Atos (CNB) 1




 “Em Jerusalém, na Judéia, e na Samaria”

 A promessa do Espírito Santo

1 1 No meu primeiro livro, ó Teófilo, tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo 2 até o dia em que foi elevado ao céu, depois de ter dado instruções, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que havia escolhido. 3 Depois da sua paixão, Jesus mostrou-se vivo a eles, com numerosas provas. Apareceu-lhes por um período de quarenta dias, falando do Reino de Deus. 4 Ao tomar a refeição com eles, deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual me ouvistes falar, quando eu disse: 5 ‘João batizou com água; vós, porém, dentro de poucos dias sereis batizados com o Espírito Santo’”.

 Jesus elevado ao céu

6 Então, os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: “Senhor, é agora que vais restabelecer o Reino para Israel?” 7 Jesus respondeu: “Não cabe a vós saber os tempos ou momentos que o Pai determinou com a sua autoridade. 8 Mas recebereis o poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”.
9
Depois de dizer isto, Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem o retirou aos seus olhos. 10 Continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apresentaram-se a eles então dois homens vestidos de branco, 11 que lhes disseram: “Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.
A comunidade em Jerusalém
12
Então os apóstolos deixaram o monte das Oliveiras e voltaram para Jerusalém, à distân­cia que se pode andar num dia de sábado. 13 Entraram na cidade e subiram para a sala de cima onde costumavam ficar. Eram Pedro­ e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bar­tolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Si­mão Zelota e Judas, filho de Tiago. 14 Todos eles perseveravam na oração em comum, jun­to com algumas mulheres – entre elas, Maria,­ mãe de Jesus – e com os irmãos dele.

 Eleição de Matias 

15 Naqueles dias, estava reunido um grupo de mais ou menos cento e vinte pessoas. Pedro levantou-se no meio dos irmãos e disse: 16 “Irmãos, era necessário que se cumprisse o que o Espírito Santo, por meio de Davi, na Escritura, anunciou acerca de Judas, que se tornou o guia daqueles que prenderam Jesus. 17 Ele era um dos nossos e foi incumbido do mesmo ministério. 18 Ele até comprou um campo com o salário da maldade, mas caiu morto, de bruços, arrebentado pelo meio, espalhando-se todas as suas vísceras. 19 O fato se tornou conhecido de todos os habitantes de Jerusalém. Por isso, aquele campo chama-se na língua deles Hacéldama, quer dizer, Campo do Sangue. 20 De fato, no livro dos Salmos está escrito:
Fique deserta a sua morada,
e não haja quem nela habite!
E ainda:
Que outro receba o seu encargo’.
21
Há homens que nos acompanharam duran­te todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, 22 a começar pelo batismo de João até o dia em que foi elevado do meio de nós. Agora, é preciso que um deles se junte a nós para ser testemunha da sua ressurreição”.
23
Apresentaram então dois homens: José, chamado Barsabás, que tinha o apelido de Justo, e Matias. 24 Em seguida, fizeram esta oração: “Senhor, tu conheces os corações de todos. Mostra-nos qual destes dois escolheste 25 para ocupar, neste ministério e apostolado, o lugar que Judas abandonou para ir ao lugar que lhe cabia”. 26 Tiraram então a sorte entre os dois. A sorte caiu em Matias, o qual foi acrescentado ao número dos onze apóstolos.

 Pentecostes: manifestação do Espírito

2 1 Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. 2 De repente, veio do céu um ruído como de um vento forte, que encheu toda a casa em que se encontravam. 3 Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia expressar-se.
5
Residiam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações que há debaixo do céu. 6 Quando ouviram o ruído, reuniu-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. 7 Cheios de espanto e de admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? 8 Como é que nós os escutamos na nossa língua de origem? 9 Nós, que somos partas, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capa­dócia, do Ponto e da Ásia, 10 da Frígia e da Pan­fília, do Egito e da parte da Líbia próxima­ de Cirene, e os romanos aqui residentes, 11 judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciando as maravilhas de Deus em nossa própria língua!”
12
Todos estavam pasmados e perplexos, e diziam uns aos outros: “Que significa isso?” 13 Mas outros caçoavam: “Estão bêbados de vinho doce”.

 O anúncio de Pedro, ou querigma 

14 Pedro, de pé, junto com os onze apóstolos, levantou a voz e falou à multidão: “Homens da Judéia e todos vós, que residis em Jerusalém, seja do vosso conhecimento o que vou dizer. Escutai-me com toda a atenção. 15 Estes aqui não estão embriagados, como podeis pensar, pois estamos ainda em plena manhã. 16 Está acontecendo o que foi anunciado pelo profeta Joel:
17
‘Nos últimos dias, diz o Senhor,
derramarei do meu Espírito sobre toda carne,
e vossos filhos e filhas profetizarão,
os vossos jovens terão visões
e os vossos anciãos terão sonhos;
18
mesmo sobre os meus escravos e escravas
derramarei do meu Espírito, naqueles dias,
e profetizarão.
19
E mostrarei prodígios no céu, em cima,
e sinais na terra, em baixo,
sangue e fogo e nuvem de fumaça.
20
O sol se transformará em trevas
e a lua, em sangue,
antes que venha o grande e glorioso dia
do Senhor.
21
E todo aquele que invocar o nome do
Senhor será salvo.
22
Homens de Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré foi um homem credenciado por Deus junto de vós, pelos milagres, prodígios e sinais que Deus realizou entre vós por meio dele, como bem o sabeis. 23 Deus, em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa cruz. 24 Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias da morte, porque não era possível que ela o dominasse. 25 Pois Davi diz a seu respeito:
Eu via sempre o Senhor diante de mim,
porque está à minha direita, para que eu
não vacile.
26
Por isso alegrou-se meu coração
e exultou minha língua;
mais ainda, minha carne repousará na
esperança.
27
Não abandonarás minha alma no
mundo dos mortos
nem deixarás o teu Santo conhecer a
decomposição.
28
Deste-me a conhecer caminhos de vida
e me encherás de alegria com a tua presença’.
29
Irmãos, seja-me permitido dizer-vos, com toda liberdade, que o patriarca Davi morreu e foi sepultado, e seu sepulcro está entre nós até hoje. 30 Ora, ele era profeta e sabia que Deus?lhe havia jurado solenemente que um de seus descendentes se sentaria no seu trono. 31 Assim, ele previu a ressurreição do Cristo e é dela que dis­se: não foi abandonado no mundo dos mortos, e sua carne não conheceu a decomposição
32
De fato, Deus ressuscitou este mesmo Je­sus, e disso todos nós somos testemunhas. 33 E agora, exaltado pela direita de Deus, ele recebeu­ o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai e o derramou, como estais vendo e ouvindo.
34
Pois Davi não subiu ao céu, mas ele diz:
Disse o Senhor ao meu Senhor: senta-te
à minha direita,
35
até que eu ponha teus inimigos como
apoio para teus pés’.
36
Portanto, que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes”.

 Primeiras conversões 

37 Quando ouviram isso, ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: “Irmãos, que devemos fazer?” 38 Pedro respondeu: “Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. 39 Pois a promessa é para vós e vossos filhos, e para todos aqueles que estão longe, todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar”. 40 Com muitas outras palavras ainda, Pedro lhes dava testemunho e os exortava, dizendo: “Salvai-vos desta geração perversa!” 41 Os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o batismo. Naquele dia, foram acrescentadas mais ou menos três mil pessoas.

 A vida da primeira comunidade

42 Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. 43 Apossava-se de todos o temor, e pelos apóstolos rea­lizavam-se numerosos prodígios e sinais. 44 Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum; 45 vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinhei­ro entre todos, conforme a necessidade de cada um. 46 Perseverantes e bem unidos, freqüentavam diariamente o templo, partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração. 47 Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram salvas.

 Cura do aleijado no templo 

3 1 Pedro e João subiam ao templo para a oração das três da tarde. 2 Neste momento, traziam lá um homem, coxo de nascença, que todos os dias era colocado na porta do templo chamada Formosa, para pedir esmolas aos que entravam. 3 Quando viu Pedro e João entrarem no templo, o homem pediu uma esmola. 4 Pedro, com João, olhou bem para ele e disse: “Olha para nós!” 5 O homem ficou olhando para eles, esperando receber alguma coisa. 6 Pedro então disse: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!” 7 E tomando-o pela mão direita, Pedro o levantou. Na mesma hora, os pés e os tornozelos do homem ficaram firmes, 8 ele saltou, ficou de pé e começou a andar. E entrou no templo junto com Pedro e João, andan­do, saltando e louvando a Deus. 9 Todo o povo viu o homem andando e louvando a Deus. 10 Reconheceram então que era ele que pedia esmolas, sentado à Porta Formosa do templo. E fi­caram cheios de assombro e de admiração pelo que lhe acontecera.

 Anúncio de Pedro no templo 

11 Ele não largava mais Pedro e João. E todo o povo, assombrado, acorreu para junto deles, no chamado Pórtico de Salomão. 12 Vendo isso, Pedro dirigiu-se ao povo: “Homens de Israel, por que estais admirando o que aconteceu? Por que ficais olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar com nosso próprio poder ou piedade? 13 O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou o seu servo Jesus, que vós entregastes e rejeitastes diante de Pilatos, que estava decidido a soltá-lo. 14 Vós rejeitastes o Santo e o Justo e pedistes que vos fosse agraciado um assassino. 15 Aquele que conduz à vida, vós o matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disto nós somos testemunhas. 16 Graças à fé no nome de Jesus, este Nome acaba de fortalecer este homem que vedes e reconheceis. A fé que vem por meio de Jesus lhe deu perfeita saúde, à vista de todos vós.
17
Ora, meus irmãos, eu sei que agistes por ignorância, assim como vossos chefes. 18 Deus, porém, cumpriu deste modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. 19 Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam apagados. 20 Assim chegará o tempo do refrigério que vem do Senhor. Este enviará o Cristo, Jesus, que de antemão vos foi destinado. 21 Entretanto, é necessário que o céu o acolha até que se cumpra o tempo da restauração de todas as coisas. Pois assim falou Deus, nos tempos passados, pela boca de seus santos profetas. 22 Com efeito, Moisés afirmou: ‘O Senhor Deus suscitará, dentre vossos irmãos, um pro­feta como eu. Dai-lhe ouvidos em tudo o que ele vos disser. 23 Assim será: Quem não der ouvidos a este profeta, será eliminado do meio do povo’. 24 E todos os profetas que falaram, desde Samuel e seus sucessores, também eles anunciaram estes dias.
25
Vós sois os filhos dos profetas, os filhos da aliança que Deus fez com vossos pais, quando disse a Abraão: ‘Através da tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra’. 26 Para vós, primeiramente, Deus suscitou o seu Servo e o enviou a vós, para vos abençoar, na medida em que cada um se afaste de suas más ações”.

 Pedro e João perante o Sinédrio

4 1 Pedro e João ainda estavam falando ao povo, quando chegaram os sacerdotes, o comandante da guarda do templo e os saduceus. 2 Estavam irritados, porque os apóstolos ensinavam o povo e anunciavam a ressurreição dos mortos na pessoa de Jesus. 3 Eles prenderam Pedro e João e os colocaram na prisão até o dia seguinte, pois estava anoitecendo. 4 Todavia, muitos que tinham ouvido a pregação abraçaram a fé, e os membros da comunidade chegaram a uns cinco mil.
5
No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém os chefes, os anciãos e os escribas. 6 Estavam presentes o sumo sacerdote Anás, e também Caifás, João, Alexandre e todos os que pertenciam às famílias dos sumos sacerdotes. 7 Fizeram Pedro e João comparecer diante deles e os interrogaram: “Com que poder ou em virtude de que nome vós fizestes isso?” 8 Então, Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes: “Chefes do povo e anciãos, 9 hoje estamos sendo interrogados por termos feito o bem a um enfermo e pelo modo como foi curado. 10 Ficai, pois, sabendo todos vós e todo o povo de Israel: se este homem está curado diante de vós, é por meio do nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos. 11 Este é
a pedra que vós, os construtores,
desprezastes
e que se tornou a pedra angular.
12
Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado à humanidade pelo qual devamos ser salvos”.
13
\Os interrogadores ficaram admirados ao ver a coragem com que Pedro e João falavam, sendo pessoas simples e sem instrução. Verificaram que eles tinham andado com Jesus, 14 mas vendo, junto deles, em pé, o homem que tinha sido curado, nada podiam dizer em contrário. 15 Então os mandaram sair do Sinédrio e começaram a discutir entre si: 16 “Que vamos fazer com esses homens? Eles realizaram um milagre notório, e o fato tornou-se de tal modo conhecido por todos os habitantes de Jerusalém que não podemos negá-lo. 17 Contudo, a fim de que o assunto não se espalhe ainda mais entre o povo, vamos intimidá-los, para que não falem mais a ninguém a respeito desse nome”. 18 Chamaram de novo Pedro e João e ordenaram-lhes que, de modo algum, falassem ou ensinassem em nome de Jesus. 19 Pedro e João responderam: “Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, que obedeçamos antes a vós do que a Deus! 20 Quanto a nós, não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos”. 21 Então, insistindo em suas ameaças, e como não tivessem meio de castigá-los, deixaram Pedro e João em liberdade, por causa do povo. Pois todos glorificavam a Deus pelo que havia acontecido. 22 O homem beneficiado por este sinal da cura tinha mais de quarenta anos.

 Oração da comunidade ameaçada 

23 Logo que foram postos em liberdade, Pedro e João voltaram para junto dos irmãos e contaram tudo quanto os sumos sacerdotes e os anciãos haviam dito. 24 Ao ouvirem o relato, todos juntos elevaram a voz a Deus e disseram: “Senhor, tu criaste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe. 25 Por meio do Espírito Santo, disseste através do teu servo Davi, nosso pai:
Por que se enfureceram as nações,
e os povos imaginaram coisas vãs?
26
Os reis da terra se apresentaram,
e os príncipes uniram-se
contra o Senhor e contra o seu Ungido’.
27
Foi o que aconteceu nesta cidade: He­ro­des e Pôncio Pilatos uniram-se, com as nações pagãs e a população de Israel, contra Je­sus, teu santo servo, a quem ungiste, 28 a fim de executarem tudo o que a tua mão e a tua vontade haviam predeterminado que sucedesse. 29 Agora, Senhor, olha as ameaças que fazem, e concede que os teus servos anunciem corajosamente a tua palavra. 30 Estende a mão para que se realizem curas, sinais­ e prodígios por meio do nome do teu santo servo Jesus”.
31
Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus.

 A comunhão de bens. Barnabé

32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coi­sas que possuía, mas tudo entre eles era pos­to em comum. 33 Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e sobre todos eles multiplicava-se a graça \de Deus. 34 Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro 35 e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a ne­cessidade de cada um. 36 Assim fez José, que os apóstolos chamavam de Barnabé (que significa “filho da consolação”). Era levita, natu­ral de Chipre. 37 Ele possuía um campo, vendeu-o e depositou o dinheiro aos pés dos apóstolos.

 Ananias e Safira 

5 1 Ora, um homem chamado Ananias, junto com sua mulher Safira, vendeu sua propriedade, 2 mas, com o conhecimento da mulher, ficou com uma parte do dinheiro e depositou só uma parcela aos pés dos apóstolos. 3 Então, Pedro disse: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mintas ao Espírito Santo e retenhas uma parte do preço da propriedade? 4 Ficando como estava, não permaneceria tua? E vendendo-a, o dinheiro não ficaria teu? Como pôde tal coisa passar por tua cabeça? Não é a homens que mentiste, mas a Deus”. 5 Ao ouvir essas palavras, Ananias caiu morto. Grande temor apoderou-se de todos os que ficaram sabendo. 6 Vieram então os jovens para envolver o corpo e o levaram à sepultura.
7
Umas três horas depois, entrou sua mulher, sem saber do acontecido. 8 Pedro lhe dirigiu a palavra: “Foi por essa quantia mesmo que vendeste a propriedade?” Ela confirmou: “Sim, foi”. 9 Pedro replicou: “Por que combinastes pôr à prova o Espírito Santo? Olha, os pés dos que enterraram teu marido estão à porta para levar a ti também!” 10 No mesmo instante, ela caiu diante dele e expirou. Ao entrarem, os jovens a encontraram morta e levaram-na para sepultá-la junto do marido. 11 Grande temor apoderou-se de toda a Igreja e de todos os que ficaram sabendo do acontecido.

 Milagres dos apóstolos

12 Muitos sinais e prodígios eram realizados entre o povo pelas mãos dos apóstolos. Todos os fiéis se congregavam, bem unidos, no Pórtico de Salomão. 13 Nenhum dos outros ousava juntar-se a eles, mas o povo estimava-os muito. 14 Entretanto crescia sempre mais o número dos que pela fé aderiam ao Senhor, uma multidão de homens e mulheres. 15 Chegavam a transportar para as praças os doentes em camas e macas, a fim de que, quando Pedro passasse, pelo menos sua sombra tocasse alguns deles. 16 A multidão vinha até das cidades vizinhas de Jerusalém, trazendo doentes e pessoas atormentadas por maus espíritos. E todos eram curados.

 Libertação milagrosa. Novamente o Sinédrio 

17 O sumo sacerdote e todos os seus partidá­rios (isto é, a facção dos saduceus) encheram­-se de raiva, 18 mandaram prender os apóstolos e lançá-los na cadeia pública. 19 Durante?a noite, porém, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e os fez sair, dizendo: 20 “Apre­sentai-vos no templo e anunciai ao povo toda a mensagem a respeito desta Vida”. 21 Eles obe­deceram e, ao amanhecer, entraram no templo e começaram a ensinar.
O sumo sacerdote chegou com os seus partidários e convocou o Sinédrio e o conselho de anciãos dos israelitas. Então mandaram buscar os apóstolos na prisão. 22
Mas, ao chegarem à prisão, os servos não os encontraram­ e voltaram, dizendo: 23 “Encontramos a prisão­ fechada, com toda a segurança, e os guardas a postos, na frente da porta. Mas, quando abrimos a porta, não encontramos ninguém lá dentro”. 24 Ao ouvirem essa notícia, o comandante da guarda do templo e os sumos sa­cerdotes não sabiam o que pensar, e perguntavam-se o que poderia ter acontecido. 25 Chegou alguém que lhes comunicou: “Os homens que metestes na prisão estão no templo ensinando o povo!”
26
Então o comandante saiu com os guardas e trouxe os apóstolos, mas sem violência, pois tinham medo de que o povo os atacasse com pedras. 27 Levaram os apóstolos e os apresentaram ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a interrogá-los: 28 “Não vos proibimos expressamente de ensinar nesse nome? Apesar disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E ainda quereis nos responsabilizar pela morte desse homem!” 29 Então Pedro e os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens. 30 O Deus de nossos pais suscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz. 31 Deus, porém, por seu poder, o exaltou, tornando-o Chefe e Salvador, para propiciar a Is­rael a conversão e o perdão dos seus pecados. 32 E disso somos testemunhas, nós e o Espírito­ Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem”. 33 Quando ouviram isto, ficaram furiosos e queriam matálos.

 Gamaliel

34 Então levantou-se, no Sinédrio, um fariseu chamado Gamaliel, mestre da Lei e estimado por todo o povo. Ele mandou que os acusados­ saíssem por um instante. 35 Depois falou: “Homens de Israel, vede bem o que estais para fa­zer contra estes homens. 36 Algum tempo atrás levantou-se Teudas, que se fazia de importante, e a quem se juntaram cerca de quatrocentos seguidores: ele foi morto, e todos os que o seguiam debandaram. Nada restou. 37 Depois dele, no tempo do recenseamento, surgiu Judas, o galileu, que arrastou o povo atrás de si. Contudo, também ele morreu e?to­dos os seus seguidores se dispersaram. 38 Quanto ao que está acontecendo agora, dou-vos um conselho: não vos preocupeis com estes homens e deixai-os ir embora. Porque, se este projeto ou esta atividade é de origem humana, será destruída. 39 Mas, se vem de Deus, não conseguireis destruí-los. Não aconteça que vos encontreis combatendo contra Deus!”
Os membros do conselho aceitaram o parecer de Gamaliel. 40
Chamaram os apóstolos,­ mandaram açoitá-los, proibiram que eles fa­lassem no nome de Jesus e soltaram-nos. 41 Os apóstolos saíram do Conselho, alegres por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do \santo Nome. 42 E cada dia, no templo e pelas casas, não cessavam de ensinar e anunciar que Jesus é o Cristo.

 A escolha dos Sete

6 1 Naqueles dias, o número dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de língua grega começaram a queixar-se dos fiéis de língua hebraica. Os de língua grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário. 2 Então os Doze \apóstolos reuniram a multidão dos discípulos e disseram: “Não está certo que nós abandonemos a pregação da palavra de Deus para servirmos às mesas. 3 Portanto, irmãos, escolhei en­tre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, para que lhes confiemos essa tarefa. 4 Deste modo, nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao ser­viço da Palavra”. 5 A proposta agradou a toda a multidão. Escolheram então Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; e também Filipe, Prócoro, Nicanor, Tímon, Pár­menas e Nicolau de Antioquia, um prosélito. 6 Eles foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles.

 Prisão de Estêvão 

7 Entretanto, a palavra de Deus crescia, e o número dos discípulos se multiplicava consideravelmente em Jerusalém. Também um grande grupo de sacerdotes \judeus aderiu à fé.
8
Estêvão, cheio de graça e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. 9 Mas al­guns membros da sinagoga chamada dos Libertos, junto com alguns judeus de Cirene e de Alexandria e outros da Cilícia e da Ásia, co­meçaram a discutir com Estêvão. 10 Não con­seguiam, porém, resistir à sabedoria e ao Es­pírito com que ele falava. 11 Subornaram en­tão uns indivíduos, que disseram: “Ouvimos este homem falar blasfêmias contra Moisés e contra Deus”. 12 Deste modo incitaram o povo, os anciãos e os escribas. Estes prenderam Estêvão e o conduziram ao Sinédrio. 13 Aí apresentaram falsas testemunhas, que diziam: “Es­te homem não cessa de falar contra o Lugar Santo e contra a Lei. 14 Nós o ouvimos afirmar­ que esse Jesus Nazareno vai destruir este Lu­gar e mudar os costumes que Moisés nos transmitiu”.
15
Todos os que estavam sentados no Sinédrio tinham os olhos fixos sobre Estêvão e viram seu rosto como o rosto de um anjo.

 Discurso de Estêvão 

7 1 O sumo sacerdote disse a Estêvão: “As coisas são mesmo assim como dizem?” 2 Ele respondeu: “Irmãos e pais, escutai! O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando ainda estava na Mesopotâmia, antes de ir morar em Harã. 3 Ele lhe disse: ‘Sai de tua terra e de teu clã e dirige-te para a terra que eu te mostrarei’. 4 Abraão saiu então da terra dos caldeus e foi morar em Harã. E, depois da morte de seu pai, Deus fez Abraão migrar para esta terra, que vós agora habitais. 5 Não lhe deu patrimônio nem propriedade nesta terra, mas prometeu dá-la em posse a ele e à sua descendência depois dele. Ora, Abraão não tinha filho. 6 Deus, porém, lhe de­clarou que sua descendência viveria como migrantes em terra estrangeira, sendo escravizados e maltratados durante quatrocentos anos. 7E a nação à qual hão de servir, eu a julgarei’, disse Deus, ‘e depois sairão livres­ e servirão a mim neste lugar’. 8 Deu-lhe então­ a aliança \assinalada pela circuncisão. Assim­ nasceu Isaac, ao qual circuncidou oito dias depois do nascimento; e assim fez Isaac com Jacó, e Jacó com os doze patriarcas.
9
Os patriarcas, movidos por ciúme, venderam José aos egípcios. Mas Deus estava com ele. 10 Livrou-o de todas as suas aflições e concedeu-lhe simpatia e sabedoria aos olhos de Faraó, rei do Egito. Este o nomeou governador sobre o Egito e sobre a sua casa. 11 Quando chegou a fome a todo o Egito e a Canaã, acom­panhada de grande aflição, os nossos pais não encontravam mantimentos. 12 Como Jacó ouvisse que no Egito havia cereais, man­dou uma primeira vez os nossos pais para lá. 13 Na segunda vez, José se deu a conhecer a seus irmãos, e Faraó ficou sabendo da origem­ de José. 14 Então José mandou buscar Jacó, seu pai, e todos os parentes, setenta e cinco ao todo. 15 Assim, Jacó foi morar no Egito. Ele morreu, como também os nossos pais. 16 E fo­ram trasladados para Siquém e postos no sepulcro que Abraão por dinheiro tinha compra­do dos filhos de Hemor, lá em Siquém.
17
Chegou o tempo de se cumprir a promessa que Deus fizera a Abrãao. O povo aumentou e se multiplicou no Egito. 18 Surgiu, então, no Egito um rei que não conhecera José. 19 Esse ludibriou nossa gente e maltratou nossos­ pais. Obrigava-os a enjeitar seus filhos, para que não sobrevivessem. 20 Por aquele tempo nasceu Moisés. Era belo aos olhos de Deus. Durante três meses foi criado na casa paterna.­ 21 Enjeitado, adotou-o a filha do faraó, que o criou como filho seu. 22 Assim, Moisés foi ins­truído em todo o saber dos egípcios, e era po­deroso em palavras e obras.
23
Quando tinha quarenta anos, resolveu visi­tar seus irmãos, os israelitas. 24 Certo dia, vendo um egípcio maltratar um deles, tomou a defesa do irmão e o vingou, matando o opressor. 25 Pensava fazer os irmãos entenderem que, por sua mão, Deus lhes ia conceder a salvação,­ mas eles não compreenderam. 26 No dia seguinte, apresentou-se a eles enquanto estavam brigando, com a intenção de reconciliá-los na boa paz. Falou: “Homens, vós sois irmãos! Para que maltratar um ao outro?” 27 Mas aquele que estava maltratando o outro o repeliu e dis­se: “Quem te constituiu chefe e juiz so­bre nós? 28 Queres talvez matar-me, como on­tem matas­te aquele egípcio?” 29 A estas pa­lavras, Moisés­ fugiu e foi viver como migrante em Madiã, onde teve dois filhos.
30
Quarenta anos mais tarde, apareceu-lhe no deserto do Sinai um anjo, na chama de?uma sarça ardente. 31 Moisés ficou admirado com a visão e aproximou-se para olhar de perto. Então se fez ouvir a voz do Senhor: 32Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”. Moisés tremia de medo e não ousava olhar. 33 Mas o Senhor lhe disse: ‘Tira as sandálias de teus pés, pois o lugar onde te encontras é terra santa. 34 Sim, eu vi a opressão de meu povo, no Egito, e ouvi o ge­mi­do deles. Eu desci para os libertar. Agora, vem, que eu te enviarei ao Egito’.
35
Assim, os nossos pais renegaram este Moisés, dizendo: “Quem te constituiu chefe e juiz?”, mas Deus o enviou como chefe e liber­ta­dor, mediante o anjo que lhe apareceu na sarça.­ 36 Ele os fez sair, realizando prodígios e sinais na terra do Egito, no Mar Vermelho e no deser­to, durante quarenta anos. 37 Este Moi­sés foi quem disse aos israelitas: “Deus susci­tará dentre vossos irmãos um profeta como eu”. 38 Foi ele quem, por ocasião da assembléia­ do deserto, tratou com o anjo que lhe falava no Monte Sinai e com os nossos pais. Ele re­cebeu as pa­lavras da vida, para dá-las a nós, 39 mas nossos pais não quiseram obedecer-lhe. Repeliram-no e, em seus corações, voltaram para o Egito. 40 Disseram a Aarão: “Faze para nós deuses que caminhem à nossa frente. Pois esse Moisés, que nos fez sair da terra do Egito, não?sabemos­ o que foi feito dele”. 41 E fizeram,­ naqueles­ dias, um bezerro e apresentaram oferendas ao ídolo.­ Alegravam-se com a obra das próprias mãos. 42 Mas Deus se afastou deles e entregou-os para que rendessem culto aos astros do céu, como está escrito no livro dos Profetas:­
Acaso me oferecestes vítimas e oferendas
durante os quarenta anos no deserto, casa
de Israel?
43
Pelo contrário, transportastes a tenda de
Moloc
e o astro de vosso deus Raifã,
imagens estas que fizestes para as adorar.
E eu, vou deportar-vos para além de
Babilônia’.
44
Nossos antepassados no deserto tinham a Tenda do testemunho. Aquele que mandou Moi­sés construí-la mostrou-lhe o modelo. 45 Nos­sos pais a receberam e, sob a direção de Josué, a levaram para a terra das nações que Deus expulsou diante de nossos pais, até o tempo de Davi. 46 Davi encontrou graça diante de Deus, e lhe pediu permissão para construir­ uma casa para o Deus de Jacó. 47 No entanto, foi Salomão quem construiu a casa para ele. 48 Mas o Altíssimo não mora em casa feita por mãos humanas, conforme diz o profeta:
49
O céu é o meu trono,
e a terra é o apoio dos meus pés.
Que casa construireis para mim? – diz o
Senhor.
E qual será o lugar do meu repouso?
50
Não foi minha mão que fez todas essas
coisas?
51
Homens de cabeça dura, incircuncisos de co­ração e de ouvidos! Sempre resististes ao Es­pírito Santo, tanto vós como vossos pais! 52 A qual dos profetas vossos pais não persegui­ram? Eles mataram os que anunciavam a vinda­ do Justo, de quem vós, agora, vos tornastes trai­dores e assassinos. 53 Vós recebestes a Lei, por meio de anjos, e não a observastes!”

 A morte de Estêvão. Saulo de Tarso 

54 Ao ouvir essas palavras, eles ficaram enfurecidos e rangeram os dentes contra Estêvão. 55 Cheio do Espírito Santo, Estêvão olhou para o céu e viu a glória de Deus; e viu também Jesus, de pé, à direita de Deus. 56 Ele disse: “Estou vendo o céu aberto e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus”. 57 Mas eles, dando grandes gritos e tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; 58 arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem, chamado Saulo, 59 e apedrejavam Estêvão, que exclamava: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”. 60 Dobrando os joelhos, gritou com voz forte: “Senhor, não os condenes por este pecado”. Com estas palavras, adormeceu.


Atos (CNB) 1