Audiências 2005-2013 20512

Quarta-feira, 2 de Maio de 2012

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Queridos irmãos e irmãs,

Nas últimas Catequeses vimos como, na oração pessoal e comunitária, a leitura e a meditação da Sagrada Escritura abrem à escuta de Deus que nos fala e infundem luz para compreeender o presente. Hoje, gostaria de falar sobre o testemunho e a oração do primeiro mártir da Igreja, santo Estêvão, um dos sete escolhidos para o serviço da caridade para com os necessitados. No momento do seu martírio, narrado pelos Actos dos Apóstolos, manifesta-se mais uma vez a fecunda relação entre a Palavra de Deus e a oração.

Estêvão é conduzido ao tribunal, diante do Sinédrio, onde é acusado de ter declarado que «Jesus... destruiria este lugar [o templo], e mudaria as regras que Moisés nos legou» (
Ac 6,14). Com efeito, durante a sua vida pública, Jesus tinha prenunciado a destruição do templo de Jerusalém: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei» (Jn 2,19). Todavia, como anota o evangelista João, «Ele... falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito, e acreditaram na Escritura e nas palavras que tinha proferido» (Jn 2,21-22).

O discurso de Estêvão diante do tribunal, o mais longo dos Actos dos Apóstolos, desenvolve-se precisamente a respeito desta profecia de Jesus, que é o novo templo, inaugura o novo culto e substitui, com a oferta que faz de Si mesmo na cruz, os sacrifícios antigos. Estêvão quer demonstrar como é infundada a acusação que lhe é dirigida, de alterar a lei de Moisés, e explica a sua visão da história da salvação, da aliança entre Deus e o homem. Assim, ele relê toda a narração bíblica, itinerário contido na Sagrada Escritura, para mostrar que ele conduz ao «lugar» da presença definitiva de Deus, que é Jesus Cristo, em particular a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Nesta perspectiva, Estêvão lê também o seu ser discípulo de Jesus, seguindo-o até ao martírio. A meditação sobre a Sagrada Escritura permite-lhe, assim, compreender a sua missão, a sua vida e o seu presente. Nisto, ele é orientado pela luz do Espírito Santo, pela sua relação íntima com o Senhor, a tal ponto que os membros do Sinédrio viram que o seu rosto era «como o de um Anjo» (Ac 6,15). Tal sinal de assistência divina evoca o rosto resplandecente de Moisés que descia do monte Sinai, depois de ter encontrado Deus (cf. Ex 34,29-35 e 2Co 3,7-8).

No seu discurso, Estêvão começa a partir da chamada de Abraão, peregrino rumo à terra indicada por Deus, e que a possuiu só a nível de promessa; depois, passa a José, vendido pelos irmãos mas assistido e libertado por Deus, para enfim chegar a Moisés, que se torna instrumento de Deus para libertar o seu povo, mas encontra também e várias vezes a rejeição da sua própria gente. Nestes acontecimentos narrados pela Sagrada Escritura, da qual Estêvão demonstra que está em religiosa escuta, sobressai sempre Deus, que não se cansa de ir ao encontro do homem, não obstante encontre com frequência uma oposição obstinada. E isto no passado, no presente e no futuro. Portanto, em todo o Antigo Testamento ele vê a prefiguração da vicissitude do próprio Jesus, o Filho de Deus que se fez carne e que — como os antigos Padres — encontra obstáculos, rejeição e morte. Em seguida, Estêvão refere-se a Josué, a David e a Salomão, postos em relação com a construção do templo de Jerusalém, e conclui com as palavras do profetas Isaías (Is 66,1-2): «O Céu é o meu trono, e a Terra, estrado dos meus pés. Que casa me haveis de construir... e qual será o lugar do meu repouso? Não foi a minha mão que fez todas as coisas?» (Ac 7,49-50). Na sua meditação sobre o agir de Deus na história da salvação, evidenciando a tentação perene de rejeitar Deus e a sua acção, ele afirma que Jesus é o Justo anunciado pelos profetas; nele, foi o próprio Deus que se tornou presente de modo singular e definitivo: Jesus é o «lugar» do culto verdadeiro. Estêvão não nega a importância do templo durante um certo tempo, mas ressalta que «o Altíssimo não habita em casas erguidas pela mão do homem» (Ac 7,48). O novo templo em que Deus habita é o seu Filho, que assumiu a carne humana, é a humanidade de Cristo, o Ressuscitado que congrega os povos e que os une no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. A expressão acerca do templo «não erguido pela mão do homem», encontra-se inclusive na teologia de são Paulo e a Carta aos Hebreus: o corpo de Jesus, que Ele assumiu para se oferecer a si mesmo como vítima sacrifical para expiar os pecados, é o novo templo de Deus, o lugar da presença do Deus vivo; nele, Deus e o homem, Deus e o mundo estão realmente em contacto: Jesus assume sobre si todo o pecado da humanidade, para o levar ao amor de Deus e para o «fazer arder» neste amor. Aproximar-se da Cruz, entrar em comunhão com Cristo, quer dizer entrar nesta transformação. E isto significa entrar em contacto com Deus, entrar no templo verdadeiro.

Repentinamente, a vida e o discurso de Estêvão interrompem-se com a lapidação, mas precisamente o seu martírio é o cumprimento da sua vida e da sua mensagem: ele torna-se um só com Cristo. Assim, a sua meditação sobre o agir de Deus na história, sobre a Palavra divina que em Jesus encontrou o seu pleno cumprimento, torna-se uma participação na própria oração da Cruz. Com efeito, antes de morrer ele exclama: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito» (Ac 7,59), apropriando-se das palavras do Salmo 31 (cf. v. Ps 31,6) e imitando a última expressão de Jesus no Calvário: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,46); e enfim, como Jesus, brada com voz forte àqueles que o apedrejavam: «Senhor, não lhes atribuas este pecado!» (Ac 7,60). Observemos que, se por um lado a oração de Estêvão retoma a prece de Jesus, diverso é o destinatário, uma vez que a invocação é dirigida ao próprio Senhor, ou seja a Jesus, que ele contempla glorificado à direita do Pai: «Olhai... vejo os Céus abertos e o Filho do Homem de pé, à direita de Deus» (v. Ac 7,56).

Caros irmãos e irmãs, o testemunho de santo Estêvão oferece-nos algumas indicações para a nossa oração e a nossa vida. Podemos interrogar-nos: de onde tirou este primeiro mártir cristão a força para enfrentar os seus perseguidores e chegar até ao dom de si mesmo? A resposta é simples: da sua relação com Deus, da sua comunhão com Cristo, da meditação sobre a história da salvação, da visão do agir de Deus, que em Jesus Cristo alcançou o ápice. Também a nossa oração deve ser alimentada pela escuta da Palavra de Deus, na comunhão com Jesus e com a sua Igreja.

Um segundo elemento: santo Estêvão vê prenunciada, na história da relação de amor entre Deus e o homem, a figura e a missão de Jesus. Ele — o Filho de Deus — é o templo «não erguido pela mão do homem», em quem a presença de Deus Pai se fez tão próxima a ponto de entrar na nossa carne humana para nos levar a Deus, para nos abrir as portas do Céu. Então, a nossa oração deve ser contemplação de Jesus à direita de Deus, de Jesus como Senhor da nossa, da minha, existência quotidiana. Nele, sob a guia do Espírito Santo, também nós podemos dirigir-nos a Deus, entrar em contacto real com Deus, com a confiança e o abandono dos filhos que se dirigem a um Pai que os ama de modo infinito. Obrigado!

Saudação

Nesta comunhão com Cristo, dou as boas-vindas aos peregrinos de língua portuguesa, em particular aos grupos brasileiros de Fortaleza e Salgueiro. A todos saúdo e exorto a conhecer melhor e seguir o exemplo de Nossa Senhora neste mês de Maio, que Lhe é especialmente dedicado. Procurai vivê-lo com uma oração diária mais intensa e fiel, em particular pela reza do terço, conforme recomendação da Santa Igreja e desejo repetidamente expresso pela Virgem Maria. A esta exortação, junto os meus votos de todo o bem para vós e vossas famílias, com uma propiciadora Bênção Apostólica. Obrigado!




Praça de São Pedro

Quarta-feira, 9 de Maio de 2012

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Queridos irmãos e irmãs,

Hoje gostaria de meditar sobre o último episódio da vida de são Pedro, narrado nos Actos dos Apóstolos: o seu aprisionamento por vontade de Herodes Agripa e a sua libertação através da intervenção prodigiosa do Anjo do Senhor, na vigília do seu processo em Jerusalém (cf.
Ac 12,1-17).

A narração é mais uma vez caracterizada pela oração da Igreja. Com efeito, são Lucas escreve: «Enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja orava a Deus instantemente por ele» (Ac 12,5). E, depois de ter deixado milagrosamente o cárcere, por ocasião da sua visita à casa de Maria, mãe de João chamado Marcos, afirma-se que «numerosos fiéis estavam reunidos a orar» (Ac 12,12). Entre estas duas anotações importantes que explicam a atitude da comunidade cristã diante do perigo e da perseguição, são narradas a detenção e a libertação de Pedro, que dura a noite inteira. A força da oração incessante da Igreja eleva-se até Deus e o Senhor ouve e realiza uma libertação impensável e inesperada, enviando o seu Anjo.

A narração evoca os grandes elementos da libertação de Israel da escravidão do Egipto, a Páscoa judaica. Como aconteceu naquele evento fundamental, também aqui o gesto principal é levado a cabo pelo Anjo do Senhor, que liberta Pedro. E se as próprias acções do Apóstolo — ao qual se pede que levante depressa, ponha o cinto e cinja os rins — corroboram as do povo eleito na noite da libertação por intervenção de Deus, quando foi convidado a comer depressa o cordeiro com os rins cingidos, as sandálias aos pés, o cajado na mão, pronto para sair do país (cf. Ex 12,11). Assim, Pedro pode exclamar: «Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o seu anjo e me arrancou das mãos de Herodes» (Ac 12,11). Mas o Anjo evoca não apenas aquele da libertação de Israel do Egipto, mas também o da Ressurreição de Cristo. Com efeito, narram os Actos dos Apóstolos: «De repente, apareceu o Anjo do Senhor e a masmorra foi inundada de luz, tocando-lhe no lado, e disse-lhe: “Ergue-te depressa”» (Ac 12,7). A luz que enche o espaço da prisão e o próprio gesto de acordar o apóstolo estão relacionadas com a luz libertadora da Páscoa do Senhor que vence as trevas da noite e do mal. Finalmente, o convite: «Cobre-te com a capa e segue-me» (Ac 12,8), faz ressoar no coração as palavras da chamada inicial de Jesus (cf. Mc 1,17), repetida depois da Ressurreição no lago de Tiberíades, onde o Senhor diz duas vezes a Pedro: «Segue-me» (Jn 21,19 Jn 21,22). É um convite premente ao seguimento: só vivemos a liberdade verdadeira se sairmos de nós mesmos, para nos colocarmos a caminho com o Senhor e cumprirmos a sua vontade.

Gostaria de ressaltar também outro aspecto da atitude de Pedro no cárcere; com efeito, notemos que, enquanto a comunidade cristã reza com insistência por ele, Pedro «estava a dormir» (Ac 12,6). Numa situação tão crítica e de perigo sério, é uma atitude que pode parecer estranha, mas que ao contrário denota tranquilidade e confiança; ele confia em Deus, sabe que está circundado pela solidariedade e pela oração dos seus e abandona-se totalmente nas mãos do Senhor. Assim deve ser a nossa oração: assídua, solidária com os outros, plenamente confiante em relação a Deus, que nos conhece no íntimo e cuida de nós, a tal ponto que — diz Jesus — «até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados! Não temais, pois...» (Mt 10,30-31). Pedro vive a noite do cativeiro e da libertação do cárcere como um momento do seu seguimento do Senhor, que vence as trevas da noite e liberta da escravidão das correntes e do perigo de morte. A sua libertação é prodigiosa, caracterizada por vários trechos descritos cuidadosamente: orientado pelo Anjo, não obstante a vigilância dos guardas, atravessa o primeiro e o segundo posto de guarda, até à porta de ferro que introduz na cidade: e a porta abre-se sozinha diante deles (cf. Ac 12,10). Pedro e o Anjo do Senhor percorrem juntos uma parte do caminho até que, voltando a si, o apóstolo se dá conta de que o Senhor realmente o libertou e, depois de ter meditado, vai à casa de Maria, mãe de Marcos, onde muitos dos discípulos estão reunidos em oração; mais uma vez, a resposta da comunidade à dificuldade e ao perigo é confiar em Deus, intensificar a relação com Ele.

Aqui, parece-me útil evocar outra situação difícil, que foi vivida pela comunidade cristã das origens. Fala-nos dela são Tiago na sua Carta. Trata-se de uma comunidade em crise, em dificuldade, não tanto devido às perseguições, mas porque no seu interior há invejas e conflitos (cf. Jc 3,14-16). E o apóstolo interroga-se acerca do motivo desta situação. Ele encontra duas razões principais: a primeira é deixar-se dominar pelas paixões, pela ditadura dos próprios desejos, pelo egoísmo (cf. Jc 4,1-2a); a segunda é a falta de oração — «não pedis» (Jc 4,2b) – ou a presença de uma oração que não se pode definir como tal — «Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para satisfazer os vossos prazeres» (Jc 4,3). Segundo são Tiago, esta situação mudaria se a comunidade falasse totalmente unida com Deus, se rezasse realmente de modo assíduo e unânime. Com efeito, também o discurso sobre Deus corre o risco de perder a sua força interior e o testemunho esgota-se, se não forem animados, sustentados e acompanhados pela oração, pela continuidade de um diálogo vivo com o Senhor. Uma exortação importante inclusive para nós e para as nossas comunidades, quer pequenas, como a família, quer as mais vastas, como a paróquia, a diocese e a Igreja inteira. E isto faz-me pensar que rezavam nesta comunidade de são Tiago, mas rezaram mal, somente para satisfazer os próprios prazeres. Temos que aprender sempre de novo a rezar bem, a orar realmente, orientando-nos para Deus e não para o nosso próprio bem.

Ao contrário, a comunidade que acompanha o cativeiro de Pedro é uma comunidade que reza verdadeiramente, durante a noite inteira, unida. E a alegria que invade o coração de todos quando, inesperadamente, o apóstolo bate à porta é irreprimível. São a alegria e a admiração diante da obra de Deus que ouve. Assim, da Igreja eleva-se a oração por Pedro, e na Igreja ele volta para narrar «como o Senhor o tinha tirado da prisão» (Ac 12,17). Naquela Igreja onde ele é posto como rocha (cf. Mt 16,18), Pedro narra a sua «Páscoa» de libertação: ele experimenta que no seguimento de Jesus encontra a liberdade verdadeira, é envolvido pela luz resplandecente da Ressurreição e por isso pode testemunhar até ao martírio que o Senhor é o Ressuscitado e «que verdadeiramente o Senhor enviou o seu anjo e o arrancou das mãos de Herodes» (Ac 12,11). O martírio que depois padecerá em Roma uni-lo-á definitivamente a Cristo, que lhe tinha dito: quando fores velho, outro te há-de levar para onde não queres, para indicar o tipo de morte com que ele havia de dar glória a Deus (cf. Jn 21,18-19).

Caros irmãos e irmãs, o episódio da libertação de Pedro, narrado por Lucas, diz-nos que a Igreja, cada um de nós, atravessa a noite da provação, mas é a vigilância incessante da oração que nos sustém. Também eu, desde o primeiro momento da minha eleição como Sucessor de são Pedro, sempre me senti sustentado pela vossa oração, pelas preces da Igreja, principalmente nos momentos mais difíceis. Agradeço de coração. Com a oração constante e confiante, o Senhor liberta-nos das cadeias, guia-nos para atravessar qualquer noite de cativeiro que possa afligir o nosso coração, infunde-nos a serenidade do coração para enfrentar as dificuldades da vida, até a rejeição, a oposição e a perseguição. O episódio de Pedro mostra esta força da oração. E mesmo aprisionado, o apóstolo sente-se tranquilo, na certeza de que nunca está sozinho: a comunidade reza por ele, o Senhor está-lhe próximo; aliás, ele sabe que «a força de Cristo se manifesta plenamente na fraqueza» (2Co 12,9). A oração constante e unânime é um instrumento precioso também para superar as provações que podem surgir ao longo do caminho da vida, porque o facto de estarmos profundamente unidos a Deus permite-nos estar também profundamente unidos aos outros. Obrigado!

Saudação

Saúdo os grupos nomeados de Portugal e do Brasil e todos os peregrinos lusófonos presentes nesta Audiência, particularmente os sacerdotes da Diocese de Zé Doca, acompanhados de seu Bispo, Dom Carlo Ellena. Assim como a oração da primeira comunidade sustentou Pedro na dificuldade, hoje também o seu Sucessor sabe que pode contar com as vossas orações. Que Deus vos abençoe. Obrigado!


Praça de São Pedro

Quarta-feira, 16 de Maio de 2012

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Queridos irmãos e irmãs

Nas últimas catequeses pudemos meditar sobre a oração nos Actos dos Apóstolos, e hoje gostaria de começar a falar acerca da oração nas Cartas de são Paulo, o Apóstolo das nações. Antes de tudo, gostaria de observar que não é ocasional, que as suas Cartas sejam introduzidas e terminem com expressões de oração: no início, acção de graças e louvor, e no final, bons votos a fim de que a graça de Deus oriente o caminho das comunidades às quais se dirigem as Cartas. Entre a fórmula de abertura: «Dou graças ao meu Deus, por meio de Jesus Cristo» (
Rm 1,8), e os votos finais: a «graça do Senhor Jesus Cristo esteja com todos vós» (1Co 16,23), desenvolvem-se os conteúdos das Cartas do Apóstolo. A de são Paulo é uma oração que se manifesta numa grande riqueza de formas que vão da acção de graças à bênção, do louvor ao pedido e à intercessão, do hino à súplica: uma variedade de expressões que demonstra como a oração envolve e penetra todas as situações da vida, tanto pessoais como das comunidades às quais se dirige.

Um primeiro elemento que o Apóstolo quer fazer-nos compreender é que a oração não deve ser vista como uma simples obra boa, realizada por nós a favor de Deus, uma nossa acção. É antes de tudo uma dádiva, fruto da presença viva, vivificadora do Pai e de Jesus Cristo em nós. Na Carta aos Romanos escreve: «O Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis» (Rm 8,26). E sabemos como é verdadeiro aquilo que o Apóstolo diz: «Não sabemos orar como convém». Desejamos rezar, mas Deus está distante, não dispomos das palavras, da linguagem para falar com Deus, nem sequer o pensamento. Só podemos abrir-nos, pôr o nosso tempo à disposição de Deus, esperar que Ele nos ajude a entrar num diálogo verdadeiro. O Apóstolo diz: precisamente esta falta de palavras, esta ausência de palavras, e no entanto este desejo de entrar em contacto com Deus, é oração que o Espírito Santo não só entende, mas leva, interpreta junto de Deus. É precisamente esta nossa debilidade que se torna, através do Espírito Santo, verdadeira oração, contacto autêntico com Deus. O Espírito Santo é o intérprete que nos faz compreender, a nós mesmos e a Deus, o que queremos dizer.

Na oração nós experimentamos, mais do que noutras dimensões da existência, a nossa debilidade, a nossa pobreza e o facto de sermos criaturas, porque somos colocados diante da omnipotência e da transcendência de Deus. E quanto mais progredimos na escuta e no diálogo com Deus, para que a oração se torne o suspiro quotidiano da nossa alma, tanto mais compreendemos também o sentido do nosso limite, não apenas diante das situações concretas de cada dia, mas inclusive na própria relação com o Senhor. Então, aumenta em nós a necessidade de nos confiarmos, de nos entregarmos cada vez mais a Ele; compreendemos que «não sabemos... rezar como convém» (Rm 8,26). E é o Espírito Santo que ajuda a nossa incapacidade, ilumina a nossa mente e aquece o nosso coração, orientando o nosso dirigir-nos a Deus. Para são Paulo, a oração é acima de tudo o agir do Espírito Santo na nossa humanidade, para assumir a nossa debilidade e para nos transformar de homens vinculados às realidade materiais em homens espirituais. Na Primeira Carta aos Coríntios, diz: «Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer as graças que Deus nos prodigalizou. E que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que exprime as coisas espirituais em termos espirituais» (1Co 2,2-13). Com o seu habitar na nossa fragilidade humana, o Espírito Santo transforma-nos, intercede por nós e conduz-nos rumo às alturas de Deus (cf. Rm 8,26).

É com esta presença do Espírito Santo que se realiza a nossa união com Cristo, porque se trata do Espírito do Filho de Deus, no qual nos tornamos filhos. São Paulo fala do Espírito de Cristo (cf. Rm 8,9), e não apenas do Espírito de Deus. É óbvio: se Cristo é o Filho de Deus, o seu Espírito é também Espírito de Deus e assim, se o Espírito de Deus, Espírito de Cristo, já se tornou muito próximo de nós no Filho de Deus e Filho do homem, o Espírito de Deus torna-se também espírito humano e toca-nos; podemos entrar na comunhão do Espírito. É como se dissesse que não só Deus Pai se fez visível na Encarnação do Filho, mas também o Espírito de Deus se manifesta na vida e na acção de Jesus, de Jesus Cristo, que viveu, foi crucificado, morreu e ressuscitou. O Apóstolo recorda que «ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor”, a não ser sob a acção do Espírito Santo» (1Co 12,3). Por conseguinte, o Espírito orienta o nosso coração rumo a Jesus Cristo, de modo que «já não somos nós que vivemos; é Cristo que vive em nós» (cf. Ga 2,20). Nas suas Catequeses sobre os Sacramentos, reflectindo sobre a Eucaristia, santo Ambrósio afirma: «Quem se inebria do Espírito está radicado em Cristo» (5, 3, 17: PL 16, 450).

E agora gostaria de pôr em evidência três consequências da nossa vida cristã, quando deixamos agir em nós, não o espírito do mundo, mas o Espírito de Cristo, como princípio interior de todo o nosso agir.

Antes de tudo, mediante a oração animada pelo Espírito, somos postos em condições de abandonar e ultrapassar todas as formas de medo ou de escravidão, vivendo a liberdade autêntica dos filhos de Deus. Sem a oração, que alimenta todos os dias o nosso estar em Cristo, numa intimidade que aumenta progressivamente, encontramo-nos na condição descrita por são Paulo na Carta aos Romanos: não fazemos o bem, que queremos, mas sim o mal, que não queremos (cf. Rm 7,19). E esta é a expressão da alienação do ser humano, da destruição da nossa liberdade, pelas circunstâncias do nosso ser para o pecado original: queremos o bem, que não fazemos, e fazemos aquilo que não queremos, ou seja o mal. O Apóstolo quer fazer-nos compreender que não é antes de tudo a nossa vontade que nos liberta destas condições, nem sequer a Lei, mas sim o Espírito Santo. E dado que, «onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade» (2Co 3,17), mediante a oração nós experimentamos a liberdade concedida pelo Espírito: uma liberdade autêntica, que é liberdade do mal e do pecado, para o bem e para a vida, para Deus. A liberdade do Espírito, acrescenta são Paulo, nunca se identifica com a libertinagem, nem com a possibilidade de fazer a escolha do mal, mas sim com o «fruto do Espírito, que é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura e temperança» (Ga 5,22-23). Esta é a liberdade autêntica: poder realmente seguir o desejo do bem, da alegria verdadeira, da comunhão com Deus, e não ser oprimido pelas circunstâncias que nos impelem para outros rumos.

Uma segunda consequência que se verifica na nossa vida, quando deixamos agir em nós o Espírito de Cristo, é que a relação com o próprio Deus se torna tão profunda, que não chega a ser impedida por qualquer realidade ou situação. Então, compreendemos que com a oração nós não somos libertados das provações, nem dos sofrimentos, mas podemos vivê-los em união com Cristo, com os seus sofrimentos, na perspectiva de participar também da sua glória (cf. Rm 8,17). Na nossa oração, nós muitas vezes pedimos a Deus para ser libertados do mal físico e espiritual, e fazemo-lo com grande confiança. No entanto, com frequência temos a impressão de que não somos escutados, e então corremos o risco de desanimarmos e de não perseverarmos. Na realidade, não há clamor humano que não seja escutado por Deus, e precisamente na oração constante e fiel nós compreendemos com são Paulo que «os sofrimentos da vida presente não têm qualquer proporção com a glória futura, que nos deve ser manifestada» (Rm 8,18). A oração não nos isenta da prova e dos sofrimentos mas, ao contrário — diz são Paulo — nós «gememos interiormente, aguardando a adopção filial, a redenção do nosso corpo» (Rm 8,23); ele diz que a oração não nos isenta do sofrimento, mas a oração permite-nos vivê-lo e enfrentá-lo com uma força renovada, com a mesma confiança de Jesus, que — segundo a Carta aos Hebreus — «nos dias da sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, Àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade» (He 5,7). A resposta de Deus Pai ao Filho, aos seus fortes clamores e lágrimas, não foi a libertação dos sofrimentos, da cruz ou da morte, mas foi uma concessão muito maior, uma resposta muito mais profunda; através da cruz e da morte, Deus respondeu com a ressurreição do seu Filho, com a nova vida. A oração animada pelo Espírito Santo leva-nos, também a nós, a viver todos os dias o caminho da vida com as suas provações e os seus sofrimentos, na esperança completa, na confiança em Deus que responde como respondeu ao Filho.

E, em terceiro lugar, a oração do fiel abre-se também às dimensões da humanidade e de toda a criação, assumindo a «criação, que aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus» (Rm 8,19). Isto significa que a oração, sustentada pelo Espírito de Cristo que fala no íntimo de nós mesmos, jamais permanece fechada em si própria, nunca é uma oração apenas para mim, mas abre-se à partilha dos sofrimentos do nosso tempo, dos outros. Torna-se intercessão pelo próximo, e deste modo libertação de mim mesmo, canal de esperança para toda a criação, expressão daquele amor de Deus, que é derramado nos nossos corações através do Espírito que nos foi comunicado (cf. Rm 5,5). E precisamente este é um sinal de uma oração verdadeira, que não termina em nós mesmos, mas abre-se aos outros e assim liberta-me, e deste modo contribui para a redenção do mundo.

Dilectos irmãos e irmãs, são Paulo ensina-nos que na nossa oração devemos abrir-nos à presença do Espírito Santo, que ora em nós com gemidos inefáveis, para nos levar a aderir a Deus com todo o nosso coração e com todo o nosso ser. O Espírito de Cristo torna-se a força da nossa oração «fraca», a luz da nossa oração «apagada», o fogo da nossa prece «árida», conferindo-nos a verdadeira liberdade interior, ensinando-nos a viver enfrentando as provações da nossa existência, na certeza de que não estamos sozinhos, abrindo-nos aos horizontes da humanidade e da criação, «que geme e sofre como que dores de parto» (Rm 8,22). Obrigado!

Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, em particular os vários grupos vindos do Brasil, cuja peregrinação se detém hoje junto do túmulo de São Pedro e neste Encontro com o seu Sucessor: obrigado pela vossa presença e oração! A todos saúdo, confiando à Virgem Maria os vossos corações e os vossos passos para que neles se mantenha viva a luz de Deus. Para vós e vossas famílias, a minha Bênção!


Praça de São Pedro

Quarta-feira, 23 de Maio de 2012

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Queridos irmãos e irmãs,

Na quarta-feira passada demonstrei como são Paulo diz que o Espírito Santo é o grande mestre da oração e nos ensina a dirigir-nos a Deus com os termos carinhosos dos filhos, chamando-lhe: «Abbá, Pai». Assim fez Jesus; também no momento mais dramático da sua vida terrena, Ele nunca perdeu a confiança no Pai, e sempre O invicou com a intimidade do Filho amado. No Getsémani, quando sente a angústia da morte, a sua oração é: «Abbá! Pai! Tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Mas não se faça aquilo que Eu quero, e sim o que Tu queres» (
Mc 14,36).

Desde os primeiros passos do seu caminho, a Igreja acolheu esta invocação e fê-la própria, sobretudo na oração do Pai-Nosso, na qual recitamos quotidianamente: «Pai... seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu» (Mt 6,9-10). Nas Cartas de são Paulo encontramo-la duas vezes. Como há pouco ouvimos, o apóstolo dirige-se aos Gálatas com as seguintes palavras: «E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abbá! Pai!» (Ga 4,6). E no centro daquele cântico ao Espírito, que é o capítulo oito da Carta aos Romanos, são Paulo afirma: «E vós não recebestes um espírito que voz escraviza e volta a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que nós clamamos: “Abbá! Pai!”» (Rm 8,15). O cristianismo não é uma religião do medo, mas sim da confiança e do amor ao Pai que nos ama. Estas duas afirmações profundas falam-nos do envio e do acolhimento do Espírito Santo, o dom do Ressuscitado, que faz de nós filhos em Cristo, o Filho Unigénito, e insere-nos numa relação filial com Deus, relação de confiança profunda, como a das crianças; uma relação filial análoga à de Jesus, embora a origem e a consistência sejam diferentes: Jesus é o Filho eterno de Deus que se fez carne; quanto a nós, tornamo-nos filhos n’Ele, no tempo, mediante a fé a os Sacramentos do Baptismo e da Crisma; graças a estes dois Sacramentos somos inseridos no Mistério pascal de Cristo. O Espírito Santo é o dom precioso e necessário que nos torna filhos de Deus, que realiza aquela adopção filial à qual são chamados todos os seres humanos porque, como esclarece a bênção divina da Carta aos Efésios, em Cristo, Deus «escolheu-nos... antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor. Predestinou-nos para ser adoptados como seus filhos, por meio de Jesus Cristo» (Ep 1,4).

Talvez o homem de hoje não sinta a beleza, a grandeza e conforto profundo contidos na palavra «pai», com a qual podemos dirigir-nos a Deus na oração, porque hoje em dia a figura paterna com frequência não está suficientemente presente, e também muitas vezes não é suficientemente positiva na vida quotidiana. A ausência do pai, o problema de um pai não presente na vida do filho é uma grande chaga do nosso tempo, e por isso torna-se difícil compreender na sua profundidade o que significa que Deus é Pai para nós. Do próprio Jesus, da sua relação filial com Deus, podemos aprender o que quer dizer propriamente «pai», qual é a natureza autêntica do Pai que está nos céus. Alguns críticos da religião afirmaram que falar do «Pai», de Deus, seria uma projecção dos nossos pais para o céu. Mas é verdade o contrário: no Evangelho, Cristo mostra-nos quem é pai e como é um pai autêntico, de tal forma que podemos intuir a verdadeira paternidade, aprender também a paternidade genuína. Pensemos nas paralavras de Jesus no sermão da montanha, onde Ele diz: «Amai os vossos inimigos e orai por quantos vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu» (Mt 5,44-45). É precisamente o amor de Jesus, o Filho Unigénito — que chega ao dom de Si mesmo na cruz — que nos revela a natureza verdadeira do Pai: Ele é o Amor, e também nós, na nossa oração de filhos, entramos neste circuito de amor, amor de Deus que purifica as nossas aspirações e as nossas atitudes caracterizadas pelo fechamento, pela auto-suficiência e pelo egoísmo, típicos do homem velho.

Portanto, poderíamos dizer que em Deus o ser Pai tem duas dimensões. Antes de tudo, Deus é nosso Pai, porque é nosso Criador. Cada um de nós, cada homem e cada mulher, é um milagre de Deus, é desejado por Ele e conhecido pessoalmente por Ele. Quando, no Livro do Génesis, se afirma que o ser humano é criado à imagem de Deus (cf. Gn 1,27), quer-se expressar precisamente esta realidade: Deus é o nosso Pai, e para Ele nós não somos seres anónimos, impessoais, mas temos um nome. E um versículo dos Salmos emociona-me, quando o recito: «As tuas mãos plasmaram-me», reza o salmista (Ps 119,73). Cada um de nós pode expressar, com esta imagem bonita, a relação pessoal com Deus: «As tuas mãos plasmaram-me. Tu pensaste-me, criaste-me e desejaste-me». Mas isto ainda não é suficiente. O Espírito de Cristo abre-nos a uma segunda dimensão da paternidade de Deus, para além da criação, porque Jesus é o «Filho» em sentido integral, «da mesma substância do Pai», como professamos no Credo. Tornando-se um ser humano como nós, mediante a Encarnação, a Morte e a Ressurreição, Jesus por sua vez acolhe-nos na sua humanidade e no seu próprio ser Filho, e assim também nós podemos entrar na sua pertença específica a Deus. Sem dúvida, o nosso ser filhos de Deus não contém a plenitude de Jesus: devemos ser cada vez mais filhos, ao longo do caminho de toda a nossa existência cristã, crescendo no seguimento de Cristo, na comunhão com Ele, para entrar sempre mais intimamente na relação de amor com Deus Pai, que ampara a nossa vida. É esta realidade fundamental que nos é proporcionada, quando nos abrimos ao Espírito Santo e Ele nos faz dirigir a Deus, dizendo-lhe: «Abbá!», Pai! Realmente passamos para além da criação na adopção com Jesus; unidos, estamos verdadeiramente em Deus e somos filhos de um modo novo, numa dimensão renovada.

Mas agora gostaria de voltar a meditar sobre os dois trechos de são Paulo que estamos a considerar, acerca daquela acção do Espírito Santo na nossa oração, também aqui são dois excertos que se correspondem, embora contenham um matiz diverso. Com efeito, na Carta aos Gálatas o apóstolo afirma que o Espírito clama em nós: «Abbá! Pai!»; na Carta aos Romanos diz que somos nós que clamamos: «Abbá! Pai!». E são Paulo quer fazer-nos compreender que a oração cristã nunca é, jamais acontece, unilateralmente, de nós para Deus, mas constitui a expressão de uma relação recíproca em que Deus age primeiro: é o Espírito Santo que clama em nós, e nós podemos clamar porque o impulso provém do Espírito Santo. Não poderíamos rezar, se não estivesse gravado na profundidade do nosso coração o desejo de Deus, o ser filhos de Deus. Desde que existe, o homo sapiens está sempre à procura de Deus, procura falar com Deus, porque Deus se inscreveu a Si mesmo nos nossos corações. Por conseguinte, a primeira iniciativa vem de Deus e, mediante o Baptismo, Deus age de novo em nós, o Espírito Santo age em nós; é o primeiro iniciador da oração, para que depois possamos realmente falar com Deus e dizer a Deus: «Abbá!». Portanto, a sua presença abre a nossa oração e a nossa vida, abre aos horizontes da Trindade e da Igreja.

Além disso nós compreendemos, eis o segundo aspecto, que a oração do Espírito de Cristo em nós e a nossa n’Ele não é apenas um gesto individual, mas um acto de toda a Igreja. Quando rezamos, abre-se o nosso coração, entramos em comunhão não só com Deus, mas precisamente com todos os filhos de Deus, porque somos um só. E quando nos dirigimos ao Pai no nosso ambiente interior, no silêncio e no recolhimento, nunca estamos sós. Quem fala com Deus não está sozinho. Estamos na grande oração da Igreja, fazemos parte de uma grandiosa sinfonia que a comunidade cristã espalhada por todas as partes da terra e em todas as épocas eleva a Deus; sem dúvida, os músicos e os instrumentos são diferentes — e este é um elemento de riqueza — mas a melodia de louvor é uma só e está em harmonia. Então, cada vez que clamamos e dizemos: «Abbá! Pai!», é a Igreja, toda a comunhão dos homens em oração, que sustém a nossa invocação, e a nossa invocação é a invocação da Igreja. Isto reflecte-se na riqueza dos carismas, dos ministérios e das tarefas que desempenhamos na comunidade. São Paulo escreve aos cristãos de Corinto: «Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de ministérios, mas o Senhor é um só; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Senhor que realiza tudo em todos» (1Co 12,4-6). A prece guiada pelo Espírito Santo, que nos faz dizer: «Abbá! Pai!» com Cristo e em Cristo, insere-nos no único grande mosaico da família de Deus na qual cada um ocupa um lugar e desempenha um papel importante, em profunda unidade com tudo.

Mais uma anotação: nós aprendemos a clamar «Abbá!, Pai!» também com Maria, a Mãe do Filho de Deus. O cumprimento da plenitude do tempo, de que são Paulo fala na Carta aos Gálatas (cf. Ga 4,4), verifica-se no momento do «sim» de Maria, da sua adesão plena à vontade de Deus: «Eis-me, sou a serva do Senhor» (Lc 1,38).

Amados irmãos e irmãs, aprendamos a apreciar na nossa oração a beleza de ser amigos, aliás, filhos de Deus, de O poder invocar com a confidência e a confiança que uma criança tem em relação aos pais que o amam. Abramos a nossa oração à obra do Espírito Santo, para que em nós clame a Deus: «Abbá! Pai!», e a fim de que a nossa oração se transforme, mude constantemente o nosso pensar, o nosso agir, para o tornar cada vez mais conforme com o do Filho Unigénito, Jesus Cristo. Obrigado!

Saudações

Queridos peregrinos de língua portuguesa: sede bem-vindos! Saúdo de modo particular os brasileiros do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul, bem como as Irmãs Franciscanas de São José. Com a proximidade da solenidade de Pentecostes, procurai, a exemplo de Nossa Senhora, estar abertos à ação do Espírito Santo na vossa oração, de tal modo que o vosso pensar e agir se conformem sempre mais com os do seu Filho Jesus Cristo. De coração vos abençoo a vós e às vossas famílias!


Praça de São Pedro

Quarta-feira, 30 de Maio de 2012


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