, por quarenta anos, Saul, filho de Cis, da tribo de Benjamim.


22 Depois, Deus o rejeitou e mandou-lhes Davi como rei, de quem deu este testemunho: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.
23
De sua descendência, conforme a promessa, Deus fez sair para Israel o Salvador Jesus.
24
João tinha pregado, desde antes da sua vinda, o batismo do arrependimento a todo o povo de Israel.
25
Terminando a sua carreira, dizia: Eu não sou aquele que vós pensais, mas após mim virá aquele de quem não sou digno de desatar o calçado.


26 Irmãos, filhos de Abraão, e os que entre vós temem a Deus: a nós é que foi dirigida a mensagem de salvação.


27 Com efeito, os habitantes de Jerusalém e os seus magistrados não conheceram Jesus, e, sentenciando-o, cumpriram os oráculos dos profetas, que cada sábado são lidos.
28
Embora não achassem nele culpa alguma de morte, pediram a Pilatos que lhe tirasse a vida.
29
Depois de realizarem todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, puseram-no num sepulcro.
30
Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos.
31
Durante muitos dias apareceu àqueles que com ele subiram da Galiléia a Jerusalém, os quais até agora são testemunhas dele junto ao povo.


32 Nós vos anunciamos: a promessa feita a nossos pais,
33
Deus a tem cumprido diante de nós, seus filhos, suscitando Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei (Ps 2,7).


34 Que Deus o ressuscitou dentre os mortos, para nunca mais tornar à corrupção, ele o declarou desta maneira: Eu vos darei as coisas sagradas prometidas a Davi (Is 55,3).
35 E diz também noutra passagem: Não permitirás que teu Santo experimente a corrupção (Ps 15,10).
36 Ora, Davi, depois de ter servido em vida aos desígnios de Deus, morreu. Foi reunido a seus pais e experimentou a corrupção.
37
Mas aquele a quem Deus ressuscitou não experimentou a corrupção.
38
Sabei, pois, irmãos, que por ele se vos anuncia a remissão dos pecados.
39
Todo aquele que crê é justificado por ele de tudo aquilo que não pôde ser pela Lei de Moisés.


40 Cuidai, pois, que não venha sobre vós o que foi dito pelos profetas:
41
Vede, ó desprezadores, pasmai e morrei de espanto. Pois eu vou realizar uma obra em vossos dias, obra a que não creríeis, se alguém vo-la contasse (Ha 1,5).
42 Ao saírem, rogavam que lhes repetissem essas palavras no sábado seguinte.


43 Depois que a assembléia terminou, muitos judeus e prosélitos devotos seguiram Paulo e Barnabé, os quais com muitas palavras os exortavam a perseverar na graça de Deus.


44 No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus.
45
Os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja e puseram-se a protestar com injúrias contra o que Paulo falava.


46 Então Paulo e Barnabé disseram-lhes resolutamente: Era a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a palavra de Deus. Mas, porque a rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os pagãos.
47
Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da terra (Is 49,6).
48 Estas palavras encheram de alegria os pagãos que glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que estavam predispostos para a vida eterna fizeram ato de fé.
49
Divulgava-se, assim, a palavra do Senhor por toda a região.


50 Mas os judeus instigaram certas mulheres religiosas da aristocracia e os principais da cidade, que excitaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé e os expulsaram do seu território.
51
Estes sacudiram contra eles o pó dos seus pés, e foram a Icônio.
52
Os discípulos, por sua vez, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

Paulo e Barnabé em Icônio

14 1 Em Icônio, Paulo e Barnabé, segundo seu costume, entraram na sinagoga dos judeus e ali pregaram, de tal modo que uma grande multidão de judeus e de gregos se converteu à fé.
2
Mas os judeus, que tinham permanecido incrédulos, excitaram os ânimos dos pagãos contra os irmãos.
3
Não obstante, eles se demoraram ali por muito tempo, falando com desassombro e confiança no Senhor, que dava testemunho à palavra da sua graça pelos milagres e prodígios que ele operava por mãos dos apóstolos.
4
A população da cidade achava-se dividida: uns eram pelos judeus, outros pelos apóstolos.


5 Mas como se tivesse levantado um motim dos gentios e dos judeus, com os seus chefes, para os ultrajar e apedrejar,
6
ao saberem disso, fugiram para as cidades da Licaônia, Listra e Derbe e suas circunvizinhanças.
7
Ali pregaram o Evangelho.

Em Listra e Derbe

8 Em Listra vivia um homem aleijado das pernas, coxo de nascença, que nunca tinha andado.
9
Sentado, ele ouvia Paulo pregar. Este, fixando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado,
10
disse em alta voz: Levanta-te direito sobre os teus pés! Ele deu um salto e pôs-se a andar.
11
Vendo a multidão o que Paulo fizera, levantou a voz, gritando em língua licaônica: Deuses em figura de homens baixaram a nós!
12
Chamavam a Barnabé Zeus e a Paulo Hermes, porque era este quem dirigia a palavra.
13
Um sacerdote de Zeus Propóleos trouxe para as portas touros ornados de grinaldas, querendo, de acordo com todo o povo, sacrificar-lhos.
14
Mas os apóstolos Barnabé e Paulo, ao perceberem isso, rasgaram as suas vestes e saltaram no meio da multidão:
15
Homens, clamavam eles, por que fazeis isso? Também nós somos homens, da mesma condição que vós, e pregamos justamente para que vos convertais das coisas vãs ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles há.
16
Ele permitiu nos tempos passados que todas as nações seguissem os seus caminhos.
17
Contudo, nunca deixou de dar testemunho de si mesmo, por seus benefícios: dando-vos do céu as chuvas e os tempos férteis, concedendo abundante alimento e enchendo os vossos corações de alegria.
18
Apesar dessas palavras, não foi sem dificuldade que contiveram a multidão de sacrificar a eles.


19 Sobrevieram, porém, alguns judeus de Antioquia e de Icônio que persuadiram a multidão. Apedrejaram Paulo e, dando-o por morto, arrastaram-no para fora da cidade.
20
Os discípulos o rodearam. Ele se levantou e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu com Barnabé para Derbe.

Fim da primeira missão

21 Depois de ter pregado o Evangelho à cidade de Derbe, onde ganharam muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia (da Pisídia).
22
Confirmavam as almas dos discípulos e exortavam-nos a perseverar na fé, dizendo que é necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações.
23
Em cada igreja instituíram anciãos e, após orações com jejuns, encomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham confiado.


24 Atravessaram a Pisídia e chegaram a Panfília.
25
Depois de ter anunciado a palavra do Senhor em Perge, desceram a Atália.
26
Dali navegaram para Antioquia (da Síria), de onde tinham partido, encomendados à graça de Deus para a obra que estavam a completar.
27
Ali chegados, reuniram a igreja e contaram quão grandes coisas Deus fizera com eles, e como abrira a porta da fé aos gentios.


28 Demoraram-se com os discípulos longo tempo.

Controvérsia sobre o valor da circuncisão

15 1 Alguns homens, descendo da Judéia, puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: Se não vos circuncidais, segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.
2
Originou-se então grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns outros irmãos, fossem tratar desta questão com os apóstolos e os anciãos em Jerusalém.


3 Acompanhados (algum tempo) dos membros da comunidade, tomaram o caminho que atravessa a Fenícia e Samaria. Contaram a todos os irmãos a conversão dos gentios, o que causou a todos grande alegria.

O concílio apostolíco de Jerusalém

4 Chegando a Jerusalém, foram recebidos pela comunidade, pelos apóstolos e anciãos, a quem contaram tudo o que Deus tinha feito com eles.
5
Mas levantaram-se alguns que antes de ter abraçado a fé eram da seita dos fariseus, dizendo que era necessário circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés.
6
Reuniram-se os apóstolos e os anciãos para tratar desta questão.


7 Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem.
8
Ora, Deus, que conhece os corações, testemunhou a seu respeito, dando-lhes o Espírito Santo, da mesma forma que a nós.
9
Nem fez distinção alguma entre nós e eles, purificando pela fé os seus corações.
10
Por que, pois, provocais agora a Deus, impondo aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar?
11
Nós cremos que pela graça do Senhor Jesus seremos salvos, exatamente como eles.
12
Toda a assembléia o ouviu silenciosamente. Em seguida, ouviram Barnabé e Paulo contar quantos milagres e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios.
13
Depois de terminarem, Tiago tomou a palavra: Irmãos, ouvi-me, disse ele.
14
Simão narrou como Deus começou a olhar para as nações pagãs para tirar delas um povo que trouxesse o seu nome.
15
Ora, com isto concordam as palavras dos profetas, como está escrito:
16
Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi que caiu. E reedificarei as suas ruínas, e o levantarei
17
para que o resto dos homens busque o Senhor, e todas as nações, sobre as quais tem sido invocado o meu nome.
18
Assim fala o Senhor que faz estas coisas, coisas que ele conheceu desde a eternidade (Am 9,11s.).
19 Por isso, julgo que não se devem inquietar os que dentre os gentios se convertem a Deus.
20
Mas que se lhes escreva somente que se abstenham das carnes oferecidas aos ídolos, da impureza, das carnes sufocadas e do sangue.
21
Porque Moisés, desde muitas gerações, tem em cada cidade seus pregadores, pois que ele é lido nas sinagogas todos os sábados.

Carta às igrejas da Síria e da Cilícia

22 Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a comunidade escolher homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé: Judas, que tinha o sobrenome de Barsabás, e Silas, homens notáveis entre os irmãos.
23
Por seu intermédio enviaram a seguinte carta: "Os apóstolos e os anciãos aos irmãos de origem pagã, em Antioquia, na Síria e Cilícia, saúde!
24
Temos ouvido que alguns dentre nós vos têm perturbado com palavras, transtornando os vossos espíritos, sem lhes termos dado semelhante incumbência.
25
Assim nós nos reunimos e decidimos escolher delegados e enviá-los a vós, com os nossos amados Barnabé e Paulo,
26
homens que têm exposto suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
27
Enviamos, portanto, Judas e Silas que de viva voz vos exporão as mesmas coisas.
28
Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor outro peso além do seguinte indispensável:
29
que vos abstenhais das carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da impureza. Dessas coisas fareis bem de vos guardar conscienciosamente. Adeus!


30 Tendo-se despedido, a delegação dirigiu-se a Antioquia. Ali reuniram a assembléia e entregaram a carta.
31
À sua leitura, todos se alegraram com o estímulo que ela trazia.


32 Judas e Silas, que eram também profetas, dirigiam aos irmãos muitas palavras de exortação e de animação.
33
Demoraram-se ali por algum tempo. Foram depois pelos irmãos despedidos em paz, voltando aos que lhos tinham enviado.
34
[A Silas contudo, pareceu bem ficar ali, e Judas partiu sozinho.]
35
Paulo e Barnabé detiveram-se também em Antioquia, ensinando e pregando com muitos outros a palavra do Senhor.

Segunda viagem de Paulo com Silas

36 Ao termo de alguns dias, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar os irmãos por todas as cidades onde temos pregado a palavra do Senhor, para ver como estão passando.
37
Barnabé queria levar consigo também João, que tinha por sobrenome Marcos.
38
Paulo, porém, achava que não devia ser admitido quem se tinha separado deles em Panfília e não os havia acompanhado no ministério.
39
Houve tal discussão que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo Marcos, navegou para Chipre.
40
Paulo, porém, tendo escolhido Silas, e depois de ter sido recomendado pelos irmãos à graça do Senhor, partiu.
41
Ele percorreu a Síria, a Cilícia, confirmando as comunidades.


Acts (BAV) 9