Der Weisheit (BAV) 1





Libro da Sabedoria


Advertência: disposições exigidas pela Sabedoria

1 1 Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração,
2
porque ele é encontrado pelos que o não tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança;
3
com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos.
4
A Sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado;
5
o Espírito Santo educador (das almas) fugirá da perfídia, afastar-se-á dos pensamentos insensatos, e a iniqüidade que sobrevém o repelirá.
6
Sim, a Sabedoria é um espírito que ama os homens, mas não deixará sem castigo o blasfemador pelo crime de seus lábios, porque Deus lhe sonda os rins, penetra até o fundo de seu coração, e ouve as suas palavras.
7
Com efeito, o Espírito do Senhor enche o universo, e ele, que tem unidas todas as coisas, ouve toda voz.


8 Aquele que profere uma linguagem iníqua, não pode fugir dele, e a Justiça vingadora não o deixará escapar;
9
pois os próprios desígnios do ímpio serão cuidadosamente examinados; o som de suas palavras chegará até o Senhor, que lhe imporá o castigo pelos seus pecados.
10
É, com efeito, um ouvido cioso, que tudo ouve: nem a menor murmuração lhe passa despercebida.
11
Acautelai-vos, pois, de queixar-vos inutilmente, evitai que vossa língua se entregue à crítica, porque até mesmo uma palavra secreta não ficará sem castigo, e a boca que acusa com injustiça arrasta a alma à morte.
12
Não procureis a morte por uma vida desregrada, não sejais o próprio artífice de vossa perda.


13 Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma.
14
Ele criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo devem cooperar para a salvação. Nelas nenhum princípio é funesto, e a morte não é a rainha da terra,
15
porque a justiça é imortal.

I - A SABEDORIA E O HOMEM (1,16-5)

Falsa mentalidade dos ímpios

16 Mas, (a morte), os ímpios a chamam com o gesto e a voz. Crendo-a amiga, consomem-se de desejos, e fazem aliança com ela; de fato, eles merecem ser sua presa.


2 1 Dizem, com efeito, nos seus falsos raciocínios: Curta é a nossa vida, e cheia de tristezas; para a morte não há remédio algum; não há notícia de ninguém que tenha voltado da região dos mortos.


2 Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de nossos narizes, e nosso pensamento, uma centelha que salta do bater de nosso coração!
3
Extinta ela, nosso corpo se tornará pó, e o nosso espírito se dissipará como um vapor inconsistente!
4
Com o tempo nosso nome cairá no esquecimento, e ninguém se lembrará de nossas obras. Nossa vida passará como os traços de uma nuvem, desvanecer-se-á como uma névoa que os raios do sol expulsam, e que seu calor dissipa.
5
A passagem de uma sombra: eis a nossa vida, e nenhum reinício é possível uma vez chegado o fim, porque o selo lhe é aposto e ninguém volta.
6
Vinde, portanto! Aproveitemo-nos das boas coisas que existem! Vivamente gozemos das criaturas durante nossa juventude!
7
Inebriemo-nos de vinhos preciosos e de perfumes, e não deixemos passar a flor da primavera!
8
Coroemo-nos de botões de rosas antes que eles murchem!
9
Ninguém de nós falte à nossa orgia; em toda parte deixemos sinais de nossa alegria, porque esta é a nossa parte, esta a nossa sorte!
10
Tiranizemos o justo na sua pobreza, não poupemos a viúva, e não tenhamos consideração com os cabelos brancos do ancião!
11
Que a nossa força seja o critério do direito, porque o fraco, em verdade, não serve para nada.


12 Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação.


13 Ele se gaba de conhecer a Deus, e se chama a si mesmo filho do Senhor!
14
Sua existência é uma censura às nossas idéias; basta sua vista para nos importunar.
15
Sua vida, com efeito, não se parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes.
16
Ele nos tem por uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nosso caminhos como de manchas. Julga feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai.


17 Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte,
18
porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos seus adversários.
19
Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua paciência.
20
Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir.


21 Eis o o que pensam, mas enganam-se, sua malícia os cega:
22
eles desconhecem os segredos de Deus, não esperam que a santidade seja recompensada, e não acreditam na glorificação das almas puras.


23 Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem de sua própria natureza.
24
É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demônio prová-la-ão.

Diferente sorte dos justos e dos ímpios

3 1 Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará.
2
Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça.
3
E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz!
4
Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade,
5
e por terem sofrido um pouco, receberão grandes bens, porque Deus, que os provou, achou-os dignos de si.
6
Ele os provou como ouro na fornalha, e os acolheu como holocausto.
7
No dia de sua visita, eles se reanimarão, e correrão como centelhas na palha.
8
Eles julgarão as nações e dominarão os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre.
9
Os que põem sua confiança nele compreenderão a verdade, e os que são fiéis habitarão com ele no amor: porque seus eleitos são dignos de favor e misericórdia.


10 Mas os ímpios terão o castigo que merecem seus pensamentos, uma vez que desprezaram o justo e se separaram do Senhor: e desgraçado é aquele que rejeita a sabedoria e a disciplina!
11
A esperança deles é vã, seus sofrimentos sem proveito, e as obras deles inúteis.
12
Suas mulheres são insensatas e seus filhos malvados; a raça deles é maldita.
13
Feliz a mulher estéril, mas pura de toda a mancha, a que não manchou seu tálamo: ela carregará seu fruto no dia da retribuição das almas.
14
Feliz o eunuco cuja mão não cometeu o mal, que não concebeu iniqüidade contra o Senhor, porque ele receberá pela sua fidelidade uma graça de escol, e no templo do Senhor uma parte muito honrosa,
15
porque é esplêndido o fruto de bons trabalhos, e a raiz da sabedoria é sempre fértil.
16
Quanto aos filhos dos adúlteros, a nada chegarão, e a raça que descende do pecado será aniqüilada.
17
Ainda que vivam muito tempo, serão tidos por nada e, finalmente, sua velhice será sem honra.
18
Caso morram cedo, não terão esperança alguma, e no dia do julgamento não encontrarão nenhuma piedade:
19
porque é lamentável o fim de uma raça injusta.


4 1 Mais vale uma vida sem filhos, mas rica de virtudes: sua memória será imortal, porque será conhecida de Deus e dos homens.
2
Quando está presente, imitam-na; quando passada, desejam-na; ela leva na glória uma coroa eterna, por ter triunfado sem mancha nos combates.
3
Mas para nada servirá, ainda que numerosa, a raça dos ímpios; procedendo de renovos bastardos, não estenderá raízes profundas, não se estabelecerá numa base sólida.
4
Ainda que por algum tempo estenda seus ramos, estando instavelmente assentada, será abalada pelo vento e, pela violência da tempestade, será desarraigada.
5
Os galhos serão quebrados antes do desenvolvimento, o fruto deles será inútil, verde demais para ser comido, e impróprio para qualquer uso,
6
porque os filhos nascidos de uniões ilícitas serão no dia do juízo testemunhas a deporem contra seus pais.


7 Quanto ao justo, mesmo que morra antes da idade, gozará de repouso.
8
A honra da velhice não provém de uma longa vida, e não se mede pelo número dos anos.
9
Mas é a sabedoria que faz as vezes dos cabelos brancos; é uma vida pura que se tem em conta de velhice.
10
Ele agradou a Deus e foi por ele amado, assim (Deus) o transferiu do meio dos pecadores onde vivia.
11
Foi arrebatado para que a malícia lhe não corrompesse o sentimento, nem a astúcia lhe pervertesse a alma:
12
porque a fascinação do vício atira um véu sobre a beleza moral, e o movimento das paixões mina uma alma ingênua.
13
Tendo chegado rapidamente ao termo, percorreu uma longa carreira.
14
Sua alma era agradável ao Senhor, e é por isso que ele o retirou depressa do meio da perversidade. Os povos que vêem esse modo de agir não o compreendem, e não refletem nisto:
15
que o favor de Deus e sua misericórdia são para seus eleitos, e sua assistência está no meio de seus fiéis.


16 O justo, ao morrer, condena os ímpios que sobrevivem, e a juventude, atingindo tão depressa a perfeição, confunde a longa velhice do pecador.
17
Eles verão o fim do sábio, e não compreenderão os desígnios do Senhor a seu respeito, nem por que ele o pôs em segurança.
18
Eles verão e mostrarão desprezo, mas o Senhor zombará deles.
19
Depois disso serão cadáveres sem honra, desterrados entre os mortos, numa eterna ignomínia, porque ele os ferirá, e os precipitará sem voz, abatê-los-á nas suas bases e os mergulhará na última desolação. Eles serão entregues à dor, e a memória deles perecerá.
20
Comparecerão aterrorizados com a lembrança de seus pecados, e suas iniqüidades se levantarão contra eles para os confundir.

Arrependimento tardio dos ímpios

5 1 Então, com grande confiança, o justo se levantará em face dos que o perseguiram e zombaram dos seus males aqui embaixo.
2
Diante de sua vista serão presos de grande temor e tomados de assombro ao vê-lo salvo contra sua expectativa;
3
tocados de arrependimento, dirão entre si, e, gemendo na angústia de sua alma, dirão:
4
Ei-lo, aquele de quem outrora escarnecemos, e a quem loucamente cobrimos de insultos! Considerávamos sua vida como uma loucura, e sua morte como uma vergonha.
5
Como, pois, é ele do número dos filhos de Deus, e como está seu lugar entre os santos?
6
Portanto, nós nos desgarramos para longe da verdade: a luz da justiça não brilhou para nós e o sol não se levantou sobre nós!
7
Nós nos manchamos nas sendas da iniqüidade e da perdição, erramos pelos desertos sem caminhos e não conhecemos o caminho do Senhor!
8
O que ganhamos com nosso orgulho, e que nos trouxe a riqueza unida à arrogância?
9
Tudo isso desapareceu como sombra, como notícia que passa;
10
como navio que fende a água agitada, sem que se possa reencontrar o rasto de seu itinerário, nem a esteira de sua quilha nas ondas.
11
Como a ave que, atravessando o ar em seu vôo, não deixa após si o traço de sua passagem, mas, ferindo o ar com suas penas, fende-o com a impetuosa força do bater de suas asas, atravessa-o e logo nem se nota indício de sua passagem;
12
como quando uma flecha, que é lançada ao alvo, o ar que ela cortou volta imediatamente à sua posição de modo que não se pode distinguir sua trajetória,
13
assim, também nós, apenas nascidos, cessamos de ser, e não podemos mostrar traço algum de virtude: é no mal que nossa vida se consumiu!

Deus protege e vinga os justos

14 Assim a esperança do ímpio é como a poeira levada pelo vento, e como uma leve espuma espalhada pela tempestade; ela se dissipa como o fumo ao vento, e passa como a lembrança do hóspede de um dia.
15
Mas os justos viverão eternamente; sua recompensa está no Senhor, e o Altíssimo cuidará deles.
16
Por isso receberão a régia coroa de glória, e o diadema da beleza da mão do Senhor, porque os cobrirá com sua direita, e os protegerá com seu braço.
17
Por armadura tomará seu zelo cioso, e armará as criaturas para se vingar de seus inimigos.
18
Tomará por couraça a justiça, e por capacete a integridade no julgamento.
19
Ele se cobrirá com a santidade, como com um impenetrável escudo,
20
afiará o gume de sua ira para lhe servir de espada, e o mundo se reunirá a ele na luta contra os insensatos.
21
Os raios partirão como flechas bem dirigidas, e, como de um arco bem distendido, voarão das nuvens para o alvo;
22
uma balista fará cair uma pesada saraiva de ira; a água do mar se levantará em turbilhão contra eles e os rios os arrastarão impetuosamente.
23
O sopro do Todo-poderoso se insurgirá contra eles e os dispersará como um furacão; a iniqüidade fará de toda a terra um deserto, e a malícia derribará os tronos dos poderosos!

II - DEFINIÇÃO DA SABEDORIA (6-9)

Exortação para desejar a Sabedoria

6 1 Ouvi, pois, ó reis, e entendei; aprendei vós que governais o universo!
2
Prestai ouvidos, vós que reinais sobre as nações e vos gloriais do número de vossos povos!
3
Porque é do Senhor que recebestes o poder, e é do Altíssimo que tendes o poderio; é ele que examinará vossas obras e sondará vossos pensamentos!
4
Se, ministros do reino, vós não julgastes eqüitativamente, nem observastes a lei, nem andastes segundo a vontade de Deus,
5
ele se apresentará a vós, terrível, inesperado, porque aqueles que dominam serão rigorosamente julgados.
6
Ao menor, com efeito, a compaixão atrai o perdão, mas os poderosos serão examinados sem piedade.
7
O Senhor de todos não fará exceção para ninguém, e não se deixará impor pela grandeza, porque, pequenos ou grandes, é ele que a todos criou, e de todos cuida igualmente;
8
mas para os poderosos o julgamento será severo.
9
É a vós, pois, ó príncipes, que me dirijo, para que aprendais a Sabedoria e não resvaleis,
10
porque aqueles que santamente observarem as santas leis serão santificados, e os que as tiverem estudado poderão justificar-se.
11
Anelai, pois, pelas minhas palavras, reclamai-as ardentemente e sereis instruídos.


12 Resplandescente é a Sabedoria, e sua beleza é inalterável: os que a amam, descobrem-na facilmente.
13
Os que a procuram encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam.
14
Quem, para possuí-la, levanta-se de madrugada, não terá trabalho, porque a encontrará sentada à sua porta.
15
Fazê-la objeto de seus pensamentos é a prudência perfeita, e quem por ela vigia, em breve não terá mais cuidado.
16
Ela mesma vai à procura dos que são dignos dela; ela lhes aparece nos caminhos cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos os seus pensamentos,


17 porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la.
18
Mas amá-la é obedecer às suas leis, e obedecer às suas leis é a garantia da imortalidade.
19
Ora, a imortalidade faz habitar junto de Deus;
20
assim o desejo da Sabedoria conduz ao Reino!
21
Se, pois, cetros e tronos vos agradam, ó vós que governais os povos, honrai a Sabedoria, e reinareis eternamente.
22
Mas eu vou dizer o que é a Sabedoria e como ela nasceu. Não vos esconderei os seus mistérios; mas investigá-la-ei até sua mais remota origem; porei à luz o que dela pode ser conhecido, e não me afastarei da verdade.
23
Não imitarei aquele a quem a inveja consome, porque esse tal não tem nada a ver com a Sabedoria:
24
é no grande número de sábios que se encontra a salvação do mundo, e um rei sensato faz a prosperidade de seu povo.
25
Deixai-vos, pois, instruir por minhas palavras, e nelas encontrareis grande proveito.

Doutrina de Salomão sobre a sabedoria

7 1 Eu mesmo não passo de um mortal como todos os outros, e descendo do primeiro homem formado da terra. Meu corpo foi formado no seio de minha mãe,
2
onde, durante dez meses, no sangue tomou consistência, da semente viril e do prazer ajuntado à união (conjugal).
3
Eu também, desde meu nascimento, respirei o ar comum; eu caí, da mesma maneira que todos, sobre a mesma terra, e, como todos, nos mesmos prantos soltei o primeiro grito.
4
Envolto em faixas fui criado no meio de assíduos cuidados;
5
porque nenhum rei teve outro início na existência;
6
para todos a entrada na vida é a mesma e a partida semelhante.


7 Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim.
8
Eu a preferi aos cetros e tronos, e avaliei a riqueza como um nada ao lado da Sabedoria.
9
Não comparei a ela a pedra preciosa, porque todo o ouro ao lado dela é apenas um pouco de areia, e porque a prata diante dela será tida como lama.
10
Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue.


11 Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas.


12 De todos esses bens eu me alegrei, porque é a Sabedoria que os guia, mas ignorava que ela fosse sua mãe.
13
Eu estudei lealmente e reparto sem inveja e não escondo a riqueza que ela encerra,
14
porque ela é para os homens um tesouro inesgotável; e os que a adquirem preparam-se para se tornar amigos de Deus, recomendados (a ele) pela educação que ela lhes dá.


15 Que Deus me permita falar como eu quisera, e ter pensamentos dignos dos dons que recebi, porque é ele mesmo quem guia a sabedoria e emenda os sábios,
16
porque nós estamos nas suas mãos, nós e nossos discursos, toda a nossa inteligência e nossa habilidade;


17 foi ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, quem me fez conhecer a constituição do mundo e as virtudes dos elementos,
18
o começo, o fim e o meio dos tempos, a sucessão dos solstícios e as mutações das estações,
19
os ciclos do ano e as posições dos astros,
20
a natureza dos animais e os instintos dos brutos, os poderes dos espíritos e os pensamentos dos homens, a variedade das plantas e as propriedades das raízes.
21
Tudo que está escondido e tudo que está aparente eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as coisas, que mo ensinou.


22 Há nela, com efeito, um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, penetrante, puro, claro, inofensivo, inclinado ao bem, agudo,
23
livre, benéfico, benévolo, estável, seguro, livre de inquietação, que pode tudo, que cuida de tudo, que penetra em todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis.
24
Mais ágil que todo o movimento é a Sabedoria, ela atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza.
25
Ela é um sopro do poder de Deus, uma irradiação límpida da glória do Todo-poderoso; assim mancha nenhuma pode insinuar-se nela.
26
É ela uma efusão da luz eterna, um espelho sem mancha da atividade de Deus, e uma imagem de sua bondade.
27
Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração em geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus,
28
porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria!
29
É ela, com efeito, mais bela que o sol e ultrapassa o conjunto dos astros. Comparada à luz, ela se sobreleva,
30
porque à luz sucede a noite, enquanto que, contra a Sabedoria, o mal não prevalece.

8 1 Ela estende seu vigor de uma extremidade do mundo à outra e governa todas as coisas com felicidade.


2 Eu a amei e procurei desde minha juventude, esforçei-me por tê-la por esposa e me enamorei de seus encantos.
3
Ela mostra a nobreza de sua origem em conviver com Deus, ela é amada pelo Senhor de todas as coisas.
4
Ela é iniciada na ciência de Deus e, por sua escolha, decide de suas obras.
5
Se a riqueza é um bem desejável na vida, que há de mais rico que a Sabedoria que tudo criou?
6
Se a inteligência do homem consegue operar, o que, então, mais que a Sabedoria, é artífice dos seres?
7
E se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a força: não há ninguém que seja mais útil aos homens na vida.
8
Se alguém deseja uma vasta ciência, ela sabe o passado e conjectura o futuro; conhece as sutilezas oratórias e revolve os enigmas; prevê os sinais e os prodígios, e o que tem que acontecer no decurso das idades e dos tempos.
9
Portanto, resolvi tomá-la por companheira de minha vida, cuidando que ela será para mim uma boa conselheira, e minha consolação nos cuidados e na tristeza.
10
Graças a ela, receberei as honras das multidões, e, embora jovem como sou, o respeito dos anciãos.
11
Reconhecerão a penetração de meu julgamento, e excitarei a admiração dos reis.
12
Se me calo, esperarão que eu fale; se falo, estarão atentos; e se prolongo meu discurso, levarão a mão à boca.
13
Por meio dela obterei a imortalidade, e deixarei à posteridade uma lembrança eterna.
14
Governarei povos e as nações ser-me-ão submissas.
15
Príncipes temíveis estarão cheios de medo ao ouvirem falar de mim; mostrar-me-ei bom para com o povo e valoroso no combate.
16
Recolhido em minha casa, repousarei junto dela, porque a sua convivência não tem nada de desagradável, e sua intimidade nada de fastidioso; ela traz consigo, pelo contrário, o contentamento e a alegria!
17
Meditando comigo mesmo nesses pensamentos, e considerando em meu coração que a imortalidade se encontra na aliança com a Sabedoria,
18
a alegria perfeita na sua amizade, contínua riqueza na sua atividade, inteligência nas lições de seus entretenimentos familiares, e glória na comunicação de suas sentenças, saí à sua procura a fim de possuí-la em mim.
19
Eu era um menino vigoroso, dotado de uma alma excelente,
20
ou antes, como era bom, eu vim a um corpo intacto;
21
mas, consciente de não poder possuir a sabedoria, a não ser por dom de Deus, (e já era inteligência o saber de onde vem o dom), eu me voltei para o Senhor, e invoquei-o, dizendo do fundo do coração:

Oração de Salomão para obter a sabedoria

9 1 Deus de nossos pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas criastes pela vossa palavra,
2
e que, por vossa sabedoria, formastes o homem para ser o senhor de todas as vossas criaturas,
3
governar o mundo na santidade e na justiça, e proferir seu julgamento na retidão de sua alma,
4
dai-me a Sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis como indigno de ser um de vossos filhos.
5
Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa serva, um homem fraco, cuja existência é breve, incapaz de compreender vosso julgamento e vossas leis;
6
porque qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, não será nada, se lhe falta a Sabedoria que vem de vós.
7
Ora, vós me escolhestes para ser rei de vosso povo e juiz de vossos filhos e vossas filhas.
8
Vós me ordenastes construir um templo na vossa montanha santa e um altar na cidade em que habitais: imagem da sagrada habitação que preparastes desde o princípio.


9 Mas, ao lado de vós está a Sabedoria que conhece vossas obras; ela estava presente quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às vossas ordens.
10
Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono de vossa glória, para que, junto de mim, tome parte em meus trabalhos, e para que eu saiba o que vos agrada.
11
Com efeito, ela sabe e conhece todas as coisas; prudentemente guiará meus passos, e me protegerá no brilho de sua glória.


12 Assim, minhas obras vos serão agradáveis; governarei vosso povo com justiça, e serei digno do trono de meu pai.


13 Que homem, pois, pode conhecer os desígnios de Deus, e penetrar nas determinações do Senhor?
14
Tímidos são os pensamentos dos mortais, e incertas as nossas concepções;
15
porque o corpo corruptível torna pesada a alma, e a morada terrestre oprime o espírito carregado de cuidados.
16
Mal podemos compreender o que está sobre a terra, dificilmente encontramos o que temos ao alcance da mão. Quem, portanto, pode descobrir o que se passa no céu?
17
E quem conhece vossas intenções, se vós não lhe dais a Sabedoria, e se do mais alto dos céus vós não lhe enviais vosso Espírito Santo?
18
Assim se tornaram direitas as veredas dos que estão na terra; os homens aprenderam as coisas que vos agradam e pela sabedoria foram salvos.

III - PAPEL DA SABEDORIA NA HISTÓRIA (10-19)

De Adão a José

10 1 O primeiro homem, o pai do mundo, que foi criado sozinho, foi a Sabedoria que cuidou dele, tirou-o de seu próprio pecado,
2
e deu-lhe o poder de reinar sobre todas as coisas.
3
E porque o perverso, na sua ira, dela se afastou, pereceu depois de seu furor fratricida.
4
E estando a terra submersa por causa dele pelo dilúvio, a Sabedoria de novo o salvou, conduzindo o justo num lenho sem valor.
5
E quando as nações unânimes caíram no mal, foi ela que distinguiu o justo, o manteve irrepreensível diante de Deus, e lhe deu a força para vencer sua ternura pelo seu filho.
6
Foi ela que, quando do aniquilamento dos ímpios, salvou o justo, subtraindo-o ao fogo que descera sobre a Pentápole,
7
cuja perversidade ainda no presente é testemunhada por uma terra fumegante e deserta, onde as árvores carregam frutos incapazes de amadurecer, e onde está erigida uma coluna de sal, memorial de uma alma incrédula.
8
Porque aqueles que desprezaram a Sabedoria, não somente se prejudicaram em ignorar o bem, mas ainda deixaram aos homens um testemunho de sua loucura, para que seus pecados não fossem esquecidos.
9
Quanto aos que a honram, a Sabedoria os liberta de sofrimentos;
10
foi ela que guiou por caminhos retos o justo que fugia à ira de seu irmão; mostrou-lhe o reino de Deus, e deu-lhe o conhecimento das coisas santas; ajudou-o nos seus trabalhos, e fez frutificar seus esforços;
11
cuidou dele contra ávidos opressores e o fez conquistar riquezas;
12
ela o protegeu contra seus inimigos e o defendeu dos que lhe armavam ciladas; e no duro combate, deu-lhe vitória, a fim de que ele soubesse quanto a piedade é mais forte que tudo.
13
Ela não abandonou o justo vendido, mas preservou-o do pecado.
14
Desceu com ele à prisão, e não o abandonou nas suas cadeias, até que lhe trouxe o cetro do reino e o poder sobre os que o tinham oprimido; revelou-lhe a mentira de seus acusadores, e conferiu-lhe uma glória eterna.

O Êxodo

15 Foi ela que livrou das nações que o tiranizavam, o povo santo e a raça irrepreensível;
16
entrou na alma do servo de Deus, e se opôs, com sinais e prodígios, a reis temíveis.
17
Deu aos santos o galardão de seus trabalhos, conduziu-os por um caminho miraculoso; durante o dia serviu-lhes de proteção, e deu-lhes a luz dos astros, durante a noite.
18
Fê-los atravessar o mar Vermelho, e deu-lhes passagem através da massa das águas,
19
ao passo que engoliu seus inimigos, e depois os tirou das profundezas do abismo.
20
Também os justos, depois de despojados os ímpios, celebraram, Senhor, vosso santo nome, e louvaram, unidos num só coração, vossa mão protetora,
21
porque a Sabedoria abriu a boca aos mudos, e tornou eloqüente a língua das crianças.


11 1 Pela mão de um santo profeta aplanou suas dificuldades;
2
eles atravessaram um deserto inabitado, e levantaram suas tendas em lugares ermos;
3
resistiram aos que os atacavam, e repeliram seus inimigos.
4
Tiveram sede e clamaram a vós: do rochedo abrupto a água lhes foi dada, e da pedra seca estancaram sua sede.
5
Porque os elementos que tinham servido para punir seus inimigos, foram-lhes dados, na sua necessidade, como benefício:
6
em lugar das ondas de um rio perene turvadas por uma lama de sangue,
7
pela punição do decreto que consagrava crianças à morte, vós lhes destes, de maneira inesperada, água em abundância,
8
mostrando-lhes, pela sede que então sofreram, como punistes seus inimigos.
9
Por isso, tratados com piedade na sua provação, reconheceram quanto deviam ter sofrido os ímpios, julgados com ira.
10
A estes provastes como um pai que corrige, mas a outros provastes como um rei severo que condena.
11
Tanto estando longe como perto, a dor os consumiu da mesma forma,
12
porque tiveram um segundo para se entristecer e gemer à lembrança dos males passados.
13
Compreendendo, com efeito, que o que era para eles castigo, era para outros ocasião de benefício, sentiram a mão do Senhor;
14
e aquele que, outrora exposto e abandonado, tinham repelido com zombaria, admiraram-no finalmente, porque sofreram uma sede diferente da sede do justo.
15
Por outro lado, para os punir dos loucos pensamentos de sua perversidade, que os faziam extraviar-se na adoração de répteis irracionais e de vis animais, enviastes contra eles uma multidão de animais estúpidos,
16
a fim de que compreendessem que por onde cada um peca, será punido.
17
Não era difícil à vossa mão todo-poderosa, que formou o mundo de matéria informe, mandar contra eles bandos de ursos e de leões ferozes,
18
ou animais desconhecidos e duma nova espécie, cheios de furor, exalando um hálito inflamado, ou espalhando um fumo infecto, ou lançando de seus olhos faíscas terríveis,
19
capazes não só de os exterminar com seus golpes, mas ainda de os matar de terror só pelo seu aspecto.
20
E, mesmo sem isso, eles poderiam perecer por um sopro, perseguidos pela justiça e arrebatados pelo vento de vosso poder; mas, dispusestes tudo com medida, quantidade e peso,
21
porque sempre vos é possível mostrar vosso poder imenso, e quem poderá resistir à força de vosso braço?


22 Diante de vós o mundo inteiro é como um nada, que faz pender a balança, ou como uma gota de orvalho, que desce de madrugada sobre a terra.
23
Tendes compaixão de todos, porque vós podeis tudo; e para que se arrependam, fechais os olhos aos pecados dos homens.
24
Porque amais tudo que existe, e não odiais nada do que fizestes, porquanto, se o odiásseis, não o teríeis feito de modo algum.
25
Como poderia subsistir qualquer coisa, se não o tivésseis querido, e conservar a existência, se por vós não tivesse sido chamada?
26
Mas poupais todos os seres, porque todos são vossos, ó Senhor, que amais a vida.

12 1 Vosso espírito incorruptível está em todos.
2
É por isso que castigais com brandura aqueles que caem, e os advertis mostrando-lhes em que pecam, a fim de que rejeitem sua malícia e creiam em vós, Senhor.


3 Foi assim que se deu com os antigos habitantes da Terra Santa.
4
Tínheis horror deles por causa de suas obras detestáveis, sua magia e seus ritos ímpios,
5
seus cruéis morticínios de crianças, seus festins de entranhas, carne humana e sangue, suas iniciações nos mistérios orgíacos,
6
e os crimes de pais contra seres indefesos; e resolvestes aniquilá-los pela mão de nossos pais,
7
para que esta terra, que estimais entre todas, recebesse uma digna colônia de filhos de Deus.
8
Contudo, porque também eles eram homens, vós os poupastes, enviando-lhes vespas precursoras de vosso exército, para que elas os fizessem perecer pouco a pouco.
9
Não é que vos fosse impossível esmagar os maus por meio dos justos num combate, ou exterminar todos juntos por animais ferozes ou por uma palavra categórica;
10
mas castigando-os pouco a pouco, dáveis tempo para o arrependimento, não ignorando que sua raça era maldita, ingênita a sua perversidade, e que jamais seus pensamentos se mudariam,
11
porque sua estirpe era má desde a origem... Não era por temor do que quer que fosse que vos mostráveis indulgente para com eles em seus pecados.
12
Porque, quem ousará dizer-vos: Que fizeste tu? E quem se oporá a vosso julgamento? Quem vos repreenderá de terdes aniquilado nações que criastes? Ou quem se levantará contra vós para defender os culpados?


13 Não há, fora de vós, um Deus que se ocupa de tudo, e a quem deveis mostrar que nada é injusto em vosso julgamentos;


14 nem um rei, nem um tirano que vos possa resistir em favor dos que castigastes.
15
Mas porque sois justo, governais com toda a justiça, e julgais indigno de vosso poder condenar quem não merece ser punido.


16 Porque vossa força é o fundamento de vossa justiça e o fato de serdes Senhor de todos, vos torna indulgente para com todos.
17
Mostrais vossa força aos que não crêem no vosso poder, e confundis os que a não conhecem e ousam afrontá-la.
18
Senhor de vossa força, julgais com bondade, e nos governais com grande indulgência, porque sempre vos é possível empregar vosso poder, quando quiserdes.
19
Agindo desta maneira, mostrastes a vosso povo que o justo deve ser cheio de bondade, e inspirastes a vossos filhos a boa esperança de que, após o pecado, lhes dareis tempo para a penitência;


20 porque se os inimigos de vossos filhos, dignos de morte, vós os haveis castigado com tanta prudência e longanimidade, dando-lhes tempo e ocasião para se emendarem,
21
com quanto cuidado não julgareis vós os vossos filhos, a cujos antepassados concedestes com juramento vossa aliança, repleta de ricas promessas!
22
Portanto, quando nos corrigis, castigais mil vezes mais nossos inimigos, para que em nossos julgamentos nos lembremos de vossa bondade, e para que esperemos em vossa indulgência quando somos julgados.
23
Por isso também aqueles que loucamente viveram no mal, vós os torturastes por meio das suas próprias abominações:
24
porque se tinham afastado demais nos caminhos do erro, tomando por deuses os mais vis animais, deixando-se enganar como meninos sem razão;
25
assim é que, como a meninos sem razão, lhes destes um castigo irrisório.
26
Mas os que recusam a advertência de semelhante correção sofrerão um castigo digno de Deus.
27
Excitados, então, pelos sofrimentos causados por esses animais que tinham julgado deuses, e que os atormentavam, viram o que no começo tinham recusado ver, e reconheceram o verdadeiro Deus. Por isso é que caiu sobre eles a condenação final.


Der Weisheit (BAV) 1