Discursos Bento XVI 42

AOS MEMBROS DA FAMÍLIA ORIONITA POR OCASIÃO DA "FESTA DO PAPA" 28 de Junho de 2005


Prezados Irmãos e Irmãs

É com grande prazer que me encontro convosco, na véspera da solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo; saúdo-vos a todos cordialmente. Obrigado pela vossa presença. Em primeiro lugar, dirijo a minha saudação aos Senhores Cardeais, aos Bispos, aos sacerdotes, às autoridades e às várias personalidades aqui presentes. Saúdo em particular o Pe. Flávio Peloso, que durante alguns anos trabalhou na Congregação para a Doutrina da Fé e agora é Superior-Geral dos Filhos da Providência Divina, e a Ir. Irene Bazzotto, Madre-Geral das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, juntamente com os representantes do Instituto Secular e do Movimento Laical Orionita, que em conjunto formam a Família Orionita, promotora desta manifestação já antigamente desejada pelo vosso próprio Fundador, São Luís Orione, que afirmava: "A festa de São Pedro é a festa do Papa" (Cartas II, 488). Além disso, saúdo o Senhor Ernesto Olivero, Fundador do SERMIG-Arsenal da Paz; o Dr. Guido Bertolaso, Chefe do Departamento da Protecção Civil Italiana; e quantos, também através da televisão, se unem a este testemunho de devoção filial para com o Pastor da Igreja que está em Roma, chamado a "presidir na caridade" (Santo Inácio de Antioquia, Carta aos Rm 1,1).

Caros amigos, nesta tarde destes vida a uma singular "festa do Papa" para levar, como dizia Dom Orione, "muitos corações ao coração do Papa" e renovar assim o vosso acto de fé e de amor por aquele que a Providência Divina desejou como Vigário de Cristo na terra. Juntamente com a saudação do Pe. Flávio Peloso, a quem agradeço cordialmente, há pouco ouvi com profunda atenção as palavras de São Luís Orione. Ele falava da pessoa do Papa com afecto vibrante, reconhecendo o seu papel não apenas no seio da Igreja, mas inclusive no serviço a toda a família humana.

"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18). É com estas palavras que Jesus se dirige a Pedro, depois da sua profissão de fé. É o mesmo discípulo que, em seguida, O negará. Então, por que motivo é definido como "rocha"? Certamente não é pela sua determinação pessoal. "Rocha" é sobretudo o nomen officii: ou seja, não um título de mérito, mas de serviço, que define um chamamento e um encargo de origem divina, para o qual ninguém é habilitado simplesmente em virtude do seu carácter e das suas próprias forças. Pedro, que titubeia e afunda nas águas do lago de Tiberíades, torna-se a rocha sobre a qual o Mestre divino alicerça a sua Igreja. Esta é a fé que vós desejais confirmar, renovando a vossa adesão ao Sucessor de Pedro. Estou convicto de que também esta jubilosa e multiforme manifestação artística e espiritual, que vos viu confluir de várias nações do mundo, há-de ajudar-vos a crescer no amor e na fidelidade à Igreja e na dócil obediência aos seus Pastores, seguindo os ensinamentos e o exemplo do vosso santo Fundador. O Papa agradece-vos as vossas orações tenho necessidade delas! e o vosso afecto, enquanto vos manifesta apreço pelas numerosas obras de bem que, na Itália e no mundo inteiro, continuais a realizar com espírito eclesial. "Há necessidade de obras de caridade afirmava São Luís Orione pois elas são a melhor apologia da fé católica" (Escritos 4, 280). Com efeito, tais obras traduzem e de certa maneira revelam, na história humana, a graça da salvação, cujo sacramento para todo o género humano é a Igreja.

Nesta tarde desejastes colocar no centro da atenção um aspecto particular do ministério do Sucessor de Pedro, o de ser "mensageiro de paz". Trata-se de uma tarefa específica, que se refere ao mandato de Jesus aos seus Apóstolos no Cenáculo: "Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a do mundo, que Eu vo-la dou" (Jn 14,27). O compromisso da Igreja em prol da paz é sobretudo de natureza espiritual. Consiste em indicar a presença de Jesus, o Ressuscitado, o Príncipe da Paz, e em educar para a fé, de cujas nascentes brotam fecundas energias de paz e de reconciliação. Devemos dar graças a Deus pelos pensamentos e pelas obras de paz que as Comunidades cristãs, os Institutos religiosos e as Associações de voluntariado desenvolvem com tanta vitalidade em todas as partes do mundo. Como deixar de aproveitar o ensejo da vossa presença aqui, para prestar uma homenagem aos numerosos e silenciosos "construtores de paz" que, através do seu testemunho e do seu sacrifício, se comprometem em promover o diálogo entre os homens, para ultrapassar todas as formas de conflito e de divisão, em vista de fazer da nossa terra uma pátria de paz e de fraternidade para todos os homens? "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9). Como é actual e necessária esta bem-aventurança! Continuai, dilectos amigos, cada qual no campo que lhe é próprio e em conformidade com as suas possibilidades individuais, a oferecer a vossa colaboração para a salvaguarda da dignidade de cada homem, para a protecção da vida humana e ao serviço de uma decidida acção de paz autêntica em todos os âmbitos da sociedade.

Dirijo este convite de maneira especial a vós, estimados jovens, que hoje vejo tão numerosos.

Obrigado pelo vosso compromisso. O meu amado predecessor João Paulo II, cujo processo de beatificação está a começar precisamente neste momento, gostava de reiterar que vós jovens sois a esperança e o futuro da Igreja e da humanidade. Por conseguinte, que no coração de cada um cresça cada vez mais a vontade de dar vida a um mundo de paz genuína e estável.

43 Confio estes bons votos à intercessão de São Luís Orione e sobretudo da Virgem Maria, Rainha da Paz. Que Ela vos abençoe e recompense os esforços generosos de quantos se dedicam sem descanso à edificação da paz sobre os pilares sólidos da verdade, da justiça, da liberdade e da caridade. Acompanho estes bons votos com a certeza de uma lembrança especial na oração enquanto, de coração, vos concedo a todos a Bênção Apostólica.




À DELEGAÇÃO DO PATRIARCADO ECUMÉNICO DE CONSTANTINOPLA 30 de Junho de 2005


Queridos Irmãos

Ao receber-vos hoje, pela primeira vez depois do início do meu Pontificado, é-me grato saudar em vós a Delegação que todos os anos Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecuménico, envia para a festa dos Santos Padroeiros da Igreja de Roma. Dirijo-me a vós com as palavras de Paulo aos Filipenses: "Fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento...

Tende entre vós os mesmos sentimentos que estão em Jesus Cristo" (Ph 2,2 Ph 2,5). Consciente de quanto é fácil sucumbir à ameaça sempre latente de conflitos e contendas, o Apóstolo exorta a jovem Comunidade de Filipos à concórdia e à unidade. Aos Gálatas, ele indicará vigorosamente que toda a lei só encontra a sua plenitude no preceito do amor; e exorta-los-á a caminhar segundo o Espírito, para evitar as obras da carne discórdias, ciúmes, dissentimentos, divisões, facções e invejas e assim alcançar o fruto do Espírito, que aliás é o amor (cf. Ga 5,14-23).

A feliz tradição de assegurar uma presença recíproca na Basílica de São Pedro e na Catedral de São Jorge para as festas dos Santos Pedro e Paulo e de Santo André é, portanto, uma expressão desta vontade compartilhada de combater as obras da carne, que tendem a desagregar-nos, e de viver em conformidade com o Espírito, que promove o crescimento da caridade entre nós. A vossa visita hodierna e aquela que a Igreja de Roma retribuirá daqui a alguns meses, testemunham que em Jesus Cristo a fé age através da caridade (cf. ibid., 5, 6).

Trata-se da experiência do "diálogo da caridade", inaugurado no Monte das Oliveiras por Paulo VI e pelo Patriarca Atenágoras, uma experiência que se demonstrou não vã. Efectivamente, foram numerosos e significativos os gestos até agora realizados: penso na ab-rogação das condenações recíprocas do ano de 1054, nos discursos, nos documentos e nos encontros promovidos pelas Sedes de Roma e de Constantinopla. Estes gestos assinalaram o caminho das últimas décadas. E como deixar de recordar aqui, que o Papa João Paulo II, de veneranda memória, poucos meses antes da sua morte, na Basílica de São Pedro, trocou um abraço fraterno com o Patriarca Ecuménico, precisamente para manifestar um vigoroso sinal espiritual da nossa comunhão dos Santos, que ambos invocamos, e para reiterar o compromisso firme de trabalhar sem tréguas em vista da plena unidade? Sem dúvida, o nosso caminho é longo e não fácil, marcado no início por temores e hesitações, mas que depois se fez cada vez mais rápido e consciente. Um caminho que viu crescer a esperança de um sólido "diálogo da verdade" e de um processo de esclarecimento teológico e histórico, que já produziu frutos apreciáveis.

Com as palavras do Apóstolo Paulo, devemos interrogar-nos: "Foi em vão que experimentastes coisas tão grandiosas?" (Ga 3,4). Sente-se a necessidade de unir as forças e não poupar energias, a fim de que o diálogo teológico oficial, iniciado em 1980, entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas no seu conjunto, recomece com vigor renovado. A este propósito gostaria de vos manifestar, estimados Irmãos, os meus sentimentos de reconhecimento por Sua Santidade Bartolomeu, que se está a prodigalizar em vista de reactivar os trabalhos da Comissão mista internacional católico-ortodoxa. Desejo assegurar-lhe que tenho a vontade decidida de apoiar e de encorajar esta acção. A investigação teológica, que deve enfrentar questões complexas e encontrar soluções não reduzidas, é um compromisso sério, do qual não nos podemos eximir.

Se é verdade que o Senhor chama vigorosamente os seus discípulos a construir a unidade na caridade e na verdade; se é verdade que o apelo ecuménico constitui um convite urgente a reconstruir, na reconciliação e na paz, a unidade entre todos os cristãos, gravemente prejudicada; se é verdade que não podemos ignorar o facto de que a divisão torna menos eficaz a sacrossanta causa da pregação do Evangelho a todas as criaturas (cf. Unitatis redintegratio UR 1), como é que nos podemos subtrair à tarefa de examinar com clareza e boa vontade as nossas diferenças, enfrentando-as com a íntima convicção que elas devem ser resolvidas? A unidade que nós buscamos não é absorção nem fusão, mas respeito pela plenitude multiforme da Igreja que, em conformidade com a vontade do seu Fundador Jesus Cristo, deve ser sempre una, santa, católica e apostólica.

Este apelo encontrou a plena ressonância na profissão de fé intangível por parte de todos os cristãos, o Símbolo elaborado pelos Padres dos Concílios Ecuménicos de Niceia e de Constantinopla (cf. Slavorum apostoli, 15). O Concílio Vaticano II reconheceu com lucidez o tesouro que o Oriente possui e do qual o Ocidente "hauriu muitas coisas"; recordou que os dogmas fundamentais da fé cristã foram definidos pelos Concílios Ecuménicos celebrados no Oriente; exortou a não esquecer quantos sofrimentos o Oriente padeceu para conservar a sua fé. O ensinamento do Concílio inspirou o amor e o respeito pela Tradição oriental, encorajou a considerar o Oriente e o Ocidente como elementos que, em conjunto, compõem o rosto esplendoroso do Pantocrátor, cuja mão abençoa toda a Oikoumene. O Concílio foi além, afirmando: "Não há, pois, que admirar que alguns aspectos do mistério revelado sejam concebidos de modo mais apto e postos sob melhor luz por uns do que pelos outros, de maneira que pode dizer-se que essas fórmulas teológicas muito mais se completam do que se opõem" (Unitatis redintegratio UR 17).

Dilectos Irmãos, peço-vos que transmitais as minhas saudações ao Patriarca Ecuménico, informando-o do meu propósito de continuar com firme determinação a busca da plena unidade entre todos os cristãos. Juntos, queremos continuar a percorrer o caminho da comunhão e, em conjunto, realizar novos passos e gestos, que levem a ultrapassar as restantes incompreensões e divisões, tendo em mente o facto de que "para restabelecer a comunhão e a unidade, é preciso "que não se vos imponham outras obrigações além destas, que são indispensáveis" (cf. Ac 15,28)" (Unitatis redintegratio UR 18). Obrigado de coração a cada um de vós, por terdes vindo do Oriente para prestar homenagem aos Santos Pedro e Paulo, que juntos veneramos. A sua protecção constante e sobretudo a intercessão maternal da Theotokos orientem sempre os nossos passos: "A graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito" (Ga 6,18).




AO CARDEAL DECANO E AOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS QUE RECEBERAM O PÁLIO NO DIA DOS SANTOS PEDRO E PAULO


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30 de Junho de 2005



Caros e venerados Irmãos
no Episcopado

Depois da celebração litúrgica de ontem, solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, para mim é uma grande alegria encontrar-me de novo convosco hoje de manhã, juntamente com os vossos familiares e com os fiéis das vossas dioceses, que vos acompanharam na peregrinação ao Túmulo do Príncipe dos Apóstolos para receber o Pálio. Esta antiga tradição, que remonta ao século XI, constitui um significativo testemunho de comunhão dos Bispos Metropolitanos com o Pastor da Igreja de Roma. Com efeito, vós vindes de diversas nações e continentes, e sois chamados a servir a única Igreja de Cristo: transmito a minha saudação fraterna e cordial a cada um de vós.

Albânia, Itália e Turquia

Em primeiro lugar, dirijo-me ao Senhor Cardeal Angelo Sodano, a quem foi imposto o Pálio porque é Decano do Colégio Cardinalício e, enquanto lhe agradeço a colaboração que há muitos anos tem oferecido ao Sucessor de Pedro, estendo o meu pensamento a todos os membros do Colégio dos Cardeais, grato pelo sustento e pela oração com que têm acompanhado o meu serviço de Pastor da Igreja universal. Além disso, saúdo D. Bruno Forte, Arcebispo de Chieti-Vasto, D. Salvatore Nunnari, Arcebispo de Cosenza e D. Paolo Mário Atzei, Arcebispo de Sássari. Saúdo também D. Rrok Mirdita, Arcebispo de Tirana na Albânia, e D. Ruggero Franceschini, Arcebispo de Esmirna, na Turquia. Prezados Irmãos, sede sempre solícitos pela grei de Cristo que vos foi confiada. Com o exemplo e as palavras, sede para todos guias sólidos e seguros. E vós, amados amigos que os acompanhais, segui com docilidade os seus ensinamentos, cooperando com eles generosamente para a realização do Reino de Deus.

Benim, França e Vietname

Sinto-me feliz por saudar D. André Vingt-Trois, Arcebispo de Paris, D. Bernard-Nicolas Aubertin, Arcebispo de Tours, D. Joseph Ngo Quang Kiet, Arcebispo de Hanói e D. Marcel Honorat Léon Agboton, Arcebispo de Cotonu, sobre os quais impus o Pálio ontem, em sinal particular de comunhão com a Sé Apostólica. Possa o exemplo dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, servidores da comunhão até à entrega de si mesmos, orientar a vossa acção pastoral ao serviço do Povo de Deus que vos foi confiado! Saúdo igualmente os membros das vossas famílias e das delegações das vossas diocesanas, que vos acompanharam até Roma. A todos, concedo do íntimo do coração uma particular Bênção Apostólica.

Canadá, Estados Unidos, Filipinas, Gana, Índia, Namíbia, Nova Zelândia e Quénia

Queridos amigos em Cristo, faço extensiva a uma cordial saudação aos Arcebispos Metropolitanos de expressão inglesa, sobre os quais pude impor o Pálio ontem: D. Bernard Blasius Moras, Arcebispo de Bangalore, D. Malayappan Chinnappa, Arcebispo de Madrasta e Mylapore, ambos da Índia, D. Ernesto Antolin Salgado, Arcebispo de Nova Segóvia, nas Filipinas, D. Wilton Gregory, Arcebispo de Atlanta, D. José Horácio Gomez, Arcebispo de Santo António, D. Joseph Fiorenza, Arcebispo de Galveston-Houston, D. Joseph Naumann, Arcebispo de Kansas City, todos nos Estados Unidos da América, D. Daniel Bohan, Arcebispo de Regina, no Canadá, D. Liborius Ndumbukuti Nashenda, Arcebispo de Windhoek, na Namíbia, D. Boniface Lele, Arcebispo de Mobasa, no Quénia, D. Gabriel Charles Palmer-Buckle, Arcebispo de Acra, em Gana, e D. John Atcherly Dew, Arcebispo de Wellington, na Nova Zelândia.

Dou também as boas-vindas aos seus familiares e amigos, bem como aos fiéis das respectivas Arquidioceses, que os acompanharam até Roma. Caros amigos, que a vossa peregrinação aos Túmulos dos Santos Pedro e Paulo vos confirme na fé católica, que promana dos Apóstolos. Concedo-vos a todos a minha Bênção Apostólica, como penhor de alegria e de paz no Senhor.

45 Chile, Colômbia, Espanha, Nicarágua e Peru

Saúdo com afecto os Arcebispos de língua espanhola e quantos os acompanharam na significativa cerimónia da imposição do Pálio. Refiro-me a D. Jaume Pujol Balcells, Arcebispo de Tarragona, D. Octávio Ruiz Arenas, Arcebispo de Villavicencio, D. Santiago García Aracil, Arcebispo de de Mérida-Badajoz, D. Pedro Ricardo Barreto Jimeno, Arcebispo de Huancayo, D. Pablo Lizama Riquelme, Arcebispo de Antofagasta, D. Leopoldo Brenes Solórzano, Arcebispo de Manágua, e D. Manuel Ureña Pastor, Arcebispo de Saragoça. Vários países deste amplo sector linguístico contam com os seus novos Arcebispo Metropolitanos, que têm a missão especial de fomentar estreitos vínculos de comunhão com o Sucessor de Pedro e entre as suas Dioceses sufragâneas.

A quem os acompanham, peço que os acompanhem de perto com a oração e com a colaboração generosa, a fim de que incutam esperança nos jovens, e amor e fidelidade nas famílias, fomentando um espírito fraterno na convivência social. Peço à Virgem Maria, tão venerada nas vossas terras Chile, Colômbia, Espanha, Nicarágua e Peru que alente o ministério dos Arcebispos e acompanhe com ternura os presbíteros, as comunidades religiosas e os fiéis das respectivas Arquidioceses. Transmiti a todos a minha carinhosa saudação e a minha Bênção Apostólica.

Brasil

A Igreja no Brasil alegra-se hoje, pois as Sedes arquiepiscopais de Maringá, de Belém do Pará e de Sorocaba estão em festa com a imposição do Pálio aos seus novos Arcebispos, respectivamente Dom Anuar Battisti, Dom Orani João Tempesta e Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, que hoje estão acompanhados pelos seus familiares, sacerdotes e fiéis das suas Arquidioceses. Por isso, saúdo com afecto as vossas Igrejas particulares e faço votos por que esta significativa celebração ajude a reforçar a unidade e a comunhão com a Sé Apostólica, e estimule uma generosa dedicação pastoral dos seus Bispos, para o crescimento da Igreja e a salvação das almas.

Polónia

Saúdo o Arcebispo Stanislaw Dziwisz e os seus hóspedes. Agradeço-lhe tudo aquilo que fez por João paulo II e por mim pessoalmente. Invoco a ajuda de Deus para a sua nova missão. Deus abençoe todos os presentes.

Venerados e caros irmãos, agradeço-vos uma vez mais esta agradável visita e o trabalho apostólico que estais a desempenhar. Enquanto vos preparais para regressar às vossas respectivas dioceses, gostaria de assegurar-vos que permaneço unido a vós com o afecto e a oração; ao mesmo tempo, peço-vos que continueis a caminhar juntos, unidos pelos mesmos sentimentos de concórdia e de amor a Cristo e à sua Igreja. Com estes sentimentos, concedo-vos de bom grado, a vós aqui presentes e às vossas Comunidades arquidiocesanas a Bênção Apostólica, invocando sobre cada um de vós a salvaguarda da celestial Mãe do Senhor e a assistência constante dos Apóstolos Pedro e Paulo.



                                                          Julho 2005



AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO ZIMBÁBUE EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"


Sábado, 2 de Julho de 2005



Meus Irmãos Bispos

46 "Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Ep 1,2). Transmito-vos as minhas calorosas saudações de boas-vindas, Bispos do Zimbábue, por ocasião da vossa quinquenal visita ad limina Apostolorum. Que a vossa peregrinação aos Túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, bem como o presente encontro com o Sucessor de Pedro, sejam para todos vós um incentivo a uma unidade cada vez maior na causa do Evangelho e ao serviço do Reino de Cristo. Que estes dias vos proporcionem também uma preciosa oportunidade para vos retirardes das vossas urgentes tarefas pastorais e, assim, encontrardes um pouco de tempo para passar em companhia do Senhor (cf. Mc 6,31) em oração e discernimento espiritual, de maneira a retomardes com zelo renovado o vosso ministério de arautos da palavra de Deus e pastores do seu povo na vossa terra natal.

As recentes eleições no Zimbábue constituíram a base para aquilo que estes são os meus bons votos será um novo começo no processo de reconciliação nacional e de reconstrução moral da sociedade. Aprecio a significativa contribuição para o processo eleitoral, que vós oferecestes aos fiéis católicos e a todos os vossos compatriotas na Declaração Pastoral Conjunta, publicada no ano passado. Como justamente observastes na mencionada Declaração, a responsabilidade pelo bem comum exige que todos os membros dos organismos políticos trabalhem em sintonia para lançar sólidos fundamentos morais e espirituais, em vista do futuro da vossa Nação. Mediante a publicação de tal Declaração e da vossa mais recente Carta Pastoral The Cry of the Poor ["O clamor dos pobres"], vós mesmos fizestes com que a sabedoria do Evangelho e a rica herança da doutrina social da Igreja conseguissem influenciar o pensamento e os juízos concretos dos fiéis, tanto nas suas vidas quotidianas como nos seus esforços em vista de agir como membros rectos da comunidade.

No exercício do vosso ministério episcopal de ensinamento e de governo, encorajo-vos a continuar a oferecer uma liderança clarividente e unida, alicerçada sobre uma fé inabalável em Jesus Cristo e na obediência à "palavra da verdade, o Evangelho que vos salva" (Ep 1,13). Na vossa pregação e no vosso ensinamento, os fiéis deveriam poder ouvir a voz do próprio Senhor, uma voz que fala com autoridade daquilo que é justo e verdadeiro, da paz e da justiça, da caridade e da reconciliação, uma voz que possa consolá-los no meio das suas preocupações e indicar-lhes o caminho da esperança.

Entre as dificuldades do momento presente, a Igreja que está no Zimbábue pode regozijar com a presença de comunidades tão numerosas e repletas de fé, com um significativo número de vocações ao sacerdócio e à vida religiosa, e com a presença de leigos dedicados, comprometidos em diversas obras de apostolado. Estes dons da graça de Deus constituem uma consolação e, ao mesmo tempo, um desafio a uma catequese cada vez mais profunda e integrada, que vise formar os fiéis leigos para que vivam plenamente a sua vocação cristã. "Em todos os sectores da vida eclesial, tem capital importância a formação" (Ecclesia in Africa ). Por este motivo, encorajo-vos a trabalhar juntos para assegurar uma preparação catequética oportuna e abrangente de todos os fiéis, e a tomar todas as iniciativas que se tornarem necessárias para garantir uma educação mais sistemática dos catequistas.

Por sua vez, os futuros sacerdotes deveriam ser ajudados a apresentar a plenitude da fé católica, de maneira a abordar e responder verdadeiramente às dificuldades, às interrogações e às problemáticas dos indivíduos. Os seminários nacionais exigem uma assistência concreta na sua tarefa desafiadora de assegurar aos seminaristas uma oportuna formação humana, espiritual, doutrinal e pastoral, dado que os membros mais jovens do clero poderiam ser enormemente beneficiados, nos primeiros anos do seu ministério sacerdotal, de um programa de acompanhamento espiritual, pastoral e humano, orientado por presbíteros experientes e exemplares. A vossa solicitude por uma catequese sólida e por uma educação religiosa integral deve inserir-se também no sistema das escolas católicas, cuja identidade religiosa há-de ser refortalecida, para o bem não somente dos seus estudantes, mas de toda a comunidade católica no vosso país.

Prezados Irmãos Bispos, em união com o Sucessor de Pedro e com o Colégio dos Bispos, fostes enviados como testemunhas da esperança fomentada pelo Evangelho de Jesus Cristo (cf. Pastores gregis ). Ao voltardes para a vossa terra natal, revigorados na fé e no vínculo de comunhão eclesial, peço-vos que coopereis com generosidade no serviço do Evangelho, de tal maneira que a luz da palavra de Deus possa brilhar cada vez mais esplendorosamente nas mentes e nos corações dos católicos do Zimbábue, incutindo-lhes um amor mais profundo por Cristo e um compromisso mais determinado na propagação do seu Reino de santidade, de justiça e de verdade. É com grande afecto que vos confio a todos, assim como os membros do clero, os religiosos, as religiosas e os leigos das vossas Dioceses à intercessão amorosa de Maria, Mãe da Igreja, enquanto vos concedo do íntimo do coração a minha Bênção Apostólica, como penhor de alegria e de paz no Senhor.




A UMA PEREGRINAÇÃO DA ARQUIDIOCESE DE MADRID (ESPANHA) Segunda-feira, 4 de Julho de 2005

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Queridos irmãos e irmãs!

Dou-vos as minhas cordiais boas-vindas a este encontro, em primeiro lugar ao Senhor Cardeal António Maria Rouco Varela, Arcebispo de Madrid, aos seus Bispos Auxiliares e aos demais membros da Assembleia sinodal, acompanhados por tantos fiéis leigos que participaram nos grupos de oração e de reflexão sobre o grande tema e objectivo do Sínodo: A transmissão da fé, vivida e realizada na comunhão da Igreja.

Na solenidade de Pentecostes deste Ano dedicado à Eucaristia encerrou-se o terceiro Sínodo Diocesano, que se propôs renovar a fé e a comunhão entre os membros da Igreja em Madrid. A comunidade eclesial tomou consciência de ser "família na fé", uma família unida por um vínculo profundo e misterioso que congrega as mais diversas realidades e se converte, pela presença de Deus nela, em sinal de unidade para toda a sociedade. É uma comunidade católica, e católica significa precisamente que é uma assembleia aberta, depositária de uma mensagem com vocação universal, destinada a todos os seres humanos. Trata-se de uma comunidade que harmoniza e torna concordes pessoas de diversas proveniências e formas de vida. E esta comunidade católica peregrina hoje em Roma como sinal de comunhão com o sucessor de Pedro, e por isso, com a Igreja universal.

Como num novo Pentecostes, o Espírito Santo infundiu nos corações um novo ardor missionário, uma intensa solicitude por quantos hoje vivem na vossa comunidade diocesana; pessoas com nomes e sobrenomes, com as suas preocupações e esperanças, os seus sofrimentos e dificuldades. A partir da experiência sinodal, fostes enviados para "anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista" (cf. Lc
Lc 4,18). Numa sociedade sedenta de autênticos valores humanos e que sofre tantas divisões e rupturas, a comunidade dos crentes deve ser portadora da luz do Evangelho, com a certeza de que a caridade é antes de tudo comunicação da verdade.

Com esta finalidade, a Igreja em Madrid deseja estar presente em todos os campos da vida quotidiana, e também através dos meios de comunicação social. É um aspecto importante, porque o Espírito nos estimula a fazer chegar a cada homem e mulher o Amor que Deus Pai mostrou em Jesus Cristo. Este amor é solícito, generoso, incondicional, e oferece-se não só aos que escutam o mensageiro, mas também a quantos o ignoram e recusam. Cada um dos fiéis deve sentir-se chamado a ir, como enviado de Cristo, em busca de quantos se afastaram da comunidade, como os discípulos de Emaús que tinham cedido ao desânimo (cf. Lc 24,13-35). É preciso ir até aos confins da sociedade para levar a todos a luz da mensagem de Cristo sobre o sentido da vida, da família e da sociedade, alcançando as pessoas que vivem no deserto do abandono e da pobreza, e amando-as com o Amor de Cristo Ressuscitado. Em todo o apostolado, e no anúncio do Evangelho, como diz São Paulo, "se não tiver amor, nada sou" (1Co 13,2).

Queridos irmãos e irmãs, seguindo as pautas do Sínodo, procurai alimentar-vos espiritualmente com a oração e com uma intensa vida sacramental; aprofundai o conhecimento pessoal de Cristo e caminhai com todas as vossas forças rumo à santidade, a "medida alta da vida cristã", como dizia o querido João Paulo II.

Que Maria Santíssima obtenha como dom para todos os membros da Arquidiocese de Madrid a fidelidade total a Cristo e à sua Igreja, e vos guie sempre no vosso caminho pós-sinodal. Da minha parte, acompanho-vos com a oração e concedo-vos com afecto a Bênção Apostólica, que faço extensiva a toda a comunidade diocesana.




AOS SÓCIOS DO CÍRCULO DE SÃO PEDRO Quinta-feira, 7 de Julho de 2005


Caros Amigos

Estou feliz por vos acolher, e saúdo-vos de coração. Dirijo o meu cordial pensamento aos vossos familiares e a quantos colaboram convosco nas várias actividades do Círculo de São Pedro. Saúdo de modo particular o vosso Presidente, o Marquês Marcello Sacchetti, a quem agradeço as palavras que amavelmente me dirigiu em nome de todos vós, assim como o vosso Assistente espiritual, Mons. Franco Camaldo, recentemente chamado a desempenhar este cargo. A missão que levais a cabo, com empenhamento admirável, é preciosa. Além do serviço litúrgico, vós preocupais-vos em ir ao encontro dos pobres e em oferecer alívio aos doentes e às pessoas que sofrem. Agindo assim, imitais o "bom Samaritano" e dais testemunho concreto do impulso missionário e da caridade evangélica, que deve caracterizar cada discípulo autêntico de Cristo.

Como acontece todos os anos, hoje viestes entregar ao Papa o óbolo de São Pedro, que constitui um ulterior sinal da vossa generosa abertura aos irmãos que se encontram em dificuldade. Ao mesmo tempo, ele é uma participação significativa no esforço da Sé Apostólica, em vista de responder às crescentes urgências da Igreja, especialmente nos países mais pobres.

Dilectos irmãos e irmãs, esta é a primeira vez que me encontro convosco, desde que Deus me chamou para desempenhar o ministério petrino na Igreja, mas conheço bem e há muito tempo o vosso serviço animado por uma fidelidade convicta e por uma adesão dócil ao Sucessor de Pedro. Peço-vos que me acompanheis, em primeiro lugar, com a oração. Fazei da oração o alimento quotidiano da vossa vida, com as habituais pausas de meditação e de escuta da Palavra de Deus, e com a participação activa na Santa Missa.

É importante que a existência do cristão esteja centrada na Eucaristia. É para isto que vos convida o Ano da Eucaristia que, por vontade do meu amado predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, está a celebrar-se em cada uma das Comunidades eclesiais. Efectivamente, jamais podemos esquecer que o segredo da eficácia de todos os nossos projectos é Cristo, e que a nossa vida deve ser imbuída pela sua acção renovadora. Temos o dever de lhe confiar todas as expectativas e necessidades do mundo; queridos amigos, de modo particular a Jesus, a quem adoramos na Eucaristia, devem ser apresentados os sofrimentos dos enfermos que visitais, a solidão dos jovens e das pessoas idosas com quem vos encontrais, os temores, as esperanças e as perspectivas de toda a existência. Assim, com esta atitude interior, conseguireis realizar mais facilmente a vossa vocação cristã e ir ao encontro de quantos vivem em condições de dificuldade ou de abandono, dando-lhes o testemunho da presença consoladora de Cristo.

Prezados amigos, enquanto vos manifesto o meu apreço pelo serviço que prestais à Igreja, confio-vos juntamente com as vossas famílias à protecção celestial da Virgem Maria e dos vossos Santos padroeiros. Por minha vez, asseguro-vos que rezo por vós aqui presentes, por todos os que colaboram convosco nas vossas várias iniciativas e por todos aqueles com quem vos encontrais, enquanto vos concedo a todos uma afectuosa e especial Bênção Apostólica.




DURANTE O ENCONTRO COM O CLERO DA DIOCESE DE AOSTA


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25 de Julho de 2005


Excelência
Queridos Irmãos!

Antes de tudo gostaria de expressar a minha alegria e gratidão por esta possibilidade de me encontrar convosco. Quando se é Papa existe o perigo que se esteja um pouco distante da vida real, da vida de todos os dias, sobretudo também dos sacerdotes que trabalham na primeira linha, precisamente no "Vale", em tantas paróquias e agora, como disse Sua Excelência, com a falta de vocações, também em condições de empenho físico particularmente intenso.

É para mim uma graça poder encontrar nesta bonita Igreja os sacerdotes e o presbitério deste Vale. Desejo agradecer-vos porque viestes; também para vós é tempo de férias. Ver-vos reunidos, e ver-me unido a vós, estar próximo dos sacerdotes que trabalham dia após dia para o Senhor como semeadores da Palavra, é para mim um conforto e uma alegria. Sentimos na semana passada duas ou três vezes, parece-me, esta parábola do semeador que já é uma parábola de conforto numa situação diferente, mas num certo sentido também semelhante à nossa.

O trabalho do Senhor tinha começado com grande entusiasmo. Via-se que os doentes se tinham curado, todos escutavam com alegria a palavra: "O Reino de Deus está próximo".

Verdadeiramente, parecia que a mudança do mundo e o advento do Reino de Deus seria iminente; que, por fim, a tristeza do povo de Deus teria mudado em alegria. Havia a expectativa de um mensageiro de Deus que teria assumido o timão da história. Mas depois viam que, de facto, os doentes se tinham curado, os demónios tinham sido expulsos, o Evangelho anunciado mas, no restante, o mundo permanecia como era. Nada mudava. Os romanos ainda dominavam. A vida era difícil todos os dias, apesar destes sinais, estas belas palavras. E assim o entusiasmo esvaecia e, no final, como sabemos pelo sexto capítulo de João, também os discípulos abandonaram este Pregador que anunciava, mas não mudava o mundo.

O que é esta mensagem? O que traz este profeta de Deus?, perguntam por fim todos. O Senhor fala do semeador que semeia no campo do mundo. E a semente assemelha-se à sua Palavra, como as curas, uma coisa verdadeiramente pequena comparando-a com a realidade histórica e política. Assim como a semente é pequena, que se pode descuidar, também a Palavra se pode descuidar.

Contudo, diz, na semente está presente o futuro porque a semente traz em si o pão de amanhã, a vida de amanhã. A semente parece quase nada, mas é a presença do futuro, é promessa já presente hoje. E assim, com esta parábola diz: estamos no tempo da sementeira, a Palavra de Deus parece só palavra, quase nada. Mas tende coragem, esta Palavra traz em si a vida! E dá fruto! A parábola diz também que grande parte da semente não dá fruto porque caiu na estrada, na terra pedregosa, etc. Mas a parte que caiu na terra boa dá trinta, sessenta, cem vezes mais.

Isto faz compreender que devemos ser corajosos também se a Palavra de Deus, o Reino de Deus, parece não ter importância histórico-política. No final, Jesus, no Domigo de Ramos, sintetizou todos estes ensinamentos sobre a semente da palavra: se o grão de mostarda não cair na terra nem morrer permanece só, se cair na terra e morrer dá muito fruto. Fez compreender assim que Ele mesmo é o grão de mostarda que cai na terra e morre. Na crucifixão tudo parece ter malogrado, mas precisamente assim, caindo na terra, morrendo, no Caminho da Cruz, dá fruto para todos os tempos, para sempre. Temos aqui também a finalidade cristológica segundo a qual o próprio Cristo é a semente, é o Reino presente, quer também a dimensão eucarística: este grão cai na terra e assim cresce o novo Pão, o Pão da vida futura, a Sagrada Eucaristia que nos alimenta e que se abre aos mistérios divinos, para a vida nova.

Parece-me que na história da Igreja, de formas diversas, sempre existiram estas questões que nos atormentam realmente: que fazer? Parece que o povo não tem necessidade de nós, tudo o que fazemos parece inútil. Contudo aprendemos da Palavra do Senhor que só esta semente transforma sempre de novo a terra e a abre para a vida verdadeira.

49 Desejo, brevemente na medida do possível, responder às palavras de Sua Excelência, mas gostaria de dizer também que o Papa não é um oráculo, é infalível em situações raríssimas, como sabemos. Portanto, partilho convosco estas perguntas, estas questões. Também eu sofro. Mas todos juntos queremos, por um lado, sofrer com estes problemas e também sofrendo transformar os problemas, porque precisamente o sofrimento é o caminho da transformação e sem sofrimento nada se transforma.

Este é também o sentido da parábola do grão de mostrada que caiu na terra: só num processo de transformação sofrida se obtém o fruto e se apresenta a solução. E se não fosse para nós um sofrimento a aparente ineficiência da nossa pregação seria um sinal de uma falta de fé, de compromisso verdadeiro. Devemos comprometer-nos com estas dificuldades do nosso tempo e transformá-las sofrendo com Cristo e, assim, transformar-nos a nós mesmos. E na medida em que nos transformamos, podemos também responder à pergunta feita acima, também podemos ver a presença do Reino de Deus e mostrá-la aos outros.

O primeiro ponto é um problema que se apresenta em todo o mundo ocidental: a falta de vocações. Nas últimas semanas, tive as Visitas "ad Limina" dos Bispos do Sri Lanka e da parte Sul da África. Ali as vocações aumentam, aliás, são tão numerosas que não podem construir Seminários suficientes para acolher estes jovens que desejam ser sacerdotes. Naturalmente também esta alegria traz consigo uma certa amargura porque uma parte vem na esperança de uma promoção social. Fazendo-se sacerdotes tornam-se quase chefes da tribo, naturalmente são privilegiados, têm outra forma de vida, etc. Por conseguinte, erva daninha e grão caminham juntos neste bonito crescimento das vocações e os Bispos devem estar muito atentos no discernimento e não sentir-se simplesmente contentes por ter muitos sacerdotes futuros, mas ver quais são realmente as verdadeiras vocações, discernir entre erva daninha e grão bom.

Há contudo um certo entusiasmo da fé porque se encontram num determinado momento da história, isto é, no momento em que as religiões tradicionais obviamente se revelam não ser suficientes. E compreende-se, vê-se, que estas religiões tradicionais têm em si uma promessa, mas esperam algo. Esperam uma nova resposta que purifica e, digamos, assume em si tudo o que há de belo e liberta tais aspectos insuficientes e negativos. Neste momento de passagem onde realmente a sua cultura tende para uma hora nova da história, as duas ofertas cristianismo e islão são as possíveis respostas históricas.

Por isso, existe naqueles Países, num certo sentido, uma primavera da fé, mas naturalmente no contexto da concorrência entre estas duas respostas, sobretudo também no contexto do sofrimento das seitas, que se apresentam como a resposta cristã melhor, mais fácil, mais indulgente. Por conseguinte, também numa história de promessa, num momento de primavera, permanece difícil o compromisso daquele que deve semear com Cristo a Palavra e, digamos, construir a Igreja.

É diferente a situação no mundo ocidental, que não é um mundo cansado da sua própria cultura, mas um mundo que chegou a um momento em que já não é evidente a necessidade de Deus, muito menos de Cristo, e por conseguinte, no qual parece que o próprio homem poderia construir-se por si mesmo. Neste clima de um racionalismo que se fecha em si, que considera o modelo das ciências o único modelo de conhecimento, tudo parece ser subjectivo. Naturalmente, também a vida cristã se torna uma escolha subjectiva, por conseguinte arbitrária e já não o caminho da vida. Por isso torna-se difícil crer e se é difícil crer é muito mais difícil oferecer a vida ao Senhor para ser seu servo.

Sem dúvida isto é um sofrimento posto no nosso momento histórico, no qual geralmente se vê que as chamadas grandes Igrejas se apresentam moribundas. Assim é sobretudo na Áustria, também na Europa, em menor medida nos Estados Unidos.

Ao contrário, crescem as seitas, as quais se apresentam com a certeza de um mínimo de fé e o homem procura certezas. E portanto as grandes Igrejas, sobretudo as grandes Igrejas tradicionais protestantes, encontram-se realmente numa crise profundíssima. As seitas têm a supremacia porque se apresentam com certezas simples, poucas, e dizem: isto é suficiente.

A Igreja Católica não está tão mal como as grandes Igrejas protestantes históricas, mas naturalmente partilha o problema do nosso momento histórico. Penso que não há um sistema para uma mudança rápida. Devemos ir além, ultrapassar esta galeria, este túnel, com paciência, na certeza de que Cristo é a resposta e de que no fim aparecerá de novo a sua luz.

Então a primeira resposta é a paciência, na certeza de que sem Deus o mundo não pode viver, o Deus da Revelação e não um Deus qualquer: vemos como um Deus cruel, um Deus não verdadeiro, pode ser perigoso o Deus que mostrou, em Jesus Cristo, o seu Rosto. Este Rosto que sofreu por nós, este Rosto de amor que transforma o mundo no mundo do grão que caiu na terra.

Portanto, nós mesmos devemos ter esta profundíssima certeza que Cristo é a resposta e sem o Deus concreto, o Deus com o Rosto de Cristo, o mundo autodestrói-se e cresce também a evidência de que um racionalismo fechado, que pensa que o homem sozinho poderia reconstruir o verdadeiro mundo melhor, não é verdade. Ao contrário, se não há a medida de Deus verdadeiro, o homem autodestrói-se. Vemo-lo com os nossos olhos.

50 Nós próprios devemos ter uma renovada certeza: Ele é a Verdade e unicamente caminhando pelas suas pegadas vamos na direcção justa e devemos caminhar e guiar os outros nesta direcção.

O primeiro ponto da minha resposta é: em todo este sofrimento não se deve perder a certeza de que Cristo é realmente o Rosto de Deus, mas devemos aprofundar esta certeza e a alegria de a conhecer e, desta forma, sermos realmente ministros do futuro do mundo, do futuro de cada homem. E devemos aprofundar esta certeza numa relação pessoal e profunda com o Senhor.

Porque a certeza pode crescer também com considerações racionais. Verdadeiramente parece-me muito importante uma reflexão sincera que convence também racionalmente, mas se torna pessoal, forte e exigente devido a uma amizade vivida pessoalmente todos os dias com Cristo.

Por conseguinte, a certeza exige esta personalização da nossa fé, da nossa amizade com o Senhor e assim crescem também novas vocações. Vemos isto na nova geração depois da grande crise desta luta desencadeada em 68 onde parecia realmente ter passado a era histórica do cristianismo.

Vemos que as promessas de 68 não se mantêm e renasce, digamos, a consciência de que há outro modo mais complexo porque exige estas transformações do nosso coração, mas mais verdadeiro, e assim surgem também novas vocações. E nós mesmos devemos encontrar também a fantasia para ajudar os jovens a encontrar este caminho para o futuro. Este aspecto também foi realçado no diálogo com os Bispos africanos. Apesar do número de sacerdotes muitos estão condenados a uma solidão terrível e moralmente muitos não sobrevivem.

E, por conseguinte, é importante ter à sua volta a realidade do presbitério, da comunidade de sacerdotes que se ajudam, que estão juntos num caminho comum, numa solidariedade na fé comum. Também isto me parece importante porque se os jovens vêem sacerdotes muito isolados, tristes, cansados, pensam: se este é o meu futuro não é para mim. Deve criar-se realmente esta comunhão de vida que demonstra aos jovens: sim, este pode ser um futuro também para mim, assim posso viver.

Prolonguei-me demasiado. Sobre o segundo ponto, mesmo se em parte, parece que já disse algo.

É verdade: ao povo, sobretudo aos responsáveis do mundo, a Igreja parece uma coisa antiquada, as nossas propostas não parecem necessárias. Comportam-se como se pudessem, ou quisessem viver sem a nossa palavra e pensando sempre que não precisam de nós. Não procuram a nossa palavra.

Esta é uma verdade que nos faz sofrer, mas também faz parte desta situação histórica de uma certa visão antropológica, segundo a qual o homem deve fazer as coisas como disse Karl Marx: a Igreja teve 1800 anos para mostrar que teria mudado o mundo e não fez nada, agora fazemo-lo nós sozinhos.

Esta é uma ideia muito difundida e apoiada também com filosofias e assim se compreende a impressão que muitas pessoas têm de que se pode viver sem a Igreja, a qual parece pertencer ao passado. Mas torna-se sempre mais evidente que só os valores morais e as convicções fortes dão a possibilidade, também com sacrifícios, de viver e construir o mundo. Não se pode construir um mundo mecânico como propôs Karl Marx com a teoria do capital e da propriedade, etc.

Se não existem as forças morais nos corações e não há disponibilidade para sofrer também por estes valores não se constrói um mundo melhor, ao contrário, o mundo piora de dia para dia, o egoísmo domina e destrói tudo. E vendo isto, surge de novo a pergunta: mas de onde provêm as forças que nos tornam capazes de sofrer também pelo bem, pelo bem que faz mal antes de tudo a mim, que não tem uma utilidade imediata? Onde estão os recursos, as nascentes? De onde vem a força para dar continuidade a estes valores?

51 Vemos que a moralidade como tal não vive, não é eficiente se não tem um fundamento mais profundo em convicções que dão realmente certeza e também força para sofrer porque, ao mesmo tempo, fazem parte de um amor, um amor que no sofrimento cresce e é substância da vida. De facto, no final, só o amor nos faz viver e o amor é sempre também sofrimento: matura no sofrimento e dá a força para sofrer pelo bem sem me ter em consideração neste meu actual momento.

Parece-me que esta consciência cresce porque já se vêem os efeitos de uma condição na qual não se encontram as forças que provêm de um amor que é substância da minha vida e que me dá a força de conduzir a luta pelo bem. Também neste aspecto, evidentemente, devemos ter paciência, ter uma paciência activa para fazer compreender às pessoas: precisais disto.

E mesmo se não se convertem imediatamente, pelo menos aproximam-se daquele grupo que, na Igreja, tem esta força interior. A Igreja conheceu sempre este grupo forte interiormente que transmite realmente a força da fé e pessoas que se afeiçoam e se deixam guiar, e desta forma participam.

Penso na parábola do Senhor sobre o grão de mostarda tão pequenino que depois se torna uma árvore frondosa na qual até os passarinhos do céu nela encontram lugar. Diria que estes passarinhos podem ser as pessoas que ainda não se convertem, mas pelo menos pousam na árvore da Igreja. Fiz esta reflexão: no tempo do iluminismo, no momento em que a fé estava dividida entre católicos e protestantes, pensou-se que seria necessário conservar os valores morais comuns dando-lhes um fundamento suficiente. Pensou-se: devemos tornar os valores morais independentes das confissões religiosas, de modo que eles resistam "etsi Deus non daretur".

Encontramo-nos hoje na situação contrária, a situação inverteu-se. Não são realçados os valores morais. Só se tornam evidentes se Deus existe. Portanto, sugeri que os leigos, os chamados leigos, reflectissem se para eles hoje não é válido o contrário: devemos viver "quasi Deus daretur", mesmo se não temos a força para crer devemos viver sobre esta hipótese, caso contrário o mundo não funciona. Parece-me que este seria um primeiro passo para se aproximarem da fé. Vejo em tantos contactos que, graças a Deus, aumenta o diálogo pelo menos com parte do laicismo.

Terceiro ponto: a situação dos sacerdotes que se tornaram poucos e devem trabalhar em três, quatro e, por vezes até em cinco paróquias e estão cansados. Penso que o Bispo, juntamente com o seu presbitério procura os meios melhores. Quando eu fui Arcebispo de Mónaco tinha criado este modelo de funções só da Palavra sem sacerdote, para manter a comunidade presente na própria igreja. E disseram: cada comunidade permanece tal, e onde não há sacerdote fazemos esta Liturgia da Palavra.

Os franceses encontraram a palavra adequada para estas Assembleias dominicais "en absence du prêtre", e depois de um certo tempo compreenderam que isto também pode não dar certo porque se perde o sentido do Sacramento, há uma protestantização e, afinal, se há só a Palavra, também eu a posso celebrar em minha casa.

Recordo quando fui professor em Tubinga, o grande exegeta Kelemann, não sei se conheceis o nome, aluno de Bultmann, que era um grande teólogo. Mesmo sendo protestante convicto, nunca foi à Igreja. Dizia: eu posso meditar em casa as Sagradas Escrituras.

Os franceses transformaram um pouco esta fórmula "Assemblée dominicale en absence du prêtre" na fórmula "Assemblée dominicale en attente du Prêtre". Isto deve ser uma expectativa do sacerdote e diria que normalmente a Liturgia da Palavra deveria ser uma excepção do domingo, porque o Senhor quer vir corporalmente. Mas esta não deve ser a solução.

Foi instituído o domingo, porque o Senhor ressuscitou e entrou na comunidade dos apóstolos para estar com eles. Desta forma compreenderam que não é o sábado o dia litúrgico, mas o domingo no qual o Senhor quer estar sempre de novo corporalmente connosco e alimentar-nos com o seu Corpo para que nós mesmos nos tornemos o seu corpo no mundo.

Encontrar o modo de oferecer a muitas pessoas de boa vontade esta possibilidade: agora não ouso dar receitas. Em Mónaco disse sempre, mas não conheço a situação aqui, que certamente é diversa, que a nossa população é incrivelmente móvel, flexível. Os jovens fazem mais de cinquenta quilómetros para ir a uma discoteca, por que não podem fazer também cinquenta quilómetros para ir a uma igreja comum? Eis que esta é uma coisa muito concreta, prática, e não ouso dar receitas. Mas deve-se procurar dar ao povo um sentimento: tenho necessidade de estar juntamente na Igreja, de estar juntamente com a Igreja viva e com o Senhor!

52 E assim, dar esta impressão de importância e se eu o considero importante, isto gera também as premissas para uma solução. Mas concretamente devo deixar a questão aberta, Excelência.
***


Sucessivamente, alguns sacerdotes tomaram a palavra. Às perguntas relativas aos temas da educação dos jovens, do papel da escola católica e da vida consagrada, o Papa Bento XVI assim respondeu:

Trata-se de interrogações muito concretas, às quais não é fácil dar respostas igualmente concretas.

Em primeiro lugar, gostaria de vos dar graças por terdes chamado a nossa atenção para a necessidade de atrair à Igreja os jovens que se sentem, ao contrário, facilmente atraídos por outras coisas, por um estilo de vida bastante longe das nossas convicções. A Igreja antiga preferiu criar comunidades de vida alternativas, sem fracturas necessárias. Então, diria que é importante que os jovens possam descobrir a beleza da fé, que é bom dispor de uma orientação, que é bonito ter um Deus amigo, que sabe dizer-nos realmente as coisas essenciais da vida.

Além disso, este factor intelectual deve ser acompanhado por um factor afectivo e social, ou seja, por uma socialização na fé. Porque a fé só pode realizar-se se tiver também um corpo, e isto implica o homem nas suas modalidades de vida. Por isso no passado, quando a fé era determinante para a vida comum, podia ser suficiente ensinar o catecismo, que também hoje continua a ser importante.

Mas dado que a vida social se afastou da fé, nós devemos visto que também as famílias muitas vezes não oferecem uma socialização da fé oferecer modos de uma socialização da fé, a fim de que a fé forme comunidades, ofereça lugares de vida e convença, num conjunto de pensamento, de afecto e de amizade da vida.

Parece-me que estes níveis devem caminhar juntos, porque o homem tem um corpo, é um ser social. Neste sentido, por exemplo, é bom poder ver aqui que muitos párocos se encontram com grupos de jovens para transcorrer as férias em conjunto. Deste modo, os jovens compartilham a alegria das férias e vivem-na juntamente com Deus e com a Igreja, na pessoa no pároco ou do vice-pároco. Parece-me que a Igreja de hoje, também na Itália, oferece alternativas e possibilidades de uma socialização onde os jovens, em conjunto, podem caminhar com Cristo e formar a Igreja. E por isso devem ser acompanhados com respostas inteligentes do nosso tempo: ainda há necessidade de Deus? Ainda é razoável acreditar em Deus? Cristo constitui somente uma figura da história das religiões, ou é realmente o Rosto de Deus, de quem todos nós temos necessidade? Podemos viver sem conhecer Cristo?

É preciso compreender que construir a vida e o futuro implica também a paciência e o sofrimento.

A Cruz não pode faltar nem sequer na vida dos jovens, e não é fácil fazer com que isto seja compreendido. O montanhês sabe que para fazer uma bonita experiência de escalada deverá enfrentar sacrifícios e treinar, assim como o jovem deve compreender que na subida rumo ao futuro da vida é necessário o exercício de uma vida interior.

Portanto, a personalização e a socialização são as suas indicações que devem compenetrar as situações concretas dos desafios hodiernos: os desafios do afecto e da comunhão. Efectivamente, estas duas dimensões permitem abrir-se ao futuro e também ensinar que às vezes o Deus difícil da fé é também para o meu bem no futuro.

53 No que diz respeito à escola católica, posso dizer que muitos Bispos que vieram em visita "ad Limina" sublinharam várias vezes a importância da mesma. A escola católica, em situações como a africana, torna-se um instrumento indispensável para a promoção cultural, para os primeiros passos da alfabetização e para uma elevação do nível cultural em que se forma uma nova cultura. Graças a ela é possível responder também aos desafios da técnica, que se comprometem numa cultura pré-técnica destruindo antigas formas de vida tribal com o seu conteúdo moral.

No nosso contexto, a situação é diferente, mas o que me parece importante é o conjunto de uma formação intelectual, que faça compreender oportunamente que também hoje o cristianismo não está separado da realidade.

Como dissemos na primeira parte, na esteira do iluminismo e do "segundo iluminismo", de 1968, muitos pensaram que o tempo histórico da Igreja e da fé tivesse entrado numa nova época, onde estas coisas poderiam ser estudadas como a mitologia clássica. Pelo contrário, é necessário compreender que a fé tem uma actualidade permanente e um grande bom senso. Por conseguinte, uma afirmação intelectual em que se compreendem também a beleza e a estrutura da fé.

Esta era uma das intenções fundamentais do Catecismo da Igreja Católica, agora resumido no Compêndio. Não devemos pensar num conjunto de regras que carregamos nas costas como uma mochila pesada no caminho da vida. Em última análise, a fé é simples e rica: nós acreditamos que Deus existe, que Deus tem a ver com ela. Mas de que Deus se trata? De um Deus com um Rosto, um Rosto humano, de um Deus que reconcilia, que vence o ódio e dá a força da paz que ninguém pode oferecer. É necessário fazer compreender que na realidade o cristianismo é muito simples e, portanto, muito rico.

A escola é uma instituição cultural, de formação intelectual e profissional: por conseguinte, é preciso fazer compreender a organicidade e a lógica da fé, e assim conhecer os grandes elementos essenciais, entender o que é a Eucaristia, o que acontece no Domingo, no matrimónio cristão. Naturalmente, há que fazer compreender, todavia, que a disciplina da religião não é uma ideologia puramente intelectual e individualista, como talvez aconteça noutras matérias: na matemática, por exemplo, sei como fazer um determinado cálculo. Mas também outras disciplinas, em última análise, têm uma tendência prática, uma tendência à profissionalidade e à aplicação na vida. Assim, é preciso compreender que a fé, essencialmente, cria uma assembleia e une.

É precisamente esta essência da fé que nos liberta do isolamento do ego e nos une numa grande comunidade, uma comunidade muito completa na paróquia, na assembleia dominical e universal, em que eu me torno um parente de todos no mundo.

Há que compreender esta dimensão católica da comunidade, que se reúne todos os domingos na paróquia. Portanto se, por um lado, conhecer a fé é uma finalidade, por outro, socializar na Igreja ou "tornar-se eclesial" significa introduzir-se na grande comunidade da Igreja, lugar de vida, onde sei que nos momentos importantes da minha vida sobretudo no sofrimento e na morte não estou sozinho.

Sua Excelência disse que muitas pessoas não parecem ter necessidade de nós, mas os doentes e os indivíduos que sofrem, sim. E isto dever-se-ia compreender desde o início, que nunca mais estarei sozinho na vida. A fé resgata-me da solidão. Serei sempre acompanhado por uma comunidade, mas ao mesmo tempo também eu devo ser portador da comunidade e ensinar desde o começo inclusive a responsabilidade para com os doentes, as pessoas isoladas e as que sofrem, e assim é retribuído o dom que eu ofereço. Por conseguinte, é necessário despertar no homem, em quem se esconde esta disponibilidade ao amor e ao dom de si, esta grande dádiva e assim dar a garantia de que também eu terei irmãos e irmãs que me sustentam nestas situações de dificuldade, quando tenho necessidade de uma comunidade que não me abandone.

No que se refere à importância da vida religiosa, nós sabemos que a vida monástica e contemplativa exerce atracção diante da pressão deste mundo, manifestando-se assim como um oásis onde realmente viver. Trata-se, também aqui, de uma visão romântica: por isso, é necessário o discernimento das vocações. Todavia, a situação histórica confere uma certa atracção pela vida contemplativa, mas não em igual medida pela vida religiosa activa.

Isto observa-se melhor no ramo masculino, onde se vêem religiosos, mesmo sacerdotes, que desempenham um importante apostolado na educação, junto dos doentes, etc. Vê-se menos, infelizmente, no caso das vocações femininas, onde a profissionalidade parece tornar supérflua a vocação religiosa. Há enfermeiras formadas, existem professoras de escola diplomadas, e portanto isto já não se parece como uma vocação religiosa, e será difícil recomeçar tais actividades, se a cadeia das vocações for interrompida.

Todavia, vemos cada vez mais que para ser uma boa enfermeira não é suficiente a profissionalidade. É necessário o coração. É preciso o amor pela pessoa que sofre. Isto tem uma profunda dimensão religiosa. Assim, também no campo do ensino. Agora dispomos de novas formas, como os institutos seculares, cujas comunidades demonstram com a sua vida que para a pessoa existe um modo bom de viver, mas sobretudo necessário para a comunidade, para a fé e para a colectividade humana. Portanto, penso que mesmo que as formas mudem uma boa parte das nossas comunidades activas femininas teve origem no século XIX, com o desafio social específico daquele período, e hoje os desafios são um pouco diferentes a Igreja faz compreender que servir as pessoas que sofrem e salvaguardar a vida são vocações que têm uma profunda dimensão religiosa e que existem diversificadas formas para viver tais vocações. Desenvolvem-se novos modos, a ponto de se poder esperar que também hoje o Senhor há-de conceder vocações necessárias para a vida da Igreja e do mundo.

54 À intervenção do capelão, no Centro Penitenciário local, onde vivem 260 pessoas de mais de 30 nacionalidades, Bento XVI respondeu com as seguintes palavras:

Obrigado pelas suas palavras muito importantes e também muito comovedoras. Pouco antes da minha partida, tive a oportunidade de falar com o Cardeal Martino, Presidente do Pontifício Conselho "Justiça e Paz", que está a elaborar um documento sobre o problema dos nossos irmãos e das nossas irmãs presos que sofrem, que por vezes se sentem pouco respeitados nos seus direitos humanos e até desprezados, e vivem numa situação em que há realmente necessidade da presença de Cristo. E Jesus, no cap. 25 do Evangelho de Mateus, na antecipação do juízo final, fala explicitamente desta situação: Eu estava na prisão e não me visitaste; Eu estava no cárcere e visitaste-me.

Portanto, estou-lhe grato por me ter falado destas ameaças contra a dignidade humana em tais circunstâncias, para aprender que também como sacerdotes devemos ser irmãos destes "mínimos"; é de extrema importância ver também neles o Senhor que nos espera. Juntamente com o Cardeal Martino, tenho a intenção de dizer uma palavra, mesmo pública, sobre estas situações particulares, que constituem um mandato para a Igreja, para a fé e para o seu amor. Por fim, estou-lhe grato por me ter dito que não é tão importante o que fazemos, mas é importante o que somos no nosso compromisso sacerdotal. Sem dúvida, devemos fazer tantas coisas, sem ceder à indolência, mas todo o nosso empenhamento só dará fruto se for expressão daquilo que somos.

Se nas nossas acções se manifestar o nosso estar profundamente unidos a Cristo: o nosso ser instrumentos de Cristo, boca pela qual Cristo fala e mão através da qual Cristo age. O ser convence, e o fazer só convence se for realmente fruto e expressão do ser.

A questão da comunhão aos fiéis divorciados e novamente casados.

Todos nós sabemos que este é um problema particularmente doloroso para as pessoas que vivem em situações em que são excluídas da comunhão eucarística e, naturalmente, também para os sacerdotes que desejam ajudar estas pessoas a amar a Igreja, a amar Cristo. Isto levanta um problema.

Ninguém de nós dispõe de uma receita já feita, também porque as situações são sempre diversificadas. Diria que é particularmente dolorosa a situação de quantos tinham casado na Igreja, mas não eram verdadeiramente crentes e só o fizeram por tradição, e depois, contraindo um novo matrimónio não válido, converteram-se, encontraram a fé e agora sentem-se excluídos do Sacramento. Este é realmente um grande sofrimento e quando fui Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé convidei várias Conferências Episcopais e especialistas a estudarem este problema: um sacramento celebrado sem fé. Se realmente é possível encontrar nisto uma instância de invalidade, porque ao sacramento faltava uma dimensão fundamental, não ouso dizer. Eu pessoalmente pensava assim, mas dos debates que tivemos compreendi que o problema é muito difícil e ainda deve ser aprofundado. Mas considerando a situação de sofrimento destas pessoas, deve ser aprofundado.

Não ouso dar agora uma resposta, mas em todo o caso parecem-me muito importantes dois aspectos. O primeiro: mesmo que não possam receber a comunhão sacramental, tais pessoas não são excluídas do amor da Igreja e do amor de Cristo. Uma Eucaristia sem a comunhão sacramental imediata não é certamente completa, pois falta algo essencial. Todavia, é também verdade que participar na Eucaristia sem a comunhão eucarística não é igual a nada, é sempre um estar envolvido no mistério da Cruz e da ressurreição de Cristo. É sempre uma participação no grande Sacramento, na dimensão espiritual e pneumática; e também na dimensão eclesial, se não estreitamente sacramental.

E dado que é o Sacramento da Paixão de Cristo, Cristo sofredor abraça de modo particular estas pessoas e comunica-se com elas de outra forma, e portanto elas podem sentir-se abraçadas pelo Senhor crucificado que cai por terra e sofre por elas e com elas. Por conseguinte, é necessário fazer compreender que mesmo que, infelizmente, falte uma dimensão fundamental, todavia tais pessoas não devem ser excluídas do grande mistério da Eucaristia, do amor de Cristo aqui presente. Isto parece-me importante, como é importante que o pároco e a comunidade paroquial levem tais pessoas a sentir que, por um lado, devemos respeitar a indissolubilidade do Sacramento e, por outro, amamos as pessoas que sofrem também por nós. E devemos também sofrer juntamente com elas, porque dão um testemunho importante, a fim de que saibam que no momento em que se cede por amor, se comete injustiça ao próprio Sacramento, e a indissolubilidade parece cada vez menos verdadeira.

Conhecemos o problema não apenas das Comunidades protestantes, mas também das Igrejas ortodoxas, que muitas vezes são apresentadas como modelo em que os fiéis têm a possibilidade de voltar a casar. Mas somente o primeiro matrimónio é sacramental: também eles reconhecem que os outros não constituem um Sacramento, mas são matrimónios de forma reduzida, redimensionada, numa situação penitencial; e de certo modo tais pessoas podem receber a comunhão, mas conscientes de que isto lhes é concedido "em economia" como dizem por uma misericórdia que todavia não impede que o seu matrimónio não seja um Sacramento. Outro ponto nas Igrejas Orientais é que para estes matrimónios foi concedida a possibilidade de divórcio com grande facilidade, e que portanto o princípio da indissolubilidade, verdadeira sacramentalidade do matrimónio, fica gravemente ferido.

Portanto, por um lado há o bem da comunidade e o bem do Sacramento que devemos respeitar, e por outro há o sofrimento das pessoas que devemos ajudar.

55 O segundo ponto que devemos ensinar e tornar credível, também para a nossa própria vida, é o facto de que o sofrimento, de diversas formas, faz necessariamente parte da nossa vida. E diria que se trata de um sofrimento nobre. É necessário, novamente, fazer compreender que o prazer não é tudo. Que o cristianismo nos dá alegria, como o amor dá alegria. Mas o amor é também sempre uma renúncia a si mesmo. O próprio Senhor nos ofereceu a fórmula do que é o amor: quem se perder a si mesmo, encontrar-se-á; quem ganhar e se conservar a si mesmo, perder-se-á.

É sempre um Êxodo e, portanto, também um sofrimento. A verdadeira alegria é algo distinto do prazer; a alegria aumenta e amadurece sempre no sofrimento, em comunhão com a Cruz de Cristo. Somente aqui nasce a verdadeira alegria da fé, da qual também tais pessoas não são excluídas, se aprenderem a aceitar o seu sofrimento em comunhão com o de Cristo.

A administração do Sacramento do Baptismo em situações particulares e sobre o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica:

A primeira questão é muito difícil e já tive a oportunidade de me ocupar disto quando era Arcebispo de Munique, porque se verificaram casos análogos.

Em primeiro lugar há que esclarecer cada um dos casos: se o obstáculo contra o Baptismo é tal, que não se possa concedê-lo sem o desperdício do Sacramento, ou se a situação permite dizer, mesmo num contexto problemático, que tal homem se converteu verdadeiramente, tem toda a fé, quer viver a fé da Igreja e deseja ser baptizado. Na minha opinião, apresentar agora uma fórmula geral não corresponderia à diversidade das situações concretas: naturalmente, procuramos fazer todo o possível para dar o Baptismo a uma pessoa que o pede com fé íntegra, mas dizemos que os pormenores devem ser estudados em cada um dos casos.

Se uma pessoa se demonstra realmente convertida e quer aceder ao Baptismo, deixar-se inserir na comunhão de Cristo e da Igreja, o desejo da Igreja deve consistir em secundá-la. Se não existirem obstáculos que realmente tornem contraditório o Baptismo, a Igreja deveria permanecer aberta. Por conseguinte, procurar a possibilidade e, se a pessoa está verdadeiramente convencida e acredita de todo o coração, não nos encontramos no relativismo.

Segundo ponto: todos nós sabemos que na situação cultural e intelectual, de que falámos inicialmente, a catequese tornou-se muito difícil. Por um lado, são necessários novos contextos para ela ser compreendida e contextualizada, a fim de que se possa ver que isto é verdadeiro e diz respeito ao presente e ao futuro e, por outro, portanto, uma contextualização necessária foi levada a cabo nos Catecismos das diversas Conferências Episcopais.

Mas por outro lado são necessárias respostas claras, para que se possa ver que esta é a fé e as outras são contextualizações, um modo simples de fazer compreender. Assim surgiu um "embate" no interior do mundo catequético, entre o catecismo no sentido clássico e os novos instrumentos de catequese. Por um lado, é verdade agora falo somente da experiência alemã que muitos destes livros não alcançaram a sua meta: de qualquer modo, prepararam o terreno, mas estavam tão ocupados com a preparação do terreno, com a vereda ao longo da qual a pessoa se deve encaminhar, que no final não chegaram à resposta que deviam dar. Por outro lado, os catecismos clássicos pareciam tão fechados em si, que a resposta autêntica já não tocava a mente do catecúmeno de hoje.

No final, assumimos este compromisso pluridimensional: elaborámos o Catecismo da Igreja Católica que, por um lado, oferece as necessárias contextualizações culturais, mas apresenta também respostas específicas. Redigimo-lo na consciência de que depois, deste Catecismo à catequese concreta, ainda há um caminho não fácil a percorrer. Mas também compreendemos que as situações, tanto linguísticas como culturais e sociais, são tão diferentes nos vários países e também nas várias camadas sociais dos próprios países, que nisto compete ao Bispo ou à Conferência Episcopal e ao próprio catequista fazer seu este último caminho; por isso, a nossa posição foi a seguinte: este é o ponto de referência para todos, é aqui que se vê como a Igreja acredita. Em seguida, as Conferências Episcopais devem criar os instrumentos que se aplicam à situação cultural e percorrer o caminho que ainda falta. Enfim, o próprio catequista deve dar os últimos passos, também para os quais se oferecem talvez os instrumentos adequados.

Depois de alguns anos, tivemos uma reunião em que os catequistas do mundo inteiro nos disseram que o Catecismo funcionava bem, que era um livro necessário, que ajuda manifestando a beleza, a organicidade e a integridade da fé, mas que tinham necessidade de uma síntese. Depois de ter tomado conhecimento do voto dessa reunião, o Santo Padre João Paulo II encarregou uma Comissão de realizar este Compêndio, ou seja, um resumo do Catecismo grande, ao qual se referisse, daí extraindo o essencial. Inicialmente, na redacção do Compêndio queríamos ser ainda mais breves, mas no final compreendemos que para dizer realmente o essencial, na nossa época, o material necessário que servia para cada catequista era quanto dissemos. Acrescentámos também algumas orações. E julgo que se trata de um livro realmente muito útil, onde se encontra um "resumo" daquilo que está contido no Catecismo grande e, neste sentido, parece-me que actualmente pode corresponder ao Catecismo de Pio X.

Há ainda o compromisso por parte de cada um dos Bispos e das Conferências Episcopais, de ajudar os sacerdotes e os todos os catequistas no trabalho com este livro e de servir de ponte para um determinado grupo, porque o modo de falar, de pensar e de compreender é muito diferente, não só entre a Itália, a França, a Alemanha e a África, mas também no interior de um país é compreendido de maneira muito diferente. Portanto, o Catecismo da Igreja Católica e o Compêndio, com a substância do Catecismo, permanecem como instrumentos para a Igreja universal.

Além disso, temos sempre necessidade do trabalho dos Bispos que, em contacto com os sacerdotes e os catequistas, ajudam a encontrar todos os instrumentos necessários para poder trabalhar bem nesta sementeira da Palavra.

Gostaria de agradecer estas vossas interrogações, que me ajudam a reflectir sobre o futuro, e sobretudo esta experiência de comunhão com um grande presbitério, de uma bonita diocese.
Obrigado!





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