Discursos Bento XVI 109

109 Senhor Embaixador, desejo garantir-lhe que a Igreja Católica continuará a ajudar o seu país a enfrentar estas necessidades. Com efeito, ela tem muito a oferecer no seu ensinamento social, que procura aumentar a consciência moral das exigências da justiça e da solidariedade, exigências estas que são pregadas tendo como referência o valor incomparável e a centralidade da pessoa humana.

Esta é a motivação que se encontra por detrás das suas tentativas de confortar os pobres e as pessoas que sofrem, e de promover a solidariedade e a cooperação no meio da população da Tanzânia. Com efeito, as iniciativas fomentadas pelos Bispos católicos têm chamado a atenção para a mobilização dos próprios pobres na luta em prol da erradicação da pobreza e da promoção do desenvolvimento. Os esforços dos Bispos são mais do que uma eloquente expressão da solicitude da Igreja pelos pobres. Eles constituem um exemplo do seu desejo apaixonado de trabalhar com as autoridades governamentais, pelo bem-estar espiritual e material de cada cidadão, independentemente da raça, religião ou pertença social. Excelência, durante o seu mandato como Representante da Tanzânia junto da Santa Sé, os vários departamentos da Cúria Romana farão tudo o que estiver ao seu alcance para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Formulo-lhe os meus votos pelo bom êxito dos seus esforços em vista de desenvolver ulteriormente as relações positivas já existentes entre nós, e rezo para que Deus Todo-Poderoso derrame as suas bênçãos abundantes sobre Vossa Excelência e sobre todo o querido povo da Tanzânia.




AO SENHOR MADAN KUMAR BHATTARAI NOVO EMBAIXADOR DO REINO DO NEPAL JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2005


Senhor Embaixador

Dou-lhe calorosas boas-vindas, no momento de aceitar as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino do Nepal junto da Santa Sé.

Profundamente agradecido pelas saudações e bons votos que Vossa Excelência me transmite da parte de Sua Majestade o Rei Gyanendra Bir Bikram Shah, retribuo de bom grado os seus amáveis sentimentos e peço que lhe transmita, bem como ao governo e ao povo do Nepal, a expressão da minha estima e da certeza das minhas preces pelo bem-estar e a prosperidade da sua nação.

O seu país e a Santa Sé têm laços de amizade e de cooperação, que se tornam cada vez mais fortes em virtude do compromisso comum em vista de trabalhar pela paz e pela segurança entre os povos, em todos os estratos da sociedade. Esta tarefa conjunta interpela todos os homens e mulheres de boa vontade, e deseja fomentar e promover a solidariedade internacional. De facto, sem ela não pode existir uma paz genuína. Tanto os pobres como os ricos têm o direito de participar no usufruto dos bens materiais da terra e de exercer a sua capacidade de trabalhar, recebida de Deus. O meu ilustre Predecessor, o Papa João Paulo II, ensinou que nós temos o dever solene de criar um mundo que seja mais justo e próspero para todos, afirmando na sua Carta Encíclica Centesimus annus que "a elevação dos pobres é uma grande ocasião para o crescimento moral, cultural e até económico de toda a humanidade" (n. 28).

Enquanto este apelo a uma maior solidariedade é dirigida à comunidade internacional no seu conjunto, ele é de particular relevância para os países da Ásia. Como Vossa Excelência bem sabe, as nações do seu continente têm necessidade de continuar a trabalhar em estreito contacto umas com as outras, se quiserem resolver as dificuldades levantadas pelos conflitos e pela pobreza. Sem dúvida, a sua região está abençoada com numerosos homens e mulheres dotados das capacidades humanas e intelectuais necessárias para enfrentar os desafios do nosso tempo. Cada tentativa de mobilizar este talento de maneira construtiva ajuda a fomentar a cooperação necessária para ajudar os países em dificuldade. Por conseguinte, exorto Vossa Excelência a continuar a trabalhar com os seus vizinhos para assegurar que os problemas do continente sejam abordados de forma eficaz. A ulterior cooperação internacional na análise e na avaliação das opções políticas e sociais, bem como a promoção da paz e da reconciliação hão-de reforçar a influência da sua região aos olhos do resto do mundo. E levarão também a uma maior assistência às nações mais pobres e a um maior respeito pela respectiva soberania.

Desejo expressar a minha solicitude pelos actos de violência que assumiram uma proporção devastadora no seu país. Rezo para que todas as partes interessadas ponham fim ao derramamento de sangue que continua a causar tanto sofrimento para a sua nação e, ao contrário, sigam o caminho do diálogo e da negociação. Só isto conseguirá levar a população do Nepal a beneficiar da justiça, da tranquilidade e da harmonia. Efectivamente, somente através do diálogo poderemos ultrapassar as formas de conflito e de tensão que impedem os nossos esforços em vista de edificar uma plataforma sólida para a paz e a fraternidade (cf. Discurso ao Corpo Diplomático, 12 de Maio de 2005). Deve-se evitar sempre o uso da violência como instrumento para a mudança política, e fomentar sempre a edificação da compreensão mútua e um intercâmbio de ideias que seja construtivo. As facções opostas entre si devem permitir que as bênçãos do perdão cedam lugar à esperança de um futuro de paz, para eliminar assim a dor e enxugar as lágrimas do passado. Se insistirmos sobre a grandeza e a dignidade da pessoa humana, e propagarmos um sentido mais clarividente da unicidade da família humana, juntos poderemos erradicar as causas da violência e da injustiça.

Por sua vez, a Igreja Católica inspira-se também no excelso princípio da solidariedade, no seu compromisso ao serviço do bem integral da pessoa humana. Embora sejam pouco numerosos, os católicos do Nepal chamam a atenção para a necessidade de ajudar os pobres na luta contra a pobreza. Os esforços da Igreja não são apenas uma expressão da sua solicitude pelos indivíduos menos afortunados, mas frisam o seu profundo desejo de trabalhar com as autoridades governamentais, pelo bem-estar espiritual e material de todos os cidadãos.

A Igreja está activamente comprometida na promoção do desenvolvimento humano no Nepal, mediante a sua presença nas escolas, nos orfanatos, nas clínicas e nos hospitais. Estou convicto de que o apoio constante em favor da garantia legal da liberdade religiosa tornará os cristãos capazes de dar continuidade ao cumprimento da sua missão de pregar a Boa Nova da salvação e de dar testemunho da mesma, através de gestos concretos de amor e de compaixão. A comunidade católica permanece comprometida nos princípios do diálogo inter-religioso e promete a sua cooperação constante com as autoridades civis nas suas tentativas de promover este intercâmbio essencial de ideias.

110 Senhor Embaixador, estou convencido de que a sua missão há-de fortalecer ainda mais os vínculos de entendimento e de amizade entre nós. Vossa Excelência pode ter a certeza de que a Santa Sé continuará a ser um parceiro comprometido do Nepal, que procura promover o seu próprio desenvolvimento e tornar-se uma força para a estabilidade e a paz na Ásia e no contexto mais amplo da comunidade das nações. Sobre o Senhor Embaixador e o querido povo do Nepal, invoco cordialmente as abundantes bênçãos da paz e da harmonia.




AO SENHOR PEKKA OJANEN NOVO EMBAIXADOR DA FINLÂNDIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2005


Senhor Embaixador

É com alegria que lhe apresento as boas-vindas nesta alegre ocasião da entrega das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República da Finlândia junto da Santa Sé e agradeço-lhe as suas cordiais palavras. Ao mesmo tempo, peço-lhe que transmita os meus agradecimentos ao Presidente da República, Senhora Tarja Halonen, pelas saudações que me enviou. Também eu lhe envio, assim como ao povo finlandês as minhas melhores saudações.

Senhor Embaixador, sinto-me feliz pelas bons relacionamentos que há muito tempo existem entre o seu País e a Santa Sé. Sem dúvida, eles permitiram a nível internacional uma colaboração edificante que persegue várias finalidades, entre as quais a tutela e a defesa dos direitos do homem, a promoção de um desenvolvimento equitativo e duradouro e o esforço pela paz. O seu estimado País, orgulhoso da própria independência, aderiu no passado à União Europeia e a ela pertence a pleno título desde há dez anos. Desta forma pode desempenhar também um papel activo e precioso na ampliação da união, em particular em vista da admissão dos Estados Bálticos. Como sabe, a Santa Sé acompanhou esta abertura da União Europeia aos Estados da Europa do Leste, porque eles, no século passado, contribuíram para superar a divisão arbitrária da Europa que era contrária à identidade autêntica do Continente. Hoje é importante garantir e aprofundar esta unidade reencontrada. Não deve limitar-se à abertura de um grande espaço económico comum, mas deve, em particular, estar orientada para o facto de que o projecto Europa crie, a partir da sua história secular e das suas raízes culturais, filosóficas e religiosas força e impulso constantes para o seu próprio futuro e para a sua função no mundo.

A Europa representa um espaço de bem-estar do nosso mundo frágil e sob a pressão de perigos. Por conseguinte, de um ponto de vista económico, trata-se de um continente rico que também no futuro atrairá muitas pessoas pobres provenientes sobretudo das regiões desvantajadas do hemisfério austral. Portanto, a União Europeia pode reivindicar o direito de ser uma união de Estados democráticos que estão ligados um ao outro numa forma de nova concepção. Isto representa para outros grupos de Estados um modelo a ser imitado porque se torna cada vez mais necessário reunir as forças construtivas para poder satisfazer as exigências da globalização. A Finlândia, que sempre teve por finalidade relações internacionais multilaterais, pode contribuir, no âmbito da União Europeia, para o cumprimento da responsabilidade dela na família mundial das nações. A Santa Sé, por seu lado, tanto junto das Organizações internacionais como nos lugares nos quais se verificam tensões entre povos e Estados, comprometer-se-á num caminho de diálogo para cooperar, deste modo, na solução dos problemas que surgem entre grupos humanos e Estados. De igual modo, só uma autêntica política de desenvolvimento, baseada em relacionamentos equitativos entre Países ricos e Países pobres, poderá solucionar as numerosas e preocupantes injustiças devido às quais muitos dos nossos semelhantes sofrem e que se podem tornar muito facilmente terreno fértil para a violência e o terrorismo.

O diálogo inter-religioso, como recordei com vigor no início do meu Pontificado, é um empreendimento irreversível para a Igreja católica que "na busca do bem autêntico de cada homem e da sociedade deseja continuar a edificar pontes de amizade com os pertencentes de todas as outras religiões" (Discurso aos Delegados das outras Igrejas e comunidades eclesiais e tradições religiosas, 25 de Abril de 2005. Durante a viagem apostólica por ocasião da XX Jornada Mundial da Juventude em Colónia expressei de novo e aprofundei estas reflexões diante de representantes do Islão: "O diálogo inter-religioso e intercultural entre cristãos e muçulmanos não se pode limitar a uma opção da época. De facto, ele é uma necessidade vital, da qual depende em grande parte o nosso futuro" (Encontro com os representantes das comunidades muçulmanas). É muito importante que todos os fiéis se exprimam com determinação e com clareza contra o facto de que a religião se torna um pretexto para justificar um comportamento violento que viola a dignidade do homem e se dirige, desta forma, também contra o Criador de toda a vida. Senhor Embaixador, garanto-lhe que a Santa Sé não poupará esforço algum para se comprometer a todos os níveis pela paz e pela dignidade de cada ser humano criado à imagem de Deus.

Sinto-me feliz por poder saudar, por seu intermédio, também os crentes católicos na Finlândia, que recentemente celebraram os 850 anos de anúncio do cristianismo no País graças à actividade de evangelização de santo Henrique, assim como o 50º aniversário da erecção da Diocese católica de Helsínquia. A comunidade católica pouco numerosa e contudo bem integrada na sociedade finlandesa prosseguirá o diálogo ecuménico para a unidade com os cristãos de outras confissões e dedicar-se-á, ao mesmo tempo, ao diálogo inter-religioso que é um factor importante para a paz nas nossas sociedades modernas. A este propósito e com satisfação, a Santa Sé tomou conhecimento da promulgação de uma nova lei sobre a liberdade religiosa na Finlândia, que garante uma real liberdade de religião e às religiões uma maior autonomia e igualdade de tratamento jurídico, sobretudo no âmbito da formação. Assim é promovida a contribuição que cada uma delas pode dar ao bem-estar de todo o povo. Estou certo de que os católicos, juntamente com todas as outras pessoas de boa vontade, darão testemunho da dignidade e da grandeza da vida humana, que deve ser protegida desde o início até à morte natural. Com o seu comportamento e o seu compromisso os cristãos na Finlândia desejam testemunhar também o valor do casal e da família, de modo que toda a sociedade reconheça nela a célula primeira de qualquer comunidade humana, que deve ser protegida e apoiada para abrir, desta forma, também no futuro, um caminho rumo a uma vida feliz e satisfatória!

Estimado Senhor Embaixador, no início do seu importante mandato. Desejo-lhe que a sua missão seja positiva e, ao mesmo tempo, garanto-lhe o apoio e a ajuda dos meus colaboradores.

Imploro de coração a protecção de Deus e as suas abundantes bênçãos para Vossa Excelência, Senhor Embaixador, para a sua família, para os seus colaboradores na Embaixada e para todo o povo finlandês.




AO SENHOR GILBERT RAMEZ CHAGOURY NOVO EMBAIXADOR DE SANTA LÚCIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2005

Excelência

111 Estou feliz por lhe dar as boas-vindas ao Vaticano no dia de hoje, e de aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Santa Lúcia junto da Santa Sé. Peço-lhe que tenha a amabilidade de transmitir à Governadora-Geral, Senhora Pearlette Louisy, e ao Primeiro-Ministro, Senhor Kenny Anthony, o meu apreço pelos bons votos que me formularam. Retribuo calorosamente, enquanto ofereço ao governo e ao povo de Santa Lúcia a certeza das minhas preces pela prosperidade da nação.

As relações diplomáticas da Igreja, fecundamente mantidas com o seu país há mais de vinte anos, fazem parte da sua missão de serviço à comunidade internacional. De maneira específica, elas tencionam promover a dignidade da pessoa humana e encorajar a paz e a harmonia entre os povos do mundo. Estas condições essenciais para o bom êxito na obtenção do desenvolvimento integral dos indivíduos e das nações encontram o seu significado mais profundo na ordem moral estabelecida por Deus Criador, que procura atrair todos os homens e mulheres à plenitude da sua vida. É por este motivo que a Santa Sé fala com tanta insistência e ardor sobre o respeito pela dignidade humana e acerca da importância fundamental de assistir a família, como "primeira célula vital da sociedade" (Concílio Ecuménico Vaticano II, Decreto sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem
AA 11).

Senhor Embaixador, a instituição sagrada do matrimónio é fundamental para o bem-estar de cada nação, inclusive de Santa Lúcia. Trata-se do fundamento indispensável da vida familiar e a fonte primordial de coesão no seio das comunidades. Diante das tradições e das tendências que podem desvalorizar e até mesmo debilitar o matrimónio, exige-se um esforço determinado da parte das autoridades cívicas e religiosas, que devem trabalhar em conjunto para assegurar de todo o coração o apoio e a assistência a uma vida doméstica estável e fiel. Com efeito, qualquer esperança de renovação da sociedade que não respeite o plano de Deus para o matrimónio e a família está destinado a naufragar, porque é nela que primeiro se realiza a dignidade de cada pessoa, como dom de Deus, e primeiro se experimenta e se alimenta a auto-estima, necessária para um relacionamento adulto amadurecido (cf. Exortação Apostólica Familiaris consortio FC 3).

O compromisso do seu governo na diversificação económica e no desenvolvimento da infra-estrutura social oferece, particularmente às gerações mais jovens, um futuro de confiança e de optimismo. Crucial para esta visão é a criação de oportunidades no campo da educação. Onde as escolas funcionam de maneira profissional, e onde são assistidas por indivíduos que se distinguem pela integridade pessoal, oferece-se uma esperança a todos, mas de forma especial aos jovens. Uma parte integrante de tal formação é a instrução religiosa. A ciência iluminada pela fé, longe de dividir as comunidades, une as pessoas na busca comum da verdade, que define o ser humano como aquele que vive de crenças (cf. Carta Encíclica Fides et ratio FR 31). A este propósito, quando é aplicado ao sílabo da instrução religiosa nas escolas, o princípio da liberdade religiosa deve incluir o direito a ensinar o conteúdo da fé católica e a facilitar a participação nas suas várias práticas (cf. Concílio Ecuménico Vaticano II, Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae DH 4).

O aspecto moral do autêntico desenvolvimento económico é também de importância fundamental para o bem-estar e para o progresso pacífico das nações. É aqui que se satisfaz a exigência de justiça (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 10). O direito a um trabalho significativo e um padrão de vida que seja aceitável, a certeza de uma distribuição equitativa dos bens e das riquezas, assim como o uso responsável dos recursos naturais, dependem de um conceito de desenvolvimento que não se limite a satisfazer as necessidades materiais. Pelo contrário, tal conceito deve frisar também a dignidade da pessoa humana que constitui o próprio destinatário de todo o progresso e, deste modo, fomentar o bem comum de toda a humanidade. Embora esta finalidade exija, sem dúvida, a assistência da parte de toda a comunidade internacional, muito pode ser realizado também no plano das iniciativas regionais. Isto exige que se deixe de lado o nacionalismo exacerbado, de maneira que o profundo valor da solidariedade comum consiga manifestar-se a nível de acordos locais promotores da cooperação regional económica e social.

Como Vossa Excelência gentilmente desejou observar, a Igreja em Santa Lúcia serve a nação de maneira considerável através do seu vasto apostolado educativo e social. Fiel à sua missão espiritual e humanitária, ela procura contribuir de forma concreta para o progresso do povo. Uma das numerosas iniciativas, mediante as quais ela está comprometida, é a luta contra o comércio e o uso das drogas. O desejo de debelar esta insídia perniciosa para o tecido social, que alimenta a criminalidade e a violência, contribuindo para a aniquilação física e emotiva de muitos indivíduos e famílias, exige uma decidida resolução política, a cooperação internacional e a ajuda da parte de toda a comunidade. Encorajo o seu governo nos esforços que está a envidar para abordar este flagelo e asseguro-lhe que eles contam com todo o apoio dos fiéis católicos.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a sua missão, que hoje se inicia, contribuirá para fortalecer os laços de entendimento e de cooperação entre o seu país e a Santa Sé. No momento em que Vossa Excelência assume as suas novas responsabilidades, asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estão prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Sobre o Senhor Embaixador e os seus concidadãos, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




AO SENHOR FRANCISCO A. SOLER NOVO EMBAIXADOR DE EL SALVADOR JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2005


Senhor Embaixador

1. É-me grato dar-lhe as boas-vindas neste acto com o qual me entrega as Cartas Credenciais como Embaixador Extraordinário e plenipotenciário da República de El Salvador junto da Santa Sé. Agradeço as amáveis palavras que me dirigiu, assim como a cordial saudação do Senhor Presidente da República, Sua Ex.cia o Senhor Elías António Saca, da qual se fez portador. Peço-lhe que lhe transmita os meus melhores desejos de paz e de bem-estar pessoal, assim como os meus votos pela prosperidade e desenvolvimento da sua querida Nação.

2. Vossa Excelência referiu-se aos Acordos de Paz, assinados em 1992 depois de uma longa luta fratricida, e realçou também que nestes anos foi progredindo o processo de pacificação e democratização. É confortador ver o esforço do seu Governo na construção de uma sociedade mais justa que proteja os sectores mais débeis e empobrecidos. Neste sentido, a Igreja em El Salvador está consciente de que a construção e melhoria da pátria é um dever de cada cidadão, e continua a colaborar para que todos possam viver num clima de esperança e de paz. A Igreja, com a experiência que tem de humanidade, sem pretender intrometer-se na política dos Estados, tem "unicamente este objectivo: continuar, sob a direcção do Espírito Consolador, a obra de Cristo que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para julgar, para servir e não para ser servido" (Gaudium et spes GS 3).

112 3. El Salvador tem uma grande marca religiosa, que realça a fé do seu povo há mais de cinco séculos da sua evangelização. Em relação a isto, a Igreja Católica dedica todo o seu empenho para favorecer o progresso integral do ser humano e a defesa da sua dignidade, contribuindo para a consolidação dos valores e bases fundamentais para que a sociedade possa gozar de estabilidade e de harmonia. De igual modo, continua a colaborar em campos muito importantes como o ensino, a assistência dos mais desfavorecidos, os serviços no âmbito da saúde e a promoção da pessoa como cidadã filha de Deus.

Por isso, os Pastores de El Salvador não deixam de oferecer a sua palavra que brota de um conhecimento profundo da realidade humana lida à luz da Boa Nova. A sua missão de ordem religiosa não os exime de fomentar um diálogo nacional entre os responsáveis da vida social. Por outro lado, e como Vossa Excelência realçou, esse diálogo deve ajudar a construir um futuro mais humano com a colaboração de todos, evitando o empobrecimento da sociedade. Em relação a isto, é oportuno recordar que as progressos sociais não se alcançam empregando apenas as medidas técnicas necessárias, mas também promovendo reformas com base humana e moral que tenham presente uma consideração ética da pessoa, da família e da sociedade.

4. A proposta constante dos valores morais fundamentais, como a honestidade, a austeridade, a responsabilidade pelo bem comum, a solidariedade, o espírito de sacrifício e a cultura do trabalho, pode facilitar um melhor desenvolvimento para os membros da comunidade nacional, pois a violência, o egoísmo pessoal e colectivo nunca foram fontes de progresso nem de bem-estar.

Sobre esta base, os salvadorenhos, com as ricas qualidades que os distinguem, deverão ser os principais protagonistas e artífices do progresso do País, fomentando uma estabilidade política que permita a participação de todos na vida pública. Por isso, cada um, segundo as suas qualidades e possibilidades, está chamado a cooperar para o bem da Pátria. Em relação a isto, apraz-me saber o firme propósito das Autoridades em trabalhar por uma ordem social cada vez mais justa e participativa, e formulo os meus melhores votos para a consecução deste propósito, superando as graves dificuldades que atingem principalmente as camadas mais débeis da sociedade.

5. Por outro lado, é doloroso o vasto problema da pobreza, que induz muitos salvadorenhos a empreender o caminho arriscado da emigração com todas as suas consequências no âmbito familiar e social, tem graves consequências no campo da educação, da saúde e do modo de vida, e constitui um grave desafio para os governantes e para os responsáveis das organizações públicas, para que todos disponham dos bens primários e encontrem os meios indispensáveis que permitam a sua promoção e progresso integral.

A Igreja, com a sua doutrina social, procura estimular e favorecer iniciativas oportunas encaminhadas para superar situações de marginalização que atingem tantos irmãos necessitados, procurando eliminar as causas da pobreza e cumprindo assim a sua missão, porque a preocupação pela vida social faz parte da sua acção evangelizadora (cf. Sollicitudo rei socialis,
SRS 41).

6. Senhor Embaixador, antes de concluir este encontro desejo expressar-lhe os meus melhores votos para que a missão que hoje inicia seja fecunda de frutos abundantes. Peço-lhe, de novo, que se faça intérprete dos meus sentimentos e esperanças junto do Senhor Presidente da República e demais Autoridades do seu País, enquanto invoco a Bênção de Deus sobre a sua distinta família e seus colaboradores, e sobre todos os amadíssimos filhos e filhas de El Salvador.




AO SENHOR STEN ERIK MALMBORG LILHOLT NOVO EMBAIXADOR DO REINO DA DINAMARCA JUNTO DA SANTA SÉ 1 de Dezembro de 2005


Senhor Embaixador

Tenho o prazer de lhe dar boas-vindas ao Vaticano e de aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Dinamarca junto da Santa Sé. Estou-lhe grato pelas suas gentis palavras e pelas saudações que me transmite da parte da Rainha Margrethe II. Peço-lhe a amabilidade de comunicar a Sua Majestade os meus respeitosos bons votos e a certeza das minhas orações pelo bem-estar da sua nação.

A partir de 1982, a Santa Sé e a Dinamarca têm recebido os benefícios das relações diplomáticas previamente estabelecidas. Isto deu origem a um encorajador nível de contactos e de cooperação ao serviço da paz e da justiça, especialmente na parte do mundo que se está a desenvolver. Neste sentido, é-me grato observar que o seu país continua a ser extremamente generoso no seu compromisso em ordem a reduzir a pobreza mundial e a promover o progresso internacional.

113 A Santa Sé estima a importância que o governo dinamarquês está a atribuir à obtenção das Millennium Development Goals ("Finalidades de Desenvolvimento do Milénio"), de forma particular no que diz respeito à oferta por parte dos países mais abastados de 0.7% do seu produto interno bruto em vista de contribuir para a formação do orçamento internacional. Ofereço-vos todo o meu encorajamento para continuardes com determinação ao longo deste caminho, rumo à distribuição mais justa dos recursos mundiais, enquanto rezo para que muitas outras nações se inspirem no papel de liderança que o seu país tem demonstrado a este propósito.

Para além da pobreza material experimentada pelos nossos irmãos e irmãs no mundo em vias de desenvolvimento, existem inclusive outras formas de privação que constituem uma causa de preocupação na sociedade contemporânea. Na Dinamarca, assim como em muitos países europeus, promovem-se diversos debates acerca de questões ligadas à imigração. Exorto o povo dinamarquês a acolher no meio deles os recém-chegados e formulo votos para que as pessoas que encontraram na Dinamarca um lar respeitem os valores e as sensibilidades da nação que as recebeu. A integração dos povos exige que cada grupo alcance o justo equilíbrio entre a afirmação da própria identidade e o respeito pela dos outros (cf. Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 2), e sei que o seu governo aprecia a importância da reconciliação destes diferentes elementos. Rezo para que os vários grupos representados na sociedade dinamarquesa continuem a viver juntos pacificamente, oferecendo às demais nações um exemplo do enriquecimento mútuo que os países receptores e os imigrantes podem oferecer uns aos outros.

Esta cooperação é particularmente importante nos campos do ecumenismo e do diálogo inter-religioso. Não obstante a comunidade católica na Dinamarca represente apenas uma pequena percentagem da população, posso garantir-lhe que ela aspira a desempenhar o seu papel de contribuição para estes significativos esforços. Formulo votos fervorosos por que o diálogo ecuménico com a Igreja luterana estabelecida comece a produzir frutos significativos e estou persuadido de que o Senhor Embaixador fará tudo o que lhe for possível para o encorajar.

Além disso, também em consideração do fenómeno da imigração, o diálogo inter-religioso está a adquirir também um significado cada vez mais importante. A Igreja Católica deseja ardentemente contribuir neste sector específico, através da sua considerável experiência e das capacidades que lhe são próprias, para promover o respeito e a compreensão mútuos entre os seguidores das diversificadas tradições religiosas presentes no seu país.

Como acontece numa boa parte da Europa de hoje, a sociedade dinamarquesa está a tornar-se cada vez mais secularizada no seu estilo de vida. A Igreja tem o direito e o dever de indicar os perigos que surgem, quando a origem e o destino divinos do homem são ignorados ou negados. A tradição da fé cristã no seu país, que remonta há mais de mil anos, transformou-o no que ele é hoje. Com efeito, os princípios que forjaram a civilização ocidental derivam de uma visão subjacente do mundo, proclamada pela fé cristã. É essencial recordar que a sua natureza vinculante não depende do simples consenso, mas da revelação divina.

Por este motivo, é necessário examinar atentamente todos os novos desenvolvimentos sociais que se verificam, ainda que os mesmos gozem de um amplo apoio ou pareçam prometer recompensas notáveis. A defesa da vida, desde a concepção até à sua morte natural, por exemplo, e a estabilidade do matrimónio e da vida familiar são bens que devem ser salvaguardados em toda a sociedade, por mais explícitas que sejam as forças que visam debilitá-los. Eles fazem parte da ordem moral objectiva e nunca podem ser rejeitados sem colocar o bem comum em grave perigo.

De igual modo, os progressos científicos e tecnológicos devem ser avaliados sempre em conformidade com sólidos critérios éticos, e jamais será possível tolerar aquilo que ameaça a dignidade inerente à pessoa humana. Somente através da adesão fiel a estas verdades imutáveis, a sociedade poderá criar as condições para que o ser humano possa florescer e prosperar.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a missão diplomática que Vossa Excelência começa no dia de hoje há-de fortalecer ulteriormente as relações fecundas já existentes entre a Santa Sé e o seu país. Asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estão sempre prontos para lhe oferecer ajuda e assistência no cumprimento dos seus deveres. Enquanto formulo os meus sinceros bons votos, invoco sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da Dinamarca, as abundantes bênçãos de Deus.


À SENHORA KONJI SEBATI NOVA EMBAIXADORA DA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL JUNTO DA SANTA SÉ 1 de Dezembro de 2005


Senhora Embaixadora

É-me grato recebê-la no Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeada Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República da África do Sul junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que o Senhor Embaixador me transmite da parte de Sua Excelência o Senhor Thabo Mbeki, Presidente da República, e é de bom grado que retribuo com os meus bons votos e a certeza das minhas preces por ele e pelo povo da África do Sul.

114 Desde o estabelecimento das relações diplomáticas em 1994, a Santa Sé acompanhou de perto a transformação do seu país e os seus fecundos esforços envidados em vista de construir uma sociedade integrada, estável e pluralista. Embora os desafios subsistam, a realidade da nova África do Sul tem merecidamente recebido aclamação e admiração. A própria boa vontade política e a maturidade administrativa, que produziram a transição pacífica para a plena democracia, devem incidir também nas demais áreas de solicitude actual. Muitos destes problemas são também compartilhados por outros países na região e são o resultado da globalização ou da transformação social interna. A urbanização intensiva, por exemplo, provocou a escassez de alojamentos adequados, o desemprego, a criminalidade e uma exagerada estratificação social. Estes desafios só podem ser efectivamente tratados mediante a promoção da coesão social e do crescimento económico, oferecendo também, especialmente aos pobres e marginalizados, oportunidades nos campos da educação e do trabalho. Elevo as minhas preces ao Deus Todo-Poderoso para que, enquanto a sua nação continua a abordar estas problemáticas, a sua visão política permaneça aberta ao amor pela verdade, pela paz e pela justiça.

A elevada proporção de jovens na população do seu país, os valores africanos tradicionais do profundo respeito pela vida humana, pela família, pela comunidade e pela solidariedade social certamente contribuirão para o processo de desenvolvimento a longo prazo. Efectivamente, esta equilibrada abordagem da mudança tem ajudado a incrementar o prestígio moral da nova África do Sul, transformando-a num dos países mais influentes de todo o continente. Estou persuadido de que o seu exemplo a tornará capaz de manter uma voz forte na comunidade internacional, de maneira especial no que se refere à eliminação ou redução da dívida externa, à construção da paz na região e à assistência às demais nações, na consolidação de comprovados programas económicos e sociais.

Senhora Embaixadora, nos últimos anos a estabilidade social e o bom êxito económico da África do Sul atraiu um número crescente de refugiados dos países tristemente angustiados pela pobreza, pela agitação política e pela violência. A política de aceitação dos refugiados, praticada pela sua nação, tem constituído um exemplo para toda a região. Não é fácil para os governos locais e nacionais, já provados por problemas económicos e sociais, oferecer uma solução para as pessoas que partem em busca de uma vida nova e melhor. No entanto, a atenção que se lhes presta é um sinal característico de uma sociedade autenticamente civil, impelida por uma justa compaixão pelos indivíduos menos afortunados. A história tem demonstrado de forma clarividente que "a imigração pode ser um recurso para o desenvolvimento, e não um obstáculo para o mesmo" (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 297). Não tenho dúvida de que a sua nação, ao haurir dos talentos e das esperanças dos recém-chegados, e ao tratá-los sempre com a dignidade e o respeito que merecem, alcançará muitos benefícios.

A vasta maioria da população da África do Sul é cristã e, por conseguinte, sente-se capaz de oferecer ao país os importantes valores religiosos da solidariedade, da tolerância e da reconciliação. Por sua vez, a Igreja Católica permanece comprometida na sua missão de oferecer o apoio integral à promoção da sociedade moderna, fomentando ulteriormente o diálogo e a compreensão recíproca (cf. Ecclesia in Africa ). Ela é profundamente respeitada pelos esforços que envida para trabalhar com os governos civis na abordagem das numerosas problemáticas sociais e humanas que estão a atingir a África. Um exemplo notável disto é a luta contra o Hiv/Sida, em que as estatísticas anotadas em diversas regiões da África confirmam os resultados das políticas fundamentadas na continência, na promoção da fidelidade no matrimónio e na importância da vida familiar. A educação, os cuidados médicos e a assistência aos pobres indicam também sectores onde a colaboração tem sido extremamente vantajosa e recompensadora. Neste contexto, gostaria de lhe assegurar que a Igreja Católica continuará a oferecer a sua cooperação, onde quer que seja necessária a sua ajuda, e quereria encorajar o seu governo a fomentar uma consciência cada vez maior acerca da dignidade da vida humana, desde a concepção até à morte natural.

Senhora Embaixadora, no momento em que Vossa Excelência assume os seus deveres como Representante do seu país junto da Santa Sé, asseguro-lhe as minhas preces pelo bom êxito da sua missão. A Senhora Embaixadora pode estar certa de que os vários departamentos da Cúria Romana a assistirão de bom grado na sua tarefa. Imploro as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso sobre Vossa Excelência e o querido povo da África do Sul.





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