Discursos Bento XVI 103

103 Por isso, convido-vos a procurar o Senhor todos os dias, ele deseja apenas que sejais realmente felizes. Tende com Ele uma relação intensa e constante na oração e, na medida do possível, buscai momentos propícios na vossa jornada para permanecer exclusivamente na sua companhia. Se não souberdes como rezar, pedi que seja Ele mesmo quem vos ensine e solicitai à sua Mãe celeste que reze convosco e por vós. A recitação do Rosário pode ajudar-vos a aprender a arte da oração com a simplicidade e a profundidade de Maria. É importante que no coração da vossa vida esteja a participação na Eucaristia, na qual Jesus se doa a si mesmo por nós. Ele, que morreu pelos pecados de todos, deseja entrar em comunhão com cada um de vós, bate à porta do vosso coração para vos doar a sua graça. Ide ao encontro com Ele na Sagrada Eucaristia, ide adorá-lo nas igrejas e permenecei ajoelhados diante do Tabernáculo: Jesus cumular-vos-á com o seu amor e manifestar-vos-á os pensamentos do seu Coração. Se vos colocardes à escuta, experimentareis de maneira cada vez mais profunda a alegria de fazer parte do seu Corpo místico, a Igreja, que é a família dos seus discípulos estreitos pelo vínculo da unidade e do amor. Além disso, aprendereis, como diz o apóstolo Paulo, a deixar-vos reconciliar com Deus (cf. 2Co 5,20).No sacramento da Reconciliação, especialmente, Jesus espera-vos para perdoar os vossos pecados e para vos reconciliar com o seu amor através do ministério do sacerdote. Ao confessar com humildade e verdade os pecados recebereis o perdão de Deus mediante as palavras do seu ministro. Que grande oportunidade nos deu o Senhor com este Sacramento para nos renovarmos interiormente e progredirmos na nossa vida cristã! Aconselho-vos, fazei dele constantemente bom uso!

Queridos amigos, como vos dizia, se seguirdes Jesus nunca vos sentireis sozinhos porque fazeis parte da Igreja, que é uma grande família na qual podeis crescer na amizade verdadeira com muitos irmãos e irmãs na fé, dispersos no mundo inteiro. Jesus precisa de vós para "renovar" a sociedade actual. Preocupai-vos em crescer no conhecimento da fé para serdes suas autênticas testemunhas.

Dedicai-vos a compreender cada vez mais a Doutrina Católica: embora para os olhos do mundo possa parecer uma mensagem não fácil de ser aceite, nela encontra-se uma resposta satisfatória para as vossas interrogações. Tende confiança nos Pastores que vos guiam, Bispos e sacerdotes; inseri-vos activamente nas paróquias, nos movimentos, associações e comunidades eclesiais, a fim de experimentardes juntos a alegria de ser discípulos de Cristo, que anuncia e doa a verdade e o amor. E, precisamente impulsionados pela sua verdade e o seu amor, juntamente com outros jovens que procuram o sentido autêntico da vida, podereis construir um futuro melhor para todos.

Queridos amigos, estou próximo de vós com a oração a fim de que possais acolher generosamente a chamada do Senhor, que vos mostra grandes ideais capazes de tornar a vossa vida bela e plena de alegria. Tende a certeza: somente respondendo positivamente ao seu apelo, mesmo que possa parecer-vos exigente, é possível encontrar a felicidade e a paz do coração. A Virgem Maria vos acompanhe neste itinerário de compromisso cristão e vos ajude em todos os vossos bons propósitos. Com estes sentimentos, concedo de coração uma especial Bênção Apostólica a todos vós reunidos em Nieuwegein, como também àqueles que com amor e sabedoria vos acompanham no vosso caminho de crescimento humano e espiritual.

Vaticano, 21 de Novembro de 2005.

PAPA BENTO XVI




DURANTE A VISITA À UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SAGRADO CORAÇÃO DE ROMA Sexta-feira, 25 de Novembro de 2005

Magnífico Reitor
Ilustres Decanos e Professores
Senhores médicos e auxiliares
Queridos Estudantes!

Sinto-me muito feliz por visitar esta sede romana da Universidade Católica do Sagrado Coração para inaugurar oficialmente o Ano Académico de 2005-2006. O meu pensamento dirige-se neste momento para as outras sedes do Ateneu: a central de Milão, junto da Basílica de santo Ambrósio, as de Bréscia, de Placência-Cremona e de Campobasso. Gostaria que neste momento toda a família da "Católica" se sentisse unida, sob o olhar de Deus, no início de uma nova etapa de caminho no compromisso científico e formativo. Estão espiritualmente aqui connosco o Padre Gemelli e muitos outros homens e mulheres que com a sua dedicação iluminada fizeram a história do Ateneu. Sentimos próximos também os Papas, começando por Bento XV até João Paulo II, que sempre mantiveram um vínculo especial com esta Universidade. A minha visita hodierna, com efeito, relaciona-se com a que o meu venerado Predecessor fez há cinco anos, a esta mesma sede, na mesma circunstância. Dirijo uma saudação cordial ao Cardeal Dionigi Tettamanzi, Presidente do Instituto Toniolo, e ao Magnífico Reitor, Professor Lorenzo Ornaghi, agradecendo a ambos as corteses palavras que me dirigiram em nome de todos os presentes. A minha saudação faz-se extensiva com deferência às outras ilustres personalidades religiosas e civis aqui reunidas, em particular ao senador Emílio Colombo, que durante 48 anos foi membro da Comissão Permanente do Instituto Toniolo, presidindo-a depois de 1986 a 2003. A ele dirijo o meu profundo agradecimento por quanto fez ao serviço da Universidade.

104 Ao estarmos aqui juntos, ilustres e queridos amigos, não podemos deixar de pensar nos momentos cheios de trepidação e de emoção que vivemos durante as últimas hospitalizações de João Paulo II nesta Policlínica. Naqueles dias o pensamento dos católicos e não só, de todas as partes do mundo, estava voltado para a "Gemelli". Dos seus aposentos do hospital o Papa concedeu a todos o ensinamento incomparável do sentido cristão da vida e do sofrimento, testemunhando em primeira pessoa a verdade da mensagem cristã. Por conseguinte, desejo renovar a expressão do meu grato apreço e a de numerosas pessoas pelos cuidados solícitos oferecidos ao Santo Padre. Que ele obtenha a cada um as recompensas celestes.

A Universidade Católica do Sagrado Coração, nas suas cinco sedes e quatorze Faculdades, conta hoje com cerca de quarenta mil estudantes inscritos. É espontâneo pensar: que responsabilidade! Milhares e milhares de Jovens passam pelas salas da "Católica". Como saem delas? Que cultura encontraram, assimilaram, elaboraram? Eis o grande desafio, que diz respeito em primeiro lugar ao grupo dirigente do Ateneu, ao Corpo dos professores, e por conseguinte, aos próprios estudantes: dar vida a uma autêntica Universidade católica, que se distingue pela qualidade da pesquisa e do ensinamento e, ao mesmo tempo, pela fidelidade ao Evangelho e ao magistério da Igreja. A este propósito, é providencial que a Universidade Católica do Sagrado Coração esteja estruturalmente ligada à Santa Sé através do Instituto Toniolo de Estudos Superiores, cuja tarefa era e é garantir a continuidade das finalidades institucionais do Ateneu dos católicos italianos. Esta orientação originária, sempre confirmada pelos meus Predecessores, garante de modo colegial uma firme ancoragem da Universidade à Cátedra de Pedro e ao património dos valores deixado em herança pelos Fundadores. A todos os componentes desta benemérita Instituição manifesto o meu sentido agradecimento.

Voltemos portanto à pergunta: que cultura? Alegra-me pelo facto de o Reitor, na sua saudação introdutória, ter realçado a "missão" originária e sempre actual da Universidade católica, isto é, a de fazer pesquisa científica e actividade didáctica segundo um coerente projecto cultural e formativo, ao serviço das novas gerações e do progresso humano e cristão da sociedade. Em relação a isto é muito rico o património de ensinamentos deixado pelo Papa João Paulo II, que culminou na Constituição Apostólica Ex corde Ecclesiae, de 1990. Ele demonstrou sempre que o facto de ser "católica" em nada mortifica a Universidade, antes a valoriza ao máximo. De facto, se a missão fundamental de cada universidade é "a investigação contínua da verdade mediante a pesquisa, a preservação e a comunicação do saber para o bem da sociedade" (ibid., n. 30), uma comunidade académica católica distingue-se pela inspiração cristã dos indivíduos e das próprias comunidades, pela luz de fé que ilumina a reflexão, pela fidelidade e pelo compromisso institucional ao serviço do povo de Deus (cf. ibid., n. 13).

A Universidade católica é portanto um grande laboratório no qual, segundo as diversas disciplinas, se elaboram sempre novos percursos de pesquisa num confronto estimulante entre fé e razão, que tem por objectivo recuperar a síntese harmoniosa alcançada por Tomás de Aquino e pelos outros grandes do pensamento cristão, uma síntese contestada infelizmente por correntes importantes da filosofia moderna. A consequência desta contestação foi que como critério de racionalidade foi-se afirmando de modo cada vez mais exclusivo o da demonstrabilidade mediante a experiência. As questões fundamentais do homem como viver e como morrer são assim excluídas do âmbito da racionalidade e são deixadas na esfera da subjectividade. Por conseguinte desaparece, no final, a questão que deu origem à universalidade a questão do verdadeiro e do bem a qual é substituída pela questão do concretizável. Eis então o grande desafio das Universidades católicas: fazer ciência no horizonte de uma racionalidade verdadeira, diversa da que hoje é amplamente dominante, segundo uma razão aberta à questão da verdade e aos grandes valores inscritos no próprio ser, por conseguinte, aberta ao transcendente, a Deus.

Agora, nós sabemos que isto é possível precisamente à luz da revelação de Cristo, que uniu em si Deus e homem, eternidade e tempo, espírito e matéria. "No princípio existia o Verbo" o Logos, a razão criativa... "E o Verbo fez-se homem" (
Jn 1,1 Jn 1,14). O Logos divino, a razão eterna, está na origem do universo e em Cristo uniu-se de uma vez para sempre à humanidade, ao mundo e à história. À luz desta verdade fundamental de fé e ao mesmo tempo de razão é possível de novo, em 2000, conjugar fé e ciência. Sobre esta base, gostaria de dizer, desenvolve-se o trabalho quotidiano de uma Universidade católica. Não é uma aventura entusiasmante? Sim, é-o porque, movendo-se no interior deste horizonte de sentido, descobre-se a unidade intrínseca que une os diversos ramos do saber: a teologia, a filosofia, a medicina, a economia, todas as disciplinas, até às tecnologias mais especializadas, porque tudo está relacionado. Escolher a Universidade católica significa escolher esta orientação que, não obstante os inevitáveis limites históricos, qualifica a cultura da Europa, para cuja formação, não por acaso, as Universidades que surgiram historicamente "ex corde Ecclesiae" deram uma contribuição fundamental.

Por conseguinte, queridos amigos, com renovada paixão pela verdade e pelo homem, lançai as redes ao largo, no alto mar do saber, tendo confiança na palavra de Cristo, mesmo quando acontece experimentar a fadiga e a desilusão de nada ter "pescado". No vasto mar da cultura Cristo tem sempre necessidade de "pescadores de homens", isto é, de pessoas de consciência e bem preparadas que ponham as suas competências profissionais ao serviço do bem, e por fim do Reino de Deus. Também o trabalho de pesquisa no âmbito da Universidade, se for desempenhado numa perspectiva de fé, já pertence a este serviço ao Reino e ao homem! Penso em toda a pesquisa que se realiza nos numerosos Institutos da Universidade Católica: ela está destinada à glória de Deus e à promoção espiritual e material da humanidade. Neste momento, penso em particular no Instituto Científico que o vosso Ateneu desejou oferecer ao Papa João Paulo II a 9 de Novembro de 2000, por ocasião da sua visita a esta sede para inaugurar solenemente o ano académico. Desejo afirmar que também eu acompanho com particular interesse o "Instituto Científico Internacional Paulo VI de pesquisa sobre a fertilidade e a infertilidade humana para uma procriação responsável". De facto, ele, devido às suas finalidades institucionais apresenta-se como exemplo eloquente daquela síntese entre verdade e amor que constitui o centro vital da cultura católica. O Instituto, que surgiu para responder ao apelo lançado pelo Papa Paulo VI na Encíclica Humanae vitae, propõe-se dar uma base científica segura quer à regulação natural da fertilidade humana, quer ao compromisso de superar de modo natural a eventual infertilidade. Fazendo meu o grato apreço do meu venerado Predecessor para esta iniciativa científica, desejo que ela possa ter o apoio necessário na continuidade da sua importante actividade de pesquisa.

Ilustres Professores e queridos estudantes, o Ano Académico que hoje inauguramos é o 85º na história da Universidade Católica do Sagrado Coração. De facto, as lições iniciaram em Milão em Dezembro de 1921, com cem inscritos, nas duas faculdades de Ciências Sociais e de Filosofia. Enquanto dou graças ao Senhor juntamente convosco pelo longo e fecundo caminho realizado, exorto-vos a permanecer fiéis ao espírito do início, assim como aos Estatutos que estão na base desta Instituição. Assim podereis realizar uma síntese fecunda e harmoniosa entre a identidade católica e a inserção plena no sistema universitário italiano, segundo o projecto de Giuseppe Toniolo e do Padre Agostino Gemelli. São estes os votos que hoje formulo a todos vós: continuai a construir, dia após dia, com entusiasmo e alegria, a Universidade Católica do Sagrado Coração. É um compromisso que acompanho com a minha oração e com uma especial Bênção Apostólica.




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA POLÓNIA EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sábado, 26 de Novembro de 2005


Louvado seja Jesus Cristo!

Dou-vos as minhas cordiais boas-vindas, queridos Irmãos no ministério episcopal. Sinto-me feliz por vos receber durante a presente visita ad limina Apostolorum.

Ouvi com atenção os vossos relatórios sobre a vida da Igreja nas dioceses das quais sois responsáveis. Agradeço-vos pela responsabilidade que assumis todos os dias como Pastores do rebanho do Senhor, animando com a vossa autoridade apostólica o ministério pastoral dos presbíteros, a realização dos carismas das comunidades religiosas e o desenvolvimento espiritual dos fiéis leigos. Dou graças a Deus por todos os frutos que são produzidos por este caminho comum rumo à casa do Pai, seguindo as pegadas de Cristo, à luz e no poder do Espírito Santo. A vossa presença aqui é sinal do vínculo espiritual da Igreja na Polónia com a Sé Apostólica e com o Sucessor de São Pedro. Recordo com emoção a grande oração com que os polacos acompanharam João Paulo II, durante todo o seu pontificado e de modo particular, nos dias da passagem para a glória do Senhor. Estou grato por poder contar com o mesmo apoio orante. É um dom que aprecio muito e que peço continuamente.

105 1. A educação dos jovens

Durante os nossos colóquios foram tratados muitos temas. Entre eles escolhi para hoje a questão da educação cristã. De facto, é uma das tarefas mais fundamentais inscritas estavelmente na missão salvífica da Igreja e no nosso serviço episcopal.

João Paulo II na Exortação apostólica Ecclesia in Europa solicitava com fervor a Igreja no nosso continente a dedicar uma atenção cada vez maior à educação dos jovens na fé (n. 61). Sabemos que, em relação a isto, não se trata apenas da didáctica, do aperfeiçoamento dos métodos de transmissão do saber, mas trata-se de uma educação baseada no encontro directo e pessoal com o homem, no testemunho isto é, na transmissão autêntica da fé, da esperança e da caridade e dos valores que delas derivam, directamente da pessoa humana. Por conseguinte, trata-se de um autêntico encontro com outra pessoa, a qual deve ser primeiro ouvida e compreendida. João Paulo II foi para nós um modelo perfeito deste encontro com o homem.

O cumprimento fiel e frutuoso da missão da educação face ao qual a Igreja hoje se encontra, exige uma adequada avaliação da situação dos jovens que são objecto desta missão. Em primeiro lugar, é necessário observar a sua situação familiar, porque a família permanece o berço fundamental da formação da pessoa humana. Estou consciente de que as dificuldades económicas, a taxa de desemprego que se mantém alta e a solicitude para garantir a existência material incidem sobre a forma de vida de numerosas famílias. Não é possível formar atitudes verdadeiramente autênticas, sem ter em consideração estes problemas, das quais vive também o homem jovem.

É necessário considerar também muitos fenómenos positivos que apoiam e ajudam a educação na fé. São numerosíssimos os jovens que manifestam uma sensibilidade profunda às necessidades do próximo, especialmente às dos pobres, dos doentes, das pessoas sozinhas e dos deficientes. Por isso, empreendem várias iniciativas para levar ajuda aos necessitados. Existe também um verdadeiro interesse pelas questões de fé e de religião, pela necessidade de estar com os outros em grupos organizados e nos informais e o grande desejo de fazer a experiência de Deus. Disto dá testemunho a numerosa participação dos jovens polacos nos exercícios espirituais, nos Encontros Europeus dos Jovens ou nas Jornadas Mundiais da Juventude. Tudo isto constitui uma boa base para a solicitude pastoral pelo desenvolvimento espiritual da juventude.

A educação para a fé deve consistir antes de tudo em desenvolver o que no homem é bom. O desenvolvimento do voluntariado, inspirado pelo espírito do Evangelho, oferece uma grande ocasião educativa. Talvez valesse a pena criar grupos juvenis da Caritas nas paróquias ou nas escolas. Nas iniciativas educativas da Igreja também seria oportuno favorecer o interesse nas questões de fé, empreendendo todas as iniciativas que sirvam para habituar as crianças e os jovens ao gosto da oração. Uma grande ocasião são os exercícios espirituais, particularmente os que são feitos no silêncio total, os dias de retiro para diversos grupos, e também as escolas de oração geridas de modo sistemático nas paróquias. Uma magnífica ocasião para isto são os exercícios espirituais na escola no período do Advento ou da Quaresma. É necessário também comprometer-se para que surjam centros de exercícios espirituais e outros lugares de oração e de recolhimento, a fim de que efectivamente, sem se preocupar com o custo material, se tornem centros de formação espiritual acessíveis a todos os que procuram um contacto mais profundo com Deus.

Entre as várias formas de oração, à Liturgia compete um lugar particular. Na Polónia os jovens participam numerosos e activamente na Santa Missa dominical. É preciso intensificar ainda os esforços para que a solicitude dos sacerdotes para a apropriada celebração da Liturgia, para a beleza da palavra, do gesto, da música sejam cada vez mais o sinal legível do Mysterium salvífico que nela se realiza. Também é necessário que os jovens, mediante uma participação activa na preparação da Liturgia, através da participação na Liturgia da Palavra, no serviço do Altar, ou no âmbito musical, sejam inseridos na acção litúrgica. Então sentir-se-ão partícipes do Mistério, que introduz no mundo de Deus e contemporaneamente o orienta para o mundo das pessoas atraídas pelo mesmo amor de Cristo.

Ao longo dos trinta anos transcorridos, muitos jovens formaram-se segundo esta orientação no âmbito das actividades do movimento dos "oásis" chamado "Luz e Vida". A espiritualidade deste movimento centra-se no encontro com Deus na Sagrada Escritura e na Eucaristia, por isso está profundamente relacionado com a paróquia e com a sua vida litúrgica. Queridos Irmãos no episcopado, peço-vos que apoieis este movimento como particularmente eficaz na obra da educação na fé, naturalmente sem descuidar os outros movimentos.

Sei que durante a última visita ad limina, João Paulo II vos exortou a fazer renascer na Polónia a Acção Católica juntamente com a Associação Católica dos Jovens. Esta tarefa foi realizada a nível estrutural. Contudo é necessário fazer com que a Acção Católica e a Associação Católica dos Jovens tenham um programa cada vez mais transparente e maduro e para que seja elaborado o seu próprio perfil espiritual.

2. A colaboração educativa com a família e com os outros ambientes dos leigos

A formação da jovem geração é uma tarefa que compete aos pais, à Igreja e ao Estado. Por isso, respeitando uma oportuna autonomia, é necessária uma colaboração estreitíssima da Igreja com a escola, com os ateneus e com outras instituições leigas que se ocupam da educação da juventude.
106 Graças às transformações que se verificaram em 1989 e a todas as consequências que delas derivaram, esta colaboração adquiriu novas dimensões. Foram elaborados: o Directório Polaco da Catequese, as Bases Programáticas da Catequese e nalguns centros na Polónia foram preparados programas e livros de texto para o ensino da religião. Este pluralismo programático pode, sem dúvida, servir bem a evangelização e a educação religiosa na escola e nas paróquias, mas também vale a pena reflectir se a variedade dos programas e dos livros não dificulta aos alunos a consecução de um conhecimento religioso sistemático e ordenado.

No que diz respeito ao ensino da religião e à catequese na escola, não se podem reduzir estas matérias à dimensão da religionologia ou das ciências de religião, mesmo se fosse esta a expectativa de alguns âmbitos. O ensino da religião na escola desempenhado por professores clérigos e leigos, apoiado pelo testemunho dos professores crentes, deve conservar a sua autêntica dimensão evangélica de transmissão e de testemunho de fé.

Desejo expressar-vos o meu apreço por terdes empreendido o compromisso da catequese paroquial, a qual completa o ensino da religião na escola. Normalmente ela é a catequese das crianças e dos jovens que se preparam para receber os sacramentos da iniciação cristã. Contudo não deve limitar-se a estes grupos. Trata-se particularmente de fazer com que a juventude que estuda fora do âmbito da própria paróquia, participe activamente na vida paroquial.

3. A catequese dos adultos

A colaboração na obra da educação da parte dos pais e dos outros leigos exige uma preparação pessoal e um aprofundamento contínuo do conhecimento religioso, da espiritualidade e da correcção das atitudes com base no Evangelho e no Magistério. Por conseguinte, exorto-vos fervorosamente, a vós Bispos, a intensificar os esforços para organizar a catequese dos adultos onde ela falte ou para apoiar os ambientes, que já empreendem um ensinamento deste tipo. Esta catequese deveria basear-se na Escritura e no Magistério. No seu desenvolvimento pode servir de ajuda o Catecismo da Igreja Católica, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja ou o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, recentemente publicado. Uma ajuda particular na catequese dos adultos pode ser o abundante magistério do meu venerado Predecessor João Paulo II. Durante as suas numerosas peregrinações à Polónia deixou um rico património da sabedoria que brota da fé, o qual como parece até agora ainda não foi totalmente assimilado. Neste contexto, como não recordar as Encíclicas, as Exortações, as Cartas e muitas outras intervenções que constituem uma fonte inexaurível da sabedoria cristã?

4. A pastoral universitária

O aumento do número dos jovens que escolhem as escolas superiores com a maturidade e dos que empreendem os estudos universitários é um desafio em relação aos pastores da Igreja na Polónia para uma contínua busca de novas formas da pastoral universitária.

Após anos de falta de liberdade, a Igreja pôde instituir na Polónia novas universidades próprias e faculdades teológicas, a maior parte das quais entrou nas estruturas das universidades estatais. Nas faculdades teológicas estão comprometidos muitos teólogos insignes e peritos. O seu trabalho de pesquisa baseado na Revelação é a proposta da verdade que Deus é Amor, que o mundo é o Seu dom, que o homem não é apenas dono do mundo criado, mas é também chamado a um mundo novo no reino de Deus. Exorto-vos, queridos Irmãos no episcopado, a apoiar os ambientes científicos eclesiais, a cuidar a instrução e o desenvolvimento do pessoal pertencente ao clero e ao laicado e a dispor-lhes uma adequada base material.

5. A pastoral do mundo da cultura e dos meios de comunicação de massa

O contributo da Igreja no processo da educação exprime-se também nas iniciativas a favor da cultura. Na sede da UNESCO em Paris, João Paulo II disse: "A cultura é um modo específico do "existir" e do "ser" do homem... A Cultura é aquilo através do qual o homem enquanto homem se torna cada vez mais homem... O homem, e só o homem, é "autor", ou "artífice" da cultura... exprime-se nela e encontra nela o seu próprio equilíbrio" (2/6/1980).

Das gerações precedentes a Polónia recebeu um rico património cultural baseado nos valores cristãos. Com este património entrou a fazer parte da União Europeia. Perante um processo, que se está a intensificar, de secularização e de abandono dos valores cristãos, a Polónia não deve perder este património. Ao contrário, as atitudes negativas e as ameaças à cultura cristã, visíveis também na Polónia, são para a Igreja uma chamada a um esforço ulterior em favor de uma constante evangelização da cultura. Trata-se de impregnar as categorias do pensamento com os conteúdos e os valores do Evangelho, os critérios, as avaliações e as normas do comportamento humano quer na dimensão individual quer na social.

107 Hoje no mundo da cultura os meios de comunicação de massa desempenham um papel particular. Sabemos que eles não só informam, mas também formam o espírito dos seus destinatários. Por conseguinte, podem constituir um precioso instrumento de evangelização. Os homens da Igreja, especialmente os cristãos leigos, estão chamados a promover num espaço ainda maior para os valores evangélicos por meio da imprensa, da rádio, da televisão e da internet. Uma tarefa importante dos Pastores da Igreja é contudo a solicitude não só por uma preparação profissional dos trabalhadores dos meios de comunicação social, mas também para a sua formação espiritual, humana e ética. Queridos Irmãos no episcopado, encorajo-vos a estabelecer um contacto benévolo com os ambientes dos jornalistas e de outros trabalhadores da mídia. Poderia ser oportuno organizar para eles um sector específico da pastoral.

Estimados Irmãos, desejo também confiar ao vosso cuidado especial a questão da instituição e do uso na obra de evangelização da cultura, das emissoras católicas de rádio e televisão tanto locais, como regionais ou nacionais. Elas podem desempenhar uma obra preciosa para a nova evangelização e para a difusão do ensino social da Igreja. Proclamem a verdade de Deus, sensibilizando o mundo actual para o património dos valores cristãos; a sua principal finalidade seja a aproximação a Cristo, a construção da comunidade da Igreja no espírito da busca da verdade, do amor, da justiça e da paz, no respeito da autonomia da esfera política. Contudo, dado que desempenham uma acção pastoral, têm sempre o dever de estabelecer relacionamentos abertos e confiantes com os Bispos devido à responsabilidade que desempenham neste campo.

Não podemos deixar de mencionar a imprensa católica nacional, diocesana e paroquial, a qual contribui em grande medida para a propagação da cultura da verdade, do bem e da beleza. A solicitude pelo desenvolvimento da imprensa católica significa não só elevá-la a um nível superior, mas também diz respeito à extensão do seu campo de acção. Portanto, preocupem-se os responsáveis por lhe conferir um elevado perfil, digno da tradição cultural católica da Polónia.

Conclusão

No final desta reflexão e como conclusão desejo recordar as palavras do Concílio Vaticano II, o qual ensinava na declaração Gravissimum educationis: "Todos os cristãos que, uma vez feitos nova criatura mediante a regeneração pela água e pelo Espírito Santo, se chamam e são de facto filhos de Deus, têm direito à educação cristã. Esta procura dar não só a maturidade da pessoa humana [...] mas tende principalmente a fazer com que os baptizados, enquanto são introduzidos gradualmente no conhecimento do mistério da salvação, se tornem cada vez mais conscientes do dom da fé [...] Por isso, este sagrado Concílio lembra aos pastores de almas o dever de dispor as coisas de maneira que todos os fiéis gozem desta educação cristã, sobretudo os jovens que são a esperança da Igreja" (n. 2).

Esta exortação sempre actual, talvez seja mais empenhativa hoje, face aos novos desafios que são apresentados pelos actuais fenómenos sociais. Faço votos por que a luz do Espírito Santo vos acompanhe a vós aqui presentes e a todos os Bispos polacos na sua perseverante realização.
Que a bênção de Deus ampare a vós e às vossas dioceses na obra da formação das mentes e dos corações. Deus vos seja propício!






AO CARDEAL GABRIEL ZUBEIR WAKO ARCEBISPO DE CARTUM (SUDÃO) Segunda-feira, 28 de Novembro de 2005


Eminência
Irmãos Bispos
Ilustres Visitantes

108 É com grande satisfação que vos dou as boas-vindas ao Vaticano e, através de vós, transmito as minhas sinceras saudações à população do vosso país. Aprecio enormemente os sentimentos que estimularam a vossa visita, e desejo confirmar-vos as minhas orações e a minha profunda solicitude pelo desenvolvimento pacífico davida civil e eclesial na vossa nação.

A cessação da guerra civil e a legalização de uma nova Constituição infundiram esperança na população do Sudão, que está a sofrer há muito tempo. Não obstante se tenham verificado atrasos no caminho da reconciliação, das quais não menos importante foi a trágica morte de John Garang, agora apresenta-se à Igreja uma oportunidade e, na realidade, um dever sem precedentes, de contribuir de maneira significativa para o processo de perdão e de reconstrução nacional. Embora representem uma minoria, os católicos têm muito a oferecer através do diálogo inter-religioso e também mediante a oferta de serviços sociais extremamente necessários. Por conseguinte, encorajo-vos a tomar as iniciativas necessárias para concretizar a presença purificadora de Cristo ao longo destes caminhos.

Os horrores dos acontecimentos que se estão a verificar no Darfur, aos quais o meu amado predecessor o Papa João Paulo II se referiu em numerosas ocasiões, indica a necessidade de uma resolução internacional mais vigorosa, em vista de garantir a segurança e os direitos humanos fundamentais. Hoje, uno a minha voz ao clamor das pessoas que sofrem, enquanto vos asseguro que a Santa Sé, juntamente com o Núncio Apostólico, continuarão a fazer tudo o que é possível para pôr fim ao ciclo de violência e de miséria.

Queridos amigos, sobre vós e a vossa população, invoco as bênçãos divinas da sabedoria, da fortaleza e da paz!



                                                          Dezembr de  2005






AO SENHOR ALI ABEID A. KARUME NOVO EMBAIXADOR DA TANZÂNIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2005

Excelência

É-me grato recebê-lo hoje, no momento da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Unida da Tanzânia junto da Santa Sé. Transmito-lhe a certeza das minhas preces pelo bem-estar e a prosperidade da sua nação, e peço-lhe que agradeça ao Presidente, Senhor Benjamin Mkapa, as suas calorosas saudações.

A Tanzânia, como uma boa parte da África, é conhecida pelas suas belezas naturais e foi abençoada com uma rica variedade de culturas e de tradições. Trata-se de costumes que frisam a importância da comunidade, do respeito recíproco e da dignidade humana, e podem oferecer muito à humanidade no seu conjunto. As relações diplomáticas entre a Tanzânia e a Santa Sé expressam a nossa convicção comum de que tais qualidades são essenciais para fomentar a compreensão entre os povos e a paz no mundo. Ao mesmo tempo, o papel diplomático da Santa Sé distingue-se dos outros, na comunidade internacional, dado que se caracteriza pela sua dedicação ao serviço do progresso dos indivíduos e da sociedade através da afirmação dos valores da paz, da solidariedade, da justiça e da liberdade (cf. Papa João Paulo II, Discurso à 50ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, Nova Iorque, 5 de Outubro de 1995, n. 18).

Estes valores centrais, fundamentados na dignidade intrínseca de cada ser humano, são também a chave para desenvolver e sustentar as democracias com determinação e eficácia. A este propósito, desejo encorajar o seu governo nos seus esforços em vista de assegurar que o país permaneça aberto à riqueza oferecida pela diversidade política. As democracias genuínas exigem que se resista aos interesses egoístas e aos esforços que visam revigorar as posições de domínio, de tal maneira que cada cidadão goze do direito de escolher os seus líderes através de eleições livres, transparentes e multipartidárias. O respeito pela dignidade humana exige que a "administração pública a todos os níveis nacional, regional e comunitário se oriente em vista do serviço aos seus cidadãos" que, por sua vez, oferecem uma contribuição inestimável para a nação, como autênticos parceiros no governo (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 412).

Paralelamente a estas mesmas linhas, é-me grato observar que a sua nação, como membro fundador da Comunidade da África Oriental, está comprometida a trabalhar juntamente com outras nações no campo da criação de um mercado comum. A adopção de uma união alfandegária conjunta por parte das nações-membro é, efectivamente, um sinal positivo do progresso que está a ser alcançado neste importante empreendimento. A solidariedade comum neste nível não só contribui para o progresso integral da região, mas desenvolve também um nível de relações e de solicitudes mútuas, que pode ser extremamente útil para a abordagem de quaisquer diferenças que venham a surgir. Além disso, há que reconhecer de maneira louvável a generosidade manifestada pelo seu país, dando acolhimento a cerca de um milhão de refugiados, em fuga por causa da violência e do derramamento de sangue provocado pelas guerras nas respectivas pátrias. Sem dúvida, a sua nação pode orgulhar-se de tais formas de preocupação pelo maior bem de todos; elas representam gestos significativos, que fazem da Tanzânia um exemplo para a África e para o mundo. Estou consciente também do enorme peso material que tal generosidade representa para o seu país, e encorajo a comunidade internacional a continuar a ajudá-lo nos seus esforços em vista de assistir as pessoas marginalizadas e deslocadas.


Discursos Bento XVI 103