Discursos Bento XVI 183

AOS REPRESENTANTES DA SANTA SÉ NOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS Sábado, 18 de Março de 2006


Senhor Cardeal
Estimados Representantes da Santa Sé
nos Organismos internacionais

Acolho-vos todos com afecto no presente encontro, durante o qual tenho a alegria de entrar em contacto pela primeira vez convosco, que viestes a Roma para reflectir em conjunto sobre algumas importantes questões do momento presente. Dirijo a minha cordial saudação a todos vós e, além disso, agradeço sinceramente ao Cardeal Secretário de Estado as palavras que me dirigiu em vosso nome.

A aumentada participação da Santa Sé nas actividades internacionais constitui um estímulo precioso para que ela possa continuar a dar voz à consciência de quantos fazem parte da comunidade internacional. Trata-se de um serviço delicado e cansativo que alicerçado sobre a força aparentemente inerme, mas em última análise prevalecente, da verdade tenciona colaborar para a construção de uma sociedade internacional mais atenta à dignidade e às verdadeiras exigências da pessoa humana. Nesta perspectiva, a presença da Santa Sé nos Organismos internacionais intergovernamentais representa uma contribuição fundamental para o respeito dos direitos humanos e do bem comum e, por conseguinte, para a autêntica liberdade e para a justiça.

Encontramo-nos na presença de um compromisso específico e insubstituível, que pode tornar-se ainda mais eficaz, se se unirem as forças de quantos colaboram com dedicação fiel na missão da Igreja no mundo.

As relações entre os Estados e nos Estados são justas, na medida em que respeitam a verdade. Quando, ao contrário, a verdade é ultrajada, a paz ameaçada e o direito comprometido, então, com lógica consequência, desencadeiam-se as injustiças. Elas são fronteiras que dividem os países de maneira muito mais profunda de quanto o fazem os confins traçados nos mapas geográficos e, com frequência, não se trata unicamente de fronteiras externas, mas também internas dos Estados. Estas injustiças adquirem também diversos aspectos; por exemplo, o do desinteresse ou da desordem, que chega a lesar a estrutura daquela célula constituinte da sociedade, que é a família; ou então o aspecto da prepotência ou da arrogância, que pode chegar até ao arbítrio, fazendo calar quem não tem voz ou quem não tem força para a fazer ouvir, como no caso daquela injustiça que, actualmente, talvez seja a mais grave, isto é, a que suprime a vida humana nascente.

"O que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte" (1Co 1,27). Este critério da acção divina, de actualidade perseverante no tempo, vos estimule a não vos assombrardes e muito menos a desanimardes diante das dificuldades e das incompreensões.

184 Efectivamente, sabeis que através delas vós participais com respeitabilidade na responsabilidade profética da Igreja, que tem a intenção de continuar a erguer a própria voz em defesa do homem, mesmo quando a política dos Estados ou a maioria da opinião pública caminham na direcção oposta. De facto, a verdade encontra força em si mesma e não no número dos consensos que recebe.

Estai convictos de que acompanho a vossa missão, árdua e importante, com atenção cordial e com gratidão sincera, enquanto vos asseguro inclusive a minha lembrança na oração e, de bom grado, concedo a todos vós a minha Bênção Apostólica.




AOS MEMBROS DO SÍNODO PATRIARCAL ARMÉNIO E A UM GRUPO DE PEREGRINOS Segunda-feira, 20 de Março de 2006

Beatitude
Venerados Irmãos no Episcopado
Amados irmãos e irmãs!

Com alegria vos saúdo e vos apresento as minhas cordiais boas-vindas! Viestes a Roma de diversas partes do mundo, trazendo convosco a consciência de pertencer a uma Igreja antiga e nobre, que com os seus tesouros espirituais contribui para enriquecer a beleza da Esposa de Cristo.

Obrigado, Beatitude, pelas fervorosas expressões de comunhão que me dirigiu também em nome do Sínodo dos Bispos da Igreja arménio-católica e de todos os presentes. Vossa Beatitude quis recordar os numerosos sinais de benevolência e de solicitude que os meus Predecessores manifestaram para com a vossa antiga e venerável Igreja. Ao mesmo tempo, é necessário reconhecer a forte adesão, por vezes até ao martírio, que a vossa Comunidade sempre demonstrou em relação à Sé de Pedro num relacionamento recíproco e fecundo de fé e de afecto. Também por isto desejo manifestar o meu profundo reconhecimento.

A Igreja arménia, que faz referência ao Patriarcado da Cilícia, participa sem dúvida totalmente das vicissitudes históricas vividas pelo Povo arménio no decorrer dos séculos e, em particular, dos sofrimentos que ele suportou em nome da fé cristã nos anos da terrível perseguição que permanece na história com o nome tristemente significativo de metz yeghèrn, o grande mal. Em relação a isto, não podemos deixar de recordar os numerosos convites dirigidos por Leão XIII aos católicos para que socorressem a indigência e os sofrimentos das populações arménias! Nem podemos esquecer, como Vossa Beatitude realçou oportunamente, as intervenções decididas do Papa Bento XV quando, com profunda emoção, deplorava: "Miserrima Armeniorum gens prope ad interitum adducitur" (AAS VII, 1915, 510). Os Arménios, que sempre se esforçaram por se integrar com a sua laboriosidade e com a sua dignidade nas sociedades nas quais se vieram a encontrar, continuam a testemunhar também hoje a sua fidelidade ao Evangelho. Na realidade, a Comunidade arménio-católica está espalhada em muitos países, também fora do território patriarcal. Tendo isto em consideração, a Sé Apostólica constituiu, onde era necessário, Eparquias ou Ordinariatos para o seu cuidado pastoral. No Médio Oriente, na Cilícia e, sucessivamente, no Líbano, a Providência colocou o Patriarcado dos arménio-católicos: todos os fiéis arménio-católicos olham para ele como para um firme ponto de referência espiritual para a sua secular tradição cultural e litúrgica.

Depois, observamos como diversas Igrejas, que reconhecem em São Gregório, o Iluminador, o comum pai fundador, estão divididas entre si, mesmo se nos últimos decénios todas retomaram um diálogo cordial e frutuoso, a fim de redescobrir as suas raízes comuns. Encorajo esta reencontrada fraternidade e colaboração, desejando que dela brotem novas iniciativas para um percurso comum rumo à unidade plena. E se os acontecimentos históricos viram a fragmentação da Igreja arménia, a Divina Providência fará com que um dia ela volte a estar unida com uma só Hierarquia em fraterna sintonia e em plena comunhão com o Bispo de Roma. Sinal confortador desta unidade desejada foi a celebração dos 1700 anos de fundação da Igreja arménia, com a participação do meu amado Predecessor João Paulo II. O amor do Senhor pela Igreja peregrina no tempo saberá oferecer aos cristãos é a nossa confiante esperança os meios necessários para realizar o seu desejo ardente: "Ut unum sint". Todos desejamos ser instrumentos à disposição de Cristo; Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, nos conceda perseverar com todas as nossas forças, para que haja quanto antes um só rebanho e um só Pastor.

Queridos irmãos e irmãs, com estes sentimentos invoco sobre vós, sobre as vossas comunidades e sobre o Povo arménio a celeste intercessão de Maria Santíssima que, como gostava de dizer São Nerses Shnorali, é "lugar do Verbo incircunscrito, terra por todos os lados selada, na qual habitou a luz, aurora do Sol de justiça". Além disso, ampare-vos a protecção de são Gregório, o Iluminador, e dos Santos e Mártires que ao longo dos séculos testemunharam o Evangelho. Por fim, acompanhe-vos a Bênção, que de coração concedo a vós e ao vosso Povo, como sinal do afecto constante do Sucessor de Pedro por todos os Arménios.

HOMILIA DURANTE A MISSA NA PARÓQUIA ROMANA DE "DEUS PAI MISERICORDIOSO"


185
Domingo, 26 de Março de 2006


Amados irmãos e irmãs!

Este quarto domingo de Quaresma, tradicionalmente designado como domingo "Laetare", está repleto de uma alegria que de certa forma atenua o clima penitencial deste tempo santo: "Alegra-te Jerusalém diz a Igreja no cântico de entrada Exultai e rejubilai, vós que vivíeis na tristeza". A este convite contido na antífona da entrada faz eco o refrão do Salmo responsorial: "A tua recordação, ó Senhor, é a nossa alegria". Pensar em Deus dá alegria. É espontâneo perguntar: mas qual é o motivo pelo qual nos devemos alegrar? Certamente um motivo é o aproximar-se da Páscoa, cuja previsão nos faz pregustar a alegria do encontro com Cristo ressuscitado. A razão mais profunda consiste contudo na mensagem oferecida pelas leituras bíblicas que a liturgia hoje propõe. Elas recordam que, apesar da nossa indignidade, nós somos os destinatários da misericórdia infinita de Deus. Deus ama-nos de um modo que poderíamos classificar "obstinado", e envolve-nos com a sua ternura inexaurível.

É quanto sobressai da primeira leitura, tirada do Livro das Crónicas do Antigo Testamento (cf.
2Co 36,14-16 2Co 36,19-23): o autor sagrado propõe uma interpretação sintética e significativa da história do povo eleito, que experimenta a punição de Deus como consequência do seu comportamento rebelde: o templo é destruído e o povo exilado deixa de ter uma terra; realmente parece ter sido esquecido por Deus. Mas depois vê que através dos castigos Deus persegue um desígnio de misericórdia. Será a destruição da cidade santa e do templo como foi dito será o exílio que toca o coração do povo e o faz voltar para o seu Deus para o conhecer mais profundamente. E então o Senhor, demonstrando a primazia absoluta da sua iniciativa sobre qualquer esforço meramente humano, servir-se-á de um pagão, Ciro, rei da Pérsia, para libertar Israel. No texto que ouvimos a ira e a misericórdia do Senhor confrontam-se numa sequência com aspectos dramáticos, mas no final triunfa o amor, porque Deus é amor. Como não recolher da recordação daqueles acontecimentos distantes uma mensagem válida para todos os tempos, incluindo o nosso? Pensando nos séculos passados podemos ver como Deus continue a amar-nos também através dos castigos. Os desígnios de Deus, também quando passam através das provações, têm sempre por finalidade um êxito de misericórdia e de perdão.

Foi quanto nos confirmou, na segunda leitura, o apóstolo Paulo recordando-nos que "Deus, rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou, precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo" (Ep 2,4-5). Para expressar esta realidade de salvação o Apóstolo, ao lado da palavra misericórdia, eleos, usa a do amor, agape, retomada e ulteriormente ampliada na bonita frase de abertura da página evangélica que ouvimos: "Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jn 3,16). Sabemos que aquele "dar" da parte do Pai teve um desenvolvimento dramático: chegou até ao sacrifício do Filho na cruz. Se toda a missão histórica de Jesus é sinal eloquente do amor de Deus, a sua morte é um sinal completamente singular, na qual se expressou de modo total a ternura redentora de Deus. Sempre, mas de modo particular neste tempo quaresmal, no centro da nossa meditação deve portanto estar a Cruz; nela contemplamos a glória do Senhor que resplandece no corpo martirizado de Jesus. Precisamente nesta doação total de si sobressai a grandeza de Deus, sobressai o seu ser amor. É a glória do Crucificado que cada cristão está chamado a compreender, a viver e a testemunhar com a sua existência. A Cruz a doação de si mesmo por parte do Filho de Deus é, definitivamente, o "sinal" por excelência que nos foi dado para compreender a verdade do homem e a verdade de Deus: todos nós fomos criados e remidos por um Deus que por amor imolou o seu único Filho. Eis por que na Cruz, como escrevi na Encíclica Deus caritas est, "cumpre-se aquele virar-se de Deus contra Si próprio, com o qual Ele Se entrega para levantar o homem e salvá-lo o amor na sua forma mais radical" (n. 12).

Como responder a este amor radical do Senhor? O Evangelho apresenta-nos uma personagem de nome Nicodemos, membro do Sinédrio de Jerusalém, que vai de noite procurar Jesus. Trata-se de um homem bondoso, atraído pelas palavras e pelo exemplo do Senhor, mas que tem medo perante o próximo, que hesita a realizar o salto da fé. Pressente o fascínio deste Rabbi tão diferente dos outros, mas não consegue subtrair-se aos condicionamentos do ambiente contrário a Jesus e permanece hesitante no limiar da fé. Quantos, também no nosso tempo, andam à procura de Deus, à procura de Jesus e da sua Igreja, à procura da misericórdia divina, e aguardam um "sinal" que toque a sua mente e o seu coração! Hoje como naquela época o evangelista recorda-nos que o único "sinal" é Jesus elevado na Cruz: Jesus morto e ressuscitado é o sinal absolutamente suficiente. Nele podemos compreender a verdade da vida e obter a salvação. Este é o anúncio central da Igreja, que permanece inalterável nos séculos. Por conseguinte, a fé cristã não é ideologia, mas encontro pessoal com Cristo crucificado e ressuscitado. Desta experiência, que é individual e comunitária, brota um novo modo de pensar e de agir: tem origem, como testemunham os santos, uma existência marcada pelo amor.

Queridos amigos, este mistério é particularmente eloquente na vossa paróquia, dedicada a "Deus Pai misericordioso". Ela foi querida como sabemos bem pelo meu amado Predecessor João Paulo II em recordação do Grande Jubileu do Ano 2000, para que reunisse de maneira eficaz o significado daquele acontecimento espiritual extraordinário. Meditando sobre a misericórdia do Senhor, que se revelou de modo total e definitivo no mistério da Cruz, volta-me à mente o texto que João Paulo II tinha preparado para o encontro com os fiéis no dia 3 de Abril, domingo in Albis do ano passado. Nos desígnios divinos estava escrito que ele nos deixasse precisamente na vigília daquele dia, sábado, 2 de Abril todos recordam bem e por isso não pôde pronunciar aquelas palavras, que agora me apraz repropor-vos, queridos irmãos e irmãs. O Papa tinha escrito assim: "À humanidade, que por vezes parece estar perdida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do receio, o Senhor ressuscitado oferece em dom o seu amor que perdoa, reconcilia e abre o coração à esperança. É um amor que converte os corações e dá a paz". O Papa neste último texto, que é como um testamento, acrescentou: "Quanta necessidade tem o mundo de compreender e de acolher a Misericórdia Divina!" (Regina Coeli, 4 de Abril de 2005).

Compreender e acolher o amor misericordioso de Deus: seja este o vosso compromisso antes de tudo no âmbito das famílias e depois em todos os sectores do bairro. Formulo de coração estes votos e saúdo-vos cordialmente, começando pelos sacerdotes que se ocupam da vossa comunidade sob a guia do pároco, Pe. Gianfranco Corbino, ao qual dirijo a minha sincera gratidão por se ter feito intérprete dos vossos sentimentos, com uma bonita apresentação deste edifício, desta "barca" de Pedro e do Senhor. Depois, faço a minha saudação extensiva ao Cardeal Vigário, Camillo Ruini e ao Cardeal Crescenzio Sepe, titular da vossa igreja, ao Vice-Gerente e ao Bispo do sector Leste de Roma, e a quantos cooperam activamente nos vários serviços paroquiais. Sei que a vossa comunidade é jovem, tendo apenas dez anos de vida, que transcorreu os seus primeiros tempos em condições precárias, aguardando o completamento das actuais estruturas.

Também sei que as dificuldades do início em vez de vos desencorajarem vos estimularam a um compromisso apostólico comum, com uma atenção particular ao campo da catequese, da liturgia e da caridade. Queridos amigos, prossegui o caminho empreendido, esforçando-vos por fazer da vossa paróquia uma verdadeira família na qual a fidelidade à Palavra de Deus e à Tradição da Igreja se torne dia após dia cada vez mais a regra de vida. Depois, sei que esta vossa igreja, devido à sua estrutura arquitectónica original, é meta de muitos visitantes. Fazei-lhes apreciar não só a beleza do edifício sagrado, mas sobretudo a riqueza de uma comunidade viva, que testemunha o amor de Deus, Pai misericordioso. Aquele amor que é o verdadeiro segredo da alegria cristã, ao qual nos convida o domingo Laetare. Dirigindo o olhar para Maria, "Mãe da santa alegria", pedimos-lhe que nos ajude a aprofundar as razões da nossa fé, para que, como nos exorta hoje a liturgia, renovados no espírito e com o coração rejubilante correspondamos ao amor de Deus eterno e desmedido. Amém!




AOS NOVOS CARDEAIS RECEBIDOS EM AUDIÊNCIA JUNTAMENTE COM OS FAMILIARES E PEREGRINOS Segunda-feira, 27 de Março de 2006


Senhores Cardeais
Queridos Irmãos
186 no Episcopado e no presbiterado
Queridos amigos!

Depois da solene celebração do Consistório, que nos ofereceu a possibilidade de transcorrer momentos de oração e de intensa fraternidade, sinto-me feliz por me encontrar convosco também hoje. Com o coração grato ao Senhor por este feliz acontecimento, pedimos-lhe que ampare os novos Cardeais e que os proteja no cumprimento dos diversos ministérios que desempenham na Igreja. Pedimos a Jesus Bom Pastor, em particular, que continue a acompanhá-los com a sua graça. A todos vós aqui presentes, familiares e fiéis que viestes para partilhar com os novos cardeais estes dias de festa, dirijo a minha saudação mais cordial.

Saúdo antes de tudo a vós, venerados Cardeais italianos. Saúdo-o, Senhor Cardeal Agostino Vallini, Prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica; saúdo-o, Senhor Cardeal Carlo Cafarra, Arcebispo de Bolonha; saúdo-o, Senhor Cardeal Andrea Cordero di Montezemolo, Arcipreste da Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Venerados Irmãos, hoje estais rodeados por tantas pessoas queridas, cuja presença, além de ser sinal de amizade e de afecto, é também uma visível manifestação da comunhão fecunda de bem que anima a Igreja. Que o Senhor faça com que cada um de vós seja uma testemunha cada vez mais generosa do seu amor.

Saúdo cordialmente o novo Cardeal Albert Vanhoye, assim como os seus irmãos jesuítas, os seus familiares e todos os francófonos, que vieram por ocasião do Consistório no qual criei também Cardeal D. Jean-Pierre Ricard, Arcebispo de Bordéus e Presidente apreciado da Conferência dos Bispos da França. Dou graças pelo fecundo trabalho exegético do Cardeal Vanhoye, que se dedicou a perscrutar a Palavra de Deus e a transmitir com paciência o seu saber a numerosas gerações de jovens, proporcionando-lhes também os meios para viver do Evangelho e serem suas testemunhas. Esperamos que possa dispor regularmente de tempo para se alimentar da Escritura.

Saúdo cordialmente os novos cardeais de língua inglesa: Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Cardeal Gaudencio Rosales, Arcebispo de Manila, Filipinas; Cardeal Nicholas Cheong Jin-suk, Arcebispo de Seul, Coreia; Cardeal Sean O'Malley, O.F.M. Cap., Arcebispo de Boston, E.U.A.; Cardeal Joseph Zen Zekiun, S.D.B., Bispo de Hong Kong, China; Cardeal Peter Dery, Arcebispo Emérito de Tamale, Gana. Venerados e queridos irmãos, ao renovar-vos as minhas saudações fraternas e ao oferecer-vos a minha fervorosa oração pela missão que vos foi confiada no serviço à Igreja universal, confio-vos mais uma vez à protecção de Maria, Mãe da Igreja.

Desejo saudar também os familiares e amigos dos novos Cardeais, juntamente com os fiéis que os acompanharam a Roma para as solenes celebrações de sexta-feira e sábado passados. Faço votos por que o tempo transcorrido aqui, na Cidade Eterna, aprofunde o vosso amor pela Igreja e fortaleça a vossa fé em Jesus Cristo, nosso Salvador e Senhor! Encorajo-vos a continuar e a rezar pelos nossos Cardeais e a ampará-los com o amor e com o afecto. Deus vos abençoe a todos!
Saúdo os novos Cardeais de língua espanhola e todos os fiéis da América Latina e da Espanha que os acompanham. Saúdo em particular os seus familiares, irmãos Bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, especialmente os do Seminário de Todelo.

A Venezuela exulta pelo seu Cardeal Jorge Liberato Urosa Savino, Arcebispo de Caracas, acompanhado também da sua mãe idosa. Tanto em Valência como agora na Capital, ele concretizou muitas iniciativas pastorais para o bem da sua querida Nação.

A Espanha sente-se honrada com o seu Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Arcebispo de Toledo, que anteriormente realizou um frutuoso ministério em Ávila e Granada, demonstrando a sua constante entrega às respectivas comunidades eclesiais.

Os vossos povos distinguem-se pela fidelidade ao Sucessor de Pedro e pela devoção à Virgem Maria. Ela seja sempre a Estrela que guia as vossas Igrejas particulares na tarefa evangelizadora.
187 Saúdo o Cardeal Stanislao Dziwisz, a sua família, os amigos e os hóspedes. Juntamente convosco expresso ao novo Cardeal a gratidão por todos os anos transcorridos ao lado de João Paulo II e por tudo o que este serviço deu à Igreja universal. Rezo para que o seu futuro ministério seja igualmente frutuoso. Abençoo de coração todos vós aqui presentes.

Dirijo cordiais boas-vindas ao Cardeal Franc Rodé, aos seus concidadãos e aos amigos, especialmente aos fiéis da Arquidiocese de Liubliana, da qual ele, até há pouco tempo, era Pastor. Apraz-me verificar que também a Igreja na Eslovénia oferece o seu contributo à missão da Sé Apostólica, na pessoa do novo Cardeal. O seu cargo de Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica é muito importante. Continuai a acompanhá-lo neste seu serviço com a oração, para que a Igreja possa progredir cada vez melhor no caminho da santidade.

Queridos irmãos, mais uma vez obrigado pela vossa visita! Ao renovar-vos, Senhores Cardeais, a minha saudação fraterna, desejo garantir-vos que continuarei a acompanhar-vos com a oração. Por meu lado, sei que posso contar sempre com a vossa colaboração, da qual sinto que tenho necessidade. Os encontros de todo o Colégio Cardinalício com o Sucessor de Pedro, como aconteceu também na passada quinta-feira, continuarão a ser ocasiões privilegiadas para procurar servir juntos e melhor a Igreja, confiada por Cristo aos nossos cuidados.

A Virgem Maria, Mãe da Igreja, e os Santos Pedro e Paulo vigiem sobre cada um de vós e sobre o vosso trabalho quotidiano. Com estes sentimentos, concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, que faço extensiva de bom grado a quantos vos circundam com tanta alegria e afecto.




AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO PELO PARTIDO POPULAR EUROPEU Quinta-feira, 30 de Março de 2006


Ilustres Parlamentares
Senhoras e Senhores!

Sinto-me feliz em receber-vos por ocasião dos Dias de Estudo sobre a Europa organizados pelo vosso grupo parlamentar. Os Pontífices Romanos prestaram sempre uma especial atenção a este Continente. Por conseguinte, a audiência de hoje é oportuna e insere-se numa longa série de encontros entre os meus predecessores e os movimentos políticos de inspiração cristã. Agradeço ao Deputado Pöttering as palavras que me dirigiu em vosso nome e manifesto-lhe, assim como a todos vós, as minhas cordiais saudações.

Actualmente a Europa deve enfrentar questões complexas de grande importância, como o crescimento e o desenvolvimento da integração europeia, a definição cada vez mais completa da política de proximidade no seio da União e o debate do seu modelo social. Para alcançar estes objectivos, será importante inspirar-se, com fidelidade criativa, na herança cristã que contribuiu de modo particular para forjar a identidade deste continente. Valorizando as suas raízes cristãs, a Europa será capaz de oferecer uma orientação segura às opções dos seus cidadãos e das suas populações, fortalecendo a sua consciência de pertencer a uma civilização comum, e alimentará o compromisso de todos para enfrentar os desafios do presente para o bem e para um futuro melhor.

Portanto, aprecio o reconhecimento, da parte do vosso grupo, da herança cristã da Europa que oferece orientações éticas preciosas para a busca de um modelo social que satisfaça adequadamente as exigências de uma economia já globalizada e responda às mudanças demográficas, garantindo crescimento e progresso, tutela da família, iguais oportunidades na instrução dos jovens e solicitude pelos pobres.

Além disso, o vosso apoio à herança cristã pode contribuir de modo significativo para derrubar aquela cultura tão difundida na Europa que limita na esfera privada e subjectiva a manifestação das próprias convicções religiosas. As políticas elaboradas partindo desta base não só implicam o repúdio do papel público do cristianismo, mas, mais em geral, excluem o compromisso com a tradição religiosa da Europa, que é tão clara apesar das suas variedades confessionais, ameaçando desta forma a própria democracia, cujo vigor depende dos valores que promove (cf. Evangelium vitae EV 70). A partir do momento que esta tradição, precisamente no que podemos definir a sua união polifónica, transmite valores que são fundamentais para o bem da sociedade, a União Europeia só pode receber um enriquecimento do compromisso com ela. Seria um sinal de imaturidade, ou até de debilidade, optar por se opor a ela ou por ignorá-la, em vez de dialogar com ela. Neste contexto, é necessário reconhecer que uma certa intransigência secular demonstra ser inimiga da tolerância e de uma visão sadia da sociedade. Portanto, sinto-me feliz pelo facto de o tratado constitucional da União Europeia prever uma relação estruturada e permanente com as comunidades religiosas, reconhecendo-lhes a sua identidade e o seu contributo específico.

188 Sobretudo, tenho esperança de que a realização eficaz e correcta deste relacionamento comece agora, com a cooperação de todos os movimentos políticos independentemente das suas orientações. É preciso não esquecer que, quando as Igrejas ou comunidades eclesiais intervêm no debate público, manifestando dúvidas ou recordando certos princípios, com isso constitui uma forma de intolerância ou uma interferência porque tais intervenções são unicamente destinadas a iluminar as consciências, permitindo que elas se movam livre e responsavelmente segundo as exigências autênticas de justiça, mesmo quando isso pudesse entrar em conflito com situações de poder e com interesses pessoais.

No que se refere à Igreja Católica, o interesse principal das suas intervenções no campo público é a tutela e a promoção da dignidade da pessoa e, por conseguinte, ela chama conscientemente a uma particular atenção aos princípios que não são negociáveis. Entre eles, hoje emergem os seguintes:

tutela da vida em todas as suas fases, desde o primeiro momento da concepção até à morte natural;
reconhecimento e promoção da estrutura natural da família, como união entre um homem e uma mulher baseada no matrimónio, e a sua defesa das tentativas de a tornar juridicamente equivalente a formas de uniões que, na realidade, a danificam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter particular e o seu papel social insubstituível;
tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos.

Estes princípios não são verdades de fé mesmo se recebem ulterior luz e confirmação da fé. Eles estão inscritos na natureza humana e, portanto, são comuns a toda a humanidade. A acção da Igreja de os promover não assume, por conseguinte, um carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, prescindindo da sua filiação religiosa. Ao contrário, esta acção é tanto mais necessária quanto mais estes princípios forem negados ou mal compreendidos porque isto constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma grave ferida infligida à própria justiça.

Queridos amigos, ao exortar-vos a ser testemunhas críveis e coerentes destas verdades fundamentais através da vossa actividade política e mais basilarmente através do vosso compromisso de levar uma vida autêntica e coerente, invoco sobre vós e sobre a vossa obra a permanente assistência de Deus, em cujo nome concedo a minha Bênção Apostólica a vós e a quantos vos acompanham.

PALAVRAS

NO FINAL DA PROJECÇÃO DO FILME

"KAROL, UM PAPA QUE PERMANECEU HOMEM" Quinta-feira, 30 de Março de 2006

Senhores Cardeais

Queridos Irmãos
no Episcopado e no Presbiterado
189 Ilustres Senhores e Senhoras!

Enquanto permanecem fixas na mente e no coração as imagens desta interessante reproposição do Pontificado de João Paulo II, dirijo o meu cordial pensamento a quantos contribuíram para a realização do filme, cujo título significativo é "Karol, um Papa que permaneceu homem". Esta tarde vivemos as emoções sentidas em Maio do ano passado, quando, pouco tempo depois da morte do amado Pontífice, assistimos, nesta mesma sala, à projecção da primeira parte do filme.

Estou grato ao cineasta e cenógrafo Giacomo Battiato, e aos seus colaboradores, que com sábia mestria nos repropuseram os momentos centrais do ministério apostólico do meu venerado Predecessor; um profundo obrigado àquele que, no papel de protagonista, tornou o seu rosto vivo, o actor Piotr Adamczyk, assim como aos outros intérpretes; desejo expressar um sincero agradecimento ao produtor Pietro Valsecchi e aos dirigentes, aqui presentes, das Casas de Produção Taodue e Mediaset.

Com esta segunda parte do filme conclui-se a narração da vicissitude terrena do amado Pontífice. Ouvimos de novo o apelo inicial do seu Pontificado que ressoou tantas vezes ao longo dos anos: "Abri as portas a Cristo! Não tenhais medo!". A sucessão das imagens mostrou-nos um Papa imerso no contacto com Deus e precisamente por isto, sempre sensível às expectativas dos homens. O filme fez-nos pensar idealmente nas suas viagens apostólicas a todas as partes do mundo; deu-nos a oportunidade de reviver os seus encontros com tantas pessoas, com os Grandes da terra e com os simples cidadãos, com personagens ilustres e com pessoas desconhecidas. Entre todos, merece uma menção especial o abraço a Madre Teresa de Calcutá, ligada a João Paulo II por uma profunda sintonia espiritual. Petrificados, como se estivéssemos presentes, ouvimos de novo os tiros do trágico atentado na Praça de São Pedro a 13 de Maio de 1981. Desse conjunto de imagens emergiu novamente a figura de um incansável profeta de esperança e de paz, que percorreu os caminhos do mundo para comunicar o Evangelho a todos. Voltaram à mente as suas palavras vibrantes para condenar a opressão de regimes totalitários, a violência homicida e a guerra; palavras cheias de conforto e de esperança para manifestar proximidade aos familiares das vítimas de conflitos e de dramáticos atentados, como o atentado às Torres Gémeas de Nova Iorque; palavras de coragem e de denúncia da sociedade consumista e da cultura hedonista, obcecada pela construção de um bem-estar simplesmente material que não pode satisfazer as profundas expectativas do coração humano.

Eis os pensamentos que surgem espontâneos do coração esta tarde, e que quis partilhar convosco, queridos irmãos e irmãs, repercorrendo, ajudado pelas sequências deste filme, as fases do Pontificado do inesquecível João Paulo II. Que o amado Pontífice nos acompanhe do alto e nos obtenha do Senhor a graça de sermos, como ele, sempre fiéis à nossa missão. Concedo a todos vós aqui presentes e às pessoas que vos são queridas a minha Bênção.





                                                              Abril 2006








AOS PARTICIPANTES NO SEMINÁRIO PROMOVIDO PELA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA Sábado, 1 de Abril de 2006


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Senhores e gentis Senhoras

190 Estou feliz por vos receber e saúdo cordialmente todos vós que participais no Seminário sobre o tema: "O património cultural e os valores das Universidades europeias como base para a atractividade do "Espaço Europeu de Educação Superior"". Vós vindes de cerca de cinquenta países europeus, aderentes ao chamado "Processo de Bolonha", para o qual também a Santa Sé ofereceu a sua contribuição. Saúdo o Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregração para a Educação Católica, que em vosso nome me dirigiu palavras de amável deferência, explicando-me ao mesmo tempo as finalidades da vossa reunião; estou-lhe grato por ter organizado este encontro no Vaticano, em colaboração com a Conferência dos Reitores das Universidades Pontifícias, com a Pontifícia Academia das Ciências, com a UNESCO-CEPES, com o Conselho da Europa e com o patrocínio da Comissão Europeia. Transmito uma saudação especial aos Senhores Ministros e aos Representantes dos vários Organismos internacionais que quiseram estar presentes.

Durante estes dias, a vossa reflexão centrou-se na contribuição que as Universidades europeias, enriquecidas pela sua longa tradição, são capazes de oferecer para a construção da Europa do terceiro milénio, tendo em consideração o facto de que cada realidade cultural é memória do passado e, ao mesmo tempo, projecto para o futuro. Para esta reflexão, a Igreja tenciona oferecer a sua contribuição, como já fez ao longo dos séculos.

Efectivamente, tem sido constante a sua solicitude pelos Centros de estudo e pelas Universidades da Europa que, com "o serviço do pensamento", transmitiram e continuam a legar às jovens gerações os valores de um peculiar património cultural, enriquecido por dois milénios de experiência humanista e cristã (cf. Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa, 59). Nos primórdios teve uma influência considerável o monaquismo, cujos méritos, além dos âmbitos espiritual e religioso, se estendem aos sectores económico e intelectual. Na época de Carlos Magno, com a contribuição da Igreja foram fundadas verdadeiras e próprias escolas, das quais o imperador desejava que beneficiasse o maior número possível de pessoas.

Alguns séculos mais tarde nasceu a Universidade, que da Igreja recebeu um impulso essencial. Da Universidade de Bolonha à de Paris, Cracóvia, Salamanca, Colónia, Oxford e Praga, para citar apenas algumas delas, desenvolveram-se rapidamente numerosas Universidades europeias e desempenharam um papel importante na consolidação da identidade da Europa e na formação do seu património cultural. As instituições universitárias distinguiram-se sempre pelo seu amor à sabedoria e à busca da verdade, como verdadeira finalidade da Universidade, com uma referência constante à visão cristã, que reconhece no homem a obra-prima da criação, dado que foi feito à imagem e semelhança de Deus (cf.
Gn 1,26-27). Uma das características desta visão foi sempre a convicção de que existe uma profunda unidade entre a verdade e o bem, entre os olhos da mente e os olhos do coração: "Ubi amor, ibi oculos", dizia Ricardo de São Vítor (cf. Beniamin minor, c. 13): o amor faz ver. A Universidade nasceu do amor pelo saber, da curiosidade de conhecer, de descobrir o que é o mundo, o homem. Todavia, também de um saber que leva ao agir e, em última análise, que conduz ao amor.

Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem?

De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica.

Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento.

"Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus.

É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem.

Ilustres Senhores e gentis Senhoras, Deus torne fecundo o trabalho que levais a cabo e os esforços que envidais em benefício de numerosos jovens, em quem está depositada a esperança da Europa. Acompanho estes bons votos com a certeza de uma oração especial por cada um de vós, enquanto imploro sobre todos a Bênção divina.



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