Audiências 2005-2013 16115

16 de Novembro de 2005:Salmo 135, 10-26: Acção de graças pela salvação realizada por Deus

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1. A nossa reflexão volta ao hino de louvor do Salmo 135 que a Liturgia das Vésperas propõe em duas etapas sucessivas, seguindo uma distinção específica que a composição oferece a nível temático. De facto, a celebração das obras do Senhor delineia-se em dois âmbitos, o do espaço e o do tempo.

Na primeira parte (cf.
Ps 136,1-9), que foi objecto da nossa meditação precedente, o cenário era composto por actos divinos dispostos na criação: eles deram origem às maravilhas do universo. Assim, naquela parte do Salmo proclama-se a fé em Deus criador, que se revela através das suas criaturas cósmicas. Agora, porém, o jubiloso canto do Salmista, chamado pela tradição judaica "O grande Hallel", ou seja, o maior louvor que nos eleva ao Senhor, conduz-nos a um horizonte diverso, ao da história. Portanto, a primeira parte fala da criação como reflexo da beleza de Deus, a segunda fala da história e do bem que Deus realizou para nós no decorrer da história. Sabemos que a Revelação bíblica proclama repetidamente que a presença de Deus salvador se manifesta de modo particular na história da salvação (cf. Dt 26,5-9 Jos 24,1-13).

2. Assim, desfilam diante do orante as acções libertadoras do Senhor que têm o seu coração no acontecimento fundamental do êxodo do Egipto. Com ele está profundamente relacionada a difícil viagem pelo deserto do Sinai, cujo meta derradeira é a terra prometida, o dom divino que Israel continua a experimentar em todas as páginas da Bíblia.

A célebre travessia do Mar Vermelho, "dividido em duas partes", como que rasgado e dominado como um monstro domado (cf. Ps 136,13), faz nascer o povo livre e chamado a uma missão e a um destino glorioso (cf. Ps 136,14-15; Ex 15,1-21), que terá a sua releitura cristã na plena libertação do mal com a graça baptismal (cf. 1Co 10,1-4). Depois, abre-se o itinerário do deserto: lá o Senhor está representado como um guerreiro que, prosseguindo a obra de libertação iniciada na travessia do Mar Vermelho, se declara em defesa do seu povo ferindo os adversários. Deserto e mar representam, portanto, a passagem através do mal e da opressão para receber o dom da liberdade e da terra prometida (cf. Ps 136,16-20).

3. No final, o Salmo apresenta aquela terra que a Bíblia exalta de modo entusiasta como "terra óptima, terra de torrentes de água, de fontes e de nascentes, que jorram por vales e montes; terra de trigo, cevada, videiras, figos e de romãs; terra de oliveiras, azeite e mel; terra onde não comerás pouco pão, onde nada te faltará, terra onde as pedras são de ferro e de cujas montanhas extrairás cobre" (Dt 8,7-9).

Esta celebração enfática, que vai além da realidade daquela terra, quer exaltar o dom divino, dirigindo a nossa expectativa para o dom mais nobre da vida eterna com Deus. Um dom que permite que o povo seja livre, um dom que nasce como se continua a repetir na antífona que marca cada versículo do hesed do Senhor, isto é, da sua "misericórdia", da sua fidelidade ao compromisso assumido na aliança com Israel, do seu amor que continua a revelar-se através da "recordação" (cf. Ps 136,23). No tempo da "humilhação", ou seja, nas provas e opressões sucessivas, Israel descobrirá sempre a mão salvadora do Deus da liberdade e do amor. Também no tempo da fome e da miséria o Senhor entra em acção para oferecer a toda a humanidade o alimento, confirmando a sua identidade de criador (cf. Ps 136,25).

4. Por conseguinte, com o Salmo 135 entrelaçam-se duas modalidades da única Revelação divina, a cósmica (cf. Ps 136,4-9) e a histórica (cf. Ps 136,10-25). Sem dúvida, o Senhor é transcendente como criador e árbitro do ser; mas também está próximo das suas criaturas, entrando no espaço e no tempo. Não permanece fora, no céu longínquo. Aliás, a sua presença no meio de nós alcança o seu ápice na Encarnação de Cristo.

É quanto proclama a releitura cristã do Salmo de modo límpido, como é confirmado pelos Padres da Igreja que vêem o vértice da história da salvação e o sinal supremo do amor misericordioso do Pai no dom do Filho, como salvador e redentor da humanidade (cf. Jn 3,16).

Assim, são Cipriano, um mártir do século III, ao iniciar o seu tratado sobre As obras de caridade e a esmola, contempla com admiração as obras que Deus realizou em Cristo seu Filho a favor do seu povo, irrompendo por fim num reconhecimento apaixonado da sua misericórida. "Caríssimos irmãos, são muitos e grandiosos os benefícios de Deus, que a bondade generosa e abundante de Deus Pai e de Cristo realizou e sempre realizará para a nossa salvação; de facto, para nos preservar de uma nova vida e para nos podermos redimir, o Pai enviou o Filho; o Filho, que tinha sido enviado, quis ser chamado também Filho do homem, para que nos tornássemos filhos de Deus: humilhou-se, para elevar o povo que antes jazia por terra, foi ferido para curar as nossas feridas, tornou-se escravo para nos conduzir à liberdade, a nós que éramos escravos. Aceitou morrer, para poder oferecer aos mortais a imortalidade. São estes os numerosos e grandiosos dons da divina misericórdia" (1: Tratados: Colecção de Textos Patrísticos, CLXXV, Roma, 2004, p. 108).

Com estas palavras o santo Doutror da Igreja desenvolve o Salmo com uma ladainha dos benefícios que Deus nos fez, acrescentando ao que o Salmista ainda não conhecia, mas já esperava, o verdadeiro dom que Deus nos fez: o dom do Filho, o dom da Encarnação, na qual Deus se doou a nós, na Eucaristia e na sua Palavra, todos os dias, até ao fim da história. O nosso perigo é que a memória do mal, dos males suportados, muitas vezes seja mais forte do que a memória do bem. O Salmo serve para despertar em nós também a memória do bem, do muito bem que o Senhor nos faz, e que podemos ver se o nosso coração estiver atento: é verdade, a misericórdia de Deus é eterna, está presente dia após dia.

Saudações

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, em particular o grupo vindo do Brasil, com votos de uma romagem benéfica que favoreça em todos uma consciência mais viva e agradecida da misericórdia eterna com que o Pai do Céu guia e salva a vossa vida e família em seu Filho Jesus. Ide com Deus!

Sinto-me feliz por acolher os peregrinos de língua francesa presentes esta manhã nesta audiência. Que Cristo, que chama todos os seus discípulos a crescer na santidade, vos conceda responder generosamente aos seus apelos! Concedo a todos de bom grado a Bênção Apostólica.
Amados irmãos e irmãs!

Dou calorosas boas-vindas a todos os peregrinos e visitantes de língua inglesa presentes nesta audiência. Saúdo de modo particular os membros da Comissão Executiva da Caritas Internationalis. É com prazer que saúdo também os grupos provenientes da Inglaterra, Espanha, África do Sul e dos Estados Unidos da América. Que a vossa peregrinação fortaleça a vossa fé e renove o vosso amor ao Senhor e que Deus vos abençoe a todos!

É com prazer que saúdo todos os peregrinos e visitantes dos países de língua alemã. Dou especiais saudações de boas-vindas, entre outros, aos leitores do Jornal da Arquidiocese de Colónia, e ao grupo de peregrinos de Bad Hofgastein, onde transcorri férias agradáveis. Queridos amigos, em todos os momentos da nossa vida recebemos dons de Deus. Por isso agradecei ao Senhor pela sua fidelidade e bondade! Contribuí para a fé e para a comunhão entre as pessoas! O Senhor fortaleça a vossa esperança e abençoe as vossas obras. Boa estadia em Roma.

Saúdo cordialmente os peregrinos polacos aqui presentes. Que a vossa peregrinação às Basílicas de Roma e o encontro com a tradição da Cidade Eterna fortaleçam a vossa fé e se tornem fonte do crescimento espiritual. Deus vos abençoe.

Dou cordiais boas-vindas aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos seminaristas e a todos os fiéis que acompanham os seus Bispos, os quais estão a realizar nesta semana a visita ad limina Apostolorum junto do Sucessor de Pedro.

Abençoo-vos de coração. Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo agora o meu pensamento a vós, queridos delegados pelo Movimento pela Vida agradecendo-vos a vossa corajosa actividade tricenal destinada a promover e defender o direito à vida e à dignidade de cada pessoa humana desde a sua concepção até à sua morte natural. Comprometendo-vos a prevenir o aborto voluntário, com uma acção atenta de apoio às mulheres e às famílias, vós colaborais para escrever páginas de esperança para o futuro da humanidade, proclamando de modo concreto o "Evangelho da Vida".

Por fim, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais.

Queridos amigos, a exemplo de santa Margarida da Escócia e de santa Gertrudes, das quais celebramos hoje a memória, procurai sempre em Jesus a luz e o apoio para cada uma das vossas opções na vida quotidiana.



23 de Novembro de 2005: Carta aos Efésios 1, 3-10: Deus Salvador

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1. Todas as semanas a Liturgia das Vésperas propõe à Igreja orante o solene hino de abertura da Carta aos Efésios, o texto que foi agora proclamado. Ele pertence ao género das berakot, ou seja, das "bençãos" que já se encontram no Antigo Testamento e que terão uma ulterior difusão na tradição judaica. Por conseguinte, trata-se de uma continuidade constante no louvor que se eleva a Deus, que na fé cristã é celebrado como "Pai do Senhor Jesus Cristo".

É por isso que, no nosso louvor hínico, Cristo é a figura central, na qual se revela e cumpre a obra de Deus Pai. De facto, os três verbos principais deste Cântico longo e compacto conduzem-nos sempre para o Filho.

2. Deus "escolheu-nos em Cristo" (
Ep 1,4): é a nossa vocação à santidade e à filiação adoptiva e, por conseguinte, à fraternidade com Cristo. Este dom, que transforma radicalmente o nosso estado de criaturas, é-nos oferecido "por meio de Jesus Cristo" (Ep 1,5), uma obra que entra no grande projecto salvífico divino, naquela amorosa "benevolência da vontade" (Ep 1,5) do Pai que o Apóstolo com emoção está a completar.

O segundo verbo, depois do verbo da eleição ("escolheu-nos"), designa o dom da graça: "A graça que Ele derramou abundantemente sobre nós por meio do Seu Filho querido" (ibidem).Em grego temos por duas vezes a mesma raiz charis e echaritosen, para realçar a gratuidade da iniciativa divina que precede qualquer resposta humana. Portanto, a graça que o Pai nos proporciona é manifestação do seu amor que nos envolve e nos transforma.

3. E eis-nos no terceiro verbo fundamental do Cântico paulino: ele tem sempre por objecto a graça divina que foi "abundantemente derramada" em nós (Ep 1,8). Por conseguinte, estamos diante de um verbo de plenitude, poderíamos dizer atendo-nos ao seu significado originário de excesso, de doação sem limites nem reservas.

Chegamos assim à profundidade infinita e gloriosa do mistério de Deus, aberto e revelado por graça a quem foi chamado por graça e por amor, sendo esta uma revelação impossível de alcançar unicamente com o dote da inteligência e das capacidades humanas. "O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, foi isso que Deus preparou para aqueles que O amam. Deus, porém, revelou-o a nós pelo Espírito. Pois o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus" (1Co 2,9-10).

4. O "mistério da vontade" divina tem um centro que está destinado a coordenar todo o ser e toda a história guiando-os à plenitude querida por Deus: é "o desígnio de recapitular em Cristo todas as coisas" (cf. Ep 1,10). Neste "desígnio", em grego oikonomia, ou seja, neste plano harmonioso da arquitectura do ser e do existir, eleva-se Cristo, cabeça do Corpo da Igreja, mas também eixo que recapitula em si "o universo inteiro, tanto as coisas celestes como as terrestres". A dispersão e o limite são superados e configura-se aquela "plenitude" que é a verdadeira meta do projecto que a vontade divina tinha preestabelecido desde as origens.

Por conseguinte, estamos diante de um mosaico grandioso da história da criação e da salvação que agora gostaríamos de meditar e aprofundar através das palavras de santo Ireneu, um grande Doutor da Igreja do segundo século, o qual, nalgumas páginas magisteriais do seu tratado Contra as heresias, tinha desenvolvido uma reflexão minuciosa precisamente sobre a recapitulação realizada por Cristo.

5. A fé cristã, afirma ele, reconhece que "existe um único Deus Pai e um só Cristo Jesus, nosso Senhor, que veio através de toda a economia e recapitulou em si todas as coisas. Entre todas as coisas está também o homem, imagem de Deus. Portanto, recapitulou também o homem em si mesmo, tornando-se visível, Ele que é invisível, compreensível, Ele que é imcompreensível, e homem, Ele que é Verbo" (3, 16, 6: Già e non ancora, CCCXX, Milão 1979, pág. 268).

Por isso, "o Verbo de Deus fez-se homem" realmente, não na aparência, porque então a "sua obra não teria sido verdadeira". Ao contrário, "Ele era como se mostrava: Deus que recapitula em si a sua antiga criatura, que é o homem, para sair do pecado, destruir a morte e vivificar o homem. E por isso as suas obras são verdadeiras" (3, 18, 7: ibidem, pág 277-278).

Constituiu-se Chefe da Igreja para atrair todos para si no momento justo. No espírito destas palavras de santo Ireneu rezemos: sim, Senhor, atrai-nos para Ti, atrai o mundo para Ti e concede-nos a paz, a Tua paz.

Saudações

Saúdo com particular afecto o grupo de visitantes do Brasil e os portugueses da Missão Católica do Espírito Santo, que estão presentes nesta Audiência. Faço votos por que a vossa vinda a Roma vos fortaleça na fé e avive no vosso ânimo a coragem para testemunhar a grandeza do amor de Deus, nosso Pai, "que nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo" para ser a nossa esperança e a nossa paz. Com a minha Bênção Apostólica.

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa, em particular o grupo de sacerdotes da diocese de Fréjus-Toulon, acompanhados do seu Bispo, D. Dominique Rey, assim como o grupo de sacerdotes maristas e irmãos maristas. Que a vossa estadia em Roma vos renove na alegria de ser cristãos e no desejo de servir os vossos irmãos!

Dou calorosas boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua inglesa aqui presentes, incluindo os grupos da Inglaterra, Austrália, Filipinas e Estados Unidos da América. Fazei com que a vossa estadia em Roma seja memorável e um bom regresso às vossas casas. Sobre todos vós, invoco a paz e a alegria de Jesus Cristo nosso Senhor!

Saúdo de coração os peregrinos e visitantes dos países de língua alemã. Dirijo uma saudação especial aos vários grupos da Baviera. Queridos amigos, a fé da Igreja dá-nos um profundo conhecimento de Cristo. Dele recebemos também a força para uma vida no seguimento do Senhor. Devemos testemunhar o amor do Salvador individualmente e em comunidade. Desejo a todos vós uma feliz e alegre estadia em Roma!

Saúdo cordialmente os peregrinos polacos. Celebrámos anteontem o dia dedicado às congregações contemplativas. É uma grande riqueza da Igreja. Agradecemos às monjas e aos monges a sua oração e o seu acompanhamento silencioso do mundo movimentado. Confiamo-nos agora à sua memória. A todos os peregrinos concedo a minha Bênção. Louvado seja Jesus Cristo!

Por fim, a minha saudação dirige-se aos doentes, aos novos casais e aos jovens. Entre os jovens recordo de modo especial os estudantes do Instituto São José de Caburlotto de Roma, do Instituto "Virgo Fidelis" de Grottaferrata, e da Escola Média "Diamare-Conte" de Cassino. Convido-vos a todos a participar no Advento com fervor espiritual, haurindo da Palavra de Deus e da Eucaristia a energia interior para receber o Senhor que há-de vir.



30 de Novembro de 2005: Salmo 136 (vulg.): Junto dos rios da Babilónia

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1. Nesta primeira quarta-feira do Advento, tempo litúrgico de silêncio, vigilância e oração em preparação para o Natal, meditamos o Salmo 136, que se tornou célebre na versão latina do seu início, Super flumina Babylonis. O texto recorda a tragédia vivida pelo povo hebraico durante a destruição de Jerusalém, que aconteceu em 586 a.C., e o sucessivo e consequente exílio na Babilónia. Estamos diante de um canto nacional de sofrimento, marcado por uma saudade crescente do que se perdeu.

Esta insistente invocação ao Senhor, para que liberte os seus fiéis da escravidão babilónia, exprime bem também os sentimentos de esperança e de expectativa da salvação com os quais iniciámos o nosso caminho do Advento.

A primeira parte do Salmo (cf.
Ps 137,1-4) tem como fundo a terra do exílio, com os seus rios e canais, precisamente os que irrigam a planície babilónica, sede dos deportados hebreus. É quase a antecipação simbólica dos campos de extermínio nos quais o povo hebreu no século que há pouco terminou foi encaminhado através de uma opressão aviltante de morte, que permaneceu como vergonha indelével na história da humanidade.

A segunda parte do Salmo (cf. Ps 137,5-6) é, ao contrário, a cidade perdida mas viva no coração dos exilados.

2. Nas palavras do Salmista estão incluídos a mão, a língua, o paladar, a voz, as lágrimas. A mão é indispensável para quem toca a harpa: mas agora ela está paralisada (cf. Ps 137,5) pela dor, também porque as harpas estão penduradas nos salgueiros.

A língua é necessária ao cantor, mas agora está colada ao paladar (cf. Ps 137,6). Em vão os raptores babilónios "pediam canções... canções de alegria" (Ps 137,3). Os "cânticos de Sião" são "cânticos do Senhor" (Ps 137,3-4), não são canções folclóricas e de espectáculo. Só na liturgiae na liberdade de um povo podem elevar-se ao céu.

3. Deus, que é o último arbítrio da história, saberá compreender e acolher segundo a sua justiça também o grito das vítimas, além dos acentos ásperos que por vezes ele assume.

Gostaríamos de nos confiar a santo Agostinho para uma ulterior meditação sobre o nosso Salmo.

Nela o grande Padre da Igreja introduz uma nota surpreendente e de grande actualidade: ele sabe que entre os habitantes da Babilónia se encontram pessoas que se comprometem pela paz e pelo bem da comunidade, mesmo se não partilham a fé bíblica, isto é, se não conhecem a esperança da Cidade eterna pela qual nós aspiramos. Eles levam consigo uma centelha de desejo do desconhecido, do maior, do transcendente, de uma verdadeira redenção. E ele diz que também entre os perseguidores, entre os não-crentes, existem pessoas com esta centelha, com uma espécie de fé, de esperança, na medida que lhes é possível nas circunstâncias em que vivem. Com esta fé, também numa realidade desconhecida, eles estão realmente a caminho rumo à verdadeira Jerusalém, a Cristo.

E com esta abertura de esperança também para os babilónios como lhes chama Agostinho para os que não conhecem Cristo, nem sequer Deus, e contudo desejam o desconhecido, o eterno, ele adverte-nos também a nós que não nos fixemos simplesmente nas coisas materiais do momento presente, mas que perseveremos no caminho para Deus. Só com esta esperança maior podemos também, do modo justo, transformar este mundo. Santo Agostinho diz isto com as seguintes palavras: "Se somos cidadãos de Jerusalém... e devemos viver nesta terra, na confusão do mundo presente, na actual Babilónia, onde não habitamos como cidadãos mas somos presos, é preciso que quanto foi dito pelo Salmo não só o cantemos mas vivamos: o que se faz com uma aspiração profunda do coração, plena e religiosamente desejoso da cidade eterna".

E acrescenta em relação à "cidade terrestre, chamada Babilónia": ela "tem pessoas que, movidas pelo amor por ela, se esforçam para garantir a paz paz temporal sem alimentar no coração outra esperança, aliás repondo nisto toda a sua alegria, sem se promover outra coisa. E nós vemo-los fazer todos os esforços para se tornarem úteis à sociedade terrena. Mas, se se esforçam com consciência pura nestas tarefas, Deus não permitirá que pereçam com Babilónia, tendo-os predestinado para serem cidadãos de Jerusalém: mas contanto que, vivendo na Babilónia, não tenham a ambição da soberba, a pompa caduca e a arrogância irritante... Ele vê a sua disponibilidade e mostrar-lhes-á a outra cidade, pela qual devem verdadeiramente suspirar e orientar todos os esforços" (Exposições sobre os Salmos, 136, 1-2; Nova Biblioteca Agostiniana, XXVIII, Roma 1977, pp. 397 399).

E pedimos ao Senhor que desperte em todos nós este desejo, esta abertura a Deus, e que também os que não conhecem Deus, e os que não conhecem Cristo possam ser tocados pelo seu amor, para que todos juntos nos coloquemos em peregrinação para a Cidade definitiva e a luz desta Cidade possa surgir também neste nosso tempo e no nosso mundo.

Saudações

Estou feliz por acolher na manhã de hoje os peregrinos francófonos, particularmente o grupo de estudos da Assembleia Nacional Francesa e os representantes da Federação Francesa da Imprensa Católica. Que este período do Advento permita a cada um preparar-se para acolher o Salvador que vem para nos libertar, para permitir que progridamos sem temor no caminho rumo ao Pai misericordioso.

Dou calorosas boas-vindas aos peregrinos e visitantes anglófonos, presentes na Audiência de hoje e, em particular, aos vários grupos de estudantes. Que este Advento seja para todos vós um período de reflexão, de oração e de alegre expectativa, em preparação para o mistério do Natal. Sobre vós e as vossas famílias, invoco cordialmente as abundantes bênçãos divinas da alegria e da paz.

Dirijo uma alegre saudação a todos os peregrinos e visitantes de língua alemã. Através do baptismo, somos membros do Corpo místico de Cristo, a Igreja, e tornamo-nos cidadãos da Jerusalém celeste. Tende nos vossos corações a certeza desta exímia vocação. Assim, com a ajuda de Deus, possais superar os desafios da vida de cada dia. Que neste período do Advento o Senhor vos acompanhe com a sua bênção!

Saúdo cordialmente os visitantes e peregrinos de expressão espanhola, em particular as Religiosas de Maria Imaculada, congregadas em Capítulo Geral, os Irmãos da Irmandade de Santa Marta da Espanha, assim como os peregrinos do México e de outros países latino-americanos. No início do Advento, animo-vos a preparar-vos com alegria para que o Senhor encontre nos vossos corações uma digna morada repleta de amor e de esperança.

Muito obrigado!

Saúdo de todo o coração os peregrinos polacos aqui presentes. De modo particular, os Bispos presentes em Roma para a visita ad limina Apostolorum. A todos aqueles que realizam a visita aos Túmulos dos Apóstolos, desejo um fortalecimento do espírito da fé, da esperança e da caridade. Formulo votos a fim de que o presente período do Advento seja fecundo de frutos espirituais para todos.

Louvado seja Jesus Cristo!

Enfim, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais, recordando entre os jovens particularmente os que vieram da Diocese de Téramo-Atri. O apóstolo santo André, cuja festa celebramos hoje, seja para todos um modelo de seguimento fiel de Cristo e de corajoso testemunho evangélico.

Apelo

Amanhã, 1 de Dezembro celebra-se o Dia Mundial contra a Sida, iniciativa das Nações Unidas que pretende recordar a atenção sobre o flagelo da Sida, e convidar a Comunidade internacional a um renovado compromisso na obra de prevenção e na assistência solidária a quantos por ela são atingidos. As cifras difundidas em relação a isto são alarmantes!

Seguindo de perto o exemplo de Cristo, a Igreja sempre considerou o cuidado dos enfermos como parte integrante da sua missão. Por conseguinte, encorajo as numerosas iniciativas promovidas de modo especial pelas comunidades eclesiais para dominar esta doença e sinto-me próximo dos doentes de Sida e das suas famílias, invocando para eles a ajuda e o conforto do Senhor.



7 de Dezembro 2005: Salmo 137: Acção de graças

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1. Colocado pela tradição judaica sob o patrocínio de David, embora provavelmente tenha surgido numa época sucessiva, o hino de acção de graças que agora escutámos, e que constitui o Salmo 137, abre-se com um cântico pessoal do orante. Ele eleva a sua voz no âmbito da assembleia do templo ou, pelo menos, tendo como referência o Santuário de Sião, sede da presença do Senhor e do seu encontro com o povo dos fiéis.

De facto, o Salmista confessa que "se prostrar em direcção do santuário" hierosolimitano (cf.
Ps 138,2): ali ele canta diante de Deus que está nos céus com a sua corte de anjos, mas que também está à escuta no espaço terreno do templo (cf. Ps 138,1). O orante tem a certeza de que o "nome" do Senhor, isto é, a sua realidade pessoal viva e operante, e as suas virtudes da fidelidade e da misericórdia, sinais da aliança com o seu povo, são a base de qualquer confiança e esperança (cf. Ps 138,2).

2. O olhar dirige-se então, por um momento, para o dia do sofrimento: então, o grito do fiel angustiado tinha respondido à voz divina. Ela tinha infundido coragem na alma perturbada (cf. Ps 138,3). O original hebraico fala literalmente do Senhor que "agita a força na alma" do justo oprimido: é como se fosse a irrupção de um vento impetuoso que elimina as hesitações e os receios, imprime uma energia vital nova, faz florescer a fortaleza e a confiança.

Depois desta promessa aparentemente pessoal, o Salmista alarga o olhar ao mundo e imagina que o seu testemunho envolve todo o horizonte: "todos os reis da terra", numa espécie de adesão universalista, se associam ao orante hebreu num louvor comum em honra da grandeza e do poder soberano do Senhor (cf. Ps 138,4-6).

3. O conteúdo deste louvor coral que se eleva de todos os povos, já mostra a futura Igreja universal. Este conteúdo tem como primeiro tema a "glória" e os "caminhos do Senhor" (cf. Ps 138,5), isto é, os seus projectos de salvação e a sua revelação. Assim, descobre-se que Deus é certamente "excelso" e transcendente, mas "olha para o humilde" com afecto, enquanto afasta do seu rosto o soberbo em sinal de rejeição e de julgamento (cf. Ps 138,6).

Como proclamava Isaías: "Pois assim diz Aquele que está no alto, lá em cima, Aquele que mora na eternidade e que tem um nome santo: Eu moro na Altura santa, mas estou com os oprimidos e humilhados, para reanimar o espírito dos humilhados e reanimar o coração dos oprimidos" (Is 57,15). Por conseguinte, Deus escolhe declarar-se em defesa dos débeis, das vítimas, dos últimos: isto é dado a conhecer a todos os reis, porque sabemos qual deve ser a sua posição ao governar as nações. Naturalmente isto é dito não só aos reis e a todos os governos, mas a todos nós, porque também nós devemos saber que escolha fazer, qual é a opção: declarar-nos com os humildes, com os últimos, com os pobres e fracos.

4. Depois desta interpelação a nível mundial dos responsáveis das nações, não só daquele tempo, mas de todos os tempos, o orante volta ao louvor pessoal (cf. Ps 138,7-8). Com um olhar que se orienta para o futuro da sua vida, ele implora uma ajuda de Deus também para as provações que a existência ainda apresentar. E todos nós rezamos assim com este orante daquele tempo.

Fala-se de modo sintético da "ira dos inimigos" (Ps 138,7), uma espécie de símbolo de todas as hostilidades que pode apresentar-se ao justo durante o seu caminho na história. Mas ele sabe, e com ela também nós sabemos, que o Senhor jamais o abandonará e estenderá a sua mão para o amparar e guiar. O fim do Salmo é, então, uma última apaixonada profissão de confiança em Deus, cuja bondade é infinita: Ele "não abandonará a obra das tuas mãos", isto é, da sua criatura (Ps 138,8). E nesta confiança, nesta certeza da bondade de Deus, devemos viver também nós.

Devemos ter a certeza de que, por mais pesadas e tormentosas que sejam as provas que nos esperam, nós jamais seremos abandonados, nunca agiremos fora das mãos do Senhor, aquelas mãos que nos criaram e que agora nos acompanham no itinerário da vida. Como confessará são Paulo, "Deus, que em vós começou esse bom trabalho, vai continuá-lo até que seja concluído" (Ph 1,6).

5. Assim, também nós rezamos com o Salmo de louvor, de acção de graças e de confiança. Desejamos continuar a fazer correr este fio de louvor hínico através do testemunho de um cantor cristão, o grande Efrém Sírio (século IV), autor de textos de extraordinária fragrância poética e espiritual.

"Por maior que seja a nossa admiração por ti, ó Senhor, / a tua glória supera o que os nossos lábios podem expressar", canta Efrém num hino (Hinos sobre a Virgindade, 7: A harpa do Espírito, Roma 1999, p. 66), e noutro: "Louvor a ti, para quem todas as coisas são fáceis, / porque tu és omnipotente" (Hinos sobre a Natividade, 11: ibidem, p. 48), e este é o último motivo da nossa confiança, que Deus tem o poder da misericórdia e usa o seu poder para a misericórdia. Por fim, mais uma citação: "Louvor a ti de todos os que compreendem a tua verdade" (Hinos sobre a Fé, 14: ibidem, p. 27).



14 de Dezembro 2005: Salmo 138 (vulg.), 1-12: Deus tudo vê

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1. Em duas etapas diferentes a Liturgia das Vésperas cujos Salmos e Cânticos estamos a meditar propõe-nos a leitura de um hino sapiencial de límpida beleza e de forte impacto emotivo, o Salmo 138. Temos hoje diante de nós a primeira parte da composição (cf.
Ps 139,1-12), isto é, as primeiras duas estrofes que exaltam respectivamente a omnisciência de Deus (cf. Ps 139,1 Ps 139,6) e a sua omnipresença no espaço e no tempo (cf. Ps 139,7-12).

O vigor das imagens e das expressões tem como finalidade a celebração do Criador: "Se é tanta a grandeza das obras criadas afirma Teodoro de Ciro, escritor cristão do século V quanto deve ser grande o seu Criador!" (Discursos sobre a Providência, 4: Colecção de Textos Patrísticos, LXXV, Roma 1988, p. 115). A meditação do Salmista tem sobretudo por finalidade penetrar no mistério do Deus transcendente, mas que está próximo de nós.

2. A substância da mensagem que ele nos oferece é linear: Deus tudo sabe e está presente ao lado da sua criatura, que a Ele não pode subtrair-se. Mas a sua presença não é dominante nem examinadora; sem dúvida, o seu olhar é também severo em relação ao mal, face ao qual não permanece indiferente.

Contudo o elemento fundamental é o de uma presença salvífica, capaz de abraçar todo o ser e toda a história. Trata-se, na realidade, do cenário espiritual ao qual s. Paulo, falando no Areópago de Atenas, alude recorrendo à citação de um poeta grego: "Nele vivemos, nos movemos e existimos" (Ac 17,28).

3. O primeiro trecho (cf. Ps 138,1-5), como se dizia, é a celebração da omnisciência divina: de facto, repetem-se as palavras do conhecimento como "perscrutar", "conhecer", "saber", "penetrar", "compreender" e "sabedoria". Como se sabe, o conhecimento bíblico supera o puro e simples aprender e compreender intelectivo; é uma espécie de comunhão entre conhecedor e conhecido: por conseguinte, o Senhor está em intimidade connosco, durante o nosso pensar e agir.

Ao contrário, à omnipotência divina está dedicado o segundo trecho do nosso Salmo (cf. Ps 139,7-12). Nele descreve-se de maneira vívida e ilusória a vontade do homem de se subtrair àquela presença. Todo o espaço é percorrido: antes de tudo, está o eixo vertical "céu mundo dos mortos" (cf. Ps 139,8), que é substituído pela dimensão horizontal, a que vai da aurora, isto é, do oriente, e chega até "à extremidade do mar" Mediterrâneo, o Ocidente (cf. Ps 139,9). Todos os âmbitos do espaço, também o mais secreto, contém uma presença activa de Deus.

O Salmista continua a introduzir também a outra realidade na qual nós estamos imersos, o tempo, simbolicamente representado pela noite e pela luz, pelas trevas e pelo dia (cf. Ps 139,11-12). Também a obscuridade, na qual é difícil mover-se e ver, está penetrada pelo olhar e pela epifania do Senhor da existência e do tempo. A sua mão está sempre pronta a pegar na nossa para nos guiar no nosso itinerário terreno (cf. Ps 139,10). Portanto, é uma proximidade não de julgamento que incute terror, mas de apoio e de libertação.

E assim podemos compreender qual é o conteúdo último e essencial deste Salmo: é um cântico de confiança. Deus está sempre connosco. Também nas noites mais obscuras da nossa vida, não nos abandona. Também nos momentos mais difíceis, permanece presente. E também na última noite, na última solidão na qual ninguém nos pode acompanhar, na noite da morte, o Senhor não nos abandona. Acompanha-nos também nesta última solidão da noite da morte. E por isso nós, cristãos, podemos ter confiança: nunca somos deixados sós. A bondade de Deus está sempre connosco.

4. Começámos com uma citação do escritor cristão Teodoreto de Ciro. Concluimos confiando-nos ainda a ele e ao seu IV Discurso sobre a Providência divina, porque em última análise este é o tema do Salmo. Ele detém-se no v. 6 no qual o orante exclama: "É maravilhosa para mim a tua sabedoria, muito alta, e eu não a compreendo". Teodoreto comenta aquela passagem dirigindo-se à interioridade da consciência e da experiência pessoal e afirma: "Dirigido para mim mesmo e tendo-me tornado íntimo comigo mesmo, afastando-me dos clamores externos, quis imergir-me na contemplação da minha natureza... Reflectindo sobre estas coisas e pensando na harmonia entre a natureza mortal e a imortal, sinto-me dominado por tanto prodígio e, não conseguindo contemplar este mistério, reconheço a minha derrota; e ainda mais, enquanto proclamo a vitória da sabedoria do Criador e a ele canto hinos de louvor, grito: "É maravilhosa para mim a tua sabedoria, demasiado alta, e eu não a compreendo"" (Colecção de Textos Patrísticos, LXXV, Roma 1988, pp. 116 117).

Saudações

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa presentes nesta audiência, sobretudo os grupos de jovens. Que o tempo do Advento abra os corações à alegria do perdão recebido para acolher como homens novos Aquele que vem ao nosso encontro!

Dou com prazer as boas-vindas aos peregrinos de língua inglesa presentes nesta Audiência, especialmente os que provêm dos Estados Unidos da América. Saúdo de modo especial o grupo de Budistas do Japão. Sobre todos vós invoco a bênção, a paz e a alegria do Senhor.

Dou de coração as boas-vindas aos peregrinos provenientes dos países de língua alemã. O Advento é um tempo de graça, que nos chama e nos encoraja a preparar nas nossas vidas o caminho de Deus. Sede sempre testemunhas alegres e colaboradoras do amor do Senhor para com o próximo. O espírito Santo guie o vosso pensamento, palavras e acções. Desejo a todos uma agradável estadia em Roma neste tempo do Advento!

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola que participaram nesta audiência. Neste tempo do Advento, convido-vos a preparar-vos com recolhimento interior para a celebração gozosa do Natal.

Muito obrigado pela vossa visita.

Dou cordiais boas-vindas a todos os peregrinos polacos que chegaram da Polónia e de diversos países. De modo particular, saúdo os Bispos polacos presentes em Roma por ocasião da visita ad limina Apostolorum. Saúdo os peregrinos de Zakopane e o grupo dos jovens de Bydgoszcz. Que a estadia em Roma vos ajude a todos a preparar-vos para o Santo Natal. Louvado seja Jesus Cristo.

Dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo a peregrinação da Diocese de Alexandria, guiada por D. Fernando Charrier, na conclusão do quinto centenário do nascimento de S. Pio V, ilustre filho da terra de Alexandria. Saúdo depois os fiéis da paróquia de S. Estêvão, em Telese Terme, acompanhados por D. Michele De Rosa; os representantes da Associação Industrial de Grosseto, aqui reunidos com D. Franco Agostinelli; os representantes da Associação Hoteleira de Cesenático, juntamente com o seu Pastor, D. António Lanfranconi. Saúdo ainda a numerosa delegação do Ministério da Economia e das Finanças e a União Católica Artistas Italianos. Por fim, saúdo os jovens, os doentes e os novos casais.

A hodierna memória de S. João da Cruz convida-nos, queridos amigos, a dirigir o olhar do coração para o mistério escondido em Jesus Cristo, recordando-nos que, quem deseja verdadeiramente a sabedoria divina, deseja antes de tudo entrar na "dimensão da cruz".

Preparemo-nos para viver o Natal já próximo com estes sentimentos.


Audiências 2005-2013 16115