Audiências 2005-2013 21410

21 de Abril de 2010: Viagem Apostólica a Malta

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Estimados irmãos e irmãs!

Como sabeis, no sábado e domingo passados, realizei uma viagem apostólica a Malta, sobre a qual gostaria de reflectir brevemente. A ocasião da minha visita pastoral foi o 1.950º aniversário do naufrágio do Apóstolo Paulo no litoral do arquipélago maltês e da sua permanência naquelas ilhas durante três meses. É um acontecimento que se pode inserir por volta do ano 60 e que é narrado com abundância de pormenores no livro dos Actos dos Apóstolos (caps.
Ac 27-28). Como aconteceu com São Paulo, também eu experimentei a calorosa hospitalidade dos Malteses – verdadeiramente extraordinária – e por isso exprimo novamente o meu mais vivo e cordial reconhecimento ao Presidente da República, ao Governo e às demais Autoridades do Estado, e agradeço fraternalmente aos Bispos do país, com todos aqueles que colaboraram para preparar este festivo encontro entre o Sucessor de Pedro e a população maltesa. A história deste povo, desde há quase dois mil anos, é inseparável da fé católica, que caracteriza a sua cultura e as suas tradições: afirma-se que em Malta existem 365 igrejas, "uma para cada dia do ano", um sinal visível desta fé profunda!

Tudo teve início com aquele naufrágio: depois de ter permanecido à deriva durante 14 dias, impelida pelos ventos, a nau que transportava para Roma o Apóstolo Paulo e muitas outras pessoas encalhou num baixio da Ilha de Malta. Por isso, depois do encontro cordial com o Presidente da República na capital Valeta – que teve a bonita moldura da alegre saudação de muitos jovens e moças – fui imediatamente em peregrinação à chamada "Gruta de São Paulo", nos arredores de Rabat, para um intenso momento de oração. Ali pude saudar também um numeroso grupo de missionários malteses. Pensar naquele pequeno arquipélago no centro do Mediterrâneo, e no modo como chegou ali a semente do Evangelho, suscita um sentido de grande admiração pelos desígnios misteriosos da Providência divina: é espontâneo dar graças ao Senhor e também a São Paulo que, no meio daquela tempestade violenta, manteve a confiança e a esperança, transmitindo-as inclusive aos seus companheiros de viagem. Daquele naufrágio, ou melhor, da sucessiva permanência de Paulo em Malta, nasceu uma comunidade cristã fervorosa e sólida, que depois de dois mil anos ainda é fiel ao Evangelho e se esforça por conjugá-lo com as complexas questões da época contemporânea. Naturalmente, isto nem sempre é fácil nem certo, mas o povo maltês sabe encontrar na visão cristã da vida as respostas aos novos desafios. Um sinal disto, por exemplo, é o facto de ter mantido sólido o profundo respeito pela vida nascitura e pela sacralidade do matrimónio, preferindo não introduzir o aborto e o divórcio no ordenamento jurídico do país.

Por conseguinte, a minha viagem tinha a finalidade de confirmar na fé a Igreja que está em Malta, uma realidade muito viva, bem acompanhada e presente no território de Malta e Gozo. Toda esta comunidade tinha marcado encontro em Floriana, na Praça dos Celeiros, diante da igreja de São Públio, onde celebrei a Santa Missa participada com grande fervor. Para mim foi motivo de alegria, e também de consolação, sentir o calor particular daquele povo que dá o sentido de uma grande família, irmanada pela fé e pela visão cristã da vida. Depois da celebração, desejei encontrar-me com algumas pessoas vítimas de abusos da parte de representantes do Clero. Compartilhei com elas o sofrimento e, com emoção, rezei com elas assegurando o empenho da Igreja.

Se Malta dá o sentido de uma grande família, não se pode pensar que, por causa da sua conformação geográfica, seja uma sociedade "isolada" do mundo. Não é assim, e vê-se, por exemplo, dos contactos que Malta mantém com vários países e do facto de que em muitas nações se encontram sacerdotes malteses. Com efeito, as famílias e as paróquias de Malta souberam educar muitos jovens para o sentido de Deus e da Igreja, e desta forma muitos deles responderam generosamente ao chamamento de Jesus e tornaram-se presbíteros. Entre eles, numerosoas pessoas abraçaram o compromisso missionário ad gentes, em terras distantes, herdando o espírito apostólico que impelia São Paulo a levar o Evangelho lá onde ainda não tinha chegado. Trata-se de um aspecto que reiterei de bom grado, ou seja, "é dando a fé que ela se fortalece" (Encíclica Redemptoris missio RMi 2). Na origem desta fé, Malta desenvolveu-se e agora abre-se a várias realidades económicas, sociais e culturais, para as quais oferece uma contribuição preciosa.

É claro que Malta teve de se defender frequentemente ao longo dos séculos e vê-se isto das suas fortificações. Obviamente, a posição estratégica do pequeno arquipélago chamava a atenção dos diversos poderes políticos e militares. E todavia, a vocação mais profunda de Malta é a cristã, ou seja, a vocação universal da paz! A célebre cruz de Malta, que todos associam àquela nação, flutuou muitas vezes no meio de conflitos e contendas; mas, graças a Deus, nunca perdeu o seu significado autêntico e perene: é o sinal do amor e da reconciliação, e esta é a verdadeira vocação dos povos que acolhem e abraçam a mensagem cristã!

Encruzilhada natural, Malta está no centro de rotas de migração: homens e mulheres, como outrora São Paulo, chegam ao litoral maltês, às vezes impelidos por condições de vida muito árduas, por violências e perseguições, e isto comporta, naturalmente, problemas complexos nos planos humanitário, político e jurídico, problemas que têm soluções não fáceis, mas que devem ser procuradas com perseverança e tenacidade, concertando as intervenções a nível internacional. É bom que se faça assim em todas as nações que têm os valores cristãos nas raízes das suas Cartas Constitucionais e das suas culturas.

O desafio de conjugar na complexidade do presente a validade perene do Evangelho é fascinante para todos, mas especialmente para os jovens. Com efeito, as novas gerações sentem-no de modo muito forte, e por isso desejei que também em Malta, apesar da brevidade da minha visita, não faltasse o encontro com os jovens. Foi um momento de diálogo profundo e intenso, que se tornou ainda mais bonito pelo ambiente onde se realizou – o porto de Valeta – e pelo entusiasmo dos jovens. A eles, eu não podia deixar de recordar a experiência juvenil de São Paulo: uma experiência extraordinária, única, e no entanto capaz de falar às novas gerações de todas as épocas, por aquela transformação radical que se seguiu ao encontro com Cristo ressuscitado. Portanto, olhei para os jovens de Malta como para potenciais herdeiros da aventura espiritual de São Paulo, chamados como ele a descobrir a beleza do amor de Deus que nos foi concedido em Jesus Cristo, a abraçar o mistério da sua Cruz, a ser vencedores precisamente nas provas e tribulações, a não ter medo das "tempestades" da vida e nem sequer dos naufrágios, porque o desígnio de amor de Deus é também maior do que as tempestades e os naufrágios.

Caros amigos, foi esta em síntese a mensagem que levei a Malta. Mas, como eu mencionava, eu mesmo recebi muito daquela Igreja, daquele povo abençoado por Deus, que soube colaborar validamente com a sua graça. Que por intercessão do Apóstolo Paulo, de São Jorge Preca, sacerdote, primeiro santo maltês, e da Virgem Maria, que os fiéis de Malta e Gozo veneram com tanta devoção, ela possa sempre progredir na paz e na prosperidade.



Saudação

Amados peregrinos brasileiros de Curitiba e do Estado de São Paulo, quis partilhar convosco esta experiência que vivi com a Igreja de Malta e Gozo, na esperança de contar com a vossa oração e solidariedade por eles. Assim me ajudareis a levar o peso da missão que o Senhor há cinco anos me confiou. Nesta comunhão de sentimentos, vos agradeço e formulo votos de felicidades para vossas famílias e comunidades cristãs, e a todos abençoo.






Praça de São Pedro

28 de Abril de 2010: São Leonardo Murialdo e São José Bento Cottolengo

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Queridos irmãos e irmãs!

Estamos a aproximar-nos da conclusão do Ano sacerdotal e, nesta última quarta-feira de Abril, gostaria de falar de dois santos sacerdotes, exemplares na sua entrega a Deus e no testemunho de caridade, vivida na Igreja e para a Igreja, pelos irmãos mais necessitados: São Leonardo Murialdo e São José Bento Cottolengo. Do primeiro recordamos os 110 anos da morte e os 40 anos da canonização; do segundo iniciaram as celebrações para o segundo centenário de Ordenação sacerdotal.

Murialdo nasceu em Turim, a 26 de Outubro de 1828: é a Turim de São João Bosco, do próprio São José Cottolengo, terra fecundada por tantos exemplos de santidade de fiéis leigos e de sacerdotes. Leonardo é o oitavo filho de uma família simples. Quando era criança, juntamente com o irmão, entrou no colégio dos Padres Escolápios de Savona para a escola primária, preparatória e secundária; aí encontrou educadores preparados, num clima de religiosidade fundado sobre uma catequese séria, com práticas de piedade regulares. Durante a adolescência viveu porém uma profunda crise existencial e espiritual que o levou a antecipar o regresso à família e a concluir os estudos em Turim, inscrevendo-se no biénio de filosofia. O "regresso à luz" aconteceu como ele narra depois de alguns meses, com a graça de uma confissão geral, na qual redescobriu a imensa misericórdia de Deus; amadureceu então, com 17 anos, a decisão de se fazer sacerdote, como resposta de amor a Deus que o tinha envolvido com o seu amor. Foi ordenado no dia 20 de Setembro de 1851. Precisamente naquele período, como catequista do Oratório do Anjo da Guarda, foi conhecido e estimado por Dom Bosco, que o convenceu a aceitar a gestão do novo Oratório de São Luís em Porta Nova, que ele geriu até 1865. Ali entrou em contacto com os graves problemas das classes mais pobres e visitou as suas casas, amadurecendo uma profunda sensibilidade social, educativa e apostólica, que o levou a dedicar-se autonomamente a múltiplas iniciativas a favor da juventude. Catequese, escola e actividades recreativas foram os fundamentos do seu método educativo no Oratório. Dom Bosco desejou novamente que ele estivesse ao seu lado por ocasião da audiência que lhe fora concedida pelo beato Pio IX em 1858.

Em 1873 fundou a Congregação de São José, cuja finalidade apostólica foi, deste o início, a formação da juventude, especialmente a mais pobre e abandonada. O ambiente turinês dessa época caracterizou-se pelo intenso florescimento de obras e de actividades caritativas promovidas por Murialdo até à sua morte, ocorrida no dia 30 de Março em 1900.

Apraz-me sublinhar que o núcleo da espiritualidade de Murialdo é a convicção do amor misericordioso de Deus: um Pai sempre bom, paciente e generoso, que revela a grandeza e a imensidão da sua misericórdia com o perdão. São Leonardo experimentou esta realidade não no plano intelectual, mas existencial, mediante o encontro vivo com o Senhor. Ele considerou-se sempre um homem abençoado por Deus misericordioso: por isso, viveu o sentido jubiloso da gratidão ao Senhor, a consciência tranquila do próprio limite, o desejo fervoroso de penitência, o compromisso constante e generoso de conversão. Ele via toda a sua existência não apenas iluminada, orientada e sustentada por este amor, mas continuamente imersa na misericórdia infinita de Deus. No seu Testamento espiritual ele escreveu: "A tua misericórdia circunda-me, ó Senhor... Como Deus está sempre e em toda a parte, assim também o amor se encontra sempre e em toda a parte, e a misericórdia está sempre e em toda a parte". Recordando o momento de crise que teve na juventude, anotava: "Eis que o bom Deus queria fazer resplandecer ainda a sua bondade e generosidade, de maneira totalmente singular. Ele não só me admitiu de novo na sua amizade, mas chamou-me a uma escolha de predilecção ao sacerdócio, e isto somente poucos meses depois do meu retorno para Ele". Por isso, São Leonardo viveu a vocação sacerdotal como dom gratuito da misericórdia de Deus, com sentido de reconhecimento, alegria e amor. Escreveu ainda: "Deus escolheu-me! Ele chamou-me, chegou até a obrigar-me à honra, à glória e à felicidade inefável de ser seu ministro, de ser "outro Cristo"... E onde eu estava, quando me procuraste, meu Deus? No fundo do abismo! Eu estava lá, e foi ali que Deus me veio procurar; ali fez-me ouvir a sua voz...".

Ressaltando a grandeza da missão do presbítero, que deve "continuar a obra da redenção, a grande obra de Jesus Cristo, a obra do Salvador do mundo", ou seja, de "salvar as almas", São Leonardo recordava sempre a si mesmo e aos irmãos de hábito a responsabilidade de uma vida coerente com o sacramento recebido. Amor de Deus e amor a Deus: foi esta a força do seu caminho de santidade, a lei do seu sacerdócio, o significado mais profundo do seu apostolado entre os jovens pobres e a fonte da sua oração. São Leonardo Murialdo abandonou-se com confiança à Providência, cumprindo generosamente a vontade divina, no contacto com Deus e dedicando-se aos jovens pobres. Deste modo, ele uniu o silêncio contemplativo com o ardor incansável da acção, a fidelidade aos deveres de cada dia com a genialidade das iniciativas, a força nas dificuldades com a tranquilidade do espírito. Este é o seu caminho de santidade para viver o mandamento do amor a Deus e ao próximo.

Com o mesmo espírito de caridade viveu, quarenta anos antes de Murialdo, São José Bento Cottolengo, fundador da obra por ele mesmo denominada "Pequena Casa da Providência Divina" e hoje chamada também "Cottolengo". No próximo domingo, na minha Visita pastoral a Turim, terei a ocasião de venerar os despojos deste Santo e de me encontrar com os hóspedes da "Pequena Casa".

José Bento Cottolengo nasceu em Bra, cidadezinha da província de Cuneo, a 3 de Maio de 1786. Primogénito de doze filhos, dos quais seis morreram em tenra idade, mostrou desde criança uma grande sensibilidade para com os pobres. Abraçou o caminho do sacerdócio, imitado também por dois irmãos. Os anos da sua juventude foram os da aventura napoleónica e das consequentes dificuldades nos campos religioso e social. Cottolengo tornou-se um bom sacerdote, procurado por muitos penitentes e, na Turim daquela época, pregador de exercícios espirituais e conferências junto dos estudantes universitários, onde tinha sempre um êxito notável. Com 32 anos de idade foi nomeado cónego da Santíssima Trindade, uma Congregação de sacerdotes que tinha a tarefa de celebrar na igreja do Corpus Domini e de conferir decoro às cerimónias religiosas da cidade, mas naquela situação ele sentia-se inquieto. Deus estava a prepará-lo para uma missão particular e, precisamente com um encontro inesperado e decisivo, fez-lhe compreender qual teria sido o seu futuro destino no exercício do ministério.

O Senhor põe sempre sinais no nosso caminho para nos orientar segundo a sua vontade rumo ao nosso verdadeiro bem. Para Cottolengo isto aconteceu, de modo dramático, na manhã de domingo 2 de Setembro de 1827. Proveniente de Milão, chegou a Turim a diligência, cheia como nunca, onde se encontrava apinhada uma inteira família francesa cuja esposa, com cinco filhos, estava em estado de gravidez avançada e com febre alta. Depois de ter passado por vários hospitais, a família encontrou alojamento num dormitório público, mas a situação para a mulher foi-se agravando e algumas pessoas puseram-se em busca de um sacerdote. Por um misterioso desígnio, cruzaram-se com Cottolengo e foi precisamente ele, com o coração amargurado e oprimido, que acompanhou essa jovem mãe até à morte, entre a angústia de toda a família. Depois de ter cumprido este doloroso dever, com o sofrimento no coração, foi diante do Santíssimo Sacramento e rezou: "Meu Deus, por quê? Por que quiseste que eu fosse uma testemunha? O que queres de mim? É necessário fazer algo!". Levantou-se, mandoubadalar todos os sinos, acendeu as velas e, recebendo os curiosos na igreja, disse: "A graça foi concedida!Agraça foi concedida!". A partir daquele momento, Cottolengo foi transformado: todas as suas capacidades, especialmente a sua habilidade económica e organizativa, foram utilizadas para dar vida a iniciativas em defesa dos mais necessitados.

Ele soube empenhar no seu empreendimento dezenas e dezenas de colaboradores e voluntários. Transferindo-se para a periferia de Turim, para ampliar a sua obra, criou uma espécie de povoado, no qual a cada edifício que conseguiu construir, atribuiu um nome significativo: "casa da fé", "casa da esperança", "casa da caridade". Pôs em acto o estilo das "famílias", constituindo verdadeiras comunidades de pessoas, voluntários e voluntárias, homens e mulheres, religiosos e leigos, unidos para enfrentar e superar em conjunto as dificuldades que se apresentavam. Cada um, naquela Pequena Casa da Providência Divina, tinha uma tarefa específica: alguns trabalhavam, outros rezavam, uns serviam, alguns educavam e outros ainda administravam. Pessoas sadias e doentes compartilhavam todas o mesmo peso da vida quotidiana. Também a vida religiosa se definiu no tempo, segundo as necessidades e as exigências particulares. Pensou também num seminário próprio, para uma formação específica dos sacerdotes da Obra. Estava sempre pronto a seguir e a servir a Providência Divina, nunca a interrogá-la. Dizia: "Sou inútil e nem sei o que faço. Porém, a Providência Divina certamente sabe o que quer. Quando a mim, cabe-me apenas secundá-la. Para a frente, in Domino". Para os seus pobres e mais necessitados, definir-se-á sempre "o operário da Providência Divina".

Ao lado das pequenas cidadelas quis fundar também cinco mosteiros de irmãs contemplativas e um de eremitas, e ali considerou entre as realizações mais importantes: uma espécie de "coração" que devia pulsar por toda a Obra. Faleceu a 30 de Abril de 1842, pronunciando estas palavras: "Misericordia, Domine; Misericordia, Domine. Boa e Santa Providência... Santa Virgem, agora é a vossa vez". A sua vida, como escreveu um jornal dessa época, tinha sido inteiramente "um intenso dia de amor".

Estimados amigos, estes dois santos sacerdotes, dos quais apresentei alguns traços, viveram o seu ministério no dom total da vida aos mais pobres, aos mais necessitados, aos últimos, encontrando sempre a raiz profunda, a fonte inesgotável da sua obra na relação com Deus, haurindo do seu amor, na profunda convicção de que não é possível exercer a caridade sem viver em Cristo e na Igreja. A sua intercessão e o seu exemplo continuem a iluminar o ministério de numerosos sacerdotes que se despendem com generosidade por Deus e pela grei que lhes foi confiada, e ajudem cada cada um a doar-se com alegria e magnanimidade a Deus e ao próximo.

Saudações

Uma saudação cordial aos peregrinos vindos do Brasil e demais países de língua portuguesa, contando com as vossas orações por todos os sacerdotes para que se dediquem sempre com mais generosidade a Deus e ao rebanho a eles confiado. E que Deus vos abençoe a vós e as vossas famílias. Ide em paz!






Praça de São Pedro

19 de Maio de 2010: Viagem Apostólica a Portugal

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Queridos irmãos e irmãs!

Desejo hoje repercorrer juntamente convosco as várias etapas da Viagem apostólica que realizei nos dias passados a Portugal, movido especialmente por um sentimento de reconhecimento para com a Virgem Maria, que em Fátima transmitiu aos seus videntes e aos peregrinos um amor intenso pelo Sucessor de Pedro. Dou graças a Deus que me concedeu a possibilidade de prestar homenagem àquele Povo, à sua longa e gloriosa história de fé e de testemunho cristão. Por conseguinte, como vos tinha pedido para acompanhar esta minha visita pastoral com a oração, agora peço-vos que vos unais a mim na acção de graças ao Senhor pelo seu feliz desenvolvimento e pela sua conclusão. Confio a Ele os frutos que deu e dará à comunidade eclesial portuguesa e a toda a população. Renovo a expressão do meu profundo reconhecimento ao Presidente da República, Senhor Aníbal Cavaco Silva e demais Autoridades do Estado, que me receberam com tanta gentileza e predispuseram todas as coisas para que tudo se pudesse realizar do melhor modo. Penso de novo com intenso afecto nos Irmãos Bispos das dioceses portuguesas, que tive a alegria de abraçar na sua Terra e agradeço-lhes fraternalmente quanto fizeram para a preparação espiritual e organizativa da minha visita, e o notável compromisso prodigalizado na sua realização. Dirijo um pensamento particular ao Patriarca de Lisboa, Cardeal José da Cruz Policarpo, aos Bispos de Leiria-Fátima, D. António Augusto dos Santos Marto, e do Porto, D. Manuel Macário do Nascimento Clemente e aos respectivos colaboradores, assim como aos vários organismos da Conferência Episcopal guiada por D. Jorge Ortiga.

Ao longo da viagem, realizada por ocasião do décimo aniversário da beatificação dos pastorinhos Jacinta e Francisco, senti-me espiritualmente apoiado pelo meu amado predecessor, o venerável João Paulo II, que foi três vezes a Fátima, agradecendo aquela "mão invisível" que o libertou da morte no atentado de 13 de Maio, aqui nesta Praça de São Pedro. Na tarde da minha chegada celebrei a Santa Missa em Lisboa no cenário encantador do Terreiro do Paço, à margem do rio Tejo. Foi uma assembleia litúrgica de festa e de esperança, animada pela participação jubilosa de numerosíssimos fiéis. Na Capital, de onde partiram no decorrer dos séculos tantos missionários para levar o Evangelho a muitos Continentes, encorajei os vários componentes da Igreja local a uma vigorosa acção evangelizadora nos diversos âmbitos da sociedade, para ser semeadores de esperança num mundo com frequência marcado pelo desencorajamento. Em particular, exortei os crentes a tornarem-se anunciadores da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé e motivo da nossa alegria. Pude manifestar estes sentimentos também durante o encontro com os representantes do mundo da cultura, realizado no Centro Cultural de Belém. Nesta circunstância ressaltei o património de valores com que o cristianismo enriqueceu a cultura, a arte e a tradição do Povo português. Nesta nobre Terra, como em qualquer outro país profundamente marcado pelo cristianismo, é possível construir um futuro de entendimento fraterno e de colaboração com as outras exigências culturais, abrindo-se reciprocamente a um diálogo sincero e respeitador.

Fui depois a Fátima, pequena cidade caracterizada por uma atmosfera de misticismo real, na qual se sente de modo quase palpável a presença de Nossa Senhora. Fiz-me peregrino com os peregrinos naquele admirável Santuário, coração espiritual de Portugal e meta de uma multidão de pessoas provenientes dos lugares mais diversos da terra. Depois de me ter detido em orante e comovedor recolhimento na Capelinha das Aparições na Cova da Iria, apresentando ao Coração da Virgem Santa as alegrias e as expectativas, assim como os problemas e os sofrimentos do mundo inteiro, na igreja da Santíssima Trindade tive a alegria de presidir à celebração das Vésperas da Bem-Aventurada Virgem Maria. No interior deste templo grande e moderno, manifestei o meu profundo apreço aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos diáconos e aos seminaristas que vieram de todas as partes de Portugal, agradecendo-lhes o seu testemunho muitas vezes silencioso e nem sempre fácil e a sua fidelidade ao Evangelho e à Igreja. Neste Ano sacerdotal, que está para terminar, encorajei os sacerdotes a dar prioridade à escuta religiosa da Palavra de Deus, ao conhecimento íntimo de Cristo, à celebração intensa da Eucaristia, olhando para o luminoso exemplo do Santo Cura d'Ars. Não deixei de confiar e consagrar ao Coração Imaculado de Maria, verdadeiro modelo de discípula do Senhor, os sacerdotes de todo o mundo.

À noite, com milhares de pessoas que se reuniram na grande esplanada diante do Santuário, participei na sugestiva procissão das velas. Foi uma maravilhosa manifestação de fé em Deus e de devoção à sua e à nossa Mãe, expressas com a recitação do Santo Rosário. Esta oração tão querida ao povo cristão encontrou em Fátima um centro propulsor para toda a Igreja e para o mundo. A "Branca Senhora", na aparição de 13 de Junho, disse aos três Pastorinhos: "Quero que reciteis o Rosário todos os dias". Poderíamos dizer que Fátima e o Rosário são quase um sinónimo.

A minha visita àquele lugar tão especial teve o seu ápice na Celebração eucarística de 13 de Maio, aniversário da primeira aparição de Nossa Senhora a Francisco, Jacinta e Lúcia. Fazendo eco às palavras do profetas Isaías, convidei aquela imensa assembleia reunida aos pés da Virgem, com grande amor e devoção, a rejubilar plenamente no Senhor (cf.
Is 61,10), porque o seu amor misericordioso, que acompanha a nossa peregrinação nesta terra, é a fonte da nossa grande esperança. E precisamente cheia de esperança está a mensagem exigente e ao mesmo tempo confortadora que Nossa Senhora deixou em Fátima. É uma mensagem centrada na oração, na penitência e na conversão, que se projecta para além das ameaças, perigos e horrores da história, para convidar o homem a ter confiança na acção de Deus, a cultivar a grande Esperança, a fazer experiência da graça do Senhor para se enamorar d'Ele, fonte do amor e da paz.

Nesta perspectiva, foi significativo o encontro envolvedor com as organizações da pastoral social, às quais indiquei o estilo do bom samaritano para ir ao encontro das necessidades dos irmãos mais necessitados e para servir Cristo, promovendo o bem comum. Muitos jovens aprendem a importância da gratuidade precisamente de Fátima, que é uma escola de fé e de esperança, porque é também escola de caridade e de serviço aos irmãos. Neste contexto de fé e de oração, foi realizado o importante e fraterno encontro com o Episcopado português, na conclusão da minha visita a Fátima: foi um momento de intensa comunhão espiritual, no qual agradecemos juntos ao Senhor a fidelidade da Igreja que está em Portugal e confiamos à Virgem as comuns expectativas e preocupações pastorais. Mencionei estas esperanças e perspectivas pastorais também durante a Santa Missa celebrada na histórica e simbólica cidade do Porto, a "Cidade da Virgem", última etapa da minha peregrinação em terra lusitana. À grande multidão de fiéis reunida na Avenida dos Aliados recordei o compromisso de testemunhar o Evangelho em todos os ambientes, oferecendo Cristo ressuscitado ao mundo para que qualquer situação de dificuldade, de sofrimento e de receio seja transformada, mediante o Espírito Santo, em ocasião de crescimento e de vida.

Queridos irmãos e irmãs, a peregrinação a Portugal foi para mim uma experiência comovedora e rica de tantos dons espirituais. Enquanto permanecem gravadas na minha mente e no meu coração as imagens desta viagem inesquecível, o acolhimento caloroso e espontâneo, o entusiasmo do povo, dou graças ao Senhor porque Maria, aparecendo aos três Pastorinhos, abriu ao mundo um espaço privilegiado para encontrar a misericórdia divina que cura e salva. Em Fátima, a Virgem Santa convida todos a considerar a terra como lugar da nossa peregrinação rumo à pátria definitiva, que é o Céu. Na realidade todos somos peregrinos, precisamos da Mãe que nos guia. "Contigo caminhamos na esperança. Sabedoria e Missão" foi o lema da minha Viagem apostólica a Portugal, e em Fátima a bem-aventurada Virgem Maria convida-nos a caminhar com grande esperança, deixando-nos guiar pela "sabedoria do alto", que se manifestou em Jesus, a sabedoria do amor, para levar ao mundo a luz e a alegria de Cristo. Por conseguinte, convido-vos a unir-vos à minha oração, pedindo ao Senhor que abençoe os esforços de quantos, naquela amada Nação, se dedicam ao serviço do Evangelho e à busca do verdadeiro bem do homem, de cada homem. Rezemos ainda para que, por intercessão de Maria Santíssima, o Espírito Santo torne fecunda esta Viagem apostólica, e anime no mundo inteiro a missão da Igreja, instituída por Cristo para anunciar a todos os povos o Evangelho da verdade, da paz e do amor.



Saudação

Amados peregrinos vindos do Brasil e demais países de língua Portuguesa, que a intercessão de Nossa Senhora de Fátima, que em vossos países é venerada com tanta confiança e firme amor, possa ajudar-vos a viver com mais empenho a vossa vocação de testemunhas do Evangelho da verdade, da paz e do amor. Sirva-vos de conforto a minha Bênção.




Praça de São Pedro

26 de Maio de 2010: Munus regendi

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Amados irmãos e irmãs!

O Ano sacerdotal está para terminar; por isso comecei nas últimas catequeses a falar sobre as tarefas essenciais do sacerdote, ou seja: ensinar, santificar e governar. Já falei disto em duas catequeses, numa sobre o ministério da santificação, sobretudo os Sacramentos, e noutra sobre o do ensino. Portanto, hoje vou falar sobre a missão do sacerdote de governar, de guiar, com a autoridade de Cristo, não com a própria, a porção do Povo que Deus lhe confiou.

Como compreender na cultura contemporânea tal dimensão, que implica o conceito de autoridade e tem origem no próprio mandato do Senhor de apascentar o rebanho? O que é realmente, para nós cristãos, a autoridade? As experiências culturais, políticas e históricas do passado recente, sobretudo as ditaduras na Europa do Leste e do Oeste no século XX, tornaram o homem contemporâneo suspeitoso em relação a este conceito. Uma suspeita que, com frequência, se traduz em defender como necessário o abandono de qualquer autoridade, que não provenha exclusivamente dos homens, lhes seja submetida e por eles controlada. Mas precisamente o olhar sobre os regimes que, no século passado, semearam terror e morte, recorda com vigor que a autoridade, em qualquer âmbito, quando é exercida sem uma referência ao Transcendente, se prescindir da Autoridade suprema, que é Deus, acaba inevitavelmente por se voltar contra o homem. É importante então reconhecer que a autoridade humana nunca é um fim, mas sempre e só um meio e que, necessariamente e em cada época, o fim é sempre a pessoa, criada por Deus com a própria intangível dignidade e chamada a realizar-se com o próprio Criador, no caminho terreno da existência e na vida eterna; é uma autoridade exercida na responsabilidade diante de Deus, do Criador. Uma autoridade tão intensa, que tenha como única finalidade servir o verdadeiro bem das pessoas e ser transparência do único Bem Supremo que é Deus, não só é alheia aos homens, mas, ao contrário, é uma preciosa ajuda no caminho para a plena realização em Cristo, rumo à salvação.

A Igreja está chamada e compromete-se a exercer este tipo de autoridade que é serviço, e exerce-a não em seu nome, mas no de Jesus Cristo, que do Pai recebeu todo o poder no Céu e na terra (cf.
Mt 28,18). De facto, através dos Pastores da Igreja Cristo apascenta a sua grei: é Ele quem a guia, protege e corrige, porque a ama profundamente. Mas o Senhor Jesus, Pastor supremo das nossas almas, quis que o Colégio Apostólico, hoje os Bispos, em comunhão com o Sucessor de Pedro, e os sacerdotes, seus mais preciosos colaboradores, participassem nesta sua missão de se ocupar do Povo de Deus, de ser educadores na fé, orientando, animando e apoiando a comunidade cristã ou, como diz o Concílio, cuidassem "para que cada fiel seja levado, no Espírito Santo, a cultivar a própria vocação segundo o Evangelho, a uma caridade sincera e activa e à liberdade com que Cristo nos libertou" (Presbyterorum ordinis PO 6). Portanto, cada Pastor é o meio através do qual o próprio Cristo ama os homens: é mediante o nosso ministério – queridos sacerdotes – é através de nós que o Senhor alcança as almas, as instrui, guarda e guia. Santo Agostinho, no seu Comentário ao Evangelho de São João, diz: "Seja portanto empenho de amor apascentar o rebanho do Senhor" (123, 5); esta é a norma suprema dos ministros de Deus, um amor incondicionado, como o do Bom Pastor, cheio de alegria, aberto a todos, atento ao próximo e solícito em relação aos distantes (cf. S. Agostinho, Discurso 340, 1; Discurso 46, 15), delicado para com os mais débeis, os pequeninos, os simples, os pecadores, para manifestar a misericórdia infinita de Deus com as palavras alentadoras da esperança (cf. Id., Carta 95, 1).

Se esta tarefa pastoral se funda no Sacramento, contudo a sua eficácia não é independente da existência pessoal do presbítero. Para ser Pastor segundo o coração de Deus (cf. Jr 3,15) é preciso um radicamento profundo na amizade viva com Cristo, não só da inteligência, mas também da liberdade e da vontade, uma consciência clara da identidade recebida na Ordenação sacerdotal, uma disponibilidade incondicionada a conduzir o rebanho confiado aonde o Senhor quer e não na direcção que, aparentemente, parece mais conveniente ou mais fácil. Antes de tudo, isto exige a contínua e progressiva disponibilidade para deixar que o próprio Cristo governe a existência sacerdotal dos presbíteros. De facto, ninguém é realmente capaz de apascentar a grei de Cristo, se não viver uma obediência profunda e real a Cristo e à Igreja, e a própria docilidade do Povo aos seus sacerdotes depende da docilidade dos presbíteros a Cristo; por isso, na base do ministério pastoral está sempre o encontro pessoal e constante com o Senhor, o conhecimento profundo d'Ele, o conformar a própria vontade com a vontade de Cristo.

Nos últimos decénios, utilizou-se muitas vezes o adjectivo "pastoral" quase em oposição ao conceito de "hierárquico", assim como, na mesma contraposição, foi interpretada também a ideia de "comunhão". Talvez seja este o ponto sobre o qual pode ser útil uma breve observação sobre a palavra "hierarquia", que é a designação tradicional da estrutura de autoridade sacramental na Igreja, ordenada segundo os três níveis do Sacramento da Ordem: episcopado, presbiterado, diaconado. Prevalece na opinião pública, para esta realidade "hierárquica", os elementos de subordinação e jurídico; por isso para muitos a ideia de hierarquia parece estar em contraste com a flexibilidade e com a vitalidade do sentido pastoral e também ser contrária à humildade do Evangelho. Mas este é um sentido da hierarquia compreendido mal, historicamente também causado por abusos de autoridade e por carreirismo, que são precisamente abusos e não derivam do ser próprio da realidade "hierárquica". A opinião comum é que "hierarquia" é sempre algo relacionado com o domínio e assim não correspondente ao verdadeiro sentido da Igreja, da unidade no amor de Cristo. Mas, como eu disse, esta é uma interpretação errada, que tem origem em abusos da história, mas não corresponde ao verdadeiro significado daquilo que é a hierarquia. Comecemos com a palavra. Geralmente, diz-se que o significado da palavra hierarquia seria "domínio sagrado", mas o verdadeiro significado não é este, é "origem sagrada", ou seja: esta autoridade não provém do próprio homem, mas tem origem no sagrado, no Sacramento; submete portanto a pessoa à vocação, ao mistério de Cristo; faz do indivíduo um servo de Cristo e só como servo de Cristo ele pode governar, guiar para Cristo e com Cristo. Por isso quem entra na Ordem sagrada do Sacramento, a "hierarquia", não é um autocrata, mas entra num vínculo novo de obediência a Cristo: está ligado a Ele em comunhão com os outros membros da Ordem sagrada, do Sacerdócio. E também o Papa ponto de referência de todos os outros Pastores e da comunhão da Igreja não pode fazer o que quiser; ao contrário, o Papa é guardião da obediência a Cristo, à sua palavra resumida na "regula fidei", no Credo da Igreja, e deve preceder na obediência a Cristo e à sua Igreja. Hierarquia implica por conseguinte um tríplice vínculo: antes de tudo com Cristo e com a ordem dada pelo Senhor à sua Igreja; depois o vínculo com os outros Pastores na única comunhão da Igreja; e, por fim, o vínculo com os fiéis confiados a cada um, na ordem da Igreja.

Compreende-se portanto que comunhão e hierarquia não são contrárias uma à outra, mas condicionam-se. São juntas uma só coisa (comunhão hierárquica). Portanto, o Pastor é tal precisamente guiando e guardando a grei, e por vezes impedindo que ela se disperse. Fora de uma visão clara e explicitamente sobrenatural, não é compreensível a tarefa de governar, própria dos sacerdotes. Ela, ao contrário, apoiada pelo verdadeiro amor à salvação de cada fiel, é particularmente preciosa e necessária também no nosso tempo. Se a finalidade é levar o anúncio de Cristo e guiar os homens ao encontro salvífico com Ele para que tenham vida, a tarefa de guiar configura-se como um serviço vivido numa doação total para a edificação do rebanho na verdade e na santidade, muitas vezes indo contracorrente e recordando que quem é o maior deve fazer-se como o mais pequeno, e quem governa, como aquele que serve (cf. Lumen gentium LG 27).

De onde pode tirar hoje um sacerdote a força para a prática do próprio ministério, em plena fidelidade a Cristo e à Igreja, com uma dedicação total à grei? A resposta é uma só: em Cristo Senhor. O modo de governar de Jesus não é o do domínio, mas é o serviço humilde e amoroso do Lava-pés, e a realeza de Cristo sobre o universo não é um triunfo terreno, mas encontra o seu ápice no madeiro da Cruz, que se torna juízo para o mundo e ponto de referência para a prática da autoridade, que seja verdadeira expressão da caridade pastoral. Os santos, e entre eles São João Maria Vianney, exerceram com amor e dedicação a tarefa de cuidar da porção do Povo de Deus que lhes foi confiada, mostrando também que eram homens fortes e determinados, com o único objectivo de promover o verdadeiro bem das almas, capazes de pagar em primeira pessoa, até ao martírio, para permanecer fiéis à verdade e à justiça do Evangelho.

Queridos sacerdotes, "apascentai o rebanho que Deus vos confiou, velando por ele, não constrangidos, mas de boa vontade [...], como modelos do vosso rebanho" (1P 5,2). Portanto, não tenhais medo de guiar para Cristo cada um dos irmãos que Ele vos confiou, na certeza de que cada palavra e atitude, se vierem da obediência à vontade de Deus, darão fruto; sabei viver apreciando as qualidades e reconhecendo os limites da cultura na qual estamos inseridos, com a firme certeza de que o anúncio do Evangelho é o maior serviço que se pode prestar ao homem. De facto, não há bem maior, nesta vida terrena, do que conduzir os homens para Deus, despertar a fé, elevar o homem da inércia e do desespero, dar a esperança que Deus está próximo e guia a história pessoal e do mundo: é este, em suma, o sentido profundo e último da tarefa de governar que o Senhor nos confiou. Trata-se de formar Cristo nos crentes, através daquele processo de santificação que é conversão dos critérios, da escala de valores, de atitudes, para deixar que Cristo viva em cada fiel. São Paulo resume assim a sua acção pastoral: "Filhinhos meus, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós" (Ga 4,19).

Queridos irmãos e irmãs, gostaria de vos convidar a rezar comigo, Sucessor de Pedro, que tenho uma tarefa específica no governar a Igreja de Cristo, assim como por todos os vosos Bispos e sacerdotes. Rezai por que saibamos ocupar-nos de todas as ovelhas, também das perdidas, da grei que nos foi confiada. A vós, queridos sacerdotes, dirijo um cordial convite para as Celebrações conclusivas do Ano sacerdotal, nos próximos dias 9, 10 e 11 de Junho, aqui em Roma: meditaremos sobre a conversão e missão, sobre o dom do Espírito Santo e sobre a relação com Maria Santíssima, e renovaremos as nossas promessas sacerdotais, apoiados por todo o Povo de Deus. Obrigado!

Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, com destaque para a Associação «Família da Esperança» pela numerosa presença dos seus membros: a minha saudação amiga para vós e para os fiéis de Niterói e de Curitiba. De coração a todos abençoo, pedindo que rezeis por mim, Sucessor de Pedro, cuja tarefa específica é governar a Igreja de Cristo, bem como pelos vossos Bispos e sacerdotes para que saibamos cuidar de todas as ovelhas do rebanho que Deus nos confiou. Obrigado!

                                                                                             



Praça de São Pedro

2 de Junho de 2010: São Tomás de Aquino


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