Audiências 2005-2013 24017

24 de Janeiro 2007: Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (2)

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Queridos irmãos e irmãs!

Encerra-se amanhã a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que este ano tem como tema as palavras do Evangelho de Marcos: "Faz ouvir os surdos e falar os mudos!" (cf.
Mc 7,31-37). Poderíamos também nós repetir estas palavras que expressam a admiração do povo diante da cura de um surdo-mudo realizada por Jesus, vendo o maravilhoso florescimento do compromisso para a recomposição da unidade dos cristãos. Repercorrendo o caminho dos últimos quarenta anos, surpreende como o Senhor nos tenha despertado do entorpecimento da auto-suficiência e da indiferença; como nos torna cada vez mais capazes de "nos ouvirmos" e não só de "nos escutarmos"; como soltou a nossa língua, de modo que a oração, que elevamos a Ele, tenha mais força de convicção para o mundo. Sim, é verdade, o Senhor concedeu-nos muitas graças e a luz do seu Espírito iluminou tantas testemunhas. Elas demonstraram que tudo se pode obter rezando, quando sabemos obedecer com confiança e humildade ao mandamento divino do amor e aderir ao anseio de Cristo pela unidade de todos os seus discípulos.

"O cuidado de restabelecer a união afirma o Concílio Vaticano II diz respeito a toda a Igreja, tanto aos fiéis como aos Pastores, e a cada um segundo as próprias forças, tanto na vida cristã de cada dia, como nos estudos teológicos e históricos" (Unitatis redintegratio UR 5). O primeiro dever comum é o da oração. Rezando, e rezando juntos, os cristãos tornam-se mais conscientes do seu estado de irmãos, mesmo se ainda estão divididos; e, rezando aprendemos melhor a ouvir o Senhor, porque só ouvindo o Senhor e seguindo a sua voz podemos encontrar o caminho da unidade.

Certamente o ecumenismo é um processo lento, por vezes talvez até desencorajador quando se cede à tentação de "escutar" e não "ouvir", de falar por meios termos, em vez de proclamar com coragem. Não é fácil abandonar uma "cómoda surdez", como se o Evangelho que não muda não tivesse a capacidade de florescer, reafirmando-se como providencial fermento de conversão e de renovamento espiritual para cada um de nós. O ecumenismo disse é um processo lento, é um caminho lento e em ascensão, como qualquer caminho de arrependimento. Mas é um caminho que, depois das dificuldades iniciais e precisamente nelas, apresenta também amplos espaços de alegria, pausas refrescantes, e permite respirar, de vez em quando, a plenos pulmões o ar puríssimo da plena comunhão.

A experiência destes últimos decénios, depois do Concílio Vaticano II, demonstra que a busca da unidade entre os cristãos se realiza em vários níveis e em numerosas circunstâncias: nas paróquias, nos hospitais, nos contactos entre o povo, na colaboração entre as comunidades locais em todas as partes do mundo, e especialmente nas regiões onde realizar um gesto de boa vontade em relação ao irmão exige um grande esforço e também uma purificação da memória. Neste contexto de esperança, constelado de passos concretos rumo à plena comunhão dos cristãos, colocam-se também os encontros e os acontecimentos que marcam constantemente o meu ministério, o ministério do Bispo de Roma, Pastor da Igreja universal. Gostaria agora de percorrer os acontecimentos mais significativos que se registraram em 2006, e que foram motivo de alegria e de gratidão ao Senhor.

O ano iniciou com a visita oficial da Aliança Mundial das Igrejas Reformadas. A comissão internacional católico-reformada confiou à consideração das respectivas autoridades um documento que concluiu um processo de diálogo iniciado em 1970, portanto que se prolongou por 36 anos; e este documento intitula-se: "A Igreja como Comunidade de Testemunho comum ao Reino de Deus". A 25 de Janeiro de 2006 portanto há um ano na solene conclusão da "Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos" participaram, na Basílica de São Paulo fora dos Muros, os delegados para o ecumenismo da Europa, convocados conjuntamente pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa e da Conferência das Igrejas Europeias para a primeira etapa de aproximação à terceira Assembleia Ecuménica Europeia, que se realizará em terra ortodoxa, em Sibiu, em Setembro deste ano de 2007. Por ocasião das audiências de quarta-feira, pude receber as delegações da Aliança Baptista Mundial e da Evangelical Lutheran Church na América, que permanece fiel às suas visitas periódicas a Roma. Além disso, tive a possibilidade de me encontrar com os hierarcas da Igreja Ortodoxa da Georgia, que sigo com afecto, continuando aquele vínculo amigável que unia Sua Santidade Ilia II ao meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Papa João Paulo II.

Prosseguindo a retrospectiva dos encontros ecuménicos do ano passado, chego à "Cimeira dos Chefes de Estado Religiosos", realizada em Moscovo em Julho de 2006, o Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias, Alexis II, solicitou, com uma mensagem especial, a adesão da Santa Sé. Foi útil a visita do Metropolita Kirill do Patriarcado de Moscovo, que fez sobressair a intenção de alcançar uma normalização mais explícita das nossas relações bilaterais. De igual modo agradável foi a dos sacerdotes e dos estudantes do Colégio da Diakonia Apostólica do Santo Sínodo da Igreja ortodoxa da Grécia. Apraz-me recordar também que na sua Assembleia Geral em Porto Alegre o Conselho Ecuménico das Igrejas reservou amplo espaço à participação católica. Naquela circunstância enviei uma mensagem especial. Quis enviar também uma mensagem ao encontro geral da Conferência Mundial Metodista em Seul. Além disso, recordo com prazer a visita cordial dos Secretários da Christian World Communions, organização de informação recíproca e contacto entre as várias Confissões.

E prosseguindo a retrospectiva do ano de 2006, chegamos à visita oficial do Arcebispo de Canterbury e Primaz da Comunhão Anglicana do passado mês de Novembro. Na Capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico partilhei com ele e com o seu séquito um momento significativo de oração. Depois, quanto à inesquecível viagem apostólica na Turquia e ao encontro com Sua Santidade Bartolomeu I, desejo recordar os numerosos gestos mais eloquentes que as palavras. Aproveito a ocasião para saudar mais uma vez Sua Santidade Bartolomeu I e agradecer-lhe a carta que me escreveu quando regressei a Roma; certifico-o da minha oração e do meu compromisso a agir para que se obtenham as consequências daquele abraço de paz, que trocamos durante a Divina Liturgia na igreja de São Jorge no Fanar. O ano concluiu-se com a visita oficial a Roma do Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, Sua Beatitude Christodoulos, com o qual trocámos dons preciosos: os ícones da Panaghia, a Toda Santa, e dos Santos Pedro e Paulo abraçados.

Não são, estes, momentos de alto valor espiritual, momentos de alegria, de fôlego nesta subida lenta da unidade, da qual falei? Estes momentos ressaltam o compromisso muitas vezes silencioso mas forte que nos aproxima na busca da unidade. Eles encojaram-nos a fazer todos os esforços para prosseguir nesta subida lenta mas importante. Confiamo-nos à intercessão constante da Mãe de Deus e dos nossos Santos protectores, para que nos amparem e nos ajudem a nunca abandonar os bons propósitos; para que nos encorage a intensificar todos os esforços, rezando e trabalhando com confiança, na certeza de que o Espírito Santo fará o resto. Dar-nos-á a unidade completa como e quando lhe aprouver. E, fortalecidos por esta confiança, prossigamos pelo caminho da fé, da esperança e da caridade. O Senhor nos guie.



31 de Janeiro 2007: Barnabé, Silvano, Apolo

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Queridos irmãos e irmãs!

Prosseguindo a nossa viagem entre os protagonistas das origens cristãs, dedicamos hoje a nossa atenção a alguns dos outros colaboradores de São Paulo. Devemos reconhecer que o Apóstolo é um exemplo eloquente de homem aberto à colaboração: na Igreja ele não quer fazer tudo sozinho, mas serve-se de numerosos e diversos colegas. Não nos podemos deter sobre todos estes preciosos colaboradores, porque são muitos. É suficiente recordar, entre outros, Epafras (cf.
Col 1,7 Col 4,12 Phm 1,23), Epafrodito (cf. Ph 2,25 Ph 4,18), Tíquio (cf. Ac 20,4 Ep 6,21 Col 4,7 2Tm 4,12 Tt 3,12), Urbano (cf. Rm 16,9), Gaio e Aristarco (cf. Ac 19,29 Ac 20,4 Ac 27,2 Col 4,10). E mulheres como Febe (cf. Rm 16,1), Trifena e Trifosa (cf. Rm 16,12), Pérside, a mãe de Rufo da qual São Paulo diz: "Também é minha mãe" (cf. Rm 16,12-13) sem esquecer casais como Prisca e Aquila (cf. Rm 16,3 1Co 16,19 2Tm 4,19). Hoje, entre esta grande multidão de colaboradores e colaboradoras de São Paulo dirigimos o nosso interesse a estas três pessoas, que desempenharam um papel particularmente significativo na evangelização das origens: Barnabé, Silvano e Apolo.

Barnabé significa "filho da exortação" (Ac 4,36) ou "filho da consolação" e é sobrenome de um judeu-levita originário de Chipre. Tendo-se estabelecido em Jerusalém, ele foi um dos primeiros a abraçar o cristianismo, depois da ressurreição do Senhor. Com grande generosidade vendeu um campo de sua propriedade entregando a quantia aos Apóstolos para as necessidades da Igreja (cf. Ac 4,37). Foi ele quem se fez garante da conversão de Saulo junto da comunidade cristã de Jerusalém, a qual ainda desconfiava do antigo perseguidor (cf. Ac 9,27). Tendo sido enviado a Antioquia da Síria, foi buscar Paulo a Tarso, onde se tinha retirado, e transcorreu com ele um ano inteiro, dedicando-se à evangelização daquela importante cidade, em cuja Igreja Barnabé era conhecido como profeta e doutor (cf. Ac 13,1). Assim Barnabé, no momento das primeiras conversões dos pagãos, compreendeu que tinha chegado a hora de Saulo, o qual se retirara para Tarso, sua cidade. Foi ali procurá-lo. Assim, naquele momento importante, quase restituiu Paulo à Igreja; deu-lhe, neste sentido, novamente o Apóstolo das Nações. Da Igreja antioquena Barnabé foi enviado em missão juntamente com Paulo, realizando o que classifica como primeira viagem missionária do Apóstolo. Na realidade, tratou-se de uma viagem missionária de Barnabé, sendo ele o verdadeiro responsável, ao qual Paulo se juntou como colaborador, chegando às regiões de Chipre e da Anatólia centro-meridional, na actual Turquia, com as cidades de Attalia, Perge, Antioquia de Psídia, Listra e Derbe (cf. Ac 13-14). Juntamente com Paulo foi depois ao chamado Concílio de Jerusalém onde, depois de um aprofundado exame da questão, os Apóstolos com os Anciãos decidiram separar a prática da cincuncisão da identidade cristã (cf. Ac 15,1-35). Só assim, no final, tornaram oficialmente possível a Igreja dos pagãos, uma Igreja sem circuncisão: somos filhos de Abraão simplesmente pela fé em Cristo.

Os dois, Paulo e Barnabé, entraram depois em contraste, no início da segunda viagem missionária, porque Barnabé tinha em mente assumir como companheiro João Marcos, mas Paulo não queria, tendo-se separado o jovem deles durante a viagem anterior (cf. Ac 13,13 Ac 15,36-40). Portanto, também entre santos existem contrastes, discórdias, controvérsias. E isto parece-me muito confortador, porque vemos que os santos não "caíram do céu". São homens como nós, com problemas também complicados. A santidade não consiste em nunca ter errado ou pecado. A santidade cresce na capacidade de conversão, de arrependimento, de disponibilidade para recomeçar, e sobretudo na capacidade de reconciliação e de perdão. E assim Paulo, que tinha sido bastante rude e amargo em relação a Marcos, no final encontra-se com ele. Nas últimas Cartas de São Paulo, a Filemon e na segunda a Timóteo, precisamente Marcos aparece como "o meu colaborador". Portanto, não é o facto de nunca ter errado que nos torna santos, mas a capacidade de reconciliação e de perdão. E todos podemos aprender este caminho de santidade. Em todo o caso Barnabé, com João Marcos, partiu para Chipre (cf. Ac 15,39) por volta do ano 49. Daquele momento em diante perdem-se os seus vestígios. Tertuliano atribui-lhe a Carta aos Hebreus, ao que não falta a plausibilidade porque, pertencendo à tribo de Levi, Barnabé podia ter interesse pelo tema do sacerdócio. E a Carta aos Hebreus interpreta-nos de modo extraordinário o sacerdócio de Jesus.

Outro companheiro de Paulo foi Silas, forma grecizada de um nome hebraico (talvez sheal, "pedir, invocar", que é a mesma raiz do nome "Saulo"), do qual resulta também a forma latinizada Silvano. O nome Silas é confirmado só no Livro dos Actos, enquanto que o nome Silvano se encontra apenas nas Cartas paulinas. Ele era um judeu de Jerusalém, um dos primeiros que se fez cristão, e naquela Igreja gozava de grande estima (cf. Ac 15,22), sendo considerado profeta (cf. Ac 15,32). Foi encarregado de levar "aos irmãos de Antioquia, Síria e Cilícia" (Ac 15,23) as decisões tomadas no Concílio de Jerusalém e de as explicar. Evidentemente ele era considerado capaz de realizar uma espécie de mediação entre Jerusalém e Antioquia, entre judeus-cristãos e cristãos de origem pagã, e desta forma servir a unidade da Igreja na diversidade de ritos e de origens. Quando Paulo se separou de Barnabé, assumiu precisamente Silas como novo companheiro de viagem (cf. Ac 15,40). Com Paulo ele alcançou a Macedónia (com as cidades de Filipos, Tessalónica e Berea), onde permaneceu, enquanto Paulo prosseguiu para Atenas e depois para Corinto. Silas alcançou-o em Corinto, onde cooperou na pregação do Evangelho: de facto, na segunda Carta dirigida por Paulo àquela Igreja, fala-se de "Jesus Cristo, aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por Timóteo" (2Co 1,19). Explica-se assim por que é que ele resulta como co-destinatário, juntamente com Paulo e Timóteo, das duas Cartas aos Tessalonicenses. Também isto me parece importante. Paulo não age "sozinho", como indivíduo, mas juntamente com estes colaboradores no "nós" da Igreja. Este "eu" de Paulo não é um "eu" isolado, mas um "eu" no "nós" da Igreja, no "nós" da fé apostólica. E Silvano no final é mencionado também na Primeira Carta de Pedro, na qual se lê: "por Silvano, a quem considero um irmão fiel, escrevo-vos" (1P 5,12). Assim vemos também a comunhão dos Apóstolos. Silvano serve Paulo, serve Pedro, porque a Igreja é uma e o anúncio missionário é único.

O terceiro companheiro de Paulo, que desejamos recordar, é chamado Apolo, provável abreviação de Apolónio ou Apolodoro. Mesmo tratando-se de um nome de tipo pagão, ele era um fervoroso judeu de Alexandria do Egipto. Lucas no Livro dos Actos define-o "homem eloquente e muito versado nas Escrituras... cheio de fervor" (Ac 18,24-25). A entrada de Apolo no cenário da primeira evangelização acontece na cidade de Éfeso: tinha ido ali para pregar e ali teve a ventura de encontrar o casal cristãos Priscila e Áquila (cf. Ac 18,26), que o introduziram a um conhecimento mais completo do "caminho de Deus" (cf. Ac 18,26). De Éfeso passou para a Acaia alcançando a cidade de Corinto: ali chegou com o apoio de uma carta dos cristãos de Éfeso, que recomendavam aos Coríntios que o acolhessem bem (cf. Ac 18,27). Em Corinto, como escreve Lucas, "pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis; pois refutava energicamente os judeus, demonstrando pelas Escrituras que Jesus é o Cristo" (Ac 18,27-28), o Messias. O seu sucesso naquela cidade teve um aspecto problemático, porque haviam alguns membros daquela Igreja que em seu nome, arrebatados pelo seu modo de falar, se opunham aos outros (cf. 1Co 1,12 1Co 3,4-6 1Co 4,6). Paulo na Primeira Carta aos Coríntios expressa apreço pela obra de Apolo, mas reprova os Coríntios por dilacerarem o Corpo de Cristo dividindo-se assim em fracções contrapostas. Ele tira um importante ensinamento de toda a vicissitude: quer eu quer Apolo diz ele mais não somos do que diakonoi, isto é, simples ministros, através dos quais alcançastes a fé (cf. 1Co 3,5). Cada um tem uma tarefa diferenciada no campo do Senhor: "Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento... Pois, nós somos cooperadores de Deus, e vós sois a seara de Deus, o edifício de Deus" (1Co 3,6-9). Tendo regressado a Éfeso, Apolo resistiu ao convite de Paulo para voltar imediatamente a Corinto, adiando a viagem para uma data posterior por nós desconhecida (cf. 1Co 16,12). Não temos outras notícias suas, mesmo se alguns estudiosos pensam nele como possível autor da Carta aos Hebreus, da qual, segundo Tertuliano, seria autor Barnabé.

Estes três homens brilham no firmamento das testemunhas do Evangelho por um aspecto comum além das características próprias de cada um. Em comum, além da origem judaica, têm a dedicação a Jesus Cristo e ao Evangelho, juntamente com o facto de os três terem sido colaboradores do apóstolo Paulo. Nesta original missão evangelizadora eles encontraram o sentido da sua vida, e como tais estão diante de nós como modelos luminosos de abnegação e de generosidade. E, no final, voltemos mais uma vez a esta frase de São Paulo: tanto eu como Apolo somos ministros de Jesus, cada um a seu modo, porque é Deus que faz crescer. Esta palavra também é válida hoje para todos, quer para o Papa, quer para os Cardeais, os Bispos, os sacerdotes, os leigos. Todos somos humildes ministros de Jesus. Servimos o Evangelho na medida do possível, segundo os nossos dons, e rezamos a Deus para que faça crescer hoje o seu Evangelho, a sua Igreja.

Saudação

Em particular saúdo os fiéis das Dioceses da Ligúria (Itália), que acompanham hoje os seus Bispos na Visita ad limina Apostolorum. Queridos amigos, convido-vos a tomar cada vez mais consciência do vosso papel na Igreja. A chama da fé, que recebestes no baptismo, deve ser mantida acesa com a oração e a prática dos Sacramentos; ela deve resplandecer nas vossas palavras e no vosso exemplo, a fim de permitir que todos tirem dela a luz e o calor espiritual. Isto exige que respondais aos desafios hodiernos com uma profunda espiritualidade e uma renovada audácia apostólica, repropondo aos homens e às mulheres da nossa época a mensagem salvífica de Cristo na sua totalidade.



7 de Fevereiro 2007: Os cônjuges Priscila e Áquila

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Antes da Audiência geral, realizada na Sala Paulo VI, Bento XVI encontrou-se na Basílica de São Pedro com os fiéis das Dioceses da Lombardia por ocasião da visita "ad Limina" dos Bispos daquela Região italiana, proferindo estas palavras:

Queridos irmãos e irmãs das Dioceses Lombardas!

Saúdo antes de tudo a vós, queridos Irmãos no Episcopado, que viestes a Roma para a Visita ad limina Apostolorum. Convosco saúdo os fiéis que vos acompanham neste momento significativo de intensa comunhão com o Sucessor de Pedro. A Igreja que vive na Lombardia, e está aqui representada em todos os seus componentes, tem um papel importante para continuar a desempenhar na sociedade lombarda: anunciar e testemunhar o Evangelho em todos os âmbitos, especialmente onde emergem as características negativas de uma cultura consumista e hedonista, do secularismo e do individualismo, onde se registam antigas e novas formas de pobreza com sinais preocupantes do mal-estar juvenil e fenómenos de violência e de criminalidade. Se as Instituições e as várias agências educativas parecem por vezes atravessar momentos de dificuldade, não faltam contudo, grandes recursos ideais e morais no vosso povo, rico de nobres tradições familiares e religiosas. No diálogo convosco, queridos Irmãos no Episcopado, constatei como a Igreja na Lombardia é realmente uma Igreja viva, rica do dinamismo de fé e também de espírito missionário, capaz e decidida a transmitir a chama da fé às gerações vindouras e ao mundo do nosso tempo. Estou-vos agradecido por este dinamismo de fé, que vive precisamente nas Dioceses da Lombardia.

É vasto o vosso campo de acção. Trata-se, por um lado, de defender e promover a cultura da vida humana e da legalidade, por outro é necessária uma conversão pessoal e comunitária a Cristo cada vez mais coerente. De facto, para crescer na fidelidade ao homem, criado à imagem e semelhança do Criador, é preciso imergir-se mais intimamente com coerência no mistério de Cristo e difundir a sua mensagem de salvação. Devemos fazer o possível para conhecer sempre melhor a figura de Jesus, para ter dele um conhecimento não só "de segunda mão", mas um conhecimento através do encontro na oração, na liturgia, no amor ao próximo. É um compromisso certamente difícil, mas são confortadoras as palavras do Senhor: "E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos" (
Mt 28,20). O Senhor está connosco também hoje, amanhã, até ao fim dos tempos!

Portanto, intensifique-se o vosso testemunho evangélico para que em cada ambiente os cristãos, guiados pelo Espírito Santo que habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo (cf. 1Co 3,16-17), sejam sinais vivos da esperança sobrenatural. O nosso tempo, com tantas angústias e problemas, tem necessidade de esperança. E a nossa esperança vem precisamente da promessa do Senhor e da sua presença. Encorajo-vos, queridos Bispos, a guiar o activo povo lombardo por este caminho, contando em qualquer situação com a indefectível assistência divina. Prossigamos com a ajuda do Senhor nesta direcção!
* * *




Queridos irmãos e irmãs!

Dando um novo passo nesta espécie de galeria de retratos das primeiras testemunhas da fé cristã, que iniciámos há algumas semanas, tomamos hoje em consideração um casal de esposos. Trata-se dos cônjuges Priscila e Áquila, que se colocam na órbita dos numerosos colaboradores que gravitam em volta do apóstolo Paulo, dos quais já falei brevemente na quarta-feira passada. Com base nas notícias que possuímos, este casal desempenhou um papel muito activo no tempo das origens pós-pascais da Igreja.

Os nomes Áquila e Priscila são latinos, mas este homem e esta mulher são de origem hebraica. Pelo menos Áquila provinha geograficamente da diáspora da Anatólia setentrional, diante do mar Negro na actual Turquia enquanto Priscila, cujo nome se encontra por vezes abreviado em Prisca, era provavelmente uma judia proveniente de Roma (cf. Ac 18,2). Contudo, foi de Roma que eles partiram para Corinto, onde Paulo se encontrou com eles no início dos anos 50; lá associou-se a eles porque, como narra Lucas, exerciam a mesma profissão de fabricantes de tendas ou toldos para uso doméstico, e foi acolhido até na sua casa (cf, Ac 18,3). O motivo da sua ida a Corinto tinha sido a decisão do imperador Cláudio de expulsar de Roma os Judeus residentes na Cidade.

O historiador romano Suetónio diz-nos sobre este acontecimento que tinha expulso os Judeus porque "provocavam tumultos por causa de um certo Cresto" (cf. Vita dei dodici Cesari, Claudio", 25). Vê-se que não conhecia bem o nome em vez de Cristo escreve "Cresto" e tinha apenas uma ideia muito vaga de quanto tinha acontecido. Contudo, haviam discórdias no interior da comunidade judaica sobre a questão se Jesus era o Cristo. E estes problemas eram para o imperador o motivo para simplesmente expulsar de Roma todos os Judeus. Disto se deduz que o casal tinha abraçado a fé cristã já em Roma nos anos 40, e agora tinham encontrado em Paulo alguém que não só partilhava com eles esta fé que Jesus é o Cristo mas que também era apóstolo, chamado pessoalmente pelo Senhor Ressuscitado. Por conseguinte, o primeiro encontro dá-se em Corinto, onde o recebem em casa e trabalham juntos na fabricação de tendas.

Num segundo momento, eles transferem-se para a Ásia Menor, para Éfeso. Ali tiveram uma parte determinante em completar a formação cristã do judeu alexandrino Apolo, do qual falámos na quarta-feira passada. Dado que ele conhecia apenas superficialmente a fé cristã, "Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram-no consigo e expuseram-lhe, com mais clareza, o Caminho do Senhor" (Ac 18,26). Quando de Éfeso o Apóstolo Paulo escreve a sua Primeira Carta aos Coríntios, junta explicitamente às suas saudações também as de "Áquila e Prisca, com a comunidade que se reúne na sua casa" (1Co 16,19). Assim chegamos ao conhecimento do papel importantíssimo que este casal desempenha no âmbito da Igreja primitiva: isto é, o de receber na própria casa o grupo dos cristãos locais, quando eles se reuniam para ouvir a Palavra de Deus e para celebrar a Eucaristia. É precisamente aquele tipo de reunião que em grego se chama "ekklesìa" a palavra latina é "ecclesia", a italiana "chiesa" que significa convocação, assembleia, reunião.

Portanto, na casa de Áquila e Priscila reúne-se a Igreja, a convocação de Cristo, que celebra os Mistérios sagrados. E assim podemos ver o nascimento precisamente da realidade da Igreja nas casas dos crentes. De facto, os cristãos até finais do século III não tinham lugares próprios de culto: foram estas, num primeiro tempo, as sinagogas judaicas, até quando a originária simbiose entre Antigo e Novo Testamento se dissolveu e a Igreja das Nações foi obrigada a dar-se uma própria identidade, sempre profundamente enraizada no Antigo Testamento. Depois desta "ruptura", os cristãos reunem-se nas casas, tornam-se assim "Igreja". E por fim, no século III, surgem verdadeiros e próprios edifícios de culto cristão. Mas na primeira metade do século I e no século II, as casas dos cristãos tornam-se verdadeira e própria "igreja". Como disse, lêem juntos as Sagradas Escrituras e celebram a Eucaristia. Acontecia assim, por exemplo, em Corinto, onde Paulo menciona "Gaio, que me recebe como hóspede, assim como a toda a igreja" (Rm 16,23), ou em Laodiceia, onde a comunidade re reunia na casa de uma certa Ninfa (cf. Col 4,15), ou em Colossos, onde o encontro se realizava em casa de um certo Arquipo (cf. Phm 1,2).

Tendo sucessivamente regressado a Roma, Áquila e Priscila continuaram a desempenhar esta preciosíssima função também na capital do Império. De facto, Paulo escrevendo aos Romanos, envia esta saudação: "Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça. Não sou apenas eu a estar-lhes agradecido, mas todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que se reúne em casa deles" (Rm 16,3-5). Que extraordinário elogio do casal nestas palavras! E quem a faz é precisamente o Apóstolo Paulo. Ele reconhece explicitamente neles dois verdadeiros colaboradores do seu apostolado. A referência ao facto de ter arriscado a vida por ele deve relacionar-se provavelmente com intervenções em seu favor durante algum seu aprisionamento, talvez em Éfeso (cf. Ac 19,23 1Co 15,32 2Co 1,8-9). E que à própria gratidão Paulo associe até a de todas as Igrejas das Nações, mesmo considerando a expressão talvez bastante hiperbólica, deixa intuir como é vasto o seu raio de acção e, contudo, a sua influência em benefício do Evangelho.

A tradição hagiográfica posterior conferiu um realce muito particular a Priscila, mesmo se permanece o problema de uma sua identificação com outra Priscila mártir. Contudo, aqui em Roma temos quer uma igreja dedicada a Santa Prisca no Aventino quer as Catacumbas de Priscila na via Salária. Deste modo perpetua-se a memória de uma mulher, que certamente foi uma pessoa activa e de muito valor na história do cristianismo romano. Uma coisa é certa: juntamente com a gratidão daquelas primeiras Igrejas, das quais fala São Paulo, deve juntar-se também a nossa, porque graças à fé e ao compromisso apostólico dos fiéis leigos, de famílias, esposos como Priscila e Áquila o cristianismo chegou à nossa geração. Podia crescer não só graças aos Apóstolos que o anunciavam. Para se radicar na terra do povo, para se desenvolver vivamente, era necessário o compromisso destas famílias, destes esposos, destas comunidades cristãs, de fiéis leigos que ofereceram o "húmus" ao crescimento da fé. E sempre, só assim a Igreja cresce. Em particular, este casal demonstra como é importante a acção dos casais cristãos. Quando eles são amparados pela fé e por uma forte espiritualidade, torna-se natural um seu compromisso pela Igreja e na Igreja. A comunhão quotidiana da sua vida prolonga-se e de certa forma sublima-se na assunção de uma responsabilidade comum em favor do Corpo místico de Cristo, mesmo que fosse de uma pequena parte dele. Assim era na minha geração e assim será com frequência.

Do seu exemplo podemos tirar outra lição que não devemos descuidar: cada casa pode transformar-se numa pequena igreja. Não só no sentido de que nela deve reinar o típico amor cristão feito de altruísmo e de solicitude recíproca, mas ainda mais no sentido de que toda a vida familiar, com base na fé, está chamada a girar em volta da única senhoria de Jesus Cristo. Não é ocasionalmente que na Carta aos Efésios Paulo compara a relação matrimonial com a comunhão esponsal que existe entre Cristo e a Igreja (cf. Ep 5,25-33). Aliás, poderíamos considerar que o Apóstolo modele indirectamente a vida da Igreja inteira sobre a da família. E a Igreja, na realidade, é a família de Deus. Por isso honramos Áquila e Priscila como modelos de uma vida conjugal responsavelmente comprometida ao serviço de toda a comunidade cristã. E encontramos neles o modelo da Igreja, família de Deus para todos os tempos.



14 de Fevereiro 2007: As mulheres ao serviço do Evangelho

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Discurso aos Bispos da Região das Marcas (Itália) durante a Audiência Geral

Queridos irmãos e irmãs
das Dioceses das Marcas!

Saúdo-vos com afecto, começando pelos Bispos reunidos em Roma para a visita ad limina Apostolorum. Dirijo uma deferente saudação às Autoridades civis que não quiseram faltar a este encontro significativo. Saúdo com um grato pensamento os sacerdotes, os seminaristas, as pessoas consagradas, os agentes pastorais e todos vós, membros do Povo de Deus que vive na Região das Marcas.

No actual clima de pluralismo cultural e religioso, damo-nos conta de que a mensagem de Jesus não é conhecida por todos. Por isso, cada cristão está chamado a um renovado e corajoso compromisso de anúncio e testemunho do Evangelho.

Queridos Irmãos no Episcopado, continuai a dedicar todos os esforças para que a formação cristã de base seja feita tanto nas cidades como nos centros menores; para que todas as categorias de fiéis sejam preparadas para receber com fruto os Sacramentos, alimento indispensável para o crescimento na fé; para que com a prática dos Sacramentos não se descuide uma instrução religiosa sólida que resista sem se debilitar aos difundidos desafios e solicitações de uma sociedade amplamente secularizada. Olhemos para o futuro com esperança e trabalhemos com confiança apaixonada na vinha do Senhor!

A Virgem Mãe de Deus e da Igreja guie e proteja os vossos esforços e os vossos projectos pastorais. Dirijamo-nos agora a ela com a oração, que preparei em vista do encontro dos jovens, programado em Loreto no próximo mês de Setembro:

Maria, Mãe do sim,
tu escutaste Jesus
e conheces o timbre da sua voz
e o palpitar do seu coração.

Estrela da manhã, fala-nos dele
e conta-nos o teu percurso
para o seguires no caminho da fé.

Maria, que em Nazaré
habitaste com Jesus,
imprime na nossa vida
os teus sentimentos,
a tua docilidade,
o teu silêncio que escuta
e faz florescer a Palavra
em opções de verdadeira liberdade.

Maria, fala-nos de Jesus,
para que o vigor da nossa fé
brilhe nos nossos olhos e anime
o coração de quem nos encontra,
como tu fizeste, visitando Isabel
que na sua velhice
rejubilou contigo pelo dom da vida.

Maria, Virgem do Magnificat,
ajuda-nos a levar a alegria
ao mundo e, como em Caná,
estimula cada jovem,
comprometido no serviço aos irmãos,
a fazer só o que Jesus disser.

Maria, dirige o teu olhar
para a Ágora dos jovens,
para que seja o terreno fecundo
da Igreja italiana.

Pede para que Jesus, morto
e ressuscitado, renasça em nós
e nos transforme numa noite
plena de luz, plena d'Ele.

Maria, Nossa Senhora de Loreto,
porta do céu,
ajuda-nos a elevar para o alto o olhar.
Queremos ver Jesus. Falar com Ele.
Anunciar a todos o Seu amor.
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Amados irmãos e irmãs

Hoje chegámos ao fim do nosso percurso entre as testemunhas do cristianismo nascente, que os escritos neotestamentários mencionam. E usamos a última etapa deste primeiro percurso para dedicar a nossa atenção às diversas figuras femininas que tiveram um papel efectivo e precioso na difusão do Evangelho. O seu testemunho não pode ser esquecido, de acordo com o que o próprio Jesus pôde dizer da mulher que lhe ungiu a cabeça pouco antes da Paixão: "Em verdade vos digo: em qualquer parte do mundo onde este Evangelho for anunciado, há-de também narrar-se, em sua memória, o que ela acaba de fazer" (
Mt 26,13 Mc 14,9). O Senhor quer que estas testemunhas do Evangelho, estas figuras que deram uma contribuição a fim de que aumentasse a fé nele, sejam conhecidas e a sua memória seja viva na Igreja. Podemos historicamente distinguir o papel das mulheres no Cristianismo primitivo, durante a vida terrena de Jesus e durante as vicissitudes da primeira geração cristã.

Jesus certamente, sabemo-lo, escolheu entre os seus discípulos doze homens como Pais do novo Israel, escolheu-os para "estarem com Ele e para os enviar a pregar" (Mc 3,14). Este facto é evidente mas, além dos Doze, colunas da Igreja, pais do novo Povo de Deus, são escolhidas no número dos discípulos também muitas mulheres. Apenas brevemente posso mencionar aquelas que se encontram no caminho do próprio Jesus, a começar pela profetisa Ana (cf. Lc 2,36-38), até à Samaritana (cf. Jn 4,1-39), à mulher sírio-fenícia (cf. Mc 7,24-30), à hemorroíssa (cf. Mt 9,20-22) e à pecadora perdoada (cf. Lc 7,36-50). Não me refiro sequer às protagonistas de algumas parábolas eficazes, por exemplo a uma dona de casa que amassa o pão (cf. Mt 13,33), à mulher que perde a dracma (cf. Lc 15,8-10), à viúva que importuna o juiz (cf. Lc 18,1-8). Mais significativas para o nosso assunto são aquelas mulheres que desenvolveram um papel activo no contexto da missão de Jesus. Em primeiro lugar, o pensamento dirige-se naturalmente à Virgem Maria que, com a sua fé e a sua obra materna, colaborou de modo único para a nossa Redenção, tanto que Isabel pôde proclamá-la "bendita és tu entre as mulheres" (Lc 1,42), acrescentando: "Feliz de ti que acreditaste" (Lc 1,45). Tornando-se discípula do Filho, Maria manifestou em Caná a confiança total nele (cf. Jn 2,5) e seguiu-o até aos pés da Cruz, onde recebeu dele uma missão materna para todos os seus discípulos de todos os tempos, representados por João (cf. Jn 19,25-27).

Há depois várias mulheres, que a diversos títulos gravitam em volta da figura de Jesus, com funções de responsabilidade. São exemplo eloquente disto as mulheres que seguiam Jesus para o assistir com os seus bens e das quais Lucas nos transmite alguns nomes: Maria de Magdala, Joana, Susana e "muitas outras" (cf. Lc 8,2-3). Depois, os Evangelhos informam-nos que as mulheres, diversamente dos Doze, não abandonaram Jesus na hora da Paixão (cf. Mt 27,56 Mt 27,61 Mc 15,40). Entre elas, sobressai em particular Madalena, que não só presenciou a Paixão, mas foi também a primeira testemunha e anunciadora do Ressuscitado (cf. Jn 20,1 Jn 20,11-18). Precisamente a Maria de Magdala S. Tomás de Aquino reserva a singular qualificação de "apóstola dos apóstolos" (apostolorum apostola), dedicando-lhe este bonito comentário: "Como uma mulher tinha anunciado ao primeiro homem palavras de morte, assim uma mulher foi a primeira a anunciar aos apóstolos palavras de vida"




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