Discursos Bento XVI 15

AOS PEREGRINOS VINDOS A ROMA PARA A BEATIFICAÇÃO DE DUAS RELIGIOSAS MISSIONÁRIAS Segunda-feira, 16 de Maio de 2005


Caros irmãos e irmãs

É com alegria que hoje recebo todos vós, vindos para participar no rito de Beatificação da Madre Ascensão do Coração de Jesus Nicol Goñi e da Madre Marianne Cope, rito que teve lugar na tarde de sábado, na Basílica Vaticana. Testemunhas exemplares da caridade de Cristo, estas duas novas Beatas ajudam-nos a compreender o sentido e o valor da nossa vocação cristã.

Madre Ascensão do Coração de Jesus Nicol Goñi

Queridos peregrinos, viestes a Roma para reviver a mensagem missionária transmitida à Igreja, com a sua vida e a sua obra, pela Madre Ascensão do Coração de Jesus Nicol Goñi, que acaba de ser proclamada Beata. Convido-vos a conservar no coração o ardor apostólico, nascido do amor a Jesus, que a Madre Ascensão viveu e soube infundir nas suas filhas espirituais.

Ao saudar cordialmente os meus Irmãos no Episcopado, as diversas Autoridades e fiéis que participaram neste significativo acontecimento, dirijo-me especialmente às Dominicanas Missionárias do Rosário que, a exemplo da sua Beata Fundadora, nos ajudam a reviver, na nossa época, o espírito de São Domingos. Conservai viva a experiência da proximidade de Deus na vida missionária "como me sinto próxima de Deus!", dizia a Madre e o espírito de fraternidade nas vossas comunidades, dispostas a ir aonde a Igreja mais precisar, com o estilo empreendedor que levou Madre Ascensão até às terras agrestes do Vicariato de Porto Maldonado.

Saúdo os peregrinos deste Vicariato Apostólico e de outras terras peruanas, que viram florescer um fruto precioso de evangelização genuína, cultivado com esmero especialmente pelas mãos femininas. E saúdo também aqueles que vieram de Navarra, terra natal da nova Beata, bem como de outras regiões da Espanha, onde a semente da fé penetrou profundamente e deu numerosos missionários em todas as partes do mundo.

A cerimónia teve lugar numa data muito significativa para os missionários e para toda a Igreja: as vésperas do Pentecostes, o momento em que o Espírito Santo desceu e os discípulos de Jesus começaram a proclamar sem medo, em todos os lugares e publicamente, o ensinamento do Mestre. A partir de então, outros acolheram o mandato missionário, colocando as suas energias ao serviço do Evangelho. Entre eles, a Madre Ascensão deixou-se inflamar também pelo fogo do Pentecostes e comprometeu-se na sua difusão pelo mundo.

Agora, que ela interceda por todos vós, para que leveis ao mundo a luz que deu esplendor à sua vida e alegria ao seu coração.

16 Abençoo-vos a todos com grande afecto. Muito obrigado!

Madre Marianne Cope

É com profunda alegria que vos dou as boas-vindas a Roma, queridos irmãos e irmãs, vindos para a Beatificação da Madre Marianne Cope. Bem sei que a vossa participação na solene liturgia de sábado, tão significativa para a Igreja universal, foi uma fonte de graça renovada e de compromisso no exercício da caridade, que caracteriza a vida de cada cristão.

A vida da Madre Marianne Cope caracterizou-se por uma profunda fé e amor, que deu o fruto de um espírito missionário de imensa esperança e confiança. Em 1862, ela entrou na Congregação das Irmãs Franciscanas, em Syracuse, onde ficou impregnada da particular espiritualidade de São Francisco de Assis, dedicando-se inteiramente às obras de misericórdia espirituais e corporais. A sua própria experiência de vida consagrada deu lugar a um apostolado extraordinário, enriquecido de virtudes heróicas.

Como se sabe, quando a Madre Marianne era Superiora-Geral da sua Congregação, o então Bispo de Honolulu convidou a sua Ordem a ir ao Havai para trabalhar no meio dos leprosos. A lepra estava a propagar-se rapidamente e a causar sofrimentos e misérias inauditas entre os que sofriam de tal enfermidade. Outras cinquenta Congregações receberam o mesmo pedido de assistência, mas somente Madre Marianne, em nome das suas Irmãs, respondeu positivamente. Fiel ao carisma da Ordem e segundo a imitação de São Francisco, que abraçou os leprosos, Madre Marianne partiu para a missão como voluntária, com um "Sim" confiante. E durante trinta e cinco anos, até à sua morte, ocorrida em 1918, a nossa nova Beata dedicou a sua vida ao amor e ao serviço dos leprosos nas ilhas de Maui e de Molokai.

Sem dúvida, humanamente falando, a generosidade de Madre Marianne foi exemplar. Contudo, somente as boas intenções e o altruísmo não explicam adequadamente a sua vocação. Só a perspectiva da fé pode fazer-nos compreender o seu testemunho como cristã e como religiosa deste amor sacrifical, que alcançou a sua plenitude em Jesus Cristo. Tudo aquilo que ela realizou encontrava inspiração no seu amor pelo Senhor que ela, por sua vez, expressava através da caridade pelas pessoas abandonadas e marginalizadas pela sociedade de modo mais ignóbil.
Estimados irmãos e irmãs, hoje deixemo-nos inspirar pela Beata Marianne Cope, a fim de renovarmos o nosso compromisso em vista de caminhar pela vereda da santidade.

Com as minhas orações para que a vossa peregrinação a Roma possa constituir um momento de enriquecimento espiritual, é com alegria que vos concedo a minha Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva aos membros das vossas famílias em casa, de maneira especial àqueles que se encontram doentes ou que sofrem de alguma forma.

Que a Virgem Maria obtenha para nós a dádiva de uma fidelidade constante ao Evangelho. Ela nos ajude a seguir o exemplo das novas Beatas e a tender incessantemente para a santidade. A todos vós aqui presentes, bem como às pessoas que vos são queridas, concedo a minha Bênção.




AO SENHOR BARTOLOMEJ KAJTAZI NOVO EMBAIXADOR DA EX-REPÚBLICA JUGOSLAVA DA MACEDÓNIA JUNTO DA SANTA SÉ 19 de Maio de 2005

Excelência

17 É-me grato recebê-lo hoje e aceitar as Cartas Credenciais com que Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da ex-República Jugoslava da Macedónia junto da Santa Sé. Estou grato pelas calorosas palavras de saudação que Vossa Excelência me transmitiu da parte do Senhor Presidente Crvenkovski. É com prazer que lhe retribuo, assegurando ao governo e aos cidadãos da sua nação as minhas orações pela paz e o bem-estar do país.

A festa dos Santos Cirilo e Metódio que, juntamente com São Bento, Santa Brígida da Suécia, Santa Catarina de Sena e Santa Teresa Benedita da Cruz, são os grandes Padroeiros da Europa, caracteriza-se pela visita anual a Roma, de uma delegação proveniente do seu país. Este acontecimento, profundamente simbólico, evoca o sincero interesse que os Papas Nicolau I, Adriano II e João VIII demonstraram pelos Apóstolos dos Eslavos, encorajando-os a desempenhar a sua actividade missionária com fidelidade e criatividade. Assim como Cirilo e Metódio reconheceram a profunda necessidade de transpor correctamente as noções bíblicas e os conceitos teológicos gregos num contexto de pensamento e de experiência histórica muito diferente, também hoje a tarefa prioritária que se apresenta aos cristãos na Europa consiste em lançar a luz enobrecedora da Revelação sobre tudo aquilo que é bom, verdadeiro e belo. Desta maneira, todos os povos e nações alcançarão a paz e a liberdade que Deus Criador deseja para cada um.

Com sentimentos de gratidão, reconheço que a sua nação tem confirmado o seu compromisso em vista de traçar um caminho de paz e de reconciliação. Agindo assim, ela pode tornar-se um exemplo para os outros países na região dos Balcãs. Tragicamente, as diferenças culturais têm sido com frequência uma fonte de mal-entendidos entre os povos e até mesmo a causa de conflitos e de guerras insensatas. Efectivamente, o diálogo entre as culturas constitui uma pedra angular indispensável para a civilização universal do amor, a que cada homem e cada mulher aspiram. Por conseguinte, encorajo Vossa Excelência e os seus compatriotas a reiterar os valores fundamentais que são comuns em todas as culturas; comuns, porque encontram a sua nascente na própria natureza da pessoa humana.

É desta forma que se consolida a busca da paz, permitindo que a sua nação dedique todos os recursos humanos e espirituais ao progresso material e moral do seu povo, num espírito de fecunda cooperação com os outros países confinantes.

O Senhor Embaixador observou que a causa da integração social, que o seu governo está a buscar com tanta coragem, aproxima legitimamente o seu país do restante da Europa. Com efeito, as suas tradições e a sua cultura encontram nela uma ressonância natural e pertencem ao espírito que imbui este Continente. Como o meu querido predecessor afirmou em numerosas ocasiões, a Europa tem necessidade das nações dos Balcãs, e elas precisam da Europa! Não obstante, a entrada na Comunidade Europeia não deveria ser compreendida meramente como uma panaceia para superar as adversidades económicas. No processo de expansão da União Europeia, é de "importância capital" recordar que ela "não terá consistência, se ficar reduzida apenas às dimensões geográficas e económicas". Pelo contrário, a União deve "consistir, em primeiro lugar, num consenso sobre os valores a exprimir no direito e na vida" (Ecclesia in Europa, 110). Isto, justamente, exige da parte de cada um dos Estados uma ordem social própria que reconheça com criatividade a alma da Europa, forjada através da contribuição determinante do cristianismo, na afirmação da dignidade transcendente da pessoa humana e dos valores da razão, da liberdade, da democracia e do Estado de direito (cf. ibid., n. 109).

O povo da sua terra já deu grandes passos, na difícil mas recompensadora tarefa de garantir a coerência e a estabilidade sociais. O desenvolvimento genuíno exige um plano coordenado de progresso a nível nacional, que reconheça as aspirações legítimas de todas as camadas da sociedade e pelas quais os líderes cívicos podem considerar-se responsáveis. A história humana ensina-nos reiteradamente que, se tais programas quiserem realizar uma mudança positiva duradoura, deverão fundamentar-se na salvaguarda dos direitos humanos, inclusive dos direitos das minorias étnicas e religiosas, na prática de um governo responsável e transparente e na manutenção da lei e da ordem com um sistema judiciário imparcial e uma força policial honrosa. Sem tais fundamentos, a esperança de um progresso autêntico permanecerá evasiva.

Senhor Embaixador, o compromisso do seu governo em vista de fomentar a prosperidade social e económica dos seus cidadãos apresenta as jovens gerações numa perspectiva de confiança e de optimismo. Uma das prioridades deste compromisso é a criação de oportunidades no campo da educação. Quando as escolas funcionam de maneira profissional e são geridas por indivíduos de integridade pessoal, oferece-se a esperança a todos, e de maneira especial aos jovens. Um dos elementos integrantes de tal formação é a educação religiosa. Ela ajuda os jovens a descobrirem o pleno significado da existência humana, de forma particular a relação fundamentalmente importante entre a liberdade e a verdade (cf. Fides et ratio
FR 90). De facto, o conhecimento iluminado pela fé, longe de dividir as comunidades, une os povos na busca comum da verdade, que define cada ser humano como aquele que vive de crenças (cf. ibid., n. FR 31). Portanto, exorto encarecidamente o governo a dar continuidade à sua intenção de permitir o ensino da religião nas escolas primárias.

Embora seja numericamente pequena, a Igreja Católica que está na sua nação deseja alcançar, mediante a cooperação com as outras comunidades religiosas, todos os membros da sociedade macedónia, sem qualquer distinção. A sua missão caritativa, particularmente aos pobres e às pessoas que sofrem, faz parte do seu "compromisso de um amor activo e concreto por cada ser humano" (Novo millennio ineunte NM 49), e é muito estimada no seu país. Estou persuadido de que a Igreja deseja contribuir ainda mais extensivamente para os programas de desenvolvimento humano no seu país, promovendo os valores da paz, da justiça, da solidariedade e da liberdade.

Excelência, a missão diplomática que o Senhor Embaixador começa no dia de hoje há-de fortalecer ainda mais os vínculos de compreensão e de cooperação já existentes entre o seu país e a Santa Sé. Garanto-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estão prontos a assisti-lo no cumprimento dos seus deveres. Com a expressão dos meus sinceros bons votos, invoco sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da sua nação, as abundantes bênçãos de Deus.




NA CONDECORAÇÃO DE MONS. GEORG RATZINGER Quinta-feira, 19 de Maio de 2005


Querido Georg
18 Prezado Embaixador
Excelentíssimo Presidente Schambeck
Estimadas Autoridades
Senhoras e Senhores!

É para mim singular que eu tome a palavra. Quando descia, o Secretário disse-me oportunamente: "Agora, querido Santo Padre, é o seu irmão a pessoa mais importante". Acerca disto não há dúvidas. É motivo de alegria o facto de que o meu irmão, que por trinta anos se empenhou tanto pela música sacra na Catedral de Ratisbona e em todo o mundo, receba um reconhecimento de uma autoridade tão competente.

Quando falo, apesar da minha incompetência, sinto-me, por assim dizer, porta-voz de quantos estão aqui presentes e se alegram, sentem gratidão e satisfação por estas horas e por este momento. O meu irmão já disse: a Áustria é de modo muito particular um País da música. Quem pensa na Áustria, pensa em primeiro lugar na beleza da criação, que o Senhor concedeu a este nosso País vizinho. Pensa na beleza dos edifícios, na cordialidade das pessoas, mas também e sobretudo na música, cujos grandes nomes já foram citados, e também na prática da música: Wiener Sängerknaben, Wiener Philharmoniker, Salzburger Festpiele, etc. Por este motivo, o facto que este nosso amado vizinho, a Áustria, confira este reconhecimento ao meu irmão assume um valor totalmente singular. E também eu agradeço de coração.

Imagino que também para a nova geração de cantores da Catedral, instruídos pelo Maestro de Capela, seja motivo de alegria e de encorajamento o facto de ser reconhecido um trabalho de trinta anos e que isto os possa ajudar, neste tempo em que dele temos particular necessidade, a honrar a mensagem do bom Deus e a conduzir os homens à alegria, com renovado estímulo. Obrigado.




POR OCASIÃO DA PROJECÇÃO DO FILME "KAROL, UM HOMEM QUE SE TORNOU PAPA" Quinta-feira, 19 de Maio de 2005


Prezados Irmãos e Irmãs

Estou convicto de interpretar os sentimentos de todos, expressando a minha profunda gratidão a quantos quiseram, nesta tarde, oferecer-me, bem como a todos vós, este filme comovedor, que repercorre as etapas da vida do jovem Karol Wojtyla, acompanhando-o depois até à sua eleição a Sumo Pontífice, com o nome de João Paulo II. Saúdo e agradeço ao Cardeal Roberto Tucci, que nos apresentou o filme. Além disso, dirijo uma palavra de profundo apreço ao cineasta e encenador Giacomo Battiato e aos actores, com um pensamento particular a Piotr Adamczyk, intérprete do Protagonista, ao produtor Pietro Valsecchi e às Agências de produção Taodue e Mediaset. Saúdo cordialmente os Senhores Cardeais, os Bispos, os Sacerdotes, as Autoridades e todos aqueles que desejaram participar nesta manifestação em honra do querido Sumo Pontífice, recentemente falecido. Todos nos recordamos dele com profundo afecto e íntima gratidão. Precisamente ontem, ele teria celebrado o seu 85º aniversário.

"Karol, um homem que se tornou Papa": este é o título do filme tirado de um texto de Gian Franco Svidercoschi. A primeira parte, como vimos, põe em evidência aquilo que acontece na Polónia sob a ocupação nazista, por vezes com referências emotivamente muito fortes à repressão do povo polaco e ao genocídio dos judeus. Trata-se de crimes que mostram todo o mal que a ideologia nazista encerrava em si. Abalado por tanta dor e violência, o jovem Karol decidiu imprimir uma mudança na sua própria vida, respondendo à vocação divina ao sacerdócio. A película apresenta cenas e episódios que, na sua aspereza, suscitam no espectador uma instintiva reacção de horror e levam-no a reflectir sobre os abismos de iniquidade que podem esconder-se na alma humana. Ao mesmo tempo, a evocação de tais aberrações não pode deixar de despertar em cada pessoa de sentimentos rectos o compromisso a fazer tudo o que puder para que nunca mais se venham a repetir as vicissitudes de uma barbárie tão desumana.

19 A projecção de hoje realiza-se a poucos dias do 60º aniversário do fim da segunda guerra mundial. No dia 8 de Maio de 1945 concluía-se aquela enorme tragédia que, na Europa e no mundo, tinha semeado destruição e morte em medida jamais experimentada antes. Há dez anos, João Paulo II escreveu que o segundo conflito mundial manifesta-se com clareza cada vez maior, como "um suicídio da humanidade". Cada vez que uma ideologia totalitária ofende o homem, a humanidade inteira fica seriamente ameaçada. Com o passar do tempo, as recordações não podem definhar; pelo contrário, devem tornar-se uma lição severa para a nossa e para as gerações futuras. Nós temos o dever de recordar, especialmente aos jovens, a que formas de violência inaudita podem chegar o desprezo do homem e a violação dos seus direitos.

Como deixar de ler à luz de um desígnio divino providencial, o facto de que na Cátedra de Pedro, um Sumo Pontífice polaco foi sucedido por um cidadão daquela terra, a Alemanha, onde o regime nazista conseguiu afirmar-se com virulência, atacando em seguida as nações vizinhas, entre as quais de modo particular a Polónia? Na sua juventude, ambos os Papas embora em frentes adversas e em situações diferentes tiveram que conhecer a barbárie da segunda guerra mundial e da violência insensata de homens contra homens, de povos contra povos. A carta de reconciliação, que nos últimos dias do Concílio Vaticano II, aqui em Roma, os Bispos polacos entregaram aos Bispos alemães, continha estas famosas palavras que ainda hoje continuam a ressoar na nossa alma:

"Perdoemos e peçamos perdão". Na homilia de domingo passado, recordei aos neo-sacerdotes que "nada pode melhorar no mundo, se o mal não for vencido. E o mal pode ser vencido unicamente com o perdão". A comum e sincera condenação do nazismo, assim como do comunismo ateu, seja para todos nós um compromisso a construir a reconciliação e a paz sobre o perdão. "Perdoar recordava ainda o querido João Paulo II não significa esquecer", e acrescentava que "se a memória é lei da história, o perdão é poder de Deus, poder de Cristo que age nas vicissitudes dos homens" (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVII/2 [1994], pág. 250). A paz é em primeiro lugar um dom de Deus, que faz germinar sentimentos de amor e de solidariedade no coração de quem O acolhe.

Formulo votos a fim de que, graças também ao testemunho do Papa João Paulo II, evocado por esta magnífica produção cinematográfica, seja reavivada em todos o propósito de actuar, cada um no sector que lhe é próprio e segundo as suas possibilidades, ao serviço de uma decidida acção de paz na Europa e no mundo inteiro. Confio os bons votos de paz, que todos nós trazemos no nosso coração, à intercessão materna da Virgem Maria, particularmente venerada neste mês de Maio.

Que Ela, Rainha da Paz, sustente os esforços generosos de quantos desejam comprometer-se na edificação da paz autêntica, sobre as colunas sólidas da verdade, da justiça, da liberdade e do amor. Com estes sentimentos, concedo-vos a todos a Bênção Apostólica.




À COMUNIDADE DA PONTIFÍCIA ACADEMIA ECLESIÁSTICA Sexta-feira, 20 de Maio de 2005

Queridos amigos da Pontifícia
Academia Eclesiástica!

É com alegria particular que vos recebo um mês depois da minha eleição para Sucessor de Pedro. Talvez alguns de vós se recordem de outro momento vivido juntos por ocasião da minha visita à vossa Academia há alguns anos. Saúdo-vos a todos cordialmente e, em primeiro lugar, saúdo o Presidente, ao qual agradeço as gentis palavras que me dirigiu. Desejo em primeiro lugar agradecer-vos a generosidade com que respondestes ao convite que vos foi feito e tornastes-vos disponíveis para prestar à Igreja e ao Seu supremo Pastor um peculiar serviço, como é precisamente o trabalho nas Representações Pontifícias. Trata-se de uma missão singular que exige, como qualquer forma de ministério sacerdotal, o seguimento fiel de Cristo. A quem a desempenha com amor está prometido o cêntuplo e a vida eterna (cf. Mt 19,29).

Na vossa actividade quotidiana deveis comprometer-vos a fazer com que os vínculos de comunhão das Igrejas particulares com a Sé Apostólica sejam sempre mais intensos e operantes. Ao mesmo tempo, preocupais-vos por tornar presente e visível a solicitude que o Sucessor de Pedro tem por todos os que fazem parte da grei do Senhor, sobretudo os indefesos, os débeis, os abandonados.

Por isso, é importante que nestes anos de formação em Roma reforceis o vosso sensus Ecclesiae, assumindo uma forma eclesial em toda a vossa personalidade, na mente e no coração. Seja vossa solicitude cultivar em vós as duas dimensões constitutivas e complementares da Igreja: a comunhão e a missão, a unidade e a propensão evangelizadora. Ao movimento para o centro e para o coração da Igreja deve corresponder um estímulo corajoso que vos leve a testemunhar às Igrejas particulares aquele tesouro de verdade e de graça, que Cristo confiou a Pedro e aos seus Sucessores. Estas dimensões da vossa missão estão bem representadas pelos dois Apóstolos Pedro e Paulo, que em Roma derramaram o seu sangue. Enquanto estais na Academia, procurai tornar-vos plenamente "romanos" em sentido eclesial, isto é, certos e fiéis na adesão ao Magistério e à guia pastoral do Sucessor de Pedro e, ao mesmo tempo, cultivai o mesmo anseio missionário de Paulo, desejosos de cooperar na difusão do Evangelho até aos extremos confins do mundo.

20 Todos ficamos admirados porque o testemunho do Papa João Paulo II suscitou profundo eco também em populações não cristãs, como referiram diversos Núncios Apostólicos nos seus relatórios. Isto confirma que onde Cristo é anunciado com a coerência da vida, fala ao coração de todos, também dos irmãos de outras tradições religiosas. Como disse há poucos dias ao Clero romano, a missão da Igreja não contrasta com o respeito das outras tradições religiosas e culturais. Cristo de nada priva o homem, mas doa-lhe plenitude de vida, de alegria e de esperança. Desta esperança também vós sois chamados a "dizer a razão" (cf. 1P 3,15), nos diversos contextos onde a Providência vos destinar.

Para desempenhar de maneira adequada o serviço que vos espera e que a Igreja vos confia, é necessária uma sólida preparação cultural, incluindo o conhecimento das línguas, da história e do direito, com uma sábia abertura às diversas culturas. Depois, é indispensável que, a um nível ainda mais profundo, vos propunhais como finalidade fundamental do vosso viver a santidade e a salvação das almas que encontrardes no vosso caminho. Para esta finalidade, procurai sem vos cansardes, ser sacerdotes exemplares, animados por uma oração constante e intensa, cultivando a intimidade com Cristo; sede sacerdotes segundo o coração de Cristo e desempenhareis o vosso ministério com sucesso e fruto apostólico. Nunca vos deixeis tentar pela lógica da carreira e do poder.

Por fim, dirijo uma saudação especial a quantos de vós deixarão daqui a pouco a Academia para o seu primeiro cargo nas Representações Pontifícias e, enquanto lhes garanto uma especial recordação na oração, desejo-lhes uma fecunda missão pastoral. Sobre toda a comunidade da Pontifícia Academia Eclesiástica invoco a constante protecção de Maria Santíssima e dos Apóstolos Pedro e Paulo e a todos vós, assim como às pessoas que vos são queridas concedo com afecto a Bênção Apostólica.




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DE RUANDA POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sábado, 21 de Maio de 2005


Queridos Irmãos no Episcopado!

No momento em que realizais a vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, sinto-me feliz por vos receber, a vós que o Senhor confiou a tarefa de guiar a sua Igreja em Ruanda. Agradeço a D. Alexis Habiyambere, Bispo de Nyundo, Presidente da vossa Conferência Episcopal, as suas palavras fraternas. Através de vós, dirijo uma saudação afectuosa às vossas comunidades, exortando os sacerdotes e os fiéis, duramente provados pelo genocídio de 1994 e pelas suas consequências, a permanecer firmes na fé, a perseverar na esperança que Cristo ressuscitado concede, superando qualquer tentação de desencorajamento. Possa o Espírito de Pentecostes, espalhado por todo o universo, fecundar os esforços de quantos se dedicam a edificar a fraternidade entre todos os ruandeses, num espírito de verdade e de justiça!

Os vossos relatórios quinquenais fazem eco da obra do Espírito, que construiu a Igreja em Ruanda nas vicissitudes da sua história. A fim de trabalhar activamente pela paz e pela reconciliação, privilegiais sobretudo uma pastoral de proximidade, fundada no compromisso de pequenas comunidades de leigos na pastoral missionária da Igreja, em harmonia com os pastores. Encorajo-vos a apoiar estas comunidades, para que os fiéis acolham as verdades da fé e as suas exigências, desenvolvendo também uma vida eclesial e espiritual mais forte, sem se deixar afastar do Evangelho de Cristo, sobretudo pelas numerosas seitas presentes no país. Trabalhai incessantemente para que o Evangelho alcance cada vez mais profundamente o coração e a existência dos crentes, convidando os fiéis a assumir sempre mais as suas responsabilidades na sociedade, sobretudo nos âmbitos da economia e da política, com um sentido moral alimentado pelo Evangelho e pela doutrina social da Igreja.

Saúdo os sacerdotes das vossas dioceses, e os jovens que, com generosidade, se preparam para o sacerdócio. O seu número é um verdadeiro sinal de esperança para o futuro. Quando o clero se torna autóctone, desejo congratular-me pelo trabalho paciente realizado pelos missionários para anunciar Cristo e o seu Evangelho, e para fazer surgir as comunidades cristãs das quais hoje vós tendes a responsabilidade. Convido-vos a estar próximos dos vossos sacerdotes, preocupando-vos com a sua formação permanente a nível teológico e espiritual, prestando atenção às suas condições de vida e de exercício da sua missão, para que sejam verdadeiras testemunhas da Palavra que anunciam e dos sacramentos dos quais são os ministros. Que eles possam, na doação de si próprios a Cristo e ao povo do qual são os pastores, permanecer fiéis às exigências do seu estado e viver o seu sacerdócio como um verdadeiro caminho de santidade!

No final do nosso encontro, estimados Irmãos no Episcopado, desejo fazer-me próximo do povo que vos está confiado, exortando os fiéis e os pastores a construir comunidades animadas por um amor recíproco, sincero e permeado pelo desejo imperioso de trabalhar por uma reconciliação autêntica! Ressoe sobre todas as colinas o cântico das mensagens de Boa Nova de Cristo vencedor da morte (cf. Is 52,7)! Ao confiar as esperanças e os sofrimentos do povo ruandês à intercessão da Rainha dos Apóstolos, concedo-vos uma afectuosa Bênção Apostólica, que faço extensiva de bom grado aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos catequistas e a todos os fiéis das vossas dioceses.




DURANTE O ENCONTRO COM OS SUPERIORES E OS OFICIAIS DA SECRETARIA DE ESTADO Sábado, 21 de Maio de 2005

Eminência
Excelências
21 Caros Colaboradores e Colaboradoras

Vim sem um discurso escrito, mas tendo no coração sentimentos de profunda gratidão e também a intenção de aprender. Gradualmente, aprendo algo sobre a estrutura da Secretaria de Estado e sobretudo todos os dias chega uma quantidade de documentação, de trabalho que se faz nesta Secretaria de Estado. Assim, da multiplicidade, da densidade e também da competência que se esconde nestes trabalhos, posso ver quanto se realiza aqui, nestes escritórios. Embora normalmente não possamos viver a vida dos anjos refiro-me às palavras expressivas do Cardeal Secretário de Estado mas sobretudo a vida dos "peixes", dos homens, todavia é precisamente assim que cumprimos o nosso dever. Se pensamos nas grandes administrações internacionais, por exemplo na administração europeia, da qual D. Lajolo me deu a conhecer o número de funcionários, numericamente nós somos de facto muito reduzidos. E é uma grande honra para a Santa Sé o facto de que um número tão exíguo de pessoas realize um trabalho tão grande para a Igreja universal. Este trabalho ingente, levado a cabo por um número não elevado de pessoas, demonstra a assiduidade com que realmente se trabalha. À competência e à profissionalidade do trabalho que aqui se realiza, acrescenta-se também um aspecto especial, uma profissionalidade particular: o amor a Cristo, à Igreja e às almas faz parte da nossa profissionalidade. Nós não trabalhamos como muitos falam do trabalho para defender um poder. Não dispomos de um poder mundano, secular.

Não trabalhamos pelo prestígio, não trabalhamos para fazer crescer uma empresa ou algo de semelhante. Nós trabalhamos realmente para que os caminhos do mundo se abram a Cristo. Em última análise, todo o nosso trabalho, com todas as suas ramificações, serve precisamente para que o Evangelho, e assim o júbilo da Redenção, possam chegar ao mundo. Neste sentido, também nos pequenos trabalhos de todos os dias, aparentemente pouco gloriosos, nós tornamo-nos como o Cardeal Sodano disse na medida do possível, colaboradores da Verdade, ou seja, de Cristo, no seu actuar no mundo, a fim de que o mundo se torne realmente o Reino de Deus.

Portanto, posso apenas manifestar a minha grande gratidão. Em conjunto, realizamos o serviço que é próprio do Sucessor de Pedro, o "serviço petrino": confirmar os irmãos na fé.




AO SENHOR GEORGI PARVANOV, PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA BULGÁRIA Segunda-feira, 23 de Maio de 2005


Senhor Presidente
Minhas Senhoras e meus Senhores!

Sinto-me feliz em receber-vos por ocasião da vossa tradicional homenagem ao túmulo de São Cirilo e agradeço-vos cordialmente. Agradeço, Excelência, as amáveis palavras que houve por bem dirigir-me. O nosso encontro realça o vínculo milenar de estima e de proximidade espiritual que sempre uniu os Pontífices romanos ao nobre povo que Vossa Excelência representa. É grande o afecto que a Sé Apostólica sente pelo povo búlgaro. Do Papa Clemente I, de venerada memória, até hoje, os Bispos de Roma mantiveram constantemente um diálogo fecundo com os habitantes da antiga Trácia. A sua visita no dia de hoje, Senhor Presidente, é muito significativa porque está motivada pela recordação destes dois santos Cirilo e Metódio, co-padroeiros da Europa, que forjaram numa perspectiva cristã os valores humanos e culturais dos Búlgaros e de outras nações eslavas. Podemos dizer igualmente que, pela sua acção evangelizadora, a Europa foi formada, esta Europa da qual a Bulgária se sente parte integrante. A Bulgária sabe que tem em relação aos outros povos um dever particular, ou seja, o de ser uma das pontes entre o Ocidente e o Oriente. Ao dirigir-me a Vossa Excelência, desejo expressar o meu encorajamento a todos os seus concidadãos, para que prossigam com confiança esta missão política e social específica.

O encontro do Primeiro Magistrado da Bulgária com o Sucessor de Pedro, três anos depois da visita à Bulgária do meu amado predecessor, o Papa João Paulo II, constitui uma nova confirmação das boas relações que existem entre a Santa Sé e a nação que Vossa Excelência representa. Como não agradecer à Providência Divina esta capacidade reencontrada de diálogo amistoso e construtivo, depois do longo e difícil período do regime comunista? Os contactos entre o seu país e a Santa Sé conheceram no século passado momentos altamente significativos. Penso, por exemplo, no afecto que o Delegado Apostólico da época, Angelo Roncalli, o futuro Papa João XXIII, não se cansava de testemunhar aos habitantes da Bulgária.

Senhor Presidente, não posso deixar de mencionar neste momento a proximidade que a Bulgária mostrou em relação à Sé Apostólica durante os últimos dois meses. Vossa Excelência, o Governo, o Parlamento e tantos dos seus concidadãos quiseram manifestar à Igreja Católica os seus sentimentos sinceros, por ocasião da morte de João Paulo II e da minha eleição como seu sucessor. Recordo-me também dos rostos e da cordialidade dos Representantes da venerável Igreja ortodoxa da Bulgária, desejosa de reavivar o diálogo da caridade na verdade. Peço-lhe que se faça intérprete dos meus sentimentos de gratidão junto deles, em particular junto do venerado Patriarca búlgaro, Sua Santidade Maxime. Temos diante de nós um dever comum: estamos chamados a construir juntos uma humanidade mais livre, mais pacífica e mais solidária. Nesta perspectiva, desejo formular votos fervorosos de que a sua nação saiba promover continuamente na Europa os valores culturais e espirituais que constituem a sua identidade. Neste espírito, garanto-lhe as minhas orações e, pela materna intercessão da Virgem Maria, invoco a abundância das Bênçãos divinas para a sua pessoa, para quantos o acompanham e para todo o povo da bonita terra da Bulgária.





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