Discursos Bento XVI 175

AOS OUVINTES DA RÁDIO VATICANO NO ESTÚDIO "CARDEAL KAROL WOJTYLA"


Amados Irmãos e Irmãs

176 Saúdo de coração todos os ouvintes e todas as ouvintes da Rádio Vaticano e desejo-lhes a paz e a alegria do Senhor. É uma grande alegria para mim encontrar-me aqui. Estamos conscientes de que há 75 anos o Papa Pio XI inaugurou a Rádio Vaticano, dando assim uma nova voz à Santa Sé, ou seja, à Igreja e ao Senhor. Uma voz com a qual se pudesse realmente cumprir o mandato do Senhor: "Anunciai o Evangelho a todas as criaturas, até aos confins da terra". Entretanto, observo que nestes 75 anos a técnica se aperfeiçoou em grande medida. Hoje, a voz da Rádio Vaticano pode chegar a todas as regiões do mundo, a numerosos lares e como se salientou sobretudo há também uma significativa reciprocidade, não só falando mas também acolhendo as respostas, num verdadeiro diálogo para compreender, responder e edificar assim a família de Deus.

Parece-me ser este o sentido de um tal instrumento de comunicação: ajudar a construir esta grande família que não conhece fronteiras e na qual, na multiplicidade das culturas e das línguas, todos são irmãos e irmãs, e assim representam uma força para a paz. Gostaria de formular votos a quantos me ouvem neste momento, a fim de que possam sentir-se concretamente comprometidos neste grande diálogo da verdade. No mundo dos meios de comunicação não faltam, como sabemos, também vozes opostas. Por isso é muito importante que exista esta voz, que deseja realmente pôr-se ao serviço da verdade de Cristo e colocar-se assim ao serviço da paz e da reconciliação do mundo. Faço votos por que os colaboradores possam ser instrumentos eficazes desta grandiosa obra de paz do Senhor. Agradeço-vos tudo aquilo que realizais dia após dia, talvez também noite após noite. Desejo que os ouvintes, eles mesmos comprometidos neste grande diálogo, se tornem também eles, testemunhas da verdade e da força da paz no mundo.

ORAÇÃO NA CAPELA DA RÁDIO


Caríssimos irmãos e filhos, reunidos para invocar o nome do Senhor, enquanto damos graças a Deus por todos os benefícios que Ele concedeu, ao longo de setenta e cinco anos, a quantos trabalham na Rádio Vaticano, rezamos a fim de que a vossa obra possa também no futuro continuar a ser frutuosa, ao serviço do Evangelho e da Igreja, e que a semente da verdade possa difundir-se em toda a parte e penetrar profundamente no coração de todos os homens.




AOS SÓCIOS DA UNIÃO CRISTÃ DE EMPRESÁRIOS DIRIGENTES Sábado, 4 de Março de 2006

Senhor Cardeal
Queridos amigos da União Cristã
de Empresários Dirigentes!



Sinto-me feliz por vos receber e por dirigir a cada um de vós a minha cordial saudação. Dirijo um pensamento particular ao Cardeal Ennio Antonelli, que interpretou os sentimentos comuns.

Agradeço-lhe a saudação, e estou reconhecido também ao Presidente da UCED pelas gentis palavras com que introduziu o nosso encontro, apresentando as motivações e o estilo do vosso compromisso pessoal e associativo. Causou em mim admiração, de modo especial, o propósito por vós manifestado de tender para uma ética que vá além da simples deontologia profissional mesmo se, no contexto actual, isto já não seria pouco. Isto fez-me pensar na relação entre justiça e caridade, à qual dediquei uma reflexão específica na segunda parte da Encíclica Deus caritas est (nn. 26-29). O cristianismo está sempre chamado a procurar a justiça. O caminho realizado pelos leigos cristãos, desde meados do século XIX até hoje, guiou-os à autoconsciência de que as obras de caridade não devem substituir o compromisso pela justiça social. A doutrina social da Igreja e sobretudo a acção de muitas agregações de inspiração cristã, como a vossa, demonstram o caminho que a Comunidade eclesial percorreu sobre este tema. Nestes últimos tempos, graças também ao magistério e ao testemunho dos Romanos Pontífices, e em particular do amado Papa João Paulo II, é mais claro em todos nós como justiça e caridade sejam os dois aspectos inseparáveis do único compromisso social do cristão. Compete em particular aos fiéis leigos trabalhar por uma justa ordem na sociedade, participando em primeira pessoa na vida pública, cooperando com os outros cidadãos sob a sua pessoal responsabilidade (cf. Deus caritas est ). Precisamente ao fazer isto eles são animados pela "caridade social", que os torna atentos às pessoas como tais, às situações de maior dificuldade e solidão, e também às necessidades não materiais (cf. ibid., 28b).

Há dois anos, graças ao Pontifício Conselho "Justiça e Paz", foi publicado o Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Trata-se de um instrumento formativo, útil como nunca para quantos desejam deixar-se guiar pelo Evangelho na sua actividade de trabalho e profissional. Estou certo de que ele foi objecto de exame atento também da vossa parte e faço votos por que, para cada um de vós e para as repartições da UCED, se torne um ponto de referência constante ao examinar as questões, ao elaborar os projectos, ao procurar as soluções para os problemas complexos do mundo do trabalho e da economia. De facto, é precisamente neste âmbito que realizais uma parte irrenunciável da vossa missão de leigos cristãos, e por conseguinte, do vosso caminho de santificação.

Além disso, vi com interesse a "Carta dos valores" dos jovens da UCED e congratulo-me pelo espírito positivo e de confiança na pessoa humana que a anima. A cada "creio" ela une um "comprometo-me", visando assim à coerência entre uma forte convicção e um consequente esforço concreto. Em particular, apreciei o propósito de valorizar cada pessoa por aquilo que é e que pode dar, segundo os seus talentos, evitando qualquer forma de exploração; assim como a importância reconhecida à família e à responsabilidade pessoal. Trata-se de valores que infelizmente, também devido às actuais dificuldades económicas, com frequência correm o risco de não serem seguidos pelos empresários desprovidos de uma sólida inspiração moral. Por isso, é indispensável o contributo de todos os que se inspiram na sua formação cristã, que com maior razão nunca deve ser considerada certa, mas deve ser sempre alimentada e renovada.

177 Queridos amigos, daqui a poucos dias celebraremos a solenidade de São José, Padroeiro dos Trabalhadores. Certamente a sua veneração esteve sempre presente na história da vossa Associação. Por meu lado, que tenho também o seu nome, sinto-me feliz hoje por poder indicá-lo não só como protector celeste e intercessor para qualquer iniciativa benemérita, mas primeiro como confidente da vossa oração, do vosso compromisso ordinário, certamente constelado de satisfações e de desilusões, da vossa vida quotidiana e, diria, da tenaz busca da justiça de Deus nas coisas humanas. Precisamente São José vos ajudará a concretizar a exigente exortação de Jesus: "Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça" (Mt 6,33). Assista-vos sempre também a Virgem Maria com as grandes testemunhas da caridade social, que difundiram com o seu ensinamento e com a sua acção o Evangelho da caridade. Por fim, acompanhe-vos a Bênção Apostólica, que concedo de coração a vós aqui presentes, fazendo-a extensiva de bom grado a todos os sócios e aos vossos familiares.




AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO POR OCASIÃO DO 40º ANIVERSÁRIO DO DECRETO CONCILIAR "AD GENTES" Sábado, 11 de Março de 2006

Senhores Cardeais
Venerados irmãos
no Episcopado e no Presbiterado
Queridos irmãos e irmãs!

Saúdo com afecto todos vós, que participastes no Congresso internacional, organizado pela Congregação para a Evangelização dos Povos e pela Pontifícia Universidade Urbaniana, por ocasião do 40º aniversário do Decretro Conciliar Ad gentes. Saúdo em primeiro lugar o Cardeal Crescenzio Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em vosso nome. Saúdo os Bispos e os Sacerdotes presentes e quantos participaram nesta iniciativa muito oportuna, porque responde à exigência de continuar a aprofundar os ensinamentos do Vaticano II, para fazer emergir a força propulsora impressa por essa assembleia conciliar à vida e à missão da Igreja.

De facto, com a aprovação, a 7 de Dezembro de 1965, do Decreto Ad gentes foi dado à missão da Igreja um renovado impulso. Foram melhor enunciados os fundamentos teológicos do compromisso missionário; o seu valor e a sua actualidade diante das transformações do mundo e dos desafios que a modernidade apresenta à pregação do Evangelho (cf. n. 1). A Igreja assumiu uma consciência ainda mais clara da sua inata vocação missionária, reconhecendo nela um elemento constitutivo da sua própria natureza. Em obediência ao mandato de Cristo, que enviou os seus discípulos a anunciar o Evangelho a todas as nações (cf. Mt 28,18-20), a comunidade cristã também na nossa época se sente enviada aos homens e às mulheres do terceiro milénio, para lhes dar a conhecer a verdade da mensagem evangélica e abrir-lhes deste modo o caminho da salvação.

E isto, como dizia, não constitui uma coisa facultativa, mas a vocação própria do Povo de Deus, um dever que lhe compete por mandato do próprio Senhor Jesus Cristo (cf. Evangelii nuntiandi EN 5). Aliás, o anúncio e o testemunho do Evangelho são o primeiro serviço que os cristãos podem prestar a cada pessoa e a todo o género humano, estando eles chamados a comunicar a todos o amor de Deus, que se manifestou em plenitude no único Redentor do mundo, Jesus Cristo.

A publicação do Decreto conciliar Ad gentes, sobre o qual oportunamente reflectistes, consentiu realçar melhor a raiz originária da missão da Igreja, isto é, a vida trinitária de Deus, da qual brota o movimento de amor que, das Pessoas Divinas, se espalha na humanidade. Tudo brota do coração do Pai celeste, o qual amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigénito, para que todo o que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jn 3,16). Com o mistério da Encarnação, o Filho Unigénito foi constituído autêntico e supremo mediador entre o Pai e os homens. N'Ele, morto e ressuscitado, a próvida ternura do Pai alcançou todos os homens nas formas e nos caminhos que só Ele conhece. A tarefa da Igreja é comunicar incessantemente este amor divino, graças à acção vivificante do Espírito Santo. De facto, o Espírito que transforma a vida dos crentes, libertando-os da escravidão do pecado e da morte, e tornando-os capazes de testemunhar o amor misericordioso de Deus, que quer fazer da humanidade, no seu Filho, uma única família (cf. Deus caritas est ).

Desde as suas origens, o Povo cristão sentiu com clareza que fazia partícipes da riqueza deste amor quantos ainda não conheciam Cristo, através de uma incessante acção missionária. Ainda mais, nestes últimos anos, se sentiu a necessidade de recordar este compromisso, porque na época moderna, como observava o meu amado Predecessor João Paulo II, a missio ad gentes por vezes parece sofrer uma fase de diminuição por dificuldades devidas ao diverso quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade. A Igreja está hoje chamada a confrontar-se com desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a convivência pacífica dos povos. O campo da missio ad gentes mostra-se notavelmente ampliado e não definível unicamente com base em considerações geográficas ou jurídicas; de facto, não só os povos não cristãos e nem as terras distantes, mas também os âmbitos socio-culturais e sobretudo os corações são os verdadeiros destinatários da actividade missionária do Povo de Deus.

178 Trata-se de um mandamento cuja realização fiel exige paciência e clarividência, coragem e humildade, escuta de Deus e discernimento vigilante dos "sinais dos tempos". O Decreto conciliar Ad gentes realça como a Igreja sabe que, a fim de que o "que se realizou uma vez pela salvação de todos alcance o seu efeito em todos, no decurso dos tempos" (n. 3), é necessário percorrer o mesmo caminho de Cristo, caminho que conduz até à morte de cruz. De facto, a acção evangelizadora "deve caminhar pela mesma via de Cristo, via de pobreza, de obediência, de serviço e imolação própria até à morte, da qual Ele saiu vitorioso" (Ibid., 5). Sim! A Igreja está chamada a servir a humanidade do nosso tempo, confiando unicamente em Jesus, deixando-se iluminar pela sua Palavra e imitando-o na doação generosa aos irmãos. Ela é instrumento nas suas mãos, e por isso faz tudo o que lhe é possível, consciente de que quem realiza tudo é sempre o Senhor.

Amados irmãos e irmãs, obrigado pela reflexão que fizestes nestes dias, aprofundando os conteúdos e as modalidades da actividade missionária na nossa época, detendo-vos em particular a dar realce à tarefa da teologia, que é também exposição sistemática dos vários aspectos da missão da Igreja. Com a contribuição de todos os cristãos o anúncio do Evangelho será sem dúvida cada vez mais compreensível e eficaz. Maria, Estrela da evangelização, ajude e ampare quantos, em tantas regiões do mundo trabalham na primeira linha da missão. Em relação a isto, como não recordar quantos, também recentemente, deram a vida pelo Evangelho? O seu sacrifício obtenha uma renovada primavera, rica de frutos apostólicos para a evangelização. Para isto rezamos, confiando ao Senhor todos os que, de vários modos, trabalham na grande vinha do Senhor. Com estes sentimentos, concedo a vós aqui presentes a Bênção Apostólica, fazendo-a extensiva de coração às pessoas que vos são queridas e às Comunidades eclesiais às quais pertenceis.



SAUDAÇÃO NA CONCLUSÃO DOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS PROPOSTOS PELO CARDEAL MARCO CÉ Sábado, 11 de Março de 2006

Senhor Cardeal
Estimados Irmãos

No final destes dias de graça, é necessário e bonito da parte do Papa dizer: obrigado. Obrigado sobretudo ao Senhor, que nos concedeu este período de repouso físico e espiritual. Obrigado Senhor Cardeal, por nos ter orientado nos passos de São Marcos, no caminho com Jesus rumo a Jerusalém.

No começo, o Senhor Cardeal fez-nos compreender primeiro o aspecto profundamente eclesial deste "sacramentum exercitii". Fez-nos entender que não se tratava de um retiro individual, particular. Com o "sacramentum exercitii", realizamos a nossa solidariedade para com a Igreja, no comum "exercitium" sacramental, e assim correspondemos à nossa responsabilidade de pastores. Não podemos levar ao mundo o alegre anúncio, que é o próprio Cristo em pessoa, se nós mesmos não estivermos numa íntima unidade com Cristo, se não O conhecermos profunda e pessoalmente, se não vivermos da sua Palavra.

Além das índoles eclesiástica e eclesial destes Exercícios, o Senhor Cardeal revelou-nos também o carácter cristológico dos mesmos. Chamou a nossa atenção para o Mestre interior; ajudou-nos a ouvir o Mestre que fala connosco e em nós; ajudou-nos a responder, a falar com o Senhor, ouvindo a sua Palavra. Orientou-nos ao longo deste caminho "catecumenal", que é o Evangelho de Marcos, numa peregrinação comum em companhia dos discípulos rumo a Jerusalém, e voltou a incutir em nós a certeza de que na nossa barca não obstante todas as tempestades da história está Cristo. Ensinou-nos de novo a ver no Rosto sofredor de Cristo, no Rosto coroado de espinhos, a glória do Ressuscitado. Senhor Cardeal, estamos-lhe gratos por isto, e assim podemos, com renovada força e com nova alegria, peregrinar com Cristo e com os discípulos rumo à Páscoa.

Em todos estes dias o meu olhar esteve voltado necessariamente para esta representação do anúncio a Maria. O que me fascinou foi isto: o Ancanjo Gabriel tem na mão um pergaminho, e penso que é o símbolo da Escritura, da Palavra de Deus. E Maria está de joelhos no interior do pergaminho. Maria está contida no pergaminho, ou seja, vive na Palavra de Deus, vive no interior da Palavra com toda a sua existência. Está como que impregnada da Palavra. Do mesmo modo todo o seu pensamento, a sua vontade, o seu agir estão imbuídos e são formados pela Palavra. Permanecendo Ela mesma na Palavra, pode tornar-se também a nova "Morada" da Palavra no mundo.

Silenciosamente, apenas com estas observações, no final o Senhor Cardeal orientou-nos por um caminho mariano. Este caminho mariano chama-nos a inserir-nos na Palavra de Deus, a colocarmos a nossa vida no interior da Palavra de Deus e, deste modo, a deixar que o nosso ser seja permeado por esta Palavra, a fim de podermos em seguida ser testemunhas da Palavra viva, do próprio Cristo na nossa época.

Assim, com coragem renovada, com nova alegria, caminhemos rumo à Páscoa, rumo à celebração do Mistério de Cristo, que é sempre mais do que uma celebração ou um rito: é Presença e Verdade. E oremos ao Senhor para que nos ajude a segui-lo e a sermos assim também guias e pastores da grei que nos está confiada.

179 Obrigado, Senhor Cardeal!
Obrigado, queridos Irmãos!



PALAVRAS NO FINAL DA RECITAÇÃO DO SANTO ROSÁRIO COM OS UNIVERSITÁRIOS DA EUROPA E DE ÁFRICA Sábado, 11 de Março de 2006


Queridos jovens universitários!

No final da oração do santo Rosário, é com grande alegria que dirijo a minha saudação a todos vós, reunidos aqui no Vaticano e contemporaneamente em Madrid, Nairobi, Owerri, Abijã, Dublim, Salamanca, Munique, Friburgo, Sampetersburgo, Sófia, assim como em Antananarivo e em Bonn. Convosco saúdo e agradeço os venerados Pastores, que estão convosco e guiam a vossa oração em ligação televisiva e radiofónica connosco. Este é um bonito sinal da comunhão da Igreja católica. Agradeço também ao Coro e à Orquestra, assim como aos vários organismos que colaboraram para este acontecimento: o Centro Televisivo Vaticano, a Rádio Vaticano, a Província e o Município de Roma.

Esta Vigília mariana, querida ao Papa João Paulo II, lança pontes de fraternidade entre os jovens universitários da Europa, e esta tarde prolonga-as dentro do grande continente africano, para que cresça a comunhão entre as novas gerações e se difunda a civilização do amor. Por isso, desejo fazer chegar aos amigos da África, que estão em ligação televisiva e radiofónica connosco, um abraço particularmente afectuoso, que gostaria de fazer extensivo a todas as amadas populações africanas.

Queridos jovens universitários reunidos em Madrid e em Salamanca! Que a Virgem Maria vos ajude a dar testemunho do amor de Deus entre os vossos amigos e companheiros.

Queridos amigos, reunidos em Nairobi, Owerri e Dublim; que Maria, Sede da Sabedoria, vos ensine sempre a integrar verdade e amor, nos vossos estudos e nas vossas vidas!

Queridos amigos de Munique e Bonn! Hauri o amor divino do coração de Cristo e manifestai-o com obras concretas de serviço aos vossos irmãos e irmãs. Nisto, vos companhe e ajude a Virgem Maria!

Queridos estudantes de Friburgo e de Abijã! Sob a guia materna de Maria, segui sempre Jesus pelo caminho do amor, fazendo da vossa vida um dom generoso.

Queridos amigos de Sampetersburgo! A Santa Mãe de Deus acompanhe o vosso itinerário de formação, para que possais empreender a actividade profissional animados pelo amor cristão.
180 Queridos amigos de Sófia! Deus é amor: esta verdade fundamental da fé cristã ilumine sempre o vosso estudo e toda a vossa vida.

Queridos amigos, daqui a pouco entregarei a minha Encíclica Deus caritas est a alguns dos vossos representantes. Desta forma, desejo entregá-la simbolicamente a todos os universitários da Europa e da África, com os votos de que a verdade fundamental da fé cristã Deus é amor ilumine o caminho de cada um de vós e se difunda através do vosso testemunho aos vossos companheiros de estudo. Esta verdade sobre o amor de Deus, origem, sentido e fim do universo e da história, foi revelada por Jesus Cristo, com a palavra e com a vida, em maior medida na sua Páscoa de morte e ressurreição. Ela está na base da sabedoria cristã que, como fermento, é capaz de estimular qualquer cultura humana, para que exprima o melhor de si e coopere para o crescimento de um mundo mais justo e pacífico.

Queridos universitários, ao entregar-vos a Encíclica, proponho-vos também a minha Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude, que celebraremos no próximo domingo de Ramos. Dediquei essa Mensagem à importância da Palavra de Deus, e por isso o seu título tirei-o do versículo do Salmo 118, que diz: "A tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho". Em preparação para o Domingo de Ramos, convido-vos para o tradicional encontro de quinta-feira, 6 de Abril, na Praça de São Pedro. Receberemos a Cruz peregrina proveniente de Colónia e recordaremos com o coração grato, a pouco mais de um ano da sua morte, o meu grande predecessor João Paulo II.

Maria, Sede da Sabedoria, vos obtenha, nesta Quaresma, uma profunda renovação espiritual, para que possais viver e oferecer sempre o vosso estudo para glória de Deus. Para esta finalidade garanto-vos que continuarei a recordar-vos nas minhas orações, enquanto de coração vos abençoo a todos vós e aos vossos familiares.



SAUDAÇÃO À COMISSÃO JUDAICA AMERICANA Quinta-feira, 16 de Março de 2006

Ilustres membros
da Comissão judaica americana

É de bom grado que vos dou as boas-vindas ao Vaticano e formulo votos a fim de que o presente encontro anime ulteriormente os vossos esforços em vista de fomentar a amizade entre o povo judaico e a Igreja Católica.

A recente celebração do 40º aniversário da Declaração do Concílio Vaticano II, Nostra aetate, aumentou o nosso desejo comum de nos conhecermos uns aos outros e de promovermos um diálogo que se caracterize pelo respeito mútuo e pelo amor. Com efeito, os judeus e os cristãos possuem um rico património conjunto. Isto distingue de muitas formas o nosso relacionamento como singular entre as religiões do mundo. A Igreja nunca pode esquecer o povo eleito com o qual Deus estabeleceu uma santa aliança (cf. Nostra aetate NAE 4).

O Judaísmo, o Cristianismo e o Islão acreditam num único Deus, Criador do céu e da terra. Por conseguinte, estas três religiões monoteístas estão chamadas a cooperar umas com as outras para o bem comum da humanidade, ao serviço da causa da justiça e da paz no mundo. Isto é particularmente importante nos dias de hoje, quando é necessário dedicar uma atenção especial à promoção do respeito devido a Deus, às religiões e aos seus símbolos, bem como aos lugares santos e de culto. Os líderes religiosos têm a responsabilidade de trabalhar pela reconciliação através de um diálogo genuíno e de gestos de solidariedade humana.

Queridos amigos, rezo a fim de que a vossa visita hodierna possa confirmar-vos nos vossos esforços em vista da construção de pontes de entendimento, acima de todos os obstáculos. Sobre todos vós, invoco os dons divinos da fortaleza e da consolação.




AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA ANUAL DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


181
Sexta-feira, 17 de Março de 2006


Eminências
Excelências
Prezados Irmãos e Irmãs em Cristo

É com imenso prazer que hoje vos dou as boas-vindas ao Vaticano, por ocasião da Assembleia Plenária Anual do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Em primeiro lugar, desejo agradecer ao Arcebispo D. Foley, Presidente do Pontifício Conselho, as suas amáveis palavras de introdução e, com efeito, manifestar o meu agradecimento a todos vós pelo vosso compromisso no importante apostolado das comunicações sociais, quer como uma forma directa de evangelização, quer como uma contribuição para a promoção de tudo o que é bom e verdadeiro para cada sociedade humana.

Na minha primeira Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações, decidi reflectir sobre os mass media como rede que facilita a comunicação, a comunhão e a cooperação. Fi-lo, recordando que o Decreto do Concílio Vaticano II Inter mirifica já tinha reconhecido o enorme poder dos mass media para esclarecer a mente dos indivíduos e para formar o seu pensamento. Quarenta anos mais tarde sentimos, mais do que nunca, a urgente necessidade de orientar este poder para o benefício de toda a humanidade.

São Paulo recorda-nos que através de Cristo já não somos estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, tornando-nos um santo templo, uma morada para Deus (cf. Ef
Ep 2,19-22). Esta imagem sublime de uma vida de comunhão compromete todos os aspectos da nossa vida de cristãos e indica-vos, de maneira particular, o desafio de encorajar as comunicações sociais e as indústrias de diversão a serem protagonistas da verdade e promotoras da paz que brota de uma existência vivida em sintonia com a verdade libertadora. Como bem sabeis, este compromisso interpela o princípio da coragem e da determinação da parte de todos os proprietários da indústria da comunicação, extremamente influente, e daqueles que trabalham em tal âmbito, a fim de assegurar que a promoção do bem comum nunca seja sacrificada à busca egoísta do lucro ou a um programa ideológico de pouca responsabilidade pública. Ao reflectirdes sobre tais solicitudes, estou persuadido de que o vosso estudo sobre a Carta Apostólica do meu querido Predecessor O rápido desenvolvimento, será de grande utilidade.

Na minha Mensagem para o corrente ano, desejei chamar também a atenção para a urgente necessidade de promover e fomentar a vida matrimonial e familiar, fundamento de toda a cultura e sociedade. Em cooperação com os pais, as comunicações sociais e as indústrias de diversão podem contribuir para a vocação, difícil mas extremamente gratificante, de educar os filhos através da apresentação de modelos edificantes de vida e de amor humanos. Como é angustiante e destrutivo para todos, quando se verifica o contrário! Não clamam porventura os nossos corações, especialmente quando os nossos jovens se sujeitam a expressões de amor deturpadas ou falsas, que ridicularizam a dignidade que a pessoa humana recebeu de Deus, debilitando assim os interesses da família?

Como conclusão, exorto-vos a reiterar os vossos esforços em ordem a ajudar as pessoas que trabalham no mundo dos mass media, a promoverem o que é bom e verdadeiro, de maneira especial no que se refere ao significado da existência humana e social, e a denunciarem o que é falso, de forma particular as tendências perniciosas que corroem o tecido de uma sociedade civil digna da pessoa humana. Deixemo-nos animar pelas palavras de São Paulo: em Cristo somos um só (cf. Ef Ep 2,14)! E trabalhemos em conjunto para edificar a comunhão de amor, em sintonia com os desígnios do Criador, revelados pelo seu Filho! A todos vós, aos vossos colegas e aos membros das respectivas famílias em casa, concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica.




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DOS CAMARÕES EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sábado, 18 de Março de 2006

Senhor Cardeal
182 Queridos Irmãos no Episcopado!

Sinto-me feliz por vos dar as cordiais boas-vindas, por ocasião da vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, saudando de modo especial quantos realizam este ano a sua primeira visita ad Limina. Viestes para vos encontrardes com o Sucessor de Pedro a fim de reconfirmar os vínculos de comunhão que vos unem a ele. Durante os nossos encontros, prestei atenção às vossas alegrias e às vossas preocupações de Pastores da Igreja nos Camarões.

Garanto-vos a minha oração pelo vosso ministério episcopal e pelas vossas comunidades diocesanas. Que a vossa estadia fortaleça o vosso dinamismo missionário e faça crescer entre vós a unidade na caridade, para guiar com justiça e segurança os fiéis confiados à vossa solicitude pastoral!

Agradeço ao Presidente da vossa Conferência Episcopal, D. Simon-Víctor Tonyé Bakot, Arcebispo de Iaundé, as palavras cordiais e a apresentação que fez dos desafios que hoje a Igreja nos Camarões enfrenta. Quando regressardes às vossas comunidades, transmiti aos vossos diocesanos a saudação afectuosa do Papa, que os convida a deixar-se renovar interiormente por Cristo, para darem um testemunho de fraternidade e de comunhão que interpele cada vez mais a sociedade actual.

A vida da Igreja nos Camarões foi marcada no ano passado pelo 10º aniversário da Exortação apostólica pós-sinodal Ecclesia in Africa, assinada em Iaundé em Setembro de 1995 pelo Papa João Paulo II. Este momento de graça, vivido na fé e na esperança, revelou uma real solidariedade pastoral orgânica em todo o continente africano, manifestada sobretudo pelos trabalhos fecundos e estimulantes da Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos. Faço votos por que as intuições eclesiológicas e espirituais contidas nesse texto, verdadeiros antídotos ao desencorajamento e à resignação, suscitem nas vossas comunidades, assim como na Conferência Episcopal, um impulso novo, para realizar a missão salvífica que a Igreja recebeu de Cristo. Trata-se de fazer penetrar o Evangelho em profundidade nas culturas e nas tradições do vosso povo, caracterizadas pela riqueza dos seus valores humanos, espirituais e morais, sem deixar de purificar essas culturas, através de uma necessária conversão de tudo o que, nelas, se opõe à plenitude da verdade e da vida que se manifesta em Jesus Cristo. Isto exige também que seja anunciada e vivida a Boa Nova iniciando sem receio um diálogo crítico com as culturas novas relacionadas com o emergir da mundialização, para que a Igreja lhes transmita uma mensagem cada vez mais adequada e credível, permanecendo fiel ao mandamento que recebeu do seu Senhor (cf.
Mt 28,19).

Os vossos relatórios quinquenais realçam o contexto económico e social desfavorável, que faz crescer o número das pessoas em grande precariedade, enfraquecendo o vínculo social e originando a perda de um certo número de valores tradicionais, tais como a família, a partilha, a atenção às crianças e aos jovens, o sentido da gratuidade, o respeito dos idosos. A ofensiva das seitas, que se aproveitam da ingenuidade dos fiéis para os afastar de Cristo e da Igreja, as diferentes práticas de religiosidade popular que florescem nas comunidades e que seria oportuno purificar incessantemente, assim como as devastações da Sida, são os desafios actuais aos quais estais convidados a dar respostas teológicas e pastorais claras, a fim de evangelizar em profundidade o coração dos homens e para despertar a sua consciência. Nesta perspectiva, seria bom ajudar todos os membros da Igreja sem excepções a desenvolver uma familiaridade cada vez maior com Cristo, alimentada pela Palavra de Deus, mediante uma vida de oração intensa, e uma vida sacramental regular. Faço votos por que possais guiá-los pelos caminhos de uma fé mais adulta e sólida, capaz de transformar profundamente os corações e as consciências, a fim de fazer nascer relacionamentos sempre mais fraternos e solidários entre todos.

Compete-vos, mediante a palavra e o testemunho de vida, convidar os homens à descoberta de Cristo na força do Espírito e confirmá-los na fé viva. Faço fervorosos votos por que a riqueza das vossas pregações, a preocupação por promover uma catequese estruturada e garantir uma formação inicial e permanente exigente para os catequistas, o vosso apoio à pesquisa teológica, assim como a solicitude que dedicais ao vosso ministério de santificação, possam promover um renovado impulso de santidade nas comunidades. Os cristãos poderão assumir as suas tarefas e agir com competência nos campos da vida social, da política e da economia,propondo aos seus compatriotas uma visão do homem e da sociedade conforme com os valores humanos fundamentais e com os ensinamentos da doutrina social da Igreja.

A Igreja está chamada a tornar-se cada vez mais uma casa e uma escola de comunhão. Nesta perspectiva o trabalho realizado em comum, em espírito de caridade, na vossa Conferência Episcopal, composta por Bispos de língua francesa e inglesa, é em si um eloquente sinal desta unidade que vós viveis, e ajuda a prosseguir a evangelização do vosso povo marcado por diferenças étnicas. Encorajo-vos a continuar nesta direcção, mostrando com as vossas palavras e com os vossos escritos que a Igreja católica se preocupa pela promoção do bem-estar e da dignidade de todos os habitantes dos Camarões, sem excepções, e pela realização das suas profundas aspirações à unidade, paz, justiça e fraternidade.

Alegro-me pelo número crescente de sacerdotes e de seminaristas no vosso país, e dou graças também pelo trabalho paciente dos missionários que os precederam, dedicando-se com generosidade e espírito apostólico para edificar comunidades capazes de suscitar nelas vocações sacerdotais. A busca da unidade ao serviço da missão convida-vos a estar atentos aos vínculos de comunhão fraterna com os sacerdotes. Encorajo também os vossos sacerdotes a deixarem-se renovar pela caridade pastoral que os deve guiar, a eles que, mediante a Ordenação, estão configurados com Cristo Cabeça e Pastor. Cada um medite sobre o dom total que fez de si mesmo a Deus e à Igreja, à imagem do dom de Cristo, e sobre as exigências que a caridade pastoral requer, principalmente sobre a necessidade de uma vida casta vivida no celibato, em conformidade com a lei da Igreja, sobre uma prática justa da autoridade e sobre um relacionamento sadio com os bens materiais. Compete-vos apoiá-los na sua vida sacerdotal, mediante a proximidade e o exemplo, recordando que "se o múnus episcopal não assenta sobre o testemunho da santidade manifestada na caridade pastoral, na humildade e na simplicidade de vida, acaba por se reduzir a um papel quase só funcional e perde inevitavelmente credibilidade junto do clero e dos fiéis" (Pastores gregis ). Não são as nossas acções pastorais, mas sim a doação de nós mesmos e o testemunho de vida que revelam o amor de Cristo pelo rebanho.

Nos vossos relatórios quinquenais realçais os maiores desafios que se apresentam à família. Ela sofre plenamente os efeitos devastadores de uma sociedade que propõe modelos de comportamentos que com frequência a debilitam. Por isso, seria bom promover uma pastoral familiar que ofereça aos jovens uma educação afectiva e moral exigente, preparando-os para se comprometerem a viver o amor conjugal de modo responsável, condição tão importante para a estabilidade das famílias e de toda a sociedade. Mediante uma formação inicial e permanente, espero que possais fazer com que as famílias cristãs compreendam a grandeza e a importância da sua vocação, convidando-as incessantemente a viver a sua comunhão através da fidelidade quotidiana à promessa do dom recíproco total, único e exclusivo que o matrimónio exige.

A Igreja nos Camarões tem a solicitude constante de manifestar de modo específico e eficaz a caridade de Cristo para com todos nos diferentes âmbitos do desenvolvimento, da promoção humana, da justiça, da paz e da saúde, realçando o vínculo estreito entre a evangelização e a acção social. Aprecio as iniciativas promovidas nesta perspectiva, congratulando-me com os cristãos que nela estão comprometidos, sobretudo no campo da pastoral da saúde, realçada de modo particular por ocasião da Jornada Mundial do Doente, realizada no ano passado em Iaundé. Este acontecimento contribuirá certamente para tornar cada vez mais visíveis à opinião pública o empenho pastoral e a missão da Igreja junto dos doentes e na educação para a saúde de base, para suscitar colaborações fecundas com os parceiros que trabalham no campo da saúde.

183 Amados Irmãos no Episcopado, no final do nosso encontro, desejo encorajar-vos a prosseguir a obra de evangelização no vosso país. Convido-vos também a prosseguir, num espírito de diálogo sincero e paciente, vivido na verdade e na caridade, a consolidação de ralacionamentos fraternos com as outras confissões cristãs e com os crentes de outras religiões, para manifestar o amor de Cristo Salvador que faz surgir entre os homens o desejo de viver em paz e de formar um povo de irmãos! A Igreja nos Camarões, nesta região da África Central tão martirizada pelas guerras, permanece um sinal cada vez mais evidente desta paz a ser edificada, uma paz que ultrapassa os fechamentos de identidade ou étnicos, que proscreve a tentação da vingança ou do ressentimento, e que estabelece entre os homens relacionamentos novos, fundados na justiça e na caridade!

Confio todos vós à intercessão da Virgem Maria, Estrela da evangelização, e concedo-vos de bom grado, assim como aos sacerdotes, diáconos, religiosos, religiosas e a todos os fiéis leigos das vossas Dioceses, uma particular Bênção Apostólica.





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