2Macabeus (CNB) 7

 O martírio dos sete irmãos

7 1 Aconteceu também que sete irmãos foram presos, junto com sua mãe. Torturando-os com chicotes e flagelos, o rei queria obrigá-los a comer carne de porco, contra o que determina a Lei. 2 Um dentre eles, falando por primeiro, disse: “Que pretendes conseguir e o que queres saber de nós? Estamos prontos a morrer, antes que transgredir as leis de nossos antepassados”. 3 Enfurecido, o rei ordenou que se pusessem ao fogo assadeiras e caldeirões. 4 Logo que ficaram incandescentes, ordenou que se cortasse a língua ao que falara primeiro, e lhe arrancassem o couro cabeludo e lhe decepassem as mãos e os pés, tudo isso à vista dos outros irmãos e de sua mãe. 5 Já mutilado em todos os seus membros, mandou que o levassem ao fogo e, ainda respirando, o torrassem na assadeira. Espalhando-se por muito tempo o vapor da assadeira, os outros, junto com a mãe, animavam-se mutuamente a morrer com coragem, dizendo: 6 “O Senhor Deus está vendo e na verdade se compadece de nós, segundo o que Moisés declarou pela voz de quem entoa o seu cântico: ‘Ele se compadecerá de seus servos’”.
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Tendo morrido o primeiro dessa maneira, levaram o segundo para a tortura. Após lhe arrancarem o couro cabeludo, perguntaram-lhe se havia de comer, antes que ser torturado em cada membro do seu corpo. 8 Ele, porém, respondeu, na língua dos seus antepassados: “Não o farei.” Por isso, a seguir, também ele foi submetido às torturas do primeiro. 9 Estando quase a expirar, falou:­ “Tu, ó malvado, nos tiras da vida presente. Mas o rei do universo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis!”
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Depois deste, começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr a língua para fora, ele o fez imediatamente e com coragem estendeu as mãos, 11 dizendo com serenidade: “Do céu recebi estes membros, e é por suas leis que os desprezo, pois espero dele re­ce­bê-los novamente”. 12 O próprio rei e os que o rodeavam ficaram espantados com o ânimo desse adolescente, que em nada repu­tava os tormentos.
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Tendo morrido também este, começaram a torturar da mesma forma o quarto. 14 Estando para morrer, ele falou: “É melhor para nós, entregues à morte pelos homens, esperar, da parte de Deus, que seremos ressuscitados por Ele. Para ti, porém, ó rei, não haverá ressurreição para a vida!”
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A seguir, trouxeram à frente o quinto, e passaram a torturá-lo. 16 Ele, porém, fixando os olhos no rei, disse: “Tu fazes o que bem queres, embora sejas um simples mortal, porque tens poder entre os homens. Não penses, porém, que o nosso povo foi abandonado por Deus. 17 Espera um pouco, e verás a majestade do seu poder: como há de atormentar-te, a ti e à tua descendência!”
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Depois trouxeram o sexto, o qual também, antes de morrer, falou: “Não te iludas em vão! Nós sofremos isto por nossa própria culpa, porque pecamos contra o nosso Deus. É por isso que nos acontecem estas coisas espantosas. 19 Tu, porém, não penses que ficarás impune, tendo-te atrevido a lutar contra Deus!”
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Mas sobremaneira admirável e digna de abençoada memória foi a mãe, a qual, vendo morrer seus sete filhos no espaço de um dia, soube portar-se animosamente por causa da esperança que tinha no Senhor. 21 A cada um deles exortava na língua dos seus antepassados, cheia de coragem e animando com força viril a sua ternura feminina. E dizia-lhes: 22 “Não sei como viestes a aparecer no meu ventre, nem fui eu quem vos deu o espírito e a vida. Também não fui eu quem deu forma aos membros de cada um de vós. 23 Por isso, o Criador do mundo, que formou o ser humano no seu nascimento e dá origem a todas as coisas, ele, na sua misericórdia, vos restituirá o espírito e a vida. E isto porque, agora, vos sacrificais a vós mesmos, por amor às suas leis”. 24 Antíoco suspeitou que estava sendo menosprezado, e que essas palavras eram de censura. Como restasse, ainda, o filho mais novo, começou a exortá-lo não só com palavras, mas ainda com juramentos lhe assegurava que o faria rico e feliz, contanto que abandonasse as tradições dos antepassados – mais, que o teria como amigo e que ele lhe con­fiaria altos encargos. 25 Como o moço não lhe desse a menor atenção, o rei dirigiu-se à mãe, convidando-a a aconselhar o rapaz para o seu próprio bem. 26 Depois de muita insistência do rei, ela aceitou tentar convencer o filho. 27 Inclinando-se para ele, e fazendo pouco caso do cruel tirano, assim falou na língua dos antepassados: “Filho, tem compaixão de mim, que por nove meses te trouxe no meu ventre e por três anos te amamentei, alimentei e te conduzi até esta idade, provendo sempre ao teu sustento. 28 Eu te suplico, filho, contempla o céu e a terra e o que neles existe. Reconhece que Deus os fez do que não existia, e que assim também se originou a humanidade. 29 Não tenhas medo desse carrasco. Ao con­trário, tornando-te digno de teus irmãos, enfrenta a morte, para que eu te recupere com eles no tempo da misericórdia”. 30 Ela ainda falava, quando o rapaz disse: “A quem espe­rais? Eu não obedeço às ordens do rei. Aos preceitos da Lei, porém, que foi dada aos nossos pais por meio de Moisés, a esses obedeço. 31 Quanto a ti, que és o autor de toda a maldade que se abate sobre os hebreus, não conseguirás escapar das mãos de Deus. 32 Porquanto nós, é por causa dos nossos pecados que padecemos. 33 E se agora, o Senhor, que vive, está moderadamente irritado contra nós, a fim de nos punir e corrigir, ele novamente se reconciliará com os seus servos. 34 Tu, porém, ó ímpio e o pior dos criminosos do mundo, não te exaltes em vão, embalado por falsas esperanças, tendo levantado as mãos contra os filhos de Deus. 35 Pois ainda não escapaste ao julgamento do Deus todo-poderoso, que tudo vê. 36 Quanto aos meus irmãos, tendo suportado agora um sofrimento momentâneo, morreram pela aliança de Deus, por uma vida eterna. Tu, porém, pelo julgamento de Deus, hás de receber os justos castigos da tua soberba. 37 De minha parte, como meus irmãos, entrego o corpo e a vida pelas leis de nossos antepassados, suplicando a Deus que se mostre logo misericordioso para com a nossa nação e que, mediante tormentos e flagelos, te obrigue a reconhecer que só ele é Deus. 38 Tenho a certeza de que, em mim e nos meus irmãos, deteve-se a ira do Todo-poderoso, que se abateu com justiça por sobre todo o nosso povo”. 39 Enfurecido, o rei tratou a este com crueldade ainda mais feroz do que aos outros, não suportando ver-se de tal modo escarnecido. 40 Assim também este morreu, sem mancha, confiando totalmente no Senhor.
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Por último, depois dos filhos, foi morta a mãe. 42 Quanto aos banquetes de sacrifício, porém, e as crueldades sem medida, baste o que foi dito.


Vitórias de Judas e morte de Epífanes

 A insurreição de Judas Macabeu

8 1 Entretanto, Judas, também chamado Macabeu, e os seus companheiros, iam introduzindo-se às ocultas nas aldeias. Convocavam seus compatriotas e recrutavam os que haviam perseverado firmes no judaísmo, chegando a reunir cerca de seis mil ho­mens. 2 E suplicavam ao Senhor para que volvesse o olhar para o seu povo, espezinha­do por todos; que tivesse compaixão do templo, profanado pelos ímpios; 3 que se compadecesse também da cidade, arruinada e quase arrasada ao solo, e escutasse a voz do sangue que clamava para Ele; 4 que não se esquecesse da matança iníqua de crianças inocentes e das blasfêmias proferidas contra­ o seu Nome: enfim, que Ele mostrasse a sua indignação contra tudo isso. 5 Quanto ao Ma­cabeu, tendo organizado a sua gente, co­me­çou a tornar-se terrível para os gentios, tendo-se transformado em misericórdia a ira do Senhor. 6 Chegando de improviso às cida­des e aldeias, ateava-lhes fogo; e, apoderando-se dos pontos estratégicos, punha em fuga muitos inimigos. 7 Para esses ataques, escolhia de preferência as noites como alia­das. E a fama da sua valentia espalhava-se por toda parte.

 Campanha contra Nicanor e Górgias

8 Quando Filipe viu que esse homem chega­va ao sucesso passo a passo e progredia cada vez mais nas vitórias, escreveu a Pto­lomeu, governador da Celessíria e da Fenícia, para que viesse em socorro dos interesses do rei. 9 Ptolomeu, pois, enviou-lhe imediatamente Nicanor, filho de Pátroclo e um dos principais amigos do rei, confiando a ele o comando de não menos de vinte mil soldados de várias nações, com o fim de liqüidar toda a etnia dos judeus. Junto com ele, mandou o general Górgias, de grande experiência nas coisas da guerra. 10 Nicanor concebeu o plano de conseguir para o rei a quantia de dois mil talentos, que era o tributo­ devido aos romanos, levantando-os da venda dos judeus a serem aprisionados. 11 Por isso, mandou logo mensageiros às cidades do litoral, oferecendo escravos judeus, chegando a prometer noventa escravos por um talento! Ele não contava com a vingança que havia de atin­gi-lo da parte do Todo-poderoso.
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Judas, por sua vez, logo que soube da vin­da de Nicanor, preveniu os companheiros sobre a aproximação desse exército. 13 Os que ficaram com medo e não confiavam na justiça de Deus puseram-se em fuga, mudando-se para outros lugares. 14 Outros, porém, vendiam tudo o que lhes restara, e ao mesmo tempo suplicavam ao Senhor que os libertasse, pois já tinham sido vendidos pelo ímpio Nicanor, antes mesmo dos combates. 15 E isto, se não por causa deles, ao menos em consideração das alianças com os antepassados, e por causa do seu Nome santo e magnífico, que eles estavam invocando. 16 Reunindo então seus companheiros, em número de seis mil, o Macabeu exortou-os instantemente a que não se apavorassem diante dos inimigos, nem se preo­cupassem com a multidão enorme dos gentios que vinham atacá-los injustamente, mas que lutassem com bravura. 17 Que tivessem ante os olhos o desrespeito criminoso com que os inimigos trataram o nosso lugar santo, a injustiça cometida contra a cidade hu­milhada e, ainda, a abolição das instituições dos antigos. 18 E acrescentou: “Eles confiam nas ar­mas e na sua temeridade. Nós, porém,­ con­fiamos no Deus todo-poderoso, que bem pode, com um simples gesto, abater os que avançam contra nós e, mesmo, derrotar o mundo inteiro!” 19 Além disso, recordou-lhes os socorros que tinham vindo de Deus para seus antepassados, especialmente no caso de Senaquerib, quando pereceram cento e oitenta e cinco mil invasores. 20 E também a batalha que travaram em Babilônia contra os gálatas, quando oito mil ao todo, junto com quatro mil macedônios, entraram em com­bate: os oito mil, enquanto os macedônios estavam em dificuldade, mataram cento e vinte mil inimigos, graças ao socorro vindo do céu, e ainda recolheram imensos despojos.
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Tendo-os encorajado com essas palavras e tornando-os prontos a morrerem pelas leis e pela pátria, Judas dividiu o seu exército em quatro partes aproximadamente iguais. 22 À frente de cada grupo colocou seus irmãos Simão, José e Jônatas, dando a cada um o co­mando de mil e quinhentos homens. 23 Além disso, ordenou a Eleazar que lesse do livro sagrado e proclamasse a senha: “Deus nosso­ auxílio!” Então, ele mesmo, posto à frente do primeiro grupo, atacou Nicanor. 24 Nesse dia, tendo vindo em seu auxílio o Todo-pode­roso, eles mataram mais de nove mil dos inimigos, feriram e mutilaram a maior parte do exército de Nicanor, e ainda obrigaram os restantes à fuga. 25 Depois de tomarem o dinheiro dos que tinham vindo para comprá-los como escravos, perseguiram os fugitivos por longo tempo. Mas, obrigados pelo adian­tado da hora, tiveram de voltar, 26 pois era a véspera do sábado. Por esse motivo não continuaram a persegui-los. 27 Recolhidas, pois, as armas e tendo despojado os cadáveres dos inimigos, puseram-se a celebrar o sábado, ben­dizendo fervorosamente e exaltando o Se­nhor que os tinha salvo nesse dia, dando assim início à sua mi­sericórdia em favor de­les. 28 Passado o sábado, distribuíram parte dos despojos aos mu­tilados, às viúvas e aos órfãos, repartindo entre si e seus filhos o res­tante. 29 Depois dis­so, fizeram uma oração coletiva, suplicando ao Senhor misericor­dioso que se reconci­liasse para sempre com os seus servos.

 Derrota de Timóteo e de Báquides

30 Pouco depois, enfrentando os soldados de Timóteo e de Báquides, mataram mais de vinte mil deles e se apossaram facilmente de algumas fortalezas em pontos elevados. E dividiram os abundantes despojos em partes iguais: uma para si e outra para os mutilados, os órfãos e as viúvas, e também aos anciãos. 31 Recolheram cuidadosamente as armas dos inimigos, depositando tudo em lugares convenientes. Quanto ao restante dos despojos, levaram-nos para Jerusalém. 32 Con­seguiram matar o comandante da guarda pessoal de Timóteo, criminoso da pior espécie, que tinha feito muito mal aos judeus. 33 Quando estavam celebrando, na pátria, as festas da vitória, queimaram vivos os que haviam incendiado os portais sagrados, junto com Calístenes, que se havia refugiado­ num esconderijo: assim, esses ímpios receberam digna recompensa da sua impiedade.

 Fuga e confissão de Nicanor

34 O celeradíssimo Nicanor, que tinha trazido os mil negociantes para a compra dos judeus, 35 foi humilhado, com a ajuda do Senhor, por aqueles mesmos que ele considerava desprezíveis. Teve de desfazer-se de suas vestes esplêndidas e, sozinho, atravessou o interior do país à maneira de escravo fugitivo, até chegar a Antioquia. E ainda podia dar-se por muito feliz, em vista da ruína do seu exército. 36 Assim, aquele que havia prometido aos romanos pagar o tributo com a venda dos prisioneiros de Jerusalém, teve de proclamar que os judeus tinham realmente um Defensor e que eram por isso invulneráveis: pois seguiam as leis estabelecidas por Ele.

 Fim de Antíoco Epífanes

9 1 Por esse mesmo tempo, Antíoco teve de voltar, humilhado, das regiões da Pérsia. 2 Ele havia entrado na cidade chamada Persépolis, onde tentou saquear o templo e dominar os cidadãos. A multidão reagiu, pegando em armas, e os homens de Antíoco puseram-se a fugir. O próprio Antíoco, acossado pelos naturais do lugar, foi obrigado a bater em vergonhosa retirada. 3 Estando perto de Ecbátana, chegou-lhe a notícia do que tinha acontecido com Nicanor e Timóteo. 4 Fora de si pela raiva, pensou em fazer recair sobre os judeus a injúria dos que o tinham posto em fuga. Por isso, ordenou ao cocheiro que tocasse o carro sem parar, enquanto já o acompanhava o julgamento do céu. De fato, assim ele falara, na sua arrogância: “Vou fazer de Jerusalém um cemitério de judeus, apenas chegue lá!” 5 Mas aquele que tudo vê, o Senhor, Deus de Israel, feriu-o com uma chaga incurável e invisível: mal Antíoco terminara a sua imprecação, acometeu-o uma dor insuportável nas entranhas e tormentos atrozes no ventre. 6 Isto era plenamente justo, pois ele havia atormentado as entranhas dos outros com numerosas e rebuscadas torturas. 7 Mesmo assim, não desistia em nada da sua arrogância. Antes, cheio de soberba e no seu íntimo vomitando fogo contra os judeus, mandou ainda acelerar a marcha. De repente, caiu da carruagem que corria precipitadamente, tombando com violência no chão, e sofrendo fraturas em todos os seus membros. 8 E ele que, pouco antes, na sua arrogância de super-homem, achava que podia dar ordens às ondas do mar e seria capaz de pesar na balança as altas montanhas, jazia por terra e teve de ser transportado numa padiola. Assim dava mostras evidentes, a todos, do poder de Deus. 9 Mais ainda: dos olhos desse ímpio saíam vermes, e suas carnes se decompunham entre espasmos lancinantes, estando ele ainda vivo. E todo o exército, por causa do mau cheiro, mal suportava essa podridão. 10 Assim, aque­le que pouco antes se julgara capaz de tocar os astros do céu, ninguém agora agüentava carregá-lo por causa do insuportá­vel mau cheiro.
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Nessas circunstâncias, pois, abatido, começou a moderar o seu orgulho excessivo e a dar-se conta da situação, enquanto, sob os golpes divinos, aumentavam a cada instante as suas dores. 12 Já não podendo, nem mesmo ele, suportar o próprio fedor, assim falou: “É justo submeter-se a Deus. E o simples mortal não tenha pensamentos de sober­ba”. 13 A oração desse criminoso dirigia-se agora ao Senhor, o qual, porém, não mais de­via compadecer-se dele. Agora, enfim, as­se­gurava 14 que haveria de proclamar livre a cidade santa, para a qual vinha dirigindo-se apressadamente, a fim de arrasá-la e fazer dela um cemitério. 15 E que haveria de igualar­ aos atenienses todos os judeus, aos quais antes ele julgara indignos até de sepultura e merecedores, ao contrário, de serem expos­tos­ às aves de rapina e atirados, com seus filhinhos, aos animais carnívoros. 16 Prome­tia ainda adornar com as mais belas ofe­ren­das o santo templo, que ele antes havia des­po­jado, e restituir, em número ainda maior, todos­ os objetos sagrados. Além disso, garantia prover, com as próprias rendas, às despesas necessárias para os sacrifícios. 17 Acima de tudo, comprometia-se até em pas­sar para o judaísmo e, percorrendo todos os lugares habitados do mundo, proclamar o poder de Deus!

 Carta de Antíoco Epífanes aos judeus

18 Apesar disso, as dores de Antíoco absolutamente não passavam, pois o alcançara o justo juízo de Deus. Perdendo, então, toda esperança de cura, escreveu aos judeus a carta seguinte, em tom de súplica: 19 “Aos excelentes cidadãos judeus. O rei e general Antíoco lhes manda muitas saudações e votos de saúde e bem-estar. 20 Se estais passando bem, vós e vossos filhos, e se vossos negócios correm segundo o desejado, eu rendo o mais efusivo agradecimento a Deus, na oração, tendo no Céu a minha esperança. 21 Quanto a mim, tendo ficado enfermo, lembrei-me, com carinho, do vosso respeito e bondade. Voltando das regiões da Pérsia, ao ser acometido por esta incômoda enfermidade, julguei necessário preocupar-me com a comum segurança de todos. 22 Não que eu desespere do meu estado, pois tenho, ao contrário, grande esperança de sair desta enfermidade. 23 Mas recordo que meu pai, todas as vezes que fazia expedição para o planalto, designava quem haveria de assumir a realeza. 24 Desse modo, no caso de acontecer algo contrário ou se chegasse uma notícia má, os habitantes do país não se agitariam, visto já saberem a quem fora deixada a administração dos negócios. 25 Além disso, considerando que os soberanos próximos de nós e vizinhos ao nosso reino estão atentos às circunstâncias e aguardam as oportunidades, designei como rei meu filho An­tíoco. Já outras vezes, ao subir para as províncias do planalto, confiei-o e recomendei-o a muitos de vós. A ele escrevi a carta que segue junto com esta. 26 Exorto-vos, pois, e peço que, lembrados dos benefícios que de mim recebestes em comum e individualmente, cada um de vós conserve, também para com meu filho, a presente benevolência que demonstrais para comigo. 27 Estou confiante em que ele, acatando esta minha decisão, vos tratará com brandura e humanidade”.
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No entanto, este assassino e blasfemo, sofrendo dores atrozes, morreu nas montanhas, em terra estrangeira. Seu fim foi miserável, correspondendo ao modo como tratara os outros. 29 Filipe, seu companheiro de infância, providenciou o traslado do seu cadáver. Mas, com medo do filho de Antíoco, retirou-se para o Egito, para junto de Ptolomeu Filométor.

 Purificação do Templo

10 1 Caminhando o Senhor à sua frente, o Macabeu e seus companheiros retomaram o templo e a cidade. 2 Logo demoliram os altares, construídos pelos estrangeiros em praça pública, bem como seus oratórios. 3 Depois, tendo purificado o templo, levantaram novo altar para os holocaustos. Extraindo a centelha das pedras, tomaram do fogo assim obtido e ofereceram sacrifícios, após uma interrupção de dois anos. Ofereceram também o incenso e as lâmpadas, e fizeram a apresentação dos pães. 4 Feito isto, prostraram-se por terra e suplicaram ao Senhor que nunca mais os deixasse cair em tão grandes males. Caso voltassem a pecar, fossem por ele corrigidos com moderação, mas sem serem entregues às nações blasfemas e bárbaras. 5 Assim, na data em que o templo tinha sido profanado pelos estrangeiros, nesse mesmo dia aconteceu a sua purificação, a saber, no dia vinte e cinco daquele mês, o mês de Casleu. 6 Durante oito dias, fizeram uma festa semelhante à das Tendas, relembrando que, pouco tempo antes, haviam passado essa festa vagueando pelos montes e cavernas, como animais. 7 Por isso, trazendo hastes e ramos verdes e folhas de palmeiras, entoavam hinos Àquele que lhes estava dando a alegria de purificar o seu lugar santo. 8 Depois, com um decreto público, assumido por todos, prescreveram que toda a nação dos judeus celebraria estes dias de festa cada ano.


Governo de Antíoco V Eupátor

 Inícios do reinado de Antíoco Eupátor

9 Tais foram as circunstâncias da morte de Antíoco, cognominado Epífanes. 10 Agora, vamos narrar os fatos ligados a Antíoco Eu­pátor, o filho desse ímpio, embora resumindo os males causados por suas guerras. 11 Ele, apenas tomara posse do reino, pôs à frente de sua administração um certo Lísias, gover­nador e comandante supremo da Celes­síria e da Fenícia. 12 Ora, Ptolomeu, cha­mado Ma­cron, que havia tomado a iniciativa­ de tra­tar com justiça os judeus, a fim de re­parar a in­justiça cometida contra eles, esforçava-se por conduzir tranquilamente todos os assuntos que se referiam a eles. 13 Por esse motivo, foi acusado junto a Eupátor pelos amigos do rei. De fato, a toda hora ouvia que o chamavam de traidor, pelo motivo de haver abandonado Chipre, a qual lhe fora confiada por Filométor. Além disso, acusavam-no de ter passado para o lado de Antíoco Epífanes. As­sim, não conseguindo mais exercer com hon­ra­ seu alto cargo, pôs termo à própria vida, to­mando veneno.

 Górgias e as fortalezas da Iduméia

14 Nesse meio tempo, Górgias havia assumido o governo dessas regiões. Ele mantinha tropas mercenárias e fomentava, a cada oportunidade, a guerra contra os judeus. 15 Junto com ele, os idumeus, que ocupavam fortalezas bem situadas, viviam provocando os judeus e atiçavam o clima de guerra, acolhendo refugiados de Jerusalém. 16 Por isso, tendo feito preces públicas, e suplicando a Deus que agisse como seu aliado, os homens do Macabeu arremessaram-se contra as fortalezas dos idumeus. 17 Tendo-as atacado vigorosamente, conseguiram tomar essas posições, repelindo todos os que lutavam de cima da muralha. Mataram todos os que lhes caíram nas mãos, eliminando não menos de vinte mil inimigos. 18 Entretanto, pelo menos nove mil dentre eles conseguiram escapar para duas torres solidamente fortificadas, munidas de todo o necessário para resistir a um cerco. 19 O Macabeu deixou aí Simão e José, e também Zaqueu com os seus homens, em número suficiente para manter o cerco. Ele próprio dirigiu-se a outros lugares, onde a sua presença era mais necessária. 20 Os ho­mens de Simão, levados pela ganância, deixaram-se corromper por alguns dos sitia­dos nas torres: receberam setenta mil drac­mas e deixaram que eles fugissem. 21 Tendo sido levada ao Macabeu a notícia do fato, ele reu­niu os chefes do povo e denunciou os que por dinheiro tinham vendido seus irmãos, ao deixarem escapar seus inimigos. 22 Mandou executar os traidores e, sem mais, ocupou as duas torres. 23 Sendo bem sucedido em todas as suas empreitadas militares, só nes­sas duas fortalezas ele exterminou mais de vinte mil pessoas.

 Judas vence Timóteo e toma Gazara

24 Já antes derrotado pelos judeus, Timóteo recrutou forças estrangeiras em grande número e conseguiu muitos cavalos da Ásia, e assim apareceu como se fosse conquistar a Judéia pela força das armas. 25 Enquanto ele se aproximava, os homens do Macabeu cobriram de terra a cabeça e vestiram-se com pano grosseiro, em sinal de súplica a Deus. 26 Prostrados no degrau que fica em frente do altar, pediram que Deus fosse favorável a eles, e se tornasse inimigo dos seus inimigos e adversário dos seus adversários, como o declara a Lei. 27 Terminada a oração, pegaram as armas e afastaram-se bastante da cidade. Aproximando-se, porém, dos inimigos, mantiveram certa distância. 28 Apenas começava a difundir-se a luz do dia, uns e outros se lançaram à luta. Uns, tendo como garantia do sucesso e da vitória, além da sua bravura, o recurso ao Senhor; os outros, po­rém, tomando o seu próprio furor como guia dos combates. 29 No auge da batalha, apareceram aos adversários cinco guerreiros magníficos, vindos do céu, montados em cavalos com rédeas de ouro, e pondo-se à frente dos judeus. 30 Dois deles puseram-se de cada lado do Macabeu, defendendo-o com suas armas e conservando-o invulnerável. Ao mesmo tempo, lançavam dardos e raios contra os adversários, os quais, desnor­teados pela cegueira, dispersaram-se em to­tal confusão. 31 Dessa forma foram mortos vinte mil e quinhentos soldados, além de seis­centos cavaleiros.
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Quanto a Timóteo, conseguiu refugiar-se na fortaleza chamada Gazara, muito bem for­tificada, cujo comando estava com Quéreas. 33 Os homens do Macabeu, porém, cheios de entusiasmo, cercaram a fortaleza du­rante quatro dias. 34 Os de dentro, confiados na segurança do lugar, multiplicavam as blasfê­mias e proferiam palavras ofensivas. 35 Ao amanhecer do quinto dia, vinte jovens dentre­ os soldados do Macabeu, inflamados de ira por causa das blasfê­mias, escalaram cora­josamente a muralha e com ardor feroz matavam quem viesse enfrentá-los. 36 Outros, igualmente, subindo contra os sitiados pelo lado oposto, puseram fogo às torres e, provocando incêndios, queimaram vivos os blasfemadores. Enquanto isso, os primeiros­ arrebentaram as portas e, fazendo entrar o restante do exército, ocuparam a cidade. 37 O próprio Timóteo, es­condido nu­ma cisterna, ali foi morto, bem como seu ir­mão, Qué­reas, e ainda Apo­lófanes. 38 Tendo realizado estes feitos, bendisseram com hinos e louvo­res o Senhor, que havia feito tão grande benefício a Israel, concedendo a eles a vitória.

 Primeira campanha de Lísias

11 1 Bem pouco tempo depois, Lísias, tutor do rei e seu parente, colocado à frente dos negócios do reino, não conseguiu tolerar o que tinha acontecido. 2 Reuniu oitenta mil soldados com toda a cavalaria, e partiu para atacar os judeus. Seu propósito era transformar Jerusalém numa cidade grega, 3 submeter o templo ao tributo, como os outros santuários das nações, e pôr à venda anualmente o cargo de sumo sacerdote. 4 Isto, porém, absolutamente não levando em conta o poder de Deus, mas confiando somente na multidão dos seus soldados, nos milhares de cavaleiros e nos seus oitenta elefantes. 5 Tendo, pois, entrado na Judéia, aproximou-se de Betsur, reduto fortificado, distante de Jerusalém cerca de trinta quilômetros, e começou a apertá-lo com o cerco. 6 Quando os homens do Macabeu souberam que Lísias estava atacando as fortalezas, começaram a suplicar ao Senhor, entre gemidos e lágrimas, junto com o povo, para que enviasse um anjo bom para salvar Israel. 7 O próprio Macabeu foi o primeiro a empunhar as armas e exortou os outros a se exporem ao perigo juntamente com ele, para levarem socorro a seus irmãos. E todos, unidos e cheios de ardor, puseram-se em marcha. 8 De repente, quando ainda se encontravam perto de Jerusalém, apareceu à sua frente um cavaleiro revestido de branco, e empunhando armas de ouro. 9 Todos, então, unânimes, bendisseram ao Deus misericordioso. E ficaram tão animados que se sentiram capazes de enfrentar não só homens mas até as feras mais selvagens e mesmo muralhas de ferro. 10 E puseram-se a avançar, em ordem de batalha, tendo consigo esse aliado vindo do céu, pois o Senhor se mostrara misericor­dioso para com eles. 11 Como leões, irrompe­ram sobre os inimigos, estendendo por terra onze mil dentre eles, além de mil e seis­centos cavaleiros, e obrigando os outros a fugir. 12 A maior parte destes, porém, escapa­ram feridos­ e sem armas. O próprio Lísias escapou fugindo, de maneira vergonhosa.

 Quatro cartas referentes ao tratado de paz

13 Como, porém, não era um homem insensato, e refletindo sobre a humilhação que havia sofrido, Lísias compreendeu que os judeus eram invencíveis porque Deus, com seu poder, os auxiliava. 14 Por isso, enviou-lhes uma delegação, para persuadi-los de que ele concordaria com tudo o que fosse justo, e que convenceria o rei a julgar necessário tornar-se amigo deles. 15 O Macabeu, pensando no bem comum, consentiu em tudo o que Lísias propunha. De sua parte, o rei concedeu o que o Macabeu transmitira a Lísias por escrito, a respeito dos judeus. 16 A carta escrita por Lísias aos judeus estava redigida nestes termos: “Lísias ao povo dos judeus, saudações. 17 João e Absalão, vossos representantes, entregaram-me o documento abaixo, suplicando em favor dos pedidos nele con­tidos. 18 Expus, então, ao rei, todas as coi­sas que deviam ser-lhe apresentadas, e ele aprovou o que se podia aceitar. 19 Se, portanto, demonstrardes boa vontade para com os negócios do Estado, também eu me esforçarei, de ora em diante, por ser promotor dos vossos interesses. 20 Sobre esses pontos e quanto aos detalhes, já instruí, aos vossos­ e meus enviados, a fim de que os discutam convosco. 21 Passai bem. No ano cento e quarenta e oito, no dia vinte e quatro do mês de Júpiter Coríntio”.
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A carta do rei continha o seguinte: “O rei Antíoco a seu irmão Lísias, saudações. 23 Depois que nosso pai se mudou para junto dos deuses, decidimos que os habitantes do nosso reino possam dedicar-se ao cuidado dos próprios interesses, sem sofrerem a menor perturbação. 24 A propósito, fomos informados de que os judeus não concordaram com a adoção de costumes gregos, decidida por nosso pai. Antes, aderindo às suas instituições, postulam que se permita a eles a observância de suas leis. 25 Desejando, pois, que também este povo possa viver sem agitação, decidimos que o templo seja devolvido a eles e que as coisas procedam segundo os costumes de seus antepassados. 26 Por isso, farás bem enviando-lhes embaixadores que lhes dêem as mãos, a fim de que, sabedores da nossa vontade, fiquem bem dispostos e se entreguem com entusiasmo à recuperação dos seus negócios”. 27 Por outro lado, a carta do rei ao povo foi a seguinte: “O rei Antíoco ao conselho dos anciãos dos judeus e a todos os judeus, saudações. 28 Se passais bem, é como desejamos. Quanto a nós, também passamos bem. 29 Menelau nos transmitiu o desejo que tendes, de voltar à vossa terra para cuidar dos vossos interesses. 30 Aos que regressarem, pois, até o dia trinta do mês de Xântico, será garantida a imunidade. 31 Os judeus poderão servir-se de seus alimentos e seguir suas leis como antes, e nenhum deles absolutamente será molestado pelas faltas cometidas por inadvertência. 32 O próprio Menelau é o nosso enviado, para falar convosco. 33 Passai bem. No ano cento e quarenta e oito, no dia quinze do mês de Xântico”.
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Também os romanos enviaram aos judeus uma carta, assim redigida: “Quinto Mêmio, Tito Manílio e Mânio Sérgio, legados romanos, ao povo dos judeus, saudações. 35 A respeito das coisas que Lísias, parente do rei, vos concedeu, estamos de acordo. 36 Quanto às que ele julgava necessário referir ao rei, enviai-nos imediatamente alguém, depois de terdes examinado a questão. Assim poderemos expô-la ao rei como convém a vós, pois estamos indo para Antioquia. 37 Por isso, apressai-vos em mandar alguns porta-vozes, para que também nós saibamos qual é a vossa vontade. 38 Passai bem. No ano cento e quarenta e oito, no dia quinze do mês de Xântico”.

 Os episódios de Jope e de Jâmnia

12 1 Concluídos esses acordos, Lísias voltou para junto do rei, enquanto os judeus se entregavam ao cultivo da terra. 2 Dentre os governadores locais, porém, Timóteo e Apolônio, filho de Geneu, bem como Jerônimo e Demofonte e, além desses, Nicanor, o chefe dos cipriotas, não os deixavam trabalhar em paz e sossegados. 3 Além disso, os habitantes de Jope chegaram a este cúmulo de impiedade: convidaram os judeus, que moravam na cidade, a subir, com suas mulheres e filhos, a umas barcas preparadas por eles. Isso, como se não houvesse qualquer má intenção escondida. 4 Como se tratava de resolução pública da cidade, os judeus aceitaram, como gente que deseja viver em paz e sem suspeitar de nada. Chegados, porém, ao alto mar, o pessoal de Jope os afundou. E eram não menos de duzentas pessoas! 5 Quando soube da crueldade praticada contra seus compatriotas, Judas mandou que seus homens se preparassem, e invocou a Deus, o justo juiz. 6 Marchou contra os assassinos de seus irmãos, incendiou de noite o porto, queimou as barcas e passou a fio de espada todos os que nelas tinham procurado refúgio. 7 Como a cidade tinha fechado as portas, ele partiu, mas com a intenção de vir outra vez, e então extirpar totalmente a população de Jope. 8 Entretanto, Judas tomou conhecimento de que os habitantes de Jâmnia queriam proceder da mesma forma contra os judeus que moravam entre eles. 9 Caiu então de surpresa sobre os de Jâmnia, à noite, e incendiou o porto com os navios, a tal ponto que o clarão do incêndio foi visto até em Jerusalém, à distância de quarenta e cinco quilômetros.

 Judas em Galaad (Caspin, Cárnion, Efron) e Citópolis 

10 Enquanto faziam a expedição contra Timóteo, depois de uma marcha de alguns qui­lômetros, pelo menos cinco mil árabes com quinhentos cavaleiros irromperam contra eles. 11 O combate foi violento, mas os homens de Judas levaram a melhor, com a ajuda de Deus. Então, vencidos, os nômades pe­diram que Judas lhes estendesse a mão, e prometeram dar-lhe pastagens e ajudá-lo em outras coisas. 12 Judas, percebendo que eles na verdade poderiam ser muito úteis, prome­teu dar-lhes a paz. Assim, depois de darem as mãos, eles retiraram-se para suas tendas.
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Judas atacou também uma cidade defendi­da com trincheiras, cercada por muralhas e habitada por gentios de todas as etnias, cujo nome era Caspin. 14 Os de dentro, confiando na solidez dos muros e nos alimentos que tinham de reserva, portavam-se de modo cada vez mais insolente para com os homens de Ju­das, provocando-os com maldições e blasfê­mias, e soltando palavrões. 15 Os companheiros­ de Judas, então, invocando o grande Soberano­ do mundo, que sem aríetes nem máquinas de guerra fez cair Jericó nos tempos de Josué, irromperam como feras contra a muralha. 16 Tomada a cidade por vontade de Deus, fizeram aí matanças indescritíveis. Um lago vizinho, com quase quatrocentos metros de largura, parecia transbordar, repleto de sangue.
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Tendo-se distanciado dali uns cento e quarenta quilômetros, chegaram a Cáraca, para se encontrarem com os judeus tubianos. 18 Quanto a Timóteo, não o surpreenderam nessa região: ele partira de lá sem ter conseguido nada, embora deixando em certo lugar uma guarnição muito bem equipada. 19 Mas Dositeu e Sosípatro, que eram oficiais do exército do Macabeu, dirigiram-se para lá e aniquilaram os homens deixados por Timóteo na fortaleza, em número de mais de dez mil. 20 O Macabeu, por sua vez, tendo distribuído o seu exército em alas, confiou-as ao comando dos dois mencionados oficiais e arremeteu contra Timóteo, que tinha consigo cento e vinte mil soldados e dois mil e quinhentos cavaleiros. 21 Informado da aproximação de Judas, Timóteo mandou adiante as mulheres e crianças, com o restante das bagagens, para o lugar chamado Cárnion. Era uma fortaleza impossível de conquistar e de acesso muito difícil, por causa dos desfiladeiros no local. 22 Logo que apareceu a primeira ala do exército de Judas, apoderou-se dos inimigos o medo: eles ficaram aterrorizados por causa da presença da­quele que tudo vê. Fugiram então desabaladamente, um querendo passar à frente do outro, a ponto de serem feridos pelos próprios companheiros e atravessados ao fio de suas espadas. 23 Judas, entretanto, perseguiu-os com veemência, traspassando esses ímpios e acabando com cerca de trinta mil deles. 24 O próprio Timóteo, caído nas mãos dos soldados de Dositeu e Sosípatro, com muita manha pôs-se a suplicar que o deixassem partir com vida, alegando que tinha em seu poder os pais de muitos deles, e de alguns os irmãos, os quais poderiam ficar sem proteção. 25 Assim, tendo ele garantido, de muitos modos, que haveria de restituí-los sãos e salvos, segundo o pacto que propunha, deixaram-no partir, a bem da salvação de seus irmãos. 26 Em seguida, Judas marchou contra o Cárnion e o santuário de Atargates, onde matou vinte e cinco mil pessoas.
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Depois de infligida essa derrota e matan­ça, Judas conduziu o seu exército contra Efron, cidade fortificada, onde vivia uma po­pulação de diversas nações. Moços robustos,­ postados diante da muralha, defendiam-na valorosamente, enquanto dentro havia grandes reservas de máquinas e projéteis. 28 Mas, tendo invocado o Poderoso, que com seu po­der esmaga as forças dos inimigos, os judeus­ tomaram a cidade e, dos que nela estavam, abateram vinte e cinco mil. 29 Partindo de lá, marcharam até Citópolis, distante de Jerusa­lém mais de cem quilômetros. 30 Nessa cidade, os judeus que aí residiam deram testemunho da benevolência que seus habitantes demonstravam para com eles e da acolhida bondosa que lhes tinham dado em momentos difíceis. 31 Por isso, Judas e os seus agradeceram a eles e os exortaram a que continuassem a mostrar-se benignos, também no futuro, para com seus irmãos. Assim é que chegaram a Jerusalém, estando já próxima a festa das Semanas.

 Campanha contra Górgias e sacrifício pelos mortos

32 Depois da festa chamada Pentecostes, marcharam contra Górgias, governador da Idu­méia. 33 Este saiu para enfrentá-los com três mil soldados e quatrocentos cavaleiros. 34 Tendo começado a luta, alguns dos judeus caíram mortos. 35 Mas certo Dositeu, cavalei­ro do grupo de Bacenor, homem valente, conseguiu alcançar Górgias: tendo-o agarrado pelo manto, obrigava-o vigorosamente a segui-lo, querendo prendê-lo vivo. Foi quan­do um dos cavaleiros trácios, investindo contra ele, amputou-lhe o ombro, e Górgias pôde escapar para Maresa. 36 Entretanto, os homens de Esdrin estavam fatigados de tanto lutar. Judas então invocou o Senhor, para que se manifestasse como seu aliado e guia no combate. 37 A seguir, lançando o grito de guerra e cantando hinos na língua paterna, arremessou-se de surpresa contra os homens de Górgias, obrigando-os à retirada.
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Tendo depois reunido seu exército, Judas atingiu a cidade de Odolam. Chegado o sétimo dia, purificaram-se conforme o costume, e ali mesmo celebraram o sábado. 39 No dia seguinte, como a tarefa era urgente, os homens de Judas foram recolher os corpos dos que tinham morrido na batalha, a fim de sepultá-los ao lado dos parentes, nos túmulos de seus antepassados. 40 Foi então que encontraram, debaixo das roupas dos que tinham sucumbido, objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, coisa que a Lei proíbe aos judeus. Então ficou claro, para todos, que foi por isso que eles morreram. 41 Mas todos louvaram a maneira de agir do Senhor, justo Juiz, que torna manifestas as coisas escondidas. 42 E puseram-se em oração, pedindo que o pecado cometido fosse completamente cancelado. Quanto ao valente Judas, exortou o povo a se conservar sem pecado, pois tinham visto com os próprios olhos o que acontecera por causa do pecado dos que haviam sido mortos. 43 Depois, tendo organizado uma coleta individual, que chegou a perto de duas mil dracmas de prata, enviou-as a Jerusalém, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim, pensando muito bem e nobremente sobre a ressurreição. 44 De fato, se ele não tivesse esperança na ressurreição dos que tinham mor­rido na batalha, seria supérfluo e vão orar pelos mortos. 45 Mas, considerando que um ótimo dom da graça de Deus está reservado para os que adormecem piedosamente na morte, era santo e piedoso o seu modo de pensar. Eis por que mandou fazer o sacri­fício expiatório pelos falecidos, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado.

 Campanha de Antíoco V e de Lísias.  Morte de Menelau


2Macabeus (CNB) 7