Audiências 2005-2013 22120

Quarta-feira, 22 de Dezembro de 2010

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Prezados irmãos e irmãs!


Com esta última audiência antes das Festas de Natal aproximamo-nos, trepidantes e repletos de enlevo, do «lugar» onde tudo teve início para nós e para a nossa salvação, onde tudo encontrou um cumprimento, onde se encontraram e se entrelaçaram as expectativas do mundo e do coração humano com a presença de Deus. Já agora podemos antegozar a alegria por aquela luz ténue que se entrevê, que da gruta de Belém começa a irradiar-se no mundo. No caminho do Advento, que a liturgia nos convidou a viver, fomos acompanhados a acolher com disponibilidade e reconhecimento o grande Acontecimento da vinda do Salvador e a contemplar cheios de admiração a sua entrada no mundo.

A espera jubilosa, característica dos dias que precedem o Santo Natal, é certamente a atitude fundamental do cristão, que deseja viver fecundamente o renovado encontro com Aquele que vem habitar no meio de nós: Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem. Voltemos a encontrar esta disposição do coração, fazendo-a nossa, naqueles que foram os primeiros a receber a vinda do Messias: Zacarias e Isabel, os pastores, o povo simples, e especialmente Maria e José, que sentiram pessoalmente a trepidação, mas sobretudo a alegria pelo mistério deste Nascimento. Todo o Antigo Testamento constitui uma única grande promessa, que devia realizar-se com a vinda de um salvador poderoso. Disto nos dá testemunho em particular o livro do profeta Isaías, que nos fala do esforço da história e de toda a criação por uma redenção destinata a dar novas energias e renovada orientação ao mundo inteiro. Assim, além da espera dos protagonistas das Sagradas Escrituras, ao longo dos séculos encontra espaço e significado também a nossa espera, aquela que nestes dias experimentamos e que nos conserva vigilantes durante todo o caminho da nossa vida. Com efeito, toda a existência humana é animada por este profundo sentimento, pelo desejo de que quanto de mais verdadeiro, bonito e maior entrevimos e intuímos com a mente e o coração, possa vir ao nosso encontro e, diante dos nossos olhos, se torne concreto e nos eleve.

«Eis que vem o Senhor todo-poderoso: será chamado Emanuel, Deus-connosco» (Antífona de entrada, Santa Missa de 21 de Dezembro). Nestes dias repetimos frequentemente estas palavras. No tempo da liturgia, que volta a actualizar o Mistério, já está às portas Aquele que vem para nos salvar do pecado e da morte, Aquele que, depois da desobediência de Adão e Eva, nos reabraça e nos abre de par em par a entrada para a vida verdadeira. Explica-o santo Ireneu, no seu tratado «Contra as heresias», quando afirma: «O próprio Filho de Deus assumiu “uma carne semelhante à do pecado” (
Rm 8,3) para condenar o pecado e, depois de o ter condenado, para o excluir completamente do género humano. Chamou o homem à semelhança consigo mesmo, tornou-o imitador de Deus, iniciou-o no caminho indicado pelo Pai para que pudesse ver Deus e conferiu-lhe como dom o próprio Pai» (III, 20, 2-3).

Aparecem-nos algumas ideias preferidas de santo Ireneu, que Deus com o Menino Jesus nos chama à semelhança consigo mesmo. Vemos como é Deus. E assim recorda-nos que nós deveríamos ser semelhantes a Deus. E devemos imitá-lo. Deus ofereceu-se, Deus entregou-se nas nossas mãos. Temos que imitar Deus. E por fim a ideia de que assim podemos ver Deus. Uma ideia central de santo Ireneu: o homem não vê Deus, não pode vê-lo, e assim está na obscuridade sobre a verdade, sobre si mesmo. Mas o homem que não pode ver Deus, pode ver Jesus. E deste modo vê Deus, assim começa a ver a verdade, começa a viver.

Portanto, o Salvador vem para reduzir à impotência a obra do mal e tudo quanto ainda nos pode manter distantes de Deus, para nos restituir ao antigo esplendor e à paternidade primitiva. Com a sua vinda ao meio de nós, Deus indica-nos e confia-nos também uma tarefa: precisamente a de ser semelhantes a Ele e de tender para a verdadeira vida, de alcançar a visão de Deus, no rosto de Cristo. Santo Ireneu afirma ainda: «O Verbo de Deus pôs a sua morada no meio dos homens e fez-se Filho do homem, para habituar o homem a sentir Deus, e para habituar Deus a fazer a sua morada no homem, segundo a vontade do Pai. Por isso, Deus concedeu-nos como «sinal» da nossa salvação Aquele que, nascendo da Virgem, é o Emanuel» (Ibidem). Também aqui há uma ideia central muito bonita de santo Ireneu: temos que nos habituar a sentir Deus. Normalmente, Deus está distante da nossa vida, das nossas ideias, do nosso agir. Aproximou-se de nós e temos que nos habituar a estar com Deus. E, audazmente, Ireneu ousa dizer que também Deus deve habituar-se a estar connosco e em nós. E que talvez Deus tenha que nos acompanhar no Natal, habituar-nos a Deus, como Deus se deve habituar a nós, à nossa pobreza e fragilidade. Por isso, a vinda do Senhor não pode ter outra finalidade, a não ser a de nos ensinar a ver e a amar os acontecimentos, o mundo e quanto nos circunda, com os olhos do próprio Deus. O Verbo que se fez Menino ajuda-nos a compreender o modo de agir de Deus, a fim de sermos capazes de nos deixar transformar cada vez mais pela sua bondade e misericórdia infinita.

Na noite do mundo, deixemo-nos surpreender e iluminar de novo por este gesto de Deus, que é totalmente inesperado: Deus faz-se Menino. Deixemo-nos surpreender, iluminar pela Estrela que inundou o universo de alegria. Chegando a nós, que o Menino Jesus não nos encontre despreparados, comprometidos só em tornar mais bonita a realidade exterior. A atenção que prestamos para tornar mais resplandecentes as nossas ruas e as nossas casas nos leve, ainda mais, a predispor o nosso espírito para encontrar Aquele que virá visitar-nos, que é a verdadeira beleza e a verdadeira luz. Portanto, purifiquemos a nossa consciência e a nossa vida daquilo que é contrário a esta vinda: pensamentos, palavras, atitudes e gestos, impelindo-nos a fazer o bem e a contribuir para realizar neste nosso mundo a paz e a justiça para cada homem e assim ir ao encontro do Senhor.

Sinal característico do tempo de Natal é o presépio. Também na Praça de São Pedro, segundo a tradição, está quase pronto e abre-se idealmente para Roma e para o mundo inteiro, representando a beleza do Mistério do Deus que se fez homem e pôs a sua tenda no meio de nós (cf. Jn 1,14). O presépio é expressão da nossa expectativa, que Deus se aproxima de nós, que Jesus se aproxima de nós, mas é também expressão da acção de graças Àquele que decidiu compartilhar a nossa condição humana, na pobreza e na simplicidade. Alegro-me porque permanece viva e, aliás, se redescobre a tradição de preparar o presépio nas casas, nos postos de trabalho, nos lugares de encontro. Este testemunho genuíno de fé cristã possa oferecer também hoje a todos os homens de boa vontade um sugestivo ícone do amor infinito do Pai por todos nós. Os corações das crianças e dos adultos possam ainda surpreender-se diante dele.

Caros irmãos e irmãs, a Virgem Maria e são José nos ajudem a viver o Mistério do Natal com renovada gratidão ao Senhor. No meio das actividades frenéticas dos nossos dias, este tempo nos conceda um pouco de calma e de alegria, e nos faça ver directamente a bondade do nosso Deus, que se faz Menino para nos salvar e dar renovada coragem e nova luz ao nosso caminho. Estes são os meus bons votos para um santo e feliz Natal: transmito-os com carinho a vós aqui presentes, aos vossos familiares, em particular aos doentes e àqueles que sofrem, assim como às vossas comunidades e a quantos vos são queridos.

Saudações

Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha cordial saudação de boas-vindas para todos, com votos de um santo Natal, portador das consolações e graças do Deus Menino: nos vossos corações, famílias e comunidades, resplandeça a luz do Salvador, que nos revela o rosto terno e misericordioso do Pai do Céu. Em seu Nome, eu vos abençoo, pedindo a Deus um Ano Novo sereno e feliz para todos.



Sala Paulo VI

29 de Dezembro de 2010: Santa Catarina de Bolonha

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Queridos irmãos e irmãs,

O século XV conheceu uma mulher de vasta cultura, mas muito humilde: Santa Catarina de Bolonha, cidade onde nasceu e onde voltou na fase final da vida, para fundar um mosteiro da sua Família Religiosa, inspirada na regra de Santa Clara de Assis. Catarina deixou-nos um belo programa de vida espiritual, na sua obra As Sete Armas Espirituais, que são: procurar solicitamente cumprir o bem; acreditar que, sozinhos, não poderemos jamais fazer algo de verdadeiramente bom; confiar em Deus e, por amor d’Ele, nunca temer a batalha contra o mal, tanto fora como dentro de nós mesmos; meditar muitas vezes nos factos e nas palavras da vida de Jesus, sobretudo na sua paixão e morte; recordar-nos que temos de morrer; manter viva na mente a lembrança dos bens do Paraíso; ter familiaridade com a Sagrada Escritura, trazendo-a sempre no coração, para que oriente todos os nossos pensamentos e acções.
* * *


Amados peregrinos de língua portuguesa, que viestes junto do túmulo de São Pedro renovar a vossa profissão de fé: a minha saudação de boas vindas para todos vós, em particular para o grupo de Escuteiros de Penedono, desejando-vos abundantes dons de graça e paz do Deus Menino, que imploro para vós e vossas famílias com a minha Bênção Apostólica.






Sala Paulo VI

Quarta-feira, 5 de Janeiro de 2011

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Estimados irmãos e irmãs!

Estou feliz por vos receber nesta primeira Audiência geral do novo ano e, de todo o coração, transmito-vos, bem como às vossas famílias os meus fervorosos bons votos. O Senhor do tempo e da história oriente os nossos passos pelo caminho do bem e conceda a cada um abundantes graças e prosperidade. Ainda circundados pela luz do Santo Natal, que nos convida à alegria pelo advento do Salvador, hoje estamos na vigília da Epifania, na qual celebramos a manifestação do Senhor a todos os povos. A festividade do Natal fascina, tanto hoje como outrora, mais do que as outras grandes festas da Igreja; fascina porque todos, de certo modo, intuem que o nascimento de Jesus tem a ver com as aspirações e as esperanças mais profundas do homem. O consumismo pode distrair desta saudade interior, mas se no coração existe o desejo de receber aquele Menino que traz a novidade de Deus, que veio para nos oferecer a vida em plenitude, as luzes dos adornos natalícios podem tornar-se sobretudo um reflexo da Luz que se acendeu mediante a Encarnação de Deus.

Nas celebrações litúrgicas destes dias santos vivemos de maneira misteriosa mas real a entrada do Filho de Deus no mundo e fomos iluminados mais uma vez pela luz do seu fulgor. Cada celebração é presença actual do mistério de Cristo e, nela, prolonga-se a história da salvação. A propósito do Natal, o Papa são Leão Magno afirma: «Embora a sucessão das obras corpóreas agora tenha passado, como foi ordenado antecipadamente no desígnio eterno..., todavia nós adoramos continuamente o mesmo parto da Virgem que produz a nossa salvação» (Sermão sobre o Natal do Senhor, 29, 2), e esclarece: «Porque aquele dia não passou, de tal modo que tenha passado também o poder da obra que então foi revelada» (Sermão sobre a Epifania, 36, 1). Celebrar os acontecimentos da Encarnação do Filho de Deus não é uma simples recordação de eventos do passado, mas significa tornar presentes aqueles mistérios portadores de salvação. Na Liturgia, na celebração dos Sacramentos, aqueles mistérios fazem-se actuais e tornam-se eficazes para nós, hoje. São Leão Magno afirma novamente: «Tudo aquilo que o Filho de Deus fez e ensinou para reconciliar o mundo, não o conhecemos somente através da narração de obras levadas a cabo no passado, mas vivemos sob o efeito do dinamismo de tais obras presentes» (Sermão 52, 1).

Na Constituição sobre a sagrada liturgia, o Concílio Vaticano II ressalta o modo como a obra da salvação realizada por Cristo continua na Igreja, mediante a celebração dos santos mistérios, graças à acção do Espírito Santo. Já no Antigo Testamento, no caminho rumo à plenitude da fé, temos testemunhos do modo como a presença e a acção de Deus é interposta através dos sinais, por exemplo o sinal do fogo (cf.
Ex 3,2 ss.; Ex 19,18). Mas a partir da Encarnação realiza-se algo surpreendente: o regime de contacto salvífico com Deus transforma-se radicalmente e a carne torna-se o instrumento da salvação: «Verbum caro factum est», «o Verbo fez-se carne», escreve o evangelista João, enquanto um autor cristão do século III, Tertuliano, afirma: «Caro salutis est cardo», «a carne é o fulcro da salvação» (De carnis resurrectione, 8, 3: PL 2, 806).

O Natal é já o primeito fruto do «sacramentum-mysterium paschale», ou seja, o princípio do mistério central da salvação que culmina na paixão, morte e ressurreição, porque Jesus dá início à oferenda de si mesmo por amor, desde o primeiro instante da sua existência humana, no seio da Virgem Maria. Por conseguinte, a noite de Natal está profundamente vinculada à grande vigília da noite da Páscoa, quando a redenção se realiza no sacrifício glorioso do Senhor morto e ressuscitado. O próprio presépio, como imagem da Encarnação do Verbo, à luz da narração evangélica, já alude à Páscoa, e é interessante ver como em alguns ícones da Natividade, na tradição oriental, o Menino Jesus é representado envolto em faixas e colocado numa manjedoura que tem a forma de um sepulcro; uma alusão ao momento em que Ele será deposto da cruz, envolvido num lençol e depositado num sepulcro escavado na rocha (cf. Lc 2,7 e Lc 23,53). Encarnação e Páscoa não se encontram uma ao lado da outra, mas constituem os dois pontos-chave inseparáveis da única fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus Encarnado e Redentor. Cruz e Ressurreição pressupõem a Encarnação. Só porque verdadeiramente o Filho, e nele o próprio Deus, «desceu» e «se fez carne», a morte e a ressurreição de Jesus constituem acontecimentos que nos são contemporâneos e nos dizem respeito, nos arrebatam da morte e nos abrem para um futuro em que esta «carne», a existência terrena e transitória, entrará na eternidade de Deus. Nesta perspectiva unitária do Mistério de Cristo, a visita ao presépio orienta para a visita à Eucaristia, onde está presente de modo real o Cristo crucificado e ressuscitado, o Cristo vivo.

Então, a celebração litúrgica do Natal não representa apenas uma recordação, mas é sobretudo um mistério; não é só memória, mas também presença. Para captar o sentido destes dois aspectos inseparáveis, é necessário viver intensamente todo o Tempo natalício como a Igreja o apresenta. Se o considerarmos em sentido lato, ele prolonga-se por quarenta dias, de 25 de Dezembro a 2 de Fevereiro, desde a celebração da Noite de Natal, até à Maternidade de Maria, à Epifania, ao Baptismo de Jesus, às bodas de Caná, à Apresentação no Templo, precisamente em analogia com o Tempo pascal, que forma uma unidade de cinquenta dias, até ao Pentecostes. A manifestação de Deus na carne é um acontecimento que revelou a Verdade na história. Com efeito, a data de 25 de Dezembro, única à ideia da manifestação solar — Deus que aparece como luz sem ocaso, no horizonte da história — recorda-nos que não se trata unicamente de uma ideia, aquela segundo a qual Deus é a plenitude da luz, mas de uma realidade para nós homens já realizada e sempre actual: tanto hoje como outrora, Deus revela-se na carne, ou seja, no «corpo vivo» da Igreja peregrina no tempo, e nos Sacramentos concede-nos hoje a salvação.

Os símbolos das celebrações natalícias, evocados pelas Leituras e pelas orações, conferem à liturgia deste Tempo um profundo sentido de «epifania» de Deus no seu Cristo-Verbo encarnado, ou seja, de «manifestação» que possui também um significado escatológico, isto é, orienta para os últimos tempos. Já no Advento, as duas vindas, a histórica e a do fim da história, estavam directamente vinculadas entre si; mas é em particular na Epifania e no Baptismo de Jesus que a manifestação messiânica se celebra na perspectiva das expectativas escatológicas: a consagração messiânica de Jesus, Verbo encarnado, mediante a efusão do Espírito Santo de forma visível, completa o tempo das promessas e assim inaugura os últimos tempos.

É necessário resgatar este Tempo natalício de um revestimento demasiado moralista e sentimental. A celebração do Natal não nos propõe apenas alguns exemplos a imitar, como a humildade e a pobreza do Senhor, a sua benevolência e o seu amor pelos homens; mas é sobretudo um convite a deixar-se transformar totalmente por Aquele que entrou na nossa carne. São Leão Magno exclama: «O Filho de Deus... uniu-se a nós e vinculou-nos a si de tal modo que a humilhação de Deus até à condição humana se tornasse uma elevação do homem até às alturas de Deus» (Sermão sobre o Natal do Senhor, 27, 2). A manifestação de Deus tem como finalidade a nossa participação na vida divina, na realização em nós mesmos do mistério da sua Encarnação. Tal mistério constitui o cumprimento da vocação do homem. São Leão Magno explica-nos novamente a importância concreta e sempre actual do mistério do Natal para a vida cristã: «As palavras do Evangelho e dos Profetas... inflamam o nosso espírito e ensinam-nos a compreender a Natividade do Senhor, este mistério do Verbo que se fez carne, não tanto como uma recordação de um acontecimento passado, mas sobretudo como um facto que se realiza sob os nossos olhos... é como se, na solenidade hodierna, ainda se proclamasse: “Anuncio-vos uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de David, nasceu para vós um Salvador, que é Cristo Senhor”» (Sermão sobre o Natal do Senhor, 29, 1). E acrescenta: «Reconhece, cristão, a tua dignidade e, tendo-te tornado partícipe da natureza divina, presta atenção a não recair, com uma conduta indigna, de tal grandeza na baixeza primitiva» (Sermão 1 sobre o Natal do Senhor, 3).

Estimados amigos, vivamos este Tempo natalício com intensidade: depois de termos adorado o Filho de Deus que se fez homem e foi colocado numa manjedoura, agora somos chamados a passar ao altar do Sacrifício, onde Cristo, o Pão que desceu do céu, se nos oferece como verdadeiro alimento para a vida eterna. E aquilo que nós vimos com os nossos olhos, na mesa da Palavra e do Pão de Vida, o que contemplamos, aquilo que as nossas mãos tocaram, ou seja o Verbo que se fez carne, anunciemo-lo com alegria ao mundo e testemunhemo-lo generosamente com toda a nossa vida. Renovo de coração a todos vós e aos vossos entes queridos os sinceros bons votos para o Novo Ano e desejo-vos uma feliz festividade da Epifania.

Saudação

Saúdo com profunda amizade os peregrinos de língua portuguesa presentes nesta Audiência, particularmente os fiéis vindos do Brasil. Neste início de ano, invoco sobre todos vós as luzes e bênçãos do Céu, para que possais anunciar e testemunhar alegremente, com palavras e obras, a vinda do Verbo que se fez carne. Ide em paz!



Sala Paulo VI

12 de Janeiro de 2011: Santa Catarina de Génova

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Prezados irmãos e irmãs!

Hoje gostaria de vos falar de outra santa que tem o nome de Catarina, depois de Catarina de Sena e Catarina de Bolonha; falo de Catarina de Génova, conhecida sobretudo pela sua visão sobre o purgatório. O texto que descreve a sua vida e o seu pensamento foi publicado nessa cidade da Ligúria em 1551; ele é dividido em três parte: a Vida propriamente dita, a Demonstração e declaração do purgatório — mais conhecida como Tratado — e o Diálogo entre a alma e o corpo (cf. Livro da Vida admirável e da doutrina santa, da beata Catarina de Génova, que contém uma útil e católica demonstração e declaração do purgatório, Génova, 1551). O redactor final foi o confessor de Catarina, o sacerdote Cattaneo Marabotto.

Catarina nasceu em Génova, em 1447; última de cinco filhos, ficou órfã do pai, Giacomo Fieschi, ainda em tenra idade. A mãe, Francesca di Negro, dispensou uma válida educação cristã, a tal ponto que a maior das duas filhas se tornou religiosa. Com 16 anos, Catarina foi concedida como esposa a Giuliano Adorno, um homem que, depois de várias experiências comerciais e militares no Médio Oriente, tinha regressado a Génova para casar. A vida matrimonial não foi fácil, também devido à índole do marido, apaixonado pelo jogo de azar. Inicialmente, a própria Catarina foi induzida a levar um tipo de vida mundana em que, contudo, não conseguia encontrar a serenidade. Depois de dez anos, no seu coração havia um profundo sentido de vazio e de amargura.

A conversão teve início a 20 de Março de 1473, graças a uma experiência singular. Tendo ido à igreja de são Bento e ao mosteiro de Nossa Senhora das Graças para se confessar, ajoelhou-se diante do sacerdote e «recebeu — como ela mesma escreve — uma chaga no coração, de um imenso amor de Deus», com uma visão tão clarividente das suas misérias e dos seus defeitos e, ao mesmo tempo, da bondade de Deus, que quase desmaiou. Foi tocada no coração por este conhecimento de si mesma, da vida vazia que ela levava e da bondade de Deus. Desta experiência derivou a decisão que orientou toda a sua vida, expressa com estas palavras: «Basta com o mundo e com os pecados» (cf. Vida admirável, 3rv). Então Catarina fugiu, suspendendo a Confissão. Voltou para casa, entrou no quarto mais escondido e chorou prolongadamente. Naquele momento, foi instruída interiormente sobre a oração e adquiriu a consciência do imenso amor de Deus por ela, pecadora, uma experiência espiritual que não conseguia expressar com palavras (cf. Vida admirável, 4r). Foi nessa ocasião que lhe apareceu Jesus sofredor que carregava a cruz, como é frequentemente representado na iconografia da santa. Poucos dias depois, foi ter com o sacerdote para finalmente realizar uma boa Confissão. Aqui teve início aquela «vida de purificação» que, durante muito tempo, lhe fez sentir uma dor constante pelos pecados cometidos e que a impeliu a impor-se penitências e sacrifícios para demonstrar o seu amor a Deus.

Neste caminho, Catarina foi-se aproximando cada vez mais do Senhor, até entrar naquela que é denominada «vida unitiva», ou seja, uma relação de profunda união com Deus. Na Vida está escrito que a sua alma era orientada e ensinada interiormente só pelo dócil amor de Deus, que lhe concedia tudo aquilo que ela precisava. Catarina abandonou-se de modo tão total nas mãos do Senhor que chegou a viver, durante cerca de vinte e cinco anos — como ela escreve — «sem o intermédio de qualquer criatura, instruída e governada unicamente por Deus» (Vida, 117r-118r), alimentada sobretudo pela oração constante e pela Sagrada Comunhão recebida todos os dias, o que não era comum na sua época. Só muitos anos mais tarde o Senhor lhe concedeu um sacerdote que cuidasse da sua alma.

Catarina hesitava sempre em confiar e manifestar a sua experiência de comunhão mística com Deus, sobretudo pela profunda humildade que sentia diante das graças do Senhor. Foi só a perspectiva de dar glória a Ele e de poder favorecer o caminho espiritual de outros que a levou a narrar aquilo que se verificava nela, a partir do momento da sua conversão, que é a sua experiência originária e fundamental. O lugar da sua ascensão aos vértices místicos foi o hospital de Pammatone, a maior estrutura hospitalar genovesa, da qual foi directora e animadora. Portanto, não obstante esta profundidade da sua vida interior, Catarina vive uma existência totalmente activa. Em Pammatone foi-se formando ao seu redor um grupo de seguidores, discípulos e colaboradores, fascinados pela sua vida de fé e pela sua caridade. O próprio marido, Giuliano Adorno, foi conquistado por ela, a ponto de abandonar a sua vida desregrada, de se tornar terciário franciscano e de se transferir para o hospital, para oferecer a sua ajuda à esposa. O compromisso de Catarina no cuidado dos doentes continuou até ao fim do seu caminho terreno, a 15 de Setembro de 1510. Desde a conversão até à morte, não houve acontecimentos extraordinários, mas dois elementos caracterizaram toda a sua existência: por um lado a experiência mística, ou seja, a profunda união com Deus, sentida como uma união esponsal e, por outro, a assistência aos enfermos, a organização do hospital e o serviço ao próximo, especialmente aos mais necessitados e abandonados. Estes dois pólos — Deus e o próximo — preencheram totalmente a sua vida, transcorrida praticamente entre as paredes do hospital.

Estimados amigos, nunca devemos esquecer que quanto mais amarmos a Deus e formos constantes na oração, tanto mais conseguiresmos amar verdadeiramente quantos estão ao nosso redor, quem está perto de nós, porque seremos capazes de ver em cada pessoa o Rosto do Senhor, que ama sem limites nem distinções. A mística não cria distâncias em relação ao outro, não cria uma vida abstracta, mas sobretudo aproxima do outro, porque se começa a ver e a agir com os olhos, com o Coração de Deus.

O pensamento de Catarina sobre o purgatório, pelo qual ela é particularmente conhecida, está condensado nas últimas duas partes do livro citado no início: o Tratado sobre o purgatório e o Diálogo entre a alma e o corpo. É importante observar que, na sua experiência mística, Catarina jamais tem revelações específicas sobre o purgatório ou sobre as almas que ali estão a purificar-se. Todavia, nos escritos inspirados pela nossa santa, é um elemento central, e o modo de o descrever tem características originais em relação à sua época. O primeiro traço original diz respeito ao «lugar» da purificação das almas. No seu tempo, ele era representado principalmente com o recurso a imagens ligadas ao espço: pensava-se num certo espaço, onde se encontraria o purgatório. Em Catarina, ao contário, o purgatório não é apresentado como um elemento da paisagem das vísceras da terra: é um fogo não exterior, mas interior. Este é o purgatório, um fogo interior. A santa fala do caminho de purificação da alma, rumo à plena comunhão com Deus, a partir da própria experiência de profunda dor pelos pecados cometidos, em relação ao amor infinito de Deus (cf. Vida admirável, 171v). Ouvimos sobre o momento da conversão, quando Catarina sente repentinamente a bondade de Deus, a distância infinita da própria vida desta bondade e um fogo ardente no interior de si mesma. E este é o fogo que purifica, é o fogo interior do purgatório. Também aqui há um traço original em relação ao pensamento do tempo. Com efeito, não se começa a partir do além para narrar os tormentos do purgatório — como era habitual naquela época e talvez ainda hoje — e depois indicar o caminho para a purificação ou a conversão, mas a nossa santa começa a partir da própria experiência interior da sua vida a caminho da eternidade. A alma — diz Catarina — apresenta-se a Deus ainda vinculada aos desejos e à pena que derivam do pecado, e isto torna-lhe impossível regozijar com a visão beatífica de Deus. Catarina afirma que Deus é tão puro e santo que a alma com as manchas do pecado não pode encontrar-se na presença da majestade divina (cf. Vida admirável, 177r). E também nós sentimos como estamos distantes, como estamos repletos de tantas coisas, a ponto de não podermos ver Deus. A alma está consciente do imenso amor e da justiça perfeita de Deus e, por conseguinte, sofre por não ter correspondido de modo correcto e perfeito a tal amor, e precisamente o amor a Deus torna-se chama, é o próprio amor que a purifica das suas escórias de pecado.

Em Catarina entrevê-se a presença de fontes teológicas e místicas das quais era normal haurir na sua época. Em particular, encontra-se uma imagem típica de Dionísio, o Areopagita, ou seja, aquela do fio de ouro que liga o coração humano ao próprio Deus. Quando Deus purifica o homem, liga-o com um fio de ouro extremamente fino, que é o seu mor, e atrai-o a si com um afecto tão forte, que o homem permanece como que «superado, vencido e totalmente fora de si». Assim, o coração do homem é invadido pelo amor de Deus, que se torna o único guia, o único motor da sua existência (cf. Vida admirável, 246rv). Esta situação de elevação a Deus e de abandono à sua vontade, expressa na imagem do fio, é utilizada por Catarina para manifestar a obra da luz divina nas almas do purgatório, luz que as purifica e eleva aos esplendores dos raios fúlgidos de Deus (cf. Vida admirável, 179r).

Queridos amigos, na sua experiência de união com Deus os santos alcançam um «saber» tão profundo dos mistérios divinos, no qual o amor e o conhecimento se compenetram, a ponto de ajudarem os próprios teólogos no seu compromisso de estudo, de intelligentia fidei, de intelligentia dos mistérios da fé, de aprofundamento real dos mistérios, por exemplo daquilo que é o purgatório.

Com a sua vida, santa Catarina ensina-nos que quanto mais amamos a Deus e entramos em intimidade com Ele na oração, tanto mais Ele se faz conhecer e acende o nosso coração com o seu amor. Escrevendo acerca do purgatório, a santa recorda-nos uma verdade fundamental da fé, que se torna para nós um convite a rezar pelos defuntos, a fim de que eles possam chegar à visão beatífica de Deus na comunhão dos santos (cf. Catecismo da Igreja Católica
CEC 1032). Além disso, o serviço humilde, fiel e generoso, que a santa prestou durante toda a sua vida no hospital de Pammatone, é um exemplo luminoso de caridade para todos e um encorajamento especialmente para as mulheres que oferecem uma contribuição fundamental para a sociedade e a Igreja com a sua obra preciosa, enriquecida pela sua sensibilidade e pela atenção aos mais pobres e necessitados. Obrigado!

Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, de quem me apraz salientar a presença do grupo de juristas do Brasil: para todos vai a minha saudação amiga de boas-vindas, com o convite a aderirdes sempre mais a Jesus Cristo e a fazerdes do seu Evangelho o guia do vosso pensamento e da vossa vida. Então sereis, na sociedade, aquele fermento de vida nova que a humanidade precisa para construir um futuro mais justo e solidário, que sonhais e servis com a vossa actividade. Sobre vós e vossas famílias, desça a minha Bênção Apostólica.



Sala Paulo VI

19 de Janeiro de 2011: Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos

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Amados irmãos e irmãs

Celebramos a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, em que todos os crentes em Cristo são convidados a unir-se em oração para dar testemunho do profundo vínculo que existe entre eles e para invocar o dom da plena comunhão. É providencial o facto de que, no caminho para construir a unidade, a oração seja posta no centro: isto recorda-nos, mais uma vez, que a unidade não pode ser um simples produto do agir humano; ela é antes de tudo um dom de Deus, que comporta um crescimento na comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Concílio Vaticano II diz: «Tais preces comuns são certamente um meio muito eficaz para impetrar a graça da unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais os católicos ainda estão unidos aos irmãos separados: “Porque onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome [diz o Senhor], aí estou Eu no meio deles” (
Mt 18,20)» (Decreto Unitatis redintegratio UR 8). O caminho rumo à unidade visível entre todos os cristãos habita na oração porque, fundamentalmente, a unidade não somos nós que a «costruímos», mas é Deus que a «constrói», deriva dele, do Mistério trinitário, da unidade do Pai com o Filho no diálogo de amor que é o Espírito Santo, e o nosso compromisso ecuménico deve abrir-se à obra divina, deve fazer-se invocação quotidiana da ajuda de Deus. A Igreja é sua, e não nossa.

O tema escolhido este ano para a Semana de Oração faz referência à experiência da primeira comunidade cristã de Jerusalém, como é descrita pelos Actos dos Apóstolos; ouvimos o texto: «Eles eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e à oração» (Ac 2,42). Devemos considerar que já no momento do Pentecostes o Espírito Santo desce sobre pessoas de diferentes línguas e culturas: isto significa que a Igreja abraça desde o início pessoas de diversas proveniências e, todavia, precisamente a partir de tais diferenças, o Espírito cria um único corpo. Como início da Igreja, o Pentecostes assinala a ampliação da Aliança de Deus a todas as criaturas, povos e tempos, para que a inteira criação caminhe rumo à sua verdadeira finalidade: ser lugar de unidade e de amor.

No trecho citado pelos Actos dos Apóstolos, quatro características definem a primeira comunidade cristã de Jerusalém como lugar de unidade e de amor, e são Lucas não quer apenas descrever algo do passado. Oferece-nos este modelo como norma da Igreja presente, porque estas quatro características devem constituir sempre a vida da Igreja. Primeira característica, ser unida e assídua à escuta do ensino dos Apóstolos, depois à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações. Como eu disse, estes quatro elementos ainda hoje são os pilares da vida de cada comunidade cristã e constituem também o único fundamento sólido sobre o qual progredir na busca da unidade visível da Igreja.

Antes de tudo temos a escuta do ensino dos Apóstolos, ou seja, a escuta do testemunho que eles dão da missão, da vida, morte e ressurreição do Senhor. É a isto que Paulo chama simplesmente o «Evangelho». Os primeiros cristãos recebiam o Evangelho dos lábios dos Apóstolos, eram unidos pela sua escuta e pela sua proclamação porque o Evangelho, como afirma São Paulo, «é uma força vinda de Deus para a salvação de todo aquele que crê» (Rm 1,16). Ainda hoje, a comunidade dos fiéis reconhece na referência ao ensino dos Apóstolos a norma da própria fé: cada esforço pela construção da unidade entre todos os cristãos passa, portanto, através do aprofundamento da fidelidade ao depositum fidei que nos foi transmitido pelos Apóstolos. Firmeza na fé é o fundamento da nossa comunhão, é o alicerce da unidade cristã.

O segundo elemento é a comunhão fraterna. Na época da primeira comunidade cristã, bem como nos nossos dias, ela é a expressão mais tangível, sobretudo para o mundo externo, da unidade entre os discípulos do Senhor. Nos Actos dos Apóstolos lemos que os primeiros cristãos tinham tudo em comum, e quem dispunha de propriedades e bens, vendia-os para os dividir com os necessitados (cf. Ac 2,44-45). Na história da Igreja, esta partilha dos próprios bens encontrou modalidades de expressão sempre novas. Uma delas, peculiar, é a das relações de fraternidade e de amizade, construídas entre cristãos de diversas confissões. A história do movimento ecuménico está marcada por dificuldades e incertezas, mas é também uma história de fraternidade, de cooperação e de partilha humana e espiritual, que mudou em medida significativa as relações entre os crentes no Senhor Jesus: todos estamos comprometidos em continuar por este caminho. Portanto o segundo elemento, a comunhão, é antes de tudo comunhão com Deus através da fé; mas a comunhão com Deus cria a comunhão entre nós e manifesta-se necessariamente naquela comunhão concreta da qual falam os Actos dos Apóstolos, ou seja, a partilha. Ninguém na comunidade cristã deve sentir fome, nem ser pobre: esta é uma obrigação fundamental. A comunhão com Deus, realizada como comunhão fraterna, expressa-se concretamente no compromisso social, na caridade cristã e na justiça.

Terceiro elemento: na vida da primeira comunidade de Jerusalém era essencial o momento da fracção do pão, em que o próprio Senhor se torna presente com o único sacrifício da Cruz no seu doar-se completamente pela vida dos seus amigos: «Isto é o meu Corpo que será entregue por vós... Este é o cálice do meu Sangue... derramado por vós». «A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja» (João Paulo II, Encíclica Ecclesia de Eucharistia EE 1). A comunhão no sacrifício de Cristo é o ápice da nossa união com Deus e portanto representa também a plenitude da unidade dos discípulos de Cristo, a plena comunhão. Durante esta semana de oração pela unidade é particularmente viva a lástima pela impossibilidade de compartilhar a mesma Mesa eucarística, sinal de que ainda estamos distantes da realização da unidade pela qual Cristo orou. Esta experiência dolorosa, que confere inclusive uma dimensão penitencial à nossa oração, deve tornar-se motivo de um compromisso ainda mais generoso da parte de todos a fim de que, removidos os obstáculos para a plena comunhão, chegue o dia em que será possível reunir-nos ao redor da Mesa do Senhor, partir juntos o Pão eucarístico e beber do mesmo cálice.

Enfim, a oração — ou, como diz são Lucas, as orações — é a quarta característica da Igreja primitiva de Jerusalém, descrita no livro dos Actos dos Apóstolos. A oração é desde sempre a atitude constante dos discípulos de Cristo, o que acompanha a sua vida diária em obediência à vontade de Deus, como nos atestam também as palavras do apóstolo Paulo, que escreve na primeira carta aos Tessalonicenses: «Vivei sempre felizes. Orai sem cessar. Em todas as circunstâncias dai graças, porque esta é a vontade de Deus para vós em Jesus Cristo» (1Th 5,16-18 cf. Ep 6,18). A oração cristã, participação na prece de Jesus, é experiência filial por excelência, como nos atestam as palavras do Pai-Nosso, oração da família — o «nós» dos filhos de Deus, dos irmãos e das irmãs — que fala ao Pai comum. Portanto, pôr-se em atitude de oração significa também abrir-se à fraternidade. Só no «nós» podemos recitar o Pai-Nosso. Por isso abramo-nos à fraternidade, que deriva do facto de sermos filhos do único Pai celeste e estarmos dispostos ao perdão e à reconciliação.

Caros Irmãos e Irmãs, como discípulos do Senhor temos uma comum responsabilidade pelo mundo, temos que prestar um serviço comum: como a primeira comunidade cristã de Jerusalém, começando a partir daquilo que já compartilhamos, temos que oferecer um forte testemunho, fundado espiritualmente e sustentado pela razão, do único Deus que se revelou e nos fala em Cristo, para sermos portadores de uma mensagem que oriente e ilumine o caminho do homem do nosso tempo, muitas vezes desprovido de pontos de referência claros e válidos. Então, é importante crescer cada dia no amor recíproco, comprometendo-nos a superar as barreiras que ainda existem entre os cristãos; sentir que existe uma verdadeira unidade interior entre todos aqueles que seguem o Senhor; colaborar o mais possível, trabalhando juntos sobre as questões ainda abertas; e sobretudo permanecendo conscientes de que neste itinerário o Senhor deve assistir-nos, ainda nos deve ajudar muito, pois sem Ele, sozinhos, sem «permanecer nele», nada podemos (cf. Jn 15,5).

Estimados amigos, é de novo na oração que nos encontramos reunidos — particularmente nesta semana — com todos aqueles que professam a sua fé em Jesus Cristo, Filho de Deus: perseveremos na oração, sejamos homens de oração, implorando de Deus o dom da unidade, para que se realize para o mundo inteiro o seu desígnio de salvação e de reconciliação. Obrigado!

Saudação

Amados peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! A todos saúdo com grande afeto e alegria, exortando-vos a perseverar na oração, pedindo a Deus o dom da unidade, a fim de que se cumpra no mundo inteiro o seu desígnio de salvação! Ide em paz!


Sala Paulo VI

26 de Janeiro de 2011: Santa Joana d’Arc


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