Audiências 2005-2013 27208

27 de Fevereiro de 2008: Santo Agostinho de Hipona (5)

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Queridos irmãos e irmãs!

Com o encontro de hoje gostaria de concluir a apresentação da figura de Santo Agostinho. Depois de termos analisado a sua vida, as suas obras e alguns aspectos do seu pensamento, hoje gostaria de falar de novo sobre a sua vicissitude interior, que fez dele um dos maiores convertidos da história cristã. Dediquei a esta sua experiência em particular a minha reflexão durante a peregrinação que realizei a Pavia, no ano passado, para venerar os despojos mortais deste Padre da Igreja. Deste modo quis expressar-lhe a homenagem de toda a Igreja católica, mas também tornar visível a minha pessoal devoção e reconhecimento em relação a uma figura à qual me sinto muito ligado pela parte que teve na minha vida de teólogo, de sacerdote e de pastor.

Ainda hoje é possível repercorrer a vicissitude de Santo Agostinho graças sobretudo às Confissões, escritas para louvor de Deus e que estão na origem de uma das formas literárias mais específicas do Ocidente, a autobiografia, isto é, a expressão pessoal da consciência de si. Pois bem, quem quer que tome conhecimento deste livro extraordinário e fascinante, ainda hoje muito lido, apercebe-se facilmente do modo como a conversão de Agostinho não tinha sido improvisada nem plenamente realizada desde o início, mas possa antes ser definida um verdadeiro caminho, que permanece um modelo para cada um de nós. Este itinerário teve certamente o seu ápice com a conversão e depois com o baptismo, mas não se concluiu naquela Vigília pascal do ano 387, quando em Milão o retórico africano foi baptizado pelo Bispo Ambrósio. De facto, o caminho de conversão de Agostinho prosseguiu humildemente até ao fim da sua vida, a ponto que se pode verdadeiramente dizer que as suas diversas etapas podem-se distinguir facilmente três são uma única grande conversão.

Santo Agostinho foi um pesquisador apaixonado da verdade: foi-o desde o início e depois em toda a sua vida. A primeira etapa do seu caminho de conversão realizou-se precisamente na progressiva aproximação ao cristianismo. Na realidade, ele tinha recebido da mãe Mónica, à qual permaneceu sempre muito ligado, uma educação cristã e, apesar de ter vivido durante os anos juvenis uma vida desregrada, sentiu sempre uma atracção profunda por Cristo, tendo bebido o amor pelo nome do Senhor com o leite materno, como ele mesmo ressalta (cf. Confessiones, III, 4, 8). Mas também a filosofia, sobretudo de índole platónica, tinha contribuído para o aproximar ulteriormente a Cristo manifestando-lhe a existência do Logos, a razão criadora. Os livros dos filósofos indicavam-lhe que há a razão, da qual vem depois todo o mundo, mas não lhe diziam como alcançar este Logos, que parecia tão distante. Só a leitura do epistolário de São Paulo, na fé da Igreja católica, lhe revelou plenamente a verdade. Esta experiência foi sintetizada por Agostinho numa das páginas mais famosas das Confessiones: ele narra que, no tormento das suas reflexões, tendo-se retirado num jardim, ouviu improvisamente uma voz infantil que repetia uma cantilena que nunca tinha ouvido: tolle, lege, tolle, lege, "toma, lê, toma, lê" (VIII, 12, 29). Recordou-se então da conversão de António, pai do monaquismo, e com solicitude voltou ao código paulino que até há pouco tinha nas mãos, abriu-o e o seu olhar caiu na passagem da epístola aos Romanos onde o Apóstolo exorta a abandonar as obras da carne e a revestir-se de Cristo (
Rm 13,13-14). Tinha compreendido que aquela palavra naquele momento se dirigia pessoalmente a ele, vinha de Deus através do Apóstolo e indicava-lhe o que fazer naquele momento. Sentiu assim dissipar-se as trevas da dúvida e encontrou-se enfim livre de se doar totalmente a Cristo: "Tinhas convertido a ti o meu ser", comenta ele (Confessiones, VIII, 12, 30). Foi esta a primeira e decisiva conversão.

O retórico africano chegou a esta etapa fundamental do seu longo caminho graças à sua paixão pelo homem e pela verdade, paixão que o levou a procurar Deus, grande e inacessível. A fé em Cristo fez-lhe compreender que Deus, aparentemente tão distante, na realidade não o era. Ele, de facto, tinha-se feito próximo de nós, tornando-se um de nós. Neste sentido a fé em Cristo levou a cumprimento a longa pesquisa de Agostinho sobre o caminho da verdade. Só um Deus que se fez "próximo", um de nós, era finalmente um Deus ao qual se podia rezar, pelo qual e com o qual se podia viver. Este é um caminho a percorrer com coragem e ao mesmo tempo com humildade, na abertura a uma purificação permanente da qual cada um de nós tem sempre necessidade. Mas com aquela Vigília pascal de 387, como dissemos, o caminho de Agostinho não estava concluído. Tendo regressado à África e fundado um pequeno mosteiro retirou-se aí com poucos amigos para se dedicar à vida contemplativa e de estudo. Este era o sonho da sua vida. Agora era chamado a viver totalmente pela verdade, com a verdade, na amizade de Cristo que é a verdade. Um sonho agradável que durou três anos, até quando foi consagrado sacerdote, a seu mau grado, em Hipona e destinado a servir os fiéis, continuando a viver com Cristo e por Cristo, mas ao serviço de todos. Isto era para ele muito difícil, mas compreendeu desde o início que só vivendo para os outros, e não simplesmente para a sua contemplação particular, podia realmente viver com Cristo e por Cristo. Assim, renunciando a uma vida apenas de meditação, Agostinho aprendeu, muitas vezes com dificuldade, a pôr à disposição o fruto da sua inteligência em benefício do próximo. Aprendeu a comunicar a sua fé ao povo simples e a viver assim para ela naquela que se tornou a sua cidade, desempenhando incansavelmente uma actividade generosa e difícil que descreve do seguinte modo num dos seus belos sermões: "Continuamente pregar, discutir, repreender, edificar, estar à disposição de todos é uma grande tarefa, um grande peso, uma enorme fadiga" (Serm. 339, 4). Mas ele assumiu sobre si este peso, compreendendo que precisamente assim podia estar mais próximo de Cristo. Compreender que se chega aos outros com simplicidade e humildade, foi esta a sua verdadeira e segunda conversão.

Mas há uma última etapa do caminho agostiniano, uma terceira conversão: a que o levou todos os dias da sua vida a pedir perdão a Deus. Inicialmente tinha pensado que quando fosse baptizado, na vida de comunhão com Cristo, nos Sacramentos, na celebração da Eucaristia, teria alcançado a vida proposta pelo Sermão da montanha: a perfeição doada no baptismo e reconfirmada na Eucaristia. Na última parte da sua vida compreendeu que o que tinha dito nas suas primeiras pregações sobre o Sermão da montanha isto é, que agora nós como cristãos vivemos este ideal permanentemente era errado. Só Cristo realiza verdadeira e completamente o Sermão da montanha. Nós temos sempre necessidade de ser lavados por Cristo, que nos lava os pés, e por Ele renovados. Temos necessidade de uma conversão permanente. Até ao fim temos necessidade desta humildade que reconhece que somos pecadores a caminho, enquanto o Senhor nos dá a mão definitivamente e nos introduz na vida eterna. Agostinho faleceu com esta última atitude de humildade, vivida dia após dia.

Esta atitude de humildade profunda diante do único Senhor Jesus introduziu-o na experiência de humildade também intelectual. De facto, Agostinho, que é uma das maiores figuras na história do pensamento, quis nos últimos anos da sua vida submeter a um lúcido exame crítico as suas numerosas obras. Tiveram assim origem as Retractationes ("revisões"), que deste modo inserem o seu pensamento teológico, verdadeiramente grande, na fé humilde e santa daquela a que chama simplesmente com o nome de Catholica, isto é, da Igreja. "Compreendi escreve precisamente neste livro muito original (I, 19, 1-3) que um só é verdadeiramente perfeito e que as palavras do Sermão da montanha estão totalmente realizadas num só: no próprio Jesus Cristo. Toda a Igreja, ao contrário todos nós, inclusive os apóstolos devemos rezar todos os dias: perdoai-nos os nossos pecados assim como nós os perdoamos a quem nos tem ofendido".

Convertido a Cristo, que é verdade e amor, Agostinho seguiu-o toda a vida e tornou-se um modelo para cada ser humano, para nós todos em busca de Deus. Por isto quis concluir a minha peregrinação a Pavia recomendando idealmente à Igreja e ao mundo, diante do túmulo deste grande apaixonado de Deus, a minha primeira Encíclica, intitulada Deus caritas est. De facto, ela deve muito, sobretudo na sua primeira parte, ao pensamento de Santo Agostinho. Também hoje, como no seu tempo, a humanidade precisa de conhecer e sobretudo viver esta realidade fundamental: Deus é amor e o encontro com ele é a única resposta às inquietações do coração humano. Um coração habitado pela esperança, talvez ainda obscura e inconsciente em muitos dos nossos contemporâneos, mas que para nós cristãos abre já hoje ao futuro, a ponto que São Paulo escreveu que "na esperança somos salvos" (Rm 8,24). Quis dedicar à esperança a minha segunda Encíclica, Spe salvi, e também ela é amplamente devedora a Agostinho e ao seu encontro com Deus.

Num bonito texto Santo Agostinho define a oração como expressão do desejo e afirma que Deus responde alargando a Ele o nosso coração. Por nosso lado, devemos purificar os nossos desejos e as nossas esperanças para acolher a doçura de Deus (cf. In I Ioannis, 4, 6). De facto, só ela, abrindo-nos também aos outros, nos salva. Rezemos portanto para que na nossa vida nos seja concedido todos os dias seguir o exemplo deste grande convertido, encontrando como ele em cada momento da nossa vida o Senhor Jesus, o único que nos salva, purifica e concede a verdadeira alegria, a verdadeira vida.




Sala Paulo VI

5 de Março de 2008: São Leão Magno

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Queridos irmãos e irmãs!

Prosseguindo o nosso caminho entre os Padres da Igreja, verdadeiros astros que brilham de longe, no nosso encontro de hoje falamos sobre a figura de um Papa, que em 1754 foi proclamado por Bento XIV Doutor da Igreja: trata-se de São Leão Magno. Como indica o apelativo que depressa lhe fora atribuído pela tradição, ele foi verdadeiramente um dos maiores Pontífices que honraram a Sede romana, contribuindo muitíssimo para fortalecer a sua autoridade e prestígio. Primeiro Bispo de Roma com o nome de Leão, adoptado depois por outros doze Sumos Pontífices, é também o primeiro Papa do qual chegou até nós a pregação, por ele dirigida ao povo que o circundava durante as celebrações. É espontâneo pensar nele também no contexto das actuais audiências gerais de quarta-feira, encontros que nos últimos decénios se tornaram para o Bispo de Roma uma forma habitual de encontro com os fiéis e com muitos peregrinos provenientes de tantas partes do mundo.

Leão era originário da Túscia. Tornou-se diácono da Igreja de Roma por volta do ano 430, e com o tempo adquiriu nela uma posição de grande realce. Este papel de relevo levou em 440 Gala Placídia, que naquele momento regia o Império do Ocidente, a enviá-lo para a Gália a fim de resolver uma situação difícil. Mas no Verão daquele ano o Papa Sisto III cujo nome está ligado aos magníficos mosaicos de Santa Maria Maior faleceu, e na sucessão foi eleito precisamente Leão, que recebeu a notícia quando estava a desempenhar a sua missão de paz na Gália. Tendo regressado a Roma, o novo Papa foi consagrado a 29 de Setembro de 440. Tinha assim início o seu pontificado, que durou mais de 21 anos, e que foi sem dúvida um dos mais importantes na história da Igreja. Quando faleceu, a 10 de Novembro de 461, o Papa foi sepultado junto do túmulo de São Pedro. As suas relíquias estão conservadas ainda hoje num dos altares da Basílica Vaticana.

Os tempos nos quais viveu o Papa Leão eram muito difíceis: o repetir-se das invasões barbáricas, o progressivo enfraquecimento no Ocidente da autoridade imperial e uma longa crise social tinham imposto que o Bispo de Roma como teria acontecido com evidência ainda maior um século e meio mais tarde, durante o pontificado de Gregório Magno assumisse um papel de relevo também nas vicissitudes civis e políticas. Isto não deixou, obviamente, de aumentar a importância e o prestígio da Sé romana. Permaneceu célebre sobretudo um episódio da vida de Leão. Ele remonta a 452, quando o Papa em Mântua, juntamente com uma delegação romana, encontrou Átila, chefe dos Unos, e o dissuadiu de prosseguir a guerra de invasão com a qual já tinha devastado as regiões norte-orientais da Itália. E assim salvou o resto da Península. Este importante acontecimento tornou-se depressa memorável, e permanece como um sinal emblemático da acção de paz desempenhada pelo Pontífice. Infelizmente não foi de igual modo positivo, três anos mais tarde, o êxito de outra iniciativa papal, contudo sinal de uma coragem que ainda nos faz admirar: de facto, na Primavera de 455 Leão não conseguiu impedir que os Vândalos de Genserico, tendo chegado às portas de Roma, invadissem a cidade indefesa, que foi saqueada durante duas semanas. Contudo o gesto do Papa que, inerme e circundado pelo seu clero, foi ao encontro do invasor para implorar que se detivesse impediu pelo menos que Roma fosse incendiada e obteve que do terrível saque fossem poupadas as Basílicas de São Pedro, de São Paulo e de São João, nas quais se refugiou uma parte da população aterrorizada.

Conhecemos bem a acção do Papa Leão, graças aos belíssimos sermões deles estão conservados quase cem num latim maravilhoso e claro e graças às suas cartas, cerca de cento e cinquenta. Nestes textos o Pontífice manifesta-se em toda a sua grandeza, dirigido ao serviço da verdade na caridade, através de uma prática assídua da palavra, que o mostra ao mesmo tempo teólogo e pastor. Leão Magno, constantemente solícito pelos seus fiéis e pelo povo de Roma, mas também pela comunhão entre as diversas Igrejas e pelas suas necessidades, foi defensor e promotor incansável da primazia romana, propondo-se como herdeiro autêntico do apóstolo Pedro: disto se mostram bem conscientes os numerosos Bispos, em grande parte orientais, reunidos no Concílio de Calcedónia.

Tendo sido realizado em 451, com os trezentos e cinquenta Bispos que nele participaram, este Concílio foi a mais importante assembleia até então celebrada na história da Igreja. Calcedónia representa a meta certa da cristologia dos três Concílios ecuménicos precedentes: o de Niceia de 325, o de Constantinopla de 381 e o de Éfeso de 431. Já no século VI estes quatro Concílios, que resumem a fé da Igreja antiga, foram de facto comparados com os quatro Evangelhos: é quanto afirma Gregório Magno numa famosa carta (I, 24), na qual declara "acolher e venerar, como os quatro livros do Santo Evangelho, os quatro Concílios", porque sobre eles explica ainda Gregório "como sobre uma pedra quadrada se eleva a estrutura da santa fé". O Concílio de Calcedónia ao recusar a heresia de Eutiques, que negava a verdadeira natureza humana do Filho de Deus afirmou a união na sua única Pessoa, sem confusão e sem separação, das duas naturezas humana e divina.

Esta fé em Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem era confirmada pelo Papa num importante texto doutrinal dirigido ao Bispo de Constantinopla, o chamado Tomo a Flaviano, que, lido em Calcedónia, foi recebido pelos Bispos presentes com uma eloquente aclamação, da qual é conservada notícia nas actas do Concílio: "Pedro falou pela boca de Leão", prorromperam em uníssono os Padres conciliares. Sobretudo desta intervenção, e de outras feitas durante a controvérsia cristológica daqueles anos, sobressai com evidência como o Papa sentia com particular urgência as responsabilidades do Sucessor de Pedro, cujo papel é único na Igreja, porque "a um só apóstolo está confiado o que a todos os apóstolos é comunicado", como afirma Leão num dos seus sermões para a festa dos santos Pedro e Paulo (83, 2). E o Pontífice soube exercer estas responsabilidades, no Ocidente e no Oriente, intervindo em diversas circunstâncias com prudência, firmeza e lucidez através dos seus escritos e mediante os seus legados. Mostrava deste modo como a prática da primazia romana fosse necessária então, como também hoje, para servir eficazmente a comunhão, característica da única Igreja de Cristo.

Consciente do momento histórico no qual vivia e da transformação que se estava a verificar num período de profunda crise da Roma pagã para a cristã Leão Magno soube estar próximo do povo e dos fiéis com a acção pastoral e com a pregação. Incentivou a caridade numa Roma provada pelas carestias, pela afluência dos prófugos, pelas injustiças e pela pobreza. Contrastou as superstições pagãs e a acção dos grupos maniqueus. Relacionou a liturgia com a vida quotidiana dos cristãos: por exemplo, unindo a prática do jejum com a caridade e com a esmola sobretudo por ocasião das Quatro têmporas, que marcam no decorrer do ano a mudança das estações. Em particular Leão Magno ensinou aos seus fiéis e ainda hoje as suas palavras são válidas para nós que a liturgia cristã não é a recordação de acontecimentos do passado, mas a actualização de realidades invisíveis que agem na vida de cada um. É quanto ele ressalta num sermão (64, 1-2) a propósito da Páscoa, que deve ser celebrada em todos os tempos do ano "não tanto como algo do passado, mas como um acontecimento do presente". Tudo isto se insere num projecto determinado, insiste o santo Pontífice: de facto, como o Criador animou com o seu sopro da vida racional o homem plasmado com o pó da terra, depois do pecado original, enviou o seu Filho ao mundo para restituir ao homem a dignidade perdida e destruir o domínio do diabo com a vida nova da graça.

Eis o mistério cristológico para o qual São Leão Magno, com a sua carta ao Concílio de Éfeso, deu uma contribuição eficaz e essencial, confirmando para todos os tempos através desse Concílio quanto disse São Pedro em Cesareia de Filipe. Com Pedro e como Pedro confessou: "Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo". E por isso Deus e Homem juntos, "não alheio ao género humano, mas contrário ao pecado" (cf. Serm. 64). Em virtude desta fé cristológica ele foi um grande portador de paz e de amor. Mostra-nos assim o caminho: na fé aprendemos a caridade. Aprendemos portanto com São Leão Magno a crer em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, e a realizar esta fé todos os dias na acção pela paz e no amor ao próximo.

Saudação

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente o grupo vindo de Portugal, sobre todos invocando o amor sábio e a sabedoria amiga do Papa São Leão Magno que, estreitando ao coração de Cristo a multidão dos fiéis com os seus pastores, lhes fez ouvir a voz de Deus falar na Cátedra de Pedro. Guiados por esta voz, possam os vossos corações testemunhar junto dos familiares e conhecidos a verdade na caridade. Basta dizer “sim” a Deus, como a Virgem Maria.



Sala Paulo VI

12 de Março de 2008: Boécio e Cassiodoro

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Amados irmãos e irmãs

Hoje, gostaria de falar de dois escritores eclesiásticos, Boécio e Cassiodoro, que viveram nos anos mais atormentados do Ocidente cristão e, em particular, da península itálica. Odoacre, rei dos Erulos, uma etnia germânica, revoltou-se, pondo fim ao império romano do Ocidente (a. 476), mas depressa teve que sucumbir aos Ostrogodos de Teodorico, que por algumas décadas mantiveram o controle da península itálica. Boécio nasceu em Roma por volta do ano 480, da nobre linhagem dos Anísios, e entrou ainda jovem na vida pública, alcançando já com vinte e cinco anos de idade o cargo de senador. Fiel à tradição da sua família, comprometeu-se na política, convencido de que se podiam conciliar as linhas fundamentais da sociedade romana com os valores dos novos povos. E neste novo tempo do encontro das culturas, considerou como sua missão reconciliar e unir estas duas culturas, a clássica romana com a cultura nascente do povo ostrogodo. Foi igualmente activo na política, mesmo sob Teodorico, que nos primeiros tempos o estimava muito. Apesar desta actividade pública, Boécio não descuidou os estudos, dedicando-se em particular ao aprofundamento de temas de ordem filosófico-religiosa. Mas escreveu também manuais de aritmética, de geometria, de música e de astronomia: tudo com a intenção de transmitir às novas gerações, aos novos tempos, a grande cultura greco-romana. Neste âmbito, ou seja, no empenho de promoção do encontro das culturas, utilizou as categorias da filosofia grega para propor a fé cristã, também aqui em busca de uma síntese entre o património greco-romano e a mensagem evangélica. Precisamente por isto, Boécio foi qualificado como o último representante da cultura romana antiga e um dos primeiros intelectuais medievais.

Sem dúvida, a sua obra mais conhecida é o De consolatione philosophiae, que ele compôs no cárcere para dar um sentido ao seu aprisionamento injusto. Com efeito, fora acusado de conspiração contra o rei Teodorico, por ter assumido a defesa em juízo de um amigo, o senador Albino. Mas este era um pretexto: na realidade Teodorico, ariano e bárbaro, suspeitava que Boécio tivesse simpatias pelo imperador bizantino Justiniano. De facto, processado e condenado à morte, foi justiçado no dia 23 de Outubro de 524, com apenas 44 anos. Precisamente por este seu fim dramático, ele pode falar do interior da sua experiência também ao homem contemporâneo e sobretudo às numerosas pessoas que padecem a sua mesma sorte por causa da injustiça presente em muitas partes da "justiça humana". Neste obra, no cárcere busca a consolação, a luz, a sabedoria. E diz que soube distinguir, precisamente em tal situação, entre os bens aparentes na prisão eles desaparecem e os bens verdadeiros, como a amizade autêntica que mesmo na prisão não desaparecem. O bem mais excelso é Deus: Boécio aprendeu e ensina-nos a não cair no fatalismo, que apaga a esperança. Ele ensina-nos que não é o caso que governa, mas sim a Providência, e que ela tem um rosto. Pode-se falar com a Providência, porque Ela é Deus. Assim, também no cárcere lhe permanece a possibilidade da oração, do diálogo com Aquele que nos salva. Ao mesmo tempo, também nesta situação, ele conserva o sentido da beleza da cultura e evoca o ensinamento dos grandes filósofos antigos gregos e romanos, como Platão, Aristóteles começara a traduzir estes gregos em latim Cícero, Seneca e inclusive poetas como Tibulo e Virgílio.

A filosofia, no sentido da busca da verdadeira sabedoria, é segundo Boécio o autêntica remédio da alma (cf. lib. I). Por outro lado, o homem pode experimentar a verdadeira felicidade unicamente na sua interioridade (cf. lib II). Por isso, Boécio consegue encontrar um sentido, pensando na sua tragédia pessoal à luz de um texto sapiencial do Antigo Testamento (cf.
Sg 7,30-8,1), que ele cita: "Contra a sabedoria, a maldade não pode prevalecer. Ela estende-se de um confim ao outro com força e governa com bondade excelente todas as coisas" (lib III, 12: PL 63, COL 780). A chamada prosperidade dos malvados, portanto, revela-se falsa (cf. lib. IV) e evidencia-se a natureza providencial da adversa fortuna. As dificuldades da vida não somente revelam como ela é efémera e de breve duração, mas chegam a demonstrar-se úteis para reconhecer e manter os relacionamentos genuínos entre os homens. A adversa fortuna permite, efectivamente, discernir os amigos falsos dos verdadeiros e faz compreender que nada é mais precioso para o homem que uma amizade autêntica. Aceitar de modo fatalista uma condição de sofrimento é absolutamente perigoso, acrescenta o crente Boécio, porque "elimina pela raiz a própria possibilidade da oração e da esperança teologal, que se encontram na base da relação do homem com Deus" (lib. V, 3: PL 63, COL 842).

A peroração final do De consolatione philosophiae pode ser considerada uma síntese de todo o ensinamento que Boécio dirige a si mesmo e a todos aqueles que viessem a encontrar-se nas suas mesmas condições. Assim escreve na prisão: "Combatei portanto os vícios, dedicai-vos a uma vida virtuosa, orientada pela esperança que eleva o coração a ponto de alcançar o céu com as orações alimentadas de humildade. A imposição que padecestes pode transformar-se, se rejeitardes a mentira, na enorme vantagem de ter sempre diante dos olhos o juiz supremo que vê e sabe como as coisas verdadeiramente são" (lib. V, 6: PL 63, COL 862). Cada prisioneiro, independentemente do motivo pelo qual terminou no cárcere, intui como é pesada esta particular condição humana, sobretudo quando é embrutecida, como acontece com Boécio, pelo recurso à tortura. Particularmente absurda é, além disso, a condição de quem, ainda como Boécio que a cidade de Pavia reconhece e celebra na liturgia como mártir da fé, é torturado mortalmente, sem qualquer motivo que não seja o das suas próprias convicções ideais, políticas e religiosas. Boécio, símbolo de um número imenso de aprisionados injustamente de todos os tempos e de todas as latitudes, é com efeito a objectiva porta de entrada para a contemplação do misterioso Crucificado no Gólgota.

Contemporâneo de Boécio foi Marcos Aurélio Cassiodoro, um calabrês nascido em Squillace por volta do ano 485, que faleceu em idade avançada em Vivarium, por volta de 580. Também ele, homem de alto nível social, se dedicou à vida política e ao compromisso cultural como poucos outros no ocidente romano do seu tempo. Talvez os únicos que podiam comparar-se com ele neste seu dúplice interesse foram o já recordado Boécio e o futuro Papa de Roma, Gregório Magno (590-604). Consciente da necessidade de não deixar esquecer todo o património humano e humanístico, acumulado nos séculos de ouro do império romano, Cassiodoro colaborou generosamente, e nos níveis mais elevados da responsabilidade política, com os novos povos que tinham atravessado os confins do império, estabelecendo-se na Itália. Também ele foi modelo de encontro cultural, de diálogo de reconciliação. As vicissitudes históricas não lhe permitiram realizar os seus sonhos políticos e culturais, que visavam criar uma síntese entre a tradição romano-cristã da Itália e a nova cultura gótica. Porém, aquelas mesmas vicissitudes convenceram-no da providencialidade do movimento monástico, que se ia confirmando nas terras cristãs. Decidiu apoiá-lo, dedicando-lhe todas as suas riquezas materiais e forças espirituais.

Concebeu a ideia de confiar precisamente aos monges a tarefa de recuperar, conservar e transmitir à posteridade o imenso património cultural dos antigos, para que não se perdesse. Por isso, fundou o Vivarium, um cenóbio no qual tudo era organizado de tal maneira que o trabalho intelectual dos monges fosse considerado extremamente precioso e irrenunciável. Ele dispôs que também os monges que tinham uma formação intelectual não deviam ocupar-se somente do trabalho material, da agricultura, mas também transcrever manuscritos e assim contribuir para transmitir a grande cultura às gerações vindouras. E isto sem qualquer desvantagem para o compromisso espiritual, monástico e cristão, nem para a actividade caritativa aos pobres. No seu ensinamento, distribuído em várias obras, mas sobretudo no tratado De anima e nas Institutiones divinarum litterarum, a oração (cf. PL 69, COL 1108), nutrida pela Sagrada Escritura e particularmente pela leitura assídua dos Salmos (cf. PL 69, COL 1149), tem sempre uma posição central como alimento necessário para todos. Eis, por exemplo, como este doutíssimo calabrês introduz a sua Expositio in Psalterium: "Rejeitando e abandonando em Ravena as solicitações da carreira política assinalada pelo sabor amargo das preocupações mundanas, e tendo experimentado o Saltério, livro descido do céu como autêntico mel da alma, mergulhei ávido como um sedento para o perscrutar sem cessar e para me deixar permear inteiramente por esta docilidade salutar, depois de me ter saturado das numerosas amarguras da vida activa" (PL 70, COL 10).

A busca de Deus, orientada para a sua contemplação anota Cassiodoro permanece a finalidade permanente da vida monástica (cf. PL 69, COL 1107). Porém, ele acrescenta que, com a ajuda da graça divina (cf. PL 69, COL 1131-1142), uma melhor fruição da Palavra revelada pode ser alcançada através da utilização das conquistas científicas e dos instrumentos culturais "profanos" já possuídos pelos Gregos e pelos Romanos (cf. PL 69, COL 1140). Pessoalmente, Cassiodoro dedicou-se a estudos filosóficos, teológicos e exegéticos sem uma particular criatividade, mas atento às intuições que reconhecia válidas nos outros. Lia com respeito e devoção, sobretudo Jerónimo e Agostinho. Deste último, dizia: "Em Agostinho, há tanta riqueza que me parece impossível encontrar algo que não tenha já sido tratado abundantemente por ele" (cf. PL 70, COL 10). Citando Jerónimo, ao contrário, exortava os monges de Vivarium: "Alcançam a palma da vitória não somente aqueles que lutam até à efusão do sangue ou que vivem na virgindade, mas também todos aqueles que, com a ajuda de Deus, vencem os vícios do corpo e conservam a recta fé. Mas para que possais, sempre com a ajuda de Deus, vencer mais facilmente as solicitações do mundo e as suas seduções, permanecendo nele como peregrinos continuamente a caminho, procurai acima de tudo garantir para vós a ajuda salutar sugerida pelo primeiro Salmo, que recomenda meditar a lei do Senhor noite e dia. Com efeito, o inimigo não encontrará qualquer passagem para vos assaltar, se toda a vossa atenção for ocupada por Cristo" (De Institutiones Divinarum Scripturarum, 32: PL 70, COL 1147). É uma admoestação que podemos acolher como válida também para nós. De facto, agora vivemos num tempo de encontro de culturas, de perigo da violência que destrói as culturas e do necessário compromisso de transmitir grandes valores e de ensinar às novas gerações o caminho da reconciliação e da paz. Encontramos este caminho, orientando-nos para Deus com o rosto humano, o Deus que se nos revelou em Cristo.

Saudações

Saúdo cordialmente os presentes e ouvintes de língua portuguesa, mormente os peregrinos que vieram de Portugal.

Sede bem-vindos! Faço votos por que leveis desta visita a Roma mais viva a certeza que é apelo: Jesus Cristo morreu por nós e para a nossa salvação! Que vos iluminem os testemunhos de São Pedro e de São Paulo, e vos assistam abundantes graças que imploro para todos com os votos de Feliz Páscoa, e a Bênção de Deus Todo-Poderoso.



Sala Paulo VI

19 de Março de 2008: Tríduo Pascal

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Queridos irmãos e irmãs

Chegamos à vigília do Tríduo Pascal. Os próximos três dias são comummente chamados "santos" porque nos fazem reviver o acontecimento central da nossa Redenção; reconduzem-nos de facto ao núcleo essencial da fé cristã: a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. São dias que poderíamos considerar como um único dia: eles constituem o coração e o fulcro de todo o ano litúrgico assim como da vida da Igreja. No final do itinerário quaresmal, preparamo-nos também nós para entrar no próprio clima que Jesus viveu então em Jerusalém. Queremos despertar em nós a profunda memória dos sofrimentos que o Senhor padeceu por nós e prepararmo-nos para celebrar com alegria, no próximo domingo, "a verdadeira Páscoa, que o Sangue de Cristo cobriu de glória, a Páscoa na qual a Igreja celebra a Festa que está na origem de todas as festas", como diz o Prefácio para o dia de Páscoa no rito ambrosiano.

Amanhã, Quinta-Feira Santa, a Igreja revive a Última Ceia, durante a qual o Senhor, na vigília da sua paixão e morte, instituiu o Sacramento da Eucaristia e o do Sacerdócio ministerial. Naquela mesma noite Jesus deixou-nos o mandamento novo, "mandatum novum", o mandamento do amor fraterno. Antes de entrar no Tríduo Sagrado, mas já em estreita ligação com ele, terá lugar em cada Comunidade diocesana, amanhã de manhã, a Missa Crismal, durante a qual o Bispo e os sacerdotes do presbitério diocesano renovam as promessas da Ordenação. São também abençoados os óleos para a celebração dos Sacramentos: o óleo dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o sagrado crisma. É um momento muito importante para a vida de cada comunidade diocesana que, reunida em volta do seu Pastor, fortalece a própria unidade e a sua fidelidade a Cristo, único Sumo e Eterno Sacerdote. À noite, na Missa em Cena Domini revive-se a Última Ceia, quando Cristo se deu a todos nós como alimento de salvação, como remédio de imortalidade: é o mistério da Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã. Neste Sacramento de salvação o Senhor ofereceu e realizou para todos os que crêem n'Ele a mais íntima união possível entre a nossa e a sua vida. Com o gesto humilde e expressivo como nunca do lava-pés, somos convidados a recordar quanto o Senhor fez aos seus Apóstolos: lavando os seus pés proclamou de modo concreto a primazia do amor, amor que se faz serviço até à doação de si mesmos, antecipando assim também o sacrifício supremo da sua vida que se consumará no dia seguinte no Calvário. Segundo uma bonita tradição, os fiéis encerram a Quinta-Feira Santa com uma vigília de oração e de adoração eucarística para reviver mais intimamente a agonia de Jesus no Getsémani.

A Sexta-Feira Santa é o dia em que revivemos a paixão, crucifixão e morte de Jesus. Neste dia a liturgia da Igreja não prevê a celebração da Santa Missa, mas a assembleia cristã reúne-se para meditar o grande mistério do mal e do pecado que oprimem a humanidade, para repercorrer, à luz da Palavra de Deus e ajudada por comovedores gestos litúrgicos, os padecimentos do Senhor em expiação deste mal. Depois de ter ouvido a narração da paixão de Cristo, a comunidade reza por todas as necessidades da Igreja e do mundo, adora a Cruz e aproxima-se da Eucaristia, consumando as espécies conservadas da Missa em Cena Domini do dia anterior. Como ulterior convite a meditar sobre a paixão e morte do Redentor e para expressar o amor e a participação dos fiéis nos sofrimentos de Cristo, a tradição cristã deu vida a várias manifestações de piedade popular, procissões e representações sagradas, que têm por finalidade imprimir cada vez mais profundamente no coração dos fiéis sentimentos de verdadeira participação no sacrifício redentor de Cristo. Entre elas sobressai a Via Crucis, prática piedosa que no decorrer dos anos se enriqueceu por numerosas expressões espirituais e artísticas relacionadas com a sensibilidade das diversas culturas. Surgiram assim em muitos países santuários com o nome de "Calvaria", aos quais se chega através de uma íngreme subida que recorda o caminho doloroso da Paixão, permitindo que os fiéis participem na subida do Senhor ao Monte da Cruz, o Monte do Amor levado até ao fim.

O Sábado Santo distingue-se por um profundo silêncio. As Igrejas estão desornamentadas e não são previstas particulares liturgias. Enquanto aguardam o grande acontecimento da Ressurreição, os crentes perseveram com Maria na expectativa rezando e meditando. De facto, há necessidade de um dia de silêncio, para meditar sobre a realidade da vida humana, sobre as forças do mal e sobre a grande força do bem que brota da Paixão e da Ressurreição do Senhor. É atribuída grande importância neste dia à participação no Sacramento da reconciliação, caminho indispensável para purificar o coração e predispor-se para celebrar intimamente renovados a Páscoa. Pelo menos uma vez por ano precisamos desta purificação interior, desta renovação de nós mesmos. Este Sábado de silêncio, de meditação, de perdão, de reconciliação desemboca na Vigília Pascal, que introduz o domingo mais importante da história, o Domingo da Páscoa de Cristo. A Igreja vela ao lado do novo fogo abençoado e medita a grande promessa, contida no Antigo e no Novo Testamento, da libertação definitiva da antiga escravidão do pecado e da morte. Na escuridão da noite o círio pascal, símbolo de Cristo que ressuscita glorioso, é aceso pelo fogo novo. Cristo, luz da humanidade, afasta as trevas do coração e do espírito e ilumina cada homem que vem ao mundo. Ao lado do círio pascal ressoa na Igreja o grande anúncio pascal: verdadeiramente Cristo ressuscitou, a morte já não tem poder algum sobre Ele. Com a sua morte Ele derrotou o mal para sempre e fez dom a todos os homens da própria vida de Deus. Por uma antiga tradição, durante a Vigília Pascal, os catecúmenos recebem o Baptismo, para ressaltar a participação dos cristãos no mistério da morte e da ressurreição de Cristo. Da resplandecente noite de Páscoa, a alegria, a luz e a paz de Cristo irradiam-se na vida dos fiéis de cada comunidade cristã e alcançam todos os pontos do espaço e do tempo.

Queridos irmãos e irmãs, nestes dias singulares orientemos decididamente a vida para uma adesão generosa e convicta aos desígnios do Pai celeste; renovemos o nosso "sim" à vontade divina como fez Jesus com o sacrifício da cruz. Os sugestivos ritos da Quinta-feira Santa, da Sexta-Feira Santa, o silêncio rico de oração do Sábado Santo e a solene Vigília Pascal oferecem-nos a oportunidade para aprofundar o sentido e o valor da nossa vocação cristã, que brota do Mistério Pascal e de a concretizar no seguimento fiel de Cristo em cada circunstância, como Ele fez, até à doação generosa da nossa existência.

Reviver os mistérios de Cristo significa também viver em profunda e solidária adesão ao hoje da história, convictos de que quanto celebramos é realidade viva e actual. Tenhamos portanto presente na nossa oração a dramaticidade de factos e situações que nestes dias afligem tantos irmãos nossos em todas as partes do mundo. Sabemos que o ódio, as divisões, as violências nunca têm a última palavra nos acontecimentos da história. Estes dias reanimam em nós a grande esperança: Cristo crucificado ressuscitou e venceu o mundo. O amor é mais forte que o ódio, venceu e devemos associar-nos a esta vitória do amor. Portanto, devemos partir de novo de Cristo e trabalhar em comunhão com Ele para um mundo fundado sobre a paz, sobre a justiça e sobre o amor. Neste empenho, que a todos compromete, deixemo-nos guiar por Maria, que acompanhou o Filho divino pelo caminho da paixão e da cruz e participou, com a força da fé, na concretização do seu desígnio salvífico. Com estes sentimentos, formulo desde agora os votos mais cordiais de feliz e santa Páscoa a todos vós, aos vossos entes queridos e às vossas Comunidades.

Saudações

Saúdo cordialmente os peregrinos portugueses do Instituto Cultural da Maia e o grupo de Escuteiros da Diocese do Porto. Que a vinda a Roma vos fortaleça na fé e avive no vosso ânimo a coragem para testemunhar a grandeza do amor de Jesus Cristo, vencedor do mal, pelo seu sofrimento, e ressuscitado para ser a nossa esperança e a nossa paz. A todos os visitantes de língua portuguesadesejoumafelizesantaPáscoa.

Apelo

Sigo com grande trepidação as notícias, que nestes dias chegam do Tibete. O meu coração de Pai sente tristeza e dor face aos sofrimentos de tantas pessoas. O mistério da paixão e morte de Jesus, que revivemos nesta Semana Santa, nos ajude a ser particularmente sensíveis à sua situação.

Com a violência não se resolvem os problemas, mas só se agravam. Convido-vos a unir-vos a mim na oração. Peçamos ao Deus omnipotente, fonte de luz, que ilumine as mentes de todos e dê a cada um a coragem de optar pelo caminho do diálogo e da tolerância.





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