Audiências 2005-2013 11106

11 de Outubro de 2006: Simão o Cananeu e Judas Tadeu

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Queridos irmãos e irmãs!

Hoje tomamos em consideração dois dos doze Apóstolos: Simão o Cananeu e Judas Tadeu (que não se deve confundir com Judas Iscariotes). Consideramo-los juntos, não só porque nas listas dos Doze são sempre mencionados um ao lado do outro (cf.
Mt 10,4 Mc 3,18 Lc 6,15 Ac 1,13), mas também porque as notícias que a eles se referem não são muitas, excepto o facto que o Cânon neotestamentário conserva uma carta atribuída a Judas Tadeu.

Simão recebe um epíteto que varia nas quatro listas: Mateus qualifica-o como "cananeu", Lucas define-o "zelote". Na realidade, as duas qualificações equivalem-se, porque significam a mesma coisa: na língua hebraica, de facto, o verbo qanà' significa "ser zeloso", "dedicado" e pode referir-se quer a Deus, porque é zeloso do povo por ele escolhido (cf. Ex 20,5), quer a homens que são zelosos no serviço a Deus único com dedicação total, como Elias (cf. 1R 19,10). Portanto, é possível que este Simão, se não pertencia exactamente ao movimento nacionalista dos Zelotes, tivesse pelo menos como característica um fervoroso zelo pela identidade judaica, por conseguinte, por Deus, pelo seu povo e pela Lei divina. Sendo assim, Simão coloca-se no antípoda de Mateus, que ao contrário, sendo publicano, provinha de uma actividade considerada totalmente impura.

Sinal evidente que Jesus chama os seus discípulos e colaboradores das camadas sociais e religiosas mais diversas, sem exclusão alguma. Ele interessa-se pelas pessoas, não pelas categorias sociais ou pelas actividades! E o mais belo é que no grupo dos seus seguidores, todos, mesmo se diversos, coexistiam, superando as inimagináveis dificuldades: de facto, era o próprio Jesus o motivo de coesão, no qual todos se reencontravam unidos. Isto constitui claramente uma lição para nós, com frequência propensos a realçar as diferenças e talvez as contraposições, esquecendo que em Jesus Cristo nos é dada a força para superar os nossos conflitos. Tenhamos também presente que o grupo dos Doze é a prefiguração da Igreja, na qual devem ter espaço todos os carismas, os povos, as raças, todas as qualidades humanas, que encontram a sua composição e a sua unidade na comunhão com Jesus.

No que se refere depois a Judas Tadeu, ele é chamado assim pela tradição, unindo ao mesmo tempo dois nomes diferentes: de facto, enquanto Mateus e Marcos o chamam simplesmente "Tadeu" (Mt 10,3 Mc 3,18), Lucas chama-o "Judas de Tiago" (Lc 6,16 Ac 1,13). O sobrenome Tadeu tem uma derivação incerta e é explicado ou como proveniente do aramaico taddà', que significa "peito" e, por conseguinte, significaria "magnânimo", ou como abreviação de um nome grego como "Teodoro, Teódoto". Dele são transmitidas poucas coisas. Só João assinala um seu pedido feito a Jesus durante a Última Ceia. Diz Tadeu ao Senhor: "Senhor, como aconteceu que te deves manifestar a nós e não ao mundo?". É uma pergunta de grande actualidade, que também nós fazemos ao Senhor: porque o Ressuscitado não se manifestou em toda a sua glória aos seus adversários para mostrar que o vencedor é Deus? Por que se manifestou só aos Discípulos? A resposta de Jesus é misteriosa e profunda. O Senhor diz: "Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada" (Jn 14,22-23). Isto significa que o Ressuscitado deve ser visto, sentido também com o coração, de modo que Deus possa habitar em nós. O Senhor não se mostra como uma coisa. Ele quer entrar na nossa vida e por isso a sua manifestação é uma manifestação que exige e pressupõe o coração aberto. Só assim vemos o Ressuscitado.

Foi atribuída a Judas Tadeu a paternidade de uma das Cartas do Novo Testamento, que são chamadas "católicas" porque não se destinam a uma determinada Igreja local, mas a um círculo muito amplo de destinatários. De facto, ele dirige-se "aos eleitos amados por Deus Pai e guardados para Jesus Cristo" (v. 1). A preocupação central deste escrito é advertir os cristãos de todos os que, com o pretexto da graça de Deus, desculpam a própria devassidão e para desviar outros irmãos com ensinamentos inaceitáveis, introduzindo divisões dentro da Igreja "deixando-se levar pelo seu delírio" (v. 8), assim define Judas estas suas doutrinas e ideias especiais. Ele compara-os inclusivamente aos anjos caídos, e com palavras fortes diz que "seguiram pelo caminho de Caim" (v. 11). Além disso classifica-os sem reticências como "nuvens sem água que os ventos levam; árvores de outono sem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas furiosas do mar que repelem a espuma da sua torpeza; estrelas errantes condenadas à negrura das trevas eternas" (vv. 12-13).

Talvez hoje nós já não estejamos habituados a usar uma linguagem tão polémica, que contudo nos diz uma coisa importante. No meio de todas as tentações que existem, com todas as correntes da vida moderna, devemos conservar a identidade da nossa fé. Certamente, o caminho da indulgência e do diálogo, que o Concílio Vaticano II felizmente empreendeu, deve ser sem dúvida prosseguida com uma constância firme. Mas este caminho do diálogo, tão necessário, não deve fazer esquecer o dever de reconsiderar e de evidenciar sempre com igual força as linhas-mestras e irrenunciáveis da nossa identidade cristã. Por outro lado, é necessário ter bem presente que esta nossa identidade exige força, clareza e coragem face às contradições do mundo em que vivemos. Por isso o texto epistolar prossegue assim: "Mas vós, caríssimos, fala a todos nós mantende-vos no amor de Deus, esperando que a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda a vida eterna. Tratai com misericórdia aqueles que vacilam..." (vv. 20-22). A Carta conclui-se com estas bonitas palavras: "Àquele que é poderoso para vos livrar das quedas e vos apresentar diante da sua glória, imaculados e cheios de alegria, ao Deus único, nosso Salvador, por meio de Jesus Cristo, Senhor nosso, seja dada glória, a majestade, a soberania e o poder, antes de todos os tempos, agora e por todos os séculos, Amém" (vv. 24-25).

Vê-se bem que o autor destas frases vive plenamente a própria fé, à qual pertencem realidades grandes como a integridade moral e a alegria, a confiança e por fim o louvor, sendo motivado em tudo apenas pela bondade do nosso único Deus e pela misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, tanto Simão o Cananeu, como Judas Tadeu nos ajudam a redescobrir sempre de novo e a viver incansavelmente a beleza da fé cristã, sabendo dar um testemunho dela forte e ao mesmo tempo sereno.
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Saudações

Saúdo com especial afecto os peregrinos de língua portuguesa, especialmente o grupo de portugueses da Paróquia de Queluz e os numerosos visitantes brasileiros de Curitiba e de Cordeirópolis. Sejam bem-vindos. A vossa passagem por Roma seja abençoada por Deus e por Maria Santíssima, Rainha do Santíssimo Rosário. Com a minha Bênção Apostólica.

Sinto-me feliz por vos receber, queridos peregrinos de língua francesa. Saúdo particularmente as Irmãs de Jesus-Maria e os coroinhas da Haute-Ajoie, na Suíça. Ao pôr-vos no seguimento dos Apóstolos, sede atentos a redescobrir e a viver sempre mais intensamente a beleza da fé cristã e a testemunhá-la com convicção e serenidade. Que Deus vos abençoe!

Queridos irmãos e irmãs!

Dou cordiais boas-vindas aos grupos de peregrinos e visitantes de língua inglesa presentes hoje nesta audiência, especialmente as Irmãs Missionárias da Imaculada. Rezo para que a vossa estadia em Roma renove a vossa fé e para que o Senhor vos fortaleça na vossa identidade Cristã, seguindo o exemplo dos Apóstolos Simão e Judas. Deus vos abençoe a todos!

Saúdo os polacos aqui presentes. O Senhor Jesus disse a Judas: "Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra, e o meu Pai o amará e Nós viremos a ele e nele faremos morada" (Jn 14,23). A visita aos túmulos dos Apóstolos vos cumule do amor de Cristo, pelo qual eles deram a vida. Que Deus vos abençoe.

Saúdo cordialmente os peregrinos croatas, particularmente os fiéis da paróquia de Santo António de Zagrábia, os empregados da Agência Nacional Croata para o Turismo e o grupo de Vinkovci. Repletos da paz e do amor de Deus, sede a alegria para quantos encontrardes no caminho da vida. Louvados sejam Jesus e Maria!

Por fim, dirijo-me aos jovens, aos doentes, e aos novos casais. Hoje a liturgia recorda o beato João XXIII, meu venerado Predecessor, que serviu com exemplar dedicação Cristo e a Igreja, empenhando-se com solicitude constante pela salvação das almas. A sua protecção vos ampare, queridos jovens, no esforço de fidelidade quotidiana a Cristo; encoraje vós, queridos doentes, a não perder a confiança no momento da prova e do sofrimento; e vos ajude a vós, estimados novos casais, a fazer da vossa família uma escola de crescimento no amor de Deus e dos irmãos.



18 de Outubro de 2006: Judas Iscariotes e Matias

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Queridos irmãos e irmãs!

Terminando hoje de percorrer a galeria de retratos dos Apóstolos chamados directamente por Jesus durante a sua vida terrena, não podemos omitir de mencionar aquele que é sempre nomeado por último nas listas dos Doze: Judas Iscariotes. A ele queremos associar a pessoa que depois é eleita para o substituir, Matias.

Já o simples nome de Judas suscita entre os cristãos uma reacção instintiva de reprovação e de condenação. O significado do apelativo "Iscariotes" é controverso: a explicação mais seguida compreende esta palavra como "homem de Queriot" referindo-se à sua aldeia de origem, situada nas vizinhanças de Hebron e mencionada duas vezes na Sagrada Escritura (cf.
Jos 15,25 Am 2,2).

Outros interpretam-no como variação da palavra "sicário", como se aludisse a um guerrilheiro armado com um punhal que em latim se chama sica. Por fim, há quem veja no sobrenome a simples transcrição de uma raiz hebraico-aramaica que significa: "aquele que estava para o entregar". Esta designação encontra-se duas vezes no IV Evangelho, ou seja, depois de uma confissão de fé de Pedro (cf. Jn 6,71) e depois durante a unção de Betânia (cf. Jn 12,4). Outras passagens mostram que a traição estava a ser realizada, dizendo: "aquele que o traía"; assim, durante a Última Ceia, depois do anúncio da traição (cf. Mt 26,25) e depois no momento do aprisionamento de Jesus (cf. Mt 26,46 Mt 26,48 Jn 18,2 Jn 18,5). Ao contrário, as listas dos Doze recordam a traição como uma coisa já efectuada: "Judas Iscariotes, o que o traiu", assim diz Marcos (Mc 3,19); Mateus (Mt 10,4) e Lucas (Lc 6,16) usam fórmulas equivalentes. A traição como tal aconteceu em dois momentos: antes de tudo no planeamento, quando Judas se põe de acordo com os inimigos de Jesus por trinta moedas de prata (cf. Mt 26,14-16), e depois na execução com o beijo dado ao Mestre no Getsémani (cf. Mt 26,46-50). Contudo, os evangelistas insistem sobre a qualidade de apóstolo, que competia a Judas para todos os efeitos: ele é repetidamente chamado "um dos Doze" (Mt 26,14 Mt 26,47 Mc 14,10 Mc 14,20 Jn 6,71) ou "do número dos Doze" (Lc 22,3). Aliás, por duas vezes Jesus, dirigindo-se aos Apóstolos e falando precisamente dele, indica-o como "um de vós" (Mt 26,21 Mc 14,18 Jn 6,70 Jn 13,21). E Pedro dirá de Judas que "era do nosso número e tinha recebido o nosso mesmo ministério" (Ac 1,17).

Trata-se portanto de uma figura pertencente ao grupo dos que Jesus tinha escolhido como companheiros e colaboradores íntimos. Isto suscita duas perguntas na tentativa de dar uma explicação aos acontecimentos que se verificaram. A primeira consiste em perguntar como aconteceu que Jesus tenha escolhido este homem e nele tenha confiado. Apesar de Judas ser de facto o ecónomo do grupo (cf. Jn 12,6b Jn 13,29a), na realidade é qualificado também como "ladrão" (Jn 12,6). Permanece o mistério da escolha, também porque Jesus pronuncia um juízo muito severo sobre ele: "ai daquele por quem o Filho do Homem vai ser entregue" (Mt 26,24).

Torna-se ainda mais denso o mistério acerca do seu destino eterno, sabendo que Judas "se arrependeu e restituiu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos idosos, dizendo: "Pequei, entregando sangue inocente"" (Mt 27,3-4). Mesmo se em seguida ele se afastou para se ir enforcar (cf. Mt 27,5), não compete a nós julgar o seu gesto, substituindo-nos a Deus infinitamente misericordioso e justo.

Uma segunda pergunta refere-se ao motivo do comportamento de Judas: porque traíu Jesus? A questão é objecto de várias hipóteses. Alguns recorrem ao factor da sua avidez de dinheiro; outros dão uma explicação de ordem messiânica: Judas teria ficado desiludido ao ver que Jesus não inseria no seu programa a libertação político-militar do seu próprio País. Na realidade os textos evangélicos insistem sobre outro aspecto: João diz expressamente que "tendo já o diabo metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que O entregasse" (Jn 13,2); analogamente escreve Lucas: "Entrou satanás em Judas, chamado Iscariotes que era do número dos Doze" (Lc 22,3).

Desta forma, vai-se além das motivações históricas e explica-se a vicissitude com base na responsabilidade pessoal de Judas, o qual cedeu miseravelmente a uma tentação do maligno. A traição de Judas permanece, contudo, um mistério. Jesus tratou-o como um amigo (cf. Mt 26,50), mas, nos seus convites a segui-lo pelo caminho das bem-aventuranças, não forçava as vontades nem as preservava das tentações de satanás, respeitando a liberdade humana.

De facto, as possibilidades de perversão do coração humano são verdadeiramente muitas. O único modo de as evitar consiste em não cultivar uma visão das coisas apenas individualista, autónoma, mas ao contrário em colocar-se sempre de novo da parte de Jesus, assumindo o seu ponto de vista. Devemos procurar, dia após dia, estar em plena comunhão com Ele. Recordemo-nos de que também Pedro se queria opor a ele e ao que o esperava em Jerusalém, mas recebeu uma forte reprovação: "Tu não aprecias as coisas de Deus, mas só as dos homens" (Mc 8,32-33)!

Pedro, depois da sua queda, arrependeu-se e encontrou perdão e graça. Também Judas se arrependeu, mas o seu arrependimento degenerou em desespero e assim tornou-se autodestruição. Para nós isto é um convite a ter sempre presente quanto diz São Bento no final do fundamental capítulo V da sua "Regra": "Nunca desesperar da misericórdia divina".

Na realidade Deus "é maior que o nosso coração", como diz São João (1Jn 3,20).Por conseguinte, tenhamos presente duas coisas. A primeira: Jesus respeita a nossa liberdade. A segunda: Jesus espera a nossa disponibilidade para o arrependimento e para a conversão; é rico de misericórdia e de perdão. Afinal, quando pensamos no papel negativo desempenhado por Judas devemos inseri-lo na condução superior dos acontecimentos por parte de Deus. A sua traição levou à morte de Jesus, o qual transformou este tremendo suplício em espaço de amor salvífico e em entrega de si ao Pai (cf. Ga 2,20 Ep 5,2 Ep 5,25).

O Verbo "trair" deriva de uma palavra grega que significa "entregar". Por vezes o seu sujeito é inclusivamente Deus em pessoa: foi ele que por amor "entregou" Jesus por todos nós (cf. Rm 8,32). No seu misterioso projecto salvífico, Deus assume o gesto imperdoável de Judas como ocasião da doação total do Filho para a redenção do mundo.

Em conclusão, queremos recordar também aquele que depois da Páscoa foi eleito no lugar do traidor. Na Igreja de Jerusalém a comunidade propôs dois para serem sorteados: "José, de apelido Barsabas, chamado justo, e Matias" (Ac 1,23). Foi precisamente este o pré-escolhido, de modo que "foi associado aos onze Apóstolos" (Ac 1,26). Dele nada mais sabemos, a não ser que também tinha sido testemunha de toda a vicissitude terrena de Jesus (cf. Ac 1,21-22), permanecendo-lhe fiel até ao fim. À grandeza desta sua fidelidade acrescenta-se depois a chamada divina a ocupar o lugar de Judas, como para compensar a sua traição. Tiramos disto mais uma lição: mesmo se na Igreja não faltam cristãos indignos e traidores, compete a cada um de nós equilibrar o mal que eles praticam com o nosso testemunho transparente a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

Saudações

Saúdo o grupo de visitantes do Brasil e demais peregrinos de língua portuguesa, a quem agradeço a presença e quanto a mesma significa de confissão de fé e amor a Jesus Cristo vivo na sua Igreja. Que Deus vos guarde e abençoe!

Acolho com alegria os peregrinos de língua francesa, em particular os peregrinos da Diocese de Limoges, acompanhados pelo seu Bispo, D. Christophe Dufur, assim como os membros do capítulo dos Irmãos do Sagrado Coração e o seu novo superior-geral. Que a vossa peregrinação a Roma vos fortaleça na alegria de serdes discípulos e testemunhas de Cristo ressuscitado!

Dou as boas-vindas aos peregrinos de língua inglesa que aqui se encontram, especialmente às Irmãs da Providência que vieram para a canonização da Madre Théodore Guérin. Saúdo também os peregrinos provenientes da África, da Ásia, da Grã-Bretanha e da Irlanda, da Escandinávia e dos Estados Unidos da América. Que Deus vos abençoe, assim como às vossas famílias.

Saúdo de coração todos os visitantes de língua alemã, de modo especial o grupo da escola "Kardinal-von-Galen" de Münster. Obrigado pela vossa presença e pelo vosso vigoroso testemunho. Na escola de Jesus aprendemos a verdadeira liberdade do coração. Deixai entrar no vosso coração a chamada de Deus. O Espírito Santo vos acompanhe nos vossos caminhos!

Saúdo cordialmente todos os peregrinos polacos. Celebra-se esta semana o aniversário da eleição para a Sé de Pedro do meu amado predecessor, João Paulo II. Desejo a vós aqui presentes, e a toda a comunidade cristã, que o testemunho da vida e o rico magistério pastoral do venerado Servo de Deus dêem frutos com actos de amor e de fé. Deus vos abençoe.

Por fim, dirijo-me aos jovens, aos doentes, e aos novos casais. Olhando para o exemplo resplandecente de São Lucas evangelista, convido-vos, queridos jovens, a serdes corajosos anunciadores de Cristo, Palavra de salvação "que não passa"; exorto-vos a vós, queridos doentes, a enfrentar os sofrimentos com espírito de fé e esperança cristã; e desejo a vós, estimados novos casais, que obtenhais sempre do Senhor crucificado e ressuscitado o amor divino que torna firme e fecunda a vossa união.

Tomei conhecimento com profundo pesar da notícia do desastre que ocorreu ontem de manhã no Metropolitano de Roma. Neste momento de dor, estou particularmente próximo de quantos foram atingidos pelo trágico acontecimento; desejo expressar-lhes sentimentos de conforto e de afecto, garantindo uma recordação especial na oração.



25 de Outubro de 2006: Paulo, perfil do homem e do apóstolo

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Queridos irmãos e irmãs!

Concluímos as nossas reflexões sobre os doze Apóstolos chamados directamente por Jesus durante a sua vida terrena. Iniciamos hoje a aproximar as figuras de outras personagens importantes da Igreja primitiva. Também elas dedicaram a sua vida ao Senhor, ao Evangelho e à Igreja. Trata-se de homens, e também de mulheres que, como escreve Lucas no Livro dos Actos, "expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo" (
Ac 15,26).

O primeiro deles, chamado pelo próprio Senhor, pelo Ressuscitado, para ser também ele um verdadeiro Apóstolo, é sem dúvida Paulo de Tarso. Ele brilha como estrela de primeira grandeza na história da Igreja, e não só da primitiva. São João Crisóstomo exalta-o como personagem superior até a muitos anjos e arcanjos (cf. Panegirico, 7, 3). Dante Alighieri na Divina Comédia, inspirando-se na narração de Lucas feita nos Actos (cf. Ac 9,15), define-o simplesmente "vaso de eleição" (Inf. 2, 28), que significa: instrumento pré-escolhido por Deus. Outros chamaram-no o "décimo terceiro Apóstolo" e realmente ele insiste muito para ser um verdadeiro Apóstolo, tendo sido chamado pelo Ressuscitado ou até "o primeiro depois do Único". Sem dúvida, depois de Jesus, ele é o personagem das origens sobre a qual estamos mais informados. De facto, possuímos não só a narração que dele faz Lucas nos Actos dos Apóstolos, mas também um grupo de Cartas que provêm directamente da sua mão e sem intermediários nos revelam a sua personalidade e o seu pensamento. Lucas informa-nos que o seu nome originário era Saulo (cf. Ac 7,58 Ac 8,1, etc.), aliás em hebraico Saul (cf. Ac 9,14 Ac 9,17 Ac 22,7 Ac 22,13 Ac 26,14), como o rei Saul (cf. Ac 13,21), e era um judeu da diáspora, estando a cidade de Tarso situada entre a Anatólia e a Síria. Tinha ido muito cedo a Jerusalém para estudar profundamente a Lei moisaica aos pés do grande Rabi Gamaliel (cf. Ac 22,3). Tinha aprendido também uma profissão manual e áspera, era fabricante de tendas (cf. Ac 18,3), que sucessivamente lhe permitiu sustentar-se pessoalmente sem pesar sobre as Igrejas (cf. Ac 20,34 1Co 4,12 2Co 12,13-14).

Para ele foi decisivo conhecer a comunidade dos que se professavam discípulos de Jesus. Por eles tinha sabido a notícia de uma nova fé um novo "caminho", como se dizia que colocava no seu centro não tanto a Lei de Deus, quanto a pessoa de Jesus, crucificado e ressuscitado, com o qual estava relacionada a remissão dos pecados. Como judeu zeloso, ele considerava esta mensagem inaceitável, aliás escandalosa, e por isso sentiu o dever de perseguir os seguidores de Cristo também fora de Jerusalém. Foi precisamente no caminho para Damasco, no início dos anos 30, que Saulo, segundo as suas palavras, foi "alcançado por Cristo" (Ph 3,12). Enquanto Lucas narra os factos com riqueza de pormenores de como a luz do Ressuscitado o alcançou e mudou fundamentalmente toda a sua vida ele nas suas Cartas vai directamente ao essencial e fala não só da visão (cf. 1Co 9,1), mas de iluminação (cf. 2Co 4,6) e sobretudo de revelação e de vocação no encontro com o Ressuscitado (cf. Ga 1,15-16). De facto, definir-se-á explicitamente "apóstolo por vocação" (cf. Rm 1,1 1Co 1,1) ou "apóstolo por vontade de Deus" (2Co 1,1 Ep 1,1 Col 1,1), para realçar que a sua conversão não era o resultado de um desenvolvimento de pensamentos, de reflexões, mas o fruto de uma intervenção divina, de uma imprevisível graça divina. A partir daquele momento, tudo o que antes constituía para ele um valor tornou-se paradoxalmente, segundo as suas palavras, perda e lixo (cf. Ph 3,7-10). A partir daquele momento todas as suas energias foram postas ao serviço exclusivo de Jesus Cristo e do seu Evangelho.

Agora a sua existência será a de um Apóstolo desejoso de "se fazer tudo em todos" (1Co 9,22) sem reservas.

Isto constitui para nós uma lição muito importante: o mais importante é colocar no centro da própria vida Jesus Cristo, de modo que a nossa identidade se distinga essencialmente pelo encontro, pela comunhão com Cristo e com a sua Palavra. À sua luz todos os outros valores são recuperados e ao mesmo tempo purificados de eventuais impurezas. Outra lição fundamental oferecida por Paulo é o alcance universal que caracteriza o seu apostolado. Vendo a agudeza do problema do acesso dos Gentios, isto é dos pagãos, a Deus, que em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado oferece a salvação a todos os homens sem excepções, dedicou-se totalmente a dar a conhecer este Evangelho, literalmente "boa notícia", isto é, anúncio de graça destinado a reconciliar o homem com Deus, consigo mesmo e com os outros. Desde o primeiro momento ele tinha compreendido que esta era uma realidade que não dizia respeito só aos judeus ou a um certo grupo de homens, mas que tinha um valor universal e se referia a todos, porque Deus é o Deus de todos.

O ponto de partida para as suas viagens foi a Igreja de Antioquia da Síria, onde pela primeira vez o Evangelho foi anunciado aos Gregos e onde também foi cunhado o nome de "cristãos" (cf. Ac 11,20 Ac 11,26), isto é, de crentes em Cristo. Dali ele dirigiu-se primeiro para Chipre e depois várias vezes para as regiões da Ásia Menor (Pisídia, Licaónia, Galácia), depois para as da Europa (Macedónia, Grécia). Mais relevantes foram as cidades de Éfeso, Filipos, Tessalônica, Corinto, sem contudo esquecer Beréia, Atenas e Mileto.

No apostolado de Paulo não faltaram dificuldades, que ele enfrentou com coragem por amor de Cristo. Ele mesmo recorda ter agido "pelos trabalhos... pelas prisões... pelos açoites, pelos frequentes perigos de morte... três vezes fui açoitado com varas, uma vez apedrejado; três vezes naufraguei... viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus concidadãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre os falsos irmãos; trabalhos e fadigas, repetidas vigílias com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! E além de tudo isto, a minha obsessão de cada dia: cuidado de todas as Igrejas" (2Co 11,23-28). De um trecho da Carta aos Romanos (cf. Rm 15,24 Rm 15,28) transparece o seu propósito de chegar até à Espanha, às extremidades do Ocidente, para anunciar o Evangelho em toda a parte, até aos confins da terra então conhecida. Como não admirar um homem como este? Como não agradecer ao Senhor por nos ter dado um Apóstolo desta estatura? É claro que não lhe teria sido possível enfrentar situações tão difíceis e por vezes desesperadas, se não tivesse havido uma razão de valor absoluto, perante a qual nenhum limite se podia considerar insuperável. Para Paulo, esta razão, sabemo-lo, é Jesus Cristo, do qual ele escreve: "O amor de Cristo nos impulsiona... para que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2Co 5,14-15), por nós, por todos.

De facto, o Apóstolo dará o testemunho supremo do sangue sob o imperador Nero aqui em Roma, onde conservamos e veneramos os seus despojos mortais. Assim escreveu acerca dele Clemente Romano, meu predecessor nesta Sede Apostólica nos últimos anos do século I: "Por causa dos ciúmes e da discórdia Paulo foi obrigado a mostrar-nos como se obtém o prémio da paciência... Depois de ter pregado a justiça a todo o mundo, e depois de ter chegado até aos extremos confins do Ocidente, sofreu o martírio diante dos governantes; assim partiu deste mundo e chegou ao lugar sagrado, que com isso se tornou o maior modelo de perseverança" (Aos Coríntios, 5). O Senhor nos ajude a pôr em prática a exortação que nos foi deixada pelo Apóstolo nas suas Cartas: "Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo" (1Co 11,1).

Saudações

Amados irmãos e irmãs!

Saúdo com especial afecto os peregrinos de língua portuguesa aqui presentes; a todos desejo felicidades, graça e paz. Aos portugueses de Faro e de Albufeira, e ao numeroso grupo de brasileiros faço votos de que prossigam na caminhada de fé, depositando sempre a esperança em Cristo ressuscitado. Que Deus vos abençoe!

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa presentes esta manhã, em particular o grupo de peregrinos de Sion, acompanhados pelo Cardeal Henri Schwery, Bispo emérito de Sion, e a Comunidade do Pontifício Seminário Francês de Roma, que veio por ocasião do 150º aniversário da sua instalação na Via Santa Chiara. A exemplo de São Paulo, tomai Cristo por modelo: só Ele vos fará capazes de anunciar com audácia a Boa Nova da salvação!

Sinto-me feliz por saudar os numerosos peregrinos de língua inglesa aqui presentres, sobretudo os que provêm da Inglaterra, Irlanda, Nigéria, África do Sul, Tanzânia, Índia, Indonésia, Japão e dos Estados Unidos da América. Dirijo uma saudação especial aos peregrinos das Dioceses de Cheyenne e de Wheeling-Charleston, acompanhados pelos seus Bispos. Saúdo também os sacerdotes que frequentam o Instituto Teológico de Formação Permanente do Pontifício Colégio Norte-Americano. Agradeço ao Coro da Escola do Santíssimo Rosário de Gauteng, África do Sul, pelo seu canto de louvor ao Senhor. Invoco cordialmente sobre todos vós em abundância a alegria e a paz do Senhor.

Dou calorosas boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua alemã. O Apóstolo Paulo deixou tudo por Cristo que reconheceu como lucro autêntico. Com a ajuda de Deus, nós desejamos aceitar o convite que ele fez não só a quantos liam a sua carta, mas aos cristãos de todos os tempos. "Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo" (1Co 11,1). O encontro com os Santos aqui em Roma fortaleça a vossa fé. Desejo-vos uma agradável estadia!

Por fim, o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Ontem a liturgia fez-nos recordar o Bispo Santo António Maria Claret, que se dedicou com grande empenho pela salvação das almas. O seu glorioso testemunho evangélico vos ampare, queridos jovens, no compromisso de fidelidade quotidiana a Cristo; vos encorage, queridos doentes, a seguir sempre Jesus no caminho da prova e do sofrimento; vos ajude, estimados novos casais, a fazer da vossa família o lugar do encontro com Deus e com os irmãos.


8 de Novembro de 2006: Paulo, a centralidade de Jesus Cristo

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Queridos irmãos e irmãs!

Na catequese precedente, há quinze dias, procurei traçar os aspectos essenciais da biografia do apóstolo Paulo. Vimos como o encontro com Cristo pelo caminho de Damasco revolucionou literalmente a sua vida. Cristo tornou-se a sua razão de ser e o motivo profundo de todo o seu trabalho apostólico. Nas suas cartas, depois do nome de Deus, que aparece mais de 500 vezes, o nome que é mencionado com mais frequência é o de Cristo (380 vezes). Por conseguinte, é importante que nos apercebamos de quanto Jesus Cristo possa incidir na vida de um homem e portanto também na nossa própria vida. Na realidade, Jesus Cristo é o ápice da história salvífica e, desta forma, o verdadeiro ponto discriminante também no diálogo com as outras religiões.

Olhando para Paulo, poderíamos formular assim a pergunta fundamental: como acontece o encontro de um ser humano com Cristo? E em que consiste a relação que dele deriva? A resposta de Paulo pode ser compreendida em dois momentos. Em primeiro lugar, Paulo ajuda-nos a compreender o valor absolutamente fundante e insubstituível da fé. Eis quanto escreve na Carta aos Romanos: "Pois estamos convencidos de que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei" (
Rm 3,28). E também na Carta aos Gálatas: "O homem não é justificado pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus Cristo; por isso, também nós acreditámos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei; porque pelas obras da Lei nenhuma criatura será justificada" (Ga 2,16). "Ser justificados" significa ser tornados justos, isto é, ser acolhidos pela justiça misericordiosa de Deus, e entrar em comunhão com Ele, e por conseguinte poder estabelecer uma relação muito mais autêntica com todos os nossos irmãos: e isto com base num perdão total dos nossos pecados. Pois bem, Paulo diz com muita clareza que esta condição de vida não depende das nossas eventuais boas obras, mas de uma mera graça de Deus: "Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus" (Rm 3,24).

Com estas palavras São Paulo expressa o conteúdo fundamental da sua conversão, o novo rumo da sua vida que resultou do seu encontro com Cristo ressuscitado. Paulo, antes da conversão, não tinha sido um homem afastado de Deus e da sua Lei. Ao contrário, era um observante, com uma observância fiel até ao fanatismo. Mas à luz do encontro com Cristo compreendeu que com isso tinha procurado edificar-se a si mesmo, à sua própria justiça, e que com toda essa justiça tinha vivido para si mesmo. Compreendeu que era absolutamente necessária uma nova orientação da sua vida. E encontramos expressa nas suas palavras esta nova orientação: "E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Ga 2,20).

Por conseguinte, Paulo já não vive para si, para a sua própria justiça. Vive de Cristo e com Cristo: entregando-se a si mesmo, não mais procurando e construindo-se a si mesmo. Esta é a nova justiça, a nova orientação que o Senhor nos deu, que a fé nos deu. Diante da cruz de Cristo, expressão extrema da sua autodoação, não há ninguém que possa vangloriar-se a si, à própria justiça feita por si e para si! Noutra carta Paulo, fazendo eco a Jeremias, expressa este pensamento escrevendo: "Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor" (1Co 1,31 = Jr 9, 22s); ou: "Quanto a mim, porém, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Ga 6,14).

Reflectindo sobre o significado de justificação não pelas obras mas pela fé, chegamos ao segundo aspecto que define a identidade cristã descrita por São Paulo na própria vida. Identidade cristã que se compõe precisamente por dois elementos: este não procurar-se por si, mas receber-se de Cristo e doar-se com Cristo, e desta forma participar pessoalmente na vicissitude do próprio Cristo, até se imergir n'Ele e partilhar quer a sua morte quer a sua vida. É quanto escreve Paulo na Carta aos Romanos: "fomos baptizados na sua morte... fomos sepultados com Ele na morte... estamos integrados n'Ele... Assim vós também: considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus" (Rm 6,3 Rm 6,4 Rm 6,5 Rm 6,11). Precisamente esta última expressão é sintomática: para Paulo, de facto, não é suficiente dizer que os cristãos são baptizados ou crentes; para ele é de igual modo importante dizer que eles são "em Cristo Jesus" (cf. também Rm 8,1 Rm 8,2 Rm 8,39 Rm 12,5 Rm 16,3 Rm 16,7 Rm 16,10 1Co 1,2, etc.). Outras vezes ele inverte as palavras e escreve que "Cristo está em nós/vós" (Rm 8,10 2Co 13,5) ou "em mim" (Ga 2,20). Esta mútua compenetração entre Cristo e o cristão, característica do ensinamento de Paulo, completa o seu discurso sobre a fé. A fé, de facto, mesmo unindo-nos intimamente a Cristo, realça a distinção entre nós e Ele. Mas, segundo Paulo, a vida do cristão tem também um componente que poderíamos dizer "místico", porque obriga a uma nossa identificação com Cristo e de Cristo connosco. Neste sentido, o Apóstolo chega até a qualificar os nossos sofrimentos como os "sofrimentos de Cristo em nós" (2Co 1,5), de modo que "trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo" (2Co 4,10).

Devemos inserir tudo isto na nossa vida quotidiana seguindo o exemplo de Paulo que viveu sempre com este grande alcance espiritual. Por um lado, a fé deve manter-nos numa atitude constante de humildade perante Deus, aliás, de adoração e de louvor em relação a ele. De facto, o que nós somos como cristãos devemo-lo unicamente a Ele e à sua graça. Dado que nada nem ninguém pode ocupar o seu lugar, é preciso portanto que não tributemos a nada nem a ninguém a homenagem que a Ele prestamos. Ídolo algum deve contaminar o nosso universo espiritual, porque neste caso, em vez de gozar da liberdade adquirida cairíamos de novo numa espécie de escravidão humilhante. Por outro lado, a nossa pertença radical a Cristo e o facto que "existimos n'Ele" deve infundir-nos uma atitude de total confiança e de imensa alegria. Para concluir, de facto, devemos exclamar com São Paulo:"SeDeusestápornós, quem pode estar contra nós?" (Rm 8,31). E a resposta é que ninguém "poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso" (Rm 8,39). Por conseguinte, a nossa vida cristã baseia-se na rocha mais estável e segura que se possa imaginar. E dela tiramos toda a nossa energia, como escreve precisamente o Apóstolo: "De tudo sou capaz naquele que me dá força" (Ph 4,13).

Enfrentemos portanto a nossa existência, com as suas alegrias e com os seus sofrimentos, amparados por estes grandes sentimentos que Paulo nos oferece. Fazendo deles experiência poderemos compreender como é verdadeiro o que o próprio Apóstolo escreve: "sei em quem acredito e estou persuadido de que Ele tem poder para guardar, até aquele dia, o bem que me foi confiado" (2Tm 1,12) do nosso encontro com Cristo Juiz, Salvador do mundo e nosso.

Saudações

Queridos irmãos e irmãs!

Saúdo cordialmente os peregrinos franceses presentes aqui esta manhã, em particular os leitores da revista "Pèlerin". Que o exemplo de Paulo vos convide a permanecer cada vez mais "em Cristo", louvando Deus, que, unicamente pela sua graça, fez de vós aquilo que sois.

Queridos irmãos e irmãs!

Sinto-me feliz por saudar os jovens provenientes de diferentes nações e pertencentes a tradições religiosas que recentemente se reuniram em Assis para comemorar o vigésimo aniversário do Encontro Inter-Religioso de Oração pela Paz desejado pelo meu Predecessor João Paulo II.

Agradeço aos líderes de várias religiões que tornaram possível a participação neste acontecimento, e ao Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso que o organizou. Queridos jovens amigos: o nosso mundo tem urgente necessidade de paz! O encontro de Assis realça o poder da oração na construção da paz. A oração genuína transforma os corações, abre-nos para o diálogo, para o entendimento e para a reconciliação, e derruba os muros levantados pela violência, pelo ódio e pela vingança. Regressai às vossas comunidades religiosas como testemunhas do "espírito de Assis", mensageiros da paz que Deus amorosamente vos concedeu, e vivei como sinais de alegria no vosso ambiente.

Dirijo calorosas boas-vindas a todos os visitantes de língua inglesa presentes nesta audiência. Seguindo o exemplo de São Paulo, fazei com que a vossa peregrinação a Roma renove a vossa fé e o vosso amor ao Senhor. Deus vos abençoe a todos!

Saúdo de coração os peregrinos de língua alemã, assim como as Associações das Fraternidades Históricas dos "Schützen". Dai testemunho uns aos outros do amor de Deus através das boas acções! A luz de Deus vos acompanhe em toda a vossa vida!

Por fim, o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos recém-casados. Queridos jovens, projectai o vosso futuro em plena fidelidade ao Evangelho, segundo o ensinamento e o exemplo de Jesus. Vós, queridos doentes, oferecei o vosso sofrimento ao Senhor, para que Ele possa alargar a sua acção salvífica no mundo. E vós, queridos recém-casados, no caminho que empreendestes deixai-vos guiar sempre por uma fé viva, para crescer no fervor espiritual e no amor.





Audiências 2005-2013 11106