Geremia (SAV) 9


9 1 Oh! se encontrasse eu no deserto um abrigo de viandantes; abandonaria meu povo, e para longe dele me afastaria, pois que não passa de uma legião de adúlteros, um bando de traidores.
2
Retesam a língua, como fazem a seus arcos, para o engodo; e a lealdade não permanece neles. Caminham de crime em crime; já nem me conhecem mais - oráculo do Senhor.
3
Que se mantenha em guarda cada um de vós contra o amigo. Nem mesmo do irmão vos deveis fiar, pois que todo irmão procura suplantar, e todo amigo calunia.
4
Zombam do próximo todos eles; ninguém diz a verdade. Exercitam a língua na mentira, aplicam-se a fazer o mal.
5
Habitam no seio da falsidade; por má fé recusam conhecer-me - oráculo do Senhor.
6
Por isso, eis o que diz o Senhor dos exércitos: Vou fundi-los num cadinho para prová-los. Que outra coisa farei ante (a maldade) da filha de meu povo?
7
Suas línguas são dardos mortíferos, que só proferem mentiras. Com a boca saúdam o próximo, enquanto no coração lhe armam ciladas.
8
Por tantos crimes não devo castigá-los - oráculo do Senhor - e não se vingará minha alma de semelhante nação?
9
A respeito dos montes erguerei gemidos; entoarei cânticos fúnebres sobre as planícies do deserto, porque o fogo devorou esses lugares e ninguém passa por eles. Nem mais se ouve o mugir do gado. Tanto as aves do céu como os animais, todos fugiram e desapareceram.
10
Farei de Jerusalém um amontoado de pedras, um covil de chacais; e das cidades de Judá um deserto, onde ninguém mais habitará.
11
Haverá algum homem sábio que possa compreender essas coisas? A quem as revelou o Senhor a fim de que as explique? Por que perdeu-se essa terra, queimada como o deserto, por onde ninguém mais passa?
12
É, diz o Senhor, porque abandonou a lei que lhe havia proposto, porque não escutou, nem seguiu a minha voz,
13
mas sim os pendores de seu coração empedernido, e os ídolos que seus pais lhe haviam dado a conhecer.
14
Eis por que disse o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: vou alimentá-lo com absinto, e lhe darei de beber água pestilenta.
15
Depois, dispersá-lo-ei entre nações que nem ele, nem seus pais conheceram, e contra ele enviarei uma espada que o abaterá até o extermínio.
16
Eis o que diz o Senhor dos exércitos: tratai de chamar as carpideiras para que venham. E que venham as mais hábeis e não tardem,
17
para que, sem demora, entoem sobre nós suas lamúrias, e se fundam em lágrimas nossos olhos, e a água brote de nossas pálpebras,
18
pois que seu canto fúnebre se elevou em Sião: Por que fomos assim devastados? Cheios de vergonha, devemos abandonar a terra, já que foram derrubadas nossas casas.
19
Mulheres, escutai a palavra do Senhor. E que vossos ouvidos compreendam o que sua boca profere! Ensinai a vossas filhas essa lamentação; cada uma ensine à companheira esse canto fúnebre:
20
A morte assomou às nossas janelas, introduzindo-se em nossos palácios, exterminando crianças nas ruas e jovens nas praças públicas.
21
Cadáveres humanos jazem como esterco nos campos, como feixes atrás do segador. E ninguém os recolhe.
22
Eis o que diz o Senhor: não se envaideça o sábio do saber, nem o forte de sua força, e da riqueza não se orgulhe o rico!
23
Aquele, porém, que se quiser vangloriar, glorie-se de possuir inteligência e de saber que eu, seu Senhor, exerço a bondade, o direito e a justiça sobre a terra, pois nisso encontro o meu agrado - oráculo do Senhor.
24
Dias virão - oráculo do Senhor - em que castigarei todos os circuncidados que conservam seus prepúcios:
25
o Egito, Judá e Edom, os filhos de Amon e Moab e todos os habitantes do deserto que rapam os cabelos das fontes. Porquanto, todas as nações (são incircuncisas, tais como) todos os da casa de Israel são incircuncisos de coração.


10 1 Escutai, casa de Israel, a palavra que o Senhor vos dirige! Oráculo do Senhor:
2
Não imiteis o procedimento dos pagãos; nem temais os sinais celestes, como os temem os pagãos,
3
porquanto os deuses desses povos são apenas vaidade. São cepos abatidos na floresta, obra trabalhada pelo cinzel do artesão,
4
decorada com prata e ouro. A golpes de martelo são-lhes fixados os pregos (e postos em seus lugares) para que não se movam.
5
Assemelham-se esses deuses a uma estaca em campo de pepinos, que devem ser levados, pois não caminham. Não os temais, pois que vos não podem fazer mal, nem têm o poder de fazer o bem.
6
Nenhum se assemelha a vós, Senhor, que sois grande. E por causa de vosso poder, grande é também vosso nome.
7
Quem não vos há de temer, rei dos povos? A vós é devido todo respeito, porquanto entre os sábios dos povos pagãos, e nos seus reinos, nenhum se assemelha a vós.
8
São todos eles néscios e insensatos, e seus ensinamentos são vaidade, pura lenha.
9
É prata batida, importada de Társis, ouro de Ofir, trabalho de escultor e de ourives, revestido de púrpura arroxeada e vermelha: não passam de obra de artista.
10
O Senhor, ao contrário, é verdadeiramente Deus, Deus vivo, eterno rei. Treme a terra ante a sua cólera, e os povos pagãos não podem suportar sua ira.
11
(Dir-lhes-eis, portanto: os deuses que não fizeram o céu e a terra desaparecerão da terra e de sob os céus.)
12
Só ele criou a terra pelo seu poder e consolidou o mundo pela sua sabedoria, desdobrando os céus pela sua inteligência.
13
Ao som de sua voz, reúnem-se as águas nos céus; dos confins da terra manda subir as nuvens, e transforma os relâmpagos em chuvas, fazendo desencadearem-se os ventos de seus redutos.
14
Então, os homens se tornam estupefatos e aturdidos, e se envergonha o artista da estátua que concebeu, porque são apenas mentira os ídolos que fundiu, e neles não respira vida.
15
São apenas vãos simulacros que se desvanecerão no dia do castigo.
16
Não se dá o mesmo com aquele que é a herança de Jacó, pois foi ele que tudo criou, e Israel é a sua tribo. E seu nome é JAVÉ dos exércitos.
17
Apanha da terra o teu fardo, tu que estás sitiada!
18
Pois assim falou o Senhor: lançarei ao longe, de uma vez, os habitantes desta terra, e os acompanharei de perto para que me encontrem.
19
Ai de mim, por causa de minha ferida! É bem dolorosa a minha chaga! Eu havia dito: fosse apenas esse o meu mal, eu o suportaria!
20
Foi devastada a minha tenda, e suas cordas todas se romperam. Abandonaram-me meus filhos, e não mais existem; ninguém mais tenho para levantá-la, e de novo erguer meu pavilhão.
21
Na verdade, são néscios os pastores; não procuram mais o Senhor. Por isso não logram êxito e dispersaram-se os seus rebanhos.
22
Eis que se propaga um grande rumor, e o eco de um imenso tumulto vem do norte para transformar as cidades de Judá num deserto, num covil de chacais.
23
Bem sei, Senhor, que não é o homem dono de seu destino, e que ao caminhante não lhe assiste o poder de dirigir seus passos.
24
Castigai-nos, Senhor, mas com eqüidade, e não com furor, para que não sejamos reduzidos ao nada.
25
Derramai esse furor sobre as nações que vos desconhecem, sobre os povos que não invocam o vosso nome, pois que eles devoraram Jacó, e o consumiram, transformando-lhe as casas em deserto.

Palavras sobre a aliança violada

11 1 Eis a palavra que foi dirigida a Jeremias da parte do Senhor:
2
Ouvi o texto desta aliança e o transmiti ao povo de Judá e aos habitantes de Jerusalém.
3
Dize-lhes: Eis o que proclama o Senhor Deus de Israel: maldito seja aquele que não obedecer às prescrições desta lei
4
que, no dia em que os tirei do Egito, daquela fornalha de ferro, eu impus a vossos pais, nestes termos: ouvi minha voz e executai minhas ordens, mediante o que sereis meu povo e eu o vosso Deus.
5
Então ratificarei o juramento que fiz a vossos pais de lhes dar uma terra onde mana leite e mel, qual hoje é a vossa. Assim seja, Senhor, respondi-lhe:
6
Em seguida, disse-me o Senhor: difunde este texto por todas as cidades de Judá e pelas ruas de Jerusalém, dizendo-lhes: ouvi as palavras desta lei e executai-a.
7
Desde o dia em que os fiz sair do Egito até hoje, adverti com instância vossos pais, falando-lhes assim: ouvi minha voz!
8
Não ouviram, porém, e nenhuma atenção prestaram, seguindo, obstinadamente, os pendores maus de seus corações. Assim, contra eles executei todas as ameaças contidas no pacto que lhes havia ordenado, mas que não observavam.
9
Disse-me em seguida o Senhor: há uma conspiração entre os habitantes de Judá e de Jerusalém;
10
volveram às iniqüidades dos antepassados que se haviam recusado a ouvir minhas palavras, indo, eles também, atrás de outros deuses a fim de cultuá-los. A casa de Israel e a casa de Judá violaram a aliança que haviam firmado com seus pais.
11
Por tal culpa, assim declara o Senhor: vou descarregar sobre eles uma calamidade, da qual não poderão escapar. E, quando gritarem por mim, eu não os escutarei.
12
Então, as cidades de Judá e os habitantes de Jerusalém irão apelar para os deuses ante os quais queimaram incenso. Esses deuses, porém, não os salvarão no momento da catástrofe,
13
porque, ó Judá, possuis tantos deuses quantas são tuas cidades; e quantas ruas tens em Jerusalém, tantos altares de infâmia ergueste para neles queimar oferendas em honra de Baal.
14
Quanto a ti, não intercedas por esse povo, nem ores por ele, nem supliques, porque ao tempo de sua desgraça, quando clamarem por mim, não os escutarei.
15
Por que cometeu minha bem-amada tanta maldade em minha casa? Porventura teus votos e as carnes imoladas apartarão de ti teus males, para que possas exultar?
16
Verdejante oliveira de belos frutos - tal o nome que te dera o Senhor. Ao estrépito, porém de imenso ruído ateou-lhe fogo, e se queimaram seus galhos.
17
O Senhor dos exércitos, que te plantara, decretou a calamidade contra ti por causa dos crimes cometidos pela casa de Israel e pela casa de Judá, causando-me revolta os sacrifícios que fizeram em honra de Baal.

Conspiração contro Jeremias

18 Instruído pelo Senhor, eu o desvendei. Vós me fizestes conhecer seus intentos.
19
E eu, qual manso cordeiro conduzido à matança, ignorava as maquinações tramadas contra mim: destruamos a árvore em seu vigor. Arranquemo-la da terra dos vivos, e que seu nome caia no esquecimento.
20
Vós sois, porém, Senhor dos exércitos, justo juiz que sondais os rins e os corações. Serei testemunha da vingança que tomarei deles e a vós confio minha causa.


21 Eis por que assim se pronunciou o Senhor contra os habitantes de Anatot que conspiram contra a minha vida, dizendo: Cessa de proclamar oráculos em nome do Senhor, se não queres perecer em nossas mãos.
22
Por isso, assim falou o Senhor dos exércitos: Vou castigá-los. Vão tombar os jovens sob a espada, e seus filhos e filhas perecerão de fome.
23
Ninguém escapará, porquanto, assim que chegar o ano do castigo, mandarei desabar a tormenta sobre os habitantes de Anatot.

Escândalo da prosperidade dos maus

12 1 Sois sumamente justo, Senhor, para que eu entre em disputa convosco. Entretanto, em espírito de justiça, desejaria falar-vos. Por que alcançam bom êxito os maus em tudo quanto empreendem? E por que razão vivem felizes os pérfidos?
2
Vós os plantastes, e eles criam raízes, crescem e frutificam. Permaneceis em seus lábios; longe, porém, dos corações.
3
Mas vós, Senhor, me conheceis e me vedes, e sondais os sentimentos do meu coração a vosso respeito. Arrebatai-os, quais carneiros para a matança, e consagrai-os em vista ao massacre.
4
Até quando permanecerá a terra em luto, e há de secar a erva dos campos? Por causa da maldade dos homens que nela habitam, animais e pássaros perecem, por haverem dito: Não verá o Senhor o nosso fim.
5
Se te afadigas em correr com os que andam a pé, como poderás lutar com os (que vão a) cavalo? Se não te sentes em segurança senão em terra tranqüila, que farás na selva do Jordão?
6
Teus próprios irmãos e tua família são traidores, mesmo quando em altas vozes te chamam. Não creias neles, mesmo que te dirijam palavras amigas.

Judá entregue aos povos vizinhos

7 Deixei minha família, abandonei minha herança, e releguei a mãos inimigas o que de mais caro possuía o meu coração.
8
Meu povo foi para mim qual leão na floresta, a rugir contra mim: eis por que o tenho em aversão.
9
Será minha herança qual abutre matizado cercado de aves de rapina? Vamos! Reuni todos os animais selvagens, e conduzi-os à carniça!
10
Pastores, em grande número, destruíram minha vinha, e pisaram minhas terras, transformando em horrível deserto minha encantadora propriedade.
11
Tornaram-na uma solidão e apresentaram-na a meus olhos enlutada e devastada. Desolada ficou toda a terra, pois que ninguém mais a toma a peito.
12
De todos os cantos do deserto surgem os devastadores. A espada do Senhor dizima a terra inteira, e para ninguém haverá salvação.
13
Semearam trigo, e só colheram espinhos, fatigando-se inutilmente. Foi-lhes decepcionante a colheita, por causa da grande cólera do Senhor.
14
Eis o que diz o Senhor contra todos os meus maus vizinhos que usurpam a herança que eu dera a meu povo de Israel: vou arrancá-los de suas terras, e do meio deles apartar a tribo de Judá.
15
Quando os houver, porém, arrancado, apiedar-me-ei deles novamente e os reconduzirei cada um à sua herança, cada um à sua terra.
16
Se aprenderem a seguir os caminhos prescritos ao meu povo, e a jurar em meu nome, Pela vida de Deus!, tal como ensinaram meu povo a jurar por Baal, então terão direito de cidadania no meio do meu povo.
17
Se, porém, não me escutarem, desarraigarei essa gente e a exterminarei - oráculo do Senhor.

O cinto destruído

13 1 Disse-me o Senhor: Vai e compra um cinto de linho e coloca-o sobre os rins, sem contudo mergulhá-lo na água.
2
Comprei-o, conforme ordenara o Senhor, e com ele me cingi.
3
Pela segunda vez, assim me falou o Senhor:
4
Toma o cinto que compraste e que trazes contigo e encaminha-te para as margens do Eufrates. Lá ocultarás esse cinto na cavidade de um rochedo.
5
Fui assim escondê-lo, junto do Eufrates, como me havia dito o Senhor.
6
Tempos depois, voltou o Senhor a dizer-me: Põe-te a caminho em demanda das margens do Eufrates, a fim de buscar o cinto que, conforme minhas ordens, lá escondeste.
7
Dirigi-me, então, ao rio e, tendo cavado, retirei o cinto do local onde o escondera. O cinto, porém, apodrecera, e para nada mais servia.
8
Então, nestes termos, foi-me dirigida a palavra do Senhor:
9
Eis o que diz o Senhor: assim também destruirei a soberba de Judá, e o orgulho imenso de Jerusalém.
10
Esse povo perverso que recusa executar-me as ordens, que segue os pendores do coração empedernido, que corre aos deuses estranhos para render-lhes homenagens e prostrar-se ante eles, tornar-se-á semelhante a esse cinto sem mais serventia alguma.
11
À semelhança de um cinto que se prende aos rins de um homem, assim uni a mim toda a casa de Israel e toda a casa de Judá - oráculo do Senhor -, a fim de que constituíssem meu povo, minha honra, glória e ufania. Elas, porém, não obedeceram.

Vasilhas quebradas

12 Vai, portanto, e assim lhes fala: Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: uma vasilha é destinada a ser enchida de vinho. Responderão eles: bem sabíamos que toda vasilha é para ser enchida de vinho!
13
Mas tu lhes dirás: Eis o que diz o Senhor: vou encher de embriaguez todos os habitantes desta terra: os reis que ocupam o trono de Davi, os sacerdotes, os profetas e a população inteira de Jerusalém;
14
e vou quebrá-los, uns contra os outros, pais e filhos - oráculo do Senhor -, sem que compaixão, piedade ou perdão me impeçam de destruí-los.

Avisos e ameaças

15 Escutai, prestai ouvidos e não vos enchais de orgulho, pois quem fala é o Senhor.
16
Rendei glória ao Senhor, vosso Deus, antes que surjam as trevas, e antes que se choquem vossos pés nos montes invadidos pelas sombras. A luz que esperais será transformada em escuridão, pois que ele a converterá em noite profunda.
17
Se não prestardes ouvidos, a minha alma derramará lágrimas em segredo por vosso orgulho, e meus olhos se fundirão em pranto, por causa da deportação do rebanho do Senhor.
18
Dize ao rei e à rainha: sentai-vos no chão, porque caiu de vossa cabeça o diadema que a ornava.
19
As cidades do sul estão fechadas, e não há quem as abra. Judá foi arrebatada; completou-se a deportação.
20
Ergue os olhos; vê os que chegam do norte. Onde está o rebanho que te fora confiado, onde os carneiros que constituíam tua glória?
21
Que dirás, quando Deus te der por senhores aqueles que exercitaste contra ti? E acaso não se apossarão de ti dores quais as da mulher que está de parto?
22
Se vieres a dizer em teu coração: Por que me acontecem tais coisas? É por causa da enormidade de tua falta que foram levantadas as tuas vestes e puseram brutalmente teu calcanhar a nu.
23
Pode um etíope mudar a própria pele? Ou um leopardo apagar as malhas de que se reveste? E vós, como podereis praticar o bem, se estais impregnados de maldade?
24
Eu os dispersarei como palha que o vento do deserto arrebata.
25
Tal é teu destino, a partilha que receberás de mim - oráculo do Senhor -, porque te esqueceste de mim, confiando no que é apenas mentira.
26
Até a cabeça erguerei tuas vestes a fim de expor aos olhares tua nudez!
27
Teus adultérios e desregramentos, e tua luxúria infame nas colinas e nos campos, todas essas abominações, eu as vi. Desgraçadas de ti, Jerusalém! Por quanto tempo, ainda, permanecerás impura?

Palavras sobre o flagelo da seca

14 1 Eis o que diz o Senhor a Jeremias a propósito da seca:
2
Judá está coberta de luto, e às suas portas enlanguesce o povo, a cabeça pendida para a terra. De Jerusalém se levanta um clamor de angústia.
3
Os grandes da cidade enviaram os servos à procura de água. Encaminham-se estes às cisternas; água, porém, não encontram, e voltam com os recipientes vazios, envergonhados, confundidos, cobertas as cabeças.
4
Fende-se o solo todo, porque a chuva não rega a terra. Decepcionam-se os lavradores e cobrem suas cabeças.
5
Até a corça no campo abandona a cria, por falta de pastagem.
6
Mantêm-se nos montes os asnos selvagens, aspirando o ar como chacais. Seus olhos perderam o brilho, pois que não há erva.
7
Ó Senhor, se nos acusam nossas iniqüidades, agi de acordo com a honra de vosso nome. São, na verdade, numerosas nossas infidelidades; pecamos contra vós.
8
Senhor, esperança de Israel, vós que sois o seu salvador no tempo da desgraça, por que sois qual estrangeiro nessa terra, viajante de uma noite apenas?
9
Por que sois como um homem desvairado, como um guerreiro que não nos pode mais defender? No entanto, Senhor, permaneceis entre nós, e é o vosso nome que trazemos. Não nos abandoneis!
10
Eis o que diz o Senhor acerca desse povo: Compraz-se ele em vaguear, e não sabe deter os seus pés. Deles o Senhor não se agrada. Lembrando-se de suas iniqüidades, castiga-o por causa de seus pecados.
11
Disse-me o Senhor em seguida: Não intercedas em favor desse povo.
12
Se jejuar, não escutarei seus lamentos, e se oferecer holocaustos e oblações não os aceitarei. Quero destruí-los pela espada, pela fome e pela peste.
13
Eu, porém, lhe respondi: Ah, Senhor JAVÉ, olhai para o que dizem os profetas: a espada não vos atingirá e não sofrereis fome, pois que nesse lugar eu vos darei paz e segurança.
14
Replicou, porém, o Senhor: São mentiras que proferiram os profetas em meu nome. Não os enviei, não lhes dei ordem, e nem mesmo lhes falei. Visões de mentiras, adivinhações vãs, invenções de suas mentes, eis o que profetizam!
15
Por isso eis o que diz o Senhor: Acerca dos profetas que em meu nome proferem oráculos, quando missão alguma lhes confiei, e que proclamam não haver espadas, nem fome nesta terra, serão eles que hão de perecer pela espada e pela fome.
16
E os homens aos quais se dirigem serão lançados nas ruas de Jerusalém, vítimas da espada e da fome, sem que ninguém os venha sepultar, nem eles, nem suas mulheres, nem seus filhos e filhas; e sobre eles farei recair o mal que praticaram.


17 E tu lhes dirás: Que se me fundam em lágrimas os olhos, noite e dia sem descanso, porquanto de um golpe horrível foi ferida a virgem, filha de meu povo, e sua chaga não tem cura!
18
Se saio pelos campos, encontro homens atravessados pela espada; e se regresso à cidade, eu vejo outros passando pelo tormento da fome. Até o profeta e o sacerdote perambulam sem rumo pela terra.
19
Repelistes Judá, de verdade, e vossa alma se desgostou de Sião? Por que nos feristes de mal incurável? Esperamos a salvação; nada, porém, existe de bom; aguardamos a era de soerguimento, mas só vemos o terror!
20
Senhor! Conhecemos nossa malícia e a iniqüidade de nossos pais. (Bem sabemos) que pecamos contra vós.
21
Pela honra, porém, de vosso nome, não nos abandoneis, nem desonreis o vosso trono de glória. Lembrai-vos! E não rompais o pacto que conosco firmastes.
22
Haverá, entre os vãos ídolos dos pagãos, algum que provoque a chuva? Ou é o céu que proporciona os aguaceiros? Não! Sois vós, Senhor, nosso Deus, vós, em quem depositamos nossa esperança; vós, que todas essas coisas haveis criado.


15 1 Disse-me, então, o Senhor: Mesmo que Moisés e Samuel se apresentassem diante de mim, meu coração não se voltaria para esse povo. Expulsai-o para longe de minha presença! Que se afaste de mim!
2
E se te perguntarem: Para onde iremos? Dir-lhes-ás: oráculo do Senhor: Para a peste, os que são para a peste! Para a espada, os que são para a espada! Para a fome, os que são para a fome! Ao cativeiro, os que são para o cativeiro.
3
Destinar-lhes-ei - oráculo do Senhor - quatro flagelos: a espada para degolá-los, os cães para arrastá-los, e as aves do céu e os animais da terra para devorá-los e destruí-los.
4
Farei deles objeto de horror para todos os reinos da terra, por causa de Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por tudo o que ele fez em Jerusalém.
5
Quem de ti se apiedará, Jerusalém? Quem te lastimará? Quem se afastará de sua rota para perguntar por ti?
6
Abandonaste-me - oráculo do Senhor -, voltaste-me as costas. Por isso sobre ti estendi a mão para perder-te, cansado como estou de perdoar.
7
Eu os joeirei com o crivo às portas da terra; privei de filhos o meu povo, e o deixei perecer. Seu proceder, porém, não mudou.
8
Mais numerosas serão as viúvas do que a areia do mar. Conduzirei contra a mãe do jovem guerreiro, em pleno meio-dia, o devastador. E sobre eles, de súbito, deixarei cair a agonia e o terror.
9
Desfalece aquela que deu à luz sete filhos, pronta a entregar a alma. Antes que findasse o dia, deitou-se-lhe o sol, e de vergonha e consternação se cobriu. O que deles restar, entregarei à espada de seus inimigos - oráculo do Senhor.

Queixa do profeta

10 Ai de mim, ó minha mãe, que me geraste, para tornar-se objeto de disputa e de discórdia em toda a terra! Não sou credor nem devedor, e, no entanto, todos me maldizem.


11 Na verdade, diz o Senhor, eu te livrarei para o teu bem. O inimigo virá implorar-te no dia da desgraça e da aflição.
12
Poderá o ferro quebrar o ferro do norte e o bronze?
13
Entrego gratuitamente à pilhagem teus bens e tesouros, por todos os teus pecados, na terra inteira.
14
Fá-los-ei passar com seus inimigos para um país que não conheces, porquanto inflamou-se um fogo em minhas narinas, que arderá para vos consumir.
15
E vós que tudo sabeis, Senhor, lembrai-vos de mim, amparai-me, e vingai-me de meus perseguidores. Não deixeis que eu pereça por vossa paciência (para com eles).


16 Vede: é por vós que sofro ultrajes da parte daqueles que desprezam vossas palavras. Aniquilai-os. Vossa palavra constitui minha alegria e as delícias do meu coração, porque trago o vosso nome, ó Senhor, Deus dos exércitos!
17
Não me assentei entre os escarnecedores, para entre eles encontrar o meu prazer. Apoiado em vossa mão, assentei-me à parte, porque me havíeis enchido de indignação.
18
Por que não tem fim a minha dor, e não cicatriza a minha chaga, rebelde ao tratamento? Ai! Sereis para mim qual riacho enganador, fonte de água com que não se pode contar?
19
Eis a razão pela qual diz o Senhor: Se voltares, farei de ti o servo que está a meu serviço. Se apartares o precioso do que é vil serás como a minha boca. Serão eles, então, que virão a ti, e não tu que irás a eles.
20
Então, erguerei ante esse povo sólida muralha como o bronze. Será atacada, mas não conseguirão vencê-la, pois estarei a teu lado para proteger-te e te livrar - oráculo do Senhor.
21
Arrebatar-te-ei da mão dos maus e te libertarei do poder dos violentos.

Vida solitária do profeta

16 1 Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos:
2
Não tomarás esposa, nem terás filho ou filha neste lugar,
3
porquanto eis o que diz o Senhor a respeito dos filhos e das filhas que nasceram neste lugar, das mães que os conceberam e dos pais a quem devem a vida nesta terra:
4
perecerão todos de moléstias mortais, sem pranto nem sepulturas. Qual esterco jazerão sobre o solo; perecerão pela espada e pela fome, e seus cadáveres servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra.
5
E disse, ainda, o Senhor: Não entres em casa em que haja luto, para chorar com seus moradores, porque - oráculo do Senhor - desse povo retiro a minha paz, minha proteção e minha misericórdia.
6
Grandes e pequenos morrerão nesta terra, e ficarão sem lamentações e sem sepulturas, e não se farão incisões, nem rasparão os cabelos.
7
O pão não será repartido para consolar o enlutado que chora um defunto, nem se lhe oferecerá a taça do consolo pela morte de seus pais.
8
Não entrarás, igualmente, na casa em que houver uma festa, sentando-te à mesa com os convivas.
9
Pois assim fala o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel: Vou abafar em tal lugar, ante vossos olhos, diante de vós, os gritos de alegria, cânticos de júbilo e os hinos do esposo e a canção da esposa.
10
Assim que tiveres levado ao povo essa mensagem e te perguntarem: Por que decretou o Senhor contra nós todos esses flagelos? Qual é o pecado, qual o crime que cometemos contra o Senhor, nosso Deus?
11
Tu lhe dirás: é porque vossos pais me abandonaram - oráculo do Senhor -, para correr atrás de outros deuses, rendendo-lhes um culto e ante eles se prosternando, porque me abandonaram e deixaram de observar a minha lei; e
12
porque vós mesmos fizestes pior que vossos pais, cada qual, sem me ouvir, obstinando-se em seguir as más tendências de seus corações.
13
Assim, expulsar-vos-ei desta terra para vos lançar numa terra que não conhecestes, nem vós nem vossos pais. Lá, dia e noite, rendereis culto aos deuses estranhos, porque eu não vos perdoarei.

Fragmentos diversos

14 Eis por que virão dias - oráculo do Senhor - em que não mais se dirá: Viva Deus, que tirou do Egito os israelitas!
15
Mas sim: Viva Deus, que fez com que regressassem os israelitas do norte e de todos os países pelos quais os havia dispersado! Fá-los-ei regressar à terra que dei a seus pais.
16
Vou mandar - oráculo do Senhor - pescadores em grande número para que pesquem. Depois enviarei numerosos caçadores para que cacem pelas montanhas e colinas e até nas cavidades dos rochedos.
17
Porquanto, sob o meu olhar tenho seus atos que não me são ocultos, e suas iniqüidades não se podem esquivar a meus olhares.
18
Primeiramente, pagar-lhes-ei em dobro o salário de sua iniqüidade e do seu pecado, por haverem profanado a minha terra com os restos imundos de seus ídolos e enchido minha herança de abominações.
19
Senhor, minha força e amparo, refúgio no dia da desgraça, virão nações dos confins do mundo, exclamando: o que nossos pais receberam em partilha não passa de um nada, vaidades que para nada poderão servir.
20
Poderá o homem fabricar deuses para si? Não serão deuses, porém!
21
Então, vou mostrar-lhes, sim, desta feita vou mostrar-lhes minha mão e meu poder, a fim de que saibam que o meu nome é Senhor.

Pecado de Judá e castigo

17 1 Acha-se inscrito o pecado de Judá com estilete de ferro; e gravado com ponta de diamante sobre a pedra de seu coração,
2
nos ângulos de seus altares. (Lembrando-se de seus filhos), (pensam) em suas estelas e marcos sagrados, junto das árvores verdejantes no alto das colinas elevadas.
3
Entregarei à pilhagem a minha montanha que domina a planície, assim como os teus bens e tesouros, e os lugares altos em que pecas pela terra inteira.
4
Deixarás ao abandono a herança que te conferira, e eu te farei o escravo dos teus inimigos, em terra que desconheces, porquanto acendeste o fogo de minha cólera que não mais cessará de flamejar.

Máximas de sabedoria

5 Eis o que diz o Senhor: Maldito o homem que confia em outro homem, que da carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor!
6
Assemelha-se ao cardo da charneca e nem percebe a chegada do bom tempo, habitando o solo calcinado do deserto, terra salobra em que ninguém reside.
7
Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor.
8
Assemelha-se à árvore plantada perto da água, que estende as raízes para o arroio; se vier o calor, ela não temerá, e sua folhagem continuará verdejante; não a inquieta a seca de um ano, pois ela continua a produzir frutos.


9 Nada mais ardiloso e irremediavelmente mau que o coração. Quem o poderá compreender?
10
Eu, porém, que sou o Senhor, sondo os corações e escruto os rins, a fim de recompensar a cada um segundo o seu comportamento e os frutos de suas ações.


11 Qual perdiz a chocar ovos que não pôs, tal é aquele que pela fraude se enriqueceu; em meio à vida, precisa deixá-los; demonstra, pelo seu fim, ser insensato.

Oração do profeta perseguido

12 Trono sublime de glória antiga, ó santuário nosso,
13
Senhor, que sois a esperança de Israel, confundidos serão todos os que vos abandonam, e de vergonha serão cobertos os que de vós se afastam, por haverem deixado o Senhor, fonte das águas vivas.
14
Curai-me, Senhor, e ficarei curado; salvai-me, e serei salvo, porque sois a minha glória.
15
Ei-los que clamam: Que é feito dos oráculos do Senhor? Que eles se cumpram!
16
Eu, porém, nunca vos incitei a enviar a desgraça, nem desejei o dia da catástrofe. Bem conheceis as palavras que me saíram da boca: elas estão em vossa presença.
17
Não me sejais objeto de espanto, vós que, no dia da desgraça, sois meu refúgio.
18
Sejam envergonhados meus perseguidores, e não eu! Sejam consternados, não eu! Fazei recair sobre eles o dia da aflição, esmagai-os com dupla desgraça.

Exortação à observância do sábado

19 Eis o que me diz o Senhor: Vai colocar-te à porta dos filhos do povo, por onde entram e saem os reis de Judá, e a todas as portas de Jerusalém.
20
Dir-lhes-ás: Escutai a palavra do Senhor, reis de Judá, povo de Judá, e vós todos, habitantes de Jerusalém, que entrais por estas portas.
21
Assim fala o Senhor. Evitai carregar - pois disso depende vossa vida - fardos no dia de sábado, fazendo-os atravessar as portas de Jerusalém.
22
Abstende-vos de transportar fardo algum para fora de vossas casas em dia de sábado. Não vos entregueis a trabalho algum, mas santificai o dia de sábado, como ordenei a vossos pais.
23
Eles, porém, não prestaram ouvidos, e endureceram a cerviz para não ouvirem, nem se deixarem instruir.
24
Se verdadeiramente me escutardes - oráculo do Senhor -, se não deixardes passar carga nenhuma pelas portas desta cidade em dia de sábado, e se santificardes esse dia, abstendo-vos de desempenhar qualquer trabalho,
25
então pelas portas da cidade entrarão, conduzidos em carros e montados a cavalo, reis e príncipes que ocuparão o trono de Davi, assim como seus oficiais, a gente de Judá e os habitantes de Jerusalém. E esta cidade será povoada para sempre!
26
E outros virão das cidades de Judá, dos arredores de Jerusalém, das terras de Benjamim e das planícies e montes, assim como do Negeb, para oferecerem holocaustos, sacrifícios, oblações, incenso e sacrifícios de ações de graças na casa do Senhor.
27
Se, porém, não observardes meus preceitos acerca da santificação do sábado, e a respeito da abstenção de transportar fardos pelas portas da cidade no dia de sábado, porei fogo nessas portas, e ele consumirá os palácios de Jerusalém, sem que ninguém possa extingui-lo.


Geremia (SAV) 9