1Macabeus (CNB) 6

6 1 O rei Antíoco estava percorrendo as províncias do planalto, quando ouviu dizer que havia na Pérsia uma cidade famosa pelas riquezas, pelo ouro e pela prata, chamada Elimaida. 2 Diziam que o templo nessa cidade era muito rico, e nela havia cortinas de ouro, armaduras e escudos aí deixados por Alexandre, o Macedônio, filho de Filipe, que havia reinado antes na Grécia. 3 Para lá se dirigiu Antíoco e procurou apoderar-se da cidade para saqueá-la, mas não o conseguiu. Pois os habitantes de Elimaida haviam sabido do seu plano 4 e opuseram-lhe resistência, enfrentando-o em combate. Sendo obrigado a bater em retirada, partiu muito contrariado, pretendendo voltar para Babilônia. 5 Ele estava ainda na Pérsia, quando vieram anunciar-lhe que tinham sido derrotadas as tropas enviadas contra a Judéia. 6 E que Lísias, tendo logo rumado para lá com um poderoso exército, fora posto em fuga diante dos judeus. E que estes se haviam reforçado com as armas, os recursos e os despojos abundantes tomados dos exércitos que foram destroçando. 7 Eles haviam também derrubado a Abominação que ele erguera sobre o altar de Jerusalém, e ainda haviam cingido de altas muralhas o seu lugar santo, como outrora, fazendo o mesmo em Betsur, cidade do rei.
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Ao ouvir tais notícias, Antíoco ficou apavo­rado e transtornado totalmente, caindo sem for­ças em seu leito. Adoeceu de tristeza, por não terem sucedido as coisas conforme tinha pensado. 9 Ficou aí por muitos dias, aumentan­do nele a tristeza, cada vez mais, até pensar que ia morrer. 10 Chamou então todos os amigos e disse: “O sono fugiu de meus olhos, e meu coração se acabrunha de tanta aflição. 11 Vi­vo dizendo para mim mesmo: ‘A que grau de aflição cheguei e em que medonha tempes­tade me vejo envolvido!’ E no entanto eu era fe­liz e estimado quando tinha o poder nas mãos! 12 Agora me lembro das maldades que co­meti em Jerusalém, de onde roubei todos os objetos de ouro e de prata que nela se encontravam, e mandei exterminar os habitantes­ de Judá sem motivo. 13 Reconheço que é por isso que estas desgraças me atingiram, e agora­ morro com tanta tristeza, numa terra estranha!” 14 Chamou então Filipe, um de seus ami­gos, e colocou-o à frente de todo o seu reino. 15 Entregou-lhe o seu diadema, o manto e o anel, para que fosse buscar o seu filho Antío­co, cuidasse da sua educação e o preparasse pa­ra ser rei. 16 E ali, nesse lugar, morreu o rei Antíoco, no ano cento e quarenta e nove. 17 Quando soube da morte do rei, Lísias proclamou como novo rei o jovem Antíoco, a quem havia educado desde a infância, e deu-lhe o nome de Eupátor.

 Cerco da cidadela

18 A guarnição da cidadela bloqueava a pas­sagem dos israelitas para o lugar santo, procurando sempre fazer-lhes mal, enquanto dava cobertura aos gentios. 19 Então Judas resolveu desalojá-los, e convocou todo o po­vo para sitiá-los. 20 Eles reuniram-se e começaram o cerco, no ano cento e cinquenta, construindo catapultas e outras máquinas de assalto. 21 Alguns dos que estavam sendo sitiados conseguiram escapar, e a eles se ajuntaram alguns israelitas ímpios, 22 os quais foram juntos procurar o rei, para dizer-lhe: “Até quando tardarás a fazer justiça e vingar os nossos irmãos? 23 Nós decidimos servir a teu pai, seguindo seus preceitos e obedecendo a seus decretos. 24 Por isso, os nossos compatriotas se afastaram de nós e começaram a matar os nossos que lhes caíssem nas mãos e saquearam nossas propriedades. 25 E se me­teram não só contra nós mas também­ contra todos os teus territórios. 26 Hoje, por exemplo, estão atacando a cidadela de Jerusalém, procurando apoderar-se dessa posição. E já fortificaram seu santuário e ain­da Betsur. 27 Se não te antecipares a eles rapi­da­mente, farão coisas ainda piores e não poderás mais contê-los!”

 Batalha de Bet-Zacarias

28 Ao ouvir isso, o rei ficou furioso e convocou todos os seus amigos, os chefes do exér­cito e os comandantes dos carros de guer­ra. 29 Também dos outros reinos e das ilhas do mar vieram exércitos mercenários. 30 O contingente desse exército era de cem mil soldados de infantaria, vinte mil cavaleiros, e trinta e dois elefantes treinados para a guerra. 31 Eles vieram pela Iduméia e acamparam junto a Betsur. Atacaram-na por muitos dias, empregando suas máquinas de guerra, mas os sitiados, saindo, ateavam-lhes fogo e resistiam valentemente. 32 Então Judas deixou o cerco da cidadela em Jerusalém e veio tomar posição em Bet-Zacarias, diante do acampamento do rei. 33 Este, levantando-se muito cedo, lançou seu exército impetuosamente na direção de Bet-Zacarias. Ambos os exércitos prepararam-se para a batalha e tocaram as trombetas. 34 Para instigar os elefantes ao combate, os gentios mostraram-lhes suco de uva e de amora. 35 Distribuíram esses animais por entre as legiões, colocando junto a cada elefante mil homens encou­ra­çados com malhas de ferro e capacetes de bronze. Além disso, destacaram para ca­da elefante quinhentos cavaleiros escolhi­dos, 36 que seguiam seus movimentos, estando onde ele estava e indo para onde ia, sem jamais se afastarem dele. 37 Sobre cada elefante havia, presa ao animal por correias, uma torre de madeira toda coberta e bem sólida, de dentro da qual combatiam, lá de cima, quatro guerreiros, além do seu con­dutor. 38 O rei dispôs o restante da cavalaria de um lado e do outro, nos dois flancos do exército, para incitar e proteger as legiões. 39 Quando o sol começou a brilhar nos escudos de ouro e de bronze, as montanhas se ilu­minaram ao seu clarão e resplandeciam como tochas acesas. 40 Uma parte do exército real se espalhou no alto dos montes e outra parte nos lugares mais baixos. E avançavam com cuidado e em ordem de batalha. 41 Ficavam apavorados todos os que ouviam o fragor da multidão, o avanço­ das tropas e o tinir das armas: era um exército imenso e poderoso. 42 Judas e seu exérci­to avan­çaram para o combate, e do exército do rei caíram seiscentos homens. 43 Foi quando Elea­zar, o Auarã, viu um dos elefantes?en­coura­çado com as armaduras reais e mais alto que os outros, e pareceu-lhe que aí estava o rei. 44 S­a­crificou-se, então, para salvar­ o seu povo e adquirir renome imortal: 45 precipitou-se em direção do animal corajosamente, através da legião, matando à direita e à esquerda, enquanto os inimigos abriam brecha diante dele, de um e do outro lado. 46 Ele conseguiu chegar até o elefante, colocou-se debaixo do animal e o matou. O elefante, porém, caiu por cima de Eleazar, que morreu ali, esmagado. 47 Entretanto, ao verem a força?do reino e o ímpeto das suas tropas, os judeus­ retiraram-se do combate.

 Cerco do monte Sião

48 Os soldados do exército do rei subiram para se defrontar com os judeus em Jerusalém. Assim, o rei aproximou-se da Judéia e do monte Sião. 49 Antes, porém, concluiu a paz com os habitantes de Betsur: estes saíram da fortaleza, por não terem mais mantimentos, pois haviam ficado ali cercados e, além disso, era o ano sabático. 50 Assim, o rei tomou Betsur, e deixou ali uma guarnição para defender a cidade. 51 Depois acampou jun­to ao lugar santo por muitos dias, e ali ins­talou baterias e máquinas de assédio, lança-chamas e catapultas, escorpiões para o lan­çamento de flechas e, ainda, muitas fundas. 52 Por sua vez,­ os judeus também fizeram máquinas contra as dos inimigos e resistiram durante muitos dias. 53 Mas não havia mais provisões nos celeiros, pois era o sétimo ano, e os que tinham vindo das nações para a Judéia haviam consumido as últimas reservas. 54 Assim, permaneceram no santuário só poucos homens, pois a fome os tinha apertado. E se dispersaram, cada um para a sua terra.

 Antíoco V concede aos judeus a liberdade religiosa

55 -56 Por aquele tempo, Lísias veio a saber que Filipe tinha voltado da Pérsia e da Média, com o exército que partira com o rei, e procurava assumir os negócios do reino. (Filipe era a pessoa a quem o rei Antíoco ainda em vida havia encarregado de educar e de preparar para o trono seu filho \do mesmo nome, Antíoco). 57 Então Lísias apressou-se em dar a entender que se devia partir, dizendo ao rei, aos chefes do exército e a seus homens: “Estamos a cada dia mais fracos, o alimento se torna escasso, e o lugar que estamos sitiando é bem fortificado. Além disso, os negócios do reino chamam a nossa atenção. 58 Vamos, pois, estender a mão a esta gente e fazer a paz com eles e com todo o seu povo. 59 Reconheçamos a eles o direito de observarem as suas leis, como antes, pois é por causa de suas leis, que abolimos, que eles se exasperaram e fizeram tudo isto”. 60 A proposta agradou ao rei e aos chefes. Lísias enviou, pois, aos judeus, a proposta de paz, e eles a aceitaram. 61 O rei e os chefes fizeram o juramento, e os judeus, com essas condições, saíram da fortaleza. 62 Ao entrar, porém, no monte Sião, logo que viu as fortificações do lugar, o rei quebrou o juramento que havia feito e mandou demolir a muralha ao redor. 63 Em seguida, partiu às pressas, de volta para Antioquia, onde encontrou Filipe como senhor da cidade. Entrou em luta contra ele e tomou a cidade à força.

 Demétrio I no trono e Báquides e Alcimo na Judéia

7 1 No ano cento e cinquenta e um, Demétrio, filho de Seleuco, partiu de Roma e desembarcou com poucos homens numa cidade do litoral, onde se proclamou rei. 2 Pouco depois, logo que ele entrou no palácio real de seus pais, o exército prendeu Antíoco e Lísias, para levá-los à sua presença. 3 Sabendo do fato, porém, disse: “Não me façais ver o rosto desses dois!” 4 Então o exército os executou, e Demétrio sentou-se no trono real. 5 Foi quando vieram ter com ele alguns israe­litas ímpios e iníqüos, chefiados por Alcimo, que cobiçava o cargo de sumo sacerdote. 6 E começaram a acusar seu próprio povo diante do rei, dizendo: “Judas e seus irmãos fize­ram perecer todos os teus amigos e nos expulsaram de nossa terra. 7 Manda, pois, alguém da tua confiança, para que veja todo o estrago que ele fez contra nós e na província do rei, e o castigue, a ele e a todos os que o apoiam!”
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O rei escolheu Báquides, um de seus amigos, governador das províncias do Além-Eufrates, homem importante no reino e fiel ao rei. Enviou-o 9 junto com o ímpio Alcimo, a quem conferiu o cargo de sumo sacerdote e encarregou de tirar vingança dos filhos de Israel. 10 Eles vieram, pois, com um grande exército, para a terra de Judá, e enviaram mensageiros a Judas e seus irmãos, com falsas propostas de paz. 11 Os judeus, porém, vendo que vinham com um grande exército, não confiaram nas palavras deles. 12 Apesar de tudo, uma delegação de escribas foi ter com Alcimo e Báquides, a fim de lhes proporem o que fosse justo. 13 Eram hassideus esses primeiros israelitas que vieram solicitar a paz, 14 e que assim pensavam: “Quem veio é um sacerdote da descendência de Aarão, e não irá trair-nos!” 15 De fato, Alcimo falou-lhes palavras de paz e assegurou-lhes com juramento: “Não vos faremos mal algum, nem tampouco a vossos amigos!” 16 Então acreditaram nele.
Mas Alcimo mandou prender sessenta dentre eles e os trucidou no mesmo dia, segundo o que está escrito: 17
Espalharam ao redor de Jerusalém os cadáveres e derramanram o sangue de teus santos, e não havia quem lhes desse sepultura. 18 Diante disso, o medo e o pavor tomaram conta de todo o povo, que começou­ a dizer: “Não há verdade nem justiça neles, pois transgrediram o pacto e o juramento que fizeram!” 19 Báquides partiu de Jerusalém e foi acampar em Bet-Zet. Aí mandou prender muitos dos que tinham passado para o seu lado e mais alguns dentre o povo: ordenou que os matassem e os atirassem numa grande cisterna. 20 Entregou a Alcimo o gover­no da província e deixou com ele um exér­cito para sustentá-lo. Depois, voltou para junto do rei.
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Entretanto, Alcimo se empenhava por seu cargo de sumo sacerdote. 22 Em torno dele reuniram-se todos os que perturbavam o seu povo, e conseguiram apossar-se da terra de Judá, fazendo grandes estragos em Israel. 23 Judas viu que a maldade praticada contra os israelitas por Alcimo e pelos que estavam com ele era pior ainda que a dos gentios, 24 e saiu por todo o território da Judéia, dando o merecido castigo aos desertores, os quais então cessaram de circular pela região.

 Nicanor na Judéia 

25 Ao ver que Judas e seus companheiros estavam se tornando mais fortes e percebendo que não poderia enfrentá-los, Alcimo voltou para junto do rei e acusou-os de muitas maldades. 26 O rei enviou Nicanor, um de seus generais mais ilustres, que demonstrava ódio e hostilidade contra Israel, com a ordem de exterminar esse povo. 27 Nicanor, pois, chegou a Jerusalém com um poderoso exército, e dirigiu a Judas, bem como a seus irmãos, falsas propostas de paz: 28 “Não haja guerra entre mim e vós! Estou indo com pou­cos homens, para uma entrevista pacífica.” 29 De fato, ele veio ter com Judas. Saudaram-se amistosamente, mas os inimigos estavam preparados para seqüestrar o chefe judeu. 30 Judas, porém, percebeu que Nicanor viera com segundas intenções e retirou-se por precaução, não querendo encontrar-se com ele. 31 Por sua vez, reconhecendo que seu ardil fora descoberto, Nicanor partiu no encalço de Judas para lhe dar combate, perto de Ca­farsalama. 32 Sucumbiram cerca de quinhentos homens do exército de Nicanor, e os outros refugiaram-se na cidade de Davi.

 Derrota e morte de Nicanor

33 Depois disso, o próprio Nicanor subiu para o monte Sião. Alguns sacerdotes e anciãos do povo saíram do lugar santo para saudá-lo cordialmente e mostrar-lhe o holocausto que estava sendo oferecido na intenção do rei. 34 Ele, porém, os escarneceu, desprezou, cuspiu neles e falou com insolência. 35 E ainda proferiu, cheio de cólera, este juramento: “Se desta vez Judas não for entregue às minhas mãos, e com ele o seu exército, imediatamente, juro que incendiarei esta Casa ao regressar vitorioso!” E foi-se embora, cheio de fúria. 36 Os sacerdotes voltaram-se e, de pé ante o altar e o templo, oraram chorando: 37 “Tu escolheste esta Casa para que teu Nome fosse aqui invocado, e para que ela seja casa de oração e de súplica para o teu povo. 38 Executa a vingança contra este homem e seu exército, e caiam sob a espada. Lembra-te de suas blasfêmias e não lhes concedas trégua!”
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Nicanor partiu de Jerusalém e foi acampar em Bet-Horon, onde um exército da Síria veio ajuntar-se a ele. 40 Judas por sua vez acampou em Hadasa, com três mil guerreiros, e fez esta oração: 41 “Senhor, quando os mensageiros do rei da Assíria blasfemaram, teu Anjo interveio e feriu cento e oitenta e cinco mil dentre eles. 42 Da mesma forma, hoje, esmaga este exército diante de nós, para que saibam, todos, que Nicanor blasfemou contra o teu lugar santo! Julga-o segundo a sua maldade!” 43 Os exércitos se enfrentaram no dia treze do mês de Adar, e o de Nicanor foi esmagado: ele próprio foi o primeiro a cair em combate. 44 Quando o seu exército viu que ele tinha morrido, largaram as armas e puseram-se a fugir. 45 Os judeus os perseguiram durante um dia, desde Hadasa até chegarem a Gazara, tocando as trombetas atrás deles para todos saberem. 46 De todas as aldeias da Judéia ao redor saíram grupos para cercá-los e fazê-los voltar atrás. E todos pereceram ao fio da espada, não escapando um só. 47 Recolhidos os despojos e o saque, cortaram a cabeça de Nicanor e sua mão direita, que ele tinha erguido com tanta insolência. Trouxeram-nas e as penduraram à vista de todos em Jerusalém. 48 O povo sentiu uma grande alegria, e passaram aquele dia num júbilo indescritível. 49 Resolveram então celebrar cada ano essa data, no dia treze do mês de Adar. 50 E a terra de Judá esteve em paz durante certo tempo.

 Elogio dos romanos

8 1 Judas teve conhecimento da fama dos romanos, dos quais se dizia que eram valentes guerreiros e que atendiam a tudo o que se pedisse deles; que estabeleciam pactos de amizade com todos os que os procurassem, 2 e que o seu poder era grande. Falaram-lhe também de suas batalhas, e das façanhas que realizaram na Galácia, onde eles venceram e sujeitaram essa região ao tributo; 3 também de tudo o que fizeram na região da Espanha, onde conquistaram as minas de prata e ouro que lá existem; 4 e, ainda, como dominavam todos os países com habilidade e persistência, mesmo no caso de países distantes; da mesma forma os reis, que vieram das extremidades da terra para atacá-los, eles os venceram e lhes infligiram grandes perdas, enquanto outros simplesmente lhes pagam tributo cada ano. 5 Falaram também de Filipe e de Perseu, reis dos ceteus, e de todos os que pegaram em armas contra eles, como os romanos os derrotaram na guerra e os venceram. 6 Também Antíoco o grande, rei da Ásia, que tinha marchado contra eles com cento e vinte elefantes, cavalaria, carros de guerra e numerosíssima infantaria, foi por eles desbaratado. 7 Os romanos o capturaram vivo e determinaram que ele e seus sucessores lhes pagariam um pesado tributo, além de ele ter de entregar reféns para cumprir o estabelecido. 8 Antíoco teve de entregar também as regiões da Jônia, da Misia e da Lídia, dentre as melhores de suas províncias, e os romanos por sua vez as deram ao rei Eumenes. 9 Quando os povos da Grécia planejaram fazer uma expedição contra eles, os romanos, cientes do plano, 10 enviaram um só general para enfrentá-los, e muitos deles foram mortos, mulheres e crianças foram levadas para o cativeiro, os romanos saquearam seus bens, subjugaram o país, destruíram suas fortalezas e os reduziram a uma escravidão que dura até hoje. 11 Outros reinos e ilhas que lhes haviam resistido por um tempo, eles os derrotaram e dominaram. 12 Com seus amigos, porém, e com os que neles confiavam, os romanos mantiveram a amizade. Eles submeteram reis, tanto os de perto como os de longe; e todos os que ouviam o seu nome ficavam com medo. 13 De fato, aqueles a quem eles quisessem ajudar nas suas pretensões ao reino, ficavam reis; aos que eles quisessem depor, depunham. Chegaram ao auge do seu poder. 14 Apesar de tudo, nenhum deles cingiu a coroa ou se vestiu de púrpura, para se engrandecer. 15 Construíram para si um edifício de reuniões onde diariamente deliberam trezentos e vinte homens acerca dos assuntos do povo, para lhes garantir a boa ordem. 16 Cada ano confiam a um só dentre eles o encargo de reinar e dominar sobre todo o seu território, e todos lhe obedecem, sem inveja ou rivalidade.

 Aliança dos judeus com os romanos

17 Judas escolheu Eupólemo, filho de João, filho de Acor, e Jasão, filho de Eleazar, e os enviou a Roma para firmarem com eles um pacto de amizade e colaboração. 18 Deviam pedir que os romanos lhes tirassem o jugo, pois viam que o reino dos gregos estava reduzindo Israel à servidão. 19 Eles partiram, pois, para Roma. Depois de longa viagem, entraram no senado e assim falaram: 20 “Judas Macabeu e seus irmãos e o povo dos judeus nos enviam a vós para firmarmos convosco uma aliança de paz, e para sermos inscritos no rol dos vossos aliados e amigos”. 21 A proposta agradou aos senadores. 22 E este é o texto da carta que eles gravaram em placas de bronze e remeteram a Jerusalém, para que aí fosse conservada, entre os judeus, como memorial de paz e de aliança: 23 “Prospe­ridade aos romanos e à nação dos judeus, em terra e no mar, para sempre! Longe deles a espada e o inimigo! 24 Se for declarada a guerra primeiro aos romanos ou a qualquer dos seus aliados em todos os seus domínios, 25 a nação dos judeus lhes trará auxílio de todo o coração, segundo as exigências do momento. 26 Aos agressores eles não darão nem fornecerão trigo, armas, dinheiro, ou navios, conforme tiver parecido bem a Roma, e cumprirão estas cláusulas sem nada receber. 27 Da mesma forma, porém, se a nação dos judeus for envolvida em guerra, os romanos lhes darão ajuda de todo o co­ração, segundo as possibilidades do mo­mento. 28 Aos agressores não se fornecerá trigo, nem armas, dinheiro, ou navios, conforme tiver parecido bem a Roma; e eles guardarão estas cláusulas sem falsidade. 29 Foi nesses termos que os romanos fizeram aliança com o povo dos judeus. 30 Se, no futuro, uns e outros decidirem acrescentar ou suprimir alguma coisa, façam-no livremente: o que for acrescentado, ou suprimido, será ratificado. 31 Quanto aos danos que o rei De­métrio causou, nós lhe escrevemos nestes ter­mos: ‘Por que fizeste pesar o teu jugo sobre os judeus, nossos amigos e aliados? 32 Se eles de novo nos procurarem para se queixar de ti, nós lhes faremos justiça e combateremos contra ti, por mar e por terra!’”

 Morte de Judas Macabeu

9 1 Quando Demétrio soube que Nicanor e suas tropas tinham sucumbido em combate, resolveu mandar de novo Báquides e Al­cimo até a Judéia, com a ala direita do exército real. 2 Eles partiram na direção de Gálgala e acamparam em Masalot, perto de Arbelas, tomando-a e matando grande número de pessoas. 3 No primeiro mês do ano cento e cinqüenta e dois, acamparam perto de Jerusalém. 4 Dali prosseguiram até Beret, com vinte mil homens de infantaria e dois mil cavaleiros. 5 Judas acampara em Elasa, tendo consigo três mil guerreiros escolhidos. 6 Ao verem o tamanho de um exército tão numeroso, ficaram com muito medo. Muitos desertaram do acampamento, permanecendo aí apenas oitocentos homens. 7 Judas viu que seu exército se reduzira, justamente quando urgia a batalha. Com o coração partido, por não ter mais tempo de reagrupar os seus, 8 desfaleceu. Logo, porém, disse aos que haviam permanecido com ele: “Partamos ao encontro dos nossos adversários, e vamos enfrentá-los!” 9 Os companheiros tentaram demovê-lo: “Não conseguiremos! Salvemos agora nossas vidas e depois voltaremos, nós e nossos irmãos, para lutar contra eles. Agora somos poucos demais!” 10 Judas replicou: “Longe de nós, fugir deles! Se chegou a nos­sa hora, morramos corajosamente em favor de nossos irmãos e não deixemos que se empane a nossa glória!”
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Entretanto, o exército inimigo deixou o acampamento e tomou posição para atacá-los. Sua cavalaria dividiu-se em duas alas, enquanto os atiradores de funda e os arqueiros iam à frente do exército, com os mais valentes na primeira linha. 12 Báquides estava na ala direita. A legião avançava dos dois lados, ao som das trombetas. Os do lado de Judas também tocaram suas trombetas 13 e a terra tremeu com o confronto dos dois exércitos. O combate durou desde a manhã até o entardecer. 14 Judas viu que Báquides e a parte mais forte do seu exército estavam do lado direito, e com ele reuniram-se todos os mais valentes. 15 A ala direita foi por eles desmantelada, e Judas os perseguiu até o monte de Azor. 16 Os da ala esquerda, quando viram a ala direita destroçada, foram no encalço de Judas e seus companheiros, atacando-os pelas costas. 17 A batalha tornou-se ainda mais renhida, e de ambos os lados houve muitas baixas. 18 Também Judas sucumbiu, e os outros fugiram. 19 Jônatas e Simão, irmãos de Judas, recolheram o seu corpo e o sepultaram no sepulcro da família, em Modin. 20 To­do o povo de Israel o lamentou e chorou profundamente, guardando luto por ele durante muitos dias. 21 Não paravam de lamentar: “Como foi sucumbir o herói, aquele que salvava o povo de Israel?” 22 O restante das ações de Judas e suas batalhas, as proezas que realizou, a sua grandeza, não pode ser aqui descrito. Seria assunto demais.


Jônatas Macabeu

 Jônatas sucede a Judas

23 Depois da morte de Judas, reapareceram os ímpios por todo o território de Israel, e os que praticam a maldade reergueram a cabeça. 24 Por essa ocasião alastrou-se uma fome terrível, e a região entregou-se a eles, aderindo a seu partido. 25 Por sua vez, Báquides escolheu homens ímpios para governarem o país. 26 Estes começaram a procurar e devassar os partidários de Judas, entregando-os a Báquides, o qual se vingava deles e os cobria de escárnios. 27 Foi grande então a tribulação em Israel, como nunca houve desde o fim do tempo dos profetas. 28 Reuniram-se então os partidários de Judas e disseram a Jônatas: 29 “Desde que teu irmão Judas morreu, não há mais alguém como ele, que lidere a luta contra os inimigos, contra Báquides e todos os adversários de nossa nação. 30 Por isso te escolhemos hoje em lugar dele, para seres o nosso guia e chefe, e para levares adiante a nossa luta”. 31 Jônatas, de fato, assumiu nesse tempo o comando, sucedendo a Judas, seu irmão.

 Jônatas no deserto de Técoa e na terra de Moab

32 Sabendo disso, Báquides procurava matar a Jônatas. 33 Por esse motivo, Jônatas e Simão, seu irmão, e todos os seus companheiros, fugiram para o deserto de Técoa e acamparam perto das águas da cisterna de Asfar. 34 (Báquides soube disso num dia de sábado e transportou-se, com todo o seu exército, para o outro lado do Jordão.) 35 Jônatas enviou seu irmão João, um dos chefes do exército, para pedir aos nabateus, seus amigos, que lhes emprestassem seu equipamento de guerra, que era considerável. 36 Mas os filhos de Jambri, saindo de Mádaba, seqüestraram João e tudo o que levava e se foram, carregando a presa. 37 Pouco depois, Jônatas e Simão, seu irmão, souberam que os filhos de Jambri iam celebrar um grande casamento, e já estavam conduzindo a noiva, filha de um dos grandes de Canaã, num solene cortejo, desde Nadabat. 38 Recordaram-se da sangrenta morte de seu irmão João e subiram a um monte, onde ficaram à espreita. 39 Erguendo os olhos, viram um bando ruidoso, com o noivo à frente e seus amigos e irmãos, ao encontro da noiva, com tamborins, músicos e muitas armas. 40 Então os judeus, saindo da sua emboscada por cima deles, os massacraram: muitos caíram mortos, os sobreviventes escaparam pelos montes, e eles carregaram todos os seus despojos. 41 Assim, as bodas se transformaram em luto, e o canto de seus músicos, em lamento. 42 Tendo assim vingado o sangue de seu irmão, os judeus voltaram para as margens do rio Jordão. 43 Ao saber disso, Báquides também veio, com um grande exército, para as margens do Jordão, num dia de sábado. 44 Jônatas disse aos companheiros: “Vamos lutar por nossa própria vida! Pois hoje não é como das outras vezes: 45 temos o combate à nossa frente, e as águas do Jordão de um lado, e brejo e matagal do outro. Não há por onde bater em retirada. 46 Agora, erguei ao céu o vosso clamor, a fim de poderdes livrar-vos das mãos de vossos inimigos!” Tra­vou-se o combate, 47 e Jônatas esteve a ponto de atingir Báquides, mas este escapou, desviando-se para trás. 48 A um certo momento, Jônatas e seus companheiros saltaram para o Jordão e o atravessaram a nado, enquanto os inimigos não entraram no rio ao seu encalço. 49 Do exército de Báquides pereceram, nesse dia, cerca de mil homens.


 Báquides ergue fortificações na Judéia.

Morte de Alcimo

Os homens de Báquides voltaram a Jerusalém 50 e começaram a construir cidades for­tificadas na Judéia: as fortalezas que havia em Jericó, Emaús, Bet-Horon, Betel, Tam­nata, Faraton e Tefon, todas ficaram com altas muralhas, com portas e ferrolhos. 51 Bá­quides deixou guarnições em cada uma delas, para que fizessem incursões contra Israel. 52 Fortificou também as cidades de Betsur e Gazara, além da cidadela, deixando­ aí tropas e reservas de mantimentos. 53 Além disso, tomou como reféns os filhos das principais famílias do país e os aprisionou na cidadela, em Jerusalém.
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No ano cento e cinqüenta e três, no segundo mês, Alcimo mandou derrubar o muro do átrio interno do lugar santo, destruindo assim a obra dos profetas. Mas apenas começou a executar a demolição, 55 pois nesse mesmo instante foi atingido por Deus, e os trabalhos foram interrompidos. Seu rosto se paralisou, ele perdeu os sentidos, não pôde mais pronunciar uma só palavra nem sequer repartir os seus bens. 56 Pouco depois faleceu, no meio dos maiores sofrimentos. 57 Vendo que Alcimo estava morto, Báquides voltou para junto do rei, e a terra de Judá gozou de paz durante dois anos.

 Báquides é derrotado e deixa a Judéia

58 Entretanto, todos os ímpios começaram a dizer: “Reparai como Jônatas e seus companheiros estão vivendo tranqüilos e descui­dados. É o momento de chamarmos Báqui­des, e ele os prenderá todos numa só noite!”­ 59 E foram falar com ele sobre o assunto. 60 Báquides pôs-se a caminho com um grande­ exército, e mandou instruções secretas a seus colaboradores na Judéia, para que capturassem Jônatas e seus companheiros. Mas não puderam fazê-lo, pois o plano fora descober­to. 61 Em represália, os judeus prenderam e mataram uns cinqüenta homens do território, que eram os cabeças dessa traição. 62 Então, Jônatas e Simão, com os seus companheiros, retiraram-se para Bet-Basi, na região do deserto, restaurando e fortificando o lugar. 63 Sabendo disso, Báquides reuniu to­das as suas tropas e mandou avisar seus partidários da Judéia. 64 Veio tomar posição diante de Bet-Basi e atacou-a durante muitos­ dias, inclusive com máquinas de assédio. 65 Deixando seu irmão Simão na cidade, Jô­natas saiu para campo aberto com um peque­no destacamento. 66 Bateu Odomera e seus irmãos, assim como os filhos de Fasiron em suas tendas, começando assim a vencer e a crescer em forças. 67 Enquanto isso, Simão e seus homens saíram da cidade, incendiaram as máquinas de assalto 68 e enfrentaram o próprio Báquides, que acabou derrotado por eles. Isso o afligiu profundamente, porque o seu plano e a sua expedição tinham malogrado. 69 Ele ficou furioso contra os homens ímpios que lhe haviam dado o conselho de fazer essa expedição, matou a muitos deles e resolveu voltar para a sua terra. 70 Ao ter?co­nhecimento disso, Jônatas mandou-lhe mensageiros para negociar a paz e combinar a troca de prisioneiros. 71 Ele aceitou e fez o que Jônatas propunha, jurando nunca mais prejudicá-lo todos os dias de sua vida. 72 Devolveu-lhe os prisioneiros que havia feito?na terra de Judá, voltou para o seu país, e nunca mais pensou em vir para o território dos judeus. 73 Assim, a espada cessou de afligir Israel. Jônatas foi morar em Macmas, e ali começou a governar o povo. E fez desaparecer os ímpios do meio de Israel.

 Alexandre Balas nomeia Jônatas sumo sacerdote

10 1 No ano cento e sessenta, Alexandre Epífanes, filho de Antíoco, desem­barcou em Ptolemaida e a ocupou. Bem recebido, começou aí o seu reinado. 2 Ao saber disso, o rei Demétrio reuniu um enorme exército e partiu para enfrentá-lo. 3 Demétrio mandou também uma carta a Jônatas em ter­mos cordiais, fazendo-lhe grandes promessas. 4 Pois dizia consigo: “Apressemo-nos em firmar a paz com ele, antes que ele o faça com Alexandre contra nós. 5 Pois Jônatas certamente se recorda de todos os males que causamos a ele e a seu irmão e a todo o seu povo”. 6 Nessa carta dava-lhe autorização para recrutar um exército e fabricar armas, e a se conduzir como seu aliado. Prometia também entregar-lhe os reféns que se encon­travam na cidadela. 7 Jônatas veio então a Jerusalém e leu a carta diante de todo o povo e daqueles que se encontravam na cidadela. 8 Todos ficaram muito assustados ao ouvirem­ que o rei lhe dava autorização para recrutar um exército. 9 Os que estavam na cidadela entregaram os reféns a Jônatas, e este os devolveu a seus pais. 10 Jônatas passou a morar em Jerusalém, e começou a reconstruir e restaurar a cidade. 11 Aos que estavam executan­do os trabalhos, ordenou que levantassem os muros ao redor do monte Sião usando pedras quadradas para maior resistência, e eles assim o fizeram. 12 Então os estrangeiros,­ que estavam nas fortalezas construídas por Báquides, puseram-se em fuga. 13 Cada um abandonou o seu posto e foram-se embora, para sua terra. 14 Somente em Betsur permaneceram alguns dos que tinham abando­nado a Lei e os mandamentos: ali era o seu lugar de refúgio.
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O rei Alexandre soube das promessas que Demétrio tinha feito a Jônatas. Contaram-lhe também as batalhas e façanhas que Jô­natas e seus irmãos tinham realizado e os sofrimentos­ que tinham suportado. 16 Então comentou: “Onde encontraremos um homem igual a este? Vamos fazer dele agora o nosso amigo e aliado!” 17 Escreveu-lhe, pois, uma carta, nes­tes termos: 18 “O rei Alexandre­ a seu irmão Jô­natas, saudações. 19 Ouvimos, a teu respeito, que és um homem valente e corajoso, e que és digno de ser nosso amigo.­ 20 Por isso te nomeamos hoje sumo sacerdote da tua nação e te concedemos o título de amigo do rei, para que nos apoies em nossos­ objetivos e nos conserves a tua amizade.” E mandou-lhe um manto de púrpura e uma coroa de ouro.
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Jônatas revestiu-se com a túnica sagrada no sétimo mês do ano cento e sessenta, na festa das Tendas. Enquanto isso, ia recrutando soldados e fabricando muitas armas.

 Contraproposta de Demétrio I

22 Demétrio ouviu falar disso e comentou, muito contrariado: 23 “Que fizemos para que Alexandre tenha passado à nossa frente, conquistando a amizade dos judeus e firmando assim a sua posição? 24 Também eu lhes escreverei em termos persuasivos, e lhes ofe­recerei cargos e presentes, para que me garantam o seu apoio!” 25 De fato, escreveu-lhes deste modo: “O rei Demétrio à nação dos judeus, saudações. 26 Ficamos muito contentes em saber que observastes a aliança feita conosco e permanecestes em nossa amizade, sem passar para o lado dos nossos inimigos. 27 Continuai, pois, a guardar a vossa fidelidade para conosco e vos retribuiremos com benefícios tudo aquilo que fizerdes por nós. 28 Nós vos isentaremos de muitos impos­tos e, pelo contrário, vos faremos doações. 29 A partir de agora, vos libero, e declaro isentos todos os judeus, dos tributos, do imposto sobre o sal e das coroas. 30 Além disso, renun­cio à terça parte da semeadura e à metade dos frutos das árvores, que me caberiam por direito; de hoje em diante, deixo de arrecadá-los da terra de Judá e dos três distritos que lhe foram anexados, bem como da Samaria e da Galiléia. Isto, a partir de hoje e para sempre. 31 Jerusalém seja uma cidade santa e isenta, assim como seu território, sem dízimos nem tributos. 32 Renuncio também ao poder sobre a cidadela de Jerusalém e a entrego ao sumo sacerdote, para que ele estabeleça ali uma guarnição de sua escolha, para defendê-la. 33 A todo judeu que tiver sido levado prisioneiro da terra de Judá e se encontre em qualquer parte do meu reino, restituo-lhe a liberdade, sem exigir resgate. Que todos sejam isentos dos impostos, inclusive do seu gado. 34 E todos os dias de festa, os sábados e as luas novas, as solenidades prescritas bem como os três dias antes e três dias depois, sejam todos dias de imunidade e de anistia para todos os judeus do meu reino. 35 Nesses dias ninguém tem autorização para cobrar coisa alguma ou perturbá-los por qualquer motivo que seja. 36 Sejam recrutados até trinta mil soldados, entre os judeus, para o exército do rei, e receberão o mesmo soldo que as demais tropas do reino. 37 Alguns deles serão destacados para as maiores fortalezas do rei, e outros serão nomeados para cargos de confiança no reino. Seus chefes e comandantes serão escolhidos entre eles, e poderão viver segundo suas próprias leis, como o ordenou o rei para a terra de Judá. 38 Quanto aos três distritos da província da Samaria, que foram acrescentados à Judéia, sejam anexados de tal modo que fiquem dependendo de um só homem, isentos da obediência a qualquer autoridade que não seja a do sumo sacer­dote. 39 Entrego Ptolemaida e seu território ao santuário de Jerusalém, para as despesas necessárias do culto. 40 De minha parte, darei todos os anos quinze mil moedas de prata, descontados das rendas reais, auferidas nos diversos lugares. 41 E tudo o que ficou atra­sa­do, o que não foi pago pelos meus administradores nos anos precedentes, de ora em diante o entregarão para as obras do templo. 42 Além disso, os cinco mil siclos de prata que eram recolhidos, cada ano, das receitas do San­tuário, também estes serão deixados, pois pertencem aos sacerdotes em exercício. 43 Todos os que se refugiarem no templo de Jerusalém ou dentro de seus limites, por causa de débitos para com o rei ou por qualquer outro motivo, fiquem anistiados, com todos os bens que possuam no meu reino. 44 Além disso, as despesas com as obras de reconstrução ou restauração do Santuário, correrão por conta do rei. 45 O mesmo vale para a reconstrução das muralhas de Jerusalém e para as fortificações ao seu redor, bem como para a reconstrução de outras muralhas na Judéia”.

 Confronto com Alexandre e morte de Demétrio I

46 Ouvindo essas palavras, Jônatas e o povo recusaram-se a acreditar nelas e a levá-las em consideração, porque ainda se lembravam de todo o imenso mal que Demétrio fizera em Israel e de como os havia atribulado. 47 Preferiam Alexandre, que fora o primeiro a lhes enviar propostas de paz, e continuaram a prestar-lhe auxílio permanentemente. 48 Então, o rei Alexandre reuniu grandes forças e partiu para enfrentar Demétrio. 49 Os dois reis travaram combate, mas o exército de Alexandre acabou fugindo. Demétrio partiu em sua perseguição e parecia estar vencendo. 50 A batalha se encarniçou até o pôr do sol, e nesse mesmo dia Demétrio foi morto.

 Aliança de Alexandre Balas com Ptolomeu VI e com Jônatas

51 Alexandre enviou embaixadores a Pto­lomeu, rei do Egito, com esta mensagem: 52 “Após voltar para o meu reino, e depois de me sentar no trono real de meus pais e assumir o poder, derrotei Demétrio e recuperei o nosso território. 53 Travei batalha contra ele e foi derrotado, ele e seu exército, por nossa mão, e sentamo-nos no seu trono real. 54 Façamos, pois, agora, um pacto de amizade: dá-me a tua filha como esposa e eu me tornarei teu genro. Para ti e para ela darei presentes dignos de ti”. 55 O rei Ptolomeu respondeu: “Feliz o dia em que voltaste para a terra de teus pais e te sentaste no seu trono real. 56 Farei imediatamente o que propuseste na carta. Para isso vem ao meu encontro em Ptolemaida, para que nos vejamos pessoalmente, e me tornarei teu sogro, como disseste”. 57 De fato, Ptolomeu partiu do Egito, ele e sua filha Cleópatra, e foi até Ptolemaida, no ano cento e sessenta e dois. 58 Tendo vindo o rei Alexandre ao seu encontro, ele entregou-lhe sua filha Cleópatra, e celebrou-se o casamento de ambos em Ptolemaida, com grande pompa, à moda dos reis.
­59 O rei Alexandre escrevera também a Jônatas, para que viesse visitá-lo. 60
Jônatas dirigiu-se a Ptolemaida com todo o aparato e encontrou-se ali com os dois reis. Deu a eles muito dinheiro, ouro e presentes, e encontrou graça a seus olhos. 61 Foi quando indivíduos pestilentos de Israel, homens iníquos, se reuniram contra ele e o acusaram diante do rei. Mas este não lhes deu atenção. 62 Pelo contrário, ordenou que fizessem Jô­na­tas trocar suas vestes, revestindo-o de púrpura, o que logo foi feito. Além disso, o rei fê-lo sentar-se ao seu lado 63 e disse aos dignitários: “Acompanhai-o ao centro da cidade e proclamai que ninguém, sob pretexto algum, apresente queixa contra ele, nem sequer­ ouse molestá-lo por qualquer mo­tivo. 64 Os que constestavam o seu prestígio, que assim era proclamado, quando viram Jô­natas­ cober­to de púrpura, fugiram todos. 65 O rei o engrandeceu ainda mais, inscreven­do-o entre­ seus primeiros amigos e nomeando-o chefe e participante do governo. 66 Assim, Jônatas vol­tou a Jerusalém em paz e com alegria.

 Demétrio II envia Apolônio contra Jônatas, que o derrota .

67 No ano cento e sessenta e cinco, Demé­trio, filho de Demétrio, partiu de Creta para a terra de seus pais. 68 Sabendo disso, o rei Ale­xandre, muito contrariado, voltou para An­tioquia. 69 Entretanto, o rei Demétrio nomeou como seu general a Apolônio, que era governador da Celessíria. Este reuniu um grande exército e veio até as proximidades de Jâmnia. Dali mandou dizer ao sumo sacer­dote Jônatas: 70 “Tu és o único que resistes a nós. E eu, por tua causa, me tornei alvo de es­cárnio e opróbrio. Por que te prevaleces contra nós, da vantagem que tens nas montanhas? 71 Se confias nas tuas forças, desce contra nós em campo aberto, e aí nos comparemos um com o outro, porque a força das cidades está comigo. 72 Informa-te, e fica sabendo quem eu sou e quem são os outros, nossos aliados. Eles te dirão: ‘Não podeis manter-vos de pé diante de nós, porque já por duas vezes teus pais foram postos em fuga na sua própria terra. 73 Tu não poderás resistir à cavalaria e a tão grande exército na planície, onde não há pedra nem rochedo nem lugar para fugir”.­
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Ouvindo essas palavras de Apolônio, Jô­natas ficou indignado. Escolheu dez mil homens e saiu de Jerusalém, seu irmão Simão tendo vindo também para dar-lhe reforço. 75 Tendo ele acampado perto de Jope, os habitantes da cidade lhe fecharam as portas, pois ali estava uma guarnição de Apolônio. Os homens de Jônatas iniciaram o ataque. 76 Apavorados, os habitantes da cidade abriram as portas, e Jônatas apoderou-se de Jope. 77 Ao saber disso, Apolônio pôs em linha de batalha três mil cavaleiros e uma numerosa infantaria, e dirigiu-se para Azoto, como se fosse atravessar a região. Logo, porém, saiu para campo aberto, porque tinha muitos cavaleiros e confiava neles. 78 Jônatas foi atrás dele, na direção de Azoto, e os dois exércitos se enfrentaram. 79 Entretanto, Apolônio dei­xara mil cavaleiros escondidos, na retaguarda. 80 Jônatas sou­be que havia uma emboscada por trás: de fato, os cavaleiros ro­dea­ram seu acampamento e lançaram dardos no povo desde a manhã até a tarde. 81 Os judeus, porém, re­sistiram, como Jônatas havia orientado, e os cavalos dos inimigos se cansaram. 82 Então Simão lançou seu exército e atacou as tropas de Apolônio, cujos cavaleiros estavam exaustos. Derrotados por ele, começaram a fugir. 83 A cavalaria se dispersou na pla­nície. Os fugitivos chegaram a Azoto e entraram no Bet-Dagon, o templo do ídolo local, para ali se porem a salvo. 84 Mas Jô­natas incendiou Azoto e as cidades vizinhas, após recolher os seus despojos. Incendiou também o templo de Dagon, com todos os que haviam procurado refúgio dentro dele. 85 Somando-se os que tombaram pe­la espada­ com os que morreram queimados, chegou-se a quase mil mortos. 86 Jônatas partiu dali e acampou diante de Ascalon. Os ha­bitantes­ da cidade saíram para recebê-lo com grande­ pompa. 87 Depois, ele e seus companheiros vol­taram para Jerusalém, carregados de des­pojos. 88 Quando o rei Alexandre ouviu contar esses fatos, resolveu conceder mais honrarias a Jônatas. 89 Mandou-lhe uma fivela de ouro, das que se cos­tuma oferecer aos parentes do rei, e concedeu-lhe também a posse de Acaron e de todo o seu território.


1Macabeus (CNB) 6