Discursos Bento XVI 137

AO SENHOR FRANCIS MARTIN-XAVIER CAMPBELL NOVO EMBAIXADOR DO REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E DA IRLANDA DO NORTE JUNTO À SANTA SÉ Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2005


Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte junto da Santa Sé. Enquanto lhe agradeço as saudações que me transmite da parte de Sua Majestade a Rainha Isabel II e do seu Governo, peço que lhe retribua, comunicando os meus respeitosos bons votos e orações pela paz e a prosperidade do Reino.

A Santa Sé valoriza enormemente os vínculos formais com o seu país, restabelecidos em 1914 e elevados à plena categoria diplomática em 1982. Estas relações tornaram possível um significativo grau de cooperação no serviço à paz e à justiça, especialmente no mundo em desenvolvimento, em que o Reino Unido tem desempenhado um papel de liderança nos esforços internacionais na luta contra a pobreza e as enfermidades. Através de tais iniciativas do Organismo Financeiro Internacional, o governo de Sua Majestade tem dado passos concretos para promover a oportuna realização das chamadas Finalidades de Desenvolvimento do Milénio. De maneira especial na África, muitas pessoas foram beneficiadas pelas resoluções assistenciais, decididas durante o encontro de Julho em Gleneagles, quando o grupo G-8 se encontrou, sob a presidência da Grã-Bretanha. Rezo a fim de que esta solidariedade concreta para com os nossos irmãos e irmãs que sofrem seja conservada e aprofundada nos próximos anos. Segundo as palavras do meu venerável predecessor, Papa Gregório o Grande, "quando vamos ao encontro das necessidades das pessoas em dificuldade, concedemos-lhes o que já lhes pertence, e não o que é nosso. Mais do que realizar obras de misericórdia, oferecemos-lhes um tributo de justiça" (Regra pastoral, 3, 21, citada no Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 184).

Como o Senhor Embaixador observou, o seu país não foi poupado pelo flagelo provocado pelas tristes divisões no seio da cristandade. As feridas causadas durante mais de quatro séculos de separação não podem ser curadas sem determinados esforços, perseverança e, sobretudo, oração. Dou graças a Deus pelo progresso que já foi alcançado ao longo dos últimos anos, mediante os vários diálogos ecuménicos, e encorajo todas as pessoas comprometidas neste trabalho a jamais se contentarem com soluções parciais, mas a visarem com determinação a finalidade da plena unidade entre os cristãos, em conformidade com a vontade do Senhor para a sua Igreja.

138 Para as comunidades cristãs, o ecumenismo não é simplesmente uma questão de solicitude interna, mas constitui um imperativo de caridade que dá expressão ao amor de Deus por toda a humanidade e ao seu plano para unir todos os povos em Cristo (cf. Ut unum sint UUS 99). Ele oferece um "exultante sinal de esperança e de consolação para toda a humanidade" (Carta do Papa Paulo VI ao Patriarca Ecuménico Atenágoras I, em 13 de Janeiro de 1970) e, como tal, tem um papel fundamental a desempenhar na superação das divisões existentes entre as comunidades e entre as nações.

A este propósito, é-me grato observar o progresso significativo que já se atingiu ao longo dos últimos anos, em ordem a alcançar a paz e a reconciliação na Irlanda do Norte. As Igrejas locais e as comunidades eclesiais têm trabalhado arduamente para triunfar sobre as diferenças históricas entre os vários estratos da população, e um dos sinais mais visíveis do crescimento na confiança mútua é a renúncia às armas por parte do Exército Republicano Irlandês. Isto não seria possível, sem os consideráveis esforços diplomáticos e políticos, em vista de alcançar uma solução justa para este antigo conflito, e isto representa um crédito enorme para todas as pessoas comprometidas.

Infelizmente, a seguir aos bombardeamentos que tiveram lugar em Londres no passado mês de Julho, o seu país continua a enfrentar actos de violência indiscriminada, perpetrados contra a população civil. Desejo assegurar-lhe a ajuda permanente da Igreja, enquanto Vossa Excelência busca soluções para as tensões subjacentes, que terminam por dar lugar a tais atrocidades. A população católica da Grã-Bretanha já se caracteriza por um alto grau de diversidade étnica e deseja ardentemente desempenhar o papel que lhe pertence na promoção da reconciliação e da harmonia entre os vários grupos presentes no seu país.

Estou consciente de que o governo de Sua Majestade reconhece a importância do diálogo inter-religioso e aprecio a abertura que o seu governo tem demonstrado, em ordem a comprometer as comunidades de fé no processo de integração dos elementos cada vez mais diversificados, que compõem a sociedade britânica.

A tolerância e o respeito pelas diferenças são valores que o Reino Unido se esforça enormemente por fomentar, tanto dentro das suas próprias fronteiras como no estrangeiro, e eles derivam de uma apreciação da dignidade inata e dos direitos inalienáveis de cada pessoa humana. E como tais, estão profundamente arraigados na fé cristã. Vossa Excelência falou sobre a importância de fazer com que o Reino Unido permaneça fiel às ricas tradições da Europa, e esta fidelidade naturalmente comporta um profundo respeito pela verdade por Deus revelada, acerca da pessoa humana. Isto requer que reconheçamos e salvaguardemos a santidade da vida, a partir do primeiro momento da concepção até à morte natural. Exige que admitamos o papel indispensável do matrimónio estável e da vida familiar, para o bem da sociedade. E obriga-nos a considerar atentamente as implicações éticas do progresso científico e tecnológico, de maneira particular nos campos da investigação médica e da engenharia genética. Mas sobretudo, orienta-nos para uma adequada compreensão da liberdade humana, que nunca pode realizar-se independentemente de Deus, mas apenas em cooperação com o seu desígnio de amor pela humanidade (cf. Homilia por ocasião da Solenidade da Imaculada Conceição, 8 de Dezembro de 2005). Se se espera que a tolerância e o respeito pelas diferenças verdadeiramente beneficiem a sociedade em geral, eles devem ser edificados sobre a rocha de uma compreensão genuína da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, e chamada a participar da sua vida divina.

Excelência, estou convicto de que a missão diplomática que o Senhor Embaixador começa no dia de hoje servirá para fortalecer os bons relacionamentos que já existem entre o Reino Unido e a Santa Sé. Ao transmitir-lhe os meus melhores votos para os anos vindouros, asseguro-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana estão sempre prontos para oferecer a própria ajuda e apoio em ordem ao cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência e todo o povo da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, invoco do íntimo do coração as abundantes bênçãos de Deus.


AOS FUNCIONÁRIOS QUE RESTAURARAM O APARTAMENTO PONTIFÍCIO Sexta-feira, 23 de Dezembro de 2005


Queridos Colaboradores
e Colaboradoras

Infelizmente, os numerosos compromissos destes dias não me permitiram preparar um discurso digno do trabalho que realizastes. Peço desculpa. Posso apenas falar, como se diz, "de improviso".

Mas, as palavras brotam realmente do coração.

139 Não tenho muito a dizer. Apenas uma palavra. Contudo, com toda a minha convicção, esta palavra é um sentido "obrigado", que vem da profundidade do meu coração. Em menos de três meses, realizastes um trabalho imenso na restauração do meu apartamento. Estou convencido pois, mandei construir uma pequena casa para mim na Alemanha que noutro lugar esta obra teria durado pelo menos um ano ou, provavelmente, até mais. Assim, vi como e com que dedicação trabalhastes, com que competência, e com um tipo de colaboração entre os diversos serviços técnicos empenhados neste trabalho que só posso admirar, e que para mim é testemunho de um compromisso interior a trabalhar bem e a servir a Santa Sé e o Sucessor de Pedro. Dessa forma, realmente destes o exemplo de um trabalho responsável. Posso somente admirar tudo o que realizastes, como estes bonitos pavimentos. Depois, agrada-me de modo particular a minha nova biblioteca, com aquele tecto antigo. Para mim é como estar rodeado de amigos agora que chegaram as estantes com os livros. E o consultório médico, e todas as outras coisas que neste momento não posso enumerar. Vi também, embora eu tenha pouca competência na matéria, que naqueles três meses trabalhastes, diria quase dia e noite, com uma dedicação incrível. Posso garantir-vos a minha profunda gratidão e a minha oração.

Lembrei-me de que no Novo Testamento, como profissão do Senhor Jesus antes da sua missão pública, aparece a palavra "tecton", que geralmente nós traduzimos como "carpinteiro", porque então as casas eram substancialmente de madeira. Contudo, mais do que "carpinteiro", é um "artesão" que deve poder fazer tudo quanto é necessário para a construção de uma casa. Desse modo, neste sentido, sois "colegas" de nosso Senhor, realizastes exactamente o que Ele fazia, segundo a sua escolha, antes de anunciar ao mundo a sua grande missão. Dessa forma, o Senhor quis mostrar a nobreza deste trabalho. No mundo grego, somente o trabalho intelectual era considerado digno de um homem livre. O trabalho manual era deixado aos escravos. Totalmente diferente é a religião bíblica. Nela o Criador que segundo uma bonita imagem fez o homem com as próprias mãos aparece precisamente como o exemplo do homem que trabalha com as mãos e, assim fazendo, trabalha com o cérebro e com o coração. O homem imita o Criador para que este mundo, que nos foi dado por Ele, seja habitável. Isto aparece na narração bíblica desde o início. Enfim, de modo marcante, no facto de que Jesus era "tecton", "artesão", "trabalhador", acentua-se a nobreza e a grandeza deste trabalho.

Agora, na proximidade da festa do Natal, é o momento para dizer "obrigado" por tudo, pelo vosso trabalho que como vós destes tudo me encoraja a dar por minha vez, nesta hora avançada da minha vida, tudo o que posso dar.

Saúdo os vossos entes queridos e a todos vós concedo de coração a minha Bênção Apostólica!




DURANTE A VISITA AO PONTIFÍCIO DISPENSÁRIO DE SANTA MARTA Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2006

Prezados amigos

É com grande afecto que saúdo todos vós, trabalhadores deste Dispensário, cujo nome é dedicado a Santa Marta, irmã de Maria e de Lázaro, e modelo de grande disponibilidade em relação ao Mestre divino. Agradeço-vos a hospitalidade tão familiar, assim como as amáveis expressões que, em nome de todos, me foram dirigidas por um dos vossos representantes. Saúdo a Irmã Clara e as outras religiosas, os médicos, os voluntários e cada uma das famílias que aqui encontram uma ajuda preciosa. O serviço, que vós aqui desempenhais, inspira-se no exemplo de Santa Marta, que cuidava de Jesus; dado que era homem, Ele tinha necessidades humanas: sentia fome e sede, experimentava o cansaço da viagem, tinha necessidade de um momento de descanso, de estar um pouco retirado das multidões e da cidade de Jerusalém. Como ela, também vós procurais servir Jesus nas pessoas que encontrais.

Esta minha visita adquire um significado singular, porque se realiza no período natalício: nestes dias o nosso olhar volta-se para o Menino Jesus. Ao vir aqui, é precisamente Ele que encontro nas crianças de quem vós cuidais amorosamente. Elas constituem o objecto da vossa atenção, do mesmo modo como, no presépio, o Messias recém-nascido está no centro das atenções de Maria e de José. Em cada uma delas, assim como na gruta de Belém, Jesus bate à porta do nosso coração e pede que lhe reservemos espaço na nossa vida. Deus é assim: não se impõe, jamais entra com a força mas, como uma criança, pede para ser ouvido. Num certo sentido, também Deus se apresenta necessitado de atenção; espera que lhe abramos o coração e que cuidemos dele. E cada vez que nos voltamos com amor para "um só destes meus irmãos mais pequeninos", como disse o Senhor, é a Ele mesmo que prestamos o nosso serviço (cf. Mt 25,40).

No dia de hoje celebramos a festividade da Sagrada Família de Nazaré. Ao encontrar-me no meio de vós e ao observar o vosso compromisso em prol das crianças e dos seus pais, desejo pôr em evidência a vocação fundamental da família, a ser o primeiro e principal lugar de acolhimento da vida. A concepção moderna da família, também por reacção ao passado, atribui uma grande importância ao amor conjugal, ressaltando os seus aspectos subjectivos de liberdade na opção e nos sentimentos. No entanto, é mais difícil sentir e compreender o valor da vocação de colaborar com Deus na procriação da vida humana. Além disso, as sociedades contemporâneas, embora tenham numerosos instrumentos à sua disposição, nem sempre conseguem facilitar a missão dos pais, tanto no plano das motivações espirituais e morais, como a nível das condições práticas da vida. Há uma grande necessidade de assistir a família, quer sob o perfil cultural, quer nos planos político e legislativo, e iniciativas como a do vosso Dispensário resultam ser mais úteis do que nunca a este propósito. Trata-se de realidades pequenas mas importantes e, graças a Deus, a Igreja está repleta das mesmas e não cessa de colocar cada uma delas ao serviço de todos.

Estimados irmãos e irmãs, antes de me despedir de vós, exorto-vos a rezar comigo por todas as famílias de Roma e do mundo, especialmente por aquelas que se encontram em condições de dificuldade, sobretudo porque se sentem obrigadas a viver distante da sua terra de origem. Oremos pelos pais que não conseguem assegurar aos filhos o que lhes é necessário para a saúde, para a educação e em vista de uma existência digna e tranquila. Sobre todos, invoquemos a salvaguarda maternal de Maria: Ave Maria...

E agora, concedo a cada um de vós e aos vossos entes queridos a Bênção Apostólica, enquanto formulo a todos vós um ano novo repleto de paz e de todo o bem.




AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO INTERNACIONAL DOS "PUERI CANTORES"


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Sexta-feira, 30 de Dezembro de 2005


Caros jovens dos Pueri Cantores
Caros amigos

Sinto-me feliz por vos acolher por ocasião do vosso Congresso em Roma, apreciando o espírito no qual a vossa federação realizou e deseja continuar a sua missão na Igreja, ao serviço da liturgia, sobretudo para transmitir ao mundo uma mensagem de paz e de fraternidade. É particularmente oportuno, no tempo de Natal, cantar os louvores do Senhor e expressar-lhe a nossa alegria, seguindo assim o exemplo da Virgem Maria que, por primeiro, deu graças a Deus pelo mistério da Encarnação através do seu Magnificat, que a Igreja retoma de geração em geração. Sim, rejubilamos; nasceu-nos um Salvador; Ele veio libertar-nos e chamar-nos para entrar com Ele na glória.

O Concílio Vaticano II não deixou de recordar quanto a Igreja aprecia o papel daqueles que, pelo seu canto, contribuem para a beleza da liturgia. Pois "Cristo está presente quando a Igreja reza e canta", e estamos unidos à Igreja do céu (cf. Sacrosanctum concilium
SC 7-8). Tendes, portanto, uma importante missão para ajudar o povo de Deus a rezar com dignidade, pois a música sacra tem uma "função ministerial" no serviço divino (ibid., n. 12). Recordai-vos que, sempre que a "Igreja reza, canta ou actua, a fé dos participantes é alimentada, as almas são elevadas a Deus para lhe render uma homenagem espiritual e receber a sua graça com mais abundância" (ibid., n. 33).

Agradeço-vos, portanto, a vós jovens, consciente de que, para além da alegria de cantar, a vossa dedicação representa também uma exigência e uma renúncia. Agradeço aos adultos que vos acompanham e que vos circundam. Ao assegurar-vos a minha oração, concedo-vos, bem como a todos os membros da federação dos Pueri Cantores, uma afectuosa Bênção Apostólica.




NO ENCONTRO COM O CORPO DA GENDARMARIA DO ESTADO DA CIDADE DO VATICANO Sábado, 31 de Dezembro de 2005


Queridos amigos

Estou particularmente feliz por me encontrar no dia de hoje com todos vós, que formais o Corpo da Gendarmaria do Estado da Cidade do Vaticano. Trata-se de um agradável ensejo para vos conhecer melhor e para vos manifestar os meus sentimentos de estima e de agradecimento. Saúdo em primeiro lugar o Cardeal Edmund Casimir Szoka, Presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano, assim como Mons. Giulio Viviani, vosso Assistente espiritual. Saúdo e agradeço ao Com. Camillo Cibin, Inspector-Geral, que se fez intérprete dos sentimentos de todos os presentes. Além disso, torno os meus sentimentos extensivos a cada um de vós.

Esta visita está a realizar-se no último dia de 2005, um ano verdadeiramente especial para a Igreja.

A enfermidade, a morte e o funeral do amado Papa João Paulo II, o período da Sede Vacante e do Conclave, e a minha eleição como Bispo de Roma são acontecimentos que assinalaram de maneira extraordinária quantos vivem aqui, no Vaticano, para além dos fiéis do mundo inteiro.

141 Estou consciente de que, para vós, foi um período de trabalho mais intenso, que desempenhastes com dedicação e espírito de sacrifício, em conformidade com as melhores tradições do Corpo da Gendarmaria.

Estimados amigos, obrigado por tudo aquilo que realizais quotidianamente com abnegação e fidelidade para servir o Papa e os seus colaboradores, juntamente com o Corpo da Pontifícia Guarda Suíça, contribuindo para assegurar a tranquilidade e a ordem no interior da Cidade do Vaticano, para acolher os peregrinos que vêm visitar os túmulos dos Apóstolos ou para se encontrar com o Sucessor de Pedro, procurando igualmente resolver os eventuais problemas que se apresentam em cada circunstância, de maneira especial nas celebrações litúrgicas, nas audiências realizadas no Vaticano e nas Visitas apostólicas do Papa em Roma e a outras regiões do mundo. A vossa actividade é delicada e mais necessária do que nunca, pois exige dedicação, prudência e muita disponibilidade. Obrigado pelo vosso serviço!

Prezados Gendarmes! Apresentando a Natividade do Redentor, a liturgia deste período de Natal indica-nos os pastores que, enquanto vigiam e velam sobre os respectivos rebanhos, acolhem o anúncio dos Anjos e depois partem prontamente para O adorar na gruta de Belém. Como eles, todos nós estamos convidados a procurar e a contemplar o Salvador, que se fez homem por nós e para a nossa salvação. Vigiar e estar sempre prontos para entrar em acção: trata-se de atitudes do espírito, que condizem muito bem inclusive com este vosso trabalho, que vos compromete dia e noite.

Sabei permanecer sempre vigilantes, mesmo no âmbito propriamente espiritual. Jesus dirige esta exortação a todos os seus discípulos a fim de que, sem se deixarem seduzir pelas atracções do mundo, possam caminhar incansavelmente pela vereda do Evangelho e jamais extraviem a preciosa dádiva da fé. Por isso, é indispensável rezar sempre, conservando a união interior com o Senhor.

Somente Ele dá sentido e valor à nossa existência. Por conseguinte, que Ele vos ajude em cada momento e vos dê a sua recompensa pelos sacrifícios que o cumprimento do vosso serviço exige.
Daqui a poucas horas terá início um novo ano; formulo bons votos a fim de que ele seja tranquilo e repleto de bênçãos para cada um de vós e para as vossas famílias. Com esta finalidade, asseguro-vos a minha oração e concedo-vos do íntimo do coração a Bênção Apostólica, enquanto confio ao Senhor todos os Gendarmes activos e também os aposentados, os vossos familiares e as pessoas que vos são queridas.

Por intercessão de Maria, Mãe da Igreja, e do Arcanjo São Miguel, vosso Padroeiro, o Menino Jesus que contemplamos no presépio vos conceda um ano novo iluminado pelo seu júbilo e pelo seu amor.




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                                                       Janeiro de 2006


AOS MEMBROS DO COLÉGIO DOS ADIDOS DA ANTECÂMARA PONTIFÍCIA Quinta-feira, 5 de Janeiro de 2006


Prezados amigos

Este nosso encontro realiza-se no clima sugestivo do período do Natal, no início de 2006, e constitui uma ocasião mais propícia do que nunca para apresentar a cada um de vós os melhores bons votos de um tranquilo e profícuo ano novo. Saúdo-vos cordialmente e sinto-me feliz por vos receber nesta audiência especial. Posso dizer que aqui estais em casa e estou-vos sinceramente grato pelo serviço de honra que prestais, não sem certos sacrifícios, porque é necessária uma disponibilidade constante nas audiências, nas cerimónias e nas recepções oficiais, quando o Papa se encontra com os Chefes de Estado, os Primeiros-Ministros e os Embaixadores acreditados junto da Santa Sé.

Desejei reservar-vos este encontro para vos dizer que aprecio a atenção e a cordialidade com que desempenhais a vossa singular função. Nestes primeiros meses do meu Pontificado pude experimentar mais de perto ainda, e de maneira directa, o espírito que vos anima, a vós e a quantos trabalham na Antecâmara Pontifícia. Conheço também a devoção que tendes pelo Sucessor de Pedro e também por isto vos estou grato. Deus vos recompense. Gostaria de dirigir uma particular saudação às vossas ilustres esposas, que no dia de hoje vos acompanham, bem como a quantos quiseram estar presentes nesta nossa reunião, que justamente poderíamos definir familiar.

O vosso benemérito Colégio, coordenado pelo Decano, depende da Prefeitura da Casa Pontifícia e tem séculos de história. Mudam os tempos, mudam os usos e os costumes, mas permanece invariável o espírito com que cada um é chamado a trabalhar ao lado daquele que a Providência divina chama a reger a Igreja universal. Uma vez que esta casa, a Casa Pontifícia, é casa de todos os fiéis, também vós, estimados Adidos da Antecâmara, sois chamados a torná-la sempre hospitaleira para quem quer que venha encontrar-se com o Papa.

Caríssimos, o vosso serviço comporta também um assíduo compromisso de testemunho em favor daquele que é o verdadeiro Senhor e Dono da Casa: Jesus Cristo. Isto exige que o homem mantenha com Ele um diálogo constante na oração, que cresça na sua amizade e intimidade, pronto a dar testemunho do seu amor acolhedor para com todas as pessoas com as quais se encontra. Se este é o espírito com que desempenhais as vossas funções e estou convicto de que é assim para todos vós então elas podem tornar-se um apostolado singular, uma ocasião para transmitir com cortesia e cordialidade a alegria de ser discípulos de Cristo em cada situação e em todos os momentos da nossa vida.

Amanhã celebraremos a solenidade da Epifania, e o meu pensamento volta-se para Maria, que apresenta o Menino Jesus aos Magos vindos de longe para O adorar. Do mesmo modo como apresentou Jesus aos Magos, a Virgem continua a oferecê-lo à humanidade. Acolhamo-lo das suas mãos: Cristo satisfaz as expectativas mais profundas do nosso coração e dá sentido pleno a cada um dos nossos projectos e acções.

Que Ele esteja presente nas famílias e reine em toda a parte com o poder do seu amor. A intercessão materna de Maria vos leve a experimentar cada vez mais a profunda comunhão com Ele, uma comunhão que tem início na terra e alcançará a sua plenitude no céu onde, como recorda São Paulo, seremos "concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus" (Ep 2,19).

Por minha vez, desejo assegurar-vos uma lembrança na oração, para que o Senhor vos acompanhe ao longo de todo o ano há pouco iniciado, abençoe as vossas famílias e torne fecundas de bem as vossas actividades. Com estes sentimentos, é de coração que vos concedo uma especial Bênção Apostólica, que de bom grado faço extensiva a todas as pessoas que vos são queridas.




DURANTE O ENCONTRO COM OS EMPREGADOS DA EMPRESA MUNICIPAL PARA O AMBIENTE (AMA)


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Quinta-feira, 5 de Janeiro de 2006



Senhor Presidente municipal
Senhor Presidente
Senhoras e Senhores
Queridos amigos!

Para encontrar as palavras justas fiz preparar um discurso, porque falar bem neste momento, mesmo se o coração está repleto de alegria, não é fácil. Por isso, permiti que leia, de todo o coração, este discurso.

Todos os anos, enquanto lhe foi possível, o venerado Pontífice João Paulo II veio admirar este vosso presépio. Também eu, prosseguindo este bonito costume, vim de bom grado com grande alegria esta tarde para me encontrar convosco e visitar o presépio que também este ano realizastes.

Sei que fazíeis questão que o Papa não faltasse a este tradicional encontro natalício, mas digo-vos que este era também o meu desejo. De facto, quis expressar-vos pessoalmente a minha gratidão pelo trabalho que vós, queridos trabalhadores ecológicos, desempenhais garantindo a limpeza e a ordem na zona à volta da Praça de São Pedro, frequentada por numerosos peregrinos e turistas. E esta limpeza, esta ordem, não são apenas um aspecto exterior. São a expressão de um espírito, de uma mentalidade, que revela a beleza interior; aquela beleza que procuramos e que faz com que a nossa cidade, em muitos sentidos capital do mundo, seja tão hospitaleira. O vosso serviço, o Presidente falou dos gestos de caridade que fazeis, e são muito importantes, exige dedicação e obriga a não poucos sacrifícios. Portanto, um sentido obrigado! Saúdo-vos com afecto e através de vós gostaria de saudar todos os vossos colegas. Dirijo um pensamento especial ao Senhor Presidente da Câmara Municipal e às demais Autoridades, aos dirigentes, aos responsáveis da AMA (Empresa Municipal para o Ambiente) e a quantos quiseram estar presentes. Depois, dirijo um sentido obrigado a quem se fez intérprete dos vossos sentimentos comuns.

O motivo deste nosso encontro é a visita ao vosso presépio, o "presépio dos varredores das ruas", o mais conhecido em Roma, e que tem mais de trinta anos de história, tendo sido realizado pela primeira vez no Natal de 1972 com a entusiasta colaboração de muitos trabalhadores ecológicos.

Sei que de ano para ano ele é enriquecido com elementos novos, permanecendo contudo fiel ao estilo típico das casas da Palestina dos tempos de Jesus. Ele é verdadeiramente imponente com 95 casas construídas totalmente em pedra calcária e dotadas de portas e janelas segundo o estilo da época; não faltam os rios, as nascentes, os aquedutos, as luzes, as estradas em cascalho. Portanto, uma vasta paisagem povoada com cerca de 200 personagens, um conjunto construído com material proveniente de todas as partes do mundo e, em particular, da Colunata de São Pedro, de Belém e de San Giovanni Rotondo. Fiquei admirado e congratulo-me com quantos trabalharam pacientemente para levar a cabo uma obra tão bem estruturada.

A visita ao presépio, especialmente esta tarde na vigília da solenidade da Epifania, é como voltar em peregrinação a Belém, à gruta santa onde nasceu o Redentor, e a Jerusalém onde chegaram do Oriente os Magos e encontraram Jesus, Maria e José. Deter-se para contemplar estes cenários evangélicos torna-se um estímulo para meditar sobre o mistério central da nossa salvação: Deus fez-se homem por nós; podemos acolhê-lo no nosso coração e experimentar a alegria da sua presença santificadora. Mas não é suficiente deter-se para olhar, é necessário fazer mais. É preciso que Jesus seja o centro de toda a nossa existência. Sim, é importante que ele seja o guia do nosso caminho quotidiano e a meta última e definitiva da nossa peregrinação terrena.

144 Ao formular a vós e às vossas famílias cordiais votos para 2006 que iniciou há pouco, gostaria de retomar a bonita frase de Santo Agostinho que escolhi para o Natal deste ano: "Expergiscere, homo: quia pro te Deus factus est homo Desperta, homem: porque Deus se fez homem para ti".

Queridos amigos, o Senhor quer-nos vigilantes e atentos, sem nos deixarmos levar pelas tentações falazes do que é efémero e passageiro. Seja assim para todos vós, queridos amigos, e o Senhor vos conceda um ano novo sereno e proveitoso. Acompanho estes votos com a certeza da minha oração por vós e pelos vossos amigos, enquanto de coração vos abençoo a todos. Rezemos juntos o Pai-Nosso e depois concedo-vos a minha Bênção.




A UMA DELEGAÇÃO DA ALIANÇA MUNDIAL DAS IGREJAS REFORMADAS Sábado, 7 de Janeiro de 2006


Queridos amigos

No início deste novo ano dou-vos as boas-vindas a vós, líderes da Aliança Mundial das Igrejas Reformadas, por ocasião da vossa visita ao Vaticano. Recordo com gratidão a presença das Delegações da Aliança Mundial, tanto no funeral do meu predecessor, o Papa João Paulo II, como na inauguração do meu próprio ministério pontifício. Nestes sinais de respeito mútuo e de amizade, entrevejo com prazer um fruto providencial do diálogo e da colaboração fraternos, empreendidos ao longo das últimas quatro décadas, assim como uma garantia de esperança segura para o futuro.

Com efeito, no mês passado comemorou-se o 40º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II, em que foi promulgado o Decreto sobre o Ecumenismo Unitatis redintegratio. O diálogo entre os católicos e os reformados, que teve início imediatamente depois, ofereceu uma importante contribuição para a exigente obra de reflexão teológica e de investigação histórica, indispensável para a superação das trágicas divisões que surgiram entre os cristãos no século XVI.

Um dos resultados do diálogo foi a descoberta de significativas áreas de convergência entre a compreensão reformada acerca da Igreja como Creatura Verbi e o entendimento católico da Igreja como Sacramento primordial da abundante efusão da graça de Deus em Cristo (cf. Lumen gentium LG 1). Um sinal encorajador é o facto de que a actual fase do diálogo continua a aprofundar a riqueza e a complementaridade de tais abordagens.

O Decreto sobre o Ecumenismo afirmava que "não pode existir verdadeiro ecumenismo sem conversão interior" (Unitatis redintegratio UR 7). No início do meu Pontificado, manifestei a convicção pessoal de que "a conversão interior constitui o requisito prévio para todo o progresso ecuménico" (Homilia na Capela Sistina, 20 de Abril de 2005) e recordei o exemplo do meu predecessor, o Papa João Paulo II, que falava com frequência da necessidade da "purificação da memória", como maneira de abrir os nossos corações para receber a verdade plena de Cristo.

Especialmente por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000, o saudoso Papa imprimiu um impulso poderoso a este esforço na Igreja Católica, e apraz-me tomar conhecimento de que várias Igrejas Reformadas, que são membros da Aliança Mundial, tomaram iniciativas análogas. Gestos como estes constituem pedras angulares de um relacionamento mais profundo, que deve ser alimentado na verdade e na caridade.

Queridos amigos, rezo a fim de que o nosso encontro hodierno produza frutos num renovado compromisso de trabalho pela unidade de todos os cristãos. O caminho à nossa frente exige sabedoria, paciência, estudo e intercâmbio. Recomecemos com confiança renovada, em obediência ao Evangelho e com a nossa esperança firmemente alicerçada na oração de Cristo pela sua Igreja, no amor do Pai e no poder do Espírito Santo (cf. Unitatis redintegratio UR 24).



AO GRUPO DE GENTIS-HOMENS

DE SUA SANTIDADE Sábado, 7 de Janeiro de 2006

Estimados amigos

145 Para mim é motivo de grande prazer receber-vos em audiência especial na manhã de hoje e saudar-vos com profunda cordialidade. Trata-se de uma ocasião propícia para vos conhecer melhor e para vos manifestar os meus gratos sentimentos pelo serviço que prestais ao Sucessor de Pedro. Vejo-vos por ocasião de cerimónias e recepções oficiais, quando me encontro com Chefes de Estado, Primeiros-Ministros, Embaixadores e outras Autoridades. Estou-vos sinceramente grato pela vossa colaboração! Hoje, não viestes acompanhados de altas Autoridades políticas, mas das vossas amáveis esposas, como a uma reunião de família. Sinto-me feliz por acolher e saudar também a elas, com afecto paterno.

Dilectos Gentis-Homens, o vosso é um serviço de honra, que se insere na tradição secular da Casa Pontifícia. Hoje, sem dúvida, tudo nela parece bastante simplificado, mas se em relação ao passado mudam as funções e as tarefas, contudo permanece idêntica a finalidade daqueles que aí trabalham, ou seja, a de servir o Sucessor do Apóstolo Pedro. Encontramo-nos no final do período de Natal, enquanto o novo ano dá os seus primeiros passos.

Neste período contemplamos constantemente o Salvador que veio sobre a terra. É Ele que, na desarmante simplicidade da Noite Santa, nos trouxe a riqueza da comunhão com a sua própria vida divina. Ele é a luz que nunca se apaga, o âmago da nossa existência, e nós, como os pastores de Belém e os Magos vindos do Oriente para O adorar, depois de nos determos em oração diante do presépio, recomecemos as nossas actividades quotidianas, levando no coração a alegria de termos experimentado a sua presença. Impregnados por este grandioso Mistério, comecemos com tranquilidade e confiança este novo ano, sob o sinal do amor vivificador de Deus.

Prezados amigos, nesta perspectiva apraz-me formular-vos os melhores votos de um profícuo 2006. Na Igreja, cada tarefa é importante, quando se colabora para a realização do Reino de Deus. Para poder proceder com segurança, a barca de Pedro tem necessidade de muitas funções escondidas que, juntamente com outras mais evidentes, contribuem para o regular desenvolvimento da navegação. É indispensável que jamais se venha a perder de vista a finalidade conjunta, ou seja, a dedicação a Cristo e à sua obra de salvação. Confio todos vós e as vossas famílias a Maria, Mãe do Salvador, para que vos acompanhe e vos assista em todos os momentos da vida, enquanto vos formulo votos a fim de que experimenteis cada vez mais a alegria da presença de Cristo na vossa existência. É de bom grado que vos abençoo, enquanto vos asseguro uma especial lembrança na oração.



Discursos Bento XVI 137