Audiências 2005-2013 18016

Anúncio da 1ª Encíclica

"Seguindo os passos de João Paulo II na próxima quarta-feira, 25 de Janeiro, festa da conversão do Apóstolo das Nações, irei à Basílica de São Paulo fora dos Muros para rezar com os irmãos ortodoxos e protestantes: rezar para agradecer tudo o que o Senhor nos concedeu; rezar para que o Senhor nos guie pelo caminho da unidade.

Além disso, no mesmo dia, 25 de Janeiro, será finalmente publicada a minha primeira Encíclica, cujo título já é conhecido "Deus caritas est", "Deus é amor". O tema não é imediatamente ecuménico, mas o quadro e o pano de fundo são ecuménicos, porque Deus e o nosso amor são a condição da unidade dos cristãos. São a condição da paz no mundo.

Nesta Encíclica desejo mostrar o conceito de amor nas suas diversas dimensões. Hoje, na terminologia que se conhece, o "amor" com frequência está muito distante do que pensa um cristão se fala de caridade. Da minha parte, gostaria de mostrar que se trata de um movimento com diversas dimensões. O "eros", este dom de amor entre homem e mulher, provém da mesma fonte de bondade do Criador, assim como a possibilidade de um amor que renuncia a si em benefício do outro. O "eros" transforma-se em "ágape" na medida em que os dois se amam realmente e um não procura mais a si mesmo, a sua alegria, o seu prazer, mas sobretudo o bem do outro. E assim isto, que é "eros" transforma-se em caridade, num caminho de purificação, de aprofundamento. Da própria família abre-se de par em par à família mais vasta da sociedade, à família da Igreja, à família do mundo".
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Saudações

Saúdo os grupos nomeados de Portugal e do Brasil e todos os peregrinos lusófonos presentes nesta Audiência, que tem lugar no primeiro dia do Oitavário de Oração pela unidade dos cristãos. "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu Nome é promessa de Jesus Eu estou no meio deles". Irmãos e amigos, se estiverdes unidos em nome de Jesus, Ele está no meio de vós! Não podeis encontrar ponto de união mais eficaz: Ele deu a sua vida, para reunir o que andava disperso. Com Jesus na vida, jogai a partida da unidade!

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa presentes esta manhã, em particular os jovens da escola "Rocroy Saint-Léon", de Paris. Que a vossa estadia em Roma seja uma ocasião para crescer na fé, na unidade e na confiança em Cristo. Concedo a todos de bom grado a Bênção Apostólica.

Dou boas-vindas aos peregrinos e visitantes de língua inglesa presentes nesta Audiência, em particular aos grupos da Suécia, da Coreia do Sul e dos Estados Unidos da América. Sobre vós e vossos familiares invoco cordialmente de Deus as bênçãos da alegria e da paz.

Saúdo os peregrinos provenientes da Polónia. Na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos pedimos a Deus o espírito de amor recíproco por todos os crentes em Cristo. Cremos nas Suas palavras: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles". Deus abençoe vós e as vossas famílias. Louvado seja Jesus Cristo.

Por fim, o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos novos casais.Queridos amigos, durante estes dias de oração pela unidade dos cristãos convido-vos, queridos jovens, a ser em toda a parte, especialmente em relação aos vossos coetâneos, apóstolos de fiel adesão ao Evangelho; peço a vós, queridos doentes, que ofereçais os vossos sofrimentos pela plena comunhão de todos os discípulos de Cristo; exorto-vos a vós, queridos novos casais, a tornar-vos cada vez mais um só coração e uma só alma, vivendo "o mandamento do amor" no âmbito das vossas famílias.



25 de Janeiro 2006: Salmo 143 (vulg.), 9-15: Oração do Rei

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Amados irmãos e irmãs!

1. Concluiu-se hoje a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, durante a qual reflectimos sobre a necessidade de invocar constantemente do Senhor o grande dom da plena unidade entre todos os discípulos de Cristo. De facto, a oração contribui de maneira substancial para tornar mais sincero e rico de frutos o comum compromisso ecuménico das Igrejas e Comunidades eclesiais.

Neste nosso encontro desejamos retomar a meditação sobre o Salmo 143, que a Liturgia das Vésperas nos propõe em dois tempos distintos (cf.
Ps 144,1-8 e Ps 144,9-15). A tonalidade é sempre a hínica e no cenário, também neste segundo movimento do Salmo, encontra-se a figura do "Ungido", isto é, o "Consagrado" por excelência, Jesus, que atrai todos a si para fazer de todos "uma só coisa" (cf. Jn 17,11 Jn 17,21). Não é por acaso que o cenário que dominará o cântico se distingue pelo bem-estar, pela prosperidade e pela paz, os típicos símbolos da era messiânica.

2. Por isso o cântico é definido "novo", palavra que na linguagem bíblica não evoca tanto a novidade exterior das palavras como a plenitude última que sela a esperança (cf. Ps 144,9). Por conseguinte, canta-se a meta da história na qual finalmente será silenciada a voz do mal, que é descrita pelo Salmista na "mentira" e no "juramento falso", expressões destinadas a indicar a idolatria (cf. Ps 144,11).

Mas este aspecto negativo é substituído, com um espaço muito maior, pela dimensão positiva, a do novo mundo jubiloso que está para se afirmar. Este é o verdadeiro shalom, ou seja a "paz" messiânica, um horizonte luminoso que se desenvolve numa sucessão de aspectos de vida social: eles podem tornar-se também para nós um voto pelo nascimento de uma sociedade mais justa.

3. Eis antes de tudo a família (cf. Ps 144,12), que se baseia na vitalidade da geração. Os filhos, esperança do futuro, são comparados a árvores vigorosas; as filhas são representadas como colunas sólidas que sustêm o edifício da casa, semelhantes às de um templo. Da família passa-se para a vida económica, para o campo com os seus frutos conservados nos depósitos agrários, com os rebanhos espalhados que pastoreiam, com os animais de trabalho que procedem nos campos férteis (cf. Ps 144,13-14a).

O olhar dirige-se depois para a cidade, isto é, para toda a comunidade civil que finalmente goza do dom precioso da paz e da tranquilidade pública. De facto, cessam para sempre as "brechas" que os invasores abrem nos muros urbanos durante os assaltos; terminam as "incursões", que trazem devastações e deportações e, por fim, não se ouve mais o "gemido" dos desesperados, dos feridos, das vítimas, dos órfãos, triste herança das guerras (cf. Ps 144,14b).

4. Este retrato de um mundo diverso, mas possível, é confiado à obra do Messias e também à do seu povo. Todos juntos, sob a guia do Messias Cristo, devemos trabalhar para este projecto de harmonia e de paz, cessando a acção destruidora do ódio, da violência, da guerra. É preciso, contudo, fazer uma escolha declarando-se da parte do Deus do amor e da justiça.

Por isso o Salmo conclui-se com as palavras: "Bem-aventurado o povo cujo Deus é o Senhor". Deus é o bem dos bens, a condição de todos os outros bens. Só um povo que conhece Deus e defende os valores espirituais e morais, pode realmente encaminhar-se rumo a uma paz profunda e tornar-se também uma força da paz para o mundo, para os outros povos. Por conseguinte, pode entoar com o Salmista o "cântico novo", cheio de confiança e de esperança. A referência espontânea é ao Pacto novo, à própria novidade que é Cristo e o seu Evangelho.

É quanto nos recorda Santo Agostinho. Lendo este Salmo, ele interpreta também a palavra: "Tocarei para ti na harpa de dez cordas". A harpa de dez cordas é para ele a lei compendiada nos dez mandamentos. Mas destas dez cordas, destes dez mandamentos, devemos encontrar a chave justa. E estas dez cordas dos dez mandamentos só tocam bem diz Santo Agostinho se se fizerem vibrar pela caridade do coração. A caridade é a plenitude da lei. Quem vive os mandamentos como dimensão da única caridade, canta realmente o "cântico novo". A caridade que nos une aos sentimentos de Cristo é o verdadeiro "cântico novo" do "homem novo", capaz de criar também um "mundo novo". Este Salmo convida-nos a cantar "com a harpa de dez cordas", com um coração novo, a cantar com os sentimentos de Cristo, a viver os dez mandamentos na dimensão do amor, a contribuir assim para a paz e a harmonia do mundo (cf. Exposições sobre os Salmos, 143, 16: Nova Biblioteca Agostiniana, XXVIII, Roma 1977, pp.

Saudações

É com prazer que vos recebo, queridos peregrinos de língua francesa. Convido-vos a pedir ao Senhor, com fervor cada vez mais intenso, que conceda à sua Igreja o dom da unidade. Sede sempre e em toda a parte artífices fervorosos de paz e de fraternidade! Com a minha Bênção Apostólica.

Dou as boas-vindas aos peregrinos de expressão inglesa, hoje aqui presentes, especialmente os estudantes e professores da Dinamarca e o grupo ecuménico do Japão. Saúdo também os fiéis vindos da Irlanda, da Nova Zelândia e dos Estados Unidos da América. Possais experimentar na vossa vida a paz e a alegria de Cristo, nosso Senhor, e que Deus abençoe todos vós!

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua espanhola, de modo particular o grupo da Fundação Interfamílias, assim como as demais pessoas vindas da Espanha e da América Latina. No dia em que se encerra a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, convido todos vós a unirdes-vos com as vossas orações, a fim de que se cumpra a aspiração de Jesus: "Que todos sejam um só". Muito obrigado pela vossa visita!

Quero saudar todos os participantes na hodierna Audiência, oriundos da Polónia e de vários outros países. Hoje, festa da Conversão de São Paulo Apóstolo, será publicada a minha primeira Encíclica: "Deus é amor". A sua leitura revigore a vossa fé, vos ajude a amar Deus em maior medida e a realizar actos de caridade ao próximo. Deus vos abençoe!

Dou cordiais boas-vindas aos peregrinos de língua italiana. Em particular, saúdo os representantes dos criadores de gado "Margari", de Cúneo, e encorajo-vos a perseverar no vosso trabalho em contacto com a natureza, que pode facilitar o encontro com o Criador. Além disso, saúdo os Árbitros de futebol da Divisão D. Estimados amigos, à necessária preparação técnica e desportiva, acrescentai uma adequada formação humana e espiritual, que faça de vós pessoas cada vez mais maduras e responsáveis.

Enfim, dirijo o meu pensamento a vós, jovens, doentes e novos casais. Entre os jovens, recordo particularmente os estudantes do Liceu "Leopardi", de San Benedetto del Tronto, acompanhados do seu Bispo, D. Gervásio Gestori, e os alunos da Escola Pontifícia "Pio IX", de Roma. A exemplo do Apóstolo Paulo, cuja memória da conversão celebramos no dia de hoje, convido todos vós a viverdes a vocação cristã de forma autêntica.



1° de Fevereiro 2006: Salmo 144 (Vulg.), 1-13: Louvor à Majestade divina

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Queridos irmãos e irmãs!

1. Fizemos agora tornar-se nossa oração o Salmo 144, um louvor jubiloso ao Senhor que é exaltado como um soberano amoroso e terno, preocupado com todas as suas criaturas. A Liturgia propõe-nos este hino em dois momentos distintos, que correspondem também aos dois movimentos poéticos e espirituais do próprio Salmo. Deter-nos-emos sobre a primeira parte, que corresponde aos vv.1-13.

O Salmo é elevado ao Senhor invocado e descrito como "rei" (cf.
Ps 145,1), uma representação divina que domina outros hinos sálmicos (cf. Ps 47 Ps 93 Ps 96-99). Aliás, o centro espiritual do nosso cântico é constituído precisamente por uma celebração intensa e apaixonada da realeza divina. Nela repete-se quatro vezes quase para indicar os quatro pontos cardeais do ser e da históriaapalavrahebraica malkut, "reino" (cf. Ps 145,11-13).

Sabemos que esta simbologia real, que será central também na pregação de Cristo, é a expressão do projecto salvífico de Deus: ele não é indiferente à história humana, aliás tem em relação a ela o desejo de realizar connosco e para nós um desígnio de harmonia e de paz. Toda a humanidade está convocada para realizar este plano, para que adira à vontade salvífica divina, uma vontade que se estende a todos os "homens", a "cada geração" e a "todos os séculos". Uma acção universal, que arranca o mal do mundo e nele instaura a "glória" do Senhor, isto é, a sua presença pessoal eficaz e transcendente.

2. Rumo a este coração do Salmo, colocado precisamente no centro da composição, dirige-se o louvor orante do Salmista, que se faz voz de todos os fiéis. E deveria ser hoje a voz de todos nós. De facto, a oração bíblica mais alta é a celebração das obras de salvação que revelam o amor do Senhor em relação às suas criaturas. Continua-se a exaltar neste Salmo "o nome" divino, isto é, a sua pessoa (cf. Ps 145,1-2), que se manifesta no seu agir histórico: fala-se precisamente de "obras", "maravilhas", "proezas", "poder", "grandeza", "justiça", "paciência", "misericórdia", "graça", "bondade" e "ternura".

É uma espécie de oração litânica que proclama a entrada de Deus nas vicissitudes humanas para levar toda a realidade criada a uma plenitude salvífica. Nós não estamos à mercê de forças obscuras, nem somos solitários com a nossa liberdade, mas estamos confiados à acção do Senhor poderoso e amoroso, que tem em relação a nós um desígnio, um "reino"para instaurar (cf. Ps 145,11).
3. Este "reino" não é feito de poder e de domínio, de triunfo e de opressão, como infelizmente muitas vezes acontece com os reinos terrenos, mas é a sede de uma manifestação de piedade, de ternura, de bondade, de graça, de justiça, como se recorda várias vezes no fluxo dos versículos que contêm o louvor.

A síntese deste retrato divino encontra-se no v. 8: o Senhor é "lento para a ira e rico em misericórdia". São palavras que reevocam a auto-apresentação que o próprio Deus fizera de si no Sinai, onde tinha dito: "Senhor! Senhor! Deus misericordioso e clemente, vagaroso na ira, cheio de bondade e fidelidade" (Ex 34,6). Temos aqui uma preparação da profissão de fé de s. João, o Apóstolo, em relação a Deus, dizendo-nos simplesmente que Ele é amor: "Deus caritas est" (cf. 1Jn 4,8 1Jn 4,16).

4. Além destas bonitas palavras, que nos mostram um Deus "lento para a ira e rico em misericórdia", sempre disposto a perdoar e a ajudar, a nossa atenção fixa-se também no bonito versículo 9: "O Senhor é bom para com todos, a sua ternura repassa todas as suas obras". Uma palavra para meditar, uma palavra de conforto, uma certeza que Ele dá à nossa vida. Em relação a isto, s. Pedro Crisólogo (380 450 CA) exprime-se assim no Segundo discurso sobre o jejum: ""Grandiosas são as obras do Senhor": mas esta grandeza que vemos na grandeza da criação, este poder é superado pela grandeza da misericórdia. De facto, tendo dito o profeta: "São grandes as obras de Deus", noutra passagem acrescentou: "A sua misericórdia é superior a todas as suas obras". A misericórdia, irmãos, enche o céu, enche a terra... Eis por que a grande, generosa, única, misericórdia de Cristo, que reservou qualquer julgamento para um só dia, designou todo o tempo do homem à trégua da penitência... Eis por que se precipita totalmente para a misericórdia o profeta que não tinha confiança na própria justiça: "Tende piedade de mim, ó Deus diz pela tua grande misericórdia" (Ps 51,3)" (42, 4-5: Sermões 1-62 bis, Escritores da Área Santambrosiana, 1, Milão-Roma 1996, pp. 299 301).

E assim dizemos também nós ao Senhor: "Tem piedade de mim, ó Deus, tu que és rico em misericórdia".

Saudações

Saúdo cordialmente os peregrinos de língua francesa presentes nesta Audiência, em particular o Institut Saint-Dominique de Roma e o Collcge Saint-Joseph de Boulogne-Billancourt. Abri os vossos corações ao amor de Deus, sempre oferecido em Cristo Jesus, e sede na Igreja cristãos disponíveis, prontos a servir os vossos irmãos e a anunciar a verdade do Evangelho.

Dou as calorosas boas-vindas aos peregrinos de língua inglesa presentes hoje aqui, incluindo os grupos vindos da Inglaterra e dos Estados Unidos da América. Saúdo especialmente os membros da Conferencia Europeia dos Reitores de língua inglesa, assim como os administradores e funcionários da Universidade de Notre Dame. Sobre todos vós invoco a paz e a alegria de nosso Senhor Jesus Cristo.

De todo o coração, dou as boas-vindas aos peregrinos e visitantes dos países de língua alemã. A vossa estadia em Roma e o vosso encontro com os maiores e os menores testemunhos da história do Cristianismo reforcem a vossa fé. A sabedoria da proximidade amorosa de Deus promova o bem, a comunhão e a paz entre os seres humanos. Deus vos acompanhe sempre com a sua Bênção.

Saúdo cordialmente os visitantes e peregrinos vindos da Espanha e da América Latina, em especial os estudantes da Pontifícia Universidade Católica da Argentina e da Escola Italiana de Valparaíso, Chile. Exorto-vos a receber nos vossos corações o amor que tem a sua fonte em Deus e a viver a vossa vida crista como uma contínua doação de si mesmo aos outros.

Cordialmente, saúdo os polacos aqui presentes. Amanhã festejamos o Dia da Vida Consagrada. Agradeçamos a Deus as vocações religiosas e peçamos que sustente com a graça as irmãs e irmãos que escolheram a castidade, a pobreza e a obediência como caminho de santidade.

Abençoo-vos de coração a vós e as vossas famílias.

Louvado seja Jesus Cristo!

Saúdo e abençoo os peregrinos croatas, especialmente os fiéis provenientes de Murter! Caríssimos, que as vossas casas sejam lugares de oração para que nelas habite a paz de Deus!
Louvados sejam Jesus e Maria!

Dirijo-me, por fim, aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Celebrámos ontem a memória litúrgica de São João Bosco, sacerdote e educador. Contemplai-o, queridos jovens, como um autentico mestre de vida e santidade. Vós, caros doentes, aprendei da sua experiência espiritual a confiar em todas as circunstâncias em Cristo crucificado. E vós, queridos novos casais, recorrei à sua intercessão para que vos ajude a assumir com generosidade a vossa missão de esposos.



8 de Fevereiro 2006: Salmo 144 (vulg.), 14-21: O teu reino é um reino eterno

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1. No seguimento da Liturgia que o divide em duas partes, voltamos a falar sobre o Salmo 144, um admirável cântico em honra do Senhor, rei amoroso e atento às suas criaturas. Queremos agora meditar a segunda parte na qual o Salmo foi dividido: são os versículos 14-21 que retomam o tema fundamental do primeiro movimento do hino.

Nela eram exaltadas a piedade, a ternura, a fidelidade e a bondade divina que se alargam a toda a humanidade, envolvendo todas as criaturas. Agora o Salmista orienta a sua atenção para o amor que o Senhor dedica de modo particular ao pobre e frágil. Por conseguinte, a realeza divina não é indiferente nem altiva como por vezes pode acontecer na prática do poder humano. Deus exprime a sua realeza ao inclinar-se sobre as criaturas mais frágeis e indefesas.

2. De facto Ele é antes de tudo um pai que "ergue todos os que caem" e eleva todos os que caíram na poeira da humilhação (cf.
Ps 145,14). Por conseguinte, os seres vivos tendem para o Senhor quase como mendigos famintos e Ele oferece, como um pai amoroso, o alimento que lhes é necessário para viver (cf. Ps 145,15).

Floresce a este ponto nos lábios do orante a profissão de fé nas duas qualidades divinas por excelência: a justiça e a santidade. "O Senhor é justo em todos os seus caminhos, e misericordioso em todas as suas obras" (Ps 145,17). Temos em hebraico dois adjectivos típicos para ilustrar a aliança que existe entre Deus e o seu povo: saddiq e hasid. Eles expressam a justiça que quer salvar e libertar do mal e a fidelidade que é sinal da grandeza amorosa do Senhor.

3. O Salmista coloca-se da parte dos beneficiados que são definidos com várias expressões: são palavras que constituem, na prática, uma representação do verdadeiro crente. Ele "invoca" o Senhor na oração confiante, "procura-o" na vida "sinceramente" (cf. Ps 145,18), "teme" o seu Deus, respeitando a sua vontade e obedecendo à sua palavra (cf. Ps 145,19), mas sobretudo "ama-o", com a certeza de ser ouvido sob o manto da sua protecção e da sua intimidade (cf. Ps 145,20).

A última palavra do Salmista é, então, a mesma com a qual tinha aberto o seu hino: é um convite a louvar e a bendizer ao Senhor e ao seu "nome", isto é, à sua pessoa vivente e santa que age e salva o mundo e a história. Aliás, o seu é um apelo a fazer com que ao louvor orante do fiel se associe qualquer criatura marcada pelo dom da vida: "todo o ser vivo bendiga o seu santo nome para sempre" (Ps 145,21). É uma espécie de cântico perene que se deve elevar da terra ao céu, é a celebração comunitária do amor universal de Deus, fonte de paz, de alegria e de salvação.

4. Concluindo a nossa reflexão, voltemos àquele doce versículo que diz: "O Senhor está perto de todos os que o invocam, dos que o invocam sinceramente" (Ps 145,18). Esta frase era particularmente querida a Barsanúfio de Gaza, um asceta falecido nos meados do século VI, interpelado com frequência pelos monges, eclesiásticos e leigos devido à sabedoria do seu discernimento.

Assim, por exemplo, um discípulo que lhe expressava o desejo "de procurar as causas das diversas tentações que o tinham invadido", Barsanúfio respondia: "Irmão João, nada temas das tentações que surgiram contra ti para te provar, porque o Senhor não te deixa cair nelas. Portanto, quando tiveres uma destas tentações, não te preocupes a perscrutar de que se trata, mas grita o nome de Jesus: "Jesus, ajuda-me". E Ele ouvir-te-á porque "está perto de todos os que o invocam". Não desanimes, mas corre com ardor e alcançarás a meta, em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Barsanúfio e John de Gaza, Epistolário, 39: Colecção de Textos Patrísticos, XCIII, Roma 1991, p. 109).

E estas palavras do antigo Padre são válidas também para nós. Nas nossas dificuldades, problemas, tentações, não devemos fazer apenas uma reflexão teórica de onde provêm? mas devemos reagir positivamente: invocar o Senhor, manter um contacto vivo com o Senhor. Aliás, devemos gritar o nome de Jesus: "Jesus, ajuda-me!". E temos a certeza de que Ele nos ouve, porque está próximo de quem o procura. Não desanimemos, mas corramos com fervor como diz este Padre e alcançaremos também nós a meta da vida, Jesus, o Senhor.

Saudações

Amados brasileiros de Criciúma e demais peregrinos de língua portuguesa, a todos saúdo cordialmente e desejo que se multipliquem as boas obras em vossas mãos e as acções de graças nos vossos lábios, como instrumentos que sois da misericórdia e da ternura de Deus junto de vossos familiares, vizinhos e amigos. Abençoo-vos em nome do Senhor!

Não podemos deixar de recordar hoje o Pe. Andrea Santoro, sacerdote fidei donum da diocese de Roma, assassinado na Turquia no domingo passado, quando estava na igreja recolhido em oração. Precisamente nestes dias chegou a sua bonita carta, escrita a 31 de Janeiro passado juntamente com a pequena comunidade cristã da paróquia Sancta Maria em Trebizonda. Li ontem à noite com profunda emoção esta carta, que é um reflexo da sua alma sacerdotal, do seu amor a Cristo e aos homens, do seu compromisso pelos pequeninos, no sinal do Salmo que ouvimos. Esta carta, testemunho de amor e de adesão a Cristo e à sua Igreja, será publicada em L'Osservatore Romano. Com ela chegou uma mensagem de mulheres da sua paróquia que me convidam para a visitar. E na carta destas mulheres está reflectido também o zelo, a fé e o amor que estavam vivos no coração de Pe. Andrea Santoro.

O Senhor acolha a alma deste silencioso e corajoso servo do Evangelho e faça com que o sacrifício da sua vida contribua para a causa do diálogo entre as religiões e da paz entre os povos.

Por fim, o meu pensamento dirige-se aos jovens, aos doentes e aos novos casais. Celebramos hoje a memória litúrgica de São Jerónimo Emiliani e de Santa Josefina Bakhita. A coragem destas testemunhas fiéis de Cristo vos ajude, queridos jovens, a abrir o coração ao heroísmo da santidade na existência de todos os dias. Ampare-vos, queridos doentes, a perseverar com plenitude e a oferecer a vossa oração e o vosso sofrimento por toda a Igreja. E dê a vós, queridos novos casais, a coragem de fazer das vossas famílias comunidades de amor, que se distinguem pelos valores cristãos.



15 de Fevereiro 2006: Magnificat: cântico da Virgem Maria

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Queridos irmãos e irmãs

1. Chegámos agora ao final do longo itinerário começado há precisamente cinco anos, na primavera de 2001, pelo meu amado Predecessor, o inesquecível Papa João Paulo II. O grande Papa quisera percorrer nas suas catequeses toda a sequência dos Salmos e dos Cânticos que constituem o tecido orante fundamental da Liturgia das Laudes e das Vésperas. Tendo chegado ao fim desta peregrinação textual, semelhante a uma viagem no jardim florido do louvor, da invocação, da oração e da contemplação, deixemos agora o espaço àquele Cântico que idealmente sela toda a celebração das Vésperas, o Magnificat (
Lc 1,46-55).

É um cântico que revela em filigrana a espiritualidade dos anawim bíblicos, isto é, daqueles fiéis que se reconhecem "pobres" não só no desapego de qualquer idolatria da riqueza e do poder, mas também na humildade profunda do coração, despojado da tentação do orgulho, aberto à irrupção da graça divina que salva. De facto, todo o Magnificat, que ouvimos agora pela "Capela Sistina", está assinalado por esta "humildade", em grego tapeinosis, que indica uma situação de humildade e pobreza concretas.

2. O primeiro movimento do cântico mariano (cf. Lc 1,46-50) é uma espécie de voz solista que se eleva em direcção ao céu para alcançar o Senhor. Com efeito, observe-se o ressoar constante da primeira pessoa: "A minha alma... o meu espírito... meu salvador... chamar-me-ão bem-aventurada... fez grandes coisas em mim...". A alma da oração é, portanto, a celebração da graça divina que transbordou no coração e na existência de Maria, tornando-a a Mãe do Senhor. Ouvimos precisamente a voz de Nossa Senhora que fala assim do seu Salvador, que fez maravilhas na sua alma e no seu corpo.

A estrutura íntima do seu canto é, portanto, o louvor, o agradecimento, a alegria reconhecedora. Mas este testemunho pessoal não é solitário, intimista ou puramente individualista, porque a Virgem Mãe está consciente de ter uma missão a cumprir pela humanidade e a sua vicissitude insere-se no âmbito da história da salvação. E assim pode dizer: "A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem" (Lc 1,50). Com este louvor ao Senhor Nossa Senhora dá voz a todas as criaturas remidas, que no seu "Fiat", assim como na figura de Jesus nascido da Virgem, encontram a misericórdia de Deus.

3. Neste ponto desenvolve-se o segundo movimento poético e espiritual do Magnificat (cf. Lc 1,51-55). Ele possui uma tonalidade mais coral, como que se à voz de Maria se associasse a da inteira comunidade dos fiéis que celebram as opções surpreendentes de Deus. No original grego do Evangelho de Lucas temos sete verbos no aoristo, que indicam igual número de acções que o Senhor realiza de modo permanente na história: "Manifestou o poder do seu braço... dispersou os soberdos. Derrubou os poderosos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens... despediu os ricos... acolheu Israel".

Neste septenário de obras divinas é evidente o "estilo" no qual o Senhor da história inspira o seu comportamento: ele declara-se da parte dos últimos. O seu é um projecto que com frequência está escondido sob o terreno obscuro das vicissitudes humanas, que vêem triunfar "os soberbos, os poderosos e os ricos". Contudo a sua força secreta está destinada a revelar-se no final, para mostrar quem são os verdadeiros prediletos de Deus: "Os que o temem", fiéis à sua palavra; "os humildes, os famintos, Israel seu servo", isto é, a comunidade do povo de Deus que, como Maria, está constituída por aqueles que são "pobres", puros e simples de coração. É aquele "pequeno rebanho" que está convidado a não temer porque ao Pai aprouve conceder-lhe o seu reino (cf. Lc 12,32). E assim este cântico nos convida a associar-nos a este pequeno rebanho, a ser realmente membros do Povo de Deus na pureza e na simplicidade do coração no amor de Deus.

4. Aceitemos então o convite que no seu comentário ao texto do Magnificat nos dirige santo Ambrósio. O grande Doutor da Igreja diz: "Esteja em cada um a alma de Maria que engrandece o Senhor, esteja em todos o espírito de Maria que exulta em Deus; se, segundo a carne, uma só é a mãe de Cristo, segundo a fé todas as almas geram Cristo; de facto, cada uma acolhe em si o Verbo de Deus... A alma de Maria engrandece o Senhor, e o seu espírito exulta em Deus, porque, consagrada com a alma e com o espírito ao Pai e ao Filho, ela adora com afecto devoto um só Deus, do qual tudo provém, e um só Senhor, em virtude do qual todas as coisas existem" (Exposição do Evangelho segundo LC 2,26-27, SAEMO, XI, Milão-Roma 1978, p. 169).

Neste maravilhoso comentário do Magnificat de santo Ambrósio sensibiliza-me de modo particular a palavra surpreendente: "Se, segundo a carne, uma só é a mãe de Cristo, segundo a fé todas as almas geram Cristo: de facto cada uma acolhe em si o Verbo de Deus". Assim o santo Doutor, interpretando as palavras de Nossa Senhora, convida-nos a fazer com que o Senhor encontre um abrigo na nossa alma e na nossa vida. Não devemos apenas levá-lo no coração, mas devemos levá-lo ao mundo, de forma que também nós possamos gerar Cristo para o nosso tempo. Peçamos ao Senhor que nos ajude a magnificá-lo com o Espírito e com a alma de Maria e a levar de novo Cristo ao nosso mundo.

Saudações

Queridos irmãos e irmãs!

Saúdo com afecto todos vós, queridos estudantes provenientes de várias partes da Itália. Em particular, saúdo os alunos e os professores das Escolas de Ostia Lido, do Instituto Sagrado Coração em Caserta e do Instituto Santa Doroteia em Roma.

Queridos amigos, certamente soubestes que foi publicada recentemente a minha primeira encíclica intitulada "Deus caritas est", na qual quis recordar que o amor de Deus é a fonte e o motivo da nossa verdadeira alegria. Convido cada um de vós a compreender e a acolher cada vez mais este Amor que transforma a vida e vos torna testemunhas confiáveis do Evangelho. Tornar-vos-eis assim autênticos amigos de Jesus e seus fiéis apóstolos.

Devemos fazer sentir a ternura do Coração de Deus, sobretudo às pessoas mais débeis e necessitadas, e não vos esqueçais de que todos nós, ao difundir a caridade divina, contribuímos para construir um mundo mais justo e solidário.

Amados irmãos e irmãs de língua francesa!

Sinto-me feliz por receber esta manhã os membros da Congregação de São João com os seus familiares, por ocasião do seu trigésimo aniversário, acompanhados pelos Priores-Gerais e pelo Rev.do Pe. Marie-Dominique Philippe. Que a vossa peregrinação seja um tempo de renovação, preocupando-vos por verificar o que foi vivido para haurir todos os ensinamentos e para realizar um discernimento cada vez mais profundo das vocações que se apresentam e das missões às quais sois chamados, numa colaboração confiante com os pastores das Igrejas locais. Que o Senhor vos faça crescer em santidade, com a ajuda de Maria e do discípulo predilecto!

Concluámos este nosso encontro recitando a oração do Pai Nosso.



22 de Fevereiro 2006: A Cátedra de Pedro, dom de Cristo à sua Igreja

22026
Queridos irmãos e irmãs

A Liturgia latina celebra hoje a festa da Cátedra de São Pedro. Trata-se de uma tradição muito antiga, testemunhada em Roma desde o século IV, com a qual se dá graças a Deus pela missão confiada ao Apóstolo Pedro e aos seus sucessores. Literalmente, a "cátedra" é a sede fixa do Bispo, posto na igreja matriz de uma Diocese, que por isso é chamada "catedral", e constitui o símbolo da autoridade do Bispo e, em particular, do seu "magistério", ou seja, do ensinamento evangélico que ele, enquanto sucessor dos Apóstolos, é chamado a conservar e a transmitir à Comunidade cristã. Quando o Bispo toma posse da Igreja particular que lhe foi confiada, ele, com a mitra e o báculo, senta-se na cátedra. Como mestre e pastor, daquela sede ele orientará o caminho dos fiéis, na fé, na esperança e na caridade.

Portanto, qual foi a "cátedra" de São Pedro? Escolhido por Cristo como "rocha" sobre a qual edificar a Igreja (cf.
Mt 16,18), ele começou o seu ministério em Jerusalém, depois da Ascensão do Senhor e do Pentecostes. A primeira "sede" da Igreja foi o Cenáculo, e provavelmente naquela sala onde também Maria, a Mãe de Jesus, rezou juntamente com os discípulos para que fosse reservado um lugar especial a Simão Pedro. Em seguida, a sé de Pedro tornou-se Antioquia, cidade situada à margem do rio Oronte, na Síria, hoje na Turquia, naquela época terceira metrópole do império romano, depois de Roma e de Alexandria do Egipto. Daquela cidade, evangelizada por Barnabé e Paulo, onde "os discípulos receberam, pela primeira vez, o nome de "cristãos"" (Ac 11,26), onde, portanto, nasceu para nós o nome de cristãos, Pedro foi o primeiro Bispo, a tal ponto que o Martirológio Romano, antes da reforma do calendário, previa também uma celebração específica da Cátedra de Pedro em Antioquia. Dali, a Providência conduziu Pedro até Roma. Portanto, temos o caminho de Jerusalém, Igreja nascente, em Antioquia, primeiro centro da Igreja acolhida pelos pagãos e ainda unida com a Igreja proveniente dos Judeus. Depois Pedro dirigiu-se para Roma, centro do Império, símbolo do "Orbis" a "Urbs" que expressa o "Orbis" a terra onde ele terminou com o martírio a sua corrida ao serviço do Evangelho. Por isso a sede de Roma, que tinha recebido a maior honra, acolheu também o ónus confiado por Cristo a Pedro, de se colocar ao serviço de todas as Igrejas particulares, para a edificação e a unidade de todo o Povo de Deus.

A sede de Roma, depois destas migrações de São Pedro, torna-se assim reconhecida como a do sucessor de Pedro, e a "cátedra" do seu Bispo representou a do Apóstolo encarregado por Cristo, de apascentar todo o seu rebanho. Testemunham-no os mais antigos Padres da Igreja, como por exemplo Santo Ireneu, Bispo de Lião, proveniente porém da Ásia Menor, que no seu tratado Contra as heresias descreve a Igreja de Roma como "a maior e a mais antiga, conhecida por todos; ...fundada e constituída em Roma pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo"; e acrescenta: "Com esta Igreja, pela sua exímia superioridade, deve conciliar-se a Igreja universal, ou seja, os fiéis que estão em toda a parte (III, 3, 2-3). Tertuliano, um pouco mais tarde, por sua vez, afirma: "Como é feliz esta Igreja de Roma! Foram os próprios Apóstolos que derramaram nela, com o próprio sangue, toda a doutrina" (A prescrição dos hereges, 36). Portanto, a cátedra do Bispo de Roma representa não apenas o seu serviço à comunidade romana, mas a sua missão de guia de todo o Povo de Deus.

Celebrar a "Cátedra" de Pedro, como fazemos hoje, significa, portanto, atribuir-lhe um forte significado espiritual e recolhecer-lhe um sinal privilegiado do amor de Deus, Pastor bom e eterno, que quer reunir toda a sua Igreja e orientá-la no caminho da salvação. Entre os numerosos testemunhos dos Padres, apraz-me evocar o de São Jerónimo, tirado de uma das suas epístolas escritas ao Bispo de Roma, particularmente interessante porque faz referência explícita precisamente à "cátedra" de Pedro, apresentando-a como segura meta de verdade e de paz. Assim escreve Jerónimo: "Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se encontra aquela fé que a boca de um Apóstolo exaltou; agora venho pedir um alimento para a minha alma ali, onde outrora recebi a veste de Cristo. Não busco outro primado, a não ser o de Cristo; por isso, ponho-me em comunhão com a tua bem-aventurança, ou seja, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja" (Cartas I, 15, 1-2).

Amados irmãos e irmãs, na abside da Basílica de São Pedro, como sabeis, encontra-se o monumento à Cátedra do Apóstolo, obra adulta de Bernini, realizada em forma de um grande trono de bronze, sustentado pelas imagens de quatro Doutores da Igreja, dois do Ocidente, Santo Agostinho e Santo Ambrósio, e dois do Oriente, São João Crisóstomo e Santo Atanásio. Convido-vos a deter-vos diante desta obra sugestiva, que hoje é possível admirar decorada com numerosas velas, e rezar de maneira particular pelo ministério que Deus me confiou. Elevando o olhar ao vitral de alabastro que se abre precisamente acima da Cátedra, invocai o Espírito Santo a fim de que sustente sempre com a sua luz e a sua força o meu serviço quotidiano a toda a Igreja. Por isto, bem como pela vossa atenção devota, agradeço-vos de coração.



Saudações

Caríssimos irmãos de língua portuguesa, a Igreja celebra hoje, com muita alegria, a festividade da Cátedra de Pedro. Cristo, o bom Pastor, quer reunir em torno a ela as suas ovelhas, inclusive as que não são ainda do mesmo aprisco, dando-lhes segurança e paz para prosseguir em direção ao seu Reino. Saúdo com especial afeto a todos os peregrinos presentes, especialmente os brasileiros do Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Porto Alegre, recém vindos da Terra Santa, e a todos vos peço que rezem pelo Papa, na sua missão de levar adiante a Barca de Pedro. Que Deus vos abençoe!

É-me grato saudar-vos, peregrinos francófonos. Saúdo em particular a Comissão Federal do Entreprise du Crédit Mutuel, os numerosos jovens presentes hoje de manhã, nomeadamente os da Diocese de Sens-Auxerre, acompanhados do Arcebispo, D. Yves Patenôtre, e os do Decanado de Baziège, de Villeurbanne e de Montbrison. Que a vossa permanência em Roma vos ajude a confirmar em vós a fé da Igreja, que nos foi transmitida pelos Apóstolos.

Dou as calorosas boas-vindas aos peregrinos anglófonos, presentes nesta Audiência. Em particular, saúdo os membros da Comissão Síria Pro Oriente, e também os membros do Parlamento Britânico. Hoje, convido todos vós a visitar o monumento à "Cátedra" de Pedro, particularmente adornada, na Basílica. Ali, peço-vos que rezeis ao Espírito Santo a fim de que me ilumine no meu serviço à Igreja. Obrigado e Deus abençoe todos vós!

Saúdo cordialmente os visitantes vindos da Espanha e da América Latina, de modo especial os peregrinos da Paróquia de Matamorosa (Santander), o Colégio de São José Trabalhador, de Hospitalet (Barcelona) e o grupo da Universidade "Cardenal Herrera", de Moncada (Valença), assim como os peregrinos do Chile. Obrigado de coração pelas vossas preces e pela vossa atenção.

Enfim, dirijo o meu pensamento aos doentes e aos novos casais. Vós, queridos doentes, oferecei ao Senhor os vossos momentos de provação, para que se abram as portas dos corações ao anúncio do Evangelho. E vós, dilectos novos casais, sede sempre testemunhas do amor de Cristo, que vos chamou a realizar um projecto de vida comum.

Encerremos este encontro, entoando o Pai-Nosso.
***


Aos peregrinos e estudantes reunidos na Basílica de São Pedro, o Santo Padre dirigiu-lhes as seguintes palavras:

Prezados amigos

Desejo dirigir as cordiais boas-vindas a todos vós, presentes na Basílica, cuja abside hoje está particularmente decorada e iluminada, por ocasião da festa da Cátedra do Apóstolo Pedro.

Saúdo-vos, em particular, a vós estudantes e professores do Colégio de São Francisco, de Lodi, que comemorais o quarto centenário da vossa Escola, fundada pelos Padres Barnabitas; assim como vós, caros alunos e docentes do Instituto de Maria Imaculada, de Roma.

A festa de hoje, convidando-nos a contemplar a Cátedra de São Pedro, estimula-nos a nutrir a vida pessoal e comunitária daquela fé fundamentada sobre o testemunho de Pedro e dos outros Apóstolos. Imitando o seu exemplo, também vós, queridos amigos, podereis ser testemunhas de Cristo na Igreja e no mundo.

Concluamos este encontro, recitando juntos o Pai-Nosso.
***


A festa da Cátedra de São Pedro é dia particularmente apropriado para anunciar que no próximo dia 24 de Março terei um Consistório, no qual nomearei os novos Membros do Colégio Cardinalício. Este anúncio coloca-se de maneira oportuna na festa da Cátedra porque os Cardeais têm a tarefa de apoiar e auxiliar o Sucessor de Pedro no cumprimento do ofício apostólico que lhe foi confiado ao serviço da Igreja. Não sem razão, nos antigos documentos eclesiásticos, os Papas qualificavam o Colégio Cardinalício como "pars corporis nostri" (cf. F. X. Wernz, Ius Decretalium, II, n. 459). De facto, os Cardeais constituem em redor do Papa uma espécie de Senado, do qual ele se serve no desempenho das tarefas conexas com o seu ministério de "princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade da fé e da comunhão" (cf. Lumen gentium LG 18).

Com a criação dos novos Purpurados, portanto, pretendo integrar o número de 120 Membros Eleitores do Colégio Cardinalício, fixado pelo Papa Paulo VI, de venerada memória (cf. AAS 65, 1973, pág. 163). Eis os nomes dos novos Cardeais:

1. D. WILLIAM JOSEPH LEVADA, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé;
2. D. FRANC RODÉ, C.M., Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica;
3. D. AGOSTINO VALLINI, Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica;
4. D. JORGE LIBERATO UROSA SAVINO, Arcebispo de Caracas (Venezuela);
5. D. GAUDENCIO B. ROSALES, Arcebispo de Manila (Filipinas);
6. D. JEAN-PIERRE RICARD, Arcebispo de Bordéus (França);
7. D. ANTONIO CAÑIZARES LLOVERA, Arcebispo de Toledo (Espanha);
8. D. NICOLAS CHEONG JIN-SUK, Arcebispo de Seul (Coreia);
9. D. SEAN PATRICK O'MALLEY, O.F.M. Cap., Arcebispo de Boston (E.U.A.);
10. D. STANISLAW DZIWISZ, Arcebispo de Cracóvia (Polónia);
11. D. CARLO CAFFARRA, Arcebispo de Bolonha (Itália);
12. D. JOSEPH ZEN ZE-KIUN, S.D.B., Bispo de Hong-Kong (China Continental).

Além disso, decidi elevar à dignidade cardinalícia três eclesiásticos de idade superior aos 80 anos, em consideração aos serviços por eles prestados à Igreja com exemplar fidelidade e admirável dedicação.

São eles:

1. D. ANDREA CORDERO LANZA DI MONTEZEMOLO, Arcipreste da Basílica de São Paulo fora dos Muros;
2. D. PETER POREKU DERY, Arcebispo Emérito de Tamale (Gana); e
3. PE. ALBERT VANHOYE, S.I., que foi benemérito Reitor do Pontifício Instituto Bíblico e Secretário da Pontifícia Comissão Bíblica.Um grande exegeta.

No grupo dos novos Purpurados espelha-se bem a universalidade da Igreja: com efeito, eles provêm de várias partes do mundo e desenvolvem encargos diversos ao serviço do Povo de Deus. Por eles, convido-vos a elevar a Deus uma particular oração ao Senhor, a fim de que lhes conceda as graças necessárias para desempenhar com generosidade a sua missão.

Como disse no início, no próximo 24 de Março terei o anunciado Consistório e no dia seguinte, 25 de Março, Solenidade da Anunciação do Senhor, terei a alegria de presidir a uma solene Concelebração com os novos Cardeais. Para esta circunstância convidarei também todos os Membros do Colégio Cardinalício, com os quais tenho em mente realizar uma reunião de reflexão e de oração no dia precedente, 23 de Março.

Concluamos agora com o canto do Pater noster.



Audiências 2005-2013 18016