Atti (SAV) 16

Paulo convida Timóteo

16 1 Chegou a Derbe e depois a Listra. Havia ali um discípulo, chamado Timóteo, filho de uma judia cristã, mas de pai grego,
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que gozava de ótima reputação junto dos irmãos de Listra e de Icônio.
3
Paulo quis que ele fosse em sua companhia. Ao tomá-lo consigo, circuncidou-o, por causa dos judeus daqueles lugares, pois todos sabiam que o seu pai era grego.
4
Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém.
5
Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e cresciam em número dia a dia.
6
Atravessando em seguida a Frígia e a província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra de Deus na (província da) Ásia.
7
Ao chegarem aos confins da Mísia, tencionavam seguir para a Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu.
8
Depois de haverem atravessado rapidamente a Mísia, desceram a Trôade.
9
De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: Passa à Macedônia, e vem em nosso auxílio!
10
Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho.

Permanência em Filipos, conversão de Lídia

11 Embarcados em Trôade, fomos diretamente à Samotrácia e no outro dia a Neápolis;
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e dali a Filipos, que é a cidade principal daquele distrito da Macedônia, uma colônia (romana). Nesta cidade nos detivemos por alguns dias.
13
No sábado, saímos fora da porta para junto do rio, onde pensávamos haver lugar de oração. Aí nos assentamos e falávamos às mulheres que se haviam reunido.
14
Uma mulher, chamada Lídia, da cidade dos tiatirenos, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava. O Senhor abriu-lhe o coração, para atender às coisas que Paulo dizia.
15
Foi batizada juntamente com a sua família e fez-nos este pedido: Se julgais que tenho fé no Senhor, entrai em minha casa e ficai comigo. E obrigou-nos a isso.

Prisão de Paulo e Silas

16 Certo dia, quando íamos à oração, eis que nos veio ao encontro uma moça escrava que tinha o espírito de Pitão, a qual com as suas adivinhações dava muito lucro a seus senhores.
17
Pondo-se a seguir a Paulo e a nós, gritava: Estes homens são servos do Deus Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação.
18
Repetiu isto por muitos dias. Por fim, Paulo enfadou-se. Voltou-se para ela e disse ao espírito: Ordeno-te em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora ele saiu.
19
Vendo seus amos que se lhes esvaecera a esperança do lucro, pegaram Paulo e Silas e levaram-nos ao foro, à presença das autoridades.
20
Em seguida, apresentaram-nos aos magistrados, acusando: Estes homens são judeus; amotinam a nossa cidade.
21
E pregam um modo de vida que nós, romanos, não podemos admitir nem seguir.


22 O povo insurgiu-se contra eles. Os magistrados mandaram arrancar-lhes as vestes para açoitá-los com varas.
23
Depois de lhes terem feito muitas chagas, meteram-nos na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança.
24
Este, conforme a ordem recebida, meteu-os na prisão inferior e prendeu-lhes os pés ao cepo.
25
Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam.
26
Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos.
27
Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da espada e queria matar-se.
28
Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui.
29
Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas.
30
Depois os conduziu para fora e perguntou-lhes: Senhores, que devo fazer para me salvar?
31
Disseram-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família.
32
Anunciaram-lhe a palavra de Deus, a ele e a todos os que estavam em sua casa.
33
Então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as chagas. Imediatamente foi batizado, ele e toda a sua família.
34
Em seguida, ele os fez subir para sua casa, pôs-lhes a mesa e alegrou-se com toda a sua casa por haver crido em Deus.

Libertação dos prisioneiros

35 Quando amanheceu, os magistrados mandaram os lictores dizer: Solta esses homens.
36
O carcereiro transmitiu essa mensagem a Paulo: Os magistrados mandaram-me dizer que vos ponha em liberdade. Saí, pois, e ide em paz.
37
Mas Paulo replicou: Sem nenhum julgamento nos açoitaram publicamente, a nós que somos cidadãos romanos, e meteram-nos no cárcere, e agora nos lançam fora ocultamente... Não há de ser assim! Mas venham e soltem-nos pessoalmente!
38
Os lictores deram parte dessas palavras aos magistrados. Estes temeram, ao ouvir dizer que eram romanos.
39
Foram e lhes falaram brandamente. Pedindo desculpas, rogavam-lhes que se retirassem da cidade.
40
Saindo do cárcere, entraram em casa de Lídia, onde reviram e consolaram os irmãos. Depois partiram.

Paulo e Silas em Tessalônica

17 1 Passaram por Anfípolis e Apolônia e chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus.
2
Paulo dirigiu-se a eles, segundo o seu costume, e por três sábados disputou com eles.
3
Explicava e demonstrava, à base das Escrituras, que era necessário que Cristo padecesse e ressurgisse dos mortos. E este Cristo é Jesus que eu vos anuncio.
4
Alguns deles creram e associaram-se a Paulo e Silas, como também uma grande multidão de prosélitos gentios, e não poucas mulheres de destaque.
5
Os judeus, tomados de inveja, ajuntaram alguns homens da plebe e com esta gente amotinaram a cidade. Assaltaram a casa de Jasão, procurando-os para os entregar ao povo.
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Mas como não os achassem, arrastaram Jasão e alguns irmãos à presença dos magistrados, clamando: Estes homens amotinam todo o mundo. Estão agora aqui! E Jasão os acolheu!
7
Todos eles contrariam os decretos de César, proclamando outro rei: Jesus.
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Assim excitavam o povo e os magistrados.
9
E só depois de receberem uma caução de Jasão e dos outros é que os deixaram ir.

Breve estada em Beréia

10 Logo que se fez noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia. Quando ali chegaram, entraram na sinagoga dos judeus.
11
Estes eram mais nobres do que os de Tessalônica e receberam a palavra com ansioso desejo, indagando todos os dias, nas Escrituras, se essas coisas eram de fato assim.
12
Muitos deles creram, como também muitas mulheres gregas da aristocracia, e não poucos homens.
13
Mas os judeus de Tessalônica, sabendo que também em Beréia tinha sido pregada por Paulo a palavra de Deus, foram para lá agitar e sublevar o povo.
14
Então os irmãos fizeram que Paulo se retirasse e fosse até o mar, ao passo que Silas e Timóteo ficaram ali.


15 Os que conduziam Paulo levaram-no até Atenas. De lá voltaram e transmitiram para Silas e Timóteo a ordem de que fossem ter com ele o mais cedo possível.

Pregação em Atenas

16 Enquanto Paulo os esperava em Atenas, à vista da cidade entregue à idolatria, o seu coração enchia-se de amargura.
17
Disputava na sinagoga com os judeus e prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se encontravam.
18
Alguns filósofos epicureus e estóicos conversaram com ele. Diziam uns: Que quer dizer esse tagarela? Outros: Parece que é pregador de novos deuses. Pois lhes anunciava Jesus e a Ressurreição.
19
Tomaram-no consigo e levaram-no ao Areópago, e lhe perguntaram: Podemos saber que nova doutrina é essa que pregas?
20
Pois o que nos trazes aos ouvidos nos parece muito estranho. Queremos saber o que vem a ser isso.
21
Ora (como se sabe), todos os atenienses e os forasteiros que ali se fixaram não se ocupavam de outra coisa senão a de dizer ou de ouvir as últimas novidades.


22 Paulo, em pé no meio do Areópago, disse: Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos.
23
Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um Deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio!
24
O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos humanas.
25
Nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas.
26
Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos os tempos e os limites da sua habitação.
27
Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós.
28
Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos também de sua raça...
29
Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra lavrada por arte e gênio dos homens.
30
Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, convida agora a todos os homens de todos os lugares a se arrependerem.
31
Porquanto fixou o dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para isso destinou. Para todos deu como garantia disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos.
32
Quando o ouviram falar de ressurreição dos mortos, uns zombavam e outros diziam: A respeito disso te ouviremos outra vez.
33
Assim saiu Paulo do meio deles.
34
Todavia, alguns homens aderiram a ele e creram: entre eles, Dionísio, o areopagita, e uma mulher chamada Dâmaris; e com eles ainda outros.

Estada de um ano e meio em Corinto

18 1 Depois disso, saindo de Atenas, Paulo dirigiu-se a Corinto.


2 Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, e sua mulher Priscila. Eles pouco antes haviam chegado da Itália, por Cláudio ter decretado que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo uniu-se a eles.
3
Como exercessem o mesmo ofício, morava e trabalhava com eles. (Eram fabricantes de tendas.)
4
Todos os sábados ele falava na sinagoga e procurava convencer os judeus e os gregos.
5
Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo dedicou-se inteiramente à pregação da palavra, dando aos judeus testemunho de que Jesus era o Messias.
6
Mas como esses contradissessem e o injuriassem, ele, sacudindo as vestes, disse-lhes: O vosso sangue caia sobre a vossa cabeça! Tenho as mãos inocentes. Desde agora vou para o meio dos gentios.
7
Saindo dali, entrou em casa de um prosélito, chamado Tício Justo, cuja casa era contígua à sinagoga.
8
Entretanto Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor com todos os da sua casa. Sabendo disso, muitos dos coríntios, ouvintes de Paulo, acreditaram e foram batizados.


9 Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: Não temas! Fala e não te cales.
10
Porque eu estou contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta cidade.
11
Paulo deteve-se ali um ano e seis meses, ensinando a eles a palavra de Deus.

Paulo diante do procônsul

12 Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus de comum acordo contra Paulo e levaram-no ao tribunal e disseram:
13
Este homem persuade os ouvintes a (adotar) um culto contrário à lei.
14
Paulo ia falar, mas Galião disse aos judeus: Se fosse, na realidade, uma injustiça ou verdadeiro crime, seria razoável que vos atendesse.
15
Mas se são questões de doutrina, de nomes e da vossa lei, isso é lá convosco. Não quero ser juiz dessas coisas.
16
E mandou-o sair do tribunal.
17
Então todos pegaram em Sóstenes, chefe da sinagoga, e o espancaram diante do tribunal, sem que Galião fizesse caso algum disso.

Volta a Antioquia

18 Paulo permaneceu ali (em Corinto) ainda algum tempo. Depois se despediu dos irmãos e navegou para a Síria e com ele Priscila e Áquila. Antes, porém, cortara o cabelo em Cêncris, porque terminara um voto.


19 Chegaram a Éfeso, onde os deixou. Ele entrou na sinagoga e entretinha-se com os judeus.
20
Pediram-lhe estes que ficasse com eles ali por mais tempo, mas ele não quis.
21
Ao despedir-se, disse: Voltarei a vós, se Deus quiser. E partiu de Éfeso.
22
Viajou até Cesaréia, subiu (a Jerusalém) e saudou a comunidade e logo em seguida desceu a Antioquia.

Parte para a terceira missão

23 Aí se demorou apenas por algum tempo, partiu de novo e atravessou sucessivamente as regiões da Galácia e da Frígia, fortalecendo todos os discípulos.

Atividade de Apolo em Éfeso

24 Entrementes, um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e muito versado nas Escrituras, chegou a Éfeso.
25
Era instruído no caminho do Senhor, falava com fervor de espírito e ensinava com precisão a respeito de Jesus, embora conhecesse somente o batismo de João.
26
Começou, pois, a falar na sinagoga com desassombro. Como Priscila e Áquila o ouvissem, levaram-no consigo, e expuseram-lhe mais profundamente o caminho do Senhor.
27
Como ele quisesse ir à Acaia, os irmãos animaram-no e escreveram aos discípulos que o recebessem bem. A sua presença (em Corinto) foi, pela graça de Deus, de muito proveito para os que haviam crido,
28
pois com grande veemência refutava publicamente os judeus, provando, pelas Escrituras, que Jesus era o Messias.

Os discípulos de João Batista em Éfeso

19 1 Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as províncias superiores e chegou a Éfeso, onde achou alguns discípulos e indagou deles:
2
Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé? Responderam-lhe: Não, nem sequer ouvimos dizer que há um Espírito Santo!
3
Então em que batismo fostes batizados?, perguntou Paulo. Disseram: No batismo de João.
4
Paulo então replicou: João só dava um batismo de penitência, dizendo ao povo que cresse naquele que havia de vir depois dele, isto é, em Jesus.
5
Ouvindo isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus.
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E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas e profetizavam.


7 Eram ao todo uns doze homens.

Apostolado de Paulo em Éfeso

8 Paulo entrou na sinagoga e falou com desassombro por três meses, disputando e persuadindo-os acerca do Reino de Deus.


9 Mas, como alguns se endurecessem e não cressem, desacreditando a sua doutrina diante da multidão, apartou-se deles e reuniu à parte os discípulos, onde os ensinava diariamente na escola de um certo Tirano.
10
Isto durou dois anos, de tal maneira que todos os habitantes da Ásia, judeus e gentios, puderam ouvir a palavra do Senhor.
11
Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos;
12
e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos.

Os exorcistas judeus

13 Alguns judeus exorcistas que percorriam vários lugares inventaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que se achavam possessos dos espíritos malignos, com as palavras: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega.
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Assim procediam os sete filhos de um judeu chamado Cevas, sumo sacerdote.
15
Mas o espírito maligno replicou-lhes: Conheço Jesus e sei quem é Paulo. Mas vós, quem sois?
16
Nisto o homem possuído do espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois deles e subjugou-os de tal maneira, que tiveram que fugir daquela casa feridos e com as roupas estraçalhadas.
17
Este caso tornou-se (em breve) conhecido de todos os judeus e gregos de Éfeso, e encheu-os de temor e engrandeceram o nome do Senhor Jesus.
18
Muitos dos que haviam acreditado vinham confessar e declarar as suas obras.
19
Muitos também, que tinham exercido artes mágicas, ajuntaram os seus livros e queimaram-nos diante de todos. Calculou-se o seu valor, e achou-se que montava a cinqüenta mil moedas de prata.
20
Foi assim que o poder do Senhor fez crescer a palavra e a tornou sempre mais eficaz.

Projetos de Paulo

21 Concluídas essas coisas, Paulo resolveu ir a Jerusalém, depois de atravessar a Macedônia e a Acaia. Depois de eu ter estado lá, disse ele, é necessário que veja também Roma.
22
Enviou à Macedônia dois dos seus auxiliares, Timóteo e Erasto, mas ele mesmo se demorou ainda por algum tempo na Ásia.

Tumulto dos ourives

23 Por esse tempo, ocorreu um grande alvoroço a respeito do Evangelho.
24
Um ourives, chamado Demétrio, que fazia de prata templozinhos de Ártemis, dava muito a ganhar aos artífices.
25
Convocou-os, juntamente com os demais operários do mesmo ramo, e disse: Conheceis o lucro que nos resulta desta indústria.
26
Ora, estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas quase em toda a Ásia, esse Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente, dizendo que não são deuses os ídolos que são feitos por mãos de homens.
27
Daí não somente há perigo de que essa nossa corporação caia em descrédito, como também que o templo da grande Ártemis seja desconsiderado, e até mesmo seja despojada de sua majestade aquela que toda a Ásia e o mundo inteiro adoram.
28
Estas palavras encheram-nos de ira e puseram-se a gritar: Viva a Ártemis dos efésios!
29
A cidade alvoroçou-se e todos correram ao teatro levando consigo Caio e Aristarco, macedônios e companheiros de Paulo.
30
Paulo queria apresentar-se ao povo, mas os discípulos não o deixaram.
31
Até alguns dos asiarcas, que eram seus amigos, enviaram-lhe recado, pedindo que não se aventurasse a ir ao teatro.
32
Todos gritavam ao mesmo tempo. A assembléia era uma grande confusão e a maioria nem sabia por que se achavam ali reunidos.
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Então fizeram sair do meio da turba Alexandre, que os judeus empurravam para a frente. Alexandre, fazendo sinal com a mão, queria dar satisfação ao povo.
34
Mas quando perceberam que ele era judeu, todos a uma voz gritaram pelo espaço de quase duas horas: Viva a Ártemis dos efésios!
35
Então o escrivão da cidade (veio) para apaziguar a multidão e disse: Efésios, que homem há que não saiba que a cidade de Éfeso cultua a grande Ártemis, e que a sua estátua caiu dos céus?
36
Se isso é incontestável, convém que vos sossegueis e nada façais inconsideradamente.
37
Estes homens, que aqui trouxestes, não são sacrílegos nem blasfemadores da vossa deusa.
38
Mas, se Demétrio e os outros artífices têm alguma queixa contra alguém, os tribunais estão abertos e aí estão os magistrados: institua-se um processo contra eles.
39
Se tendes reclamação a fazer, a assembléia legal decidirá.
40
Do que se deu hoje, até corremos risco de sermos acusados de rebelião, porque não há motivo algum que nos permita justificar este concurso.
41
A estas palavras, dissolveu-se a aglomeração.

Viagem à Macedônia e à Grécia

20 1 Depois que cessou o tumulto, Paulo convocou os discípulos. Fez-lhes uma exortação, despediu-se e pôs-se a caminho para ir à Macedônia.
2
Percorreu aquela região, exortou os discípulos com muitas palavras e chegou à Grécia,
3
onde se deteve por três meses. Como os judeus lhe armassem ciladas no momento em que ia embarcar para a Síria, tomou a resolução de voltar pela Macedônia.
4
Acompanharam-no Sópatro de Beréia, filho de Pirro, e os tessalonicenses Aristarco e Segundo, Gaio de Derbe, Timóteo, Tíquico e Trófimo, da Ásia.
5
Estes foram na frente e esperaram-nos em Trôade.
6
Nós outros, só depois da festa de Páscoa é que navegamos de Filipos. E, cinco dias depois, fomos ter com eles em Trôade, onde ficamos uma semana.

Ressureição de um moço em Trôade

7 No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que havia de viajar no dia seguinte, conversava com os discípulos e prolongou a palestra até a meia-noite.
8
Havia muitas lâmpadas no quarto, onde nos achávamos reunidos.
9
Acontece que um moço, chamado Êutico, que estava sentado numa janela, foi tomado de profundo sono, enquanto Paulo ia prolongando seu discurso. Vencido pelo sono, caiu do terceiro andar abaixo, e foi levantado morto.
10
Paulo desceu, debruçou-se sobre ele, tomou-o nos braços e disse: Não vos perturbeis, porque a sua alma está nele.
11
Então subiu, partiu o pão, comeu falou-lhes largamente até o romper do dia. Depois partiu.
12
Quanto ao moço, levaram-no dali vivo, cheios de consolação.

Viagem para Mileto

13 Nós nos tínhamos adiantado e navegado para Assos, para ali recebermos Paulo. Ele mesmo assim o havia disposto, preferindo fazer a viagem a pé.
14
Reuniu-se a nós em Assos, e nós o tomamos a bordo e fomos a Mitilene.
15
Continuando dali, sempre por mar, chegamos no dia seguinte defronte de Quios. No outro dia, chegamos a Samos, e um dia depois estávamos em Mileto.
16
Paulo havia determinado não ir a Éfeso, para não se demorar na Ásia, pois se apressava para celebrar, se possível em Jerusalém, o dia de Pentecostes.

Prédica de Paulo aos anciãos de Éfeso

17 Mas de Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja.
18
Quando chegaram, e estando todos reunidos, disse-lhes: Vós sabeis de que modo sempre me tenho comportado para convosco, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia.


19 Servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus.
20
Vós sabeis como não tenho negligenciado, como não tenho ocultado coisa alguma que vos podia ser útil. Preguei e vos instruí publicamente e dentro de vossas casas.
21
Preguei aos judeus e aos gentios a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus.
22
Agora, constrangido pelo Espírito, vou a Jerusalém, ignorando a que ali me espera.
23
Só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me assegura que me esperam em Jerusalém cadeias e perseguições.
24
Mas nada disso temo, nem faço caso da minha vida, contanto que termine a minha carreira e o ministério da palavra que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho ao Evangelho da graça de Deus.
25
Sei agora que não tornareis a ver a minha face, todos vós, por entre os quais andei pregando o Reino de Deus.
26
Portanto, hoje eu protesto diante de vós que sou inocente do sangue de todos,
27
porque nada omiti no anúncio que vos fiz dos desígnios de Deus.


28 Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue.
29
Sei que depois da minha partida se introduzirão entre vós lobos cruéis, que não pouparão o rebanho.
30
Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas, com o intento de arrebatarem após si os discípulos.
31
Vigiai! Lembrai-vos, portanto, de que por três anos não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.
32
Agora eu vos encomendo a Deus e à palavra da sua graça, àquele que é poderoso para edificar e dar a herança com os santificados.


33 De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes.
34
Vós mesmos sabeis: estas mãos proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros.
35
Em tudo vos tenho mostrado que assim, trabalhando, convém acudir os fracos e lembrar-se das palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: É maior felicidade dar que receber!


36 A essas palavras, ele se pôs de joelhos a orar.


37 Derramaram-se em lágrimas e lançaram-se ao pescoço de Paulo para abraçá-lo,
38
aflitos, sobretudo pela palavra que tinha dito: Já não vereis a minha face. Em seguida, acompanharam-no até o navio.

Passagem por Tiro

21 1 Depois de nos separarmos dele, embarcamos e fomos em direção a Cós, e no dia seguinte a Rodes e dali a Pátara.
2
Encontramos aí um navio que ia partir para a Fenícia. Entramos e seguimos viagem.
3
Quando estávamos à vista de Chipre, deixando-a à esquerda, continuamos rumo à Síria e aportamos em Tiro, onde o navio devia ser descarregado.
4
Como achássemos uns discípulos, detivemo-nos com eles por sete dias. Eles, sob a inspiração do Espírito, aconselhavam Paulo que não subisse a Jerusalém.
5
Mas, passados que foram esses dias, partimos e seguimos a nossa viagem. Todos eles com suas mulheres e filhos acompanharam-nos até fora da cidade. Ajoelhados na praia, fizemos a nossa oração.
6
Despedimo-nos então e embarcamos, enquanto eles voltaram para suas casas.
7
Navegando, fomos de Tiro a Ptolemaida, onde saudamos os irmãos, passando um dia com eles.

Profecia de Ágabo em Cesaréia

8 Partindo no dia seguinte, chegamos a Cesaréia e, entrando na casa de Filipe, o Evangelista, que era um dos sete (diáconos), ficamos com ele.
9
Tinha quatro filhas virgens que profetizavam.
10
Já estávamos aí fazia alguns dias, quando chegou da Judéia um profeta, chamado Ágabo.
11
Veio ter conosco, tomou o cinto de Paulo e, amarrando-se com ele pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: assim os judeus em Jerusalém ligarão o homem a quem pertence este cinto e o entregarão às mãos dos pagãos.
12
A estas palavras, nós e os fiéis que eram daquele lugar, rogamos-lhe que não subisse a Jerusalém.
13
Paulo, porém, respondeu: Por que chorais e me magoais o coração? Pois eu estou pronto não só a ser preso, mas também a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.
14
Como não pudéssemos persuadi-lo, desistimos, dizendo: Faça-se a vontade do Senhor!
15
Depois desses dias, terminados os preparativos, subimos a Jerusalém.
16
Foram também conosco alguns dos discípulos de Cesaréia, que nos levaram à casa de Menason de Chipre, um antigo discípulo em cuja casa nos devíamos hospedar.

Paulo em Jerusalém

17 À nossa chegada em Jerusalém, os irmãos nos receberam com alegria.
18
No dia seguinte, Paulo dirigiu-se conosco à casa de Tiago, onde todos os anciãos se reuniram.
19
Tendo-os saudado, contou-lhes uma por uma todas as coisas que Deus fizera entre os pagãos por seu ministério.
20
Ouvindo isso, glorificaram a Deus e disseram a Paulo: Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus abraçaram a fé sem abandonar seu zelo pela lei.
21
Eles têm ouvido dizer de ti que ensinas os judeus, que vivem entre os gentios, a deixarem Moisés, dizendo que não devem circuncidar os seus filhos nem observar os costumes (mosaicos).
22
Que se há de fazer? Sem dúvida, saberão de tua chegada.
23
Faze, pois, o que te vamos dizer. Temos aqui quatro homens que têm um voto.
24
Toma-os contigo, faze com eles os ritos da purificação e paga por eles (a oferta obrigatória) para que rapem a cabeça. Então todos saberão que é falso quanto de ti ouviram, mas que também tu guardas a lei.
25
Mas a respeito dos que creram dentre os gentios, já escrevemos, ordenando que se abstenham do que for sacrificado aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da fornicação.
26
Então Paulo acompanhou aqueles homens no dia seguinte e, purificando-se com eles, entrou no templo e fez aí uma declaração do termo do voto, findo o qual se devia oferecer um sacrifício a favor de cada um deles.

Prisão de Paulo

27 Ao fim dos sete dias, os judeus, vindos da Ásia, viram Paulo no templo e amotinaram todo o povo. Lançando-lhe as mãos,
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gritavam: Ó judeus, valei-nos! Este é o homem que por toda parte prega a todos contra o povo, a lei e o templo. Além disso, introduziu até gregos no templo e profanou o lugar santo.
29
É que tinham visto Trófimo, de Éfeso, com ele na cidade, e pensavam que Paulo o tivesse introduzido no templo.
30
Alvoroçou-se toda a cidade com grande ajuntamento de povo. Agarraram Paulo e arrastaram-no para fora do templo, cujas portas se fecharam imediatamente.
31
Como quisessem matá-lo, o tribuno da coorte foi avisado de que toda Jerusalém estava amotinada.
32
Ele tomou logo soldados e oficiais e correu aos manifestantes. Estes, ao avistarem o tribuno e os saldados, cessaram de espancar Paulo.
33
Aproximando-se então o tribuno, prendeu-o e mandou acorrentá-lo com duas cadeias. Perguntou então quem era e o que havia feito.
34
Na multidão todos gritavam de tal modo que, não podendo apurar a verdade por causa do tumulto, mandou que fosse recolhido à cidadela.
35
Quando Paulo chegou às escadas, foi carregado pelos soldados, por causa do furor da multidão.
36
O povo o seguia em massa dizendo aos gritos: À morte
37
Quando estava para ser introduzido na fortaleza, Paulo perguntou ao tribuno: É-me permitido dizer duas palavras? Este respondeu: Sabes o grego!
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Não és tu, portanto, aquele egípcio que há tempos levantou um tumulto e conduziu ao deserto quatro mil extremistas?
39
Paulo replicou: Eu sou judeu, natural de Tarso, na Cilícia, cidadão dessa ilustre cidade. Mas rogo-te que me permitas falar ao povo.
40
O tribuno lho permitiu. Paulo, em pé nos degraus, acenou ao povo com a mão e se fez um grande silêncio. Falou em língua hebraica do seguinte modo:

Discurso de Paulo aos judeus

22 1 Irmãos e pais, ouvi o que vos tenho a dizer em minha defesa.
2
Quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, escutaram-no com a maior atenção.


3 Continuou ele: Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, instruí-me aos pés de Gamaliel, em toda a observância da lei de nossos pais, partidário entusiasta da causa de Deus como todos vós também o sois no dia de hoje.
4
Eu persegui de morte essa doutrina, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres.
5
O sumo sacerdote e todo o conselho dos anciãos me são testemunhas. E foi deles que também recebi cartas para os irmãos de Damasco, para onde me dirigi, com o fim de prender os que lá se achassem e trazê-los a Jerusalém, para que fossem castigados.
6
Ora, estando eu a caminho, e aproximando-me de Damasco, pelo meio-dia, de repente me cercou uma forte luz do céu.
7
Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
8
Eu repliquei: Quem és tu, Senhor? A voz me disse: Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.
9
Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem falava.
10
Então eu disse: Senhor, que devo fazer? E o Senhor me respondeu: Levanta-te, vai a Damasco e lá te será dito tudo o que deves fazer.
11
Como eu não pudesse ver por causa da intensidade daquela luz, guiado pela mão dos meus companheiros, cheguei a Damasco.
12
Um certo Ananias, homem piedoso e observador da lei, muito bem conceituado entre todos os judeus daquela cidade,
13
veio ter comigo e disse-me: Irmão Saulo, recobra a tua vista. Naquela mesma hora pude enxergá-lo.
14
Continuou ele: O Deus de nossos pais te predestinou para que conhecesses a sua vontade, visses o Justo e ouvisses a palavra da sua boca,
15
pois lhe serás, diante de todos os homens, testemunha das coisas que tens visto e ouvido.
16
E agora, por que tardas? Levanta-te. Recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome.


17 Voltei para Jerusalém e, orando no templo, fui arrebatado em êxtase.
18
E vi Jesus que me dizia: Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito.
19
Eu repliquei: Senhor, eles sabem que eu encarcerava e açoitava com varas nas sinagogas os que crêem em ti.
20
E quando se derramou o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu estava presente, consentia nisso e guardava os mantos dos que o matavam.
21
Mas ele me respondeu: Vai, porque eu te enviarei para longe, às nações...

Paulo na fortaleza

22 Haviam-no escutado até essa palavra. Então levantaram a voz: Tira do mundo esse homem! Não é digno de viver!
23
Como vociferassem, arrojassem de si as vestes e lançassem pó ao ar,
24
o tribuno mandou recolhê-lo à cidadela, açoitá-lo e submetê-lo a torturas, para saber por que causa clamavam assim contra ele.
25
Quando o iam amarrando com a correia, Paulo perguntou a um centurião que estava presente: É permitido açoitar um cidadão romano que nem sequer foi julgado?
26
Ao ouvir isso, o centurião foi ter com o tribuno e avisou-o: Que vais fazer? Este homem é cidadão romano.
27
Veio o tribuno e perguntou-lhe: Dize-me, és romano? Sim, respondeu-lhe.
28
O tribuno replicou: Eu adquiri este direito de cidadão por grande soma de dinheiro. Paulo respondeu: Pois eu o sou de nascimento.
29
Apartaram-se então dele os que iam torturá-lo. O tribuno alarmou-se porque o mandara acorrentar, sendo ele um cidadão romano.

Paulo diante do Grande Conselho

30 No dia seguinte, querendo saber com mais exatidão de que os judeus o acusavam, soltou-o e ordenou que se reunissem os sumos sacerdotes e todo o Grande Conselho. Trouxe Paulo e o mandou comparecer diante deles.



Atti (SAV) 16