1Samuel (SAV) 18

18 1 Tendo Davi acabado de falar com Saul, a alma de Jônatas apegou-se à alma de Davi, e Jônatas começou a amá-lo como a si mesmo.
2
Naquele mesmo dia Saul o reteve em sua casa e não o deixou voltar para a casa de seu pai.
3
Jônatas fez um pacto com Davi, que ele amava como a si mesmo.
4
Tirou o seu manto, deu-o a Davi, bem como a sua armadura, sua espada, seu arco e seu cinto.
5
Saul incumbiu Davi de diversas missões, e todas foram muito frutuosas. Colocou-o à frente dos seus guerreiros, e ele ganhou a simpatia de todo o povo, inclusive dos servos do rei.

Ciúme de Saul

6 Voltando o exército, depois de Davi ter matado o filisteu, de todas as cidades de Israel saíam as mulheres ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tamborins e címbalos.
7
E enquanto dançavam, diziam umas às outras: Saul matou seus milhares, e Davi seus dez milhares.
8
Saul irritou-se em extremo, e desagradou-lhe tal coisa. Dão dez mil a Davi, disse ele, e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!
9
E a partir daquele dia, Saul olhou Davi com maus olhos.


10 No dia seguinte, apoderou-se dele o mau espírito de Deus, e teve um acesso de delírio em sua casa. Como nos outros dias, Davi pôs-se a tocar a cítara.
11
Saul, que tinha uma lança na mão, arremessou-a contra Davi, dizendo: Vou cravá-lo na parede! Mas Davi se desviou do golpe por duas vezes.
12
Saul temia Davi, porque o Senhor estava com o jovem, e tinha-se retirado dele.
13
Afastou-o então de si, estabelecendo-o chefe de mil homens, à frente dos quais Davi empreendia as suas expedições.
14
Saía-se bem em todas as suas empresas, porque o Senhor estava com ele.
15
Saul, vendo-o tão engenhoso, teve medo dele.
16
Mas todos em Israel e Judá o amavam, porque ele entrava e saía diante deles.

Casamento de Davi

17 Saul disse a Davi: Eis minha filha mais velha, Merab, que eu te darei por mulher, contanto que sejas valoroso e combatas nas guerras do Senhor. Saul pensava: Não é bom que o fira a minha mão, mas antes a dos filisteus.
18
Davi respondeu: Quem sou eu? E o que é a minha vida ou a família de meu pai em Israel, para que me torne genro do rei?
19
Ora, tendo chegado o tempo em que Merab, filha de Saul, devia ser dada a Davi, deram-na em casamento a Hadriel, o molatita.
20
Ora, Micol, filha de Saul, amava Davi. E contaram-no a Saul, que se alegrou com isso.
21
Vou dar-lhe Micol, pensava Saul, para que ela lhe seja uma armadilha, e ele caia na mão dos filisteus. Saul disse, pois, a Davi pela segunda vez: Agora vais tornar-te meu genro.
22
E ordenou aos seus servos que dissessem em segredo a Davi: O rei afeiçoou-se a ti e todos os seus servos te amam. Torna-te genro do rei.
23
Os servos de Saul repetiram essas palavras aos ouvidos de Davi, mas este respondeu: Parece-vos pouca coisa ser genro do rei? Eu sou pobre e de condição humilde.
24
Os servos de Saul referiram-lhe as palavras de Davi.
25
Dir-lhe-eis, respondeu Saul, que o rei só pede como dote cem prepúcios de filisteus, para vingar-se dos seus inimigos. Seu desígnio era entregar Davi nas mãos dos filisteus.
26
Transmitiram os servos a Davi essa mensagem, o qual se agradou da proposta de tornar-se genro do rei.
27
Antes que expirasse o termo fixado, Davi partiu com seus homens; matou duzentos filisteus e trouxe os seus prepúcios, entregando-os integralmente ao rei, para se tornar seu genro. Saul deu-lhe por mulher sua filha Micol.
28
Ele compreendeu que o Senhor estava com Davi. Sua filha Micol o amava.
29
O rei sentiu com isso redobrar o seu medo. Durante todo o resto de sua vida ele detestou Davi.
30
Cada vez que os chefes dos filisteus faziam incursões, Davi era mais bem-sucedido que todos os homens de Saul, o que deu ao seu nome grande fama.

Fuga de Davi

19 1 Saul falou ao seu filho Jônatas e a todos os servos, ordenando-lhes que matassem Davi. Mas Jônatas, que tinha grande afeição por Davi,
2
preveniu-o disso: Saul, meu pai, procura matar-te. Está de sobreaviso amanhã cedo; esconde-te.
3
Sairei em companhia de meu pai ao campo onde estiveres. Falar-lhe-ei de ti, para ver o que ele diz, e te avisarei depois.
4
Jônatas falou bem de Davi ao seu pai, e ajuntou: Que o rei não faça mal algum ao seu servo Davi, pois que ele nunca te fez mal algum. Ao contrário, prestou-te grandes serviços.
5
Arriscou a sua vida para matar o filisteu, e o Senhor deu uma grande vitória a Israel. Foste testemunha disso e te alegraste. Por que queres pecar contra o sangue inocente, matando Davi sem motivo?
6
Saul ouviu a voz de Jônatas, e fez este juramento: Pela vida do Senhor, Davi não morrerá!
7
Então Jônatas chamou Davi e contou-lhe tudo isso. Levou-o em seguida a Saul, para que ele retomasse o seu lugar como dantes.


8 Tendo recomeçado a guerra, marchou Davi contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes uma grande derrota, e eles fugiram diante dele.
9
O mau espírito do Senhor, porém, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa, com a lança na mão; Davi tocava a cítara.
10
Saul, então, arremessou-lhe a lança, procurando cravá-lo na parede; Davi desviou-se e a lança foi cravar-se na parede. Davi esquivou-se e fugiu naquela mesma noite.
11
Ora, mandou o rei emissários à casa de Davi, para terem-no seguro e assassiná-lo pela manhã. Mas Micol, mulher de Davi, disse-lhe: Se não fugires esta noite, amanhã serás um homem morto.
12
Fê-lo, pois, descer pela janela, e ele fugiu são e salvo.
13
Micol tomou o terafim, meteu-o na cama, colocou-lhe em redor da cabeça uma cobertura de pele de cabra, e cobriu tudo com um manto.
14
Quando chegaram os enviados de Saul para prender Davi, ela disse-lhes: Ele está doente.
15
Saul mandou-os de novo, com ordem de vê-lo, dizendo: Trazei-mo com sua cama, e eu o matarei.
16
Tendo chegado os mensageiros, só encontraram na cama o terafim com uma cobertura de pele de cabra no lugar da cabeça.
17
Saul disse a Micol: Por que me enganaste assim, deixando escapar o meu inimigo? Micol respondeu: Porque ele me disse: deixa-me partir, senão te mato!
18
Davi fugiu, pois, e foi ocultar-se junto de Samuel, em Ramá; e contou-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E foram ambos morar em Naiot.
19
Disseram a Saul: Davi está em Naiot, perto de Ramá.
20
Saul mandou homens para prendê-lo, mas quando viram a comunidade dos profetas em delírio, tendo Samuel à sua frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul que começaram, também eles, a profetizar.
21
Contaram-no a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a cantar como os primeiros. Saul mandou um terceiro grupo, os quais também profetizaram.
22
Então ele foi pessoalmente a Ramá. Chegando à grande cisterna de Soco, perguntou: Onde estão Samuel e Davi? Estão em Naiot, responderam-lhe, perto de Ramá.
23
Mas, no caminho para Naiot, assaltou-o também o espírito de Deus, e Saul foi tomado de transes por todo o caminho até chegar a Naiot.
24
Despiu suas vestes, profetizando diante de Samuel e ficou assim despido, prostrado por terra durante todo o dia e toda a noite. Daí o ditado: Está Saul também entre os profetas?

Aliança entre Davi e Jônatas

20 1 Partiu Davi de Naiot, perto de Ramá e veio ter com Jônatas. Disse-lhe: Que fiz eu? Qual é o meu crime, e que mal fiz ao teu pai, para que ele queira matar-me?
2
Não, respondeu Jônatas, tu não morrerás! Meu pai não faz coisa alguma, grande ou pequena, sem me dizer. Por que me ocultaria isso? Não é possível!
3
Mas Davi insistiu com juramento: Teu pai bem sabe que eu te sou simpático, e por isso deve ter pensado: que Jônatas não o saiba, para que não se entristeça demasiado. Por Deus e pela tua vida, há apenas um passo entre mim e a morte!
4
Jônatas respondeu-lhe: Que queres que eu faça? Eu o farei.
5
Amanhã, disse Davi, é lua nova, e eu devia jantar à mesa do rei. Deixa-me partir; ocultar-me-ei no campo até a tarde do terceiro dia.
6
Se teu pai notar minha ausência, dir-lhe-ás que te pedi licença para ir até Belém, minha cidade natal, onde toda a minha família oferece um sacrifício anual.
7
Se ele disser que está bem, o teu servo nada terá a temer; mas se ele, ao contrário, se irritar, fica sabendo que ele decretou a minha perda.
8
Mostra-te amigo para com teu servo, pois que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. Se eu tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo; por que fazer-me comparecer diante do teu pai?
9
Jônatas disse-lhe: Longe de ti tal coisa! Se eu souber que de fato meu pai resolveu perder-te, juro que te avisarei.
10
Mas quem me informará, perguntou Davi, se teu pai te responder duramente?
11
Vamos ao campo, disse-lhe Jônatas. E foram ambos ao campo.
12
Então Jônatas falou: Por Javé, Deus de Israel! Amanhã ou depois de amanhã sondarei meu pai. Se tudo for favorável a ti e eu não te avisar,
13
então o Senhor me trate com todo o seu rigor! E se meu pai te quiser fazer mal, avisar-te-ei da mesma forma; deixar-te-ei então partir e poderás estar tranqüilo. Que o Senhor esteja contigo, como esteve com meu pai!
14
Mais tarde, se eu for ainda vivo, conservar-me-ás tua amizade (em nome) do Senhor. Mas, se eu morrer,
15
não retires jamais tua benevolência de minha casa, nem mesmo quando o Senhor exterminar da face da terra todos os inimigos de Davi!
16
Foi assim que Jônatas fez aliança com a casa de Davi, e o Senhor vingou-se dos inimigos de Davi.
17
Jônatas conjurou ainda uma vez a Davi, em nome da amizade que lhe consagrava, pois o amava de toda a sua alma.
18
Amanhã, continuou Jônatas, é lua nova, e notarão tua ausência.
19
Descerás, pois, sem falta, depois de amanhã ao lugar onde te escondeste no dia do ajuste, e ficarás junto à pedra de Ezel.
20
Atirarei três flechas para o lado da pedra como se visasse a um alvo.
21
Depois mandarei meu servo buscar as flechas. Se eu lhe gritar: Olha! Estão atrás de ti, apanha-as! Então poderás vir, porque tudo te é favorável, e não há mal algum a temer, por Deus!
22
Se, porém, eu disser ao rapaz: Olha! As flechas estão diante de ti, um pouco mais longe. Então foge, porque essa é a vontade de Deus.
23
Quanto à palavra que nos demos um ao outro, o Senhor seja testemunha entre nós para sempre.
24
Davi escondeu-se no campo. No dia da lua nova, o rei pôs-se à mesa para comer,
25
sentando-se, como de costume, numa cadeira junto à parede. Jônatas levantou-se para que Abner pudesse sentar-se ao lado de Saul, e o lugar de Davi ficou desocupado.
26
Naquele dia Saul não disse nada. Algo aconteceu-lhe, pensou ele; provavelmente não está puro; deve ter contraído alguma impureza.
27
No dia seguinte, segundo dia da lua, o lugar de Davi continuava vazio. Saul disse ao seu filho Jônatas: Por que o filho de Isaí não veio comer, nem ontem nem hoje?
28
Davi pediu-me com instâncias, respondeu Jônatas, para ir a Belém.
29
Disse-me: deixa-me ir, rogo-te, porque temos na cidade um sacrifício de família, ao qual meu irmão me convidou. Se me queres dar um prazer, permite-me que vá rever meus irmãos. Por isso não veio ele à mesa do rei.
30
Então Saul encolerizou-se contra Jônatas: Filho de prostituta, disse-lhe, não sei eu porventura que és amigo do filho de Isaí, o que é uma vergonha para ti e para tua mãe?
31
Enquanto viver esse homem na terra, não estarás seguro, nem tu nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo e traze-mo; ele merece a morte!
32
Jônatas respondeu ao seu pai: Por que deverá ele morrer? Que fez ele?
33
Saul brandiu sua lança para feri-lo, e Jônatas viu que a morte de Davi era coisa decidida pelo seu pai.
34
Furioso, deixou a mesa sem comer naquele segundo dia da lua. As injúrias que seu pai tinha proferido contra a Davi tinham-no afligido profundamente.
35
Na manhã seguinte, Jônatas saiu ao campo e foi ao lugar combinado com Davi, acompanhado de um jovem servo.
36
Vai, disse ele, e traze-me as setas que vou atirar. Mas, enquanto o rapaz corria, Jônatas atirou outra flecha mais para além dele.
37
Quando chegou ao lugar da flecha, Jônatas gritou-lhe: Não está a flecha mais para lá de ti?
38
E ajuntou: Vamos, apressa-te, não te demores. O servo apanhou a flecha e voltou ao seu senhor; e de nada suspeitou,
39
porque só Jônatas e Davi conheciam o ajuste.
40
Depois disso, entregou Jônatas suas armas ao rapaz, dizendo-lhe: Vai, leva-as para a cidade.
41
Logo que ele partiu, deixou Davi o seu esconderijo e curvou-se até a terra, prostrando-se três vezes; beijaram-se mutuamente, chorando, e Davi estava ainda mais comovido que o seu amigo.
42
Jônatas disse-lhe: Vai em paz, agora que demos um ao outro nossa palavra com este juramento: o Senhor seja para sempre testemunha entre ti e mim, entre a tua posteridade e a minha!
43
Davi partiu, e Jônatas voltou para a cidade.

Nova fuga de Davi

21 1 Davi foi para Nobe. Chegando à casa do sacerdote Aquimelec, este saiu-lhe ao encontro muito inquieto, dizendo: Por que estás só? Não há ninguém contigo?
2
Davi respondeu-lhe: O rei confiou-me uma missão, com a ordem de não revelar a ninguém o motivo por que me enviou. Combinei com os meus servos um encontro em certo lugar.
3
E agora, se tens à mão alguma coisa, dá-me cinco pães ou qualquer outra coisa que tenhas disponível.
4
Aquimelec respondeu: Não tenho à mão o pão ordinário, mas só pães consagrados, com a condição, no entanto, de que teus servos se tenham abstido de mulheres.
5
Respondeu-lhe Davi: Não tivemos comércio com mulher alguma desde que parti, há três dias. Todos os objetos que pertencem aos meus servos estão puros; e, se nossa missão é profana, pode ser santificada por aquele que a cumpre.
6
Então o sacerdote deu-lhe os pães consagrados, porque não havia ali senão os pães da proposição, que tinham sido tirados da presença do Senhor e imediatamente substituídos por pães frescos.
7
Ora, achava-se em Nobe naquele dia, retido na presença do Senhor, um dos servos de Saul, chamado Doeg, o edomita, chefe dos pastores de Saul.
8
Disse Davi a Aquimelec: Tens aqui à mão uma lança ou uma espada? Nem sequer tive tempo de tomar minha lança e minhas armas, tão apressado estava o rei.
9
Tenho a espada do filisteu Golias, respondeu o sacerdote, que tu mesmo mataste no vale do Terebinto. Está embrulhada num pano, atrás do efod. Se quiseres, podes tomá-la, pois não há aqui nenhuma outra. Não há outra igual, replicou Davi; dá-ma.
10
Levantou-se Davi e prosseguiu sua fuga diante de Saul, indo para junto de Aquis, rei de Get.
11
Os servos de Aquis disseram ao rei: Não é este Davi, o rei da terra? Aquele de quem cantavam em coro: Saul matou seus milhares, mas Davi seus dez milhares?
12
Davi, impressionado com essas palavras, teve medo de Aquis, rei de Get.
13
Simulou loucura diante deles, comportando-se como demente: tamborilava nos batentes da porta e deixava correr saliva pela barba.
14
Aquis disse aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco. Por que mo trouxestes?
15
Não tenho eu aqui loucos bastantes para me trazerdes ainda este, e me aborrecer com suas excentricidades? Ele não porá os pés na minha casa.


22 1 Davi partiu dali e refugiou-se na caverna de Odolão. Seus irmãos e toda a sua família, ouvindo isso, foram juntar-se a ele.
2
Todos os que se viam em miséria, os endividados, os descontentes, foram ter com Davi, e ele tornou-se o seu chefe. E estiveram com ele cerca de quatrocentos homens.
3
Dali foi Davi para Masfa, em Moab, e disse ao rei de Moab: Permiti que meu pai e minha mãe venham habitar no meio de vós, até que eu saiba o que o Senhor me reserva.
4
Apresentou-os, pois, ao rei de Moab, e ficaram com ele durante todo o tempo em que Davi permaneceu no fortim.
5
Mas o profeta Gad disse a Davi: Não fiques no fortim. Parte, volta à terra de Judá. Davi partiu e internou-se na floresta de Haret.

Matança dos sacerdotes de Nobe

6 Saul foi informado de que haviam descoberto Davi e os seus. Estava o rei em Gabaa, sentado debaixo de uma tamareira, na colina, com a sua lança na mão, tendo todos os seus familiares em redor de si.
7
Saul disse-lhes: Escutai, benjaminitas: será que o filho de Isaí dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas?
8
Por que vos conjurastes contra mim? Ninguém de vós me informou que meu filho tinha feito aliança com o filho de Isaí, e ninguém se deu o trabalho de avisar-me que meu filho instigava meu servo contra mim, para armar-me ciladas, como ele o faz hoje!
9
Doeg, o edomita, que era o primeiro entre os domésticos de Saul, respondeu: Eu vi o filho de Isaí chegar a Nobe, à casa de Aquimelec, filho de Aquitob.
10
Este consultou o Senhor por ele e deu-lhe provisões, entregando-lhe também a espada do filisteu Golias.
11
O rei mandou chamar o sacerdote Aquimelec, filho de Aquitob, com toda a casa de seu pai, os sacerdotes que estavam em Nobe. Chegando eles à presença do rei,
12
Saul disse-lhes: Escuta, filho de Aquitob! Eis-me aqui, meu senhor, respondeu ele.
13
Por que, retomou Saul, conspiraste contra mim, tu e o filho de Isaí? Deste-lhe pão e uma espada, e consultaste Deus por ele, a fim de que ele se revolte contra mim e me arme ciladas como hoje acontece.
14
Aquimelec respondeu ao rei: Haverá entre todos os teus servos alguém mais fiel que Davi, genro do rei, teu conselheiro, um homem estimado por toda a tua casa?
15
Foi porventura hoje que comecei a consultar Deus por ele? Longe de mim (qualquer idéia de revolta)! Não impute o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! Teu servo nada soube de tudo isto, nem pouco nem muito.
16
O rei disse: Tu morrerás, Aquimelec, tu e toda a tua família!
17
E, dirigindo-se aos guardas que o cercavam: Ide, disse ele; matai os sacerdotes do Senhor, pois fizeram-se cúmplices de Davi: sabiam de sua fuga e não me preveniram. Mas os guardas do rei se recusaram a levantar a mão contra os sacerdotes do Senhor.
18
Então o rei ordenou a Doeg: Vamos, fere-os. E Doeg, o edomita, aproximou-se e foi ele quem matou os sacerdotes. Massacrou naquele dia oitenta e cinco homens que vestiam o efod de linho.
19
Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nobe: homens, mulheres, meninos, crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas.
20
Só escapou um filho de Aquimelec, filho de Aquitob, chamado Abiatar, que se refugiou junto de Davi.
21
Abiatar anunciou-lhe que Saul tinha massacrado os sacerdotes do Senhor.
22
Davi disse-lhe: Eu bem suspeitava naquele dia que, estando ali Doeg, o edomita, ele iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai.
23
Fica comigo; não temas. Aquele que odeia a minha vida, odeia igualmente a tua. Junto de mim estarás seguro.

Davi em Ceila

23 1 Disseram a Davi: Os filisteus estão atacando Ceila e pilhando as eiras.
2
Davi consultou o Senhor: Devo ferir os filisteus? O Senhor respondeu: Vai; tu os ferirás e libertarás Ceila.
3
Os homens de Davi, porém, disseram-lhe: Mesmo aqui em Judá estamos cheios de medo; quanto mais se formos a Ceila contra as tropas dos filisteus?
4
Davi consultou novamente o Senhor, que lhe respondeu: Vai; desce a Ceila, porque entrego os filisteus nas tuas mãos.
5
Davi foi para Ceila com os seus homens e atacou os filisteus, tomando-lhes o gado e infligindo-lhes uma grande derrota. Assim libertou os habitantes de Ceila.
6
(Ora, quando Abiatar, filho de Aquimelec, fugira para junto de Davi a Ceila, levava consigo o efod.)
7
Saul foi informado de que Davi se encontrava em Ceila, e disse: Deus entregou-o nas minhas mãos, pois foi encerrar-se em uma cidade com portas e ferrolhos.
8
O rei convocou todo o povo às armas para descer a Ceila e sitiar Davi com sua tropa.
9
Mas Davi, sabendo que Saul maquinava perdê-lo, disse ao sacerdote Abiatar: Traze o efod!
10
E ajuntou: Senhor, Deus de Israel, vosso servo sabe que Saul pretende penetrar em Ceila para destruir a cidade por causa de mim.
11
Será que os habitantes de Ceila me entregarão nas suas mãos? Saul descerá como o vosso servo ouviu dizer? Senhor, Deus de Israel, fazei-o saber ao vosso servo. O Senhor respondeu: Ele descerá.
12
E Davi ajuntou: Os habitantes de Ceila entregar-me-ão a mim e a meus homens, nas mãos de Saul? O Senhor respondeu: Entregarão.
13
Então Davi partiu precipitadamente com a sua tropa, em número de aproximadamente seiscentos homens, e saíram de Ceila, marchando ao acaso. Saul, informado de que Davi deixara Ceila, renunciou à expedição.

Davi no deserto

14 Davi permaneceu no deserto, em lugares bem protegidos, e habitou no monte do deserto de Zif. Saul procurava-o sem cessar; mas Deus não o entregou nas suas mãos.
15
Davi, sabendo que Saul tinha saído para tirar-lhe a vida, ficou no deserto de Zif, em Horcha.
16
Então Jônatas, filho de Saul, foi ter com ele em Horcha. E confortou-o em Deus, dizendo:
17
Não temas, porque não te atingirá a mão de meu pai. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o teu segundo; meu pai bem o sabe.
18
Fizeram ambos aliança diante do Senhor. Davi ficou em Horcha e Jônatas voltou para a sua casa.
19
Alguns zifeus subiram a ter com Saul em Gabaa, e disseram-lhe: Davi está escondido entre nós no fortim de Horcha, na colina de Haquila, à direita do deserto.
20
Desce, pois, ó rei, já que tanto o desejas, e nós nos encarregamos de entregá-lo nas tuas mãos.
21
Que o Senhor vos abençoe, respondeu Saul, porque vos compadecestes de mim.
22
Ide, informai-vos diligentemente, e procurai saber o lugar onde ele se encontra, ou se alguém o viu, porque me foi dito que ele é muito astuto!
23
Explorai e descobri todos os seus esconderijos, e voltai a mim com notícias seguras, a fim de eu ir convosco, pois se ele estiver na terra, eu o descobrirei entre a multidão de Judá.
24
Partiram antes de Saul para Zif; mas Davi e os seus estavam já no deserto de Maon, na planície ao sul do deserto.
25
Saul partiu com seus homens à sua procura. Mas Davi, informado disso, desceu à Rocha e permaneceu no deserto de Maon. Saul o soube e foi persegui-lo ali.
26
Saul ia por um flanco da montanha, e Davi com os seus pelo outro, em fuga precipitada para escapar de Saul. No momento, porém, em que Saul com seus homens iam apoderar-se de Davi e sua gente,
27
veio um mensageiro anunciar ao rei: Vem depressa; os filisteus entraram na terra.
28
Saul abandonou a perseguição e foi combater os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rocha da Separação.

Davi na gruta de Engadi

24 1 Subindo dali, veio Davi habitar nas alturas de Engadi.
2
Quando Saul voltou da perseguição aos filisteus, foi-lhe anunciado: Davi está no deserto de Engadi.


3 Tomou então Saul três mil israelitas de escol e foi em busca de Davi com sua gente nos rochedos dos Cabritos Monteses.
4
Chegando perto dos apriscos de ovelhas que havia ao longo do caminho, entrou Saul numa gruta para satisfazer suas necessidades. Ora, no fundo dessa mesma gruta se encontrava Davi com seus homens,
5
os quais disseram-lhe: Eis o dia anunciado pelo Senhor, que te prometeu entregar o teu inimigo à tua discrição. Davi, arrastando-se de mansinho, cortou furtivamente a ponta do manto de Saul.
6
E logo depois o seu coração bateu-lhe, porque tinha ousado fazer aquilo.
7
E disse aos seus homens: Deus me guarde de jamais cometer este crime, estendendo a mão contra o ungido do Senhor, meu senhor, pois ele é consagrado ao Senhor!
8
Davi conteve os seus homens com estas palavras e impediu que agredissem Saul. O rei levantou-se, deixou a gruta e prosseguiu o seu caminho.
9
Então Davi saiu por sua vez e bradou atrás de Saul: Ó rei, meu senhor! Saul voltou-se para ver, e Davi inclinou-se, prostrando-se até a terra.
10
E disse ao rei: Por que dás ouvidos aos que te dizem: Davi procura fazer-te mal?
11
Viste hoje com os teus olhos que o Senhor te entregou a mim na gruta. (Meus homens) insistiam comigo para que te matasse, mas eu te poupei, dizendo: Não levantarei a mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.
12
Olha, meu pai, vê a ponta de teu manto em minha mão. Se eu cortei este pano do teu manto e não te matei, reconhece que não há perversidade nem revolta em mim. Jamais pequei contra ti, e tu procuras matar-me.
13
Que o Senhor julgue entre mim e ti! O Senhor me vingará de ti, mas eu não levantarei minha mão contra ti.
14
O mal vem dos malvados, como diz o provérbio; por isso não te tocará a minha mão.
15
Afinal, contra quem saiu o rei de Israel? A quem persegues? Um cão morto! Uma pulga!
16
Pois bem! O Senhor julgará e pronunciará entre mim e ti. Que ele olhe e defenda a minha causa, fazendo-me justiça contra ti!
17
Acabando Davi de falar, Saul disse-lhe: É esta a tua voz, ó meu filho Davi? E pôs-se a chorar.
18
Tu és mais justo do que eu, replicou ele; fizeste-me bem pelo mal que te fiz.
19
Provaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor tinha-me entregue a ti e não me mataste.
20
Qual é o homem que, encontrando o seu inimigo, o deixa ir embora tranqüilamente? Que o Senhor te recompense o que hoje me deste!
21
Agora eu sei que serás rei, e que nas tuas mãos será firmada a realeza.


22 Jura-me pelo Senhor que não eliminarás a minha posteridade, nem apagarás o meu nome da casa de meu pai.
23
Davi jurou-lho. Depois disso, Saul voltou para a sua casa e Davi com a sua gente voltaram ao seu refúgio.

Morte de Samuel

25 1 Samuel morreu. Todo o Israel se juntou para chorá-lo. Sepultaram-no na sua propriedade em Ramá. E Davi retirou-se para o deserto de Farã.

Davi, Nabal e Abigail

2 Havia um homem em Maon cujas propriedades estavam em Carmelo. Era um homem muito rico: possuía três mil ovelhas e mil cabras. Ele encontrava-se então em Carmelo para a tosquia de suas ovelhas.
3
Chamava-se Nabal, e sua esposa Abigail, mulher de grande inteligência e formosura. Ele, porém, era grosseiro e mau; descendia de Caleb.
4
Davi, no deserto, sabendo que Nabal tosquiava o seu rebanho,
5
mandou-lhe dez homens com esta ordem: Subi a Carmelo e dirigi-vos a Nabal,
6
saudando-o em meu nome e dizendo-lhe: Pela vida! A paz seja contigo! Paz à tua casa e paz a todos os teus bens!
7
Soube que há tosquia em tua casa. Ora, os teus pastores estiveram perto de nós e nunca lhes fizemos mal algum. Nada lhes faltou durante todo o tempo que ficaram em Carmelo.
8
Pergunta-o aos teus servos e eles to dirão. Que os meus encontrem agora graça aos teus olhos, porque chegamos em um dia de festa. Rogo-te que dês aos teus servos e ao teu filho Davi o que tiveres à mão.
9
Os homens de Davi foram e repetiram a Nabal todas estas palavras em nome de Davi, e ficaram esperando.
10
Nabal, porém, respondeu-lhes: Quem é Davi? E quem é o filho de Isaí? Há hoje muitos escravos que fogem da casa de seus senhores!
11
Irei eu tomar meu pão, minha água e a carne que preparei para os meus tosquiadores, e dá-los a homens que vêm não se sabe de onde?
12
Os servos de Davi retomaram o caminho e voltaram. Ao chegarem, contaram tudo ao seu senhor.
13
Então disse Davi aos seus homens: Cinja cada um a sua espada! Todos o fizeram, inclusive Davi. Cerca de quatrocentos homens seguiram Davi, ficando duzentos com as bagagens.
14
Mas Abigail, mulher de Nabal, fora informada por um dos servos de seu marido: Davi mandou, do deserto, mensageiros para saudar o nosso amo, mas ele os recebeu mal.
15
No entanto, esses homens nos trataram sempre muito bem, e jamais nos fizeram mal algum, nem nos causaram prejuízo durante todo o tempo que estivemos com eles no campo.
16
Pelo contrário, serviram-nos de defesa, dia e noite, durante todo o tempo em que estivemos com eles apascentando os rebanhos.
17
Vê, pois, o que tens a fazer, porque nosso amo e toda a sua casa está ameaçada de ruína, e ele é um malvado com quem não se pode falar.
18
Apressou-se então Abigail, e tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco cordeiros preparados, cinco medidas de grão torrado, cem tortas de uvas secas, duzentas de figos secos, colocando tudo em cima de jumentos.
19
E disse aos seus servos: Ide adiante de mim; eu vos seguirei. Mas não disse nada a Nabal, seu marido.
20
Quando descia por um caminho secreto da montanha, montada num jumento, encontrou Davi com os seus homens que vinham em sentido inverso.
21
Ora, Davi dissera: Em vão, pois, guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe fosse tirada coisa alguma! E ele paga-me o bem com o mal.
22
Deus trate com todo o seu rigor os inimigos de Davi! E que ele não me poupe, se de hoje até amanhã eu deixar vivo um só homem de tudo o que pertence a Nabal!
23
Quando Abigail avistou Davi, desceu prontamente do jumento e prostrou-se com o rosto por terra diante dele.
24
Assim prostrada aos seus pés, disse-lhe: Sobre mim, meu senhor, caia a culpa! Deixa falar a tua serva e ouve suas palavras.
25
Que o meu senhor não faça caso desse malvado Nabal, pois ele é bem o que o seu nome indica: Nabal, louco; e ele o é. Mas eu, tua escrava, não vi os homens que o meu senhor mandou.
26
Agora, por Deus e por tua vida: foi o Senhor quem te impediu de derramar sangue e de te vingar por tua mão. Sejam como Nabal os teus inimigos e os que procuram fazer mal ao meu senhor.
27
Aceita, pois, este presente que tua serva trouxe ao meu senhor, e reparte-o entre os homens que te seguem.
28
Rogo-te que perdoes a culpa de tua serva. Certamente o Senhor dará à casa de meu senhor uma existência durável, porque o meu senhor combate nas guerras de Deus, e nenhum mal te atingirá em todos os dias de tua vida.
29
Se alguém te perseguir ou conspirar contra a tua vida, a alma de meu senhor será guardada no escrínio dos vivos junto do Senhor, teu Deus, enquanto a vida de teus inimigos será lançada pelo Senhor ao longe, como a pedra de uma funda.
30
Quando o Senhor tiver feito ao meu senhor todo o bem que lhe prometeu, e te tiver estabelecido chefe sobre Israel,
31
não terás no coração este pesar, nem este remorso de ter derramado sangue sem motivo e de se ter vingado por si mesmo! Quando o Senhor te tiver feito bem, ó meu Senhor, lembra-te de tua serva.
32
Davi respondeu a Abigail: Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou hoje ao meu encontro!
33
Bendita seja a tua prudência! E bendita sejas tu mesma, que me impediste hoje de derramar sangue e vingar-me pela minha mão!
34
Mas, pelo Senhor, Deus de Israel, que me impediu de te fazer mal, se não tivesses vindo tão depressa ao meu encontro, nada teria ficado de Nabal até amanhã cedo, nem mesmo o último homem!
35
Davi aceitou o que lhe trazia Abigail e ajuntou: Volta em paz para a tua casa. Vê que te ouvi e te fiz boa acolhida.
36
Quando Abigail chegou à casa de Nabal, havia em sua casa um grande banquete, um verdadeiro festim de rei. Nabal tinha o coração alegre e estava completamente ébrio. Por isso nada lhe disse, nem pouco nem muito, até ao amanhecer.
37
Mas pela manhã, tendo Nabal curtido o seu vinho, sua mulher contou-lhe tudo. Seu coração gelou-se no peito e ele tornou-se como uma pedra.
38
Dez dias depois Nabal, ferido pelo Senhor, morreu.
39
Tendo Davi notícia da morte de Nabal, exclamou: Bendito seja o Senhor que me fez justiça do ultraje recebido de sua mão, e impediu-me de fazer-lhe mal! O Senhor fez cair sobre sua cabeça a sua própria maldade! Depois disso Davi mandou propor a Abigail tornar-se sua mulher.
40
Seus servos, chegando a Carmelo, disseram-lhe: Davi mandou-nos a ti, porque deseja tomar-te por mulher.
41
Levantou-se então Abigail e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: Eis a tua serva, que será uma escrava para lavar os pés dos servos de meu Senhor.
42
Levantou-se depressa, montou num jumento e, seguida de cinco moças, partiu com os enviados de Davi para tornar-se sua mulher.
43
Davi desposara também Aquinoã, de Jezrael, e ambas foram suas mulheres.
44
Quanto à sua mulher Micol, filha de Saul, este a tinha dado por esposa a Falti, de Galim, filho de Lais.

Magnanimidade de Davi para com Saul

26 1 Vieram os zifeus novamente ter com Saul, em Gabaa, e disseram-lhe: Davi está escondido na colina de Haquila, a oriente do deserto.


2 Saul desceu ao deserto de Zif com três mil homens de escol, de Israel, para ir em busca de Davi.


3 Acampou na colina de Haquila, a oriente do deserto, à beira do caminho. Davi, porém, que habitava no deserto, vendo que Saul o tinha seguido até ali,
4
mandou espiões e soube com certeza que ele tinha chegado.
5
Levantou-se então e foi ao lugar onde Saul estava acampado, chegando mesmo a descobrir o lugar onde o rei se deitava ao lado de Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. Saul dormia no acampamento, rodeado de toda a sua gente.
6
Davi disse então a Aquimelec, o hiteu, e a Abisaí, filho de Sarvia e irmão de Joab: Quem quer descer comigo ao acampamento de Saul? Eu, respondeu Abisaí, irei contigo.


7 Davi e Abisaí penetraram, pois, durante a noite no meio das tropas. Saul dormia no acampamento, tendo a sua lança cravada no chão ao lado de sua cabeceira. Abner e sua gente dormiam ao redor dele.
8
Abisaí disse a Davi: Deus entregou hoje em tuas mãos o teu inimigo; deixa-me cravá-lo por terra de um só golpe de lança, sem precisar de um segundo golpe.
9
Não o mates, respondeu Davi. Quem poderia impunemente estender a mão contra o ungido do Senhor?


10 E ajuntou: Por Deus! É o Senhor quem o há de ferir, seja que, chegando o seu dia, morra, seja que pereça em batalha.
11
Deus me livre de levantar a minha mão contra o ungido do Senhor! Agora, toma a lança que está à sua cabeceira com a bilha de água e vamo-nos.


12 Apanhou Davi a lança e a bilha de água que estavam à cabeceira de Saul e foram-se, sem que ninguém os tivesse visto, ou os advertisse mesmo de leve; mas todos dormiam, porque o Senhor os tinha sepultado em um profundo sono.
13
Davi passou para o outro lado e parou ao longe, no cimo do monte, separando-os uma grande distância.


14 Então bradou aos soldados de Saul e a Abner, filho de Ner: Não respondes, Abner? Quem és tu, replicou Abner, que gritas assim para o rei?
15
Davi disse a Abner: Afinal, não és tu um homem? Quem é igual a ti em Israel? Por que não guardas o rei, teu senhor, tendo entrado alguém aí para matá-lo?
16
Não é bonito o que fizeste. Por Deus! Mereceis a morte, porque não velastes sobre o vosso senhor, o ungido do Senhor! Olha um pouco onde estão a lança do rei e a bilha de água que estavam junto à sua cabeceira!
17
Reconheceu Saul a voz de Davi e disse: É tua esta voz, ó meu filho Davi? Davi respondeu: Sim, ó rei, meu senhor.
18
E ajuntou: Por que o meu senhor persegue o seu servo? Que fiz eu? Que crime cometi?
19
Que o rei, meu senhor, digne-se ouvir as palavras do seu servo: se é o Senhor quem te excita contra mim, receba ele o perfume de uma oferenda! Mas, se são homens, sejam eles malditos diante do Senhor; porque me expulsam para tirar minha parte da herança do Senhor! E dizem-me: vai servir a deuses estranhos!
20
Oh! Não corra o meu sangue sobre a terra longe da face do Senhor! O rei de Israel pôs-se em campanha contra uma pulga, como se persegue nos montes uma perdiz!
21
Saul disse: Fiz mal! Volta, meu filho Davi; não te farei mais mal algum, pois que neste dia respeitaste a minha vida. Procedi nesciamente; cometi um grandíssimo pecado.


22 Davi respondeu: Eis aqui a lança do rei: venha um de teus homens buscá-la!
23
O Senhor recompensará a cada um segundo a sua justiça e fidelidade. Ele te havia entregue hoje em meu poder, mas não quis estender a minha mão contra o seu ungido.


24 E assim como a tua vida foi preciosa diante de mim, assim seja a minha aos olhos do Senhor, e ele me salvará de toda a tribulação.
25
Saul disse a Davi: Bendito sejas, meu filho Davi! Tu triunfarás seguramente em todas as tuas empresas! Davi retomou o seu caminho e Saul voltou para a sua casa.

Davi em Siceleg

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1Samuel (SAV) 18