Catecismo Igreja Catól. 543

O ANÚNCIO DO REINO DE DEUS


543 Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos filhos de Israel (271), este Reino messiânico é destinado a acolher os homens de todas as nações (272). Para ter acesso a ele, é preciso acolher a Palavra de Jesus:

«A Palavra do Senhor compara-se à semente lançada ao campo: aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno rebanho de Cristo, já receberam o Reino; depois, por força própria, a semente germina e cresce até ao tempo da messe» (273).


544 O Reino é dos pobres e pequenos, quer dizer, dos que o acolheram com um coração humilde. Jesus foi enviado para «trazer a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4,18) (274). Declara-os bem-aventurados, porque «é deles o Reino dos céus» (Mt 5,3). Foi aos «pequenos» que o Pai se dignou revelar o que continua oculto aos sábios e inteligentes (275). Jesus partilha a vida dos pobres, desde o presépio até à cruz: sabe o que é sofrer a fome (276), a sede (277) e a indigência (278). Mais ainda: identifica-se com os pobres de toda a espécie, e faz do amor activo para com eles a condição da entrada no seu Reino (279).


545 Jesus convida os pecadores para a mesa do Reino: «Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores» (Mc 2,17) (280). Convida-os à conversão sem a qual não se pode entrar no Reino, mas por palavras e actos, mostra-lhes a misericórdia sem limites do Seu Pai para com eles e a imensa «alegria que haverá no céu, por um só pecador que se arrependa» (Lc 15,7). A prova suprema deste amor será o sacrifício da sua própria vida, «pela remissão dos pecados» (Mt 26,28).


546 Jesus chama para entrar no Reino, por meio de parábolas, traço característico do seu ensino (282). Por meio delas, convida para o banquete do Reino (283), mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso dar tudo (284). As palavras não bastam, exigem-se actos (285). As parábolas são, para o homem, uma espécie de espelho: como é que ele recebe a Palavra? Como chão duro, ou como terra boa? (286) Que faz ele dos talentos recebidos? (287) Jesus e a presença do Reino neste mundo estão secretamente no coração das parábolas. É preciso entrar no Reino, quer dizer, tornar-se discípulo de Cristo, para «conhecer os mistérios do Reino dos céus» (Mt 13,11). Para os que ficam «fora» (Mc 4,11), tudo permanece enigmático (288).

271. Cf. Mt 10,5-7
272. Cf. Mt 8,11 Mt 28,19
273. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 5, AAS 57 (1965) 7.
274. Cf. Lc 7,22
275. Cf. Mt 11,25
276. Cf. Mc 2,23-26 Mc 21,18.
277. Cf. Jn 4,6-7 Jn 19,28.
278. Cf. Lc 9,58
279. Cf. Mt 25,31-46
280. Cf. 1Tm 1,15
281. Cf. Lc 15,11-32
282. Cf. Mc 4,33-34
283. Cf. Mt 22,1-14
284. Cf. Mt 13,44-45
285. Cf. Mt 21,28-32
286. Cf. Mt 13,3-9
287. Cf. Mt 25,14-30
288. Cf. Mt 13,10-15



OS SINAIS DO REINO DE DEUS


547 Jesus acompanha as suas palavras com numerosos «milagres, prodígios e sinais» (Ac 2,22), os quais manifestam que o Reino está presente n'Ele. Comprovam que Ele é o Messias anunciado (289).


548 Os sinais realizados por Jesus testemunham que o Pai O enviou (290). Convidam a crer n'Ele (291). Aos que se Lhe dirigem com fé, concede-lhes o que pedem (292). Assim, os milagres fortificam a fé n'Aquele que faz as obras do seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus (293). Mas também podem ser «ocasião de queda» (294). Eles não pretendem satisfazer a curiosidade nem desejos mágicos. Apesar de os seus milagres serem tão evidentes, Jesus é rejeitado por alguns (295); chega mesmo a ser acusado de agir pelo poder dos demónios (296).


549 Ao libertar certos homens dos males terrenos da fome (297), da injustiça (298) da doença e da morte (299) – Jesus realizou sinais messiânicos; no entanto, Ele não veio para abolir todos os males deste mundo (300), mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado (301), que os impede de realizar a sua vocação de filhos de Deus e é causa de todas as servidões humanas.


550 A vinda do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás (302): «Se é pelo Espírito de Deus que Eu expulso os demónios, então é porque o Reino de Deus chegou até vós» (Mt 12,28). Os exorcismos de Jesus libertam os homens do poder dos demónios (303). E antecipam a grande vitória de Jesus sobre «o príncipe deste mundo» (304). É pela cruz de Cristo que o Reino de Deus vai ser definitivamente estabelecido: «Regnavit a ligno Deus – Deus reinou desde o madeiro» (305).

289. Cf. Lc 7,18-23
290. Cf. Jn 5,36 Jn 10,25
291. Cf. Jn 10,38
292. Cf. Mc 5,25-34 Mc 10,52, etc.
293. Cf. Jn 10,31-38
294. Cf. Mt 11,6
295. Cf. Jn 11,47-48
296. Cf. Mc 3,22
297. Cf. Jn 6,5-15
298. Cf. Lc 19,8
299. Cf. Mt 11,5
300. Cf. Lc 12,13-14 Jn 18,36
301. Cf. Jn 8,34-36
302. Cf. Mt 12,26
303. Cf. Lc 8,26-39
304. Cf. Jn 12,31
305. Venâncio Fortunato, Hino «Vexilla Regis»: MGH 1/4/1, 34 (PL 88, 96).



«AS CHAVES DO REINO»


551 Desde o princípio da sua vida pública, Jesus escolheu alguns homens, em número de doze, para andarem com Ele e participarem na sua missão (306). Deu-lhes parte na sua autoridade «e enviou-os a pregar o Reino de Deus e a fazer curas» (Lc 9,2). Estes homens ficam para sempre associados ao Reino de Cristo, porque, por meio deles, Jesus Cristo dirige a Igreja:

«Eu disponho, a vosso favor, do Reino, como meu Pai dispõe dele a meu favor, a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E sentar-vos-eis em tronos, a julgar as doze tribos de Israel» (Lc 22,29-30).


552 No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar (307). Jesus confiou-lhe uma missão única. Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro confessara: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt 16,16). E nosso Senhor declarou-lhe então: «Tu és Pedro: sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela» (Mt 16,18).Cristo, «pedra viva» (308), garante à sua Igreja, edificada sobre Pedro, a vitória sobre os poderes da morte. Pedro, graças à fé que confessou, permanecerá o rochedo inabalável da Igreja. Terá a missão de defender esta fé para que nunca desfaleça e de nela confirmar os seus irmãos (309).


553 Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: «Dar-te-ei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus» (Mt 16,19). O «poder das chaves» designa a autoridade para governar a Casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, o «bom Pastor» (Jn 10,11), confirmou este cargo depois da sua ressurreição: «Apascenta as minhas ovelhas» (Jn 21,15-17). O poder de «ligar e desligar» significa a autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério dos Apóstolos e particularmente pelo de Pedro, o único a quem confiou explicitamente as chaves do Reino.

306. Cf. Mc 3,13-19
307. Cf. Mc 3,16 Mc 9,2 Lc 24,34 1Co 15,5
308. Cf. 1P 2,4
309. Cf. Lc 22,32


UM ANTEGOZO DO REINO: A TRANSFIGURAÇÃO


554 A partir do dia em que Pedro confessou que Jesus era o Cristo, Filho do Deus vivo, o Mestre «começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e lá sofrer [...], que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia» (Mt 16,21). Pedro rejeita este anúncio e os outros também não o entendem (312). É neste contexto que se situa o episódio misterioso da transfiguração de Jesus (313), no cimo duma alta montanha, perante três testemunhas por Ele escolhidas: Pedro, Tiago e João. O rosto e as vestes de Jesus tornaram-se fulgurantes de luz, Moisés e Elias aparecem, «e falam da sua morte, que ia consumar-se em Jerusalém» (Lc 9,31). Uma nuvem envolve-os e uma voz do céu diz: «Este é o meu Filho predilecto: escutai-O» (Lc 9,35).


555 Por um momento, Jesus mostra a sua glória divina, confirmando assim a confissão de Pedro. Mostra também que, para «entrar na sua glória» (Lc 24,26), tem de passar pela cruz em Jerusalém. Moisés e Elias tinham visto a glória de Deus sobre a montanha; a Lei e os Profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias (314). A paixão de Jesus é da vontade do Pai: o Filho age como Servo de Deus (315). A nuvem indica a presença do Espírito Santo: «Tota Trinitas apparuit: Pater in voce; Filius in homine; Spiritus in nube clara – Apareceu toda a Trindade: o Pai na voz; o Filho na humanidade; o Espírito Santo na nuvem luminosa» (316):

«Transfiguraste-Te sobre a montanha e, na medida em que disso eram capazes, os teus discípulos contemplaram a tua glória, ó Cristo Deus; para que, quando Te vissem crucificado, compreendessem que a tua paixão era voluntária, e anunciassem ao mundo que Tu és verdadeiramente a irradiação do Pai» (317).


556 No limiar da vida pública, o baptismo; no limiar da Páscoa, a transfiguração. Pelo baptismo de Jesus «declaratum fuit mysterium primae regenerationis – foi declarado o mistério da (nossa) primeira regeneração» – o nosso Baptismo; e a transfiguração «est sacramentum secundae regenerationis – é o sacramento da (nossa) segunda regeneração» – a nossa própria ressurreição (318). Desde agora, nós participamos na ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que actua nos sacramentos do Corpo de Cristo. A transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, «que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar com o seu corpo glorioso» (Ph 3,21). Mas lembra-nos também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus» (Ac 14,22):

«Era isso que Pedro ainda não tinha compreendido, quando manifestava o desejo de ficar com Cristo no cimo da montanha (319). – Isso, Ele to reservou, Pedro, para depois da morte. Mas agora, Ele próprio te diz: Desce para sofrer na Terra, para servir na Terra, para ser desprezado e crucificado na Terra. A Vida desce para se fazer matar: o Pão desce para passar fome; o Caminho desce para se cansar de andar; a Fonte desce para ter sede; – e tu recusas-te a sofrer?» (320).

310. Cf. Mt 18,18
311. Cf. Mt 16,22-23
312. Cf. Mt 17,23 Lc 9,45
313. Cf. Mt 17,1-8 e par.: 2P 1,16-18
314. Cf. Lc 24,27
315. Cf. Is 42,1
316. São Tomás de Aquino, Summa theologiae, III 45,4, ad 2: Ed. Leon. 11, 433.
317. Liturgia bizantina, Kontakion na Festa da Transfiguração: «Mênaîa toû bólou eniautoû», v. 6 (Romae 1901) p. 341.
318. Tomás de Aquino, Summa theologiae, III 45,4, ad 2: Ed. Leon. 11, 433.
319. Cf. Lc 9,33
320. Santo Agostinho, Sermão 78. 6: PL 38, 492-493.


A SUBIDA DE JESUS PARA JERUSALÉM


557 «Ora, como se aproximavam os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a firme resolução de Se dirigir a Jerusalém» (Lc 9,51) (321). Por esta decisão, indicava que subia para Jerusalém pronto para lá morrer. Já por três vezes tinha anunciado a sua paixão e a sua ressurreição (322). E ao dirigir-Se para Jerusalém, declara: «não se admite que um profeta morra fora de Jerusalém» (Lc 13,33).


558 Jesus recorda o martírio dos profetas que tinham sido entregues à morte em Jerusalém (323). No entanto, continua a convidar Jerusalém a reunir-se à sua volta: «Quantas vezes Eu quis agrupar os teus filhos como a galinha junta os seus pintainhos sob as asas!... Mas vós não quisestes» (Mt 23,37).Quando já avista Jerusalém, chora sobre ela (324) e exprime, uma vez mais, o desejo do seu coração: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos» (Lc 19,42).

321. Cf. Jn 13,1
322. Cf. Mc 8,31-33 Mc 9,31-32 Mc 10,32-34
323. Cf. Mt 23,37a.
324. Cf. Lc 19,41


A ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM


559 Como vai Jerusalém acolher o seu Messias? Embora tenha sempre evitado as tentativas populares de O fazerem rei (325), Jesus escolheu o momento e preparou os pormenores da sua entrada messiânica na cidade de «David, seu pai» (Lc 1,32) (326). E é aclamado como filho de David e como aquele que traz a salvação («Hosanna» quer dizer «então salva!», «dá a salvação»). Ora, o «rei da glória» (Ps 24,7-10) entra na «sua cidade», «montado num jumento» (Za 9,9). Não conquista a filha de Sião, figura da sua Igreja, nem pela astúcia nem pela violência, mas pela humildade que dá testemunho da verdade (327). Por isso é que, naquele dia, os súbditos do seu Reino, são as crianças (328) e os «pobres de Deus», que O aclamam, tal como os anjos O tinham anunciado aos pastores (329). A aclamação deles: «Bendito o que vem em nome do Senhor» (Ps 118,26) é retomada pela Igreja no «Sanctus» da Liturgia Eucarística, a abrir o memorial da Páscoa do Senhor.


560 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-Messias vai realizar pela Páscoa da sua morte e da sua ressurreição. É com a sua celebração, no Domingo de Ramos, que a Liturgia da Igreja começa a Semana Santa.

325. Cf.
Jn 6,15
326. Cf. Mt 21,1-11
327. Cf. Jn 18,37
328. Cf. Mt 21,15-16 Ps 8,3
329. Cf. Lc 19,38 Lc 2,14.

Resumindo:


561 «Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: os seus silêncios, os seus milagres, os seus gestos, a sua oração, o seu amor pelo homem, a sua predilecção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na cruz pela redenção do mundo, a sua ressurreição tudo é actuação da sua palavra e cumprimento da Revelação» (330).


562 Os discípulos de Cristo devem conformar-se com Ele até que Ele Se forme neles (331), «Por isso, somos assumidos nos mistérios da sua vida, configurados com Ele, com Ele mortos e ressuscitados, até que reinemos com Ele» (332).


563 Pastor ou mago, ninguém pode atingir a Deus neste mundo senão ajoelhando diante do presépio de Belém e adorando-O oculto na fraqueza duma criança.


564 Pela sua submissão a Maria e a José, assim como pelo seu trabalho humilde em Nazaré durante longos anos, Jesus dá-nos o exemplo da santidade na vida quotidiana da família e do trabalho.


565 Desde o princípio da sua vida pública, desde o seu baptismo, Jesus é o «Servo» inteiramente consagrado à obra redentora, que consumará pelo «baptismo» da sua paixão.


566 A tentação no deserto mostra Jesus como Messias humilde, que triunfa de Satanás pela total adesão ao desígnio de salvação querido pelo Pai.


567 O Reino dos céus foi inaugurado na terra por Cristo, e resplandece para os homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo» (333). A Igreja é o gérmen e o princípio deste Reino. As suas chaves são confiadas a Pedro.


568 . A transfiguração de Cristo tem por fim fortalecer a fé dos Apóstolos em vista da paixão: a subida à «alta montanha» prepara a subida ao Calvário. Cristo, cabeça da Igreja, manifesta o que o seu Corpo contém e irradia nos sacramentos: «a esperança da Glória» (Col 1,27) (334).


569 Jesus subiu voluntariamente a Jerusalém, sabendo perfeitamente que ali ia morrer de morte violenta, por causa da oposição dos pecadores (335).


570 A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino, que o Rei-Messias, acolhido na cidade pelas crianças e pelos humildes de corarão, vai realizar pela Páscoa da sua morte e ressurreição.

330. João Paulo II, Ex. Ap. Catechesi tradendae,
CTR 9, AAS 71 (1979) 1284.
331. Cf. Ga 4,19
332. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 7, AAS 57 (1965) 10.
333. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium LG 5, AAS 57 (1965) 7.
334. Cf. São Leão Magno, Sermão 51, 3: CCL 138A, 298-299 (PL 54. 310).
335. Cf. He 12,3


ARTIGO 4


«JESUS CRISTO PADECEU SOB PÔNCIO PILATOS


FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO»



571 O mistério pascal da cruz e ressurreição de Cristo está no centro da Boa-Nova que os Apóstolos, e depois deles a Igreja, devem anunciar ao mundo. O desígnio salvífico de Deus cumpriu-se de «una vez por todas» (He 9,26) pela morte redentora do seu Filho Jesus Cristo.


572 A Igreja permanece fiel à «interpretação de todas as Escrituras» dada pelo próprio Jesus, tanto antes como depois da sua Páscoa (336) «Não tinha o Messias de sofrer tudo isto, para entrar na sua glória?» (Lc 24,26).Os sofrimentos de Jesus tomaram a sua forma histórica concreta, pelo facto de Ele ter sido «rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas» (Mc 8,31), que «O entregaram aos pagãos para ser escarnecido, flagelado e crucificado» (Mt 20,19).


573 A fé pode, portanto, esforçar-se por investigar as circunstâncias da morte de Jesus, fielmente transmitidas pelos evangelhos (337) e esclarecidas por outras fontes históricas, para melhor compreender o sentido da redenção.

336. Cf.
Lc 24,27 Lc 24,44-45.
337. Cf. II Concílio do Vaticano. Const. dogm. Dei Verbum, DV 19 AAS 58 (1966) 826-827.


PARÁGRAFO 1

JESUS E ISRAEL


574 Desde o princípio do ministério público de Jesus, fariseus e partidários de Herodes, com sacerdotes e escribas, puseram-se de acordo para lhe dar a morte (338). Por alguns dos seus actos (expulsões de demónios (339); perdão dos pecados (340) curas em dia de sábado (341); interpretação original dos preceitos de pureza legal (342): trato familiar com publicanos e pecadores públicos (343), Jesus pareceu a alguns, mal intencionados, suspeito de possessão diabólica (344). Foi acusado de blasfémia (345) e de falso profetismo (346), crimes religiosos que a Lei castigava com a pena de morte por apedrejamento (347).


575 Muitas atitudes e palavras de Jesus foram, portanto, «sinal de contradição» (348) para as autoridades religiosas de Jerusalém, a quem o Evangelho de São João muitas vezes chama simplesmente «os Judeus» (349), mais ainda do que para o comum do Povo de Deus (350). Sem dúvida que as suas relações com os fariseus não foram unicamente polémicas: são fariseus que O previnem do perigo que corre (351). Jesus louva alguns de entre eles, como o escriba de Mc 12, 34, e em várias ocasiões come em casa de fariseus (352). Jesus confirma doutrinas partilhadas por esta elite religiosa do povo de Deus: a ressurreição dos mortos (353) formas de piedade (esmola, jejum e oração (354)) e o hábito de se dirigir a Deus como Pai, o carácter central do mandamento do amor de Deus e do próximo (355).

338. Cf.
Mc 3,6
339. Cf. Mt 12,24
340. Cf. Mc 2,7
341. Cf. Mc 3,1-6
342. Cf. Mc 7,14-23
343. Cf. Mc 2,14-17.
344. Cf. Mc 3,22 Jn 8,48 Jn 10,20.
345. Cf. Mc 2,7 Jn 5,18 Jn 10,33
346. Cf. Jn 7,12 Jn 52
347. Cf. Jn 8,59 Jn 10,31
348. Cf. Lc 2,34
349. Cf. Jn 1,19 Jn 2,18 Jn 5,10 Jn 7,13 Jn 9,22 Jn 18,12 Jn 19,38 Jn 20,19.
350. Cf. Jn 7,48-49
351. Cf. Lc 13,31
352. Cf. Lc 7,36 Lc 14,1
353. Cf. Mt 22,23-34 Lc 20,39
354. Cf. Mt 6,2-18
355. Cf. Mc 12,28-34


576 Aos olhos de muitos em Israel, parece que Jesus procede contra as instituições essenciais do Povo eleito:

– a submissão à Lei, na totalidade dos seus preceitos escritos e, para os fariseus, na interpretação da tradição oral;

– a centralidade do templo de Jerusalém, como lugar santo em que Deus habita de maneira privilegiada;

– a fé no Deus único, cuja glória nenhum homem pode partilhar.


I. Jesus e a Lei


577 Jesus fez uma solene advertência no início do sermão da montanha, ao apresentar a Lei dada por Deus no Sinai, quando da primeira Aliança, à luz da graça da Nova Aliança:

«Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. Em verdade vos digo: Antes que passem o céu e a Terra, não passará da Lei a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequeno que seja, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os praticar e ensinar, será grande no Reino dos céus» (
Mt 5,17-19).


578 Jesus, o Messias de Israel e, portanto, o maior no Reino dos céus, fazia questão de cumprir a Lei, executando-a integralmente até nos mais pequenos preceitos, segundo as suas próprias palavras. Foi, mesmo, o único a poder fazê-lo perfeitamente (356). Os Judeus, segundo a sua própria confissão, não puderam nunca cumprir integralmente a Lei sem violação do mínimo preceito (357). Por isso é que, em cada festa anual da Expiação, os filhos de Israel pediam a Deus perdão pelas suas transgressões da Lei. Com efeito, a Lei constitui um todo e, como lembra São Tiago, «quem observa toda a Lei, mas falta num só mandamento, torna-se réu de todos os outros» (Jc 2,10) (358).


579 Este princípio da integralidade da observância da Lei, não só na letra mas também no espírito, era caro aos fariseus. Tomando-o extensivo a Israel, conduziram muitos judeus do tempo de Jesus a um zelo religioso extremo (359). E um tal zelo, se não se ficasse por uma casuística «hipócrita» (360), com certeza que prepararia o povo para esta inaudita intervenção de Deus, que será o cumprimento perfeito da Lei pelo único justo representante de todos os pecadores (361).


580 O cumprimento perfeito da Lei só podia ser obra do divino Legislador, nascido sujeito à Lei na pessoa do Filho (362). Em Jesus, a Lei já não aparece gravada em tábuas de pedra, mas «no íntimo do coração» (Jr 31,33) do Servo, o qual, proclamando «fielmente o direito» (Is 42,3), se tornou «a aliança do povo» (Is 42,6). Jesus cumpriu a Lei até ao ponto de tomar sobre Si «a maldição da Lei» (363) em que incorrem aqueles que não «praticam todos os preceitos da Lei» (364); porque «a morte de Cristo foi para remir as faltas cometidas durante a primeira Aliança» (He 9,15).


581 Jesus apareceu aos olhos dos Judeus e dos seus chefes espirituais como um «rabbi» (365). Muitas vezes argumentou, no quadro da interpretação rabínica da Lei (366). Mas, ao mesmo tempo, Jesus tinha forçosamente de Se confrontar com os doutores da Lei porque não Se contentava com propor a sua interpretação a par das deles: «ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas» (Mt 7,28-29). N'Ele, era a própria Palavra de Deus, que Se fizera ouvir no Sinai, para dar a Moisés a Lei escrita, que de novo Se fazia ouvir sobre a montanha das bem-aventuranças (367). Esta Palavra de Deus não aboliu a Lei, mas cumpriu-a, ao fornecer, de modo divino, a sua interpretação última: «Ouvistes que foi dito aos antigos [...] Eu, porém, digo-vos» (Mt 5,33-34). Com esta mesma autoridade divina, desaprova certas «tradições humanas» (368) dos fariseus, que «anulam a Palavra de Deus» (369).


582 Indo mais longe, Jesus cumpriu a lei sobre a pureza dos alimentos, tão importante na vida quotidiana judaica, explicando o seu sentido «pedagógico» (370) por uma interpretação divina: «Não há nada fora do homem que, ao entrar nele, o possa tornar impuro [...] – e assim declarava puros todos os alimentos – [...]. O que sai do homem é que o toma impuro. Pois, do interior do coração dos homens é que saem os pensamentos perversos» (Mc 7,18-21). Proporcionando, com autoridade divina, a interpretação definitiva da Lei, Jesus colocou-Se numa situação de confronto com certos doutores da Lei, que não aceitavam a sua interpretação, muito embora garantida pelos sinais divinos que a acompanhavam (371). Isto vale sobretudo para a questão do sábado: Jesus lembra, e muitas vezes com argumentos rabínicos (372), que o repouso sabático não é violado pelo serviço de Deus (373) ou do próximo (374) que as suas curas realizam.

356. Cf. Jn 8,46
357. Cf. Jn 7,19 Ac 13,38-41 Ac 15,10
358. Cf. Ga 3,10 Ga 5,3
359. Cf. Rm 10,2
360. Cf. Mt 15,3-7 Lc 11,39-54
361. Cf. Is 53,11 He 9,15.
362. Cf. Ga 4,4
363. Cf. Ga 3,13
364. Cf. Ga 3,10
365. Cf. Jn 11,28 Jn 3,2 Mt 22,23-24 Mt 22,34-36
366. Cf. Mt 12,5 Mt 9,12 Mc 2,23-27 Lc 6,6-9 Jn 7,22-23
367. Cf. Mt 5,1
368. Cf. Mc 7,8
369. Cf. Mc 7,13
370. Cf. Ga 3,24
371. Cf. Jn 5,36 Jn 10 Jn 25 Jn 37-38 Jn 12,37
372. Cf. Mc 2,25-27 Jn 7,22-24
373. Cf. Mt 12,5 Nb 28,9
374. Cf. Lc 13,15-16 Lc 14,3-4


II. Jesus e o templo


583 Jesus, como antes d'Ele os profetas, professou pelo templo de Jerusalém o mais profundo respeito. Ali foi apresentado por José e Maria, quarenta dias depois do seu nascimento (375). Na idade de doze anos, decidiu ficar no templo para lembrar aos seus pais que tinha de Se ocupar das coisas de seu Pai (376). Ao templo subiu todos os anos, ao menos pela Páscoa, durante a vida oculta (377). O seu próprio ministério público foi ritmado pelas peregrinações a Jerusalém nas grandes festas judaicas (378).


584 Jesus subiu ao templo como quem sobe ao lugar privilegiado de encontro com Deus. O templo é para Ele a casa do seu Pai, uma casa de oração, e indigna-Se com o facto de o átrio exterior se ter tornado lugar de negócio (379). Se expulsa os vendilhões do templo é pelo amor zeloso a seu Pai: «Não façais da casa do meu Pai casa de comércio». «Os discípulos recordaram-se de que estava escrito: "O zelo pela tua casa devorar-me-á" (Ps 69,10)» (Jn 2,16-17). Depois da ressurreição, os Apóstolos guardaram para com o templo um respeito religioso (380).


585 No entanto, nas vésperas da sua paixão, Jesus anunciou a ruína deste esplêndido edifício, do qual não ficaria pedra sobre pedra (381). Há aqui o anúncio dum sinal dos últimos tempos, que vão iniciar-se com a sua própria Páscoa (382). Mas esta profecia pôde ser referida de modo deturpado por falsas testemunhas, quando do interrogatório a que Jesus foi sujeito em casa do sumo-sacerdote (383) e ser-Lhe lançada em rosto, como injúria, quando agonizava, pregado na cruz (384).


586 Longe de ter sido contra o templo (385) onde proclamou o essencial da sua doutrina (386), Jesus quis pagar o imposto do templo, associando a Si Pedro (387), que Ele acabara de estabelecer como pedra basilar da sua Igreja futura (388). Mais ainda: identificou-Se com o templo, apresentando-Se como a morada definitiva de Deus entre os homens (389). Por isso é que a sua entrega à morte corporal (390) prenuncia a destruição do templo, a qual vai assinalar a entrada numa nova idade da história da salvação: «Vai chegar a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai» (Jn 4,21) (391).

375. Cf. Lc 2,22-39
376. Cf. Lc 2,46-49
377. Cf. Lc 2,41
378. Cf. Jn 2,13-14 Jn 5,1 Jn 5,14 Jn 7,1 Jn 7,10 Jn 7,14 Jn 8,2 Jn 10,22-23
379. Cf. Mt 21,13
380. Cf. Ac 2,46 Ac 3,1 Ac 5,20-21 etc.
381. Cf. Mt 24,1-2
382. Cf. Mt 24,3 Lc 13,35.
383. Cf. Mc 14,57-58
384. Cf. Mt 27,39-40
385. Cf. Mt 8,4 Mt 23,21 Lc 17,14 Jn 4,22
386. Cf. Jn 18,20
387. Cf. Mt 17,24-27
388. Cf. Mt 16,18
389. Cf. Jn 2,21 Mt 12,6
390. Cf. Jn 2,18-22
391. Cf. Jn 4,23-24 Mt 27,51 He 9,11 Ap 21,22


III. Jesus e a fé de Israel no Deus único e salvador


587 Se a Lei e o templo de Jerusalém puderam ser ocasião de «contradição» (392) entre Jesus e as autoridades religiosas de Israel, o seu papel na redenção dos pecados, obra divina por excelência, foi, para essas autoridades, a verdadeira pedra de escândalo (393).


588 Jesus escandalizou os fariseus por comer com os publicanos e os pecadores (394) tão familiarmente como com eles (395). Contra aqueles «que se consideravam justos e desprezavam os demais» (Lc 18,9) (396) Jesus afirmou: «Eu não vim chamar os justos, vim chamar os pecadores, para que se arrependam» (Lc 5,32). E foi mais longe, afirmando, diante dos fariseus, que, sendo o pecado universal (397), cegam-se a si próprios (398) aqueles que pretendem não precisar de salvação.


589 Jesus escandalizou, sobretudo, por ter identificado a sua conduta misericordiosa para com os pecadores com a atitude do próprio Deus a respeito dos mesmos (399). Chegou, até, a dar a entender que, sentando-Se à mesa dos pecadores (400), os admitia no banquete messiânico (401) Mas foi muito particularmente ao perdoar os pecados que Jesus colocou as autoridades religiosas de Israel perante um dilema. É que, como essas autoridades justamente dizem, apavoradas, «só Deus pode perdoar os pecados» (Mc 2,7). Jesus ao perdoar os pecados, ou blasfema por ser um homem que se faz igual a Deus (402), ou diz a verdade e a Sua pessoa torna então presente e revela o nome de Deus (403).


590 Só a identidade divina da pessoa de Jesus é que pode justificar uma exigência tão absoluta como esta: «Quem não está comigo, está contra Mim» (Mt 12,30); o mesmo se diga de quando afirma ser «mais que Jonas,... mais que Salomão» (Mt 12,41-42), «mais que o templo» (404); de quando lembra, a respeito de si próprio, que David chamou ao Messias o seu Senhor (405); de quando afirma: «Antes de Abraão existir, "Eu sou"» (Jn 8,58); e ainda mais: «Eu e o Pai somos um» (Jn 10,30).


591 Jesus pediu às autoridades religiosas de Jerusalém que acreditassem n'Ele, por causa das obras do seu Pai que Ele fazia (406). Mas tal acto de fé tinha de passar por uma misteriosa morte para si mesmo, a qual desse lugar a um novo «nascimento do Alto» (407), por atracção da graça divina (408). Tal exigência de conversão, face a um tão surpreendente cumprimento das promessas (409), permite compreender o trágico desdém do Sinédrio, ao sentenciar que Jesus merecia a morte como blasfemo (410). Os membros do Sinédrio agiam assim, ao mesmo tempo por «ignorância» (411) e pelo «endurecimento» (412) da sua «incredulidade» (413).

392. Cf.
Lc 2,34
393. Cf. Lc 20,17-18 Ps 118,22
394. Cf. Lc 5,30
395. Cf. Lc 7,36 Lc 11,37 Lc 14,1
396. Cf. Jn 7,49 Jn 9,34
397. Cf. Jn 8,33-36
398. Cf. Jn 9,40-41
399. Cf. Mt 9,13 Os 6,6
400. Cf. Lc 15,1-2
401. Cf. Lc 15,23-32
402. Cf. Jn 5,18 Jn 10,33
403. Cf. Jn 17,6 Jn 17,26
404. Cf. Mt 12,6
405. Cf. Mc 12,36-37
406. Cf. Jn 10,36-38
407. Cf. Jn 3,7
408. Cf. Jn 6,44
409. Cf. Is 53,1
410. Cf. Mc 3,6 Mt 26,64-66
411. Cf. Lc 23,34 Ac 3,17-18
412. Cf. Mc 3,5 Rm 11,25
413. Cf. Rm 11,20


Resumindo:


592 Jesus não aboliu a Lei do Sinai, mas cumpriu-a (414) com tal perfeição (415) que revelou o sentido último dela (416) e resgatou as transgressões contra ela cometidas (417).


593 Jesus venerou o templo, subindo a ele nas festas judaicas de peregrinação e amou com amor zeloso esta morada de Deus entre os homens. O templo prefigura o seu mistério. Quando anuncia a sua destruição, fá-lo como revelação da sua própria morte e da entrada numa nova idade da história da salvação, em que o seu Corpo será o templo definitivo.


594 Jesus praticou actos, como o perdão dos pecados, que O manifestaram como sendo o próprio Deus salvador (418). Alguns judeus, que, não reconhecendo o Deus feito homem (419) viam n'Ele «um homem que se faz Deus» (420), julgaram-n'O como blasfemo.

414. Cf.
Mt 5,17-19
415. Cf. Jn 8,46
416. Cf. Mt 5,33
417. Cf. He 9,15
418. Cf. Jn 5,16-18
419. Cf. Jn 1,14
420. Cf. Jn 10,33


PARÁGRAFO 2

JESUS MORREU CRUCIFICADO

I. O processo de Jesus

DIVISÕES ENTRE AS AUTORIDADES JUDAICAS A RESPEITO DE JESUS


595 Entre as autoridades religiosas de Jerusalém, não somente se encontravam o fariseu Nicodemos (421) e o notável José de Arimateia, discípulos ocultos de Jesus (422), mas também, durante muito tempo, houve dissensões a respeito d'Ele (423) ao ponto de, na própria véspera da paixão. João poder dizer deles que «um bom número acreditou n' Ele», embora de modo assaz imperfeito (Jn 12,42); o que não é nada de admirar, tendo-se presente que, no dia seguinte ao de Pentecostes, «um grande número de sacerdotes se submetia à fé» (Ac 6,7) e «alguns homens do partido dos fariseus tinham abraçado a fé» (Ac 15,5), de tal modo que São Tiago podia dizer a São Paulo que «muitos milhares entre os judeus abraçaram a fé e todos têm zelo pela Lei» (Ac 21,20).


596 As autoridades religiosas de Jerusalém não foram unânimes na atitude a adoptar a respeito de Jesus (424). Os fariseus ameaçaram de excomunhão aqueles que O seguissem (425). Aos que temiam que «todos acreditassem n'Ele e os romanos viessem destruir o templo e a nação» (Jn 11,48), o sumo sacerdote Caifás propôs, profetizando: «E do vosso interesse que morra um só homem pelo povo e não pereça a nação inteira» (Jn 11,50). O Sinédrio, tendo declarado Jesus «réu de morte» (426) como blasfemo, mas tendo perdido o direito de condenar à morte fosse quem fosse (427), entregou Jesus aos romanos, acusando-O de revolta política (428) — o que O colocava em pé de igualdade com que Barrabás, acusado de «sedição» (Lc 23,19). São também de carácter político as ameaças que os sumos-sacerdotes fazem a Pilatos, pressionando-o a condenar Jesus à morte (429).

421. Cf. Jn 7,50
422. Cf. Jn 19,38-39
423. Cf. Jn 9,16-17 Jn 10,19-21
424. Cf. Jn 9,16 Jn 10,19
425. Cf. Jn 9,22
426. Cf. Mt 26,66
427. Cf. Jn 18,31
428. Cf. Lc 23,2
429. Cf. Jn 19,12 Jn 19,15 Jn 19,21


Catecismo Igreja Catól. 543