Audiências 2005-2013 21019

21 de Janeiro de 2009: Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

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Queridos irmãos e irmãs!

Iniciou no domingo passado a "Semana de oração pela unidade dos cristãos", que se concluirá no próximo domingo, festa da Conversão de São Paulo Apóstolo. Trata-se de uma iniciativa espiritual muito preciosa, que se vai difundindo cada vez mais entre os cristãos, em sintonia e, poderíamos dizer, em resposta à urgente invocação que Jesus dirigiu ao Pai no Cenáculo, antes da sua Paixão: "Que todos sejam um... para que o mundo creia que Tu me enviaste" (
Jn 17,21). Por quatro vezes, nesta oração sacerdotal, o Senhor pede que os seus discípulos sejam "um", segundo a imagem da unidade entre o Pai e o Filho. Trata-se de uma unidade que só pode crescer segundo o exemplo do doar-se do Filho ao Pai, isto é, saindo de si e unindo-se a Cristo. Além disso, por duas vezes nesta oração, Jesus acrescenta como finalidade desta unidade: para que o mundo creia. Portanto, a plena unidade está relacionada com a própria vida e missão da Igreja no mundo. Ela deve viver uma unidade que só pode derivar da sua unidade com Cristo, com a sua transcendência, como sinal de que Cristo é a verdade. É esta a nossa responsabilidade: que seja visível no mundo o dom de uma unidade em virtude da qual se torne credível a nossa fé. Por isso é importante que cada comunidade cristã tome consciência da urgência de trabalhar de todos os modos possíveis para alcançar este grande objectivo. Mas, sabendo que a unidade é antes de tudo "dom" do Senhor, é necessário ao mesmo tempo implorá-la com uma oração incansável e confiante. Só saindo de nós e indo rumo a Cristo, só na relação com Ele podemos tornar-nos realmente unidos entre nós. É este convite que, com a presente "Semana", é dirigido aos crentes em Cristo de cada Igreja e Comunidade eclesial; a ele, queridos irmãos e irmãs, respondamos com imediata generosidade.

Este ano, a "Semana de oração pela unidade" propõe à nossa meditação e oração estas palavras tiradas do livro do profeta Ezequiel: "Que elas formem uma só na tua mão" (Ez 37,17). O tema foi escolhido por um grupo ecuménico da Coreia, e revisto depois para a divulgação internacional pela Comissão Mista para a Oração formada por representantes do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e do Conselho Ecuménico das Igrejas de Genebra. O próprio processo de preparação foi uma prática fecunda e estimulante de verdadeiro ecumenismo.

No trecho do livro do profeta Ezequiel, do qual é tirado o tema, o Senhor ordena que o profeta tome duas varas de lenha, uma como símbolo de Judá e das suas tribos e a outra como símbolo de José e de toda a casa de Israel unida com ele, e pede-lhe que as "aproxime", de modo que formem uma só vara, "uma só" na sua mão. É transparente a palavra da unidade. Aos "filhos do povo", que pedirem explicação, Ezequiel, iluminado do Alto, dirá que o próprio Senhor toma as duas varas e as aproxima, de modo que os dois reinos com as respectivas tribos, entre si divididas, se tornem "uma só na sua mão". A mão do profeta, que aproxima as duas varas, é considerada como a própria mão de Deus que recolhe e unifica o seu povo e finalmente toda a humanidade. Podemos aplicar as palavras do profeta aos cristãos, no sentido de uma exortação a rezar, a trabalhar fazendo o possível para que se realize a unidade de todos os discípulos de Cristo, a trabalhar para que a nossa mão seja instrumento da mão unificadora de Deus. Esta exortação torna-se particularmente comovedora e urgente nas palavras de Jesus depois da Última Ceia. O Senhor deseja que todo o seu povo caminhe e vê nisto a Igreja do futuro, dos séculos vindouros com paciência e perseverança rumo à meta da plena unidade. Trata-se de um compromisso que exige adesão humilde e dócil obediência ao mandato do Senhor, o qual o abençoa e o torna fecundo. O profeta Ezequiel garante-nos que será precisamente Ele, o nosso único Senhor, o único Deus, quem nos reúne na "sua mão".

Na segunda parte da leitura bíblica aprofundam-se o significado e as condições da unidade das várias tribos num só reino. Na dispersão entre os povos, os Israelitas tinham conhecido cultos erróneos, amadurecido concepções de vida erradas e assumido costumes alheios à lei divina. Agora o Senhor declara que não se contaminarão mais com os ídolos dos povos pagãos, com as suas abominações, com todas as suas iniquidades (cf. Ez 37,23). Recorda a necessidade de os libertar do pecado, de purificar o seu coração. "Salvá-los-ei das suas apostasias afirma purificá-los-ei". E assim "serão o meu povo e eu serei o seu Deus" (cf. ibid.). Nesta condição de renovação interior, eles "seguirão os meus mandamentos, cumprirão as minhas leis e pô-las-ão em prática". E o texto profético conclui-se com a promessa definitiva e plenamente salvífica: "Concluirei com eles uma aliança de paz... porei o meu santuário no meio deles para sempre" (Ez 37,26).

A visão de Ezequiel torna-se particularmente eloquente para todo o movimento ecuménico, porque ressalta a exigência imprescindível de uma renovação interior autêntica em todos os componentes do Povo de Deus que só o Senhor pode realizar. Também nós devemos estar abertos a esta renovação, porque aprendemos costumes muito afastados da Palavra de Deus. "Como toda a renovação na Igreja lê-se no Decreto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano ii consiste essencialmente numa crescente fidelidade à sua vocação, este é, sem dúvida, o motivo do movimento para a unidade" (UR 6), isto é, a maior fidelidade à vocação de Deus. O decreto ressalta depois a dimensão interior da conversão do coração. "Não pode haver verdadeiro ecumenismo acrescenta sem conversão interior; pois o desejo de unidade nasce e amadurece na renovação do espírito, da abnegação própria e do pleno exercício da caridade" (UR 7). A "Semana de oração pela unidade" torna-se, desta forma, para todos nós estímulo para uma conversão sincera e para uma escuta mais dócil da Palavra de Deus, para uma fé cada vez mais profunda.

A "Semana" é também ocasião propícia para agradecer ao Senhor tudo o que concedeu realizar até agora "para aproximar", uns dos outros, os cristãos divididos, e as próprias Igrejas e Comunidades eclesiais. Este espírito animou a Igreja católica, a qual, no ano que há pouco terminou, prosseguiu, com firme convicção e radicada esperança, a manter relações fraternas e respeitosas com todas as Igrejas e Comunidades eclesiais do Oriente e do Ocidente. Na variedade das situações, umas vezes positivas e outras com maiores dificuldades, esforçou-se por nunca faltar ao compromisso de realizar todos os esforços tendentes à recomposição da plena unidade. As relações entre as Igrejas e os diálogos teológicos continuaram a dar sinais de convergências espirituais encorajadores. Eu mesmo tive a alegria de encontrar, aqui no Vaticano e durante as minhas viagens apostólicas, cristãos provenientes de todas as partes. Recebi com profunda alegria por três vezes o Patriarca Ecuménico Sua Santidade Bartolomeu I e, acontecimento extraordinário, ouvimo-lo tomar a palavra, com fraterno calor eclesial e com convicta confiança no futuro, durante a recente assembleia do Sínodo dos Bispos. Tive a alegria de receber os dois Catholicoi da Igreja Apostólica Arménia: Sua Santidade Karekin II de Etchmiadzin e Sua Santidade Aram I de Antelias. E por fim partilhei a dor do Patriarcado de Moscovo pela morte do amado irmão em Cristo, o Patriarca Sua Santidade Aleixo II, e continuo a permanecer em comunhão de oração com aqueles nossos irmãos que se preparam para eleger o novo Patriarca da sua veneranda e grande Igreja ortodoxa. Foi-me de igual modo concedido encontrar-me com representantes das várias Comunidades cristãs do Ocidente, com os quais prossegue o confronto sobre o importante testemunho que os cristãos devem dar hoje de modo concorde, num mundo cada vez mais dividido e colocado diante de tantos desafios de carácter cultural, social, económico e ético. Deste e de muitos outros encontros, diálogos, e gestos de fraternidade que o Senhor nos concedeu poder realizar, demos juntos graças a Ele com alegria.

Amados irmãos e irmãs, aproveitemos a oportunidade que a "Semana de oração pela unidade dos cristãos" nos oferece para pedir ao Senhor que prossigam e, se possível, sejam intensificados o empenho e o diálogo ecuménico. No contexto do Ano Paulino, que comemora o bimilénio do nascimento de São Paulo, não podemos deixar de nos inspirar também em quanto o Apóstolo Paulo nos deixou escrito a propósito da unidade da Igreja. Todas as quartas-feiras dedico a minha reflexão às suas cartas e ao seu precioso ensinamento. Retomo aqui simplesmente quanto ele escreve dirigindo-se à comunidade de Éfeso: "Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo" (Ep 4,4-5). Façamos nosso o anseio de São Paulo, que dedicou a sua vida inteiramente pelo único Senhor e pela unidade do seu Corpo místico, a Igreja, dando, com o martírio, um supremo testemunho de fidelidade e de amor a Cristo.

Seguindo o seu exemplo e contando com a sua intercessão, cada comunidade cresça no compromisso da unidade, graças às várias iniciativas espirituais e pastorais e às assembleias de oração comum, que normalmente se tornam mais numerosas e intensas nesta "Semana", fazendo-nos já pregustar, num certo modo, o dia da plena unidade. Rezemos para que entre as Igrejas e as Comunidades eclesiais continue o diálogo da verdade, indispensável para resolver as divergências, e o da caridade que condiciona o mesmo diálogo teológico e ajuda a viver juntos para um testemunho comum. O desejo que habita o nosso coração é que se apresse o dia da plena comunhão, quando todos os discípulos do nosso único Senhor poderão finalmente celebrar juntos a Eucaristia, o sacrifício divino para a vida e a salvação do mundo. Invoquemos a materna intercessão de Maria, para que ajude todos os cristãos a cultivar uma escuta mais atenta da Palavra de Deus e uma oração mais intensa pela unidade.

Saudação

Ao saudar cordialmente todos os peregrinos e visitantes de língua portuguesa, dou as boas vindas, em particular ao grupo de sacerdotes do Porto: para todos invoco a proteção do Altíssimo. E que a luz de Cristo anime sempre em vós o entusiasmo para servir a Igreja como ela quer ser servida. Com a minha Bênção Apostólica!



Sala Paulo VI

28 de Janeiro de 2009: São Paulo (19): A visão teológica das Cartas Pastorais

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Queridos irmãos e irmãs

As últimas cartas do epistolário paulino, das quais gostaria de falar hoje, são chamadas Cartas pastorais, porque foram enviadas a figuras individuais de Pastores da Igreja: duas a Timóteo e uma a Tito, estreitos colaboradores de São Paulo. Em Timóteo, o Apóstolo via como que um alter ego; com efeito, confiou-lhe missões importantes (na Macedónia: cf.
Ac 19,22 em Tessalonica: cf. 1Th 3,6-7 em Corinto: cf. 1Co 4,17 1Co 16,10-11), e depois escreveu dele um elogio lisonjeiro: "Não tenho nenhum outro tão unido comigo, que, com tão sincera afeição, se interesse por vós" (Ph 2,20). Segundo a História eclesiástica de Eusébio de Cesareia, do século IV, Timóteo foi depois o primeiro Bispo de Éfeso (cf. 3, 4). Quanto a Tito, também ele devia ter sido muito estimado pelo Apóstolo, que o define explicitamente cheio de zelo... meu companheiro e colaborador" (2Co 8,17 2Co 8,23), aliás, "meu verdadeiro filho na fé comum" (Tt 1,4). Ele fora encarregado de algumas missões muito delicadas na Igreja de Corinto, cujo resultado animou Paulo (cf. 2Co 7,6-7 2Co 7,13 2Co 8,6). Em seguida, daquilo que nos foi transmitido, Tito uniu-se a Paulo em Nicópolis no Épiro, na Grécia (cf. Tt 3,12) e depois foi por ele convidado a ir à Dalmácia (cf. 2Tm 4,10). Segundo a Carta que lhe foi endereçada, em seguida ele tornou-se Bispo de Creta (cf. Tt 1,5).

As Cartas dirigidas a estes dois Pastores ocupam um lugar totalmente particular no contexto do Novo Testamento. Hoje, o parecer da maioria dos exegetas é que estas Cartas não teriam sido escritas pelo próprio Paulo, mas teria a sua origem na "escola de Paulo", e reflectiriam a sua herança para uma nova geração, talvez integrando alguns breves escritos ou palavras do próprio Apóstolo. Por exemplo, algumas palavras da segunda Carta a Timóteo parecem tão autênticas, que só podem vir do coração e da boca do Apóstolo.

Sem dúvida, a situação eclesial que sobressai destas Cartas é diferente da dos anos centrais da vida de Paulo. Ele agora, em retrospectiva, define-se "arauto, apóstolo e mestre" dos pagãos na fé e na verdade (cf. 1Tm 2,7 2Tm 1,11); apresenta-se como alguém que obteve misericórdia, porque Jesus Cristo como escreve "quis mostrar, primeiro em mim, toda a sua magnanimidade e para que assim, servisse de exemplo àqueles que haviam de crer nele para a vida eterna" (1Tm 1,16). Portanto, o que parece realmente essencial em Paulo, perseguidor convertido da presença do Ressuscitado, é a magnanimidade do Senhor, que nos serve de encorajamento, para nos induzir a esperar e a ter confiança na misericórdia do Senhor que, não obstante a nossa pequenez, pode realizar maravilhas. Para além dos anos centrais da vida de Paulo, vão também os novos contextos culturais aqui pressupostos. Com efeito, faz-se alusão ao aparecimento de ensinamentos que se deviam considerar totalmente erróneos e falsos (cf. 1Tm 4,1-2 2Tm 3,1-5), como aqueles de quem afirmava que o matrimónio não era bom (cf. 1Tm 4,3a). Vemos como é moderna esta preocupação, porque também hoje se lê, por vezes, a Escritura como objecto de curiosidade histórica, e não como palavra do Espírito Santo, na qual podemos ouvir a própria voz do Senhor e conhecer a sua presença na história. Poderíamos dizer que, com este breve elenco de erros presentes nas três Cartas, são antecipados alguns trechos daquela sucessiva orientação errónea que aparece sob o nome de Gnosticismo(cf. 1Tm 2,5-6 2Tm 3,6-8).

O autor compara estas doutrinas com duas referências de base. Uma consiste na evocação de uma leitura espiritual da Sagrada Escritura (cf. 2Tm 3,14-17), ou seja, de uma leitura que a considera realmente como que "inspirada" e proveniente do Espírito Santo, de tal forma que por ela se pode ser "instruído para a salvação". Lê-se a Escritura, justamente, pondo-se em diálogo com o Espírito Santo, de modo a haurir a sua luz "para ensinar, para convencer, para corrigir e para instruir na justiça" (2Tm 3,16). Neste sentido, a Carta acrescenta: "A fim de que o homem de Deus seja perfeito e apto para toda a boa obra" (2Tm 3,17). A outra evocação consiste na referência ao bom "depósito" (parathéke): é uma palavra especial das Cartas pastorais, com que se indica a tradição da fé apostólica que se deve conservar com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós. Portanto, este chamado "depósito" deve ser considerado como que a soma da Tradição apostólica e critério de fidelidade ao anúncio do Evangelho. E aqui temos que ter presente o facto de que nas Cartas pastorais, como em todo o Novo Testamento, o termo "Escrituras" significa explicitamente o Antigo Testamento, porque os escritos do Novo Testamento ainda não existiam, ou ainda não faziam parte de um cânone das Escrituras. Por conseguinte a Tradição do anúncio apostólico, este "depósito", é a chave de leitura para compreender a Escritura, o Novo Testamento. Neste sentido, Escritura e Tradição, Escritura e anúncio apostólico como chave de leitura aproximam-se e quase se fundem, para formar em conjunto o "sólido fundamento lançado por Deus" (2Tm 2,19). O anúncio apostólico, ou seja a Tradição, é necessário para se introduzir na compreensão da Escritura e aí ouvir a voz de Cristo. Com efeito, é necessário estar "firmemente apegado à palavra fiel, tal como ela foi ensinada" (Tt 1,9). Na base de tudo está, precisamente, a fé na revelação histórica da bondade de Deus, que em Jesus Cristo manifestou concretamente o seu "amor pelos homens", um amor que no texto original grego é significativamente qualificado como filanthropía (Tt 3,4 cf. 2Tm 1,9-10); Deus ama a humanidade.

No conjunto, vê-se bem que a comunidade cristã se vai configurando em termos muitos claros, segundo uma identidade que não só se afasta de interpretações incôngruas, mas sobretudo afirma a própria ancoragem nos pontos essenciais da fé, que aqui é sinónimo de "verdade" (1Tm 2,4 1Tm 2,7 1Tm 4,3 1Tm 6,5 2Tm 2,15 2Tm 2,18 2Tm 2,25 2Tm 3,7 2Tm 3,8 2Tm 4,4 Tt 1,1 Tt 1,14). Na fé aparece a verdade essencial de quem nós somos, de quem é Deus, como devemos viver. E desta verdade (a verdade da fé), a Igreja é definida "coluna e sustentáculo" (1Tm 3,15). De qualquer modo, ela permanece uma comunidade aberta, de visão universal, que reza por todos os homens de todas as ordens e graus, para que cheguem ao conhecimento da verdade: "Deus deseja que todos os homens se salvem e conheçam a verdade", porque "Jesus Cristo se entregou em resgate por todos" (1Tm 2,4-5). Portanto, o sentido da universalidade, embora as comunidades ainda sejam pequenas, é forte e determinante para estas Cartas. Além disso, esta comunidade cristã "não fala mal de ninguém" e é "cheia de doçura para com todos os homens" (Tt 3,2). Este é um primeiro componente importante destas Cartas: a universalidade e a fé como verdade, como chave de leitura da Sagrada Escritura, do Antigo Testamento, e é assim que se delineia uma unidade de anúncio e de Escritura, e uma fé viva e aberta a todos e testemunha do amor de Deus por todos.

Outro componente típico destas Cartas é a sua reflexão sobre a estrutura ministerial da Igreja. São elas que, pela primeira vez, apresentam a tríplice subdivisão de bispos, presbíteros e diáconos (cf. 1Tm 3,1-13 1Tm 4,13 2Tm 1,6 Tt 1,5-9). Nas Cartas pastorais podemos observar o confluir de duas estruturas ministeriais diversas, e assim a constituição da forma definitiva do ministério na Igreja. Nas Cartas paulinas dos anos centrais da sua vida, Paulo fala de "bispos" (Ph 1,1) e de "diáconos": esta é a estrutura típica da Igreja, que se formou nessa época no mundo pagão. Portanto, permanece predominante a figura do próprio Apóstolo, e por isso só gradualmente se desenvolvem os outros ministérios.

Se, como se disse, nas Igrejas formadas no mundo pagão dispomos de bispos e de diáconos, e não de presbíteros, nas Igrejas que se formaram no mundo judaico-cristão os presbíteros constituem a estrutura predominante. No final das Cartas pastorais, as duas estruturas unem-se: agora aparece "o episcopo" (o bispo) (cf. 1Tm 3,2 Tt 1,7), sempre no singular, acompanhado pelo artigo definido "o episcopo". E ao lado de "o episcopo" encontramos os presbíteros e os diáconos. Parece ser ainda determinante a figura do Apóstolo, mas as três Cartas, como eu já disse, são dirigidas não já a comunidades, mas a pessoas: Timóteo e Tito, que por um lado aparecem como Bispos, por outro começam a ocupar o lugar do Apóstolo.

Assim, nota-se inicialmente a realidade que mais tarde se há-de chamar "sucessão apostólica". Paulo diz a Timóteo, com tom de grande solenidade: "Não descuides o dom espiritual que recebeste e que te foi concedido por uma intervenção profética, com a imposição das mãos dos presbíteros" (1Tm 4,14). Podemos dizer que nestas palavras aparece inicialmente também o carácter sacramental do ministério. E assim temos o essencial da estrutura católica: Escritura e Tradição, Escritura e anúncio formam um conjunto, mas a esta estrutura, por assim dizer doutrinal, deve acrescentar-se a estrutura pessoal, os sucessores dos Apóstolos, como testemunhas do anúncio apostólico.

Enfim, é importante observar que nestas Cartas a Igreja se inclui a si mesma em termos muito humanos, em analogia com a casa e a família. Particularmente em 1Tm 3,2-7, lêem-se instruções muito pormenorizadas sobre o bispo, como estas: ele deve ser "irrepreensível, que se tenha casado uma só vez, que seja sóbrio, prudente, hospitaleiro, capaz de ensinar. Não deve ser dado ao álcool, nem violento, mas condescendente, pacífico e desinteressado; que saiba governar bem a casa, tenha os seus filhos submissos e com perfeita honestidade. Pois se alguém não souber governar a sua casa, como cuidará da Igreja de Deus? [...] Importa também que goze de boa fama entre os estranhos". Aqui é necessário observar sobretudo a importante atitude relativa ao ensino (cf. também 1Tm 5,17), do qual se encontram ecos inclusive noutros trechos (cf. 1Tm 6,2 c 2Tm 3,10 Tt 2,1), e depois uma especial característica pessoal, a da "paternidade". Com efeito, o bispo é considerado pai da comunidade cristã (cf. também 1Tm 3,15). De resto, a ideia de Igreja como "casa de Deus" mergulha as suas raízes no Antigo Testamento (cf. Nb 12,7) e encontra-se reformulada em He 3,2 He 3,6, enquanto alhures se lê que todos os cristãos não são mais estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus (cf. Ep 2,19).

Oremos ao Senhor e a São Paulo para que também nós, como cristãos, possamos caracterizar-nos cada vez mais, em relação à sociedade em que vivemos, como membros da "família de Deus". E rezemos ainda para que os Pastores da Igreja adquiram sentimentos cada vez mais paternos e ao mesmo tempo ternos e fortes, na formação da Casa de Deus, da comunidade, da Igreja.

Saudações

Com alegria tomei conhecimento da notícia da eleição do Metropolita Cirilo como novo Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias. Invoco sobre ele a luz do Espírito Santo para um generoso serviço à Igreja ortodoxa russa, confiando-o à especial protecção da Mãe de Deus.

A todos os peregrinos de língua portuguesa, especialmente aos brasileiros provindos de diversas partes do País, envio uma afetuosa saudação, rogando a Deus que este encontro com o Sucessor de Pedro vos leve a um sempre maior compromisso com a Igreja reunida na caridade e, como “membros da família de Deus”, saibam servi-la com generosidade para a edificação do Reino de Deus neste mundo. Com a minha Bênção Apostólica.

Comunicados

Na homilia pronunciada por ocasião da solene inauguração do meu Pontificado, disse que a tarefa "explícita" do Pastor é "o apelo à unidade", e comentando as palavras evangélicas relativas à pesca milagrosa, disse: "embora os peixes fossem muitos, a rede não se rompeu", e continuei então com estas palavras evangélicas: "Oh, amado Senhor, ela a rede agora rompeu-se, queríamos dizer cheios de dor". E continuei: "Mas não não devemos ficar tristes! Alegramo-nos pela tua promessa que não desilude e fazemos tudo o possível para percorrer o caminho rumo à unidade que Tu prometeste... Não permitas, Senhor, que a tua rede se rompa e ajuda-nos a ser servos da unidade". Precisamente no cumprimento deste serviço à unidade, que qualifica de modo específico o meu ministério de Sucessor de Pedro, há dias decidi conceder a remoção da excomunhão em que tinham incorrido os quatro Bispos ordenados em 1988 por D. Lefebvre sem mandato pontifício. Cumpri este gesto de misericórdia paterna, porque estes Prelados me manifestaram reiteradamente o seu profundo sofrimento pela situação em que vieram a encontrar-se. Formulo votos por que, por sua vez, dêem os outros passos necessários para realizar a plena comunhão com a Igreja, testemunhando assim verdadeira fidelidade e autêntico reconhecimento do magistério e da autoridade do Papa e do Concílio Vaticano II.

Nestes dias em que recordamos o Shoah, voltam-me à memória as imagens recolhidas nas minhas várias visitas a Auschwitz, um dos lagers onde se consumiu o feroz massacre de milhões de judeus, vítimas inocentes de um cego ódio racial e religioso. Enquanto renovo com afecto a expressão da minha plena e indiscutível solidariedade para como os nossos irmãos destinatários da primeira Aliança, desejo que a memória do Shoah leve a humanidade a reflectir sobre o poder imprevisível do mal, quando conquista o coração do homem. O Shoah seja para todos uma admoestação contra o esquecimento, a negação e o reducionismo, para que a violência feita contra um só ser humano é violência contra todos. Nenhum homem é uma ilha, escreveu um famoso poeta. O Shoah ensine, quer às velhas gerações quer às novas, que somente o árduo caminho da escuta e do diálogo, do amor e do perdão leva os povos, as culturas e as religiões do mundo à almejada meta da fraternidade e da paz na verdade. A violência nunca mais humilhe a dignidade do homem!




Sala Paulo VI

4 de Fevereiro de 2009: São Paulo (20): O martírio e a herança de São Paulo

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Caros irmãos e irmãs

A série das nossas catequeses sobre a figura de São Paulo chegou ao fim: hoje, queremos falar do final da sua vida terrena. A antiga tradição cristã testemunha unanimemente que a morte de Paulo teve lugar como consequência do martírio padecido aqui em Roma. Os escritos do Novo Testamento não se referem a este facto. Os Actos dos Apóstolos terminam a sua narração mencionando a condição de aprisionamento do Apóstolo, que todavia podia acolher todos aqueles que iam ter com ele (cf.
Ac 28,30-31). Só na segunda Carta a Timóteo encontramos estas suas palavras previdentes: "Quanto a mim, estou pronto para verter o meu sangue em libação; e o tempo da minha partida já se aproxima" (2Tm 4,6 cf. Ph 2,17). Aqui são usadas duas imagens, a cultual do sacrifício, já utilizada na Carta aos Filipenses, interpretando o martírio como parte do sacrifício de Cristo, e a marítima, de desatar as amarras: duas imagens que, juntas, aludem discretamente ao acontecimento da morte, e de uma morte cruenta.

O primeiro testemunho explícito sobre a morte de São Paulo vem-nos da segunda metade dos anos 90 do século I, portanto pouco mais de três décadas após a sua morte efectiva. Trata-se precisamente da Carta que a Igreja de Roma, com o seu Bispo Clemente I, escreveu à Igreja de Corinto. Naquele texto epistolar convida-se a ter diante dos olhos o exemplo dos Apóstolos e, imediatamente depois de ter mencionado o martírio de Pedro, lê-se assim: "Pelo ciúme e a discórdia, Paulo foi obrigado a mostrar-nos como se alcança o prémio da paciência. Aprisionado sete vezes, exilado, lapidado, foi o arauto de Cristo no Oriente e no Ocidente, e pela sua fé alcançou para si uma glória pura. Depois de ter anunciado a justiça ao mundo inteiro, e após ter chegado até à extremidade do Ocidente, padeceu o martírio diante dos governantes; assim, partiu deste mundo e chegou ao lugar santo, tornando-se deste modo o maior modelo de paciência" (1 Clem 5, 2). A paciência de que fala é expressão da sua comunhão na paixão de Cristo, da generosidade e constância com as quais aceitou um longo caminho de sofrimento, a ponto de poder dizer: "Trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus" (Ga 6,17). Ouvimos no texto de São Clemente que Paulo teria chegado até à "extremidade do Ocidente". Debate-se se esta é uma referência a uma viagem à Espanha, que São Paulo teria realizado. Não existe certeza acerca disto, mas é verdade que, na sua Carta aos Romanos, São Paulo manifesta a sua intenção de ir à Espanha (cf. Rm 15,24).

Aliás, é muito interessante na Carta de Clemente a sucessão dos dois nomes de Pedro e de Paulo, embora eles sejam invertidos no testemunho de Eusébio de Cesareia, do século iv que, falando do imperador Nero, escreverá: "Durante o seu reino, Paulo foi decapitado precisamente em Roma, e aí Pedro foi crucificado. A narração é confirmada pelo nome de Pedro e de Paulo, que ainda hoje está conservado nos seus sepulcros nessa cidade" (Hist. Eccl., 2, 25, 5). Depois Eusébio continua, citando a declaração precedente de um presbítero romano de nome Gaio, que remonta aos primórdios do século II: "Posso mostrar-te os troféus dos Apóstolos: se fores ao Vaticano, ou à Via Ostiense, aí encontrarás os troféus dos fundadores da Igreja" (Ibid., 2, 25, 6-7). Os "troféus" são os monumentos sepulcrais, e trata-se precisamente das sepulturas de Pedro e de Paulo que ainda hoje, depois de dois milénios, nós veneramos nos mesmos lugares: tanto aqui no Vaticano, no que se refere a São Pedro, como na Basílica de São Paulo fora dos Muros na Via Ostiente, no que diz respeito ao Apóstolo das Nações.

É interessante relevar que os dois grandes Apóstolos são mencionados em conjunto. Embora nenhuma fonte antiga fale de um seu ministério contemporâneo em Roma, a consciência cristã sucessiva, com base no seu sepultamento comum na capital do império, associá-los-á também como fundadores da Igreja de Roma. Com efeito, é assim que se lê em Ireneu de Lião, quase no final do século II, a propósito da sucessão apostólica nas várias Igrejas: "Dado que seria demasiado longo enumerar as sucessões de todas as Igrejas, consideraremos a Igreja grandíssima e antiquíssima que todos nós conhecemos, a Igreja fundada e estabelecida em Roma pelos dois gloriosíssimos Apóstolos Pedro e Paulo" (Adv. haer., 3, 3, 2).

Porém, agora deixemos de lado a figura de Pedro e concentremo-nos na figura de Paulo. O seu martírio é narrado pela primeira vez pelos Actos de Paulo, escritos por volta do final do século II. Eles referem que Nero o condenou à morte por decapitação, executada imediatamente em seguida (cf. 9, 5). A data da morte varia já nas fontes antigas, que a inserem entre a perseguição desencadeada pelo próprio Nero depois do incêndio de Roma em Julho de 64 e o último ano do seu reino, ou seja, 68 (cf. Jerónimo, De viris ill., 5, 8). O cálculo depende muito da cronologia da chegada de Paulo a Roma, um debate que não podemos abordar aqui. Tradições sucessivas especificarão mais dois elementos. Um, o mais legendário, é que o martírio teve lugar nas Acquae Salviae na Via Laurentina, com um tríplice ricochete da cabeça, cada um dos quais causou a saída de um jorro de água, pelo que o lugar até hoje é chamado das "Três Fontes" (Actos de Pedro e Paulo do Pseudomarcelo, do século V). O outro, em consonância com o antigo testemunho já mencionado do presbítero Gaio, é que a sua sepultura teve lugar não só "fora da cidade... na segunda milha ao longo da Via Ostiense", mas mais precisamente "na propriedade de Lucina", que era uma matrona cristã (Paixão de Paulo do Psuedoabdia, do século VI). Aqui, no século IV, o imperador Constantino erigiu uma primeira igreja, em seguida grandemente ampliada entre os séculos IV e V pelos imperadores Valentiniano II, Teodósio e Arcádio. Depois do incêndio de 1800, aí foi erigida a actual Basílica de São Paulo fora dos Muros.

De qualquer modo, a figura de São Paulo sobressai muito além da sua vida terrena e da sua morte; com efeito, ele deixou uma herança espiritual extraordinária. Como verdadeiro discípulo de Jesus, também ele se tornou sinal de contradição. Enquanto entre os chamados "ebionitas" uma corrente judaico-cristã era considerado como apóstata pela lei mosaica, já no livro dos Actos dos Apóstolos nasce uma grande veneração pelo Apóstolo Paulo. Agora, gostaria de prescindir da literatura apócrifa, como os Actos de Paulo e Tecla e um epistolário apócrifo entre o Apóstolo Paulo e o filósofo Séneca. É importante constatar sobretudo que, depressa, as Cartas de São Paulo entram na liturgia, onde a estrutura profeta-apóstolo-Evangelho é determinante para a forma da liturgia da Palavra. Assim, graças a esta "presença" na liturgia da Igreja, o pensamento do Apóstolo torna-se imediatamente alimento espiritual dos fiéis de todos os tempos.

É óbvio que os Padres da Igreja e depois todos os teólogos se alimentaram das Cartas de São Paulo e da sua espiritualidade. Assim ele permaneceu ao longo dos séculos, até hoje, o verdadeiro mestre e apóstolo das nações. O primeiro comentário patrístico que chegou até nós sobre um escrito do Novo Testamento é o do grande teólogo alexandrino Orígenes, que comenta a Carta de Paulo aos Romanos.Infelizmente, este comentário só se conservou de forma parcial. Além de ser comentador das suas Cartas, São João Crisóstomo escreveu sobre ele sete Panegíricos memoráveis. Santo Agostinho deverá a ele a passagem decisiva da sua conversão, e voltará a Paulo durante toda a sua vida. Deste diálogo permanente com o Apóstolo deriva a sua grande teologia católica, e também para a protestante de todos os tempos. São Tomás de Aquino deixou-nos um bonito comentário às Cartas paulinas, que representa o fruto mais maduro da exegese medieval. Uma verdadeira inversão verificou-se no século XVI, com a Reforma protestante. O momento decisivo na vida de Lutero foi o chamado "Turmerlebnis" (1517), em que num instante ele encontrou uma nova interpretação da doutrina paulina da justificação. Uma interpretação que o libertou dos escrúpulos e dos anseios da sua vida precedente e lhe deu uma confiança nova e radical na bondade de Deus que perdoa tudo incondicionalmente. A partir desse momento, Lutero identificou o legalismo judaico-cristão, condenado pelo Apóstolo, com a ordem de vida da Igreja católica. Portanto, a Igreja pareceu-lhe como que expressão da escravidão da lei à qual opôs a liberdade do Evangelho. O Concílio de Trento, de 1545 a 1563, interpretou de modo profundo a questão da justificação e encontrou na linha de toda a tradição católica a síntese entre lei e Evangelho, em conformidade com a mensagem da Sagrada Escritura, lida na sua totalidade e unidade.

O século XIX, recebendo a melhor herança do Iluminismo, conheceu uma nova revivescência do paulinismo, agora sobretudo no plano do trabalho científico, desenvolvido pela interpretação histórico-crítica da Sagrada Escritura, como depois no século XX surgiu uma verdadeira e própria difamação de São Paulo. Penso principalmente em Nietsche, que escarnecia da teologia da humildade de São Paulo, opondo-lhe a sua teologia do homem forte e poderoso. Porém, prescindamos disto e vejamos a corrente essencial da nova interpretação científica da Sagrada Escritura e do novo paulinismo desse século. Aqui foi sublinhado sobretudo como central no pensamento paulino o conceito de liberdade: nele viu-se o cerne do pensamento paulino, como de resto Lutero já tinha intuído. Porém, agora o conceito de liberdade passava a ser reinterpretado no contexto do liberalismo moderno. Além disso, é salientada vigorosamente a diferenciação entre o anúncio de São Paulo e o anúncio de Jesus. E São Paulo aparece quase como um novo fundador do cristianismo. É verdade que em São Paulo a centralidade do Reino de Deus, determinante para o anúncio de Jesus, se transforma na centralidade da cristologia, cujo ponto determinante é o mistério pascal. E do mistério pascal derivam os Sacramentos do Baptismo e da Eucaristia, como presença permanente deste mistério, a partir do qual cresce o Corpo de Cristo e se constrói a Igreja. Mas diria, agora sem entrar em pormenores, que é precisamente na nova centralidade da cristologia e do mistério pascal que se realiza o Reino de Deus, tornando-se concreto, presente e activo o anúncio autêntico de Jesus. Nas catequeses precedentes vimos que exactamente esta novidade paulina é a fidelidade mais profunda ao anúncio de Jesus. No progresso da exegese, sobretudo nos últimos duzentos anos, aumentam também as convergências entre exegese católica e exegese protestante, alcançando-se assim um consenso notável precisamente no ponto que esteve da origem da máxima divergência histórica. Portanto, é uma grande esperança para a causa do ecumenismo, tão fulcral para o Concílio Vaticano II.

Enfim, gostaria de mencionar brevemente os vários movimentos religiosos, surgidos na idade moderna no interior da Igreja católica, que se inspiram no nome de São Paulo. Assim aconteceu no século XVI, com a "Congregação de São Paulo", chamada dos Barnabitas; no século XIX, com os "Missionários de São Paulo", ou Paulinos; e no século XX, com a poliédrica "Família Paulina", fundada pelo Beato Giacomo Alberione, para não falar do Instituto Secular da "Companhia de São Paulo". Em síntese, permanece luminosa diante de nós a figura de um apóstolo e um pensador cristão extremamente fecundo e profundo, de cuja aproximação cada um pode haurir benefício. Num dos seus panegíricos, São João Crisóstomo instaurou uma comparação original entre Paulo e Noé, expressando-se assim: Paulo "não uniu eixos para fabricar uma arca; pelo contrário, em vez de unir tábuas de madeira, compôs cartas e assim salvou do meio das ondas não dois, três ou cinco membros da própria família, mas toda a ecumene que estava prestes a perecer" (Paneg., 1, 5). É precisamente isto que o Apóstolo Paulo ainda e sempre pode fazer. Portanto, inspirar-se nele, tanto no seu exemplo apostólico como na sua doutrina, será um estímulo, se não uma garantia, para a consolidação da identidade cristã de cada um de nós e para o refortalecimento de toda a Igreja.

Apelo

A situação no Sri Lanka continua a suscitar preocupação. As notícias da recrudescência do conflito e do crescente número de vítimas inocentes induzem-me a dirigir um apelo urgente aos combatentes, a fim de que respeitem o direito humanitário e a liberdade de movimento da população. Façam o possível para garantir a assistência aos feridos e a segurança aos civis, e permitam a satisfação das suas urgentes necessidades alimentares e médicas.

A Santa Virgem de Madhu, muito venerada pelos católicos e também pelos pertencentes a outras religiões, apresse o dia da paz e da reconciliação nesse querido país.





Praça de São Pedro

10 de Junho de 2009: João Escoto Erígena


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