Audiências 2005-2013 3098

3 de Setembro de 2008: São Paulo (3): A "conversão" de São Paulo

3098
Queridos irmãos e irmãs!

A catequese de hoje será dedicada à experiência que São Paulo teve no caminho de Damasco e portanto ao que comumente se chama a sua conversão. Precisamente no caminho de Damasco, nos primeiros anos 30 do século I, e depois de um período no qual tinha perseguido a Igreja, verificou-se o momento decisivo da vida de Paulo. Sobre ele muito foi escrito e naturalmente sob diversos pontos de vista. O que é certo é que ali aconteceu uma mudança, aliás, uma inversão de perspectiva. Então ele, inesperadamente, começou a considerar "perda" e "esterco" tudo o que antes constituía para ele o máximo ideal, quase a razão de ser da sua existência (cf.
Ph 3,7-8). O que tinha acontecido?

Em relação a isto temos dois tipos de fontes. O primeiro tipo, o mais conhecido, são as narrações pela mão de Lucas, que por três vezes narra o acontecimento nos Actos dos Apóstolos (cf. Ac 9,1-19 Ac 22,3-21 Ac 26,4-23). O leitor médio é talvez tentado a deter-se demasiado nalguns pormenores, como a luz do céu, a queda por terra, a voz que chama, a nova condição de cegueira, a cura e a perda da vista e o jejum. Mas todos estes pormenores se referem ao centro do acontecimento: Cristo ressuscitado mostra-se como uma luz maravilhosa e fala a Saulo, transforma o seu pensamento e a sua própria vida. O esplendor do Ressuscitado torna-o cego: assim vê-se também exteriormente o que era a sua realidade interior, a sua cegueira em relação à verdade, à luz que é Cristo. E depois o seu "sim" definitivo a Cristo no baptismo volta a abrir os seus olhos, faz com que ele realmente veja.

Na Igreja antiga o baptismo era chamado também "iluminação", porque este sacramento realça, faz ver realmente. O que assim se indica teologicamente, em Paulo realiza-se também fisicamente: curado da sua cegueira interior, vê bem. Portanto, São Paulo foi transformado não por um pensamento mas por um acontecimento, pela presença irresistível do Ressuscitado, da qual nunca poderá sucessivamente duvidar, dado que foi muito forte a evidência do acontecimento, deste encontro. Ele mudou fundamentalmente a vida de Paulo; neste sentido pode e deve falar-se de uma conversão. Este encontro é o centro da narração de São Lucas, o qual é possível que tenha usado uma narração que provavelmente surgiu na comunidade de Damasco. Leva a pensar isto o entusiasmo local dado à presença de Ananias e dos nomes quer do caminho quer do proprietário da casa em que Paulo esteve hospedado (cf. Ac 9,9-11).

O segundo tipo de fontes sobre a conversão é constituído pelas próprias Cartas de São Paulo. Ele nunca falou pormenorizadamente deste acontecimento, talvez porque podia supor que todos conhecessem o essencial desta sua história, todos sabiam que de perseguidor tinha sido transformado em apóstolo fervoroso de Cristo. E isto tinha acontecido não após uma própria reflexão, mas depois de um acontecimento importante, um encontro com o Ressuscitado. Mesmo sem falar dos pormenores, ele menciona diversas vezes este facto importantíssimo, isto é, que também ele é testemunha da ressurreição de Jesus, do qual recebeu imediatamente a revelação, juntamente com a missão de apóstolo. O texto mais claro sobre este ponto encontra-se na sua narração sobre o que constitui o centro da história da salvação: a morte e a ressurreição de Jesus e as aparições às testemunhas (cf. 1Co 15). Com palavras da tradição antiga, que também ele recebeu da Igreja de Jerusalém, diz que Jesus morto e crucificado, sepultado e ressuscitado apareceu, depois da ressurreição, primeiro a Cefas, isto é a Pedro, depois aos Doze, depois a quinhentos irmãos que em grande parte naquele tempo ainda viviam, depois a Tiago, e depois a todos os Apóstolos. E a esta narração recebida da tradição acrescenta: "E, em último lugar, apareceu-me também a mim" (1Co 15,8). Assim dá a entender que é este o fundamento do seu apostolado e da sua nova vida. Existem também outros textos nos quais se encontra a mesma coisa: "Por meio de Jesus Cristo recebemos a graça do apostolado" (cf. Rm 1,5); e ainda: "Não vi eu a Jesus Cristo, Nosso Senhor?" (1Co 9,1), palavras com as quais ele faz alusão a um aspecto que todos conhecem. E finalmente o texto mais difundido lê-se em Ga 1,15-17: "Mas, quando aprouve a Deus que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou pela Sua graça revelar o Seu Filho em mim, para que O anunciasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue, nem voltei a Jerusalém para ir ter com os que foram Apóstolos antes de mim, mas parti para a Arábia e voltei outra vez a Damasco". Nesta "auto-apologia" ressalta decididamente que também ele é testemunha verdadeira do Ressuscitado, tem uma missão própria que recebeu imediatamente do Ressuscitado.

Assim podemos ver que as duas fontes, os Actos dos Apóstolos e as Cartas de São Paulo, convergem e convêm sob o ponto fundamental: o Ressuscitado falou a Paulo, chamou-o ao apostolado, fez dele um verdadeiro apóstolo, testemunha da ressurreição, com o encargo específico de anunciar o Evangelho aos pagãos, ao mundo greco-romano. E ao mesmo tempo Paulo aprendeu que, apesar da sua relação imediata com o Ressuscitado, ele deve entrar na comunhão da Igreja, deve fazer-se baptizar, deve viver em sintonia com os outros apóstolos. Só nesta comunhão com todos ele poderá ser um verdadeiro apóstolo, como escreve explicitamente na primeira Carta aos Coríntios: "Assim é que pregamos e é assim que vós acreditastes" (1Co 15,11). Há só um anúncio do Ressuscitado, porque Cristo é um só.

Como se vê, em todos estes trechos Paulo nunca interpreta este momento como um facto de conversão. Porquê? Existem muitas hipóteses, mas para mim o motivo é muito evidente. Esta mudança da sua vida, esta transformação de todo o seu ser não foi fruto de um processo psicológico, de uma maturação ou evolução intelectual e moral, mas vem de fora: não foi o fruto do seu pensamento, mas do encontro com Cristo Jesus. Neste sentido não foi simplesmente uma conversão, uma maturação do seu "eu", mas foi morte e ressurreição para ele mesmo: morreu uma sua existência e outra nova nasceu com Cristo Ressuscitado. De nenhum outro modo se pode explicar esta renovação de Paulo. Todas as análises psicológicas não podem esclarecer e resolver o problema. Só o acontecimento, o encontro forte com Cristo, é a chave para compreender o que tinha acontecido: morte e ressurreição, renovação por parte d'Aquele que se tinha mostrado e tinha falado com ele. Neste sentido mais profundo podemos e devemos falar de conversão. Este encontro é uma renovação real que mudou todo os seus parâmetros. Agora pode dizer que o que antes era para ele essencial e fundamental, se tornou agora "esterco"; já não é "lucro", mas perda, porque agora só conta a vida em Cristo.

Contudo não devemos pensar que Paulo assim se tenha fechado num acontecimento cego. É verdade o contrário, porque Cristo Ressuscitado é a luz da verdade, a luz do próprio Deus. Isto alargou o seu coração, tornou-o aberto a todos. Neste momento não perdeu o que havia de bom e verdadeiro na sua vida, na sua herança, mas compreendeu de modo novo a sabedoria, a verdade, a profundidade da lei e dos profetas, e delas se apropriou de modo novo. Ao mesmo tempo, a sua razão abriu-se à sabedoria dos pagãos; tendo-se aberto a Cristo com todo o coração, tornou-se capaz de um diálogo amplo com todos, tornou-se capaz de se fazer tudo em todos. Assim podia ser realmente o apóstolo dos pagãos.

Voltando a nós, perguntamo-nos o que significa isto para nós? Significa que também para nós o cristianismo não é uma nova filosofia ou uma nova moral. Somos cristãos unicamente se encontramos Cristo. Certamente Ele não se mostra a nós deste modo irresistível, luminoso, como fez com Paulo para fazer dele o apóstolo de todas as nações. Mas também nós podemos encontrar Cristo, na leitura da Sagrada Escritura, na oração, na vida litúrgica da Igreja. Podemos tocar o coração de Cristo e sentir que Ele toca o nosso. Só nesta relação pessoal com Cristo, só neste encontro com o Ressuscitado nos tornamos realmente cristãos. E assim abre-se a nossa razão, abre-se toda a sabedoria de Cristo e toda a riqueza da verdade. Portanto rezemos ao Senhor para que nos ilumine, para que nos doe no nosso mundo o encontro com a sua presença: e assim nos conceda uma fé viva, um coração aberto, uma grande caridade para todos, capaz de renovar o mundo.

Saudações

Ao saudar cordialmente todos os peregrinos e visitantes de língua portuguesa, dou as boas-vindas, em particular:

- ao grupo de Escuteiros das Paróquias de São Pedro e Santa Maria de Óbidos, e aos visitantes vindos de Portugal: faço votos por que a Mãe do Redentor vos ilumine e vos conforte com a sua intercessão na caminhada da fé;

- por fim desejo muitas felicidades, com a certeza das minhas preces, ao grupo da Inspetoria salesiana de Manaus e a todos os visitantes que vieram do Brasil para ajoelhar-se junto ao túmulo de São Pedro.

Possa também este Ano Paulino, estimular todos a seguirem os vestígios do Apóstolo dos Gentios, na procura constante e irrenunciável de Jesus Cristo, nosso Salvador. Com a minha Bênção Apostólica.




Sala Paulo VI

10 de Setembro de 2008: São Paulo (4): A concepção paulina do apostolado

10098
Queridos irmãos e irmãs!

Na passada quarta-feira falei sobre a grande mudança que se verificou na vida de São Paulo após o encontro com Cristo ressuscitado. Jesus entrou na sua vida e transformou-o de perseguidor em apóstolo. Aquele encontro marcou o início da sua missão: Paulo não podia continuar a viver como antes, agora sentia-se investido pelo Senhor do encargo de anunciar o seu Evangelho como apóstolo. É precisamente sobre esta sua nova condição de vida, isto é, de ser apóstolo de Cristo, que hoje gostaria de falar. Normalmente, seguindo os Evangelhos, identificamos os Doze com o título de apóstolos, pretendendo desta forma indicar os que eram companheiros de de vida e ouvintes do ensinamento de Jesus. Mas também Paulo se sente verdadeiro apóstolo e torna-se claro, portanto, que o conceito paulino de apostolado não se limita ao grupo dos Doze. Sem dúvida, Paulo sabe distinguir bem o seu caso do de quantos "tinham sido apóstolos antes" dele (cf.
Ga 1,17): reconhece-lhes um lugar totalmente especial na vida da Igreja. Mas, como todos sabem, também São Paulo se define a si mesmo como Apóstolo em sentido estrito. O que é certo é que, no tempo das origens cristãs, ninguém percorreu tantos quilómetros como ele, por terra e por mar, com a única finalidade de anunciar o Evangelho.

Portanto, ele tinha um conceito de apostolado que ultrapassava o que se relaciona apenas com o grupo dos Doze, transmitido sobretudo por São Lucas nos Actos (cf. Ac 1,2 Ac 1,26 Ac 6,2). De facto, na primeira Carta aos Coríntios Paulo faz uma clara distinção entre "os Doze" e "todos os apóstolos", mencionados como dois grupos diversos de beneficiários das aparições do Ressuscitado (cf. 1Co 14,5 1Co 14,7). Naquele mesmo texto ele começa em seguida a referir-se a si mesmo como "o último dos apóstolos", comparando-se até com um aborto e afirmando textualmente: "não sou digno de ser chamado Apóstolo, pois persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que Ele me deu não foi inútil; pelo contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo" (1Co 15,9-10). A metáfora do aborto expressa uma humildade extrema; encontrá-la-emos também na Carta aos Romanos de Santo Inácio de Antioquia: "Sou o último de todos, sou um aborto; mas ser-me-á concedido tornar-me algo, se alcançar Deus" (9, 2). O que o Bispo de Antioquia dirá em relação ao seu martírio iminente, prevendo que ele mudará a sua condição de indignidade, São Paulo di-lo em relação ao próprio compromisso apostólico: é nele que se manifesta a fecundidade da graça de Deus, que precisamente sabe transformar um homem mal sucedido num maravilhoso apóstolo. De perseguidor em fundador de Igrejas: Deus fez isto num homem que, sob o ponto de vista evangélico, poderia ser considerado um aborto!

Portanto, na concepção de São Paulo, o que faz com que ele e outros sejam apóstolos? Nas suas Cartas sobressaem três características principais, que constituem o apóstolo. A primeira é a de ter "visto o Senhor" (cf. 1Co 9,1), ou seja, de ter tido com Ele um encontro determinante para a própria vida. Analogamente na Carta aos Gálatas (cf. Ga 1,15-16) dirá que foi chamado, quase seleccionado, pela graça de Deus com a revelação do seu Filho em vista do feliz anúncio aos pagãos. Em definitiva, é o Senhor que constitui o apostolado, não a própria presunção. O apóstolo não se faz por si, mas é feito tal pelo Senhor; portanto o apóstolo tem necessidade de se relacionar constantemente com o Senhor. Não é por acaso que Paulo diz que é "apóstolo por vocação" (Rm 1,1), ou seja, "não da parte dos homens, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai" (Ga 1,1). Esta é a primeira característica: ter visto o Senhor, ter sido chamado por Ele.

A segunda característica é "ter sido enviado". A própria palavra grega apóstolos significa precisamente "enviado, mandado", ou seja, embaixador e transmissor de uma mensagem; portanto ele deve agir como encarregado e representante de um mandante. É por isso que Paulo se define "apóstolo de Jesus Cristo" (1Co 1,1 2Co 1,1), o que significa seu delegado, que se põe totalmente ao seu serviço, a ponto de se qualificar também "servo de Jesus Cristo" (Rm 1,1). Sobressai mais uma vez em primeiro plano a ideia de uma iniciativa de outrem, de Deus em Cristo Jesus, à qual se é totalmente constrangido; mas sobretudo ressalta-se o facto de que d'Ele se recebeu uma missão a ser cumprida em seu nome, pondo absolutamente em segundo lugar qualquer interesse pessoal.

A terceira característica é a prática do "anúncio do Evangelho", com a consequente fundação de Igrejas. De facto, o título de "apóstolo" não é nem pode ser título honorífico. Ele compromete concreta e também dramaticamente toda a existência da pessoa interessada. Na primeira Carta aos Coríntios Paulo exclama: "Não sou apóstolo? Não vi eu a Jesus Cristo, Nosso Senhor? Não sois vós a minha obra no Senhor?" (1Co 9,1). Analogamente na segunda Carta aos Coríntios afirma: "Vós sois a nossa carta... uma carta de Cristo, redigida por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo" (2Co 3,2-3).

Não nos admiramos, então, se Crisóstomo fala de Paulo como de "uma alma de diamante" (Panegíricos, 1, 8), e prossegue dizendo: "Assim como o fogo ateado a materiais diversos se fortalece ainda mais..., assim a palavra de Paulo ganhava para a própria causa todos aqueles com os quais se relacionava, e os que se lhe opunham, capturados pelos seus discursos, tornavam-se um alimento para este fogo espiritual" (ibid., 7, 11). Isto explica por que Paulo define os apóstolos como "colaboradores de Deus" (1Co 3,9 2Co 6,1), cuja graça age com eles. Um elemento típico do verdadeiro apóstolo, bem realçado por São Paulo, é uma espécie de identificação entre Evangelho e evangelizador, ambos destinados à mesma sorte. De facto, ninguém como Paulo evidenciou como o anúncio da cruz de Cristo parece "escândalo e loucura" (1Co 1,23), ao que muitos reagem com incompreensão e rejeição. Isto acontecia naquele tempo, e não deve admirar que o mesmo aconteça também hoje. Deste destino, de parecer "escândalo e loucura", participa portanto o apóstolo e Paulo sabe-o: é esta a experiência da sua vida. Aos Coríntios escreve, com um tom de ironia: "De facto, parece-nos que Deus nos pôs a nós, Apóstolos, no último lugar, como condenados à morte, porquanto nos tornámos espectáculo para o mundo, para os anjos e para os homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós somos fracos e vós, fortes; vós, nobres, e nós desprezíveis. A esta hora sofremos fome, sede e desnudez; somos esbofeteados e andamos vagabundos, e cansamo-nos a trabalhar com as nossas mãos. Amaldiçoados, bendizemos; perseguidos, suportamos; difamados, consolamos. Tornámo-nos como o lixo do mundo, a escória de todos até agora" (1Co 4,9-13). É um auto-retrato da vida apostólica de São Paulo: em todos estes sofrimentos prevalece a alegria de ser portador da bênção de Deus e da graça do Evangelho.

Aliás, Paulo partilha com a filosofia estóica do seu tempo a ideia de uma constância tenaz em todas as dificuldades que se lhe apresentam; mas supera a perspectiva meramente humanista, recordando o componente do amor de Deus e de Cristo: "Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada? Conforme está escrito: Por tua causa, sofremos a morte durante o dia inteiro; fomos tomados por ovelhas destinadas ao matadouro. Mas, em tudo isto, somos nós mais que vencedores por Aquele que nos amou. Porque estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Nosso Senhor" (Rm 8,35-39). É esta a certeza, a alegria profunda que guia o apóstolo Paulo em todas estas vicissitudes: nada nos pode separar do amor de Deus. E este amor é a verdadeira riqueza da vida humana.

Como se vê, São Paulo tinha-se entregue ao Evangelho com toda a sua existência; poderíamos dizer vinte e quatro horas por dia! E realizava o seu ministério com fidelidade e alegria, "para salvar alguns a todo o custo" (1Co 9,22). E em relação às Igrejas, mesmo sabendo que tinha com elas uma relação de paternidade (cf. 1Co 4,15), ou até de maternidade (cf. Ga 4,19), assumia uma atitude de serviço total, declarando admiravelmente: "Não porque pretendemos dominar a vossa fé: queremos apenas contribuir para a vossa alegria" (2Co 1,24). Eis a missão de todos os apóstolos de Cristo em todos os tempos: ser colaboradores da verdadeira alegria.

Saudações

Caros amigos!

Saúdo cordialmente quantos me escutam de língua portuguesa, em particular os portugueses da Paróquia de Matosinhos, e os brasileiros do Rio Grande do Sul e de Mauá em São Paulo.

Sede bem-vindos! E que leveis desta visita a Roma a certeza que é apelo: Jesus Cristo morreu por nós, para a nossa salvação! Que vos iluminem os testemunhos de São Pedro e São Paulo e vos assista a graça de Deus, que imploro para vós e vossas famílias, com a Bênção Apostólica.


Sala Paulo VI

17 de Setembro de 2008: Viagem Apostólica à França

17098
Queridos irmãos e irmãs

O encontro hodierno oferece-me a agradável oportunidade de repercorrer os vários momentos da visita pastoral que realizei nos últimos dias à França; visita esta que culminou, como se sabe, com a peregrinação a Lourdes, por ocasião do 150º aniversário das aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadete. Enquanto dou graças ardentes ao Senhor que me concedeu uma possibilidade tão providencial, exprimo novamente o meu profundo reconhecimento ao Arcebispo de Paris, ao Bispo de Tarbes e Lourdes, aos respectivos colaboradores e a todos aqueles que, de diversas maneiras, cooperaram para o bom êxito da minha peregrinação. Agradeço cordialmente também ao Presidente da República e às demais Autoridades que me receberam com tanta cortesia.

A visita teve início em Paris, onde me encontrei idealmente com todo o povo francês, prestando assim homenagem a uma querida nação em que a Igreja, já no séc. II, desempenhou uma fundamental tarefa de civilização. É interessante que precisamente neste contexto tenha amadurecido a exigência de uma sadia distinção entre o sector político e o campo religioso, segundo o célebre dito de Jesus: "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (
Mc 12,17). Se nas moedas romanas estava impressa a efígie de César e por isso lhe deviam ser dadas, contudo no coração do homem está gravada a marca do Senhor, o único Senhor da nossa vida. Portanto, a autêntica laicidade não consiste em prescindir da dimensão espiritual, mas em reconhecer que precisamente ela, de forma radical, é garantia da nossa liberdade e da autonomia das realidades terrenas, graças aos preceitos da Sabedoria criadora que a consciência humana sabe acolher e pôr em prática.

É nesta perspectiva que se insere a ampla reflexão sobre o tema: "As origens da teologia ocidental e as raízes da cultura europeia", que desenvolveu no encontro com o mundo da cultura, num lugar escolhido pelo seu valor simbólico. Trata-se do Collège des Bernardins, que o saudoso Cardeal Jean-Marie Lustiger quis valorizar como centro de diálogo cultural, um edifício do séc. XII construído pelos cistercienses, onde os jovens realizaram os seus estudos. Por conseguinte, há precisamente a presença desta teologia monástica, que deu também origem à nossa cultura ocidental. Ponto de partida do meu discurso foi uma reflexão sobre o monaquismo, cuja finalidade era buscar Deus, quaerere Deum. Na época de crise profunda da civilização antiga os monges, orientados pela luz da fé, escolheram o caminho principal: o caminho da escuta da Palavra de Deus. Portanto, eles foram os grandes cultores das Sagradas Escrituras e os mosteiros tornaram-se escolas de sabedoria e escolas "dominici servitii", "do serviço do Senhor", como os chamava São Bento. Assim, a busca de Deus levava os monges, por sua natureza, a uma cultura da palavra. Quaerere Deum, buscar Deus: procuravam-no no sulco da Palavra e portanto deviam conhecer esta Palavra cada vez mais profundamente. Era necessário penetrar o segredo da língua, compreendê-la na sua estrutura. Para a busca de Deus, que se nos revelou nas Sagradas Escrituras, tornaram-se deste modo importantes as ciências profanas, destinadas a aprofundar os segredos das línguas. Portanto, desenvolvia-se nos mosteiros aquela eruditio que teria permitido a formação da cultura. Precisamente por isso, quaerere Deum buscar Deus, pôr-se a caminho de Deus permanece tanto hoje como ontem o caminho principal e o fundamento de toda a verdadeira cultura.

Também a arquitectura é expressão artística da busca de Deus, e não há dúvida de que a catedral de Notre-Dame em Paris constitui um seu exemplo de valor universal. No interior daquele templo magnífico, onde tive a alegria de presidir à celebração das Vésperas da Bem-Aventurada Virgem Maria, exortei os sacerdotes, os diáconos, os religiosos, as religiosas e os seminaristas vindos de todas as partes da França, a darem prioridade à escuta religiosa da Palavra divina, contemplando a Virgem Maria como modelo sublime. Em seguida, no adro de Notre-Dame, saudei os jovens reunidos em grande número e com entusiasmo. A eles, que estavam prestes a começar uma longa vigília de oração, confiei dois tesouros da fé cristã: o Espírito Santo e a Cruz. O Espírito abre a inteligência humana a horizontes que a ultrapassam, fazendo-a compreender a beleza e a verdade do amor de Deus revelado precisamente na Cruz. Um amor do qual nada jamais nos poderá separar, e que se experimenta entregando a própria vida segundo o exemplo de Cristo. Depois, uma breve visita ao Institut de France, sede das cinco Academias nacionais: dado que eu sou membro de uma das Academias, vi aí com grande alegria os meus colegas. E sucessivamente, a minha visita concluiu-se com a Celebração eucarística na Esplanade des Invalides. Fazendo ressoar as palavras do Apóstolo Paulo aos Coríntios, convidei os fiéis de Paris e da França inteira a buscarem o Deus vivo, que mostrou o seu rosto autêntico em Jesus presente na Eucaristia, impelindo-nos a amar os nossos irmãos como Ele nos amou.

Depois fui a Lourdes, onde pude unir-me imediatamente a milhares de fiéis no "Caminho do Jubileu", que volta a percorrer os lugares da vida de Santa Bernadete: a igreja paroquial com a pia baptismal onde ela foi baptizada; o Cachot onde a menina viveu em grande pobreza; e a Gruta de Massabielle, onde a Virgem lhe apareceu dezoito vezes. À tarde, participei na tradicional Procissão aux flambeaux, maravilhosa manifestação de fé em Deus e de devoção à sua e nossa Mãe. Lourdes é verdadeiramente lugar de luz, de oração, de esperança e de conversão, fundadas na rocha do amor de Deus, que teve a sua revelação culminante na Cruz gloriosa de Cristo.

Por uma feliz coincidência, no domingo passado a liturgia recordava a Exaltação da Santa Cruz, sinal de esperança por excelência, porque é o máximo testemunho do amor. Em Lourdes, na escola de Maria, primeira e perfeita discípula do Crucificado, os peregrinos aprendem a considerar as cruzes da sua vida precisamente à luz da Cruz gloriosa de Cristo. Aparecendo a Bernadete, na Gruta de Massabielle, o primeiro gesto que Maria fez foi precisamente o Sinal da Cruz, em silêncio e sem palavras. E Bernadete, embora vacilante, imitou-a fazendo por sua vez o Sinal da Cruz. E assim Nossa Senhora transmitiu uma primeira iniciação na essência do cristianismo: o Sinal da Cruz é a suma da nossa fé, e fazendo-o com o coração atento, entramos no pleno mistério da nossa salvação. Naquele gesto de Nossa Senhora encontra-se toda a mensagem de Lourdes! Deus amou-nos de tal modo, que se entregou a si mesmo por nós: esta é a mensagem da Cruz, "mistério de morte e de glória". A Cruz recorda-nos que não há amor verdadeiro sem sofrimento, não existe dom da vida sem dor. Muitos aprendem esta verdade em Lourdes, que é uma escola de fé e de esperança, porque é também escola de caridade e de serviço aos irmãos. Foi neste contexto de fé e de oração que se realizou o importante encontro com o Episcopado francês: foi um momento de intensa comunhão espiritual, em que juntos pudemos confiar à Virgem as expectativas e preocupações pastorais conjuntas.

Em seguida, a etapa sucessiva foi a procissão eucarística com milhares de fiéis entre os quais, como sempre, muitos doentes. Diante do Santíssimo Sacramento, a nossa comunhão espiritual com Maria fez-se mais intensa e profunda, porque Ela nos doa olhos e corações capazes de contemplar o seu Filho divino na sagrada Eucaristia. Foi comovedor o silêncio dos milhares de pessoas diante do Senhor; não um silêncio vazio, mas repleto de prece e de consciência da presença do Senhor, que nos amou até se elevar na cruz por nós. O dia de segunda-feira, 15 de Setembro, memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria das Dores, foienfimdedicadode modo especial aos doentes. Depois de uma breve visita à Capela do Hospital, onde Bernadete recebeuaprimeira Comunhão, no adro da Basílica do Rosário presidi à celebração da Santa Missa, durante a qual administrei o sacramento da Unção dos Enfermos. Com os doentes e com quantos os assistem, desejei meditar sobre as lágrimas de Maria, derramadas aos pés da Cruz, e sobre o seu sorriso, que ilumina a manhã de Páscoa.

Caros irmãos e irmãs, juntos demos graças ao Senhor por esta viagem apostólica, rica de muitas dádivas espirituais. Em particular, louvemo-lo porque Maria, aparecendo a Santa Bernadete, abriu no mundo um espaço privilegiado para encontrar o amor divino que cura e salva. Em Lourdes, a Virgem Santa convida todos a considerarem a terra como lugar da nossa peregrinação rumo à pátria definitiva, que é o Céu. Na realidade, todos nós somos peregrinos e temos necessidade da Mãe que nos orienta; e em Lourdes o seu sorriso convida-nos a progredir com grande confiança, na consciência de que Deus é bom, Deus é amor.

Saudações

Amados Irmãos e Irmãs,

Agradecei comigo ao Senhor pelo sucesso da Viagem Pastoral que a Providência permitiu-me realizar na França. De modo particular, louvemos a Maria Santíssima pelos dons espirituais que ela nos quis alcançar através da Trindade Beatíssima.

Saúdo a todos os visitantes brasileiros aqui presentes, especialmente os de Jataí do Estado de Goiás, acompanhados pelo seu Bispo Diocesano, D. Aloísio Hilário Pinho. Que Deus vos assista, e a todos os peregrinos de língua portuguesa, com a minha Bênção Apostólica.



Praça de São Pedro

24 de Setembro de 2008: São Paulo (5): Paulo, os Doze e a Igreja pré-paulina

24098
Caros irmãos e irmãs

Hoje gostaria de falar sobre a relação entre São Paulo e os Apóstolos que o tinham precedido na sequela de Jesus. Estas relações sempre foram caracterizadas por um profundo respeito e por aquela franqueza que para Paulo derivava da defesa da verdade do Evangelho. Embora ele fosse praticamente contemporâneo de Jesus de Nazaré, nunca teve a oportunidade de O encontrar durante a sua vida pública. Por isso, depois da fulguração no caminho de Damasco, sentiu a necessidade de consultar os primeiros discípulos do Mestre, que foram escolhidos por Ele para que anunciassem o Evangelho até aos confins do mundo.

Na Carta aos Gálatas, Paulo faz um importante resumo dos contactos mantidos com alguns dos Doze. Em primeiro lugar com Pedro, que fora escolhido como Kephas, a palavra aramaica que significa rocha, sobre a qual se estava a edificar a Igreja (cf.
Ga 1,18), com Tiago, "o irmão do Senhor" (cf. Ga 1,19), e com João (cf. Ga 2,9): Paulo não hesita em reconhecê-los como "as colunas" da Igreja. Particularmente significativo é o encontro com Cefas (Pedro), que teve lugar em Jerusalém: Paulo permaneceu com ele quinze dias para o "consultar" (cf. Ga 1,19), ou seja, para ser informado sobre a vida terrena do Ressuscitado, que o tinha "arrebatado" no caminho de Damasco e que estava a transformar, de modo radical, a sua existência: de perseguidor da Igreja de Deus, tornara-se evangelizador daquela fé no Messias crucificado e Filho de Deus, que no passado ele tinha tentado destruir (cf. Ga 1,23).

Que género de informações teve Paulo acerca de Jesus Cristo nos três anos que se seguiram ao encontro de Damasco? Na primeira Carta aos Coríntios podemos observar dois trechos, que Paulo conheceu em Jerusalém, e que já tinham sido formulados como elementos centrais da tradição cristã, tradição constitutiva. Ele transmite-os verbalmente, como os recebeu, com uma fórmula muito solene: "Transmito-vos aquilo que eu mesmo recebi". Ou seja, insiste sobre a fidelidade a quanto ele mesmo recebeu e que fielmente transmite aos novos cristãos. São elementos constitutivos e dizem respeito à Eucaristia e à Ressurreição; trata-se de trechos já formulados nos anos 30. Assim, chegamos à morte, sepultura no coração da terra, e à ressurreição de Jesus (cf. 1Co 15,3-4). Tomemos um e outro: as palavras de Jesus na última Ceia (cf. 1Co 11,23-25) para Paulo são realmente, centro da vida da Igreja: a Igreja edifica-se a partir deste centro, tornando-se assim ela mesma. Além deste centro eucarístico, no qual a Igreja nasce sempre de novo também para toda a teologia de São Paulo, para todo o seu pensamento estas palavras tiveram um impacto notável sobre a relação pessoal de Paulo com Jesus. Por um lado, testemunham que a Eucaristia ilumina a maldição da cruz, transformando-a em bênção (cf. Ga 3,13-14) e, por outro, explicam o alcance da própria morte e ressurreição de Jesus. Nas suas Cartas o "por vós" da instituição eucarística torna-se o "por mim" (Ga 2,20), personalizando, consciente de que naquele "vós" ele mesmo era conhecido e amado por Jesus e, por outro lado, "por todos" (2Co 5,14). Este "por vós" torna-se "por mim" e "para a Igreja" (Ep 5,25), isto é, também "por todos" do sacrifício expiatório da cruz (cf. Rm 3,25). Da Eucaristia e na Eucaristia, a Igreja edifica-se e reconhece-se como "Corpo de Cristo" (1Co 12,27), alimentado todos os dias pelo poder do Espírito do Ressuscitado.

O outro texto, sobre a Ressurreição, transmite-nos de novo a mesma fórmula de fidelidade. São Paulo escreve: "Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi, isto é: Cristo morreu pelos nossos pecados, conforme as Escrituras; foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; apareceu a Pedro e depois aos Doze" (1Co 15,3-5). Também nesta tradição transmitida a Paulo volta aquele "pelos nossos pecados", que salienta o dom que Jesus fez de si mesmo ao Pai, para nos libertar dos pecados e da morte. Deste dom de si Paulo há-de haurir as expressões mais exigentes e fascinantes da nossa relação com Cristo: "Aquele que nada tinha a ver com o pecado, Deus fê-lo pecado por causa de nós, a fim de que por meio dele sejamos reabilitados por Deus" (2Co 5,21); "De facto, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo; embora fosse rico, Ele tornou-se pobre por vossa causa, para vos enriquecer com a sua pobreza" (2Co 8,9). Vale a pena recordar o comentário com que o então monge agostiniano Martinho Lutero acompanhava estas expressões paradoxais de Paulo: "Este é o grandioso mistério da graça divina para os pecadores: que com um intercâmbio admirável os nossos pecados já não são nossos, mas de Cristo, e a justiça de Cristo não é mais de Cristo, mas nossa" (Comentário aos ). E assim somos salvos.

No querigma (anúncio) original, transmitido de boca em boca, merece ser realçado o uso do verbo "ressuscitou", em vez do "foi ressuscitado", que seria mais lógico utilizar, em continuidade com o "morreu... e foi sepultado". A forma verbal "ressuscitou" é escolhida para sublinhar que a ressurreição de Cristo incide até ao presente da existência dos crentes: podemos traduzi-lo com "ressuscitou e continua a viver" na Eucaristia e na Igreja. Assim, todas as Escrituras dão testemunho da morte e ressurreição de Cristo, porque como escrevia Hugo de São Vítor "toda a divina Escritura constitui um único livro, e este único livro é Cristo, porque toda a Escritura fala de Cristo e encontra em Cristo o seu cumprimento" (De arca Noe, 2, 8). Se Santo Ambrósio de Milão poderá dizer que "na Escritura nós lemos Cristo", é porque a Igreja das origens releu todas as Escrituras de Israel, começando por Cristo e voltando a Cristo.

A sequência das aparições do Ressuscitado a Cefas, aos Doze, a mais de quinhentos irmãos e a Tiago encerra-se com a referência à aparição pessoal, recebida por Paulo no caminho de Damasco: "Por último, apareceu também a mim, como a um aborto" (1Co 15,8). Porque ele perseguiu a Igreja de Deus, nesta confissão expressa a sua indignidade de ser considerado apóstolo, ao mesmo nível daqueles que o precederam: mas a graça de Deus nele não foi vã (cf. 1Co 15,10). Portanto, a afirmação prepotente da graça divina irmana Paulo com as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo: "Eis o que nós pregamos, tanto eu como eles; eis aquilo em que vós acreditastes" (1Co 15,11). São importantes a identidade e a unicidade do anúncio do Evangelho: tanto eles como eu pregamos a mesma fé, o mesmo Evangelho de Jesus Cristo morto e ressuscitado que se entrega na Santíssima Eucaristia.

A importância que ele confere à Tradição viva da Igreja, que transmite às suas comunidades, demonstra como é errónea a visão de quem atribui a Paulo a invenção do cristianismo: antes de evangelizar Jesus Cristo, o seu Senhor, ele encontrou-O no caminho de Damasco e frequentou-O na Igreja, observando a sua vida nos Doze e naqueles que O seguiram pelos caminhos da Galileia. Nas próximas catequeses teremos a oportunidade de aprofundar as contribuições que Paulo ofereceu à Igreja das origens; todavia, a missão recebida do Ressuscitado em vista da evangelização dos pagãos tem necessidade de ser confirmada e garantida por aqueles que lhe deram, bem como a Barnabé, a mão direita em sinal de aprovação do seu apostolado e da sua evangelização, e de acolhimento na única comunhão da Igreja de Cristo (cf. Ga 2,9). Compreende-se então que a expressão "mesmo que tenhamos conhecido Cristo segundo as aparências" (2Co 5,16) não significa que a sua existência terrena tem um escasso relevo para o nosso amadurecimento na fé, mas que a partir do momento da sua Ressurreição muda o nosso modo de nos relacionarmos com Ele. Ele é, ao mesmo tempo, o Filho de Deus, "como homem foi descendente de David e, segundo o Espírito Santo, foi constituído Filho de Deus com poder, através da ressurreição dos mortos", como recordará Paulo no início da Carta aos Romanos (Rm 1,3-4).

Quanto mais procuramos seguir os passos de Jesus de Nazaré pelas estradas da Galileia, tanto mais podemos compreender que Ele assumiu a nossa humanidade, compartilhando-a em tudo, excepto no pecado. A nossa fé não nasce de um mito, nem de uma ideia, mas sim do encontro com o Ressuscitado, na vida da Igreja.

Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, uma cordial saudação para todos, nomeadamente para os fiéis brasileiros da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Campinas: aqui, em Roma, os Santos Apóstolos Pedro e Paulo derramaram o seu sangue, confessando a sua fé no Senhor Jesus. As gerações recolheram e transmitiram este testemunho: hoje é a nossa hora! Mostrai a todos a felicidade que é amar Jesus Cristo. Aprendei a segui-lo e a imitá-lo, como fez a Virgem Maria. Sobre todos os presentes e respectivas famílias, de bom grado estendo a Bênção Apostólica.




Audiências 2005-2013 3098