Salmi (SAV) 25

Justificação do inocente

25 1 De Davi. Fazei-me justiça, Senhor, pois tenho andado retamente e, confiando em vós, não vacilei.
2
Sondai-me, Senhor, e provai-me; escrutai meus rins e meu coração.
3
Tenho sempre diante dos olhos vossa bondade, e caminho na vossa verdade.
4
Entre os homens iníquos não me assento, nem me associo aos trapaceiros.
5
Detesto a companhia dos malfeitores, com os ímpios não me junto.
6
Na inocência lavo as minhas mãos, e conservo-me junto de vosso altar, Senhor,
7
para publicamente anunciar vossos louvores, e proclamar todas as vossas maravilhas.
8
Senhor, amo a habitação de vossa casa, e o tabernáculo onde reside a vossa glória.
9
Não leveis a minha alma com a dos pecadores, nem me tireis a vida com a dos sanguinários,
10
cujas mãos são criminosas, e cuja destra está cheia de subornos.
11
Eu, porém, procedo com retidão. Livrai-me e sede-me propício.
12
Meu pé está firme no caminho reto; nas assembléias, bendirei ao Senhor.

Jubilosa esperança em Deus

26 1 De Davi. O Senhor é minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é o protetor de minha vida, de quem terei medo?
2
Quando os malvados me atacam para me devorar vivo, são eles, meus adversários e inimigos, que resvalam e caem.
3
Se todo um exército se acampar contra mim, não temerá meu coração. Se se travar contra mim uma batalha, mesmo assim terei confiança.
4
Uma só coisa peço ao Senhor e a peço incessantemente: é habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida, para admirar aí a beleza do Senhor e contemplar o seu santuário.
5
Assim, no dia mau ele me esconderá na sua tenda, ocultar-me-á no recôndito de seu tabernáculo, sobre um rochedo me erguerá.
6
Mas desde agora ele levanta a minha cabeça acima dos inimigos que me cercam; e oferecerei no tabernáculo sacrifícios de regozijo, com cantos e louvores ao Senhor.
7
Escutai, Senhor, a voz de minha oração, tende piedade de mim e ouvi-me.
8
Fala-vos meu coração, minha face vos busca; a vossa face, ó Senhor, eu a procuro.
9
Não escondais de mim vosso semblante, não afasteis com ira o vosso servo. Vós sois o meu amparo, não me rejeiteis. Nem me abandoneis, ó Deus, meu Salvador.
10
Se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá.
11
Ensinai-me, Senhor, vosso caminho; por causa dos adversários, guiai-me pela senda reta.
12
Não me abandoneis à mercê dos inimigos, contra mim se ergueram violentos e falsos testemunhos.
13
Sei que verei os benefícios do Senhor na terra dos vivos!
14
Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor!

Pedido de socorro e de justiça

27 1 De Davi. É para vós, Senhor, que ergo meu clamor. Ó meu apoio, não fiqueis surdo à minha voz; não suceda que, vós não me ouvindo, eu me vá unir aos que desceram para o túmulo.
2
Ouvi a voz de minha súplica quando clamo, quando levanto as mãos para o vosso templo santo.
3
Não me deixeis perecer com os pecadores e com os que praticam a iniqüidade, que dizem ao próximo palavras de paz, mas guardam a maldade no coração.
4
Tratai-os de acordo com as suas ações, e conforme a malícia de seus crimes. Retribuí-lhes segundo a obra de suas mãos; dai-lhes o que merecem,
5
pois não atendem às ações do Senhor nem às obras de suas mãos. Que Ele os abata e não os levante.
6
Bendito seja o Senhor, que ouviu a voz de minha súplica; nele confiou meu coração e fui socorrido.
7
O Senhor é a minha força e o meu escudo! Por isso meu coração exulta e o louvo com meu cântico.
8
O Senhor é a força do seu povo, uma fortaleza de salvação para o que lhe é consagrado.
9
Salvai, Senhor, vosso povo e abençoai a vossa herança; sede seu pastor, levai-o nos braços eternamente.

A voz de Deus na tempesdade

28 1 Salmo de Davi. Tributai ao Senhor, ó filhos de Deus, tributai ao Senhor glória e poder!
2
Rendei-lhe a glória devida ao seu nome; adorai o Senhor com ornamentos sagrados.
3
Ouve-se a voz do Senhor sobre as águas! O Deus de grandeza atroou: o Senhor trovejou sobre as águas imensas!
4
A voz do Senhor faz-se ouvir com poder! A voz do Senhor faz-se ouvir com majestade!
5
Fendem-se os cedros à voz do Senhor, quebra o Senhor os cedros do Líbano.
6
Faz saltar o Líbano como um novilho, e o Sarion como um búfalo novo.
7
A voz do Senhor despede relâmpagos,
8
A voz do Senhor abala o deserto. O Senhor faz tremer o deserto de Cades.
9
A voz do Senhor retorce os carvalhos, desnuda as florestas. E em seu templo todos bradam: glória!
10
O Senhor preside ao dilúvio, o Senhor trona como rei para sempre.
11
O Senhor há de dar fortaleza ao seu povo! O Senhor abençoará o seu povo, dando-lhe a paz!

Após um grande perigo

29 1 Salmo. Cântico para a dedicação da casa de Deus. De Davi.
2
Eu vos exaltarei, Senhor, porque me livrastes, não permitistes que exultassem sobre mim meus inimigos.
3
Senhor, meu Deus, clamei a vós e fui curado.
4
Senhor, minha alma foi tirada por vós da habitação dos mortos; dentre os que descem para o túmulo, vós me salvastes.
5
Ó vós, fiéis do Senhor, cantai sua glória, dai graças ao seu santo nome.
6
Porque a sua indignação dura apenas um momento, enquanto sua benevolência é para toda a vida. Pela tarde, vem o pranto, mas, de manhã, volta a alegria.
7
Eu, porém, disse, seguro de mim: Não serei jamais abalado.
8
Senhor, foi por favor que me destes honra e poder, mas quando escondestes vossa face fiquei aterrado.
9
A vós, Senhor, eu clamo, e imploro a misericórdia de meu Deus.
10
Que proveito vos resultará de retomar-me a vida, de minha descida ao túmulo? Porventura vos louvará o meu pó? Apregoará ele a vossa fidelidade?
11
Ouvi-me, Senhor, e tende piedade de mim; Senhor, vinde em minha ajuda.
12
Vós convertestes o meu pranto em prazer, tirastes minhas vestes de penitência e me cingistes de alegria.
13
Assim, minha alma vos louvará sem calar jamais. Senhor, meu Deus, eu vos bendirei eternamente.

Premente apelo na aflição

30 1 Ao mestre de canto. Salmo de Davi.
2
Junto de vós, Senhor, me refugio. Não seja eu confundido para sempre; por vossa justiça, livrai-me!
3
Inclinai para mim vossos ouvidos, apressai-vos em me libertar. Sede para mim uma rocha de refúgio, uma fortaleza bem armada para me salvar.
4
Pois só vós sois minha rocha e fortaleza: haveis de me guiar e dirigir, por amor de vosso nome.
5
Vós me livrareis das ciladas que me armaram, porque sois minha defesa.
6
Em vossas mãos entrego meu espírito; livrai-me, ó Senhor, Deus fiel.
7
Detestais os que adoram ídolos vãos. Eu, porém, confio no Senhor.
8
Exultarei e me alegrarei pela vossa compaixão, porque olhastes para minha miséria e ajudastes minha alma angustiada.
9
Não me entregastes às mãos do inimigo, mas alargastes o caminho sob meus pés.
10
Tende piedade de mim, Senhor, porque vivo atribulado, de tristeza definham meus olhos, minha alma e minhas entranhas.
11
Realmente, minha vida se consome em amargura, e meus anos em gemidos. Minhas forças se esgotaram na aflição, mirraram-se os meus ossos.
12
Tornei-me objeto de opróbrio para todos os inimigos, ludíbrio dos vizinhos e pavor dos conhecidos. Fogem de mim os que me vêem na rua.
13
Fui esquecido dos corações como um morto, fiquei rejeitado como um vaso partido.
14
Sim, eu ouvi o vozerio da multidão; em toda parte, o terror! Conspirando contra mim, tramam como me tirar a vida.
15
Mas eu, Senhor, em vós confio. Digo: Sois vós o meu Deus.
16
Meu destino está nas vossas mãos. Livrai-me do poder de meus inimigos e perseguidores.
17
Mostrai semblante sereno ao vosso servo, salvai-me pela vossa misericórdia.
18
Senhor, não fique eu envergonhado, porque vos invoquei: Confundidos sejam os ímpios e, mudos, lançados na região dos mortos.
19
Fazei calar os lábios mentirosos que falam contra o justo com insolência, desprezo e arrogância.
20
Quão grande é, Senhor, vossa bondade, que reservastes para os que vos temem e com que tratais aos que se refugiam em vós, aos olhos de todos.
21
Sob a proteção de vossa face os defendeis contra as conspirações dos homens. Vós os ocultais em vossa tenda contra as línguas maldizentes.
22
Bendito seja o Senhor, que usou de maravilhosa bondade, abrigando-me em cidade fortificada.
23
Eu, porém, tinha dito no meu temor: Fui rejeitado de vossa presença. Mas ouvistes antes o brado de minhas súplicas, quando clamava a vós.
24
Amai o Senhor todos os seus servos! Ele protege os que lhe são fiéis. Sabe, porém, retribuir, castigando com rigor aos que procedem com soberba.
25
Animai-vos e sede fortes de coração todos vós, que esperais no Senhor.

A felicidade do perdão

31 1 De Davi. Hino. Feliz aquele cuja iniqüidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido.
2
Feliz o homem a quem o Senhor não argúi de falta, e em cujo coração não há dolo.
3
Enquanto me conservei calado, mirraram-se-me os ossos, entre contínuos gemidos.
4
Pois, dia e noite, vossa mão pesava sobre mim; esgotavam-se-me as forças como nos ardores do verão.
5
Então eu vos confessei o meu pecado, e não mais dissimulei a minha culpa. Disse: Sim, vou confessar ao Senhor a minha iniqüidade. E vós perdoastes a pena do meu pecado.
6
Assim também todo fiel recorrerá a vós, no momento da necessidade. Quando transbordarem muitas águas, elas não chegarão até ele.
7
Vós sois meu asilo, das angústias me preservareis e me envolvereis na alegria de minha salvação.
8
Vou te ensinar, dizeis, vou te mostrar o caminho que deves seguir; vou te instruir, fitando em ti os meus olhos:
9
não queiras ser sem inteligência como o cavalo, como o muar, que só ao freio e à rédea submetem seus ímpetos; de outro modo não se chegam a ti.
10
São muitos os sofrimentos do ímpio. Mas quem espera no Senhor, sua misericórdia o envolve.
11
Ó justos, alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor. Exultai todos vós, retos de coração.

Bondade e providência divinas

32 1 Exultai no Senhor, ó justos, pois aos retos convém o louvor.
2
Celebrai o Senhor com a cítara, entoai-lhe hinos na harpa de dez cordas.
3
Cantai-lhe um cântico novo, acompanhado de instrumentos de música,
4
porque a palavra do Senhor é reta, em todas as suas obras resplandece a fidelidade:
5
ele ama a justiça e o direito, da bondade do Senhor está cheia a terra.
6
Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e pelo sopro de sua boca todo o seu exército.
7
Ele junta as águas do mar como num odre, e em reservatórios encerra as ondas.
8
Tema ao Senhor toda a terra; reverenciem-no todos os habitantes do globo.
9
Porque ele disse e tudo foi feito, ele ordenou e tudo existiu.
10
O Senhor desfaz os planos das nações pagãs, reduz a nada os projetos dos povos.
11
Só os desígnios do Senhor permanecem eternamente e os pensamentos de seu coração por todas as gerações.
12
Feliz a nação que tem o Senhor por seu Deus, e o povo que ele escolheu para sua herança.
13
O Senhor olha dos céus, vê todos os filhos dos homens.
14
Do alto de sua morada observa todos os habitantes da terra,
15
ele que formou o coração de cada um e está atento a cada uma de suas ações.
16
Não vence o rei pelo numeroso exército, nem se livra o guerreiro pela grande força.
17
O cavalo não é penhor de vitória, nem salva pela sua resistência.
18
Eis os olhos do Senhor pousados sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua bondade,
19
a fim de livrar-lhes a alma da morte e nutri-los no tempo da fome.
20
Nossa alma espera no Senhor, porque ele é nosso amparo e nosso escudo.
21
Nele, pois, se alegra o nosso coração, em seu santo nome confiamos.
22
Seja-nos manifestada, Senhor, a vossa misericórdia, como a esperamos de vós.

Ação de graças pela libertação recebida

33 1 De Davi. Quando simulou alienação na presença de Abimelec e, despedido por ele, partiu.
2
Bendirei continuamente ao Senhor, seu louvor não deixará meus lábios.
3
Glorie-se a minha alma no Senhor; ouçam-me os humildes, e se alegrem.
4
Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o seu nome.
5
Procurei o Senhor e ele me atendeu, livrou-me de todos os temores.
6
Olhai para ele a fim de vos alegrardes, e não se cobrir de vergonha o vosso rosto.
7
Vede, este miserável clamou e o Senhor o ouviu, de todas as angústias o livrou.
8
O anjo do Senhor acampa em redor dos que o temem, e os salva.
9
Provai e vede como o Senhor é bom, feliz o homem que se refugia junto dele.
10
Reverenciai o Senhor, vós, seus fiéis, porque nada falta àqueles que o temem.
11
Os poderosos empobrecem e passam fome, mas aos que buscam o Senhor nada lhes falta.
12
Vinde, meus filhos, ouvi-me: eu vos ensinarei o temor do Senhor.
13
Qual é o homem que ama a vida, e deseja longos dias para gozar de felicidade?
14
Guarda tua língua do mal, e teus lábios das palavras enganosas.
15
Aparta-te do mal e faze o bem, busca a paz e vai ao seu encalço.
16
Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus ouvidos atentos aos seus clamores.
17
O Senhor volta a sua face irritada contra os que fazem o mal, para apagar da terra a lembrança deles.
18
Apenas clamaram os justos, o Senhor os atendeu e os livrou de todas as suas angústias.
19
O Senhor está perto dos contritos de coração, e salva os que têm o espírito abatido.
20
São numerosas as tribulações do justo, mas de todas o livra o Senhor.
21
Ele protege cada um de seus ossos, nem um só deles será quebrado.
22
A malícia do ímpio o leva à morte, e os que odeiam o justo serão castigados.
23
O Senhor livra a alma de seus servos; não será punido quem a ele se acolhe.

Contra os perseguidores do justo

34 1 De Davi. Lutai, Senhor, contra os que me atacam; combatei meus adversários.
2
Empunhai o broquel e o escudo, e erguei-vos em meu socorro.
3
Brandi a lança e sustai meus perseguidores. Dizei à minha alma: Eu sou a tua salvação.
4
Sejam confundidos e envergonhados os que odeiam a minha vida, recuem humilhados os que tramam minha desgraça.
5
Sejam como a palha levada pelo vento, quando o anjo do Senhor vier acossá-los.
6
Torne-se tenebroso e escorregadio o seu caminho, quando o anjo do Senhor vier persegui-los,
7
porquanto sem razão me armaram laços; para me perder, cavaram um fosso sem motivo.
8
Venha sobre eles de improviso a ruína; apanhe-os a rede por eles mesmos preparada, caiam eles próprios na cova que abriram.
9
Então a minha alma exultará no Senhor, e se alegrará pelo seu auxílio.
10
Todas as minhas potências dirão: Senhor, quem é semelhante a vós? Vós que livrais o desvalido do opressor, o mísero e o pobre de quem os despoja.
11
Surgiram apaixonadas testemunhas, interrogaram-me sobre faltas que ignoro,
12
pagaram-me o bem com o mal. Oh, desolação para a minha alma!
13
Contudo, quando eles adoeciam, eu me revestia de saco, extenuava-me em jejuns e rezava.
14
Andava triste, como se tivesse perdido um amigo, um irmão; abatido, me vergava como quem chora por sua mãe.
15
Quando tropecei, eles se reuniram para se alegrar; eles me dilaceraram sem parar.
16
Puseram-me à prova, escarneceram de mim, rangeram os dentes contra mim.
17
Senhor, até quando assistireis impassível a este espetáculo? Arrancai desses leões a minha vida, livrai-me a alma de seus rugidos.
18
Vou render-vos graças publicamente, eu vos louvarei na presença da multidão.
19
Não se regozijem de mim meus pérfidos inimigos, nem tramem com os olhos os que me odeiam sem motivo,
20
pois nunca têm palavras de paz: e armam ciladas contra a gente tranqüila da terra,
21
escancaram para mim a boca, dizendo: Ah! Ah! Com os nossos olhos, nós o vimos!
22
Vós também, Senhor, vistes! Não guardeis silêncio. Senhor, não vos aparteis de mim.
23
Acordai e levantai-vos para me defender, ó meu Deus e Senhor meu, em prol de minha causa!
24
Julgai-me, Senhor, segundo vossa justiça. Ó meu Deus, que não se regozijem à minha custa!
25
Não pensem em seus corações: Ah, tivemos sorte! Não digam: Nós o devoramos!
26
Sejam confundidos todos juntos e se envergonhem os que se alegram com meus males, cubram-se de pejo e ignomínia os que se levantam orgulhosamente contra mim.
27
Mas exultem e se alegrem os favoráveis à minha causa e digam sem cessar: Glorificado seja o Senhor, que quis a salvação de seu servo!
28
E a minha língua proclamará vossa justiça, dando-vos perpétuos louvores.

Justiça e providência divinas

35 1 Ao mestre de canto. De Davi, servo do Senhor.
2
A iniqüidade fala ao ímpio no seu coração; não existe o temor a Deus ante os seus olhos,
3
porque ele se gloria de que sua culpa não será descoberta nem detestada por ninguém.
4
Suas palavras são más e enganosas; renunciou a proceder sabiamente e a fazer o bem.
5
Em seu leito ele medita o crime, anda pelo mau caminho, não detesta o mal.
6
Senhor, vossa bondade chega até os céus, vossa fidelidade se eleva até as nuvens.
7
Vossa justiça é semelhante às montanhas de Deus, vossos juízos são profundos como o mar. Vós protegeis, Senhor, os homens como os animais.
8
Como é preciosa a vossa bondade, ó Deus! À sombra de vossas asas se refugiam os filhos dos homens.
9
Eles se saciam da abundância de vossa casa, e lhes dais de beber das torrentes de vossas delícias,
10
porque em vós está a fonte da vida, e é na vossa luz que vemos a luz.
11
Continuai a dar vossa bondade aos que vos honram, e a vossa justiça aos retos de coração.
12
Não me calque o pé do orgulhoso, não me faça fugir a mão do pecador.
13
Eis que caíram os fautores da iniqüidade, foram prostrados para não mais se erguer.

A certeza da felicidade dos justos

36 1 De Davi. Não te irrites por causa dos que agem mal, nem invejes os que praticam a iniqüidade,
2
pois logo eles serão ceifados como a erva dos campos, e como a erva verde murcharão.
3
Espera no Senhor e faze o bem; habitarás a terra em plena segurança.
4
Põe tuas delícias no Senhor, e os desejos do teu coração ele atenderá.
5
Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá.
6
Como a luz, fará brilhar a tua justiça; e como o sol do meio-dia, o teu direito.
7
Em silêncio, abandona-te ao Senhor, põe tua esperança nele. Não invejes o que prospera em suas empresas, e leva a bom termo seus maus desígnios.
8
Guarda-te da ira, depõe o furor, não te exasperes, que será um mal,
9
porque os maus serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a terra.
10
Mais um pouco e não existirá o ímpio; se olhares o seu lugar, não o acharás.
11
Quanto aos mansos, possuirão a terra, e nela gozarão de imensa paz.
12
O ímpio conspira contra o justo, e para ele range os seus dentes.
13
Mas o Senhor se ri dele, porque vê o destino que o espera.
14
Os maus empunham a espada e retesam o arco, para abater o pobre e miserável e liquidar os que vão no caminho reto.
15
Sua espada, porém, lhes traspassará o coração, e seus arcos serão partidos.
16
O pouco que o justo possui vale mais que a opulência dos ímpios;
17
porque os braços dos ímpios serão quebrados, mas os justos o Senhor sustenta.
18
O Senhor vela pela vida dos íntegros, e a herança deles será eterna.
19
Não serão confundidos no tempo da desgraça e nos dias de fome serão saciados.
20
Porém, os ímpios perecerão e os inimigos do Senhor fenecerão como o verde dos prados; desaparecerão como a fumaça.
21
O ímpio pede emprestado e não paga, enquanto o justo se compadece e dá,
22
porque aqueles que o Senhor abençoa possuirão a terra, mas os que ele amaldiçoa serão destruídos.
23
O Senhor torna firmes os passos do homem e aprova os seus caminhos.
24
Ainda que caia, não ficará prostrado, porque o Senhor o sustenta pela mão.
25
Fui jovem e já sou velho, mas jamais vi o justo abandonado, nem seus filhos a mendigar o pão.
26
Todos os dias empresta misericordiosamente, e abençoada é a sua posteridade.
27
Aparta-te do mal e faze o bem, para que permaneças para sempre,
28
porque o Senhor ama a justiça e não abandona os seus fiéis. Os ímpios serão destruídos, e a raça dos ímpios exterminada.
29
Os justos possuirão a terra, e a habitarão eternamente.
30
A boca do justo fala sabedoria e a sua língua exprime a justiça.
31
Em seu coração está gravada a lei de Deus; não vacilam os seus passos.
32
O ímpio espreita o justo, e procura como fazê-lo perecer.
33
Mas o Senhor não o abandonará em suas mãos e, quando for julgado, não o condenará.
34
Põe tu confiança no Senhor, e segue os seus caminhos. Ele te exaltará e possuirás a terra; a queda dos ímpios verás com alegria.
35
Vi o ímpio cheio de arrogância, a expandir-se com um cedro frondoso.
36
Apenas passei e já não existia; procurei-o por toda a parte e nem traço dele encontrei.
37
Observa o homem de bem, considera o justo, pois há prosperidade para o pacífico.
38
Os pecadores serão exterminados, a geração dos ímpios será extirpada.
39
Vem do Senhor a salvação dos justos, que é seu refúgio no tempo da provocação.
40
O Senhor os ajuda e liberta; arranca-os dos ímpios e os salva, porque se refugiam nele.

Punição e penitência

37 1 Salmo de Davi. Para servir de lembrança.
2
Senhor, em vossa cólera não me repreendais, em vosso furor não me castigueis,
3
porque as vossas flechas me atingiram, e desceu sobre mim a vossa mão.
4
Vossa cólera nada poupou em minha carne, por causa de meu pecado nada há de intacto nos meus ossos.
5
Porque minhas culpas se elevaram acima de minha cabeça, como pesado fardo me oprimem em demasia.
6
São fétidas e purulentas as chagas que a minha loucura me causou.
7
Estou abatido, extremamente recurvado, todo o dia ando cheio de tristeza.
8
Inteiramente inflamados os meus rins; não há parte sã em minha carne.
9
Ao extremo enfraquecido e alquebrado, agitado o coração, lanço gritos lancinantes.
10
Senhor, diante de vós estão todos os meus desejos, e meu gemido não vos é oculto.
11
Palpita-me o coração, abandonam-me as forças, e me falta a própria luz dos olhos.
12
Amigos e companheiros fogem de minha chaga, e meus parentes permanecem longe.
13
Os que odeiam a minha vida, armam-me ciladas; os que me procuram perder, ameaçam-me de morte; não cessam de planejar traições.
14
Eu, porém, sou como um surdo: não ouço; sou como um mudo que não abre os lábios.
15
Fiz-me como um homem que não ouve, e que não tem na boca réplicas a dar.
16
Porque é em vós, Senhor, que eu espero; vós me atendereis, Senhor, ó meu Deus.
17
Eis meu desejo: Não se alegrem com minha perda; não se ensoberbeçam contra mim, quando meu pé resvala;
18
pois estou prestes a cair, e minha dor é permanente.
19
Sim, minha culpa eu a confesso, meu pecado me atormenta.
20
Entretanto, são vigorosos e fortes os meus inimigos, e muitos os que me odeiam sem razão.
21
Retribuem-me o mal pelo bem, hostilizam-me porque quero fazer o bem.
22
Não me abandoneis, Senhor. Ó meu Deus, não fiqueis longe de mim.
23
Depressa, vinde em meu auxílio, Senhor, minha salvação!

Brevidade da vida
38 1 Ao mestre de canto, a Iditum. Salmo de Davi.
2
Disse comigo mesmo: Velarei sobre os meus atos, para não mais pecar com a língua. Porei um freio em meus lábios, enquanto o ímpio estiver diante de mim.
3
Fiquei mudo, mas sem resultado, porque minha dor recrudesceu.
4
Meu coração se abrasava dentro de mim, meu pensamento se acendia como um fogo, então eu me pus a falar:
5
Fazei-me conhecer, Senhor, o meu fim, e o número de meus dias, para que eu veja como sou efêmero.
6
A largura da mão: eis a medida de meus dias, diante de vós minha vida é como um nada; todo homem não é mais que um sopro.
7
De fato, o homem passa como uma sombra, é em vão que ele se agita; amontoa, sem saber quem recolherá.
8
E agora, Senhor, que posso esperar? Minha confiança está em vós.
9
Livrai-me de todas as faltas, não me abandoneis ao riso dos insensatos.
10
Calei-me, já não abro a boca, porque sois vós que operais.
11
Afastai de mim esse flagelo, pois sucumbo ao rigor de vossa mão.
12
Quando punis o homem, fazendo-lhe sentir a sua culpa, consumis, como o faria a traça, o que ele tem de mais caro. Verdadeiramente, apenas um sopro é o homem.
13
Ouvi, Senhor, a minha oração, escutai os meus clamores, não fiqueis insensível às minhas lágrimas. Diante de vós não sou mais que um viajor, um peregrino, como foram os meus pais.
14
Afastai de mim a vossa ira para que eu tome alento, antes que me vá para não mais voltar.

Ação de graças e súplica

39 1 Ao mestre de canto. Salmo de Davi.
2
Esperei no Senhor com toda a confiança. Ele se inclinou para mim, ouviu meus brados.
3
Tirou-me de uma fossa mortal, de um charco de lodo; assentou-me os pés numa rocha, firmou os meus passos;
4
pôs-me nos lábios um novo cântico, um hino à glória de nosso Deus. Muitos verão essas coisas e prestarão homenagem a Deus, e confiarão no Senhor.
5
Feliz o homem que pôs sua esperança no Senhor, e não segue os idólatras nem os apóstatas.
6
Senhor, meu Deus, são maravilhosas as vossas inumeráveis obras e ninguém vos assemelha nos desígnios para conosco. Eu quisera anunciá-los e divulgá-los, mas são mais do que se pode contar.
7
Não vos comprazeis em nenhum sacrifício, em nenhuma oferenda, mas me abristes os ouvidos: não desejais holocausto nem vítima de expiação.
8
Então eu disse: Eis que eu venho. No rolo do livro está escrito de mim:
9
fazer vossa vontade, meu Deus, é o que me agrada, porque vossa lei está no íntimo de meu coração.
10
Anunciei a justiça na grande assembléia, não cerrei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis.
11
Não escondi vossa justiça no coração, mas proclamei alto vossa fidelidade e vossa salvação. Não ocultei a vossa bondade nem a vossa fidelidade à grande assembléia.
12
E vós, Senhor, não me recuseis vossas misericórdias; protejam-me sempre vossa graça e vossa fidelidade,
13
porque males sem conta me cercaram. Minhas faltas me pesaram, a ponto de não agüentar vê-las; mais numerosas que os cabelos de minha cabeça. Sinto-me desfalecer.
14
Comprazei-vos, Senhor, em me livrar. Depressa, Senhor, vinde em meu auxílio.
15
Sejam confundidos e humilhados os que procuram arrebatar-me a vida. Recuem e corem de vergonha os que se comprazem com meus males.
16
Fiquem atônitos, cheios de confusão, os que me dizem: Bem feito! Bem feito!
17
Ao contrário, exultem e se alegrem em vós todos os que vos procuram; digam sem cessar aqueles que desejam vosso auxílio: Glória ao Senhor.
18
Quanto a mim, sou pobre e desvalido, mas o Senhor vela por mim. Sois meu protetor e libertador: ó meu Deus, não tardeis.

Na doença e no abandono

40 1 Ao mestre de canto. Salmo de Davi.
2
Feliz quem se lembra do necessitado e do pobre, porque no dia da desgraça o Senhor o salvará.
3
O Senhor há de guardá-lo e o conservará vivo, há de torná-lo feliz na terra e não o abandonará à mercê de seus inimigos.
4
O Senhor o assistirá no leito de dores, e na sua doença o reconfortará.
5
Quanto a mim, eu vos digo: Piedade para mim, Senhor; sarai-me, porque pequei contra vós.
6
Meus inimigos falam de mim maldizendo: Quando há de morrer e se extinguir o seu nome?
7
Se alguém me vem visitar, fala hipocritamente. Seu coração recolhe calúnias e, saindo fora, se apressa em divulgá-las.
8
Todos os que me odeiam murmuram contra mim, e só procuram fazer-me mal.
9
Um mal mortal, dizem eles, o atingiu; ei-lo deitado, para não mais se levantar.
10
Até o próprio amigo em que eu confiava, que partilhava do meu pão, levantou contra mim o calcanhar.
11
Ao menos vós, Senhor, tende piedade de mim; erguei-me, para eu lhes dar a paga que merecem.
12
Nisto verei que me sois favorável, se meu inimigo não triunfar de mim.
13
Vós, porém, me conservareis incólume, e na vossa presença me poreis para sempre.
14
Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, de eternidade em eternidade! Assim seja! Assim seja!

SEGUNDO LIVRO (SALMOS 41-71)

Sede de Deus

41 1 Ao mestre de canto. Hino dos filhos de Coré.
2
Como a corça anseia pelas águas vivas, assim minha alma suspira por vós, ó meu Deus.
3
Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus?
4
Minhas lágrimas se converteram em alimento dia e noite, enquanto me repetem sem cessar: Teu Deus, onde está?
5
Lembro-me, e esta recordação me parte a alma, como ia entre a turba, e os conduzia à casa de Deus, entre gritos de júbilo e louvor de uma multidão em festa.
6
Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo:
7
ele é minha salvação e meu Deus. Desfalece-me a alma dentro de mim; por isso penso em vós do longínquo país do Jordão, perto do Hermon e do monte Misar.
8
Uma vaga traz outra no fragor das águas revoltas, todos os vagalhões de vossas torrentes passaram sobre mim.
9
Conceda-me o Senhor de dia a sua graça; e de noite eu cantarei, louvarei ao Deus de minha vida.
10
Digo a Deus: Ó meu rochedo, por que me esqueceis? Por que ando eu triste, sob a opressão do inimigo?
11
Sinto quebrarem-se-me os ossos, quando, em seus insultos, meus adversários me repetem todos os dias: Teu Deus, onde está ele?
12
Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo: ele é minha salvação e meu Deus.

Continuação do salmo precedente

42 1 Fazei-me justiça, ó Deus, e defendei minha causa contra uma nação ímpia. Livrai-me do homem doloso e perverso,
2
pois vós, ó meu Deus, sois a minha fortaleza; por que me repelis? Por que devo andar triste sob a opressão do inimigo?
3
Lançai sobre mim a vossa luz e fidelidade; que elas me guiem, e me conduzam ao vosso monte santo, aos vossos tabernáculos.
4
E me aproximarei do altar de Deus, do Deus de minha alegria e exultação.E vos louvarei com a cítara, ó Senhor, meu Deus!
5
Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo: ele é minha salvação e meu Deus.

Oração pela pátria oprimida

43 1 Ao mestre de canto. Hino dos filhos de Coré.
2
Ó Deus, ouvimos com os nossos próprios ouvidos, nossos pais nos contaram a obra que fizestes em seus dias, nos tempos de antanho.
3
Para implantá-los, expulsastes com as vossas mãos nações pagãs; para lhes dardes lugar, abatestes povos.
4
Com efeito, não foi com sua espada que conquistaram essa terra, nem foi seu braço que os salvou, mas foi vossa mão, foi vosso braço, foi o resplendor de vossa face, porque os amastes.
5
Meu Deus, vós sois o meu rei, vós que destes as vitórias a Jacó.
6
Por vossa graça repelimos os nossos inimigos, em vosso nome esmagamos nossos adversários.
7
Não foi em meu arco que pus minha confiança, nem foi minha espada que me salvou,
8
mas fostes vós que nos livrastes de nossos inimigos e confundistes os que nos odiavam.
9
Era em Deus que em todo o tempo nos gloriávamos, e seu nome sempre celebrávamos.
10
Agora, porém, nos rejeitais e confundis; e já não ides à frente de nossos exércitos.
11
Vós nos fizestes recuar diante do inimigo, e os que nos odiavam pilharam nossos bens.
12
Entregastes-nos como ovelhas para o corte, e nos dispersastes entre os pagãos.
13
Vendestes vosso povo por um preço vil, e pouco lucrastes com esta venda.
14
Fizeste-nos o opróbrio de nossos vizinhos, irrisão e ludíbrio daqueles que nos cercam.
15
Fizestes de nós a sátira das nações pagãs, e os povos nos escarnecem à nossa vista.
16
Continuamente estou envergonhado, a confusão cobre-me a face,
17
por causa dos insultos e ultrajes de um inimigo cheio de rancor.
18
E, apesar de todos esses males que nos sobrevieram, não vos esquecemos, não violamos a vossa aliança.
19
Nosso coração não se desviou de vós, nem nossos passos se apartaram de vossos caminhos,
20
para que nos esmagueis no lugar da aflição e nos envolvais de trevas...
21
Se houvéramos olvidado o nome de nosso Deus e estendido as mãos a um deus estranho,
22
porventura Deus não o teria percebido, ele que conhece os segredos do coração?
23
Mas por vossa causa somos entregues à morte todos os dias e tratados como ovelhas de matadouro.
24
Acordai, Senhor! Por que dormis? Despertai! Não nos rejeiteis continuamente!
25
Por que ocultais a vossa face e esqueceis nossas misérias e opressões?
26
Nossa alma está prostrada até o pó, e colado no solo o nosso corpo.
27
Levantai-vos em nosso socorro e livrai-nos, pela vossa misericórdia.


Salmi (SAV) 25