2Samuel (CNB) 18

18 1 Davi fez a revista de suas tropas e constituiu sobre eles chefes de milhares e de centenas. 2 Dividiu o povo em três partes: um terço sob o mando de Joab, um terço sob o mando de Abisai filho de Sárvia, irmão de Joab, um terço sob o mando de Etai, o gateu. O rei disse às tropas: “Eu irei convosco”. 3 Eles responderam: “Não vás. Se nós fugirmos, nem darão importância. Se metade de nós morrer, não darão muita atenção. Mas tu vales por dez mil de nós. Melhor é que fiques na cidade para nos socorrer”. 4 Disse-lhes o rei: “Farei o que vos parecer melhor”. O rei ficou junto à porta enquanto o exército saía em tropas de cem e de mil. 5 E o rei ordenou a Joab, a Abisai e a Etai: “Por favor, tratai bem o jovem Absalão”. E todos ouviram o rei dando ordens aos chefes em favor de Absalão.
6
As tropas saíram a campo contra Israel, e a batalha travou-se na floresta de Efraim. 7 Ali o povo de Israel foi derrotado pelo exército de Davi, e naquele dia houve uma grande mortandade, de vinte mil homens. 8 O combate estendeu-se por toda a região, e naquele dia a floresta devorou mais soldados do que devorou a espada.
9
De repente, Absalão, montado numa mula, encontrou-se diante dos servos de Davi. Sua mula embrenhou-se sob a folhagem espessa de um grande carvalho. A cabeça de Absalão ficou presa nos galhos da árvore, de modo que ele ficou suspenso entre o céu e a terra, enquanto a mula em que ia montado seguia em frente. 10 Alguém viu isso e informou Joab: “Vi Absalão suspenso num carvalho”. 11 Joab respondeu ao homem que lhe deu a notícia: “Se o viste, por que não o abateste no mesmo lugar? Eu te teria dado dez moedas de prata e um cinto”. 12 O homem respondeu: “Ainda que me pusessem nas mãos mil moedas de prata, eu não levantaria a mão contra o filho do rei. Pois nós ouvimos com nossos ouvidos que o rei deu esta ordem a ti, a Abisai e a Etai: ‘Poupai, por favor, meu filho Absalão!’ 13 Se eu tivesse cometido esse atentado contra a vida do jovem, não ficaria oculto ao rei, e tu mesmo te porias contra mim”.
14
Joab disse-lhe: “Não vou perder tempo contigo!” Tomou então três dardos e cravou-os no peito de Absalão. E como ainda palpitasse com vida, suspenso no carvalho, 15 acorreram dez jovens escudeiros de Joab e deram-lhe os últimos golpes. 16 Joab tocou então a trombeta e o exército deixou de perseguir Israel, porque Joab conteve o povo. 17 Tomaram Absalão e colocaram-no numa grande fossa, no interior da floresta, erguendo em seguida sobre ele um enorme monte de pedras. Entretanto, todo o Israel havia fugido, cada um para sua tenda.
18
Quando ainda vivia, Absalão mandara erigir para si uma coluna no vale dos Reis. Tinha dito: “Não tenho filhos que conservem a memória do meu nome”. Por isto, deu seu nome ao monumento, que até hoje é chamado Monumento de Absalão.

 Reação de Davi à morte de Absalão

19 Aquimaas filho de Sadoc disse: “Vou correr para anunciar ao rei que o Senhor o libertou de seus inimigos”. 20 Disse-lhe Joab: “Não é bom dar-lhe hoje esta notícia, mas num outro dia. Hoje não terás boa notícia a dar, pois o filho do rei morreu”. 21 E Joab disse a um etíope: “Vai comunicar ao rei o que viste”. O etíope prostrou-se diante de Joab e depois se pôs a correr. 22 Aquimaas filho de Sadoc tornou a perguntar a Joab: “O que aconteceria se eu corresse atrás do etíope?” Joab respondeu: “Por que queres correr, meu filho? Não vais ser premiado por uma boa notícia!” – 23 “Aconteça o que acontecer”, retrucou, “eu vou correr”. – “Corre pois!”, disse Joab. E, correndo pelo caminho da planície, Aquimaas ultrapassou o etíope.
24
Davi estava sentado no vau da porta da cidade. A sentinela que tinha subido ao terraço acima da porta, sobre a muralha, levantou os olhos e divisou um homem que vinha correndo, sozinho. 25 Pôs-se a gritar e avisou o rei, que disse: “Se ele vem só, traz notícia boa”. À medida que o homem se aproximava, 26 a sentinela viu outro homem que corria e gritou para o porteiro: “Vejo outro homem que vem correndo sozinho”. O rei disse: “Também esse traz alguma notícia boa”. 27 A sentinela acrescentou: “Pela maneira de correr, o primeiro só pode ser Aquimaas filho de Sadoc”. “É um homem de bem”, disse o rei, “certamente traz notícia boa”.
28
Aquimaas chegou e gritou para o rei: “Paz!” E, prostrando-se com o rosto em terra, acrescentou: “Bendito seja o Senhor, teu Deus, que te entregou os que se sublevaram contra o rei, meu senhor!” 29 O rei perguntou: “Vai tudo bem para o jovem Absalão?” Aquimaas respondeu: “Vi um grande tumulto, quando Joab enviou um servo do rei e também a mim, teu servo, mas ignoro o que se passou”. 30 O rei disse-lhe: “Passa e espera aqui”. Quando ele passou e ficou no seu lugar, 31 apareceu o etíope, exclamando: “Senhor meu rei, trago-te boa notícia: o Senhor te fez justiça contra todos os que se tinham revoltado contra ti”. 32 O rei perguntou ao etíope: “Vai tudo bem para o jovem Absalão?” O etíope disse: “Tenham a sorte deste jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazer mal!”

19 1 33Então o rei estremeceu, subiu para a sala acima da porta e caiu em pranto. Dizia entre soluços: “Meu filho Absalão! Meu filho, meu filho Absalão! Por que não morri eu em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!”

 Reação de Joab

2 1Anunciaram a Joab que o rei estava chorando e lamentando-se por causa do filho. 3 2Assim, naquele dia, a vitória converteu-se para todos em luto, pois o povo ficara sabendo que o rei estava acabrunhado de dor por causa de seu filho. 4 3Por isso, as tropas entraram furtivamente na cidade, como um exército envergonhado por ter fugido da batalha. 5 4O rei tinha velado o rosto e gritava continuamente, em alta voz: “Meu filho Absalão! Absalão! meu filho, meu filho!”
6
5Joab entrou na casa do rei e disse: “Tu hoje envergonhaste o rosto de todos os teus servos, que salvaram tua vida e a vida de teus filhos e filhas, de tuas esposas e concubinas. 7 6Mostras amor aos que te odeiam e ódio aos que te amam. Demonstraste hoje que teus generais e teus oficiais nada significam para ti. Agora vejo que, se Absalão tivesse ficado com vida e nós todos morrido, estarias contente. 8 7Levanta-te e vai falar ao coração de teus servos. Juro-te pelo Senhor que, se não saíres, nenhum sequer ficará contigo esta noite, e isto será pior para ti do que todos os males que te sobrevieram desde tua adolescência até o dia de hoje”. 9 8O rei levantou-se e sentou-se à porta. Anunciaram a todo o povo que o rei estava sentado à porta, e todos apresentaram-se diante do rei.

 Davi no caminho de volta

Entretanto, Israel tinha fugido, cada qual pa­ra sua tenda. 10 9O povo todo, em todas as tri­bos de Israel, comentava: “O rei libertou-nos das mãos de nossos inimigos, ele mesmo­ salvou-nos das mãos dos filisteus, mas teve de fugir de sua terra por causa de Absalão. 11 10Absalão, o qual tínhamos ungido como nosso rei, morreu na guerra. Por que ficais calados e não fazeis voltar o rei?”
12
11Como chegasse aos ouvidos do rei, em sua casa, o que se comentava em todo o Israel, Davi mandou dizer aos sacerdotes Sa­doc e Abiatar: “Falai aos anciãos nascidos na Judéia: ‘Por que sois vós os últimos a trazer o rei de volta à sua casa?’ 13 12Vós sois meus irmãos, sois meu osso e minha carne. Por que seríeis os últimos a trazer o rei de volta? 14 13Dizei a Amasa: ‘Não és osso meu e carne minha? Que Deus me faça o pior e ainda mais, se não estiveres para sempre a meu serviço como chefe do exército no lugar­ de Joab!” 15 14Assim, Davi ganhou o coração de todos os anciãos de Judá, como se fossem­ um homem só. Enviaram um mensageiro para dizer ao rei: “Retorna, tu e todos os teus servos”. 16 15O rei então voltou. Quando alcan­çou o Jordão, os habitantes de Judá chegaram a Guilgal, para receber o rei e ajudá-lo a transpor o Jordão.

 Reencontro com Semei

17 16 Nessa altura, Semei filho de Gera, ben­jaminita de Baurim, se apressou a descer com o povo de Judá ao encontro do rei. 18 Con­duzia consigo mil pessoas de Benjamim, entre os quais Siba, administrador doméstico de Saul, com seus quinze filhos e vinte criados. Desceram rapidamente até ao Jordão, antes que o rei chegasse, 19 18e atravessaram o vau para fazer passar a família real e fazer tudo o que agradasse ao rei. Quan­do o rei ia atravessar o Jordão, Semei filho de Gera lançou-se a seus pés, 20 19suplicando: “Não me imputes, meu senhor, minha culpa nem te lembres, meu senhor e rei, do desacato que teu servo cometeu quando estavas saindo de Jerusalém. Não guardes isso no teu coração! 21 20Teu servo reco­nhece que ficou em falta. Mas, como estás vendo, fui hoje o primeiro de toda a casa de José a descer ao encontro do rei, meu senhor”. 22 21Então Abisai filho de Sárvia interveio com estas palavras: “Não se deveria executar Semei, ele que amaldiçoou o un­gido do Senhor?” 23 22Mas Davi respondeu: “O que tendes comigo, filhos de Sárvia, para vos tornardes hoje meus tentadores. Como matar hoje um homem em Israel? Será que não sei que hoje me tornei de novo rei de Israel?” 24 23E o rei assegurou a Semei: “Não precisas morrer!”, confirmando com juramento a promessa.

 Davi e Meribaal

25 24Também Meribaal, neto de Saul, tinha descido ao encontro do rei. Não tinha mais cuidado dos pés, nem feito a barba, nem lavado a roupa, desde o dia em que o rei tinha partido, até o dia em que voltou são e salvo. 26 25Quando pois veio de Jerusalém ao encontro do rei, este lhe perguntou: “Por que não me acompanhaste, Meribaal?” 27 26Ele respondeu: “Meu senhor o rei, meu empregado me enganou, pois, sendo aleijado, teu servo tinha mandado encilhar a jumenta, a fim de montar e dirigir-me para junto do rei, pois sou aleijado. 28 27Mas ele caluniou teu servo junto a meu senhor e rei. Mas meu senhor o rei é como um anjo de Deus. Faze o que te parecer melhor. 29 28Quando toda a família de meu pai só podia contar com a morte da parte de meu senhor o rei, tu admitiste o teu servo entre os que comem da tua mesa. Com que direito posso ainda reclamar algo do rei?” 30 29O rei lhe respondeu: “Por que precisas ainda falar sobre esse teu assunto? A minha decisão é que tu e Siba compartilheis as terras”. 31 30Meribaal replicou ao rei: “Ele pode ficar com tudo, já que meu senhor e rei voltou são e salvo para casa”.

 Berzelai

32 31Berzelai de Galaad tinha descido de Roguelim e acompanhado o rei até o rio Jordão, para se despedir dele junto do Jordão. 33 32Berzelai já era muito idoso, com oitenta anos feitos. Tinha provido ao sustento do rei durante a sua permanência em Maanaim, pois era um senhor muito abastado. 34 33Por isso, o rei disse a Berzelai: “Tu deves vir comigo e vou prover ao teu sustento comigo em Jerusalém”. 35 34Berzelai respondeu ao rei: “Quantos anos de vida ainda me restam para subir com o rei para Jerusalém? 36 35Tenho agora oitenta anos. Consigo ainda distinguir o que é bom ou mau? Teu servo pode ainda perceber o gosto do que come ou bebe? Ou estou ainda em condições de me deleitar com as vozes dos cantores e das cantoras? Por que o teu servo seria ainda um peso para meu senhor e rei? 37 36Teu servo vai acompanhar o rei um pouco para além do Jordão, mas por que o rei me daria tal recompensa? 38 37Deixa-me voltar, para morrer na minha cidade junto ao túmulo de meu pai e de minha mãe. Mas olha, aqui está teu servo Camaam. Ele pode acompanhar meu rei e senhor; faze dele o que te parecer melhor”. 39 38 O rei replicou: “Que Camaam venha comigo, vou fazer por ele o que a ti parecer melhor; tudo o que me solicitares, eu te concederei”. 40 39 Depois todo o povo atravessou o Jordão e também o rei passou. Então ele beijou Berzelai, que voltou para casa.

 Divergências entre Judá e Israel

41 40 O rei prosseguiu a marcha até Guilgal, e Camaam seguia com ele. Toda a tropa de Judá e igualmente metade da tropa de Israel tinham feito passar o rei. 42 41Então os de Israel, em peso, se dirigiram ao rei e lhe perguntaram: “Por que te seqüestraram os nossos irmãos de Judá, ajudando a atravessar o Jordão ao rei, sua família e todas as suas tropas?” 43 42 Então todos os de Judá responderam aos de Israel: “É porque o rei é nosso parente próximo. Por que vos irritais por causa disto? Será que nós comemos da provisão do rei ou recebemos algo para nós?” 44 43 Os israelitas replicaram aos de Judá nestes termos: “Nós temos dez vezes parte na escolha do rei e temos prioridade sobre vós quanto a Davi. Por que nos desprezastes? Não fomos nós os primeiros a propor o regresso de nosso rei?” Mas a palavra dos de Judá teve mais força que a de Israel.

 A rebelião de Seba. Morte de Amasa

20 1 Havia ali um desordeiro, chamado Seba filho de Bocri, da tribo de Benjamim. Tocou a trombeta e disse:
“Não temos parte com Davi,
nem herança com o filho de Jesse!
Cada um à sua tenda, Israel!”
2
E todos os homens de Israel separaram-se de Davi e seguiram Seba filho de Bocri. Os homens de Judá aderiram ao seu rei, do Jordão até Jerusalém.
3
Ao chegar à sua casa em Jerusalém, o rei tomou as dez concubinas que deixara cuidando da casa e as confinou. Cuidava de que tivessem alimento, mas não ia para junto delas. Ficaram confinadas até o dia da morte, vivendo como se fossem viúvas.
4
Disse o rei a Amasa: “Convoca-me todos os homens de Judá dentro de três dias, e tu também estejas presente”. 5 Amasa saiu para convocar Judá, mas levou mais tempo do que lhe fora estabelecido. 6 Disse Davi a Abisai: “Agora Seba filho de Bocri nos causará maior preocupação do que causou Absalão. Toma, pois, os servos de teu senhor e persegue-o, para que não chegue às cidades fortificadas e nos escape”. 7 Saíram com ele os homens de Joab, também os cereteus e os feleteus e todos os homens valentes. Saíram de Jerusalém para perseguir Seba filho de Bocri.
8
Quando chegaram à grande pedra em Gabaon, encontraram Amasa que já estava ali. Joab usava no traje um cinto do qual pendurava uma espada na bainha. Ao adiantar-se, a espada deslizou. 9 Joab disse a Amasa: “Tudo bem, meu irmão?”, e tomou com a mão direita a barba de Amasa para beijá-la. 10 Amasa não percebera a espada na mão de Joab. Este o feriu no ventre, lançando por terra suas entranhas, sem ser necessário um segundo golpe, e ele morreu. Então, Joab e Abisai, seu irmão, foram ao encalço de Seba filho de Bocri. 11 Entretanto, alguém do pessoal de Joab pôs-se junto ao cadáver de Amasa e disse: “Quem é amigo de Joab e a favor de Davi, siga Joab!” 12 Ama­sa jazia no meio do caminho, banhado em sangue. Vendo que todos paravam para vê-lo, o homem retirou Amasa do caminho para o campo e cobriu-o com uma roupa, porque viu que todos que passavam se detinham por causa dele. 13 Depois que o retiraram do cami­nho, todos passaram a seguir Joab na perseguição de Seba filho de Bocri.
14
Seba percorreu todas as tribos de Israel até Abel-Bet-Maaca; os de Bocri reuniram-se e seguiram-no todos. 15 Então chegaram as tropas e cercaram-no em Abel-Bet-Maaca. Construíram uma rampa até os muros. Toda a tropa que estava com Joab esforçava-se em destruir os muros. 16 Uma mulher sábia da cidade exclamou: “Escutai! Escutai! Dizei a Joab que se aproxime, pois eu quero falar com ele”. 17 Ele aproximou-se, e ela lhe disse: “És tu Joab?” Ele respondeu: “Sou”. Ela então falou-lhe: “Ouve as palavras da tua serva”. Ele respondeu: “Ouvirei”. 18 Ela continuou: “Dizia um provérbio antigo: ‘Quem procurar conselho, pergunte em Abel, e o assunto se resolve’. 19 Eu sou pacífica e estou entre os fiéis de Israel. E tu queres destruir uma cidade, uma mãe em Israel. Por que queres destruir a herança do Senhor?” 20 Joab respondeu: “Longe, longe de mim que eu destrua e arruine. 21 Não é esta a minha intenção. Mas um homem das montanhas de Efraim, chamado Seba filho de Bocri, levantou sua mão contra o rei Davi. Basta entregar esse homem, e deixarei a cidade”. Disse a mulher a Joab: “Jogaremos sua cabeça para ti por cima do muro”. 22 Dirigiu-se ao povo todo e falou-lhe sabiamente. Cortaram então a cabeça de Seba filho de Bocri e lançaram-na a Joab. Ele tocou a trombeta, e retiraram-se da cidade, indo cada um para sua tenda. Joab também voltou ao rei em Jerusalém.

 Funcionários de Davi

23 Joab comandava todo o exército de Israel. Bananias filho de Joiada comandava os cereteus e os feleteus. 24 Adoniram controlava os impostos. Josafá filho de Ailud era cronista. 25 Siva era escriba, Sadoc e Abiatar, sacerdotes. 26 Ira filho de Jair também era sacerdote de Davi.


Suplementos

 O povo de Gabaon contra a família de Saul

21 1 No tempo de Davi houve uma fome que durou três anos. Davi consultou o oráculo do Senhor. Disse o Senhor: “Há sangue sobre Saul e sobre sua casa, porque matou os gabaonitas”. 2 O rei chamou os gabaonitas. Os gabaonitas não são israelitas, mas um resto dos amorreus; os israelitas se tinham comprometido por juramento com eles, mas Saul quis eliminá-los no seu zelo pelos israelitas e por Judá. 3 Disse Davi aos gabaonitas: “Que posso fazer por vós? Que satisfação posso dar-vos, para que abençoeis a herança do Senhor?” 4 Disseram-lhe os gabaonitas: “Nossa diferença com Saul e sua casa não é questão de prata nem de ouro. Nem é questão nossa matar algum homem em Israel”. Disse-lhes então: “O que disserdes, vos farei”. 5 Disseram ao rei: “Dos filhos daquele homem que nos oprimiu e quis destruir-nos até que não restasse mais nenhum de nós em cada canto de Israel, 6 entrega-nos sete homens, e os enforcaremos diante do Senhor em Gabaon, no monte do Senhor”. Disse o rei: “Eu os entregarei”.
7
O rei poupou a Meribaal filho de Jônatas, filho de Saul, por causa do mútuo juramento que fizeram Davi e Jônatas filho de Saul.
8
Mas o rei tomou dois filhos que Resfa filha de Aías tinha dado a Saul, Armoni e Meribaal, e cinco filhos que Merab filha de Saul tinha gerado a Adriel filho de Berzelai de Meola. 9 Entregou-os nas mãos dos gabaonitas, que os suspenderam no monte diante do Senhor. Os sete homens foram mortos, todos juntos, nos primeiros dias da ceifa, no início da colheita da cevada.
10
Resfa, filha de Aías, tomou um pano de saco e estendeu-o para si sobre uma rocha, desde o início da colheita até que caísse água do céu sobre os cadáveres, e não permitiu que as aves do céu se aproximassem deles durante o dia, nem os animais selvagens durante a noite.
11
Comunicaram a Davi a atitude de Resfa, filha de Aías, concubina de Saul. 12 Davi foi então recolher os ossos de Saul e os ossos de Jônatas, seu filho, junto aos habitantes de Jabes de Galaad, que os tinham retirado furtivamente da praça de Betsã, na qual os filisteus os tinham enforcado quando venceram Saul em Gelboé. 13 Tirou dali os ossos de Saul e os ossos de Jônatas, seu filho, e juntou-os aos ossos dos enforcados. 14 Os ossos de Saul e de Jônatas seu filho foram sepultados na terra de Benjamim, em Sela, no túmulo de Cis, seu pai. Fizeram tudo o que o rei ordenara, e depois disto, Deus voltou a ser propício ao país.

 Proezas contra os filisteus

15 Os filisteus atacaram mais uma vez Israel. Davi desceu com seus servos e lutou contra os filisteus até cansar-se. 16 Jesbibenob, da linhagem de Rafa, armado com uma lança que pesava uns três quilos e cingindo uma espada nova, esforçava-se para atingir Davi. 17 Abisai filho de Sárvia foi a seu socorro. Ferindo o filisteu, matou-o. Então os homens de Davi juraram: “Tu não mais sairás conosco para a guerra, para que não se apague a lâmpada de Israel”.
18
Novamente houve guerra contra os filisteus em Gob. Sobocai de Husa matou Saf, da estirpe de Rafa.
19
E houve outra vez guerra em Gob contra os filisteus, na qual Elcanã filho de Jair, de Belém, matou Golias, de Gat, cuja lança era como um cilindro de tear.
20
Houve ainda uma batalha em Gat, na qual participava um homem de enorme estatura. Ele tinha seis dedos nas mãos e nos pés, ou seja, vinte e quatro dedos, e era descendente de Rafa. 21 Desafiou Israel, mas foi morto por Jônatas filho de Sama, irmão de Davi.
22
Os quatro eram da linhagem de Rafa de Gat e morreram pelas mãos de Davi e de seus servos.

 Salmo de Davi

22 1 No dia em que o Senhor o livrou da mão de seus inimigos e da mão de Saul, Davi dirigiu ao Senhor este cântico:
2
“O Senhor é minha rocha, minha
fortaleza e meu salvador,
3
Deus meu, meu rochedo, no qual me
refugio,
meu escudo, minha força salvadora!
Minha defesa e meu refúgio.
Meu salvador, da violência me salvas.
4
Invocarei o Senhor, louvado seja.
Fiquei salvo de meus inimigos.
5
Envolviam-me as ondas da Morte,
aterravam-me as torrentes de Belial,
6
enredavam-me os laços do Abismo
defrontava as ciladas da Morte.
7
Na minha angústia clamei ao Senhor
o meu Deus invoquei.
De seu santuário, ele ouviu minha voz,
e meu clamor chegou aos seus ouvidos.
8
A terra comoveu-se e tremeu,
os fundamentos do céu agitaram-se
e abalavam-se, porque estava irado.
9
Subiu fumaça de suas narinas,
enquanto de sua boca saía fogo,
soltando carvões acesos.
10
Inclinou os céus e desceu,
uma nuvem espessa sob seus pés.
11
Cavalgou sobre um querubim e voou,
e revoou sobre as asas do vento.
12
Das trevas fez uma tenda ao seu redor,
águas tenebrosas, nuvens muito espessas.
13
Do fulgor de sua presença,
saltavam centelhas de fogo.
14
O Senhor trovejou do céu
e o Altíssimo fez ouvir a sua voz.
15
Disparou flechas e os dispersou,
com um relâmpago os afugentou.
16
Apareceram as profundezas do mar,
os fundamentos do mundo se
descobriram,
pela repreensão do Senhor,
pelo sopro do vento de sua ira.
17
Inclinou-se das alturas e tomou-me,
tirou-me das muitas águas.
18
Livrou-me de meu inimigo poderoso,
dos que me odiavam, mais fortes do
que eu.
19
Atacaram-me no dia da minha desgraça,
mas o Senhor se tornou meu apoio.
20
Levou-me ao espaço aberto,
libertou-me, porque me quer bem.
21
O Senhor retribuiu-me segundo minha
justiça,
recompensou-me segundo a limpeza de
minhas mãos,
22
pois guardei os caminhos do Senhor,
e não cometi impiedade para com
meu Deus.
23
Seus juízos estão todos diante de mim,
e não me afastei de seus preceitos.
24
Fui íntegro com ele,
e guardei-me de cometer iniqüidade.
25
O Senhor me retribui segundo minha
justiça,
e segundo minha integridade a seus
olhos.
26
Com o santo, tu és santo,
com o íntegro, tu és integro,
27
com o puro, tu te mostras puro,
com o perverso, usas astúcia.
28
Salvarás o povo pobre
e humilharás os olhos dos soberbos,
29
pois tu és minha lâmpada, Senhor –
meu Deus ilumina minhas trevas.
30
Contigo ataco as tropas do inimigo,
com meu Deus salto muralhas.
31
Deus, seu caminho é sem mácula,
a palavra do Senhor é provada no fogo;
ele é o escudo de quem nele confia.
32
Quem, pois, é Deus, senão o Senhor?
E quem é rochedo, senão nosso Deus?
33
Deus, que me cinge de força
e que faz plano o meu caminho,
34
que faz meus pés como o da corça,
e me sustenta nas alturas,
35
adestra minha mão para a batalha,
e meus braços, para esticar o arco de
bronze.
36
Deste-me o escudo da tua salvação,
e tua atenção me engrandeceu.
37
Alargaste meus passos debaixo de mim,
e meus calcanhares não fraquejaram.
38
Persegui meus inimigos e os exterminei,
não voltei sem os ter destruído.
39
Abati-os, despedacei-os, para que não
se levantem.
Tombaram sob os meus pés.
40
Cingiste-me de força para a batalha,
curvaste debaixo de mim os que se
insurgiam contra mim.
41
Apresentaste-me o dorso dos meus
inimigos;
os que me odiavam, eu os exterminei.
42
Clamaram, mas não havia quem os
salvasse,
clamaram ao Senhor, mas não os ouviu.
43
Esmaguei-os como pó da terra,
amassei-os como a lama das praças.
44
Salvaste-me das brigas com meu povo,
colocaste-me como chefe das nações.
Um povo que eu não conhecia serve-me,
45
os filhos dos estrangeiros cortejam-me,
prestam ouvido e me obedecem.
46
Os filhos dos estrangeiros esvaem-se
e estremecem em seus abrigos.
47
Viva o Senhor, e bendita seja a minha
rocha,
exaltado seja Deus, a rocha que me salva.
48
Deus, que me concedes a vingança,
que submetes a mim os povos,
49
que me desvias dos meus inimigos,
e me elevas sobre os que se insurgem
contra mim;
tu livras-me do homem iníquo.
50
Por isto, eu te louvo, Senhor, em meio
às nações,
e canto ao teu nome:
51
‘Ele engrandece o êxito de seu rei
e faz misericórdia a Davi, seu ungido,
e à sua descendência eternamente’”.

 Palavras de despedida de Davi

23 1 E estas são as últimas palavras de Davi:
“Oráculo de Davi, o filho de Jessé,
oráculo do homem que foi exaltado,
o ungido do Deus de Jacó,
o suave cantor de Israel.
2
O Espírito do Senhor falou por meio
de mim,
sobre minha língua estava sua palavra.
3
O Deus de Israel falou,
disse-me a Rocha de Israel:
‘Quem governa os homens com justiça,
quem governa no temor de Deus
4
é como a luz da aurora, quando nasce o
sol,
numa manhã sem nuvens;
quando seu brilho após a chuva
faz na terra a erva nascer’.
5
Não é assim minha casa junto a Deus,
que estabeleceu um pacto eterno comigo,
em tudo ordenado e bem seguro?
Não faz germinar toda minha salvação
e tudo o que é desejável?
6
Os prevaricadores são todos
como espinhos rejeitados,
que não se podem pegar com a mão.
7
Quem pretende tocá-los,
o faz armado com ferro e lança,
pois terminam no fogo a queimar”.

 Os valentes de Davi

8 Estes são os nomes dos valentes de Davi. Jesbaal, o hacmonita, chefe dos Três, ergueu sua lança contra oitocentos, matando-os de um só golpe.
9
Depois dele, entre os três valentes, vem Eleazar filho de Dodo, o aoíta. Estava com Davi em Afes-Domim, quando os filisteus se reuniram contra eles em combate. 10 Como os homens de Israel recuassem, 10ele se man­teve firme e combateu os filisteus até que sua mão, cansada, ficou colada à espada. O Senhor operou uma grande vitória naquele dia, e o exército retornou apenas para buscar os despojos.
11
Depois dele vem Sema filho de Agué, o ararita. Os filisteus tinham-se reunido em Leí. Havia um campo cheio de lentilhas. Como o exército fugisse diante dos filisteus, 12 ele se manteve firme em meio ao campo e o defendeu, abatendo os filisteus. E o Senhor operou uma grande vitória.
13
Três dos Trinta desceram e juntaram-se a Davi, no tempo da colheita, na gruta de Odo­lam. Os filisteus estavam acampados no vale dos Refaítas. 14 Davi estava no refúgio. Havia uma guarnição de filisteus em Belém. 15 Davi manifestou este desejo: “Se alguém me pudesse dar de beber da água da cisterna que está à porta de Belém!” 16 Os três valentes abriram passagem através do acampamento dos filisteus, trouxeram água da cisterna que está à porta de Belém e apresentaram-na a Davi. Mas ele não quis beber, e ofereceu-a em libação ao Senhor, 17 dizendo: “Que o Senhor me ajude a não fazer tal coisa! Beberia eu o sangue destes homens que enfrentaram perigo de vida?” Por isso não quis beber. Foi uma façanha dos três valentes.
18
Abisai, irmão de Joab filho de Sárvia, era chefe dos Trinta. Foi ele que levantou sua lança contra trezentos, os quais abateu. Ficou com renome entre os Trinta. 19 Era o mais nobre entre os Trinta, sendo seu chefe, mas não se igualava aos três primeiros.
20
Bananias de Cabseel filho de Joiada e homem valente, de grandes feitos, foi quem abateu dois filhos de Ariel de Moab e, num dia de neve, desceu para matar um leão dentro de uma cisterna. 21 Ele também matou um egípcio de grande estatura, que tinha um cajado na mão. Indo contra ele com um bastão, arrancou o cajado da mão do egípcio e matou-o com a própria lança. 22 Foi o que fez Bananias filho de Joiada. Ele ficou com renome entre os trinta valentes. 23 Foi o mais afamado dos Trinta. Contudo, não era contado entre os Três. Davi fê-lo chefe da sua guarda pessoal.
24
Asael, irmão de Joab, era um dos Trinta. Elcanã filho de Dodo de Belém, 25 Sama de Harod, Elica de Harod, 26 Heles de Falet, Hira filho de Aces de Técua, 27 Abiezer de Anatot, Sobocai de Husa, 28 Selmon, aoíta, Maarai, netofatita, 29 Héled filho de Baana, netofatita, Itai filho de Ribai, de Gabaá de Benjamim, 30 Banaia de Faraton, Hedai, das torrentes de Gaas, 31 Abibaal de Arba, Azmavet de Baurim, 32 Eliaba de Saalbon, Jasen de Gun, 33 Jônatas filho de Sama de Arar, Aiam filho de Sarar, ararita, 34 Elifalet filho de Aasbai, macatita, Eliam filho de Aquitofel de Gilo, 35 Hesrai de Carmel, Farai de Arab, 36 Igaal filho de Natã de Soba, Bani de Gad, 37 Sélec de Amon, Naarai, berotita, escudeiro de Joab filho de Sárvia, 38 Ira, jetrita, Gareb, também jetrita, 39 Urias, heteu. Ao todo, trinta e sete.

 Recenseamento e peste. A eira de Areúna

24 1 A ira do Senhor voltou a inflamarse contra os israelitas; ele instigou Davi contra eles: “Vai, faz o recenseamento de Israel e de Judá”. 2 O rei disse a Joab e aos chefes do seu exército que estavam com ele: “Percorre todas as tribos de Israel, desde Dã até Bersabéia, e faz o recenseamento do povo, de maneira que eu saiba o seu número”. 3 Joab disse ao rei: “Que o Senhor, teu Deus, multiplique o povo cem vezes mais do que agora, e que o veja meu senhor o rei! Mas que pretende meu senhor o rei com isto?” 4 Contudo, a ordem do rei prevaleceu sobre a opinião de Joab e dos chefes do exército. Eles saíram da presença do rei para fazer o recenseamento do povo de Israel.
5
Foram para o outro lado do Jordão, começando por Aroer e a cidade que está no meio do vale, passando depois a Gad e a Jazer. 6 Chegaram a Galaad e à terra dos heteus em Cades e foram até Dã. De Dã, dirigiram-se a Sidônia, 7 chegaram à fortaleza de Tiro e a todas as cidades dos heveus e dos cananeus, e foram ao deserto de Judá, em Bersabéia. 8 Tendo percorrido todo o país, voltaram a Jerusalém após nove meses e vinte dias. 9 Joab apresentou ao rei o resultado do recenseamento do povo: havia em Israel oitocentos mil homens de guerra que manejavam a espada; e em Judá, quinhentos mil.
10
Depois que o povo foi recenseado, porém, Davi sentiu remorsos e disse ao Senhor: “Cometi um grande pecado, ao fazer o que fiz. Mas perdoa a iniqüidade do teu servo, porque procedi como um grande insensato”. 11 Pela manhã, quando Davi se levantou, a palavra do Senhor tinha sido dirigida ao profeta Gad, vidente de Davi, nestes termos: 12 “Vai dizer a Davi: Assim fala o Senhor: Dou-te a escolher três coisas: escolhe aquela que queres que eu te envie”. 13 Gad foi ter com Davi e referiu-lhe estas palavras: “Que preferes: três anos de fome na tua terra, três meses de derrotas diante dos inimigos que te perseguem ou três dias de peste no país? Reflete, pois, e vê o que devo responder a quem me enviou”. 14 Davi respondeu a Gad: “Estou em grande angústia. É melhor cair nas mãos do Senhor, cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens!”
15
Davi escolheu, pois, a peste. Era o tempo da colheita do trigo. O Senhor mandou, então, a peste a Israel, desde aquela manhã até ao dia fixado, de modo que morreram setenta mil homens da população, desde Dã até Bersabéia. 16 Mas quando o anjo estendeu a mão para exterminar Jerusalém, o Senhor arrependeu-se desse mal e disse ao anjo que exterminava o povo: “Basta! Retira agora a tua mão!”
O anjo estava junto à eira de Areúna, o jebuseu. 17
Quando Davi viu o anjo que afligia o povo, disse ao Senhor: “Fui eu que pequei, eu cometi a iniqüidade! Mas estes, que são como ovelhas, que fizeram? Peço-te que a tua mão se volte contra mim e contra a minha família!”
18
Naquele dia, Gad foi ter com Davi e disse-lhe: “Sobe e levanta um altar ao Senhor na eira de Areúna, o jebuseu”. 19 Então Davi subiu, conforme a palavra de Gad, como o Senhor lhe ordenara. 20 Areúna, tendo levantado os olhos, viu que o rei e seus servos vinham em sua direção. 21 Saindo, prostrou-se diante do rei com o rosto em terra 21e disse: “Qual o motivo pelo qual meu senhor vem ao seu servo?” Disse-lhe Davi: “Para adquirir de ti esta eira e construir um altar ao Senhor, para que cesse a mortandade que grassa no povo”. 22 Areúna disse a Davi: “Que o senhor meu rei tome e ofereça o que lhe agradar. Aqui estão os bois para o ho­locausto, um treno de desbulhar e o jugo dos bois para usar como lenha. 23 Areúna, ó rei, oferece tudo ao rei”. E Areúna acrescentou: “Que o Senhor, teu Deus, aceite teu voto!” 24 Respondeu-lhe o rei: “Não. Eu quero comprar de ti. Não oferecerei ao Senhor, meu Deus, um holocausto gratuito”. Então Davi comprou a eira e os bois por cinqüenta siclos de prata. 25 Davi construiu ali um altar ao Senhor e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão.
E o Senhor voltou a ser propício à terra, e a peste deixou Israel.



2Samuel (CNB) 18