Mateo (BAV) 19

19 1 Após esses discursos, Jesus deixou a Galiléia e veio para a Judéia, além do Jordão.
2
Uma grande multidão o seguiu e ele curou seus doentes.

Debates sobre o matrimônio

(= Mc 10,1-12 Lc 16,18)
3 Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?
4
Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no começo, fez o homem e a mulher e disse:
5
Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne?
6
Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.
7
Disseram-lhe eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao rejeitá-la?
8
Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim.
9
Ora, eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério.
10
Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar!
11
Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado.
12
Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda.

As crianças

(= Mc 10,13-16 Lc 18,15ss)
13 Foram-lhe, então, apresentadas algumas criancinhas para que pusesse as mãos sobre elas e orasse por elas. Os discípulos, porém, as afastavam.
14
Disse-lhes Jesus: Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham.
15
E, depois de impor-lhes as mãos, continuou seu caminho.

O jovem rico

(= Mc 10,17-30 Lc 18,18-30)
16 Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus:
17
Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos.
18
Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho,
19
honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo.
20
Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?
21
Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!
22
Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens.
23
Jesus disse então aos seus discípulos: Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus!
24
Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.
25
A estas palavras seus discípulos, pasmados, perguntaram: Quem poderá então salvar-se?
26
Jesus olhou para eles e disse: Aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível.
27
Pedro então, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós?
28
Respondeu Jesus: "Em verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória, vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.
29
E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.!

Parábola dos operários da vinha

30 "Muitos dos primeiros serão os últimos e muitos dos últimos serão os primeiros.


20 1 Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha.
2
Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha.
3
Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada.
4
Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário.
5
Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo.
6
Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o dia sem fazer nada?
7
Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha vinha.
8
Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros.
9
Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário.
10
Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário.
11
Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo:
12
- Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor.
13
O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário?
14
Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti.
15
Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom?
16
Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.

Terceiro anúncio da Paixão

(= Mc 10,32 Lc 18,31-34)
17 Subindo para Jerusalém, durante o caminho, Jesus tomou à parte os Doze e disse-lhes:
18
Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte.
19
E o entregarão aos pagãos para ser exposto às suas zombarias, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará.

Pedido dos filhos de Zebedeu

(= Mc 10,35-45 Lc 22,24-30)
20 Nisso aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu com seus filhos e prostrou-se diante de Jesus para lhe fazer uma súplica.
21
Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda.
22
Jesus disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber? Sim, disseram-lhe.
23
De fato, bebereis meu cálice. Quanto, porém, ao sentar-vos à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim vo-lo conceder. Esses lugares cabem àqueles aos quais meu Pai os reservou.
24
Os dez outros, que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra os dois irmãos.
25
Jesus, porém, os chamou e lhes disse: Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade.
26
Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo.
27
E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo.
28
Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão.

Os cegos de Jericó

(= Mc 10,46-52 Lc 18,35-43)
29 Ao sair de Jericó, uma grande multidão o seguiu.
30
Dois cegos, sentados à beira do caminho, ouvindo dizer que Jesus passava, começaram a gritar: Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!
31
A multidão, porém, os repreendia para que se calassem. Mas eles gritavam ainda mais forte: Senhor, filho de Davi, tem piedade de nós!
32
Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: Que quereis que eu vos faça?
33
Senhor, que nossos olhos se abram!
34
Jesus, cheio de compaixão, tocou-lhes os olhos. Instantaneamente recobraram a vista e puseram-se a segui-lo.

Entrada de Jesus em Jerusalém

(= Mc 11,1-11 Lc 19,29-40 Jn 12,12-19)
21 1 Aproximavam-se de Jerusalém. Quando chegaram a Betfagé, perto do monte das Oliveiras, Jesus enviou dois de seus discípulos,
2
dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte. Encontrareis logo uma jumenta amarrada e com ela seu jumentinho. Desamarrai-os e trazei-mos.
3
Se alguém vos disser qualquer coisa, respondei-lhe que o Senhor necessita deles e que ele sem demora os devolverá.
4
Assim, neste acontecimento, cumpria-se o oráculo do profeta:
5
Dizei à filha de Sião: Eis que teu rei vem a ti, cheio de doçura, montado numa jumenta, num jumentinho, filho da que leva o jugo (Za 9,9).
6 Os discípulos foram e executaram a ordem de Jesus.
7
Trouxeram a jumenta e o jumentinho, cobriram-nos com seus mantos e fizeram-no montar.
8
Então a multidão estendia os mantos pelo caminho, cortava ramos de árvores e espalhava-os pela estrada.
9
E toda aquela multidão, que o precedia e que o seguia, clamava: Hosana ao filho de Davi! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!
10
Quando ele entrou em Jerusalém, alvoroçou-se toda a cidade, perguntando: Quem é este?
11
A multidão respondia: É Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia.

Os vendilhões expulsos (purificação do templo)

(= Mc 11,15-19 Lc 19,45 Jn 2,13-22)
12 Jesus entrou no templo e expulsou dali todos aqueles que se entregavam ao comércio. Derrubou as mesas dos cambistas e os bancos dos negociantes de pombas,
13
e disse-lhes: Está escrito: Minha casa é uma casa de oração (Is 56,7), mas vós fizestes dela um covil de ladrões (Jr 7,11)!
14 Os cegos e os coxos vieram a ele no templo e ele os curou,
15
com grande indignação dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas que assistiam a seus milagres e ouviam os meninos gritar no templo: Hosana ao filho de Davi!
16
Disseram-lhe eles: Ouves o que dizem eles? Perfeitamente, respondeu-lhes Jesus. Nunca lestes estas palavras: Da boca dos meninos e das crianças de peito tirastes o vosso louvor (Ps 8,3)?
17 Depois os deixou e saiu da cidade para hospedar-se em Betânia.

A figueira amaldiçoada

(= Mc 11,12 Mc 11,20-26)
18 De manhã, voltando à cidade, teve fome.
19
Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas só achou nela folhas; e disse-lhe: Jamais nasça fruto de ti!
20
E imediatamente a figueira secou. À vista disto, os discípulos ficaram estupefatos e disseram: Como ficou seca num instante a figueira?!
21
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos declaro que, se tiverdes fé e não hesitardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a esta montanha: Levanta-te daí e atira-te ao mar, isso se fará...
22
Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis.

Autoridade de Jesus

(= Mc 11,27-33 Lc 20,1-8)
23 Dirigiu-se Jesus ao templo. E, enquanto ensinava, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e perguntaram-lhe: Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade?
24
Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço.
25
Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos dirá: Por que não crestes nele?
26
E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque todo o mundo considera João como profeta.
27
Responderam a Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo, retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas.

Parábola dos dois filhos

28 Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse-lhe: - Meu filho, vai trabalhar hoje na vinha.
29
Respondeu ele: - Não quero. Mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi.
30
Dirigindo-se depois ao outro, disse-lhe a mesma coisa. O filho respondeu: - Sim, pai! Mas não foi.
31
Qual dos dois fez a vontade do pai? O primeiro, responderam-lhe. E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo: os publicanos e as meretrizes vos precedem no Reino de Deus!
32
João veio a vós no caminho da justiça e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as prostitutas creram nele. E vós, vendo isto, nem fostes tocados de arrependimento para crerdes nele.

Parábola dos lavradores homicidas

(= Mc 12,1-12 Lc 20,9-19)
33 Ouvi outra parábola: havia um pai de família que plantou uma vinha. Cercou-a com uma sebe, cavou um lagar e edificou uma torre. E, tendo-a arrendado a lavradores, deixou o país.
34
Vindo o tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores para recolher o produto de sua vinha.
35
Mas os lavradores agarraram os servos, feriram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro.
36
Enviou outros servos em maior número que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo.
37
Enfim, enviou seu próprio filho, dizendo: Hão de respeitar meu filho.
38
Os lavradores, porém, vendo o filho, disseram uns aos outros: Eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança!
39
Lançaram-lhe as mãos, conduziram-no para fora da vinha e o assassinaram.
40
Pois bem: quando voltar o senhor da vinha, que fará ele àqueles lavradores?
41
Responderam-lhe: Mandará matar sem piedade aqueles miseráveis e arrendará sua vinha a outros lavradores que lhe pagarão o produto em seu tempo.
42
Jesus acrescentou: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular; isto é obra do Senhor, e é admirável aos nossos olhos (Ps 117,22)?
43 Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o Reino de Deus, e será dado a um povo que produzirá os frutos dele.
44

45
Ouvindo isto, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus compreenderam que era deles que Jesus falava.
46
E procuravam prendê-lo; mas temeram o povo, que o tinha por um profeta.

Parábola da festa das bodas

(= Lc 14,15-24)
22 1 Jesus tornou a falar-lhes por meio de parábolas:
2
O Reino dos céus é comparado a um rei que celebrava as bodas do seu filho.
3
Enviou seus servos para chamar os convidados, mas eles não quiseram vir.
4
Enviou outros ainda, dizendo-lhes: Dizei aos convidados que já está preparado o meu banquete; meus bois e meus animais cevados estão mortos, tudo está preparado. Vinde às bodas!
5
Mas, sem se importarem com aquele convite, foram-se, um a seu campo e outro para seu negócio.
6
Outros lançaram mãos de seus servos, insultaram-nos e os mataram.
7
O rei soube e indignou-se em extremo. Enviou suas tropas, matou aqueles assassinos e incendiou-lhes a cidade.
8
Disse depois a seus servos: O festim está pronto, mas os convidados não foram dignos.
9
Ide às encruzilhadas e convidai para as bodas todos quantos achardes.
10
Espalharam-se eles pelos caminhos e reuniram todos quantos acharam, maus e bons, de modo que a sala do banquete ficou repleta de convidados.
11
O rei entrou para vê-los e viu ali um homem que não trazia a veste nupcial.
12
Perguntou-lhe: Meu amigo, como entraste aqui, sem a veste nupcial? O homem não proferiu palavra alguma.
13
Disse então o rei aos servos: Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes.
14
Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos.

Imposto do imperador

(= Mc 12,13-17 Lc 20,20-26
15 Reuniram-se então os fariseus para deliberar entre si sobre a maneira de surpreender Jesus nas suas próprias palavras.
16
Enviaram seus discípulos com os herodianos, que lhe disseram: Mestre, sabemos que és verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens.
17
Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César?
18
Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me tentais, hipócritas?
19
Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto! Apresentaram-lhe um denário.
20
Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta inscrição?
21
De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
22
Esta resposta encheu-os de admiração e, deixando-o, retiraram-se.

Como será a ressureição

(= Mc 12,18-27 Lc 20,27-40
23 Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a ressurreição, interrogaram-no:
24
Mestre, Moisés disse: Se um homem morrer sem filhos, seu irmão case-se com a sua viúva e dê-lhe assim uma posteridade (Dt 25,5).
25 Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu. Como não tinha filhos, deixou sua mulher ao seu irmão.
26
O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao terceiro, até o sétimo.
27
Por sua vez, depois deles todos, morreu também a mulher.
28
Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, uma vez que todos a tiveram?
29
Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.
30
Na ressurreição, os homens não terão mulheres nem as mulheres, maridos; mas serão como os anjos de Deus no céu.
31
Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse:
32
Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6)? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos.
33 E, ouvindo esta doutrina, as turbas se enchiam de grande admiração.

O grande mandamento

(= Mc 12,28-34 Lc 10,25-28
34 Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se
35
e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova:
36
Mestre, qual é o maior mandamento da lei?
37
Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5).
38 Este é o maior e o primeiro mandamento.
39
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).
40 Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.

O Messias, filho de Davi

(= Mc 12,35 Lc 20,41-44
41 Como os fariseus se agrupassem, Jesus interrogou-os:
42
Que pensais vós de Cristo? De quem é filho? Responderam: De Davi!
43
Como então, prosseguiu Jesus, Davi, falando sob inspiração do Espírito, chama-o Senhor, dizendo:
44
O Senhor disse a meu Senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos por escabelo dos teus pés (Ps 109,1)?
45 Se, pois, Davi o chama Senhor, como é ele seu filho?
46
Ninguém pôde responder-lhe nada. E, depois daquele dia, ninguém mais ousou interrogá-lo.

Acusações contra os escribas e os fariseus

(= Mc 12,38 Lc 11,37-54 Lc 20,45ss)
23 1 Dirigindo-se, então, Jesus à multidão e aos seus discípulos,disse:
2
Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés.
3
Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem.
4
Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo.
5
Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem largas faixas e longas franjas nos seus mantos.
6
Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas sinagogas.
7
Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados rabi pelos homens.
8
Mas vós não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso preceptor, e vós sois todos irmãos.
9
E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele que está nos céus.
10
Nem vos façais chamar de mestres, porque só tendes um Mestre, o Cristo.
11
O maior dentre vós será vosso servo.
12
Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado.
13
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o Reino dos céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar.
14

15
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazeis dele um filho do inferno duas vezes pior que vós mesmos.
16
Ai de vós, guias cegos! Vós dizeis: Se alguém jura pelo templo, isto não é nada; mas se jura pelo tesouro do templo, é obrigado pelo seu juramento.
17
Insensatos, cegos! Qual é o maior: o ouro ou o templo que santifica o ouro?
18
E dizeis ainda: Se alguém jura pelo altar, não é nada; mas se jura pela oferta que está sobre ele, é obrigado.
19
Cegos! Qual é o maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta?
20
Aquele que jura pelo altar, jura ao mesmo tempo por tudo o que está sobre ele.
21
Aquele que jura pelo templo, jura ao mesmo tempo por aquele que nele habita.
22
E aquele que jura pelo céu, jura ao mesmo tempo pelo trono de Deus, e por aquele que nele está sentado.
23
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante.
24
Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.
25
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança.
26
Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.
27
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão.
28
Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.
29
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos
30
e dizeis: Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas...
31
Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os filhos dos assassinos dos profetas.
32
Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais!
33
Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno?
34
Vede, eu vos envio profetas, sábios, doutores. Matareis e crucificareis uns e açoitareis outros nas vossas sinagogas. Persegui-los-eis de cidade em cidade,
35
para que caia sobre vós todos o sangue inocente derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar.
36
Em verdade vos digo: todos esses crimes pesam sobre esta raça.
37
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas... e tu não quiseste!
38
Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta.
39
Porque eu vos digo: já não me vereis de hoje em diante, até que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor.

Predição da ruína de Jerusalém

(= Mc 13,1-23 Lc 21,5-24
24 1 Ao sair do templo, os discípulos aproximaram-se de Jesus e fizeram-no apreciar as construções.
2
Jesus, porém, respondeu-lhes: Vedes todos estes edifícios? Em verdade vos declaro: não ficará aqui pedra sobre pedra; tudo será destruído.
3
Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?
4
Respondeu-lhes Jesus: Cuidai que ninguém vos seduza.
5
Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu o Cristo. E seduzirão a muitos.
6
Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerra. Atenção: que isso não vos perturbe, porque é preciso que isso aconteça. Mas ainda não será o fim.
7
Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fome, peste e grandes desgraças em diversos lugares.
8
Tudo isto será apenas o início das dores.
9
Então sereis entregues aos tormentos, matar-vos-ão e sereis por minha causa objeto de ódio para todas as nações.
10
Muitos sucumbirão, trair-se-ão mutuamente e mutuamente se odiarão.
11
Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos.
12
E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará.
13
Entretanto, aquele que perseverar até o fim será salvo.
14
Este Evangelho do Reino será pregado pelo mundo inteiro para servir de testemunho a todas as nações, e então chegará o fim.
15
Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (Da 9,27) - o leitor entenda bem -
16 então os habitantes da Judéia fujam para as montanhas.
17
Aquele que está no terraço da casa não desça para tomar o que está em sua casa.
18
E aquele que está no campo não volte para buscar suas vestimentas.
19
Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentarem naqueles dias!
20
Rogai para que vossa fuga não seja no inverno, nem em dia de sábado;
21
porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será.
22
Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia; mas por causa dos escolhidos, aqueles dias serão abreviados.
23
Então se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais.
24
Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isto fosse possível, até mesmo os escolhidos.
25
Eis que estais prevenidos.
26
Se, pois, vos disserem: Vinde, ele está no deserto, não saiais. Ou: Lá está ele em casa, não o creiais.
27
Porque, como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o ocidente, assim será a volta do Filho do Homem.
28
Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres.

Vinda inesperada do Filho de Deus

(= Mc 13,24-37 Lc 21,25-36)
29 Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus serão abaladas.
30
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do Homem vir sobre as nuvens do céu cercado de glória e de majestade.
31
Ele enviará seus anjos com estridentes trombetas, e juntarão seus escolhidos dos quatro ventos, duma extremidade do céu à outra.
32
Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo.
33
Do mesmo modo, quando virdes tudo isto, sabei que o Filho do Homem está próximo, à porta.
34
Em verdade vos declaro: não passará esta geração antes que tudo isto aconteça.
35
O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.
36
Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai.
37
Assim como foi nos tempos de Noé, assim acontecerá na vinda do Filho do Homem.
38
Nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca.
39
E os homens de nada sabiam, até o momento em que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim será também na volta do Filho do Homem.
40
Dois homens estarão no campo: um será tomado, o outro será deixado.
41
Duas mulheres estarão moendo no mesmo moinho: uma será tomada a outra será deixada.
42
Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor.
43
Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.
44
Por isso, estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes.

Exortação à vigilância

(= Lc 12,42-48)
45 Quem é, pois, o servo fiel e prudente que o Senhor constituiu sobre os de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno?
46
Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim!
47
Em verdade vos digo: ele o estabelecerá sobre todos os seus bens.
48
Mas, se é um mau servo que imagina consigo:
49
- Meu senhor tarda a vir, e se põe a bater em seus companheiros e a comer e a beber com os ébrios,
50
o senhor desse servo virá no dia em que ele não o espera e na hora em que ele não sabe,
51
e o despedirá e o mandará ao destino dos hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes.

A parábola das dez virgens

25 1 Então o Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que saíram com suas lâmpadas ao encontro do esposo.
2
Cinco dentre elas eram tolas e cinco, prudentes.
3
Tomando suas lâmpadas, as tolas não levaram óleo consigo.
4
As prudentes, todavia, levaram de reserva vasos de óleo junto com as lâmpadas.
5
Tardando o esposo, cochilaram todas e adormeceram.
6
No meio da noite, porém, ouviu-se um clamor: Eis o esposo, ide-lhe ao encontro.
7
E as virgens levantaram-se todas e prepararam suas lâmpadas.
8
As tolas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso óleo, porque nossas lâmpadas se estão apagando.
9
As prudentes responderam: Não temos o suficiente para nós e para vós; é preferível irdes aos vendedores, a fim de o comprardes para vós.
10
Ora, enquanto foram comprar, veio o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para a sala das bodas e foi fechada a porta.
11
Mais tarde, chegaram também as outras e diziam: Senhor, senhor, abre-nos!
12
Mas ele respondeu: Em verdade vos digo: não vos conheço!
13
Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora.

Parábola dos talentos

(=
14 Será também como um homem que, tendo de viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens.
15
A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro, um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu.
16
Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com eles; fê-los produzir, e ganhou outros cinco.
17
Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois.
18
Mas, o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.
19
Muito tempo depois, o senhor daqueles servos voltou e pediu-lhes contas.
20
O que recebeu cinco talentos, aproximou-se e apresentou outros cinco: - Senhor, disse-lhe, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco que ganhei.'
21
Disse-lhe seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.
22
O que recebeu dois talentos, adiantou-se também e disse: - Senhor, confiaste-me dois talentos; eis aqui os dois outros que lucrei.
23
Disse-lhe seu senhor: - Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor.
24
Veio, por fim, o que recebeu só um talento: - Senhor, disse-lhe, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste.
25
Por isso, tive medo e fui esconder teu talento na terra. Eis aqui, toma o que te pertence.
26
Respondeu-lhe seu senhor: - Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeei e que recolho onde não espalhei.
27
Devias, pois, levar meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu.
28
Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez.
29
Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter.
30
E a esse servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.

O juízo final

31 Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso.
32
Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos.
33
Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
34
Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,
35
porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes;
36
nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim.
37
Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?
38
Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?
39
Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?
40
Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.
41
Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos.
42
Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber;
43
era peregrino e não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me visitastes.
44
Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos?
45
E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.
46
E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna.

VI - PAIXÃO E RESSURREIÇÃO DE JESUS (26-28)


Conspiração dos sacerdotes

(= Mc 14,1 Lc 22,1)
26
Mateo (BAV) 19