Jesaja (BAV) 49

49 1 Ilhas, ouvi-me; povos de longe, prestai atenção! O Senhor chamou-me desde meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, ele pronunciou meu nome.
2
Tornou minha boca semelhante a uma espada afiada, cobriu-me com a sombra de sua mão. Fez de mim uma flecha penetrante, guardou-me na sua aljava.

O Servo, luz das nações

3 E disse-me: Tu és meu servo, (Israel), em quem me rejubilarei.


4 E eu dizia a mim mesmo: Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei minhas forças. Todavia, meu direito estava nas mãos do Senhor, e no meu Deus estava depositada a minha recompensa.


5 E agora o Senhor fala, ele, que me formou desde meu nascimento para ser seu Servo, para trazer-lhe de volta Jacó e reunir-lhe Israel, (porque o Senhor fez-me esta honra, e meu Deus tornou-se minha força).
6
Disse-me: Não basta que sejas meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo.

Restauração de Israel

7 Eis o que diz o Senhor, o Redentor, o Santo de Israel, ao objeto de desprezo dos homens e de horror das nações, ao escravo dos tiranos: diante de ti, reis se levantarão e príncipes se prostrarão, por causa do Senhor que é fiel, e do Santo de Israel que te elegeu.


8 Eis o que diz o Senhor: no tempo da graça eu te atenderei, no dia da salvação eu te socorrerei, (Eu te formei e designei para fazer a aliança com os povos), para restaurar o país e distribuir as heranças devastadas,
9
para dizer aos prisioneiros: Saí! E àqueles que mergulham nas trevas: Vinde à luz! Ao longo de todo o trajeto terão o que comer. Sobre todas as dunas encontrarão seu alimento.
10
Não sentirão fome nem sede; o vento quente e o sol não os castigarão, porque aquele que tem piedade deles os guiará e os conduzirá às fontes.
11
Tornar-lhes-ei acessíveis todas as montanhas, e caminhos atingirão as alturas.
12
Ei-los que vêm de longe, ei-los do norte e do poente, e outros da terra dos sienitas.


13 Cantai, ó céus; terra, exulta de alegria; montanhas, prorrompei em aclamações! Porque o Senhor consolou seu povo, comoveu-se e teve piedade dos seus na aflição.

Renovação de Jerusalém

14 Sião dizia: O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-me.
15
Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca.


16 Eis que estás gravada na palma de minhas mãos, tenho sempre sob os olhos tuas muralhas.
17
Acorrem já aqueles que vão reconstruir-te, enquanto teus destruidores e devastadores fogem.
18
Lança o olhar à volta e vê: reúnem-se todos e vêm a ti. Por minha vida, diz o Senhor, de gala te revestirás, como uma noiva te cingirás.
19
Teus bairros em ruína e devastados, teu território saqueado serão demasiado estreitos para teus habitantes, após a partida daqueles que se aproveitavam de ti.
20
Teus ouvidos ouvirão ainda de teus filhos, que julgavas perdidos: O espaço é estreito demais para mim; dê-me espaço para que eu me instale!
21
Então dirás a ti mesma: Quem me gerou estes filhos? Não tinha filhos, era estéril: Quem os criou? Eis que eu estava desamparada e só: De onde vieram eles?
22
Eis o que diz o Senhor Deus: com a mão vou fazer sinal às nações, e levantar meu estandarte para alertar os povos. Trarão teus filhos na dobra de seu manto, e em seus ombros carregarão tuas filhas.
23
Reis serão teus aios: prostrados diante de ti, a face contra a terra, lamberão a poeira de teus pés. Saberás então que eu sou o Senhor, e que não serão confundidos os que contam comigo.
24
Acaso tirar-se-á a presa ao forte? Ou o que for tomado por um robusto guerreiro escapar-lhe-á das mãos?
25
Eis o que diz o Senhor: sim, a presa do bravo lhe será retirada, a presa do robusto guerreiro lhe escapará; sustentarei tua causa contra teu adversário, libertarei eu mesmo teus filhos.
26
Farei teus opressores comerem sua própria carne, embriagar-se-ão com seu próprio sangue, como se fosse vinho. E toda criatura saberá que sou eu o Senhor, teu Salvador, teu Redentor, o Poderoso de Jacó.

50 1 Eis o que diz o Senhor: Onde está a carta de divórcio pela qual eu teria repudiado vossa mãe? Ou então, a qual de meus credores eu vos vendi? Está bem claro que por vossos crimes fostes vendidos, e por causa de vossos pecados vossa mãe foi repudiada.
2
Então, por que não encontrei pessoa alguma quando vim? Por que ninguém respondeu ao meu apelo? Tenho eu realmente a mão demasiado curta para libertar, ou não tenho bastante força para salvar? Contudo, com uma simples ameaça, seco o mar e transformo as ondas em terra firme, de forma tal a faltar água para seus peixes, e seus animais perecerem de sede.
3
Visto os céus com vestimentas de luto, e os cubro como de um cilício.

O Servo, certo do triunfo, aceita o sofrimento

4 O Senhor Deus deu-me a língua de um discípulo para que eu saiba reconfortar pela palavra o que está abatido. Cada manhã ele desperta meus ouvidos para que escute como discípulo;


5 (o Senhor Deus abriu-me o ouvido) e eu não relutei, não me esquivei.
6
Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros.
7
Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio: eis por que não me senti desonrado; enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser desapontado.


8 Aquele que me fará justiça aí está. Quem ousará atacar-me? Vamos medir-nos! Quem será meu adversário? Que se apresente!
9
O Senhor Deus vem em meu auxílio: quem ousaria condenar-me? Cairão em frangalhos como um manto velho; a traça os roerá.


10 Que aqueles dentre vós que temem o Senhor ouçam a voz de seu Servo! Que aqueles que caminham no escuro, privados de luz, confiem no nome do Senhor e contem com o seu Deus!
11
Mas vós, que ateais um incêndio, que preparais projéteis inflamáveis, ide ao fogo do vosso incêndio, e dos projéteis que fizestes arder! É minha mão que vos imporá esse tratamento: sereis prostrados nos tormentos.

A libertação está próxima e é certa

51 1 Ouvi-me, vós que seguis a justiça, e que buscais o Senhor! Olhai a rocha de que fostes talhados, a pedreira de onde vos tiraram:
2
considerai Abraão, vosso pai, e Sara, que vos pôs no mundo. Ele estava só, quando o chamei, mas eu o abençoei e o multipliquei,
3
porque o Senhor vai ter piedade de Sião, e reparar todas as suas ruínas. Do deserto em que ela se tornou ele fará um Éden, e da sua estepe um jardim do Senhor. Aí encontrar-se-ão o prazer e a alegria, os cânticos de louvor e as melodias da música.
4
Povos, escutai bem! Nações, prestai-me atenção! Pois é de mim que emanará a doutrina e a verdadeira religião que será a luz dos povos.
5
De repente minha justiça chegará, minha salvação vai aparecer, (meu braço fará justiça aos povos), as ilhas em mim terão esperança e contarão com meu braço.
6
Levantai os olhos para o céu, volvei vosso olhar à terra: os céus vão desvanecer-se como fumaça, como um vestido em farrapos ficará a terra, e seus habitantes morrerão como moscas. Mas minha salvação subsistirá sempre, e minha vitória não terá fim.
7
Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, povo meu, em cujo coração está a minha doutrina: não temais os insultos dos homens, não vos deixeis abater pelos seus ultrajes,
8
porque a traça os comerá como uma vestimenta, e os vermes das traças os roerão como lã. Mas minha vitória subsistirá sempre e meu triunfo persistirá de geração em geração.

O vigor de Deus dá toda a segurança

9 Desperta, braço do Senhor, desperta, recobra teu vigor! Levanta-te como nos dias do passado, como nos tempos de outrora. Não foste tu que esmagaste Raab e fendeste de alto a baixo o Dragão?
10
Não foste tu que secaste o mar e estancaste as águas do grande abismo? Tu que abriste no fundo do mar um caminho, para por aí passarem os resgatados?
11
Por aí voltarão aqueles que o Senhor tiver libertado. Chegarão a Sião com cânticos de triunfo, uma eterna alegria cingir-lhes-á a cabeça; o júbilo e a alegria os invadirão, a tristeza e os lamentos fugirão.
12
Sou eu, sou eu quem vos consola! Como podes temer um mortal, um filho do homem, que acabará como a erva?
13
Como esquecer o Senhor, teu criador, que estendeu os céus e fundou a terra, para não cessares de tremer todo o tempo diante da cólera do opressor que procura fazer-te perecer? Mas de que vale a cólera do opressor?
14
Em breve o prisioneiro vai ser solto, não perecerá no cárcere, e o pão não lhe faltará.
15
Eu sou o Senhor teu Deus, que revolvo o mar e faço rugir as ondas; eu me chamo o Senhor dos exércitos.
16
Na tua boca coloquei minhas palavras, com a sombra de minha mão eu te cobri, para estender os céus e fundar a terra, e dizer a Sião: Tu és meu povo.

Mudança de situação

17 Desperta! Desperta! Levanta-te, Jerusalém, tu que bebeste da mão do Senhor a taça de sua cólera, que esgotaste até os resíduos o cálice que dá vertigem.
18
(De todos os filhos que ela pôs no mundo, nenhum a orientou; entre os filhos que ela criou, nenhum a segurou pela mão.)
19
Esses dois males te sobrevieram, - quem te lastimaria? Saque e ruína, fome e espada - quem te consolaria?
20
Teus filhos jazem desfalecidos (pelos cantos da rua), como um antílope apanhado no laço, tontos com a cólera do Senhor e com as ameaças de teu Deus.
21
Ouve então isto, infeliz, tu que estás embriagada, mas não pelo vinho.
22
Eis o que diz o Senhor teu Deus que toma a defesa de seu povo: Vou retirar de tua mão a taça que dá a vertigem, não mais terás para beber o cálice de minha cólera,
23
e eu vou pô-lo na mão dos tiranos, na mão de teus opressores que te diziam: Curva-te para passarmos, quando apresentavas teu dorso como o chão que se calca, como uma rua para os viandantes.

52 1 Desperta, desperta, põe teus adornos, Sião, veste teus trajes de gala, Jerusalém, cidade santa, porque não mais verás penetrar em tua casa nem incircuncisos nem impuros!
2
Sacode a poeira que te cobre, levanta-te, Jerusalém, e reina, desvencilha-te das cadeias que te prendem o pescoço, filha cativa de Sião.
3
Porque eis o que diz o Senhor: vós fostes vendidos gratuitamente e sereis resgatados sem pagamento.
4
Porque eis o que diz o Senhor Deus: meu povo desceu outrora do Egito para aí habitar, depois a Assíria o oprimiu sem motivo.
5
E agora que faço eu aqui, diz o Senhor, já que meu povo foi levado gratuitamente? Seus opressores soltam brados de triunfo, diz o Senhor, e meu nome é ultrajado todo dia, sem cessar.
6
Por isso meu povo vai saber meu nome: naquele dia compreenderá que sou eu quem diz: Eis-me aqui!


7 Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!
8
Ouve! Tuas sentinelas elevam a voz, e todas juntas soltam alegres gritos, porque vêem com seus próprios olhos o Senhor voltar a Sião.
9
Prorrompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém, porque o Senhor se compadece de seu povo, e resgata Jerusalém!
10
O Senhor descobre seu braço santo aos olhares das nações, e todos os confins da terra verão o triunfo de nosso Deus.


11 Parti, parti! Retirai-vos daí, não toqueis nada de impuro! Deixai estas paragens, purificai-vos, vós que levais os vasos do Senhor,
12
porque não partireis com precipitação, não vos retirareis como fugitivos, porquanto diante de vós irá o Senhor, e o Deus de Israel seguirá à vossa retaguarda.

Humilhações expiatórias e triunfo do Servo

13 Eis que meu Servo prosperará, crescerá, elevar-se-á, será exaltado.
14
Assim como, à sua vista, muitos ficaram embaraçados - tão desfigurado estava que havia perdido a aparência humana -,
15
assim o admirarão muitos povos: os reis permanecerão mudos diante dele, porque verão o que nunca lhes tinha sido contado, e observarão um prodígio inaudito.


53 1 Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor?
2
Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos.
3
Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
4
Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado.
5
Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.


6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós.
7
Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.)
8
Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo?
9
Foi-lhe dada sepultura ao lado de fascínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira.


10 Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada.
11
Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades.


12 Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.

Felicidade da nova Jerusalém

54 1 Dá gritos de alegria, estéril, tu que não tens filhos; entoa cânticos de júbilo, tu que não dás à luz, porque os filhos da desamparada serão mais numerosos do que os da mulher casada, declara o Senhor.
2
Amplia o espaço da tua tenda, desdobra sem constrangimento as telas que te abrigam, alonga tuas cordas, consolida tuas estacas,
3
pois deverás estender-te à direita e à esquerda; teus descendentes vão invadir as nações, povoar as cidades desertas.
4
Nada temas, não serás desapontada. Não te sintas perturbada, não terás do que te envergonhar, porque vais esquecer-te da vileza de tua mocidade. Já não te lembrarás do opróbrio de tua viuvez,


5 pois teu esposo é o teu Criador: chama-se o Senhor dos exércitos; teu Redentor é o Santo de Israel: chama-se o Deus de toda a terra.
6
Como uma mulher abandonada e aflita, eu te chamo. Pode-se repudiar uma mulher desposada na juventude? - diz o Senhor teu Deus.
7
Por um momento eu te havia abandonado, mas com profunda afeição eu te recebo de novo.
8
Num acesso de cólera volvi de ti minha face. Mas no meu eterno amor, tenho compaixão de ti.
9
Vou fazer hoje como no tempo de Noé: tal como jurei então que o dilúvio de Noé não mais se abateria sobre a terra, do mesmo modo faço juramento de não mais me irritar contra ti, e de nunca mais te atemorizar.
10
Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais meu amor te abandonará e jamais meu pacto de paz vacilará, diz o Senhor que se compadeceu de ti.


11 Infeliz, sacudida pela tempestade e sem alívio, eis que te vou construir em pedra de jaspe e preparar teus alicerces de safira.
12
Farei tuas ameias de rubis, as portas de cristal, e todo um recinto de pedras preciosas.
13
Todos os teus filhos serão instruídos pelo Senhor, e a felicidade deles será grande; tu serás fundada sobre a justiça.
14
Serás isenta de qualquer opressão, nada terás a temer, e de todo o terror, pois não poderá atingir-te.


15 Se te atacarem, não será de minha parte; teus agressores sucumbirão diante de ti.
16
De fato, fui eu quem criou o ferreiro, que sopra sobre o fogo de brasas e dele tira as armas trabalhadas pela sua arte; também fui eu quem criou os demolidores para destruir:
17
qualquer arma forjada contra ti, ver-se-á destinada ao insucesso, e na justiça ganharás causa de qualquer língua que quiser acusar-te. Tal é o apanágio dos servos do Senhor, tal é o triunfo que lhes reservo, diz o Senhor.

A salvação é oferecida gratuitamente a todos os povos

55 1 Todos vós, que estais sedentos, vinde à nascente das águas; vinde comer, vós que não tendes alimento. Vinde comprar trigo sem dinheiro, vinho e leite sem pagar!
2
Por que despender vosso dinheiro naquilo que não alimenta, e o produto de vosso trabalho naquilo que não sacia? Se me ouvis, comereis excelentes manjares, uma suculenta comida fará vossas delícias.
3
Prestai-me atenção, e vinde a mim; escutai, e vossa alma viverá: quero concluir convosco uma eterna aliança, outorgando-vos os favores prometidos a Davi.


4 Farei de ti um testemunho para os povos, um condutor soberano das nações;
5
conclamarás povos que nunca conheceste, e nações que te ignoravam acorrerão a ti, por causa do Senhor teu Deus, e do Santo de Israel que fará tua glória.


6 Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto.
7
Renuncie o malvado a seu comportamento, e o pecador a seus projetos; volte ao Senhor, que dele terá piedade, e a nosso Deus que perdoa generosamente.
8
Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor;
9
mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos.


10 Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer,
11
assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão.


12 Sim, partireis com júbilo, e sereis reconduzidos em paz; montanhas e colinas aclamar-vos-ão, e todas as árvores do campo vos aplaudirão.
13
Em lugar do espinheiro, crescerá o cipreste, em lugar da urtiga, crescerá a murta; isso será para o renome do Senhor, um título para sempre imperecível.

III - COLEÇÃO DE PROFECIAS RELATIVAS AO EXÍLIO E À RESTAURAÇÃO (56-66)

Eunucos e prosélitos podem reunir-se ao povo de Deus

56 1 Eis o que diz o Senhor: respeitai o direito e praticai a justiça, porque minha salvação não tarda a chegar e minha justiça a revelar-se.


2 Feliz do homem que assim se comporta, e o filho do homem que se atém a isso, que observa o sábado sem profaná-lo, e abstém-se de toda má ação.
3
Que o estrangeiro que deseja afeiçoar-se ao Senhor não diga: Certamente o Senhor vai excluir-me de seu povo. Que o eunuco não diga: Oh! sou apenas um lenho seco.


4 Porque eis o que diz o Senhor: aos eunucos que observarem meus sábados, que escolherem o que me é agradável, e se afeiçoarem à minha aliança,
5
eu darei na minha casa e dentro de minhas muralhas um monumento e um nome de mais valor que filhos e filhas; dar-lhes-ei um nome que jamais perecerá.


6 Quanto aos estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor, para servi-lo e amar seu nome, para serem seus servos, se observarem o sábado sem profaná-lo, e se se afeiçoarem à minha aliança,
7
eu os conduzirei ao meu monte santo e os cumularei de alegria na minha casa de oração; seus holocaustos e sacrifícios serão aceitos sobre meu altar, pois minha casa chamar-se-á Casa de Orações para todos os povos.


8 Oráculo do Senhor Deus que reúne os exilados de Israel: eu lhes agregarei ainda outros junto aos seus já reunidos.

Indignidade dos dirigentes

9 Animais dos campos, vinde todos apascentar-vos, como também os animais da floresta.
10
Meus guardas estão todos cegos e não vêem nada; são cães mudos incapazes de latir, sonham estirados, gostam de cochilar;
11
são cães vorazes e insaciáveis (são pastores que nada observam), cada qual segue seu caminho em busca de seu interesse.
12
Vinde, vou buscar o vinho; com licores nos embriagaremos; amanhã, como hoje, haverá uma enorme bebedeira.


57 1 E o justo perece sem que ninguém se aperceba; as pessoas de bem são arrebatadas e ninguém se importa;
2
por causa do mal, o justo é arrebatado para entrar na paz; repousam sobre seus leitos aqueles que seguiam o caminho reto.

Tendências idolátricas das massas

3 E vós, aproximai-vos, filhos da feiticeira, descendência da mulher adúltera e devassa!
4
De quem vos escarneceis? A quem fazeis caretas e mostrais a língua? Não sois filhos do pecado, raça bastarda?
5
Vós vos abrasais sob os arvoredos de terebintos e sob qualquer árvore verde; vós imolais crianças no leito das torrentes e nas cavernas dos rochedos.
6
As pedras polidas da torrente, eis o que te toca, sim, eis o teu quinhão; tu lhes ofereces libações, preparas-lhes oferendas. (Posso a isso resignar-me?)
7
Sobre o cume de elevada montanha preparas teu leito, e é aí que sobes para oferecer sacrifícios.
8
Por trás da porta e seus umbrais, colocas teu emblema, porque não foi para mim que tu te descobriste, que estendeste a cama onde subiste; vais assalariar para ti aqueles com quem desejas ter negócios; admirando o ídolo, multiplicaste com eles as prostituições.
9
Depois corres a Melec com óleos, és pródiga em aromas, envias ao longe teus mensageiros, e os fazes descer à morada dos mortos.
10
De tanto andar assim, tu te fatigas, sem jamais dizer: já basta; encontras ainda força, e segues sem parar.
11
A quem temias então? De quem tinhas medo, para ser infiel, para não te lembrares de mim nem te preocupares comigo? Sem dúvida eu me calava e fechava os olhos; por isso tu não me temias.
12
Pois bem, vou mostrar o que valem tua justiça e tuas obras! Elas não te servirão de coisa alguma,
13
quando pedires socorro. E não te salvarão teus ídolos: todos serão levados pelo vento. Um sopro as carregará. Aquele, porém, que contar comigo herdará a terra, e possuirá meu monte santo.
14
(Será dito:) Abri, abri a estrada, aplanai-a! Retirai do caminho de meu povo todo obstáculo!

Consolação dos fiéis aflitos

15 Porque eis o que diz o Altíssimo, cuja morada é eterna e o nome santo: Habitando como Santo uma elevada morada, auxilio todavia o homem atormentado e humilhado; venho reanimar os humildes, e levantar os ânimos abatidos.
16
Realmente, não desejo controvérsias sem fim, nem persistir sempre no descontentamento, senão o espírito desfalecerá diante de mim, assim como as almas que criei.
17
Por causa do crime de meu povo me irritei um momento; feri-o, dando-lhe as costas na minha indignação, enquanto o rebelde agia segundo sua fantasia.
18
Vi sua conduta, disse o Senhor, e o curarei. Vou guiá-lo e consolá-lo,
19
vou fazer assomar aos lábios dos aflitos a ação de graças. Paz, paz àquele que está longe e àquele que está perto.


20 Mas os ímpios são como um mar encapelado, que não pode acalmar-se, cujas ondas revolvem lodo e lama. Não há paz para os ímpios, diz meu Deus.

O verdadeiro jejum

58 1 Clama em alta voz, sem constrangimento; faze soar a tua voz como a corneta. Denuncia a meu povo suas faltas, e à casa de Jacó seus pecados.
2
Sem dúvida eles me procuram dia após dia, desejam conhecer o comportamento que me agrada, como uma nação que houvesse sempre praticado a justiça, sem abandonar a lei de seu Deus. Informam-se junto a mim sobre as exigências da justiça, desejam a presença de Deus.
3
De que serve jejuar, se com isso não vos importais? E mortificar-nos, se nisso não prestais atenção? É que no dia de vosso jejum, só cuidais de vossos negócios, e oprimis todos os vossos operários.
4
Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz.
5
O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco, deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isso um jejum, um dia agradável ao Senhor?


6 Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? - diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo.


7 É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante.
8
Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda.


9 Então às tuas invocações, o Senhor responderá, e a teus gritos dirá: Eis-me aqui! Se expulsares de tua casa toda a opressão, os gestos malévolos e as más conversações;


10 se deres do teu pão ao faminto, se alimentares os pobres, tua luz levantar-se-á na escuridão, e tua noite resplandecerá como o dia pleno.


11 O Senhor te guiará constantemente, alimentar-te-á no árido deserto, renovará teu vigor. Serás como um jardim bem irrigado, como uma fonte de águas inesgotáveis.


12 Reerguerás as ruínas antigas, reedificarás sobre os alicerces seculares; chamar-te-ão o reparador de brechas, o restaurador das moradias em ruínas.
13
Se te abstiveres de calcar aos pés o sábado, de cuidar de teus negócios no dia que me é consagrado, se achares o sábado um dia maravilhoso, se achares respeitável o dia consagrado ao Senhor, se tu o venerares não seguindo os teus caminhos, não te entregando às tuas ocupações e às conversações,
14
então encontrarás tua felicidade no Senhor: eu te farei galgar as alturas da terra, e gozar a herança de Jacó, teu pai; porque a boca do Senhor falou.

Os pecados do povo fazem obstáculo à sua felicidade

59 1 Não, não é a mão do Senhor que é incapaz de salvar, nem seu ouvido demasiado surdo para ouvir,
2
são vossos pecados que colocaram uma barreira entre vós e vosso Deus. Vossas faltas são o motivo pelo qual a Face se oculta para não vos ouvir,
3
porque vossas mãos estão manchadas de sangue e vossos dedos de crimes; vossos lábios proferem mentira, vossa língua entretém pérfidas conversas.
4
Pessoa alguma cita em justiça com razão, ninguém pleiteia de boa fé: apóiam-se sobre falsos argumentos, pretende-se aquilo que não é. Concebeu-se a intriga e gera-se o crime.
5
Chocam ovos de áspide, e tecem teias de aranha. Se se comem seus ovos, morre-se, se se quebra um, sai dele uma víbora;
6
suas teias não poderiam servir para roupa, não nos podemos cobrir com o que tecem. Fazem obras infamantes, entregam-se a atos de violência.
7
Seus pés correm para o mal: têm pressa de derramar o sangue inocente. Meditam projetos malignos, só se encontram sobre sua passagem estrago e ruínas;
8
o caminho da paz lhes é desconhecido, seguem atalhos tortuosos, onde aqueles que passam ignoram a felicidade.
9
Eis por que o direito permanece afastado de nós, e a justiça não vem a nós. Esperamos a luz, e eis as trevas; aguardamos o dia, e andamos na escuridão.
10
Vamos como cegos apalpando o muro, caminhamos às apalpadelas como aqueles que perderam a vista. Em pleno dia tropeçamos como ao crepúsculo, mergulhamos nas trevas como os mortos.
11
Rugimos todos como ursos, e gememos como pombas. Esperamos o direito, mas em vão, a salvação, mas ela permanece longe de nós,
12
porque nossas faltas são inúmeras perante vós, e nossos pecados dão testemunho contra nós; temos consciência de nossos crimes, e conhecemos nossas iniqüidades:
13
nós nos temos revoltado contra o Senhor e o temos renegado, nós nos afastamos de nosso Deus; só temos falado de opressão e de revolta, exalamos de nosso coração palavras mentirosas.
14
O direito é posto de lado, a justiça se mantém afastada, a boa fé tropeça na praça pública e não pode ali entrar a retidão.
15
Desaparecida a boa fé, fica despojado aquele que se abstém do mal. O Senhor viu com indignação que não havia mais justiça.
16
Viu que aí não existia pessoa alguma, e admirou-se de que ninguém interviesse. Então foi seu próprio braço que lhe veio em auxílio, e sua justiça que lhe serviu de apoio.
17
Vestiu a justiça como uma couraça, pôs sobre a cabeça o capacete da salvação, revestiu-se da vingança como de uma cota de armas, e envolveu-se de zelo como de um manto.
18
Pagará a cada um segundo suas obras: cólera contra seus adversários, represália contra seus inimigos. (Usará de represálias contra as ilhas).
19
Desde o poente será visto o nome do Senhor, e desde o levante sua majestade, pois ele virá como uma torrente impetuosa precipitada pelo sopro do Senhor.
20
Mas virá como redentor a Sião, e aos filhos arrependidos de Jacó - Oráculo do Senhor.
21
(Eis minha aliança com eles, diz o Senhor: meu espírito que sobre ti repousa, e minhas palavras que coloquei em tua boca não deixarão teus lábios nem os de teus filhos, nem os de seus descendentes, diz o Senhor, desde agora e para sempre).

A glória da nova Jerusalém

60 1 Levanta-te, sê radiosa, eis a tua luz! A glória do Senhor se levanta sobre ti.
2
Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e sua glória te ilumina.
3
As nações se encaminharão à tua luz, e os reis, ao brilho de tua aurora.
4
Levanta os olhos e olha à tua volta: todos se reúnem para vir a ti; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são transportadas à garupa.
5
Essa visão tornar-te-á radiante; teu coração palpitará e se dilatará, porque para ti afluirão as riquezas do mar, e a ti virão os tesouros das nações.
6
Serás invadida por uma multidão de camelos, pelos dromedários de Madiã e de Efá; virão todos de Sabá, trazendo ouro e incenso, e publicando os louvores do Senhor.


7 Todo o gado menor de Cedar se reunirá junto a ti, os carneiros de Nabaiot ficarão à tua disposição; fá-los-ão subir sobre meu altar para minha satisfação, e para a honra de meu templo glorioso.
8
Quem é que voa assim como as nuvens, ou como as pombas volvendo ao pombal?
9
Sim, as frotas convergem para mim, e os navios de Társis abrem a marcha, para trazer de longe teus filhos, bem como sua prata e seu ouro, para honrar o nome do Senhor teu Deus, o Santo de Israel, que te cobriu de glória.
10
Estrangeiros reerguerão tuas muralhas, e seus reis te servirão, pois, se te castiguei na minha cólera, na minha bondade tenho piedade de ti.
11
Tuas portas ficarão abertas permanentemente, nem de dia nem de noite serão fechadas, a fim de deixar afluir as riquezas das nações sob a custódia de seus reis.
12
(Porque a nação ou o reino que recusar servir-te perecerá, e sua terra será devastada).
13
A glória do Líbano virá a ti, e todos juntos, o cipreste, a faia e o buxo, para ornamentar meu lugar santo e honrar o lugar onde pousam meus pés.
14
Os próprios filhos de teus opressores a ti virão humilhados; a teus pés se prostrarão todos aqueles que te desprezavam; chamar-te-ão a cidade do Senhor, a Sião do Santo de Israel.
15
De abandonada e amaldiçoada, sem ninguém para te socorrer, farei de ti um objeto de admiração para sempre, um motivo de alegria para as gerações futuras.
16
Sugarás o leite das nações, e mamarás ao peito dos reis: saberás que eu, o Senhor, sou teu salvador, que teu redentor é o Poderoso de Jacó.
17
Em vez de bronze, farei vir ouro; em lugar de ferro, farei vir prata; (em vez de madeira, bronze; em vez de pedras, ferro), farei reinar sobre ti a paz, e governar a justiça.
18
Não se ouvirá mais falar de violência em tua terra, nem de devastações e de ruínas em teu território. Chamarás tuas muralhas Salvação, tuas portas, Glória.
19
Não terás mais necessidade de sol para te alumiar, nem de lua para te iluminar: permanentemente terás por luz o Senhor, e teu Deus por resplendor.
20
Teu sol não mais se deitará, e tua lua não terá mais declínio, porque terás constantemente o Senhor por luz, e teus dias de luto estarão acabados.
21
Teu povo será um povo de justos que possuirá a terra para sempre; será uma planta cultivada pelo Senhor, obra de suas mãos destinada à sua glória.
22
Do menor nascerá toda uma tribo, e do mínimo, uma nação poderosa, sou eu, o Senhor, que em tempo oportuno realizarei essas coisas.


Jesaja (BAV) 49