2Samuel (BAV) 19

19 1 E foram dizer a Joab: Eis que o rei chora e se lamenta por causa de Absalão.
2
E a vitória se transformou em luto naquele dia para todo o exército, porque o povo ouvira dizer que o rei estava acabrunhado de dor por causa de seu filho.
3
Por isso, o exército entrou na cidade em silêncio, como faria um exército coberto de vergonha por ter fugido ao combate.


4 Entretanto o rei, cobrindo a cabeça, dizia em alta voz: Meu filho Absalão! Absalão, meu filho, meu filho!
5
Veio então Joab à casa do rei, e disse-lhe: Tu cobres hoje de confusão a face de todos os teus servos que salvaram a tua vida, a vida de teus filhos e filhas, de tuas mulheres e concubinas.
6
Tu amas os que te odeiam e odeias os que te amam, e mostras que os teus chefes e teus servos nada valem para ti. Estou vendo que te darias por satisfeito, se Absalão vivesse e nós fôssemos todos mortos!
7
Vamos: sai e dirige aos teus servos palavras de reconforto, pois juro-te por Deus que, se não o fizeres, não ficará contigo esta noite homem algum. E isso seria para ti uma desgraça maior do que todas que vieram sobre ti desde a tua juventude!
8
Então levantou-se o rei e foi sentar-se à porta. Foi avisado a todo o exército: Eis que o rei está sentado à porta. E todo o exército veio apresentar-se a ele.Os israelitas tinham fugido cada qual para a sua casa.

Volta de Davi

9 Em todas as tribos se discutia, dizendo: O rei que nos salvara das mãos de nossos inimigos e da mão dos filisteus, agora teve de fugir da terra diante de Absalão.
10
Ora, Absalão, a quem tínhamos sagrado rei sobre nós, morreu no combate. Por que tardais em fazer voltar o rei?
11
b E chegou aos ouvidos do rei o que se dizia em todo o Israel.
11
a O rei Davi mandou aos sacerdotes Sadoc e Abiatar a seguinte mensagem: Eis o que direis aos anciãos de Judá: Por que seríeis vós os últimos a reconduzir o rei para a sua casa?
12
Vós sois meus irmãos, meus ossos e minha carne. Por que seríeis vós os últimos a reconduzir o rei?
13
Direis em seguida a Amasa: Tu és meu osso e minha carne. Que Deus me trate com todo o rigor, se eu não te tornar para sempre o meu general em lugar de Joab.
14
Todos os homens de Judá sentiram unanimemente o seu coração voltar-se para o rei, e mandaram-lhe dizer: Volta com todos os teus!
15
O rei voltou. Chegando ao Jordão, eis que todo o Judá tinha acorrido a Gálgala para ir-lhe ao encontro e fazê-lo passar o Jordão.

Indulgência de Davi

16 Semei, filho de Gera, o benjaminita de Baurim, com seus quinze filhos e os vinte servos, apressou-se a vir ao encontro do rei Davi.
17
Levava consigo mil homens de Benjamim, assim como Siba, servo da família de Saul, com seus quinze filhos e vinte servos. E correram rumo ao Jordão antes do rei,
18
e dispuseram tudo para fazer passar a família do rei e prestar-lhe todos os serviços que desejassem. Semei, filho de Gera, atirou-se aos pés do rei no momento em que ele ia passar o Jordão
19
e disse-lhe: Que o meu senhor não me impute culpa, nem guarde em seu coração a lembrança do crime que cometeu o teu servo no dia em que o rei, meu senhor, deixou Jerusalém.
20
Teu servo reconhece o seu pecado, e por isso vim hoje, o primeiro de toda a casa de José, ao encontro do rei, meu senhor!
21
Abisai, filho de Sarvia, tomou a palavra: Não se deverá antes matar Semei, por ter amaldiçoado o ungido do Senhor?
22
Que eu tenho convosco, ó filhos de Sarvia, respondeu Davi; para que vos comporteis no dia de hoje como meus inimigos? Porventura um só israelita há de ser morto num dia como o de hoje? Ignoro acaso que sou agora rei de Israel?
23
E disse a Semei: Não morrerás! E prometeu-lho com juramento.
24
Mifiboset, filho de Saul, desceu também ao encontro do rei. Não tinha lavado os pés nem as mãos, nem feito a barba, nem lavado as suas vestes, desde o dia em que o rei partira até o dia em que ele voltou em paz.
25
Quando, pois, chegou de Jerusalém vindo ao encontro do rei, Davi disse-lhe: Por que não partiste comigo, Mifiboset?
26
Meu senhor e rei, respondeu ele, o meu criado enganou-me. Pois eu, teu servo, dissera-lhe que me selasse a jumenta para que eu a montasse e partisse com o rei, porque o teu servo é paralítico.
27
Ele, porém, caluniou-me junto do rei, meu senhor. Mas o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus; faze o que te parecer bom.
28
Toda a família de meu pai merecia a morte, diante do meu senhor e rei e, no entanto, admitiste o teu servo entre os que comem à tua mesa. Com que direito posso eu ainda suplicar ao rei?
29
Para que tantas palavras?, respondeu o rei. Eu declaro que tu e Siba repartireis os bens.
30
Ele pode até mesmo ficar com tudo, replicou Mifiboset, uma vez que o rei, meu senhor, voltou em paz para a sua casa.
31
Berzelai, o galaadita, desceu de Rogelim e acompanhou o rei, escoltando-o até o Jordão.
32
Era já muito velho, com oitenta anos. Sendo muito rico, abastecera o rei durante todo o tempo que esteve em Maanaim.
33
O rei disse-lhe: Vem comigo, e te sustentarei junto de mim em Jerusalém!
34
Mas Berzelai disse ao rei: Quantos anos viverei ainda, para que suba com o rei a Jerusalém?
35
Tenho agora oitenta anos, e já não distingo entre o bom e o que não o é. Já não posso saborear o que como e o que bebo, e não ouço mais a voz dos cantores e cantoras. Por que iria o teu servo servir de peso ao rei, meu senhor?
36
Teu servo só andou um pedaço de caminho com o rei, e por que lhe haveria o rei de dar semelhante recompensa?
37
Deixa que teu servo volte, para morrer em minha cidade, junto ao túmulo de meu pai e de minha mãe. Eis, porém, o teu servo Camaão; ele irá com o rei, meu senhor: faze dele o que te parecer melhor.
38
Que ele venha comigo, respondeu o rei; far-lhe-ei tudo o que te agradar; e a ti também, conceder-te-ei tudo o que desejares de mim.
39
Todos passaram o Jordão diante do rei que permaneceu de pé. Davi beijou Berzelai, abençoou-o, e Berzelai voltou para a sua casa.

Dissensões entre Israel e Judá

40 O rei chegou a Gálgala, e Camaão passou com ele. Todo o povo de Judá e a metade do povo de Israel acompanharam o rei.
41
E eis que todos os homens de Israel vieram ter com o rei, dizendo-lhe: Por que te tomaram os nossos irmãos, os filhos de Judá, fazendo-te passar o Jordão com toda a tua família, quando são todos os homens de Davi que formam o teu povo?
42
Então responderam os filhos de Judá aos israelitas: É que o rei nos é mais próximo. Por que vos irritais com isso? Acaso temos comido algo do rei, ou tirado para. nós algum proveito?
43
Mas os homens de Israel responderam aos de Judá: Temos dez partes no rei, além disso somos vossos irmãos mais velhos. Por que nos desprezastes? Não fomos nós os primeiros a tomar a palavra e a mandar chamar o nosso rei? Os homens de Judá falaram mais duramente ainda que os de Israel.


20 1 Encontrava-se ali um homem perverso chamado Seba, filho de Bocri, da tribo de Benjamim. Ele tocou a trombeta e exclamou: Nada temos a ver com Davi; nada temos de comum com o filho de Isaí! Volte cada qual para a sua tenda, Israel!
2
Todos os homens de Israel abandonaram Davi e seguiram Seba, filho de Bocri, enquanto que os filhos de Judá escoltaram o rei desde o Jordão até Jerusalém.
3
Davi, chegando ao seu palácio em Jerusalém, tomou as dez concubinas que tinha deixado para guardarem o palácio e enclausurou-as, ordenando que fossem alimentadas, mas não se uniu mais a elas; e ficaram enclausuradas, vivendo como viúvas até o dia de sua morte.

Assassínio de Amasa

4 O rei disse a Amasa: Convoca-me dentro de três dias todos os homens de Judá, e apresenta-te tu também com eles.
5
Amasa partiu para convocar Judá, mas demorou-se além do prazo fixado.
6
Então Davi disse a Abisai: Seba, filho de Bocri, vai agora tornar-se mais perigoso que Absalão. Toma contigo os servos de teu senhor e persegue-o, não aconteça que ele encontre cidades fortificadas e nos escape.
7
Partiram com Abisai os homens de Joab, os cereteus e os feleteus com todos os valentes. Saíram de Jerusalém em perseguição de Seba, filho de Bocri.
8
Chegando junto à grande pedra que se encontra em Gabaon, veio-lhes Amasa ao encontro. Joab trazia uma cintura por cima de sua túnica, de onde pendia uma espada embainhada, à altura dos rins. Esta desprendeu-se e caiu.
9
Joab disse a Amasa: Como vais, meu irmão?, e tomou-o pela barba com a mão direita, para o beijar.
10
Amasa, porém, não percebeu a espada, na mão (esquerda) de Joab, e este o feriu no ventre, derramando as suas entranhas por terra. Não houve necessidade de um segundo golpe, pois Amasa caiu morto. Depois disso, Joab e seu irmão Abisai puseram-se a perseguir Seba, filho de Bocri.

Fim da revolta

11 Um dos servos de Joab se postara junto de Amasa e dizia: Todos os que amam Joab e estão com Davi sigam a Joab!
12
Entretanto, Amasa estava estendido no meio do caminho, coberto de sangue. Vendo o soldado que todos se detinham para vê-lo, arrastou Amasa para fora do caminho para um campo e cobriu-o com um manto.
13
Uma vez removido do caminho, todos os homens de Israel foram atrás de Joab para continuar a perseguição de Seba, filho de Bocri.
14
Seba atravessou todas as tribos de Israel, que o desprezaram, e foi até Abel-Bet-Maaca, onde todos os bocritas o seguiram.
15
Vieram então sitiá-lo em Abel-Bet-Maaca e levantaram contra a cidade um aterro que atingiu a altura da muralha. Como todos os que estavam com Joab tentassem fazer cair a muralha,
16
uma mulher prudente se pôs a gritar (do muro) da cidade: Ouvi, ouvi! Dizei a Joab que se aproxime para eu falar-lhe!
17
Tendo ele se aproximado, disse-lhe a mulher: És tu Joab? Sou eu, respondeu ele. Ela prosseguiu: Ouve as palavras de tua serva. Estou ouvindo.
l8 Outrora, disse ela, costumava-se dizer: Peça-se conselho a Abel e a Dã,
19
para saber se desapareceram os costumes dos fiéis de Israel. Tu, porém, procuras destruir uma cidade que é uma mãe em Israel. Por que queres aniquilar a herança do Senhor?
20
Joab respondeu: Longe de mim, longe de mim; não quero arruinar nem destruir coisa alguma.
21
Não se trata disso; mas um homem da montanha de Efraim, chamado Seba, filho de Bocri, levantou a mão contra o rei Davi. Entregai-nos só esse e levantarei o cerco. A mulher disse a Joab: A cabeça dele te será lançada por cima do muro.
22
Ela voltou à cidade e falou com discrição a todo o povo. Cortaram a cabeça de Seba, filho de Bocri, e atiraram-na a Joab. Este tocou a trombeta e todos se retiraram da cidade, indo cada um para a sua tenda. Joab voltou para junto do rei em Jerusalém.

Oficiais de Davi

23 Joab comandava todo o exército. Banaias, filho de Jojada, estava à testa dos cereteus e dos feleteus.
24
Aduram presidia os trabalhos. Josafat, filho de Ailud, era o cronista.
25
Siva era o escriba. Sadoc e Abiatar, sacerdotes;
26
Ira, o jairita, era também sacerdote de Davi.

II - APÊNDICES (21-24)

Davi e os gabaonítas

21 1 Houve no tempo de Davi uma fome que durou três anos seguidos. Davi consultou o Senhor e este respondeu-lhe: Há sangue sobre Saul e sobre sua família, porque matou os gabaonitas.
2
O rei chamou então os gabaonitas e falou com eles. Ora, os gabaonitas não eram filhos de Israel, mas uns restos dos amorreus, aos quais os israelitas se tinham ligado com juramento. Entretanto, Saul procurara eliminá-los, em seu zelo pelos filhos de Israel e de Judá.
3
Davi disse, pois, aos gabaonitas: Que devo fazer por vós, e que satisfação vos darei, para que abençoeis a herança do Senhor?
4
Os gabaonitas responderam: Não é questão de prata e ouro a nossa questão com Saul e sua família; e não pretendemos matar ninguém em Israel Farei o que disserdes, disse Davi.
5
Eles responderam ao rei: Do homem que nos esmagou e quis aniquilar-nos para apagar-nos da terra de Israel,
6
sejam-nos entregues sete dos seus filhos, para os enforcarmos diante do Senhor em Gabaon, na montanha do Senhor. Bem, disse Davi, eu os entregarei.
7
O rei poupou Mifiboset, filho de Jônatas, filho de Saul, por causa do juramento trocado entre ele e Jônatas, filho de Saul.
8
Escolheu, pois, os dois filhos que Resfa, filha de Aia, dera a Saul, Armoni e Mifiboset, e os cinco filhos que Merob, filha de Saul, dera a Hadriel, filho de Berzelai de Moola.
9
Entregou-os aos gabaonitas, que os enforcaram na montanha diante do Senhor. Pereceram todos os sete juntos nos primeiros dias da colheita da cevada.
10
Resfa, porém, filha de Aia, tomando um saco, estendeu-se sobre ele em cima de uma rocha (e ali esteve) desde o princípio da colheita da cevada até o dia em que caiu sobre eles a chuva do céu; e ela não deixou que os pássaros do céu pousassem sobre os corpos durante o dia, nem que as feras selvagens os (tocassem) durante a noite.
11
Davi, avisado do que tinha feito Resfa, filha de Aia, concubina de Saul,
12
foi e tomou os ossos de Saul e de Jônatas, seu filho, com os habitantes de Jabes, em Galaad. Esses os tinham tirado furtivamente da praça de Betsam, onde os filisteus os haviam pendurado no dia em que bateram Saul em Gelboé.
13
Trouxe, pois, de lá os ossos de Saul e de seu filho Jônatas, e mandou também recolher os ossos dos que tinham sido enforcados.
14
E os ossos de Saul e de seu filho Jônatas, assim como os dos supliciados, foram enterrados em Sela, na terra de Benjamim, no sepulcro de Cis, pai de Saul. Fizeram assim tudo o que tinha ordenado o rei, e Deus compadeceu-se da terra.

Quatro gigantes filisteus

15 Houve de novo uma guerra entre os filisteus e Israel. Davi desceu com os seus homens para combatê-los. Instalaram-se em Gob e começaram a guerra contra os filisteus. Levantou-se então Dodo,
16
filho de Joás, que era um dos filhos de Rafa, trazendo uma lança que pesava trezentos siclos de bronze e cingindo na cintura uma espada nova, e declarou que ia matar Davi.
17
Mas Abisai, filho de Sarvia, veio em socorro de Davi e feriu o filisteu, matando-o. Então os homens de Davi fizeram este juramento: Tu não virás mais conosco a combate, para que não apagues o facho de Israel!
18
Depois disso, houve ainda um combate contra os filisteus em Gob, onde Sabocai, de Husa, matou Saf, um dos filhos de Rafa.
19
E recomeçando o combate contra os filisteus em Gob, Elcanã, filho de Jaare-Oreguim, de Belém, matou Golias de Get, que levava uma lança, cujo cabo era como o cilindro de tecedor.
20
Houve também um combate em Get. Encontrava-se ali um homem enorme que tinha seis dedos em cada mão e em cada pé, isto é, vinte e quatro dedos, e era também descendente de Rafa.
21
Como lançasse um desafio a Israel, prostrou-o Jônatas, filho de Sama, irmão de Davi.
22
Esses quatro homens tinham nascido da estirpe de Rafa em Get, e caíram pela mão de Davi e de seus homens.

Cântico de Davi

22 1 Davi dirigiu ao Senhor as palavras do cântico que segue, no dia em que o Senhor o livrou da mão de todos os seus inimigos e da mão de Saul.
2
O Senhor é o meu rochedo, minha fortaleza e meu libertador,
3
meu Deus é a minha rocha onde encontro o meu refúgio, meu escudo e força de minha salvação, minha cidadela e meu refúgio. Meu salvador, que me salvais da violência.
4
Invoco o Senhor digno de todo louvor, e fico livre dos meus inimigos.
5
Circundavam-me os vagalhões da morte, torrentes devastadoras me atemorizavam,
6
enlaçavam-se as cadeias da habitação dos mortos, a própria morte me prendia em suas redes.
7
Na minha angústia, invoquei ao Senhor, gritei para meu Deus: do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.
8
A terra vacilou e tremeu, os fundamentos dos céus fremiram, abalaram-se, porque Deus se abrasou em cólera:
9
suas narinas exalavam fumaça, sua boca, fogo devorador, brasas incandescentes.
10
Ele inclinou os céus e desceu, calcando aos pés escuras nuvens,
11
cavalgou sobre um querubim e voou, planando nas asas do vento.
12
Envolveu-se nas trevas como numa tenda, nas águas tenebrosas, densas nuvens.
13
Do esplendor de sua presença flamejaram centelhas de fogo,
14
dos céus trovejou o Senhor, o Altíssimo fez ressoar a sua. voz,
15
lançou setas e dispersou os inimigos, fulminou relâmpagos e os desbaratou.
16
E apareceu descoberto o leito do mar, os fundamentos da terra, ante a voz ameaçadora do Senhor, ante o furacão de sua cólera.
17
Do alto estendeu a sua mão e me pegou, e retirou-me das águas profundas,
18
livrou-me de inimigo poderoso, dos meus adversários, mais fortes do que eu.
19
Investiram contra mim no dia do meu infortúnio, mas o Senhor foi o meu arrimo,
20
pôs-me a salvo e livrou-me, porque me ama.
21
O Senhor me tratou segundo a minha inocência, retribuiu-me segundo a pureza de minhas mãos,
22
porque guardei os caminhos do Senhor e não pequei separando-me do meu Deus;
23
Tenho diante dos olhos todos os seus preceitos e não me desvio de suas leis.
24
Ando irrepreensivelmente diante dele, guardando-me do meu pecado.
25
O Senhor retribuiu-me segundo a minha justiça, segundo a minha pureza diante dos seus olhos.
26
Com quem é bondoso vos mostrais bondoso, com homem íntegro vos mostrais íntegro,
27
puro, com quem é puro; prudente, com quem é astuto.
28
Aos humildes salvais; os semblantes soberbos humilhais.
29
Senhor, sois meu farol; é o Senhor quem dissipa as minhas trevas.
30
Convosco afrontarei batalhões; com meu Deus escalarei muralhas.
31
Os caminhos de Deus são perfeitos; a palavra do Senhor é pura. Ele é o escudo de todos os que nele se refugiam.
32
Pois, quem é Deus senão o Senhor? Quem é o rochedo, senão o nosso Deus?
33
É Deus quem me cinge de coragem e aplana o meu caminho.
34
Torna os meus pés velozes como os das gazelas e me instala nas alturas.
35
Adestra minhas mãos para o combate e meus braços para o tiro de arco.
36
Vós me dais o escudo que me salva, e vossa bondade me engrandece.
37
Alargais o caminho a meus passos para meus pés não resvalarem.
38
Dou caça aos inimigos e os extermino. E não volto sem que os tenha aniquilado.
39
De tal sorte os aniquilo e despedaço, que não mais se levantam: eles ficam caídos a meus pés.
40
Vós me cingis de coragem para a luta e ante mim dobrais os meus adversários.
41
Afugentais da minha presença os meus inimigos. E reduzo ao silêncio os que me aborrecem.
42
Gritam por socorro, mas não há quem os salve, clamam ao Senhor, mas não responde...
43
Eu os trituro como ao pó da terra. E os esmago aos pés como ao barro das estradas.
44
Vós me livrais das revoltas do meu povo e me guardais à frente das nações. Povos que eu desconhecia se tornaram meus servos.
45
Gente estranha me serve abnegadamente e obedecem-me à primeira intimação.
46
Gente estranha desfalece e sai tremendo de seus esconderijos.
47
Viva o Senhor e bendito seja o meu rochedo! Exaltado seja Deus, rocha que me salva!
48
Deus, que me proporciona a vingança e avassala nações a meus pés.
49
Sois vós quem me libertais dos meus inimigos, e me exaltais acima dos meus adversários, e me salvais do homem violento.
50
Por isso vos louvarei, ó Senhor, entre as nações e celebrarei o vosso nome.
51
Ele prepara grandes vitórias a seu rei e faz misericórdia a seu ungido. A Davi e a sua descendência para sempre.

Último poema de Davi

23 1 Estas são as últimas palavras de Davi: Oráculo de Davi, filho de Isaí - oráculo do homem que foi exaltado, do ungido do Deus de Jacó, do cantor dos salmos de Israel.
2
O Espírito do Senhor fala por mim, sua palavra está na minha língua.
3
Deus de Israel falou, o rochedo de Israel me disse: O que governa com justiça, o soberano temente a Deus
4
é como a luz da manhã quando se levanta o sol, manhã sem neblina, que faz cintilar de orvalho a relva da terra.
5
Sim, minha dinastia é estável diante de Deus; ele fez comigo aliança eterna, a ser observada com absoluta fidelidade. Minha salvação e inteira felicidade não é ele quem faz germinar?
6
Os homens maus são como espinhos, que todos evitam e ninguém pega com a mão;
7
que se recolhem com um ferro ou com o cabo da lança, e são queimados no fogo.

Façanhas dos heróis de Davi

8 Eis os nomes dos heróis de Davi: Jesboão, filho de Hacamoni, chefe dos três. Foi ele quem brandiu o seu machado contra oitocentos homens, matando-os de uma só vez.
9
Depois desse, Eleazar, filho de Dodo, filho de Aoí, um dos três heróis. Achava-se ele em Efes-Damim, quando os filisteus se reuniram ali para o combate. Tendo os israelitas fugido (cada um para a sua tenda),
10
ele manteve-se firme e bateu os filisteus até que sua mão se cansou e se crispou sobre a espada. O Senhor operou naquele dia uma grande vitória. Os soldados voltaram para onde estava Eleazar, mas somente para recolher os despojos.
11
Depois dele, Sama, filho de Age, o ararita. Reuniram-se os filisteus em Lequi, onde havia um pedaço de terra plantado de lentilhas; fugindo o exército diante dos filisteus,
12
postou-se Sema no meio do campo, defendeu-o e derrotou os filisteus, operando assim o Senhor uma grande vitória.
13
Três dos trinta desceram e foram ter com Davi, no início da colheita, à gruta de Odolão, estando a tropa dos filisteus acampada no vale dos refains.
14
Davi estava então na fortaleza, e havia uma guarnição de filisteus em Belém.
15
Davi teve desejo extravagante e exclamou: "Quem me dará a beber das águas do poço que está à porta de Belém?
16
Então os três valentes penetraram no acampamento dos filisteus e tiraram água do poço que está à porta de Belém. Trouxeram-na a Davi, mas ele não a quis beber, e derramou-a em libação ao Senhor,
17
dizendo: Longe de mim, ó Deus, fazer isso! Vou eu beber o sangue desses homens que para buscá-la arriscaram a sua vida? E não quis beber. Eis o que fizeram os três heróis:
18
Abisai, irmão de Joab, filho de Sarvia, que era também chefe dos trinta, brandiu sua lança contra trezentos homens, e os matou, conquistando assim grande renome entre os Trinta.
19
Ele era o mais considerado dentre os Trinta, mas não chegou a se igualar aos Três.
20
Banaias, filho de Jojada, homem de valor e rico em façanhas, originário de Cabseel, feriu os dois filhos de Ariel de Moab. Foi ele também quem desceu, num dia de neve, e matou um leão na cisterna.
21
Feriu ainda um egípcio de alta estatura, que tinha uma lança na mão. Banaias desceu contra ele com um simples bastão, arrancou-lhe a lança das mãos e o matou com a sua própria arma.
22
Isso fez Banaias, filho de Jojada, obtendo renome entre os heróis.
23
Foi mais considerado que os trinta, mas não igualou aos três. Davi pô-lo à frente de sua guarda.
24
Entre os trinta contavam-se Asael, irmão de Joab; Elcanã, filho de Dodo, de Belém;
25
Sama de Harod; Elica de Harod;
26
Heles de Falti; Hira, filho de Aces de Técua;
27
Abieser de Anatot; Mobonai, o husatita;
28
Selmon, o aoita; Maarai de Netofa;
29
Heled, filho de Baana de Netofa; Etai, filho de Ribai de Gabaa dos benjaminitas;
30
Banaía de Faraton; Hedai do vale de Gaas;
31
Abi-Albon de Araba;
32
Azmavet de Berom; Eliaba de Salabon; Bene-Jassen;
33
Jonatã; Sama, o ararita; Aião, filho de Sarar, o ararita;
34
Elifelet, filho de Aasbai, o macatita; Elião, filho de Aquitofel de Gilo;
35
Hesrai de Carmelo;
36
Farai de Arbi; Igaal, filho de Natã de Soba; Boni de Gad;
37
Selec, o amonita; Naarai de Berot, escudeiro de Joab, filho de Sarvia;
38
Ira de Jeter; Gareb de Jeter;
39
Urias, o hiteu. Trinta e sete ao todo.


24 1 A cólera do Senhor se inflamou novamente contra Israel e excitou Davi contra eles, dizendo-lhe: Vai recensear Israel e Judá.

Recenseamento e castigo

2 Disse, pois, o rei a Joab e aos chefes do exército que estavam com ele: Percorrei todas as tribos de Israel, desde Dã até Bersabéia, e recenseai o povo, de maneira que eu saiba o seu número.


3 Joab disse ao rei: Que o Senhor, teu Deus, multiplique o povo cem vezes mais do que agora, aos olhos do rei, meu senhor. Mas que pretende o rei, meu senhor, com isso?
4
A ordem do rei, no entanto, prevaleceu sobre a opinião de Joab e dos chefes do exército. Eles deixaram o rei e foram fazer o recenseamento do povo de Israel.
5
Passaram o Jordão e começaram por Aroer e a cidade situada no meio do vale, indo em seguida por Gad até Jaser.
6
Foram depois a Galaad e à terra dos hiteus, em Cades, e chegaram até Dã. Dali se dirigiram para Sidon.
7
Atingiram a fortaleza de Tiro e passaram em todas as cidades dos heveus e dos cananeus, chegando até o Negeb de Judá, em Bersabéia.
8
Percorreram assim toda a terra e voltaram a Jerusalém ao cabo de nove meses e vinte dias.


9 Joab entregou ao rei o resultado do recenseamento do povo: havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que manejavam a espada; e, em Judá, quinhentos mil homens.
10
Depois que foi recenseado o povo, Davi sentiu remorsos e disse ao Senhor: Cometi um grande pecado, fazendo isso. Mas agora apagai, ó Senhor, a culpa de vosso servo, porque procedi nesciamente.
11
Levantando-se Davi no dia seguinte, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Gad, o vidente de Davi, nestes termos:
12
Vai dizer a Davi: Assim fala o Senhor: Proponho-te três coisas: - escolhe uma delas, e eu ta infligirei.
13
Gad veio ter com Davi e referiu-lhe estas palavras ajuntando: Preferes que venham sobre a tua terra sete anos de fome, ou que fujas durante três meses diante de teus inimigos que te perseguirão, ou que a peste assole a tua terra durante três dias? Reflete, pois, e vê o que devo responder a quem me enviou.
14
Davi respondeu a Gad: Estou em grande angústia. É melhor cairmos nas mãos do Senhor, cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens! E Davi escolheu a peste.
15
Mandou, pois, o Senhor a peste a Israel, desde a manhã daquele dia até o prazo marcado. Ora, foi nos dias da colheita do trigo que o flagelo começou no povo, e morreram setenta mil homens da população, desde Dã até Bersabéia.
16
a E o Senhor enviou um anjo sobre Jerusalém para destruí-la.
17
Vendo Davi o anjo que feria o povo, disse ao Senhor: Vede, Senhor: fui eu que pequei; eu é que sou o culpado! Esse pequeno rebanho, porém, que fez ele? Que a tua mão se abata sobre mim e sobre a minha família!
l6b O Senhor arrependeu-se então de ter mandado aquele flagelo e disse ao anjo que exterminava o povo: Basta! Retira agora a tua mão. O anjo do Senhor se encontrava junto à eira de Ornã, o jebuseu.

Construção de um altar

18 Gad veio ter com Davi naquele dia e disse-lhe: Sobe e levanta um altar ao Senhor na eira de Ornã, o jebuseu.
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Davi subiu, segundo a palavra de Gad, intérprete da ordem do Senhor.
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Ornã, que estava debulhando o trigo, viu aproximar-se dele o rei com a sua comitiva. Adiantou-se e prostrou-se por terra diante do rei,
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dizendo: Por que vem o rei, meu senhor, à casa de seu servo? Para comprar a tua eira, disse Davi, e aqui construir um altar ao Senhor, a fim de que o flagelo cesse de devorar o povo.
22
Ornã disse a Davi: Tome-a, pois, o meu senhor e rei, e faça o que lhe parecer bom! Aqui tens os bois para o holocausto, e o carro e o jugo dos bois para lenha.
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O servo de meu senhor e rei, dá-lhe tudo. E Ornã ajuntou: Que o Senhor, teu Deus, te seja propício!
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Não assim, disse o rei; mas pagar-te-ei o seu justo valor. Não oferecerei ao Senhor, meu Deus, holocaustos que não me tenham custado nada. E Davi comprou a eira e os bois por cinqüenta siclos de prata.
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Levantou ali um altar ao Senhor, e ofereceu sobre ele holocaustos e sacrifícios pacíficos. O Senhor compadeceu-se da terra, e cessou o flagelo que assolava Israel.

2Samuel (BAV) 19