Lucas (BAV) 1





Evangelho segundo São Lucas


Prólogo

1 1 Muitos empreenderam compor uma história dos acontecimentos que se realizaram entre nós,
2
como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra.
3
Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo,
4
para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido.

Anunciação do nascimento do precursor João Batista

5 Nos tempos de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote por nome Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente de Aarão, chamava-se Isabel.
6
Ambos eram justos diante de Deus e observavam irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7
Mas não tinham filho, porque Isabel era estéril e ambos de idade avançada.
8
Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe,
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coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o perfume.
10
Todo o povo estava de fora, à hora da oferenda do perfume.
11
Apareceu-lhe então um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do perfume.
12
Vendo-o, Zacarias ficou perturbado, e o temor assaltou-o.
13
Mas o anjo disse-lhe: Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração: Isabel, tua mulher, dar-te-á um filho, e chamá-lo-ás João.
14
Ele será para ti motivo de gozo e alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento;
15
porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem cerveja, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo;
16
ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus,
17
e irá adiante de Deus com o espírito e poder de Elias para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto.


18 Zacarias perguntou ao anjo: Donde terei certeza disto? Pois sou velho e minha mulher é de idade avançada.
19
O anjo respondeu-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e te trazer esta feliz nova.
20
Eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas acontecerem, visto que não deste crédito às minhas palavras, que se hão de cumprir a seu tempo.
21
No entanto, o povo estava esperando Zacarias; e admirava-se de ele se demorar tanto tempo no santuário.
22
Ao sair, não lhes podia falar, e compreenderam que tivera no santuário uma visão. Ele lhes explicava isto por acenos; e permaneceu mudo.
23
Decorridos os dias do seu ministério, retirou-se para sua casa.
24
Algum tempo depois Isabel, sua mulher, concebeu; e por cinco meses se ocultava, dizendo:
25
Eis a graça que o Senhor me fez, quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentre os homens.

Anunciação do nascimento de Jesus

26 No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27
a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.
28
Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.
29
Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.
30
O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.
31
Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.
32
Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó,
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e o seu reino não terá fim.
34
Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?
35
Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.
36
Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,
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porque a Deus nenhuma coisa é impossível.
38
Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.

Maria visita Isabel

39 Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.
40
Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
41
Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
42
E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
43
Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?
44
Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.
45
Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!

Magnificat

46 E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor,
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meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,


48 porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,
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porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.
50
Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.
51
Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.
52
Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.
53
Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.
54
Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,
55
conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.


56 Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.

Nascimento de João Batista

57 Completando-se para Isabel o tempo de dar à luz, teve um filho.
58
Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe manifestara a sua misericórdia, e congratulavam-se com ela.
59
No oitavo dia, foram circuncidar o menino e o queriam chamar pelo nome de seu pai, Zacarias.
60
Mas sua mãe interveio: Não, disse ela, ele se chamará João.
61
Replicaram-lhe: Não há ninguém na tua família que se chame por este nome.
62
E perguntavam por acenos ao seu pai como queria que se chamasse.
63
Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu nela as palavras: João é o seu nome. Todos ficaram pasmados.
64
E logo se lhe abriu a boca e soltou-se-lhe a língua e ele falou, bendizendo a Deus.
65
O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos; o fato divulgou-se por todas as montanhas da Judéia.
66
Todos os que o ouviam conservavam-no no coração, dizendo: Que será este menino? Porque a mão do Senhor estava com ele.


67 Zacarias, seu pai, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou, nestes termos:
68
Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo,
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e suscitou-nos um poderoso Salvador, na casa de Davi, seu servo
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(como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante os seus santos profetas),
71
para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam.
72
Assim exerce a sua misericórdia com nossos pais, e se recorda de sua santa aliança,
73
segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de nos conceder que, sem temor,
74
libertados de mãos inimigas, possamos servi-lo
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em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias da nossa vida.
76
E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho,
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para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados.
78
Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente,
79
que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.


80 O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel.

Nascimento de Jesus Cristo

2 1 Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra.
2
Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria.
3
Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade.
4
Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi,
5
para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida.
6
Estando eles ali, completaram-se os dias dela.
7
E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria.
8
Havia nos arredores uns pastores, que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite.
9
Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu ao redor deles, e tiveram grande temor.
10
O anjo disse-lhes: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo:
11
hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor.
12
Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.
13
E subitamente ao anjo se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia:
14
Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência (divina).


15 Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o céu, falaram os pastores uns com os outros: Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou.


16 Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura.
17
Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino.
18
Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores.
19
Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração.


20 Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito.


21 Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno.

Apresentação de Jesus no templo

22 Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor,


23 conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Ex 13,2);
24 e para oferecerem o sacrifício prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos.
25
Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele.
26
Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor.


27 Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo. E tendo os pais apresentado o menino Jesus, para cumprirem a respeito dele os preceitos da lei,
28
tomou-o em seus braços e louvou a Deus nestes termos:
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Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra.
30
Porque os meus olhos viram a vossa salvação
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que preparastes diante de todos os povos,
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como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel.


33 Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam.
34
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições,
35
a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma.


36 Havia também uma profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser; era de idade avançada.
37
Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde a sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e quatro anos não se apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações.
38
Chegando ela à mesma hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém esperavam a libertação.


39 Após terem observado tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, à sua cidade de Nazaré.
40
O menino ia crescendo e se fortificava: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava nele.

Jesus aos doze anos

41 Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa.
42
Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa.
43
Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem.
44
Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos.
45
Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele.
46
Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os.
47
Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas.
48
Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição.
49
Respondeu-lhes ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?
50
Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera.
51
Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.


52 E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens.

II PREPARAÇÃO PARA A VIDA PÚBLICA DE JESUS

3 1 No ano décimo quinto do reinado do imperador Tibério, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca da Abilina,
2
sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás, veio a palavra do Senhor no deserto a João, filho de Zacarias.
3
Ele percorria toda a região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados,
4
como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías (Is 40,3ss.): Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
5 Todo vale será aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o que estiver torto, e os caminhos escabrosos serão aplainados.
6
Todo homem verá a salvação de Deus.

Pregação de João Batista

7 Dizia, pois, ao povo que vinha para ser batizado por ele: Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira iminente?
8
Fazei, pois, uma conversão realmente frutuosa e não comeceis a dizer: Temos Abraão por pai. Pois vos digo: Deus tem poder para destas pedras suscitar filhos a Abraão.
9
O machado já está posto à raiz das árvores. E toda árvore que não der fruto bom será cortada e lançada ao fogo.


10 Perguntava-lhe a multidão: Que devemos fazer?
11
Ele respondia: Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo.
12
Também publicanos vieram para ser batizados, e perguntaram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
13
Ele lhes respondeu: Não exijais mais do que vos foi ordenado.
14
Do mesmo modo, os soldados lhe perguntavam: E nós, que devemos fazer? Respondeu-lhes: Não pratiqueis violência nem defraudeis a ninguém, e contentai-vos com o vosso soldo.


15 Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo,
16
ele tomou a palavra, dizendo a todos: Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.


17 Ele tem a pá na mão e limpará a sua eira, e recolherá o trigo ao seu celeiro, mas queimará as palhas num fogo inextinguível.
18
É assim que ele anunciava ao povo a boa nova, e dirigia-lhe ainda muitas outras exortações.


19 Mas Herodes, o tetrarca, repreendido por ele por causa de Herodíades, mulher de seu irmão, e por causa de todos os crimes que praticara,
20
acrescentou a todos eles também este: encerrou João no cárcere.

Batismo de Jesus

21 Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o céu se abriu
22
e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição.

Genealogia de Jesus

23 Quando Jesus começou o seu ministério, tinha cerca de trinta anos, e era tido por filho de José, filho de Heli, filho de Matat,


24 filho de Levi, filho de Melqui, filho de Jané, filho de José,
25
filho de Matatias, filho de Amós, filho de Naum, filho de Hesli, filho de Nagé,
26
filho de Maat, filho de Matatias, filho de Semei, filho de José, filho de Judá,
27
filho de Joanã, filho de Resa, filho de Zorobabel, filho de Salatiel, filho de Neri,
28
filho de Melqui, filho de Adi, filho de Cosã, filho de Elmadão, filho de Her,
29
filho de Jesus, filho de Eliezer, filho de Jorim, filho de Matat, filho de Levi,
30
filho de Simeão, filho de Judá, filho de José, filho de Jonão, filho de Eliacim,


31 filho de Meléia, filho de Mena, filho de Matata, filho de Natã, filho de Davi,
32
filho de Jessé, filho de Obed, filho de Booz, filho de Salmon, filho de Naason,
33
filho de Aminadab, filho de Arão, filho de Esron, filho de Farés, filho de Judá,
34
filho de Jacó, filho de Isaac, filho de Abraão, filho de Taré, filho de Nacor,


35 filho de Sarug, filho de Ragau, filho de Faleg, filho de Eber, filho de Salé,


36 filho de Cainã, filho de Arfaxad, filho de Sem, filho de Noé, filho de Lamec,


37 filho de Matusalém, filho de Henoc, filho de Jared, filho de Malaleel, filho de Cainã,


38 filho de Henós, filho de Set, filho de Adão, filho de Deus.

Tentação no deserto

4 1 Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto,
2
onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias. Durante este tempo ele nada comeu e, terminados estes dias, teve fome.
3
Disse-lhe então o demônio: Se és o Filho de Deus, ordena a esta pedra que se torne pão.
4
Jesus respondeu: Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra de Deus (Dt 8,3).
5 O demônio levou-o em seguida a um alto monte e mostrou-lhe num só momento todos os reinos da terra,
6
e disse-lhe: Dar-te-ei todo este poder e a glória desses reinos, porque me foram dados, e dou-os a quem quero.
7
Portanto, se te prostrares diante de mim, tudo será teu.
8
Jesus disse-lhe: Está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás (Dt 6,13).
9 O demônio levou-o ainda a Jerusalém, ao ponto mais alto do templo, e disse-lhe: Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10
porque está escrito: Ordenou aos seus anjos a teu respeito que te guardassem.
11
E que te sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma pedra (Ps 90,11s.).
12 Jesus disse: Foi dito: Não tentarás o Senhor teu Deus (Dt 6,16).
13 Depois de tê-lo assim tentado de todos os modos, o demônio apartou-se dele até outra ocasião.

III MINISTÉRIO DE JESUS NA GALILÉIA

14 Jesus então, cheio da força do Espírito, voltou para a Galiléia. E a sua fama divulgou-se por toda a região.
15
Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos.

Em Nazaré

16 Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
17
Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (Is 61,1s.):
18 O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração,
19
para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor.
20
E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.


21 Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.


22 Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: Não é este o filho de José?


23 Então lhes disse: Sem dúvida me citareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui na tua pátria.


24 E acrescentou: Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.
25
Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra;
26
mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia.
27
Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã.
28
A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga.
29
Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo.
30
Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.

Cura de um possesso

31 Desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ali ensinava-os aos sábados.
32
Maravilharam-se da sua doutrina, porque ele ensinava com autoridade.
33
Estava na sinagoga um homem que tinha um demônio imundo, e exclamou em alta voz:
34
Deixa-nos! Que temos nós contigo, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: o Santo de Deus!
35
Mas Jesus replicou severamente: Cala-te e sai deste homem. O demônio lançou-o por terra no meio de todos e saiu dele, sem lhe fazer mal algum.
36
Todos ficaram cheios de pavor e falavam uns com os outros: Que significa isso? Manda com poder e autoridade aos espíritos imundos, e eles saem?
37
E corria a sua fama por todos os lugares da circunvizinhança.

Cura da sogra de Pedro e diversos milagros

38 Saindo Jesus da sinagoga, entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta; e pediram-lhe por ela.
39
Inclinando-se sobre ela, ordenou ele à febre, e a febre deixou-a. Ela levantou-se imediatamente e pôs-se a servi-los.
40
Depois do pôr-do-sol, todos os que tinham enfermos de diversas moléstias lhos traziam. Impondo-lhes a mão, os sarava.
41
De muitos saíam os demônios, aos gritos, dizendo: Tu és o Filho de Deus. Mas ele repreendia-os severamente, não lhes permitindo falar, porque sabiam que ele era o Cristo.
42
Ao amanhecer, ele saiu e retirou-se para um lugar afastado. As multidões o procuravam e foram até onde ele estava e queriam detê-lo, para que não as deixasse.
43
Mas ele disse-lhes: É necessário que eu anuncie a boa nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois essa é a minha missão.
44
E andava pregando nas sinagogas da Galiléia.

Pesca milagrosa

5 1 Estando Jesus um dia à margem do lago de Genesaré, o povo se comprimia em redor dele para ouvir a palavra de Deus.
2
Vendo duas barcas estacionadas à beira do lago, - pois os pescadores haviam descido delas para consertar as redes -,
3
subiu a uma das barcas que era de Simão e pediu-lhe que a afastasse um pouco da terra; e sentado, ensinava da barca o povo.
4
Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar.
5
Simão respondeu-lhe: Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede.
6
Feito isto, apanharam peixes em tanta quantidade, que a rede se lhes rompia.
7
Acenaram aos companheiros, que estavam na outra barca, para que viessem ajudar. Eles vieram e encheram ambas as barcas, de modo que quase iam ao fundo.
8
Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.
9
É que tanto ele como seus companheiros estavam assombrados por causa da pesca que haviam feito.
10
O mesmo acontecera a Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus companheiros. Então Jesus disse a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens.
11
E atracando as barcas à terra, deixaram tudo e o seguiram.

Cura de um leproso

12 Estando ele numa cidade, apareceu um homem cheio de lepra. Vendo Jesus, lançou-se com o rosto por terra e lhe suplicou: Senhor, se queres, podes limpar-me.
13
Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: Eu quero; sê purificado! No mesmo instante desapareceu dele a lepra.
14
Ordenou-lhe Jesus que o não contasse a ninguém, dizendo-lhe, porém: Vai e mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés prescreveu, para lhes servir de testemunho.
15
Entretanto, espalhava-se mais e mais a sua fama e concorriam grandes multidões para o ouvir e ser curadas das suas enfermidades.
16
Mas ele costumava retirar-se a lugares solitários para orar.

Cura de um paralítico

17 Um dia estava ele ensinando. Ao seu derredor estavam sentados fariseus e doutores da lei, vindos de todas as localidades da Galiléia, da Judéia e de Jerusalém. E o poder do Senhor fazia-o realizar várias curas.
18
Apareceram algumas pessoas trazendo num leito um homem paralítico; e procuravam introduzi-lo na casa e pô-lo diante dele.
19
Mas não achando por onde o introduzir, por causa da multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o arriaram com o leito ao meio da assembléia, diante de Jesus.
20
Vendo a fé que tinham, disse Jesus: Meu amigo, os teus pecados te são perdoados.
21
Então os escribas e os fariseus começaram a pensar e a dizer consigo mesmos: Quem é este homem que profere blasfêmias? Quem pode perdoar pecados senão unicamente Deus?
22
Jesus, porém, penetrando nos seus pensamentos, replicou-lhes: Que pensais nos vossos corações?
23
Que é mais fácil dizer: Perdoados te são os pecados; ou dizer: Levanta-te e anda?
24
Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder de perdoar pecados (disse ele ao paralítico), eu te ordeno: levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.
25
No mesmo instante, levantou-se ele à vista deles, tomou o leito e partiu para casa, glorificando a Deus.
26
Todos ficaram transportados de entusiasmo e glorificavam a Deus; e tomados de temor, diziam: Hoje vimos coisas maravilhosas.

Vocação de Levi

27 Depois disso, ele saiu e viu sentado ao balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: Segue-me.
28
Deixando ele tudo, levantou-se e o seguiu.
29
Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; vários desses fiscais e outras pessoas estavam sentados à mesa com eles.
30
Os fariseus e os seus escribas puseram-se a criticar e a perguntar aos discípulos: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pessoas de má vida?
31
Respondeu-lhes Jesus: Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos.
32
Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores.

Discurso sobre o jejum

33 Eles então lhe disseram: Os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam com freqüência e fazem longas orações, mas os teus comem e bebem...
34
Jesus respondeu-lhes: Porventura podeis vós obrigar a jejuar os amigos do esposo, enquanto o esposo está com eles?
35
Virão dias em que o esposo lhes será tirado; então jejuarão.
36
Propôs-lhes também esta comparação: Ninguém rasga um pedaço de roupa nova para remendar uma roupa velha, porque assim estragaria uma roupa nova. Além disso, o remendo novo não assentaria bem na roupa velha.
37
Também ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo arrebentará os odres e entornar-se-á, e perder-se-ão os odres;
38
mas o vinho novo deve-se pôr em odres novos, e assim ambos se conservam.
39
Demais, ninguém que bebeu do vinho velho quer já do novo, porque diz: O vinho velho é melhor.

As espigas colhidas em dia de sábado

6 1 Em dia de sábado, Jesus atravessava umas plantações; seus discípulos iam colhendo espigas (de trigo), as debulhavam na mão e comiam.
2
Alguns dos fariseus lhes diziam: Por que fazeis o que não é permitido no sábado?
3
Jesus respondeu: Acaso não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os seus companheiros;
4
como entrou na casa de Deus e tomou os pães da proposição e deles comeu e deu de comer aos seus companheiros, se bem que só aos sacerdotes era permitido comê-los?
5
E ajuntou: O Filho do Homem é senhor também do sábado.

Cura de um homeme de mão seca

6 Em outro dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e ensinava. Achava-se ali um homem que tinha a mão direita seca.
7
Ora, os escribas e os fariseus observavam Jesus para ver se ele curaria no dia de sábado. Eles teriam então pretexto para acusá-lo.
8
Mas Jesus conhecia os pensamentos deles e disse ao homem que tinha a mão seca: Levanta-te e põe-te em pé, aqui no meio. Ele se levantou e ficou em pé.
9
Disse-lhes Jesus: Pergunto-vos se no sábado é permitido fazer o bem ou o mal; salvar a vida, ou deixá-la perecer.
10
E relanceando os olhos sobre todos, disse ao homem: Estende tua mão. Ele a estendeu, e foi-lhe restabelecida a mão.
11
Mas eles encheram-se de furor e indagavam uns aos outros o que fariam a Jesus.

Escolha dos doze apóstolos

12 Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus.
13
Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos:
14
Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João, Filipe, Bartolomeu,
15
Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador;
16
Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor.


17 Descendo com eles, parou numa planície. Aí se achava um grande número de seus discípulos e uma grande multidão de pessoas vindas da Judéia, de Jerusalém, da região marítima, de Tiro e Sidônia, que tinham vindo para ouvi-lo e ser curadas das suas enfermidades.

Curas numerosas

18 E os que eram atormentados dos espíritos imundos ficavam livres.
19
Todo o povo procurava tocá-lo, pois saía dele uma força que os curava a todos.

SERMÃO DA MONTANHA

20 Então ele ergueu os olhos para os seus discípulos e disse: Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!
21
Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis fartos! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque vos alegrareis!
22
Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos ultrajarem, e quando repelirem o vosso nome como infame por causa do Filho do Homem!
23
Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque grande é o vosso galardão no céu. Era assim que os pais deles tratavam os profetas.
24
Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação!
25
Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter fome! Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis!
26
Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas!


27 Digo-vos a vós que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
28
abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam.
29
Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa, não impeças de levar também a túnica.
30
Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames.
31
O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles.
32
Se amais os que vos amam, que recompensa mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam.
33
E se fazeis bem aos que vos fazem bem, que recompensa mereceis? Pois o mesmo fazem também os pecadores.
34
Se emprestais àqueles de quem esperais receber, que recompensa mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto.
35
Pelo contrário, amai os vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem daí esperar nada. E grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bom para com os ingratos e maus.


36 Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
37
Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados;
38
dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.


39 Propôs-lhes também esta comparação: Pode acaso um cego guiar outro cego? Não cairão ambos na cova?
40
O discípulo não é superior ao mestre; mas todo discípulo perfeito será como o seu mestre.
41
Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho?
42
Ou como podes dizer a teu irmão: Deixa-me, irmão, tirar de teu olho o argueiro, quando tu não vês a trave no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e depois enxergarás para tirar o argueiro do olho de teu irmão.


43 Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto.
44
Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos.
45
O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio.


46 Por que me chamais: Senhor, Senhor... e não fazeis o que digo?
47
Todo aquele que vem a mim ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.
48
É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As águas transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa e não a puderam abalar, porque ela estava bem construída.
49
Mas aquele que as ouve e não as observa é semelhante ao homem que construiu a sua casa sobre a terra movediça, sem alicerces. A torrente investiu contra ela, e ela logo ruiu; e grande foi a ruína daquela casa.


Lucas (BAV) 1