Discursos Bento XVI 28

À COMISSÃO JUDAICA INTERNACIONAL PARA AS CONSULTAS INTER-RELIGIOSAS Quinta-feira, 9 de Junho de 2005


Ilustres hóspedes
Queridos amigos

É-me grato dar as boas-vindas ao Vaticano, à Delegação da Comissão Judaica Internacional para as Consultas Inter-Religiosas.

O nosso encontro realiza-se durante o corrente ano, em que se recorda o quadragésimo aniversário da Declaração Nostra aetate, do Concílio Vaticano II, cujo ensinamento serviu, desde então, como fundamento para as relações da Igreja com o povo judaico. O Concílio confirmou a convicção que a Igreja tem de que, no mistério da eleição divina, os primórdios da sua fé devem ser encontrados já em Abraão, em Moisés e nos Profetas. Tendo como fundamento este património espiritual e o ensinamento contido no Evangelho, ele exortava a uma maior compreensão e estima recíprocas entre os cristãos e os judeus, deplorando assim todas as manifestações de ódio, de perseguição e de anti-semitismo (cf. Nostra aetate NAE 4). No início do meu Pontificado, desejo assegurar-vos que a Igreja permanece solidamente comprometida, tanto na sua catequese como em cada um dos aspectos da sua vida, na realização deste ensinamento decisivo.

Nos anos que se seguiram ao Concílio, os meus predecessores Paulo VI e, de maneira particular, João Paulo II, deram passos significativos em ordem a melhorar as relações com o povo judaico.

29 Tenho a intenção de continuar a percorrer este caminho. A história das relações entre as nossas duas comunidades tem sido complexa e muitas vezes dolorosa, mas estou persuadido de que o "património espiritual", valorizado pelos cristãos e pelos judeus, constitui em si mesmo uma fonte de sabedoria e de inspiração, capaz de nos orientar para "um futuro de esperança" (Jr 29,11). Ao mesmo tempo, a recordação do passado continua a ser, para ambas as comunidades, um imperativo moral e um manancial de purificação nos nossos esforços em vista de rezar e de trabalhar em benefício da reconciliação, da justiça, do respeito pela dignidade humana e daquela paz que, em última análise, constitui uma dádiva do Senhor. Pela sua própria natureza, este imperativo deve incluir uma reflexão permanente acerca das problemáticas históricas, morais e teológicas, levantadas pela experiência do Shoah.

Durante os últimos trinta e cinco anos, a Comissão Judaica Internacional para as Consultas Inter-Religiosas encontrou-se dezoito vezes com as Delegações da Comissão da Santa Sé para as Relações Religiosas com o Judaísmo, incluindo o encontro mais recente, realizado em Buenos Aires no mês de Julho de 2004, dedicado ao tema "Justiça e Caridade". Dou graças ao Senhor pelo progresso que tem sido alcançado ao longo destes anos, enquanto vos encorajo a perseverar na vossa importante obra, lançando os fundamentos para um diálogo contínuo e para a edificação de um mundo reconciliado, um mundo cada vez mais em harmonia com a vontade do Criador.

Sobre todos vós e sobre os vossos entes queridos, invoco cordialmente as bênçãos divinas da sabedoria, da fortaleza e da paz.




AOS BISPOS DA ÁFRICA DO SUL, BOTSUANA, SUAZILÂNDIA, NAMÍBIA E LESOTO EM VISITA « AD LIMINA APOSTOLORUM » Sexta-feira, 10 de Junho de 2005


Queridos Irmãos Bispos

1. "Vede como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos!" (Ps 133 [132], 1). É neste espírito de harmonia que vos dou as boas-vindas, com alegria e afecto, Bispos da África do Sul, Botsuana, Suazilândia, Namíbia e Lesoto. Através de vós, faço extensivas as minhas calorosas saudações ao clero, aos religiosos e aos leigos nos vossos países. Neste ano dedicado à Eucaristia, tivestes a bênção de realizar a vossa solene visita ad limina Apostolorum. "A Eucaristia, coração da vida cristã e fonte da missão evangelizadora da Igreja, não pode deixar de constituir o centro permanente e a fonte do serviço petrino" (Mensagem na "Missa Pro Ecclesia", 20 de Abril de 2005, n. 4). Por conseguinte, ela deve estar sempre no coração do vosso ministério episcopal, e há-de constituir uma inspiração para aqueles que vos assistem no vosso sagrado ofício.

2. A comunhão com Cristo é a fonte infalível de cada um dos elementos da vida eclesial "em primeiro lugar, a comunhão entre todos os fiéis, o compromisso de anúncio e o testemunho do Evangelho, o fervor da caridade para com todos, especialmente para com os mais pobres e pequeninos" (Ibidem). Nas vossas regiões, os católicos constituem uma minoria. Este facto apresenta muitos desafios, que exigem a dedicação da parte da Igreja, em vista de cuidar do rebanho de maneira efectiva e, ao mesmo tempo, de permanecer fiel ao seu compromisso missionário. Por este motivo, é fundamental que os Bispos promovam o trabalho prioritário da catequese, a fim de assegurar que o povo de Deus seja verdadeiramente preparado para dar testemunho, com a palavra e a acção, do autêntico ensinamento do Evangelho. Enquanto olho para a Igreja que está na África, bem como para tudo aquilo que ali se realizou ao longo do século passado, dou graças ao nosso Pai celestial pelos numerosos sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e leigas, que deram a sua vida por esta nobre tarefa. Os Bispos têm a particular responsabilidade de garantir que estes "evangelizadores insubstituíveis" recebam a necessária preparação espiritual, doutrinal e moral (cf. Ecclesia in Africa ).

3. Não obstante a vossa região ainda tenha necessidade de mais sacerdotes, não podemos deixar de dar graças a Deus pelo elevado número de vocações ao sacerdócio, que actualmente estais a experimentar na África subsariana. Como Pastores do rebanho de Cristo, tendes a grave responsabilidade de ajudá-los a tornar-se homens da Eucaristia. Os presbíteros são chamados a deixar tudo para serem ainda mais devotos ao Santíssimo Sacramento, orientando os homens e as mulheres para este mistério e para a paz que ele suscita (cf. Homilia no Domingo de Pentecostes, 2005). Por conseguinte, encorajo-vos nos vossos esforços permanentes em vista de seleccionar de forma consciente os candidatos ao sacerdócio. Analogamente, estes jovens devem ser formados com grande solicitude, a fim de garantir que adquiram uma preparação para os numerosos desafios a enfrentar, ajudando-os a manifestar com a palavra e a acção, a paz e a alegria de nosso Senhor e Salvador. O mundo, repleto de tentações, tem necessidade de sacerdotes que sejam totalmente dedicados à sua missão. De igual modo, pede-se-lhes de maneira muito especial que se abram completamente ao serviço do próximo, como fez Cristo, abraçando o dom do celibato. Os Bispos deveriam assisti-los, assegurando que esta dádiva jamais se torne um fardo, mas seja sempre vivificadora. Um dos modos de fazer com que isto se realize, consiste em reunir os ministros da palavra e do sacramento, para que possam receber uma formação permanente e participar nos retiros e nos dias de recolhimento.

4. A vida familiar constituiu sempre uma característica unificadora da sociedade africana. Com efeito, é no seio da "igreja doméstica", "construída sobre as sólidas bases culturais e os ricos valores da tradição familiar africana", que as crianças recebem os rudimentos acerca da centralidade da Eucaristia na vida cristã (Ecclesia in Africa ). Causa grande preocupação o facto de que o tecido da vida africana a sua própria fonte de esperança e de estabilidade seja ameaçado pelo divórcio, o aborto, a prostituição, o tráfico humano e uma certa mentalidade contraceptiva, que contribuem para uma crise na moral sexual. Estimados Bispos, compartilho a vossa profunda solicitude pela devastação que está a ser causada pela Sida e pelas enfermidades com ela relacionadas. Rezo de maneira particular pelas viúvas, os órfãos, as jovens mães e todas as pessoas cujas vidas foram abaladas por esta epidemia tão cruel. Exorto-vos a dar continuidade aos vossos esforços, em vista de combater este vírus que não só mata, mas ameaça seriamente a estabilidade económica e social do Continente. A Igreja Católica ocupou sempre um lugar de vanguarda, tanto na prevenção como no tratamento desta doença. O ensinamento tradicional da Igreja provou que constitui o único caminho seguro para impedir a propagação do Vih/Sida. Por este motivo, "a amizade, a alegria, a felicidade e a paz que o matrimónio cristão e a fidelidade proporcionam, bem como a segurança que a castidade oferece, devem ser apresentados de maneira contínua aos fiéis, particularmente aos jovens" (Ecclesia in Africa ).

5. Estimados Irmãos, enquanto continuamos a celebrar este ano, dedicado à sagrada Eucaristia, rezo a fim de que sejais sustentados pela promessa do Senhor "Eu estarei sempre convosco" (Mt 28,20). Que o vosso testemunho de homens repletos de esperança eucarística contribua para fazer com que os vossos respectivos rebanhos consigam apreciar este Mistério de maneira cada vez mais profunda. A cada um de vós, bem como a todas as pessoas que se encontram sob o vosso cuidado pastoral, concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica.




AO SENHOR GEOFFREY KENYON WARD NOVO EMBAIXADOR DA NOVA ZELÂNDIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 16 de Junho de 2005


Excelência

30 É-me grato dar-lhe as boas-vindas hoje e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Nova Zelândia junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis palavras de saudação e peço-lhe que transmita ao Governo e ao povo da Nova Zelândia os meus sinceros bons votos e a certeza das minhas orações pelo bem-estar da nação.

Sei que a população do seu país está muito consciente do dever de promover a paz e a solidariedade no nosso mundo. No ano passado o seu Primeiro-Ministro, acompanhado de um grupo de veteranos, visitou o histórico lugar de Monte Cassino para honrar os inúmeros jovens que, corajosamente, sacrificaram a sua vida para defender os valores universais fundamentais, que então estavam a ser ameaçados por falsas ideologias nacionalistas. Ainda hoje, esta disponibilidade para proteger e promover os valores da justiça e da paz, que transcendem as fronteiras culturais ou nacionais, constitui uma característica reconhecida e louvável do seu povo. Expressões tangíveis disto podem ser encontradas na participação da sua nação nos projectos de assistência e nas operações de manutenção da paz, que vão desde as Ilhas Salomão até ao Afeganistão e ao Médio Oriente, assim como na vontade de fomentar as causas do desenvolvimento sustentável e da salvaguarda do meio ambiente. No seu plano mais significativo, esta generosidade evidencia o reconhecimento da natureza essencial da vida humana como um dom, e do nosso mundo como uma família de pessoas.

O desejo de promover o bem comum fundamenta-se na convicção de que o homem vem ao mundo como dom do Criador. É de Deus que todos os homens e mulheres criados à sua imagem recebem a sua dignidade comum inviolável e o seu chamamento à responsabilidade. Hoje, quando se esquecem com frequência da sua origem e, deste modo, perdem de vista a sua finalidade, os indivíduos tornam-se facilmente vítimas de tendências sociais excêntricas, do desvirtuamento da razão e de um individualismo exacerbado. Perante esta "crise de significado" (cf. Carta Encíclica Fides et ratio
FR 81), as autoridades civis e religiosas são chamadas a trabalhar em conjunto, encorajando todos, inclusive os jovens, a "dirigir os seus passos rumo a uma verdade que os transcende" (cf. ibid., FR 5). Afastados da verdade universal, que constitui a única garantia da liberdade e da felicidade, os indivíduos permanecem à mercê dos caprichos e, lentamente, perdem a capacidade de descobrir o significado da vida humana, que é profundamente gratificante.

Segundo a tradição, os neozelandeses têm reconhecido e celebrado o lugar do matrimónio e da vida doméstica estável no coração da sua sociedade e, com efeito, continuam a esperar que as forças sociais e políticas assistam as famílias e salvaguardem a dignidade das mulheres, especialmente das mais vulneráveis. Eles estão convictos de que os desvios seculares do matrimónio nunca podem ofuscar o esplendor de uma aliança vital fundamentada sobre a entrega generosa e o amor incondicional. A razão recta diz-lhes que "o futuro da humanidade passa pela família" (Exortação Apostólica Familiaris consortio FC 86), que oferece à sociedade um fundamento seguro para as suas aspirações. Por conseguinte, mediante o Senhor Embaixador encorajo a população de Aotearoa a continuar a enfrentar o desafio de forjar um estilo de vida, tanto individualmente como a nível comunitário, em relação ao planode Deus para toda a humanidade.

O inquietador processo de secularização está a verificar-se em numerosas partes do mundo. Quando os fundamentos cristãos da sociedade correm o risco de ser esquecidos, a tarefa de preservar a dimensão transcendente, presente em todas as culturas, e de fortalecer o exercício genuíno da liberdade individual, contra o relativismo, torna-se cada vez mais difícil. Esta situação exige, tanto da parte da Igreja como dos líderes civis, a certeza de que a questão da moral seja amplamente debatida no foro público.

A este propósito, hoje em dia existe uma grande necessidade de recuperar a visão da relação recíproca entre a lei civil e a lei moral que, não obstante seja proposta pela tradição cristã, faz contudo parte do património das grandes tradições jurídicas da humanidade (cf. Carta Encíclica Evangelium vitae EV 71). Somente desta forma podem as múltiplas reivindicações a certos "direitos" ser vinculadas à verdade, e a natureza da liberdade autêntica ser compreendida correctamente, em relação àquela verdade que define os seus limites e revela as suas finalidades.

Por sua vez, a Igreja Católica que está na Nova Zelândia continua a fazer tudo o que pode em vista de fomentar os fundamentos cristãos da vida civil. Ela está profundamente comprometida na formação espiritual e intelectual dos jovens, de maneira especial através das suas escolas. Além disso, o seu apostolado caritativo inclui as pessoas que são marginalizadas pela sociedade, e estou persuadido de que, mediante a sua missão de serviço, ela há-de enfrentar com generosidade os novos desafios sociais, na medida em que os mesmos surgirem.

Excelência, sei que a sua nomeação contribuirá para fortalecer ulteriormente os vínculos de amizade que já existem entre a Nova Zelândia e a Santa Sé. No momento em que assume as suas novas responsabilidades, asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estão prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, os membros da sua família e os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO SENHOR ELCHIN OKTYABR OGLU AMIRBAYOV PRIMEIRO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO AZERBAIJÃO JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 16 de Junho de 2005

Excelência

É com particular prazer que lhe dou as boas-vindas ao Vaticano, como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Azerbaijão junto da Santa Sé. Por ocasião desta feliz circunstância, pedir-lhe-ia cordialmente que trasmitisse as minhas sinceras saudações a Sua Excelência o Senhor Presidente Aliev, bem como ao Governo e ao povo da vossa nobre terra. Assegurai-lhes a minha gratidão pelos seus bons votos e as minhas preces pela paz e o bem-estar da sua nação.

31 As relações diplomáticas da Igreja constituem uma parte da sua missão de serviço à comunidade internacional. O seu compromisso em prol da sociedade civil está alicerçado na convicção de que a tarefa de construção de um mundo mais justo há-de reconhecer e ter em consideração a vocação sobrenatural do homem. Por conseguinte, a Santa Sé esforça-se por promover uma compreensão da pessoa humana, que "recebe de Deus a sua dignidade essencial e, com ela, a capacidade de transcender todo o regime da sociedade, rumo à verdade e ao bem" (Carta Encíclica Centesimus annus CA 38). A partir deste fundamento, a Igreja fomenta os valores universais que salvaguardam a dignidade de cada pessoa e servem o bem comum da vasta gama de culturas e de nações que formam o nosso mundo.

O povo do Azerbaijão sabe muito bem que, se a dimensão espiritual das pessoas for reprimida ou até mesmo negada, a alma da nação será aniquilada. Durante a trágica época da intimidação, na história da Europa do Leste, quando prevalecia a supremacia da força, as comunidades de credo monoteísta, presentes no seu país durante séculos, conservaram a esperança na justiça e na liberdade, num futuro em que prevalecesse a supremacia da verdade. Hoje, elas voltam a apresentar esta mesma proposta. Efectivamente, quando o meu amado predecessor, o Papa João Paulo II, se encontrou no passado mês de Novembro com os Chefes religiosos do Azerbaijão, em representação das comunidades muçulmanas, russo-ortodoxas e hebraicas, ele recordou que tal reunião constituía para o mundo um símbolo do modo como a tolerância entre as comunidades de fé prepara o caminho para um desenvolvimento humano, civil e social mais vasto, num contexto de maior solidariedade.

Enquanto o Azerbaijão continua a empenhar-se na delicada tarefa de forjar a sua índole nacional, é para as comunidades de fé que as autoridades políticas e civis devem voltar-se, em ordem a um compromisso firme na formação da ordem social, em conformidade com o bem comum. Este compromisso exige que a liberdade religiosa, que preserva a singularidade de cada uma das comunidades de fé, seja sancionada como direito civil fundamental e salvaguardada por um vigoroso sistema de normas jurídicas que respeitem as leis e os deveres próprios das comunidades religiosas (cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae DH 2). Este apoio concreto à liberdade religiosa, por parte dos líderes políticos, torna-se um instrumento seguro para o autêntico progresso social e para a paz. A este propósito, reconheço com gratidão o papel do Senhor Presidente Aliev e do seu Governo, tanto na promoção da reconstrução da Igreja Católica em Baku, como também na fundação de um centro para as pessoas necessitadas.

Senhor Embaixador, o sólido desenvolvimento económico é uma antiga aspiração de todos os cidadãos azerbaijanos. Além disso, ele constitui um direito que contém em si mesmo o dever correspondente de contribuir, segundo as próprias capacidades, para o autêntico progresso da comunidade. A prioridade da promoção dos projectos sociais e comerciais, capazes de formar uma sociedade mais equitativa, representa um difícil mas estimulador desafio para todos aqueles que regulam e trabalham no sector dos negócios.

O seu país já deu vários passos em vista de assegurar os direitos fundamentais aos seus cidadãos e de promover a prática da democracia. Contudo, ainda há muito a alcançar. Somente no respeito da dignidade inviolável da pessoa humana e na promoção das correspondentes liberdades individuais, a sociedade civil pode ser edificada de maneira a contribuir para a prosperidade de todos os seus cidadãos. Tenha a certeza de que a comunidade da Igreja Católica, embora numericamente exígua no Azerbaijão, há-de continuar, por sua vez, a contribuir de forma altruísta para a promoção da justiça e a salvaguarda dos pobres.

Excelência, estou persuadido de que a missão diplomática que o Senhor Embaixador começa hoje fortalecerá ulteriormente as fecundas relações já existentes entre a Santa Sé e o seu país. Pode estar certo de que os diversos departamentos da Cúria Romana estão prontos para o ajudar a cumprir as suas incumbências. Com sinceros bons votos, invoco sobre Vossa Excelência e todo o povo do Azerbaijão, as abundantes bênçãos divinas.




AO SENHOR AL HADJ ABOUBACAR DIONE NOVO EMBAIXADOR DA GUINÉ JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 16 de Junho de 2005


Senhor Embaixador!

Sinto-me feliz por dar as boas-vindas a Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República da Guiné junto da Santa Sé. Sensibilizado pelas palavras gentis que me dirigiu recordando o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II, agradeço-lhe os votos cordiais que me transmite da parte de Sua Excelência o General Lansana Conté, Presidente da República, assim como do Governo e do povo da Guiné. Peço-lhe a amabilidade de retribuir a Sua Excelência o Presidente da República os meus votos de bem-estar e de prosperidade que formulo pela sua pessoa e por todos os guineenses.

Vossa Excelência, Senhor Embaixador, comunicou-me a afeição do seu país aos ideais de paz e de fraternidade, particularmente entre os povos da sua região, que sofreram tantas provas ao longo dos últimos anos. De facto, só através de um diálogo confiante é que as tensões e os conflitos podem ser eliminados, em benefício do bem-estar de todos. Para responder definitivamente às aspirações dos povos pela paz verdadeira, dom que nos vem de Deus, temos também o dever de nos comprometermos na sua construção sobre fundamentos sólidos, como a verdade, a justiça e a solidariedade.

Entre as consequências da violência que a sua região conhece, assistimos infelizmente ao aumento do drama das populações deslocadas, que causam situações de urgência humanitária. O seu país respondeu generosamente à situação, oferecendo sobretudo hospitalidade a um grande número de refugiados, muitas vezes com grandes sacrifícios. É antes de tudo ao drama de homens e mulheres que é necessário aliviar os sofrimentos e aos quais é necessário dar esperança. Mas são as causas destes dramas que é preciso erradicar, pois é a dignidade humana de seres que Deus criou que está gravemente ameaçada. Faço votos por que os Governos das nações não esqueçam os refugiados que, em numerosos países da África, aguardam com impaciência que seja dedicada atenção ao seu destino e que a comunidade internacional se comprometa com firme determinação em benefício da paz e da justiça.

32 O restabelecimento da paz começa no interior de cada país, mediante a busca de relacionamentos de amizade e de colaboração entre as diferentes comunidades étnicas, culturais e religiosas. A fé autêntica não pode gerar a violência, mas ao contrário, deve favorecer a paz e o amor. Apesar das dificuldades, a Igreja católica comprometeu-se a prosseguir os seus esforços para encorajar a compreensão e o respeito entre os crentes das diferentes tradições religiosas. Por conseguinte, alegro-me por saber que na Guiné Cristãos e Muçulmanos trabalham juntos para o bem comum da sociedade. Desenvolvendo relacionamentos de confiança, no respeito dos direitos legítimos de cada comunidade, os crentes, juntamente com todos os homens de boa vontade, contribuem para edificar uma sociedade livre de qualquer forma de degradação moral e social, a fim de que todos possam viver na dignidade e na solidariedade.

Por seu intermédio, Senhor Embaixador, gostaria de saudar com afecto os fiéis católicos da Guiné, bem como os seus Bispos. Encorajo-os de coração a caminhar generosamente pelas vias da paz e da fraternidade com todos os seus compatriotas. Fortalecidos pela assistência do Espírito de Deus, que eles sejam para o povo sinais de esperança e testemunhas fervorosas de amor do Senhor!

No momento em que Vossa Excelência inicia a sua missão junto da Sé Apostólica, faço-lhe os meus melhores votos para a nobre tarefa que o espera. Junto dos meus colaboradores Vossa Excelência encontrará sempre o acolhimento atento e a compreensão cordial de que poderá ter necessidade.

Invoco de coração sobre Vossa Excelência, sobre os seus colaboradores, a sua família, o povo guineense e sobre os seus dirigentes, a abundância das Bênçãos divinas.




AO SENHOR DAVID DOUGLAS HAMADZIRIPI NOVO EMBAIXADOR DO ZIMBÁBUE JUNTO DA SANTA SÉ CREDENCIAIS

16605
16 de Junho de 2005


Excelência

No momento em que aceito as Cartas que o credenciam como Embaixador e Ministro Plenipotenciário da República do Zimbábue, dou-lhe as calorosas boas-vindas ao Vaticano. Peço-lhe que tenha a amabilidade de transmitir ao Senhor Presidente Mugabe as minhas saudações e os meus sinceros bons votos pela sua nação e pelo seu povo.

Com as eleições de 31 de Março de 2005, o Zimbábue deu um renovado impulso à abordagem das graves problemáticas sociais, que atingiram a nação nos últimos anos. Formulo votos ardentes a fim de que as eleições não só contribuam para as imediatas finalidades da pacificação e da retomada económica, mas levem também à reconstrução moral da sociedade e e à consolidação de uma ordem democrática, comprometida na promoção de políticas orientadas por uma preocupação autêntica pelo bem comum e pelo desenvolvimento integral de cada um dos indivíduos e de todos os grupos sociais. Neste momento importante na história do seu país, há que manifestar uma particular solicitude pelos pobres, pelas pessoas que não gozam dos seus direitos civis e pelos jovens, que são as principais vítimas da instabilidade política e económica e que exigem reformas genuínas, destinadas a corresponder às suas necessidades elementares e a abrir-lhes um futuro de esperança. O grande desafio da reconciliação nacional exige também que não apenas as injustiças do passado sejam reconhecidas e resolvidas, mas que no futuro se promovam todos os esforços em vista de agir com justiça e respeito pela dignidade e pelos direitos dos outros.

A este propósito, não posso deixar de corroborar as observações feitas pelos Bispos do Zimbábue, na véspera das recentes eleições, acerca da urgente necessidade de "uma liderança responsável e confiável", caracterizada por verdade, espírito de serviço aos demais, gestão honesta dos bens públicos, compromisso em favor da regra da lei e promoção do direito e do dever que todos os cidadãos têm de participar na vida da sociedade. A nobre finalidade de alcançar o bem comum através de uma vida social bem ordenada só pode ser atingida, se os líderes políticos procurarem garantir o bem dos indivíduos e dos grupos, num espírito de integridade e de justiça. Quando considerava o papel futuro da África no seio da comunidade internacional, o meu predecessor, o Papa João Paulo II insistia que "só surgirá um mundo melhor, se for construído sobre os alicerces sólidos de sãos princípios éticos e espirituais" (Ecclesia in Africa ).

Aprecio a amável referência de Vossa Excelência ao apostolado religioso, educativo e caritativo da Igreja no seu país, e asseguro-lhe o desejo que os católicos da sua nação têm de promover as aspirações legítimas da população do Zimbábue. Através da sua rede de instituições educativas, de hospitais, de dispensários e de orfanatos, a Igreja permanece ao serviço de todas as religiões. Ela procura oferecer uma contribuição específica para o futuro da nação, educando as pessoas nas actividades práticas e nos valores espirituais, que servirão como fundamento para a sua renovação social. Por sua vez, a Igreja só requer a liberdade de cumprir a sua própria missão, que fomenta a vinda do Reino de Deus através do seu testemunho profético do Evangelho e da promoção do seu magistério moral. Deste modo, a Igreja trabalha em prol da edificação de uma sociedade harmoniosa e justa enquanto, ao mesmo tempo, respeita e encoraja a liberdade e a responsabilidade dos cidadãos, na participação no processo político e na busca do bem comum.

No momento em que Vossa Excelência assume a sua missão de representante da República do Zimbábue junto da Santa Sé, formulo os meus votos pelo bom êxito do seu trabalho. Tenha a certeza de que poderá contar sempre com os departamentos da Cúria Romana, que hão-de ajudá-lo no cumprimento das suas altas responsabilidades. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os seus compatriotas, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO SENHOR JEAN-FRANÇOIS KAMMER NOVO EMBAIXADOR DA CONFEDERAÇÃO SUÍÇA JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

33
16 de Junho de 2005


Senhor Embaixador!

Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência, por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Confederação Suíça junto da Santa Sé e agradeço-lhe as suas amáveis palavras. Ficar-lhe-ia grato se se dignar transmitir a Sua Excelência o Presidente da Confederação Suíça e ao Conselho Federal, os meus agradecimentos pelas saudações gentis, e expressar-lhe em troca os meus votos cordiais para todos os habitantes da Suíça.

Não posso deixar de recordar, no início do nosso encontro, a visita do meu predecessor, o Papa João Paulo II, ao seu país, e o seu encontro memorável com os jovens, sinal de esperança para todos os católicos da Suíça! Ao mesmo tempo, alegro-me pelas cordiais relações diplomáticas que existem entre o seu país e a Santa Sé. Congratulo-me ao mesmo tempo pelo diálogo aberto entre os representantes da Confederação Suíça e os Bispos do País para encontrar soluções satisfatórias, a nível de federação ou de cantão, para as eventuais dificuldades que poderiam subsistir nos relacionamentos recíprocos.

Como a maior parte dos países da Europa ocidental, a sociedade suíça conheceu uma evolução considerável nos costumes e, sob a pressão conjugada dos progressos técnicos e da vontade de uma parte da opinião pública, as novas leis foram propostas em vários campos concernentes ao respeito da vida e à família. Isto diz respeito às questões delicadas da transmissão da vida, da doença e do fim da vida, e também ao lugar que a família ocupa e ao respeito do matrimónio.

Sobre todas estas questões relativas aos valores fundamentais, a Igreja católica expressou-se claramente mediante a voz dos seus Pastores, o que continuará a fazer, sempre que for necessário, a fim de recordar incessantemente a grandeza inalienável da dignidade humana, que exige o respeito dos direitos humanos e, primeiro de todos, do direito à vida.

Gostaria de encorajar a sociedade suíça a permanecer aberta ao mundo que a circunda, a fim de preservar o seu lugar no mundo e na Europa, e também para colocar os seus talentos ao serviço da comunidade humana, sobretudo dos países mais pobres que, sem esta ajuda, não se poderão desenvolver. De igual modo, faço votos por que o seu país continue a estar aberto a quantos nele se estabelecem para procurar trabalho ou protecção, convicto de que o acolhimento do próximo constitui também a sua riqueza. No mundo, onde ainda se desencadeiam numerosos conflitos, é fundamental que o diálogo entre as culturas não diga respeito apenas aos dirigentes das nações, mas que seja posto em prática por todos, nas famílias, nos lugares da educação, no mundo do trabalho e nos relacionamentos sociais, a fim de construir uma verdadeira cultura de paz.

Excelência, permita que eu saúde por seu intermédio os Pastores e os fiéis da Igreja católica que vive na Suíça. Sei que eles têm a preocupação de preservar o vínculo vital da comunhão com o Sucessor de Pedro e por viver em harmonia com os seus irmãos cristãos de outras tradições.

Como Vossa Excelência realçou, os seus jovens compatriotas da Guarda Suíça Pontifícia realçam este vínculo entre a Suíça e a Santa Sé, dando testemunhodeumgrandesentido de serviço.

Senhor Embaixador, receba, no momento em que inicia a sua missão os meus melhores votos, com a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores acolhimento e compreensão.

Invoco sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, os seus colaboradores e sobre todo o povo suíço a abundância das Bênçãos de Deus.




AO SENHOR ANTÓNIO GANADO NOVO EMBAIXADOR DE MALTA JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


34
16 de Junho de 2005



Senhor Embaixador!

Tenho a alegria de o receber nesta fase inicial do meu serviço à Igreja na Cátedra de Pedro: seja bem-vindo! Vossa Excelência apresenta-me hoje as Cartas com as quais o Presidente da República de Malta o acredita como Embaixador Plenipotenciário e Extraordinário junto da Santa Sé. Ao recebê-lo, dirijo um pensamento de gratidão ao Senhor Presidente da República pelas gentis palavras que, por seu intermédio, me dirigiu e que testemunham quanto seja firme o vínculo que une, desde os tempos de São Paulo apóstolo, a Comunidade de Malta à Igreja de Roma.

Senhor Embaixador, tenha a amabilidade de transmitir ao Senhor Presidente e à sua família a expressão dos meus sentimentos de amizade e de proximidade espiritual, juntamente com fervorosos bons votos para toda a Nação.

Sinto-me próximo do Povo maltês, que nos séculos manifestou sempre uma adesão particular ao Sucessor de Pedro, Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal. Senhor Embaixador, conheço bem a fidelidade ao Evangelho e à Igreja que distingue os cristãos do País que Vossa Excelência aqui representa. Coerentes com as suas raízes cristãs, eles sentem a importância da sua missão também nesta fase delicada da história europeia e mundial. O Povo maltês sabe que faz parte integrante do grande espaço chamado Europa e, pondo-se em sintonia com as nobres tradições espirituais e culturais que sempre o caracterizaram ao longo dos séculos, deseja comprometer-se para que a Comunidade europeia do terceiro milénio não perca o património de valores culturais e religiosos do seu passado. De facto, é unicamente sob estas condições que se poderá construir com esperança firme um futuro de solidariedade e de paz.

Deve ser compromisso de todos os povos que dela fazem parte, dar vida a uma Europa unida e solidária. Com efeito, a Europa deve saber conjugar os interesses legítimos de cada nação com as exigências do bem comum de todo o Continente. Senhor Embaixador, estou-lhe reconhecido por ter expresso a vontade renovada do seu País de ser protagonista nesta nova fase histórica do Continente, contribuindo para consolidar as capacidades de diálogo, de defesa e de promoção da família fundada no matrimónio, nas tradições cristãs, na abertura e no encontro com culturas e religiões diversas.

Senhor Embaixador, estas são algumas das reflexões que vêm espontâneas ao meu coração neste nosso primeiro encontro. Garanto-lhe a disponibilidade total e sincera da parte dos meus Colaboradores para manter com Vossa Excelência um diálogo construtivo, para que cumpra da melhor forma a nobre missão que lhe foi confiada. Por fim, permita que lhe renove a expressão da minha grande consideração em relação aos cidadãos de Malta, um País muito querido tanto aos meus venerados Predecessores como a mim. Para o bem-estar de toda a população, formulo de coração fervorosos bons votos, que acompanho com uma especial Bênção Apostólica, corroborada pela oração por Vossa Excelência, pelas Autoridades, pelas pessoas que lhe são queridas e por todos os cidadãos da sua ilustre Nação.






Discursos Bento XVI 28