Catecismo Igreja Catól. 197


CAPÍTULO PRIMEIRO

CREIO EM DEUS PAI


198 A nossa profissão de fé começa por Deus, porque Deus é «o Primeiro e o Último» (Is 44,6), o Princípio e o Fim de tudo. O Credo começa por Deus Pai, porque o Pai é a Primeira Pessoa divina da Santíssima Trindade; o nosso Símbolo começa pela criação do céu e da terra, porque a criação é o princípio e o fundamento de todas as obras de Deus.

ARTIGO 1


«CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO


CRIADOR DO CÉU E DA TERRA»


PARÁGRAFO 1

CREIO EM DEUS


199 «Creio em Deus»: é esta a primeira afirmação da profissão de fé e também a mais fundamental. Todo o Símbolo fala de Deus; ao falar também do homem e do mundo, fá-lo em relação a Deus. Os artigos do Credo dependem todos do primeiro, do mesmo modo que todos os mandamentos são uma explicitação do primeiro. Os outros artigos fazem-nos conhecer melhor a Deus, tal como Ele progressivamente Se revelou aos homens. «Os fiéis professam, antes de mais nada, crer em Deus»(1).

I.\b \B«Creio em um só Deus»


200 É com estas palavras que começa o Símbolo Niceno-Constantinopolitano. A confissão da unicidade de Deus, que radica na Revelação divina da Antiga Aliança, é inseparável da confissão da existência de Deus e tão fundamental como ela. Deus é único; não há senão um só Deus: «A fé cristã crê e professa que há um só Deus, por natureza, por substância e por essência» (2).


201 A Israel, seu povo eleito, Deus revelou-Se como sendo único: «Escuta, Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças» (Dt 6,4-5). Por meio dos profetas, Deus faz apelo a Israel e a todas as nações para que se voltem para Ele, o Único: «Voltai-vos para Mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque Eu sou Deus e não há outro [...] Diante de Mim se hão-de dobrar todos os joelhos, em Meu nome hão-de jurar todas as línguas. E dirão: "Só no Senhor existem a justiça e o poder"» (Is 45,22-24) (3).


202 O próprio Jesus confirma que Deus é «o único Senhor», e que é necessário amá-Lo «com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças» (4). Ao mesmo tempo, dá a entender que Ele próprio é «o Senhor» (5). Confessar que «Jesus é o Senhor» é próprio da fé cristã. Isso não vai contra a fé num Deus Único. Do mesmo modo, crer no Espírito Santo, «que é Senhor e dá a Vida», não introduz qualquer espécie de divisão no Deus único:

«Nós acreditamos com firmeza e afirmamos simplesmente que há um só Deus verdadeiro, imenso e imutável, incompreensível, todo-poderoso e inefável. Pai e Filho e Espírito Santo: três Pessoas, mas uma só essência, uma só substância ou natureza absolutamente simples»(6).
1. CatRom I. 2, 6, p. 23.
2. CatRom I. 2, 8, p. 26.
3. Cf.
Ph 2,10-11
4. Cf. Mc 12,29-30
5. Cf. Mc 12,35-37
6. IV Concílio de Latrão, Cap. 1. De fide catholica: DS 800

II. Deus revela o seu nome


203 Deus revelou-Se ao seu povo Israel, dando-lhe a conhecer o seu nome. O nome exprime a essência, a identidade da pessoa e o sentido da sua vida. Deus tem um nome. Não é uma força anónima. Dizer o seu nome é dar-Se a conhecer aos outros; é, de certo modo, entregar-Se a Si próprio, tornando-Se acessível, capaz de ser conhecido mais intimamente e de ser invocado pessoalmente.


204 Deus revelou-Se progressivamente e sob diversos nomes ao seu povo; mas foi a revelação do nome divino feita a Moisés na teofania da sarça ardente, no limiar do êxodo e da Aliança do Sinai, que se impôs como sendo a revelação fundamental, tanto para a Antiga como para a Nova Aliança.


O DEUS VIVO


205 Do meio duma sarça que arde sem se consumir, Deus chama por Moisés. E diz-lhe: «Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob» (Ex 3,6). Deus é o Deus dos antepassados, Aquele que tinha chamado e guiado os patriarcas nas suas peregrinações. É o Deus fiel e compassivo, que se lembra deles e das promessas que lhes fez. Ele vem para libertar da escravidão os seus descendentes. É o Deus que, para além do espaço e do tempo, pode e quer fazê-lo, e empenhará a Sua omnipotência na concretização deste desígnio.

«EU SOU AQUELE QUE SOU»

Moisés disse a Deus: «Vou então procurar os filhos de Israel e dizer-lhes: " O Deus de vossos pais enviou-me a vós". Mas se me perguntarem qual é o seu nome, que hei-de responder-lhes? Deus disse a Moisés: «Eu sou Aquele que sou». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de Israel: Aquele que tem por nome "Eu sou" é que me enviou a vós [...] ... Será este o meu nome para sempre, nome que ficará de memória para todas as gerações» (Ex 3,13-15).


206 Ao revelar o seu nome misterioso de YHWH, «Eu sou Aquele que É», ou «Eu sou Aquele que Sou», ou ainda «Eu sou quem Eu sou», Deus diz Quem é e com que nome deve ser chamado. Este nome divino é misterioso, tal como Deus é mistério. E, ao mesmo tempo, um nome revelado e como que a recusa dum nome. É assim que Deus exprime melhor o que Ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: Ele é o «Deus escondido» (Is 45,15), o seu nome é inefável (7), e é o Deus que Se faz próximo dos homens.


207 Ao revelar o seu nome, Deus revela ao mesmo tempo a sua fidelidade, que é de sempre e para sempre, válida tanto para o passado («Eu sou o Deus de teu pai» – Ex 3,6), como para o futuro («Eu estarei contigo» – Ex 3,12). Deus, que revela o seu nome como sendo «Eu sou», revela-Se como o Deus que está sempre presente junto do seu povo para o salvar.


208 Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre a sua pequenez. Diante da sarça ardente, Moisés descalça as sandálias e cobre o rosto face à santidade divina (8). Ante a glória do Deus três vezes santo, Isaías exclama: «Ai de mim, que estou perdido, pois sou um homem de lábios impuros» (Is 6,5). Perante os sinais divinos realizados por Jesus. Pedro exclama: «Afasta-Te de mim, Senhor, porque eu sou um pecador» (Lc 5,8). Mas porque Deus é santo, pode perdoar ao homem que se descobre pecador diante d'Ele: «Não deixarei arder a minha indignação [...]. É que Eu sou Deus, e não homem, o Santo que está no meio de vós» (Os 11,9). E o apóstolo João dirá também: «Tranquilizaremos diante d'Ele, o nosso coração, se o nosso coração vier a acusar-nos. Pois Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas» (1Jn 3,19-20).

7. Cf. Jg 13,1
8. Cf. Ex 3,5-6


209 Por respeito pela santidade de Deus, o povo de Israel não pronuncia o seu nome. Na leitura da Sagrada Escritura, o nome revelado é substituído pelo título divino de «Senhor» («Adonai», em grego «Kyrios»). É sob este título que será aclamada a divindade de Jesus: «Jesus é o Senhor».


«DEUS DE TERNURA E DE PIEDADE»


210 Depois do pecado de Israel, que se afastou de Deus para adorar o bezerro de ouro (9), Deus atende a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio dum povo infiel, manifestando deste modo o seu amor (10). A Moisés, que Lhe pede a graça de ver a sua glória. Deus responde: «Farei passar diante de ti toda a minha bondade (beleza) e proclamarei diante de ti o nome de YHWH» (Ex 33,18-19). E o Senhor passa diante de Moisés e proclama: «O Senhor, o Senhor [YHWH, YHWH] é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex 34,6). Moisés confessa, então, que o Senhor é um Deus de perdão» (11).

9. Cf. Ex 32
10. Cf. Ex 33,12-17
11. Cf. Ex 34,9


211 O nome divino «Eu sou» ou «Ele é» exprime a fidelidade de Deus, que, apesar da infidelidade do pecado dos homens e do castigo que merece, «conserva a sua benevolência em favor de milhares de pessoas» (Ex 34,7). Deus revela que é «rico de misericórdia» (Ep 2,4), ao ponto de entregar o seu próprio Filho. Dando a vida para nos libertar do pecado, Jesus revelará que Ele mesmo é portador do nome divino: «Quando elevardes o Filho do Homem, então sabereis que Eu sou» (Jn 8,28).

SÓ DEUS É


212 No decorrer dos séculos, a fé de Israel pôde desenvolver e aprofundar as riquezas contidas na revelação do nome divino. Deus é único, fora d'Ele não há deuses (12). Ele transcende o mundo e a história. Foi Ele que fez o céu e a terra; «eles hão-de passar, mas Vós permaneceis; tal como um vestido, eles se vão gastando [...] Vós, porém, sois sempre o mesmo e os vossos anos não têm fim» (Ps 102,27-28). N'Ele «não há variação nem sombra de mudança» (Jc 1,17). Ele é «Aquele que é», desde sempre e para sempre; e assim, permanece sempre fiel a Si mesmo e às suas promessas.

12. Cf. Is 44,6


213 A revelação do nome inefável «Eu sou Aquele que sou» encerra, portanto, a verdade que só Deus «É». Foi nesse sentido que já a tradução dos Setenta e, na sua sequência, a Tradição da Igreja. compreenderam o nome divino: Deus é a plenitude do Ser e de toda a perfeição, sem princípio nem fim. Enquanto todas as criaturas d'Ele receberam todo o ser e o ter, só Ele é o seu próprio Ser, e Ele é por Si mesmo tudo o que Ele é.

III. Deus, «Aquele que é», é verdade e amor


214 Deus, «Aquele que É», revelou-Se a Israel como Aquele que é «cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex 34,6). Estas duas palavras exprimem, de modo sintético, as riquezas do nome divino. Em todas as suas obras, Deus mostra a sua benevolência, a sua bondade, a sua graça, o seu amor; mas também a sua credibilidade, a sua constância, a sua fidelidade, a sua verdade. «Hei-de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade» (Ps 138,2) (13). Ele é a verdade, porque «Deus é luz, e n'Ele não há trevas nenhumas» (1Jn 1,5); Ele é «Amor», como ensina o apóstolo João (1Jn 4,8).

13. Cf. Ps 85,11


DEUS É A VERDADE


215 «A verdade é princípio da vossa palavra, é eterna toda a sentença da vossa justiça» (Ps 119,160). «Decerto, Senhor Deus, Vós é que sois Deus e dizeis palavras de verdade» (2S 7,28); é por isso que as promessas de Deus se cumprem sempre (14). Deus é a própria verdade; as suas palavras não podem enganar. É por isso que nos podemos entregar com toda a confiança e em todas as coisas à verdade e à fidelidade da sua palavra. O princípio do pecado e da queda do homem foi uma mentira do tentador, que o levou a duvidar da palavra de Deus, da sua benevolência e da sua fidelidade.


216 A verdade de Deus é a sua sabedoria, que comanda toda a ordem da criação e governo do mundo (15). Só Deus que, sozinho, criou o céu e a terra (16) pode dar o conhecimento verdadeiro de todas as coisas criadas na sua relação com Ele (17).


217 Deus é igualmente verdadeiro quando Se revela: todo o ensinamento que vem de Deus é «doutrina de verdade» (Ml 2,6). Quando Ele enviar o seu Filho ao mundo, será «para dar testemunho da verdade» (Jn 18,37): «Sabemos [...] que veio o Filho de Deus e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro» (1Jn 5,20) (18).

14. Cf. Dt 7,9
15. Cf. Sg 13,1-9
16. Cf. Ps 115,15
17. Cf. Sg 7,17-21
18. Cf. Jn 17,3



DEUS É AMOR


218 No decorrer da sua história, Israel pôde descobrir que Deus só tinha uma razão para Se lhe ter revelado e o ter escolhido, de entre todos os povos, para ser o seu povo: o seu amor gratuito (19). E Israel compreendeu, graças aos seus profetas, que foi também por amor que Deus não deixou de o salvar (20) e de lhe perdoar a sua infidelidade e os seus pecados (21).


219 O amor de Deus para com Israel é comparado ao amor dum pai para com o seu filho(22). Este amor é mais forte que o de uma mãe para com os seus filhos (23). Deus ama o seu povo, mais que um esposo a sua bem-amada (24); este amor vencerá mesmo as piores infidelidades (25); e chegará ao mais precioso de todos os dons: «Deus amou de tal maneira o mundo, que lhe entregou o seu Filho Único» (Jn 3,16).

19. Cf. Dt 4,37 Dt 7,8 Dt 10,15
20. Cf. Is 43,1-7
21. Cf. Os 2
22. Cf. Os 11,1
23. Cf. Is 49,14-15
24. Cf. Is 62,4-5
25. Cf. Ez 16 Os 11


220 O amor de Deus é «eterno» (Is 54,8): «Ainda que as montanhas se desloquem e vacilem as colinas, o meu amor não te abandonará» (Is 54,10). «Amei-te com amor eterno: por isso, guardei o meu favor para contigo» (Jr 31,3).


221 São João irá ainda mais longe, ao afirmar: «Deus é Amor» (1Jn 4,8 1Jn 4,16): a própria essência de Deus é Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempos, o seu Filho único e o Espírito de Amor, Deus revela o seu segredo mais íntimo ": Ele próprio é eternamente permuta de amor: Pai, Filho e Espírito Santo; e destinou-nos a tomar parte nessa comunhão.

IV. Consequências da fé no Deus Único


222 Crer em Deus, o Único, e amá-Lo com todo o nosso ser, tem consequências imensas para toda a nossa vida:


223 É conhecer a grandeza e a majestade de Deus: «Deus é grande demais para que O possamos conhecer» (Jb 36,26). É por isso que Deus deve ser «o primeiro a ser servido» (27).


224 É viver em acção de graças: Se Deus é o Único, tudo o que nós somos e tudo quanto possuímos vem d'Ele: «Que possuis que não tenhas recebido?» (1Co 4,7). «Como agradecerei ao Senhor tudo quanto Ele me deu?» (Ps 116,12).


225 É conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens: todos eles foram feitos «à imagem e semelhança de Deus» (Gn 1,26).


226 É fazer bom uso das coisas criadas: A fé no Deus único leva-nos a usar de tudo quanto não for Ele, na medida em que nos aproximar d'Ele, e a desprender-nos de tudo, na medida em que d'Ele nos afastar (28):

«Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afasta de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxima de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a Ti» (29).


227 . É ter confiança em Deus, em todas as circunstâncias, mesmo na adversidade. Uma oração de Santa Teresa de Jesus exprime admiravelmente tal atitude:

«Nada te perturbe / Nada te espante
Tudo passa / Deus não muda
A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem
nada lhe falta / Só Deus basta» (30).

26. Cf.
1Co 2,7-16, Ep 3,9-12.
27. Santa Joana D'Arc, Dito: Procès de condamnation, ed. P. Tisset–Y.Lanhers. v. I (Paris 1960) p. 280 e 288.
28. Cf. Mt 5,29-30 Mt 16,24 Mt 19,23-24
29. S. Nicolau de Flüe, Bruder-Klausen-Gebet, apud R. Amschwand, Bruder Klaus. Ergänzungsband zum Quellenwerk von R. Durrer (Sarnen 1987). p. 215.
30. Santa Teresa de Jesus. Poesía. 9: Biblioteca Mística Carmelitana. v. 6 (Burgos 1919). p. 90. [Santa Teresa de Jesus, Obras Completas (Paço de Arcos. Edições Carmelo 1994) p. 1390]


Resumindo:


228 «Escuta, Israel! O Senhor; nosso Deus, é o único Senhor...» (Dt 6,4 Mc 12,29). «O ser supremo tem necessariamente de ser único, isto é, sem igual. [...] Se Deus não for único, não é Deus» (31).


229 A fé em Deus leva-nos a voltarmo-nos só para Ele, como a nossa primeira origem e o nosso último fim, e a nada Lhe preferir ou por nada O substituir:


230 Deus, ao revelar-Se, continua mistério inefável: «Se O compreendesses, não seria Deus» (32).


231 O Deus da nossa fé revelou-Se como Aquele que é: deu-Se a conhecer como «cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex 34,6). O seu próprio Ser é verdade e amor.

31. Tertuliano, Adversus Marcionem, I, 3, 5: CCL 1, 444 (PL 2. 274).
32. Santo Agostinho, Sermo 52. 6. 16: ed. P. Verbraken: Revue Bénédictine 74 (1964) 27 (PL 38. 360).


PARÁGRAFO 2

O PAI

I. «Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo»


232 Os cristãos são baptizados «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,19). Antes disso, eles respondem «Creio» à tríplice pergunta com que são interpelados a confessar a sua fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo: «Fides omnium christianorum in Trinitate consistit – A fé de todos os cristãos assenta na Trindade») (33).


233 Os cristãos são baptizados «em nome» do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e não «nos nomes» deles porque não há senão um só Deus – o Pai Omnipotente, o Seu Filho Unigénito e o Espírito Santo: a Santíssima Trindade.


234 O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. E, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé e a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na «hierarquia das verdades da fé» (35). «Toda a história da salvação não é senão a história do caminho e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, Se revela, reconcilia consigo e Se une aos homens que se afastam do pecado»(36).


235 . Neste parágrafo se exporá brevemente de que maneira foi revelado o mistério da Santíssima Trindade (I), como é que a Igreja formulou a doutrina da fé sobre este mistério (II) e, por fim, como é que, pelas missões divinas do Filho e do Espírito Santo, Deus Pai realiza o seu «desígnio de benevolência» de criação, redenção e santificação (III).


236 Os Padres da Igreja distinguem entre «Theologia» e «Oikonomia», designando pelo primeiro termo o mistério da vida íntima de Deus-Trindade e, pelo segundo, todas as obras de Deus pelas quais Ele Se revela e comunica a sua vida. É pela «Oikonomia» que nos é revelada a «Theologia»; mas, inversamente, é a «Theologia» que esclarece toda a «Oikonomia». As obras de Deus revelam quem Ele é em Si mesmo: e, inversamente, o mistério do seu Ser íntimo ilumina o entendimento de todas as suas obras. Analogicamente, é o que se passa com as pessoas humanas. A pessoa revela-se no que faz, e, quanto mais conhecemos uma pessoa, tanto melhor compreendemos o seu agir.


237 A Trindade é um mistério de fé em sentido estrito, um dos «mistérios ocultos em Deus, que não podem ser conhecidos se não forem revelados lá do alto» (37) É verdade que Deus deixou traços do seu Ser trinitário na obra da criação e na sua revelação ao longo do Antigo Testamento. Mas a intimidade do seu Ser como Trindade Santíssima constitui um mistério inacessível à razão sozinha e, mesmo, à fé de Israel antes da Encarnação do Filho de Deus e da missão do Espírito Santo.

33. São Cesário de Arles. Expositio vel traditio Symboli (sermo 9): CCL 103. 47.
34. Cf. Vigílio, Professio fidei (522): DS 415.
35. Cf. Sagrada Congregação do Clero, Directorium catechisticum generale, 43: AAS (1972)123.
36. Ibid., 47.
37. I Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Filius, c. 4:
DS 3015


II. A revelação de Deus como Trindade


O PAI REVELADO PELO FILHO


238 A invocação de Deus como «Pai» é conhecida em muitas religiões. A divindade é muitas vezes considerada como «pai dos deuses e dos homens». Em Israel, Deus é chamado Pai enquanto criador do mundo (38). Mais ainda, Deus é Pai em razão da Aliança e do dom da Lei a Israel, seu «filho primogénito» (Ex 4,22). Também é chamado Pai do rei de Israel (39). E é muito especialmente «o Pai dos pobres», do órfão e da viúva, entregues à sua protecção amorosa (40).


239 Ao designar Deus com o nome de «Pai», a linguagem da fé indica principalmente dois aspectos: que Deus é a origem primeira de tudo e a autoridade transcendente, e, ao mesmo tempo, que é bondade e solicitude amorosa para com todos os seus filhos. Esta ternura paternal de Deus também pode ser expressa pela imagem da maternidade (41), que indica melhor a imanência de Deus, a intimidade entre Deus e a sua criatura A linguagem da fé vai, assim, alimentar-se na experiência humana dos progenitores, que são, de certo modo, os primeiros representantes de Deus para o homem. Mas esta experiência diz também que os progenitores humanos são falíveis e podem desfigurar a face da paternidade e da maternidade. Convém, então, lembrar que Deus transcende a distinção humana dos sexos. Não é homem nem mulher: é Deus. Transcende também a paternidade e a maternidade humanas (42), sem deixar de ser de ambas a origem e a medida (43): ninguém é pai como Deus.


240 Jesus revelou que Deus é «Pai» num sentido inédito: não o é somente enquanto Criador: é Pai eternamente em relação ao seu Filho único, o qual, eternamente, só é Filho em relação ao Pai: «Ninguém conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar» (Mt 11,27).


241 É por isso que os Apóstolos confessam que Jesus é «o Verbo [que] estava [no princípio] junto de Deus» e que é Deus (Jn 1,1), «a imagem do Deus invisível» (Col 1,15), «o resplendor da sua glória e a imagem da sua substância» (He 1,3).


242 Na esteira deles, seguindo a tradição apostólica, no primeiro concílio ecuménico de Niceia, em 325, a Igreja confessou que o Filho é «consubstancial» ao Pai (44), quer dizer, um só Deus com Ele. O segundo concilio ecuménico, reunido em Constantinopla em 381, guardou esta expressão na sua formulação do Credo de Niceia e confessou «o Filho unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos, luz da luz. Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai» (45).

38. Cf.
Dt 32,6 Ml 2,10
39. Cf. 2S 7,14
40. Cf. Ps 68,6
41. Cf. Is 66,13 Ps 131,2.
42. Cf. Ps 27,10
43. Cf. Ep 3,14-15 Is 49,15.
44. Símbolo de Nicéia: DS 125
45. Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150



O PAI E O FILHO REVELADOS PELO ESPÍRITO


243 Antes da sua Páscoa, Jesus anuncia o envio de um «outro Paráclito»(Defensor), o Espírito Santo. Agindo desde a criação (46) e tendo outrora «falado pelos profetas» (47), o Espírito Santo estará agora junto dos discípulos, e neles (48), para os ensinar (49) e os guiar «para a verdade total» (Jn 16,13). E, assim, o Espírito Santo é revelado como uma outra pessoa divina, em relação a Jesus e ao Pai.


244 A origem eterna do Espírito revela-se na sua missão temporal. O Espírito Santo é enviado aos Apóstolos e à Igreja, tanto pelo Pai, em nome do Filho, como pessoalmente pelo Filho, depois do seu regresso ao Pai (50). O envio da pessoa do Espírito, após a glorificação de Jesus (51) revela em plenitude o mistério da Santíssima Trindade.


245 A fé apostólica relativamente ao Espírito foi confessada pelo segundo concilio ecuménico, reunido em Constantinopla em 381:«Nós acreditamos no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai» (52). A Igreja reconhece assim o Pai como «a fonte e a origem de toda a Divindade» (53). Mas a origem eterna do Espírito Santo não está desligada da do Filho: «O Espírito Santo, que é a terceira pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza... Contudo, não dizemos que Ele é somente o Espírito do Pai, mas, ao mesmo tempo, o Espírito do Pai e do Filho»(54). O Credo do Concílio de Constantinopla da Igreja confessa que Ele, «com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado» (55).


246 A tradição latina do Credo confessa que o Espírito «procede do Pai e do Filho (Filioque)». O Concílio de Florença, em 1438, explicita: «O Espírito Santo [...] recebe a sua essência e o seu ser ao mesmo tempo do Pai e do Filho, e procede eternamente de um e do outro como dum só Princípio e por uma só espiração [...] E porque tudo o que é do Pai, o próprio Pai o deu ao seu Filho Unigénito, gerando-O, com excepção do seu ser Pai, esta mesma procedência do Espírito Santo, a partir do Filho, Ele a tem eternamente do seu Pai, que eternamente O gerou» (56).


247 A afirmação do Filioque não figurava no Símbolo de Constantinopla de 381. Mas, com base numa antiga tradição latina e alexandrina, o Papa São Leão já a tinha confessado dogmaticamente em 447 (57), mesmo antes de Roma ter conhecido e recebido o Símbolo de 381 no Concílio de Calcedónia, em 451). O uso desta fórmula no Credo foi sendo, pouco a pouco, admitido na liturgia latina (entre os séculos VIII e XI). A introdução do Filioque no Símbolo Niceno-Constantinopolitano pela liturgia latina constitui, ainda hoje, no entanto, um diferendo com as igrejas ortodoxas.


248 A tradição oriental exprime, antes de mais, o carácter de origem primeira do Pai em relação ao Espírito. Ao confessar o Espírito como «saído do Pai» (Jn 15,26), afirma que Ele procede do Pai pelo Filho (58). A tradição ocidental exprime, sobretudo, a comunhão consubstancial entre o Pai e o Filho, ao dizer que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (Filioque) E di-lo «de maneira legítima e razoável» (59), «porque a ordem eterna das pessoas divinas na sua comunhão consubstancial implica que o Pai seja a origem primeira do Espírito, enquanto «princípio sem princípio» (60), mas também que, enquanto Pai do Filho Único, seja com Ele «o princípio único de que procede o Espírito Santo» (61). Esta legítima complementaridade, se não for exagerada, não afecta a identidade da fé na realidade do mesmo mistério confessado.

46. Cf. Gn 1,2
47. Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150
48. Cf. Jn 14,17
49. Cf. Jn 14,26
50. Cf. Jn 14,26 Jn 15,26 Jn 16,14
51. Cf. Jn 7,39
52. Símbolo Niceno-Constantinopolitano: DS 150
53. VI Concílio de Toledo (em 638), De Trinitate et de Filio Dei Redemptore incarnato: DS 490.
54. XI Concílio de Toledo (ano 675), Symbolum: DS 527.
55. Símbolo Niceno Constantinopolitano: DS 150
56. Concílium de Florença. Decretum pro Graecis: DS 1300-1301
57. Cf. São Leão Magno, Ep. Quam laudabiliter: DS 284
58. II Concílio Vaticano, Decr. Ad gentes: AAS 58 (1966) 948.
59. Concílio de Florença, Decretum pro Graecis (ano 1439): DS 1302.
60. Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis (ano 1442): DS 1331.
61. II Concílio de Lião, Constitutio de Summa Trinitate et fide catholica (ano 1274): DS 850.


III. A Santíssima Trindade na doutrina da fé


A FORMAÇÃO DO DOGMA TRINITÁRIO


249 A verdade revelada da Santíssima Trindade esteve, desde a origem, na raiz da fé viva da Igreja. principalmente por meio do Baptismo. Encontra a sua expressão na regra da fé baptismal, formulada na pregação, na catequese e na oração da Igreja. Tais formulações encontram-se já nos escritos apostólicos, como o comprova esta saudação retomada na liturgia eucarística: «A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós» (2Co 13,13)(62).


250 No decurso dos primeiros séculos, a Igreja preocupou-se com formular mais explicitamente a sua fé trinitária, tanto para aprofundar a sua própria inteligência da fé, como para a defender contra os erros que a deformavam. Foi esse o trabalho dos primeiros concílios, ajudados pelo trabalho teológico dos Padres da Igreja e sustentados pelo sentido da fé do povo cristão.


251 Para a formulação do dogma da Trindade, a Igreja teve de elaborar uma terminologia própria, com a ajuda de noções de origem filosófica: «substância», «pessoa» ou «hipóstase», «relação», etc. Ao fazer isto, a Igreja não sujeitou a fé a uma sabedoria humana, mas deu um sentido novo, inédito, a estes termos, chamados a exprimir também, desde então, um mistério inefável, «transcendendo infinitamente tudo quanto podemos conceber a nível humano» (63).

62. Cf.
1Co 12,4-6 Ep 4,4-6
63. Paulo VI, Sollemnis Professio fidei, 9: AAS 60 (1968) 437.


252 A Igreja utiliza o termo «substância» (às vezes também traduzido por «essência» ou «natureza») para designar o ser divino na sua unidade; o termo «pessoa» ou «hipóstase» para designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo na distinção real entre Si; e o termo «relação» para designar o facto de que a sua distinção reside na referência recíproca de uns aos outros.


O DOGMA DA SANTÍSSIMA TRINDADE


253 A Trindade é una. Nós não confessamos três deuses, mas um só Deus em três pessoas: «a Trindade consubstancial» (64). As pessoas divinas não dividem entre Si a divindade única: cada uma delas é Deus por inteiro: «O Pai é aquilo mesmo que o Filho, o Filho aquilo mesmo que o Pai, o Pai e o Filho aquilo mesmo que o Espírito Santo, ou seja, um único Deus por natureza» (65). «Cada uma das três pessoas é esta realidade, quer dizer, a substância, a essência ou a natureza divina» (66).


254 As pessoas divinas são realmente distintas entre Si. «Deus é um só, mas não solitário» (67). «Pai», «Filho», «Espírito Santo» não são meros nomes que designam modalidades do ser divino, porque são realmente distintos entre Si. «Aquele que é o Filho não é o Pai e Aquele que é o Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo é Aquele que é o Pai ou o Filho» (68). São distintos entre Si pelas suas relações de origem: «O Pai gera, o Filho é gerado, o Espírito Santo procede»(69). A unidade divina é trina.


255 As pessoas divinas são relativas umas às outras. Uma vez que não divide a unidade divina, a distinção real das pessoas entre Si reside unicamente nas relações que as referenciam umas às outras: «Nos nomes relativos das pessoas, o Pai é referido ao Filho, o Filho ao Pai, o Espírito Santo a ambos. Quando falamos destas três pessoas, considerando as relações respectivas, cremos, todavia, numa só natureza ou substância» (70). Com efeito, «n'Eles tudo é um, onde não há a oposição da relação» (71). «Por causa desta unidade, o Pai está todo no Filho e todo no Espírito Santo: o Filho está todo no Pai e todo no Espírito Santo: o Espírito Santo está todo no Pai e todo no Filho»(72).


256 São Gregório de Nazianzo, também chamado «o Teólogo», confia aos catecúmenos de Constantinopla o seguinte resumo da fé trinitária:

«Antes de mais nada, guardai-me este bom depósito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me dá coragem para suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me à profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. Eu vo-la confio hoje. É por ela que, daqui a instantes, eu vou mergulhar-vos na água e dela fazer-vos sair. Eu vo-la dou por companheira e protectora de toda a vossa vida. Dou-vos uma só Divindade e Potência, uma nos Três e abrangendo os Três de maneira distinta. Divindade sem diferença de substância ou natureza, sem grau superior que eleve nem grau inferior que abaixe [...] É de três infinitos a infinita conaturalidade. Deus integralmente, cada um considerado em Si mesmo [...] Deus, os Três considerados juntamente [...] Assim que comecei a pensar na Unidade logo me encontrei envolvido no esplendor da Trindade. Mal começo a pensar na Trindade, logo à Unidade sou reconduzido» (73).

64. II Concílio de Constantinopla (ano 553), Anathematismi de tribus Capitulis. 1:
DS 421.
65. XI Concílio de Toledo (ano 675). Symbolum: DS 530.
66. IV Concílio de Latrão (ano 1215), Cap. 2. De errore abbatis Ioachim: DS 804.
67. Fides Damasi: DS 71
68. XI Concílio de Toledo (ano 675). Symbolum: DS 530.
69. IV Concílio de Latrão (ano 1215). Cap. 2, De errore abbatis Ioachim: DS 804.
70. XI Concílio de Toledo (ano 675). Symbolum: DS 528.
71. Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis (ano 1442): DS 1330.
72. Concílio de Florença, Decretum pro Iacobitis (ano 1442): DS 1331.
73. São Gregório de Nazianzo, Oratio 40. 41: SC 358,292-294 (PG 36,417)


IV. As obras divinas e as missões trinitárias


257 «O lux beata Trinitas et principalis Unitas! – Ó Trindade. Luz ditosa, ó primordial Unidade!» (74). Deus é eterna bem-aventurança, vida imortal, luz sem ocaso. Deus é amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Livremente. Deus quer comunicar a glória da sua vida bem-aventurada. Tal é o «mistério da sua vontade» (Ep 1,9) que Ele concebeu antes da criação do mundo em seu Filho muito-amado, uma vez que nos «destinou de antemão a que nos tornássemos seus filhos adoptivos por Jesus Cristo» (Ep 1,5), quer dizer, a sermos «conformes à imagem do seu Filho» (Rm 8,29), graças ao «Espírito que faz de vós filhos adoptivos» (Rm 8,15).Este desígnio é uma «graça que nos foi dada [...] desde toda a eternidade»(2Tm 1,9), a qual procede imediatamente do amor trinitário. E este amor manifesta-se na obra da criação, em toda a história da salvação depois da queda, e nas missões do Filho e do Espírito, continuadas pela missão da Igreja (75).


258 Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Assim como não tem senão uma e a mesma natureza, a Trindade não tem senão uma e a mesma operação (76). «O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios das criaturas, mas um só princípio» (77). No entanto, cada pessoa divina realiza a obra comum segundo a sua propriedade pessoal. É assim que a Igreja confessa, na sequência do Novo Testamento (78), «um só Deus e Pai, de Quem são todas as coisas; um só Senhor Jesus Cristo, para Quem são todas as coisas; e um só Espírito Santo, em Quem são todas as coisas» (79). São sobretudo as missões divinas da Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que manifestam as propriedades das pessoas divinas.


259 Obra ao mesmo tempo comum e pessoal, toda a economia divina faz conhecer não só a propriedade das pessoas divinas, mas também a sua única natureza. Por isso, toda a vida cristã é comunhão com cada uma das pessoas divinas, sem de modo algum as separar. Todo aquele que dá glória ao Pai, fá-lo pelo Filho no Espírito Santo: todo aquele que segue Cristo, fá-lo porque o Pai o atrai (80) e o Espírito o move (81).


260 O fim último de toda a economia divina é o acesso das criaturas à unidade perfeita da bem-aventurada Trindade (82). Mas já desde agora nós somos chamados a ser habitados pela Santíssima Trindade: «Quem me tem amor, diz o Senhor, porá em prática as minhas palavras. Meu Pai amá-lo-á; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada» (Jn 14,23):

«Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente de mim, para me estabelecer em Vós, imóvel e pacifica como se já a minha alma estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me leve mais longe na profundeza do vosso mistério! Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que nunca ai eu Vos deixe só, mas que esteja lá inteiramente, toda desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa acção criadora» (83).

74. Hino das II Vésperas de Domingo, nas semanas 2 e 4: Liturgia Horarum, editio typica, 3 (Typis Poliglottis Vaticanis Poliglottis Vaticanis 1974) p. 632 e 879 [Este hino está traduzido na ed. portuguesa: Liturgia das Horas (Gráfica de Coimbra 1983), v. 3, p. 86 e N. 4, p. 86].
75. I Concílio de Vaticano, Decr. Ad gentes, AGD 2-9, AAS 58 (1966) 948-958.
76. II Concílio de Constantinopla (ano 553), Anathematismi de tribus Capitulis, 1: DS 421.
77. Concílio de Florença, Decretum pro Incobitis (ano 1442): DS 1331.
78. Cf. 1Co 8,6,
79. II Concílio de Constantinopla (ano 553). Anathematismi de tribus Capitulis, 1: DS 421.
80. Cf. Jn 6,44
81. Cf. Rm 8,14
82. Cf. Jn 17,21-23
83. Beata Isabel da Trindade, Élévation à la Trinité: Écrits spirituels. 50. ed. M. M. Philipon (Paris 1949), p. 80. [Escritos espirituais (Oeiras, Edições Carmelo 1989) p. 327].



Catecismo Igreja Catól. 197