Catecismo Igreja Catól. 1257

VI. A necessidade do Baptismo


1257 O próprio Senhor afirma que o Baptismo é necessário para a salvação (56). Por isso, ordenou aos seus discípulos que anunciassem o Evangelho e baptizassem todas as nações (57). O Baptismo é necessário para a salvação de todos aqueles a quem o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento (58). A Igreja não conhece outro meio senão o Baptismo para garantir a entrada na bem-aventurança eterna. Por isso, tem cuidado em não negligenciar a missão que recebeu do Senhor de fazer «renascer da água e do Espírito» todos os que podem ser baptizados. Deus ligou a salvação ao sacramento do Baptismo; mas Ele próprio não está prisioneiro dos seus sacramentos.


1258 Desde sempre, a Igreja tem a firme convicção de que aqueles que sofrem a morte por causa da fé, sem terem recebido o Baptismo, são baptizados pela sua morte por Cristo e com Cristo. Este Baptismo de sangue, tal como o desejo do Baptismo ou Baptismo de desejo, produz os frutos do Baptismo, apesar de não ser sacramento.


1259 Para os catecúmenos que morrem antes do Baptismo, o seu desejo explícito de o receber, unido ao arrependimento dos seus pecados e à caridade, garante-lhes a salvação, que não puderam receber pelo sacramento.


1260 «Com efeito, já que Cristo morreu por todos e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhecido» (59). Todo o homem que, na ignorância do Evangelho de Cristo e da sua Igreja, procura a verdade e faz a vontade de Deus conforme o conhecimento que dela tem, pode salvar-se. Podemos supor que tais pessoas teriam desejado explicitamente o Baptismo se dele tivessem conhecido a necessidade.


1261 Quanto às crianças que morrem sem Baptismo, a Igreja não pode senão confiá-las à misericórdia de Deus, como o faz no rito do respectivo funeral. De facto, a grande misericórdia de Deus, «que quer que todos os homens se salvem» (1Tm 2,4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que O levou a dizer: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis» (Mc 10,14), permitem-nos esperar que haja um caminho de salvação para as crianças que morrem sem Baptismo. Por isso, é mais premente ainda o apelo da Igreja a que não se impeçam as criancinhas de virem a Cristo, pelo dom do santo Baptismo.

51. Cf. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, SC 67, AAS 56 (1964) 118.
52. Cf. CIC 861, § 1; CIO 677, § 1.
53. Cf. CIC 861, § 2.
54. Cf. 1Tm 2,4
55. Cf. Mc 16,16
56. Cf. Jn 3,5
57. Cf. Mt 28,20, Concílio de Trento, Sess. 7°, Decretum de sacramentis, Canones de sacramento Baptismi, can. 5 DS 1618; II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 14, AAS 57 (1965) 18; ID., Decr. Ad gentes, AGD 5, AAS 58 (1966) 951-952
58. Cf. Mc 16,16
59. II Concílio do Vaticano, Const. past. Gaudium et spes. GS 22, AAS 58 (1966) 1043; cf. In.. Const. dogm. Lumen Gentium, LG 16: AAS 57 (1965) 20; In. Decr. Ad gentes, AGD 7: AAS 58 (1966) 955.

VII. A graça do Baptismo


1262 Os diferentes efeitos do Baptismo são significados pelos elementos sensíveis do rito sacramental. A imersão na água evoca os simbolismos da morte e da purificação, mas também da regeneração e da renovação. Os dois efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo (60).

60. Cf.
Ac 2,38 Jn 3,5.


PARA A REMISSÃO DOS PECADOS


1263 Pelo Baptismo todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas devidas ao pecado (61). Com efeito, naqueles que foram regenerados, nada resta que os possa impedir de entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem as consequências do pecado, das quais a mais grave é a separação de Deus.


1264 No baptizado permanecem, no entanto, certas consequências temporais do pecado, como os sofrimentos, a doença, a morte, ou as fragilidades inerentes à vida, como as fraquezas de carácter, etc., assim como uma inclinação para o pecado a que a Tradição chama concupiscência ou, metaforicamente, a «isca» ou «aguilhão» do pecado («fomes peccati»): «Deixada para os nossos combates, a concupiscência não pode fazer mal àqueles que, não consentindo nela, resistem corajosamente pela graça de Cristo. Bem pelo contrário, "aquele que tiver combatido segundo as regras será coroado" (2Tm 2,5)» (62).

61. Cf. Concílio de Florença, Decretum pro Armenis: DS 1316
62. Concílio de Trento, Decretum de peccato originali, can. 5: DS 1515

«UMA NOVA CRIATURA»


1265 O Baptismo não somente purifica de todos os pecados, como faz também do neófito «uma nova criatura» (63), um filho adoptivo de Deus (64), tornado «participante da natureza divina» (65), membro de Cristo (66) e co-herdeiro com Ele (67), templo do Espírito Santo (68).

63. Cf.
2Co 5,17
64. Cf. Ga 4,5-7
65. Cf. 2P 1,4
66. Cf. 1Co 6,15 1Co 12,27
67. Cf. Rm 8,17
68. Cf. 1Co 6,19

1266 A Santíssima Trindade confere ao baptizado a graça santificante, a graça da justificação, que

– o torna capaz de crer em Deus, esperar n'Ele e O amar, pelas virtudes teologais;
– lhe dá o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo e pelos dons do Espírito Santo;
– lhe permite crescer no bem, pelas virtudes morais. Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão tem a sua raiz no santo Baptismo.



INCORPORADOS NA IGREJA, CORPO DE CRISTO


1267 O Baptismo faz de nós membros do corpo de Cristo. «Desde então [...], somos nós membros uns dos outros.» (Ep 4,25). O Baptismo incorpora na Igreja. Das fontes baptismais nasce o único povo de Deus da Nova Aliança, que ultrapassa todos os limites naturais ou humanos das nações, das culturas, das raças e dos sexos: «Por isso é que todos nós fomos baptizados num só Espírito, para formarmos um só corpo» (1Co 12,13).


1268 Os baptizados tornaram-se «pedras vivas» para «a edificação dum edifício espiritual, para um sacerdócio santo» (1P 2,5). Pelo Baptismo, participam no sacerdócio de Cristo, na sua missão profética e real, são «raça eleita, sacerdócio de reis, nação santa, povo que Deus tornou seu», para anunciar os louvores d'Aquele que os «chamou das trevas à sua luz admirável» (1P 2,9). O Baptismo confere a participação no sacerdócio comum dos fiéis.


1269 Feito membro da Igreja, o baptizado já não se pertence a si próprio (69) mas Aquele que morreu e ressuscitou por nós (70). A partir daí, é chamado a submeter-se aos outros (71), a servi-los (72) na comunhão da Igreja, a ser «obediente e dócil» aos chefes da Igreja (73) e a considerá-los com respeito e afeição (74). Assim como o Baptismo é fonte de responsabilidade e deveres, assim também o baptizado goza de direitos no seio da Igreja: direito a receber os sacramentos, a ser alimentado com a Palavra de Deus e a ser apoiado com outras ajudas espirituais da Igreja (75).


1270 Os baptizados, «regenerados [pelo Baptismo] para serem filhos de Deus, devem confessar diante dos homens a fé que de Deus receberam por meio da Igreja» e participar na actividade apostólica e missionária do povo de Deus (77).

69. Cf.
1Co 6,19
70. Cf. 2Co 5,15
71. Cf. Ep 5,21 1Co 16,15-16.
72. Cf. Jn 13,12-15
73. Cf. He 13,17
74. Cf. 1Th 5,12-13
75. Cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 37, AAS 57 (1965) 42-43; CIC 208-223 CIO 675, § 2.
76. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium. LG 11, AAS 57 (1965) 16.
77. Cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 17, AAS 57 (1965) 21; Id., Decr. Ad gentes. AGD 7: AAS 58 (1966) 956; Ibid., AGD 23: AAS 58 (1966) 974-975.


O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS CRISTÃOS


1271 O Baptismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, mesmo com aqueles que ainda não estão em plena comunhão com a Igreja Católica: «Pois aqueles que crêem em Cristo e foram devidamente baptizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja Católica justificados no Baptismo pela fé, são incorporados em Cristo, e, por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e justamente são reconhecidos pelos filhos da Igreja Católica como irmãos no Senhor» (78). «O Baptismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade vigente entre todos os que por ele foram regenerados» (79).

78. II Concílio do Vaticano, Decr. Unitatis redintegratio,
UR 3, AAS 57 (1965) 93.
79. II Concílio do Vaticano, Decr. Unitatis redintegratio, UR 22, AAS 57 (1965) 105.

UMA MARCA ESPIRITUAL INDELÉVEL...


1272 Incorporado em Cristo pelo Baptismo, o baptizado é configurado com Cristo (80). O Baptismo marca o cristão com um selo espiritual indelével («charactere») da sua pertença a Cristo. Esta marca não é apagada por nenhum pecado, embora o pecado impeça o Baptismo de produzir frutos de salvação (81). Ministrado uma vez por todas, o Baptismo não pode ser repetido.


1273 Incorporados na Igreja pelo Baptismo, os fiéis receberam o carácter sacramental que os consagra para o culto religioso cristão (82). O selo baptismal capacita e compromete os cristãos a servir a Deus mediante uma participação viva na santa liturgia da Igreja, e a exercer o seu sacer­dócio baptismal pelo testemunho duma vida santa e duma caridade eficaz (83).


1274 O «selo do Senhor» («dominicus character») (84) é o selo com que o Espírito Santo nos marcou «para o dia da redenção» (Ep 4,30) (85). «O Baptismo é, efectivamente, o selo da vida eterna» (86). O fiel que tiver «guardado o selo» até ao fim, quer dizer, que tiver permanecido fiel às exigências do seu Baptismo, poderá partir «marcado pelo sinal da fé» (87), com a fé do seu Baptismo, na expectativa da visão bem-aventurada de Deus – consumação da fé – e na esperança da ressurreição.

80. Cf. Rm 8,29
81. Cf. Concílio de Trento, Sess. 7ª, Decretum de sacramentis, Canones de sacramentis in genere, can. 9: DS 1609, Ibid., Canones de sacramento Baptismi. can. 6: DS 1619
82. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 11: AAS 57 (1965) 16.
83. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 10, AAS 57 (1965) 15-16.
84. Cf. Santo Agostinho, Epistula 98, 5: CSEL 34, 527 (PL 33, 362).
85. Cf. Ep 1,13-14 2Co 1,21-22
86. Santo Ireneu de Lião, Demonstratio praedicationis apostolicae, 3: SC 62,32.
87. Oração Eucarística I ou Cânone Romano: Missale Romanum, editio typica (Typis Polyglottis Vaticanis 1970), p. 454 [Missal Romano, Gráfica de Coimbra 1992, 521].

Resumindo:


1275 A iniciação cristã faz-se pelo conjunto de três sacramentos: o Baptismo, que é o princípio da vida nova; a Confirmação, que é a consolidação da mesma vida; e a Eucaristia, que alimenta o discípulo com o corpo e sangue de Cristo, em vista da sua transformação n'Ele.


1276 «Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações, baptizai-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinai-os a cumprir tudo quanto vos mandei» (Mt 28,19-20).


1277 O Baptismo constitui o nascimento para a vida nova em Cristo. Segundo a vontade do Senhor; ele é necessário para a salvação, como a própria Igreja, na qual o Baptismo introduz.


1278 O rito essencial do Baptismo consiste em mergulhar na água o candidato ou em derramar água sobre a sua cabeça, pronunciando a invocação da Santíssima Trindade, isto é, do Pai e do Filho e do Espírito Santo.


1279 O fruto do Baptismo ou graça baptismal é uma realidade rica que inclui: a remissão do pecado original e de todos os pecados pessoais; o renascimento para uma vida nova, pela qual o homem se torna filho adoptivo do Pai, membro de Cristo, templo do Espírito Santo. Por esse facto, o baptizado é incorporado na Igreja, corpo de Cristo, e tornado participante do sacerdócio de Cristo.


1280 O Baptismo imprime na alma um sinal espiritual indelével, o carácter; que consagra o baptizado para o culto da religião cristã. Por causa do carácter; o Baptismo não pode ser repetido (88).


1281 . Os que sofrem a morte por causa da fé, os catecúmenos e todos aqueles que, sob o impulso da graça, sem conhecerem a Igreja, procuram sinceramente a Deus e se esforçam por cumprir a sua vontade, podem salvar-se, mesmo sem terem recebido o Baptismo (89).


1282 Desde os tempos mais antigos, o Baptismo é administrado às crianças, visto ser uma graça e um dom de Deus que não supõem méritos humanos; as crianças são baptizadas na fé da Igreja. A entrada na vida cristã dá acesso à verdadeira liberdade.


1283 Quanto às crianças que morrem sem Baptismo, a Liturgia da Igreja convida-nos a ter confiança na misericórdia divina e a rezar pela sua salvação.


1284 Em caso de necessidade, qualquer pessoa pode baptizar, desde que tenha a intenção de fazer o que a Igreja faz e derrame água sobre a cabeça do candidato, dizendo: «Eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo».

88. Cf. Concílio de Trento, Sess. Decretum de sacramentis, Canones de sacramentis in genere, can. 9:
DS 1609 Ibid., Canones de sacramento Baptismi. can. 11: DS 1624
89. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, LG 16, AAS 57 (1965) 20.

ARTIGO 2


O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO



1285 Com o Baptismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o conjunto dos «sacramentos da iniciação cristã», cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste sacramento é necessária para a plenitude da graça baptismal (90). Com efeito, os baptizados «pelo sacramento da Confirmação, são mais perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo» (91).

90. Cf. Ordo Confirmationis, Praenotanda 1 (Typis Polyglottis Vaticanas 1973) p. 16 [Celebração da Confirmação, Preliminares 1 (Coimbra, Gráfica de Coimbra – Conferência Episcopal Portuguesa, 1991) p. 21].
91. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
LG 11, AAS 57 (1965) 15: cf. Ordo Confirmationis, Praenotanda 2 (Typis Polyglottis Vaticanis 1973) p. 16 [Celebração da Confirmação, Preliminares 2 (Coimbra, Gráfica de Coimbra – Conferência Episcopal Portuguesa, 1991) p. 21].

I. A Confirmação na economia da salvação


1286 No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor repousaria sobre o Messias esperado (92), em vista da sua missão salvífica (93). A descida do Espírito Santo sobre Jesus, aquando do seu baptismo por João, foi o sinal de que era Ele o que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus (94). Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão se realizam numa comunhão total com o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe dá «sem medida» (Jn 3,34).


1287 Ora, esta plenitude do Espírito não devia permanecer unicamente no Messias: devia ser comunicada a todo o povo messiânico (95). Repetidas vezes, Cristo prometeu esta efusão do Espírito promessa que cumpriu, primeiro no dia de Páscoa (97) e depois, de modo mais esplêndido, no dia de Pentecostes (98). Cheios do Espírito Santo, os Apóstolos começaram a proclamar «as maravilhas de Deus» (Ac 2,11) e Pedro declarou que esta efusão do Espírito era o sinal dos tempos messiânicos (99). Aqueles que então acreditaram na pregação apostólica, e se fizeram baptizar, receberam, por seu turno, o dom do Espírito Santo (100).


1288 «A partir de então, os Apóstolos, para cumprirem a vontade de Cristo, comunicaram aos neófitos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito para completar a graça do Baptismo (101). É por isso que, na Epístola aos Hebreus, se menciona, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os Baptismos e também sobre a imposição das mãos (102). A imposição das mãos é justificadamente reconhecida, pela Tradição católica, como a origem do sacramento da Confirmação que, de certo modo, perpetua na Igreja a graça do Pentecostes» (103).


1289 Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, se acrescentou à imposição das mãos uma unção com óleo perfumado (crisma). Esta unção ilustra o nome de «cristão», que significa «ungido»,e que vai buscar a sua origem ao próprio nome de Cristo, aquele que «Deus ungiu com o Espírito Santo» (Ac 10,38). E este rito da unção mantém-se até aos nossos dias, tanto no Oriente como no Ocidente. É por isso que, no Oriente, este sacramento se chama crismação (= unção do crisma), ou myron, que significa «crisma». No Ocidente, o nome de Confirmação sugere que este sacramento confirma o Baptismo e, ao mesmo tempo, consolida a graça baptismal.

92. Cf. Is 11,2
93. Cf. Lc 4,16-22 Is 61,1
94. Cf. Mt 3,13-17 Jn 1,33-34
95. Cf. Ez 36,25-27 Jn 3,1-2
96. Cf. Lc 12,12 Jn 3,5-8 Jn 7,37-39 Jn 16,7-15 Ac 1,8
97. Cf. Jn 20,22
98. Cf. Ac 2,1-4
99. Cf. Ac 2,17-18
100. Cf. Ac 2,38
101. Cf. Ac 8,15-17 Ac 19,5-6
102. Cf. He 6,2
103. Paulo VI. Const. ap. Divinae consortium naturae: AAS 63 (1971) 659.


DUAS TRADIÇÕES: O ORIENTE E O OCIDENTE


1290 Nos primeiros séculos, a Confirmação constitui geralmente uma única celebração com o Baptismo, formando com ele, segundo a expressão de São Cipriano, um «sacramento duplo» (104). Entre outras razões, a multiplicação dos baptismos de crianças, e isto em qualquer tempo do ano, e a multiplicação das paróquias (rurais), ampliando as dioceses, deixaram de permitir a presença do bispo em todas as celebrações baptismais. No Ocidente, porque se desejava reservar ao bispo o completar do Baptismo, instaurou-se a separação, no tempo, dos dois sacramentos. O Oriente conservou unidos os dois sacramentos, de tal modo que a Confirmação é dada pelo sacerdote que baptiza. Este, no entanto, só o pode fazer com o «myron» consagrado por um bispo (105).


1291 Um costume da Igreja de Roma facilitou a expansão da prática ocidental, graças a uma dupla unção com o santo crisma, depois do baptismo: a unção já feita pelo sacerdote ao neófito ao sair do banho baptismal é completada por uma segunda unção, feita pelo bispo na fronte de cada um dos novos baptizados (106). A primeira unção com o santo crisma, feita pelo sacerdote, ficou ligada ao rito baptismal e significa a participação do baptizado nas funções profética, sacerdotal e real de Cristo. Se o Baptismo é conferido a um adulto, há apenas uma unção pós-baptismal: a da Confirmação.


1292 A prática das Igrejas do Oriente sublinha mais a unidade da iniciação cristã. A da Igreja latina exprime, com maior nitidez, a comunhão do novo cristão com o seu bispo, garante e servidor da unidade da sua Igreja, da sua catolicidade e da sua apostolicidade; e assim, a ligação com as origens apostólicas da Igreja de Cristo.

104. Cf. São Cipriano de Cartago, Epistula 73, 21: CSEL 3/2, 795; (1996), CCL 3C. 556 (PL 3, 1169).
105. Cf.
CIO 695, § 1. CIO 696. § 1.
106. Cf. Santo Hipólito de Roma, Traditio apostolica, 21: ed. B. Botte (Münster i.W. 1989) p. 50 e 52.

II. Os sinais e o rito da Confirmação


1293 No rito deste sacramento, convém considerar o sinal da unção e o que essa unção designa e imprime: o selo espiritual.

A unção, na simbologia bíblica e antiga, é rica de numerosas significações: o óleo é sinal de abundância (107) e de alegria (108), purifica (unção antes e depois do banho) e torna ágil (unção dos atletas e lutadores): é sinal de cura, pois suaviza as contusões e as feridas (109) e torna radiante de beleza, saúde e força.


1294 Todos estes significados da unção com óleo se reencontram na vida sacramental. A unção antes do Baptismo, com o óleo dos catecúmenos, significa purificação e fortalecimento; a unção dos enfermos exprime cura e conforto. A unção com o santo crisma depois do Baptismo, na Confirmação e na Ordenação, é sinal duma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, quer dizer, os que são ungidos, participam mais na missão de Jesus Cristo e na plenitude do Espírito Santo de que Ele está repleto, a fim de que toda a sua vida espalhe «o bom odor de Cristo» (110)


1295 Por esta unção, o confirmando recebe «a marca», o selo do Espírito Santo. O selo é o símbolo da pessoa (111), sinal da sua autoridade (112), da sua propriedade sobre um objecto (113). Era assim que se marcavam os soldados com o selo do seu chefe e também os escravos com o do seu dono. O selo autentica um acto jurídico (114) ou um documento (115) e, eventualmente, torna-o secreto (116).


1296 O próprio Cristo se declara marcado com o selo do Pai (117). O cristão também está marcado com um selo: «Foi Deus que nos concedeu a unção, nos marcou também com o seu selo e depôs as arras do Espírito em nossos corações» (2Co 1,21-22) (118). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, a entrega para sempre ao seu serviço, mas também a promessa da protecção divina na grande prova escatológica (119).

107. Cf. Dt 11,14 etc.
108. Cf. Ps 23,5, Ps 104,15.
109. Cf. Is 1,6 Lc 10,34.
110. Cf. 2Co 2,15
111. Cf. Gn 38,18 Cf Gn 8,6
112. Cf. Gn 41,42
113. Cf. Dt 32,34
114. Cf. 1R 21,8
115. Cf. Jr 32,10
116. Cf. Is 29,11
117. Cf. Jn 6,27
118. Cf. Ep 1,13 Ep 4,30
119. Cf. Ap 7,2-3 Ap 9 Ap 4 Ez 9,4-6


A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO


1297 Um momento importante que precede a celebração da Confirmação, mas que, de certo modo, faz parte dela, é a consagração do santo crisma. É o bispo que, em Quinta-Feira Santa, no decorrer da missa crismal, consagra o santo crisma para toda a sua diocese. Nas Igrejas do Oriente, esta consagração é mesmo reservada ao Patriarca:

A liturgia de Antioquia exprime assim a epiclese da consagração do santo crisma (myron, em grego): «[Pai (...), envia o Teu Espírito Santo] sobre nós e sobre este óleo que está diante de nós e consagra-o, para que seja para todos os que com ele forem ungidos e marcados, myron santo, myron sacerdotal, myron real, unção de alegria, a veste da luz, o manto da salvação, o dom espiritual, a santificação das almas e dos corpos, a felicidade imperecível, o selo indelével, o escudo da fé, o capacete invencível contra todas as obras do Adversário» (120).


1298 Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Baptismo, como acontece no rito romano, a Liturgia do sacramento começa pela renovação das promessas do Baptismo e pela profissão de fé dos confirmandos. Assim se evidencia claramente que a Confirmação se situa na continuação do Baptismo (121). No caso do Baptismo dum adulto, este recebe imediatamente a Confirmação e participa na Eucaristia (122).


1299 No rito romano, o bispo estende as mãos sobre o grupo dos confirmandos, gesto que, desde o tempo dos Apóstolos, é sinal do dom do Espírito. E o bispo invoca assim a efusão do Espírito:

«Deus todo-poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, pela água e pelo Espírito Santo, destes uma vida nova a estes vossos servos e os libertastes do pecado, enviai sobre eles o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de piedade, e enchei-os do espírito do vosso temor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo» (123).


1300 Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, «o sacramento da Confirmação é conferido pela unção do santo crisma sobre a fronte, feita com a imposição da mão, e por estas palavras: «Accipe signaculum doni Spiritus Sancti – Recebe por este sinal o Espírito Santo, o Dom de Deus» (124). Nas Igrejas orientais de rito bizantino, a unção do myron faz-se depois duma oração de epiclese, sobre as partes mais significativas do corpo: a fronte, os olhos, o nariz, os ouvidos, os lábios, o peito, as costas, as mãos e os pés, sendo cada unção acompanhada da fórmula: «Sf?a??? d??a? ??e?µat? ???o?» («Signaculum doni Spiritus Sancti – Selo do dom que é o Espírito Santo» ) (125).


1301 O ósculo da paz, com que termina o rito do sacramento, significa e manifesta a comunhão eclesial com o bispo e com todos os fiéis (126).

120. Pontificale iuxta ritum Syrorum Occidentalium id est Antiochiae, Pars I, Versio latina (Typis Polyglottis Vaticanis 1941) p. 36-37.
121. Cf. II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium,
SC 71, AAS 56 (1964) 118.
122. Cf. CIC 866
123. Ordo Confirmationis, 25 (Typis Polyglottis Vaticanis 1973). p. 26 [Celebração da Confirmação, 25 (Coimbra, Gráfica de Coimbra — Conferência Episcopal Portuguesa, 1991) p. 33].
124. Paulo VI. Const. Ap. Divinae consortium naturae: AAS 63 (1971) 657 [Celebração da Confïrmação, Const. ap. sobre o Sacramento da Confirmação (Coimbra, Gráfica de Coimbra – Conferência Episcopal Portuguesa. 1991) p. 19].
125. Rituale per le Chiese orientali di rito bizantino in lingua greca, Pars 1 (Libreria Editrice Vaticana 1954) p. 36.
126 Cf. Santo Hipólito, Traditio apostolica, 21: ed. B. Botte (Münster i.W. 1989) p. 54.

III. Os efeitos da Confirmação


1302 Ressalta desta celebração que o efeito do sacramento da Confirmação é uma efusão especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos Apóstolos, no dia de Pentecostes.


1303 Por esse facto, a Confirmação proporciona crescimento e aprofundamento da graça baptismal:

– enraíza-nos mais profundamente na filiação divina, que nos leva a dizer « Abba! Pai!» (
Rm 8,15);
– une-nos mais firmemente a Cristo;
– aumenta em nós os dons do Espírito Santo;
– torna mais perfeito o laço que nos une à Igreja (127);
– dá-nos uma força especial do Espírito Santo para propagarmos e defendermos a fé, pela palavra e pela acção, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessarmos com valentia o nome de Cristo, e para nunca nos envergonharmos da cruz (128):

«Lembra-te, pois, de que recebeste o sinal espiritual, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de ciência e de piedade, o espírito do santo temor, e guarda o que recebeste. Deus Pai marcou-te com o seu sinal, o Senhor Jesus Cristo confirmou-te e pôs no teu coração o penhor do Espírito» (129).


1304 Tal como o Baptismo, de que é a consumação, a Confirmação é dada uma só vez. Com efeito, a Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével, o «carácter» (130), que é sinal de que Jesus Cristo marcou um cristão com o selo do seu Espírito, revestindo-o da fortaleza do Alto, para que seja sua testemunha (131).


1305 O «carácter» aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no Baptismo, e «o confirmado recebe a força de confessar a fé de Cristo publicamente e como em virtude dum encargo oficial (quasi ex officio)» (132).

127. Cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium,
LG 11, AAS 57 (1965) 15.
128. Cf. Concílio de Florença, Decretum por Armenis: DS 1319, II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium LG 11, AAS 57 (1965) 15; Ibid., LG 12: AAS 57 (1965) 16.
129. Santo Ambrósio, De mysteriis, 7, 42: CSEL 73, 106 (PL 16, 402-403).
130. Cf. Concílio de Trento, Decretum de sacramentis. Canones de sacramentis in genere, can. 9: DS 1609
131.Cf. Lc 24,48-49,
132. São Tomás de Aquino, Summa theologiae III 72,5. ad 2: Ed. Leon. 12. 130.

IV. Quem pode receber este sacramento?


1306 Todo o baptizado ainda não confirmado pode e deve receber o sacramento da Confirmação (133). Uma vez que Baptismo, Confirmação e Eucaristia formam uma unidade, segue-se que «os fiéis têm obrigação de receber este sacramento no tempo devido» (134), porque, sem a Confirmação e a Eucaristia, o sacramento do Baptismo é, sem dúvida, válido e eficaz, mas a iniciação cristã fica incompleta.


1307 O costume latino, desde há séculos, aponta «a idade da discrição» como ponta de referência para se receber a Confirmação. Em perigo de morte, porém, devem confirmar-se as crianças, mesmo que ainda não tenham atingido a idade da discrição (135).


1308 Se por vezes se fala da Confirmação como «sacramento da maturidade cristã», não deve, no entanto, confundir-se a idade adulta da fé com a idade adulta do crescimento natural, nem esquecer-se que a graça baptismal é uma graça de eleição gratuita e imerecida, que não precisa duma «ratificação» para se tornar efectiva. São Tomás recorda isso mesmo:

«A idade do corpo não constitui um prejuízo para a alma. Por isso, mesmo na infância, o homem pode receber a perfeição da idade espiritual de que fala a Sabedoria (4, 8): «A velhice honrada não é a que dão os longos dias, nem se avalia pelo número dos anos». E foi assim que muitas crianças, graças à fortaleza do Espírito Santo que tinham recebido, lutaram corajosamente e até ao sangue por Cristo» (136).


1309 . A preparação para a Confirmação deve ter por fim conduzir o cristão a uma união mais íntima com Cristo e a uma familiaridade mais viva com o Espírito Santo, com a sua acção, os seus dons e os seus apelos, para melhor assumir as responsabilidades apostólicas da vida cristã. Desse modo, a catequese da Confirmação deve esforçar-se por despertar o sentido de pertença à Igreja de Jesus Cristo, tanto à Igreja universal como à comunidade paroquial. Esta última tem uma responsabilidade particular na preparação dos confirmandos (137).


1310 Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça. Convém recorrer ao sacramento da Penitência para ser purificado, em vista do dom do Espírito Santo. E uma oração mais intensa deve preparar para receber com docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito Santo (138).


1311 Tanto para a Confirmação, como para o Baptismo, convém que os candidatos procurem a ajuda espiritual dum padrinho ou de uma madrinha. É conveniente que seja o mesmo do Baptismo, para marcar bem a unidade dos dois sacramentos (139).

133. Cf.
CIC 889 § 1.
134. CIC 890
135. Cf. CIC 891 CIC 883 3
136. São Tomás de Aquino, Summa theologiae III 72,8, ad 2: Ed. Leon. 12. 133.
137. Ordo Confirmationis, Praenotanda 3 (Typis Polyglottis Vaticanis 1973) p. 16 [Celebração da Confirmação, Preliminares 3 (Coimbra, Gráfica de Coimbra – Conferência Episcopal Portuguesa. 1991) p. 12].
138. Cf. Ac 1,14
139. Cf. Ordo Confirmationis, Praenotanda 5 (Typis Polyglottis Vaticanis 1973) p. 17 [Celebração da Confirmação, Preliminares 5 (Coimbra, Gráfica de Coimbra – Conferência Episcopal Portuguesa. 1991) p. 22]: Ibid., 6: (Typis Polyglottis Vaticanis 1973) p. 17 [(Coimbra, Gráfica de Coimbra - Conferência Episcopal Portuguesa. 1991) 22]: CIC can 893, § 1-2.

V. O ministro da Confirmação


1312 O ministro originário da Confirmação é o bispo (140).

No Oriente, é ordinariamente o sacerdote que baptiza quem imediatamente confere a Confirmação, numa só e mesma celebração. Fá-lo, no entanto, com o santo crisma consagrado pelo patriarca ou pelo bispo, o que exprime a unidade apostólica da Igreja, cujos laços são reforçados pelo sacramento da Confirmação. Na Igreja latina aplica-se a mesma disciplina nos baptismos de adultos ou quando é admitido à plena comunhão com a Igreja um baptizado de outra comunidade cristã, que não tenha recebido validamente o sacramento da Confirmação (141).


1313 No rito latino, o ministro ordinário da Confirmação é o bispo (142). Mesmo que o bispo possa, em caso de necessidade, conceder a presbíteros a faculdade de administrar a Confirmação (143), é conveniente que seja ele mesmo a conferi-la, não se esquecendo de que foi por esse motivo que a celebração da Confirmação foi separada, no tempo, da do Baptismo. Os bispos são os sucessores dos Apóstolos e receberam a plenitude do sacramento da Ordem. A administração deste sacramento feita por eles, realça que ele tem como efeito unir mais estreitamente aqueles que o recebem à Igreja, às suas origens apostólicas e à sua missão de dar testemunho de Cristo.


1314 Se um cristão estiver em perigo de morte, qualquer sacerdote pode conferir-lhe a Confirmação (144). De facto, é vontade da Igreja que nenhum dos seus filhos, mesmo pequenino, parta deste mundo sem ter sido levado à perfeição pelo Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo.

140. Cf. II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium
LG 26, AAS 57 (1465) 32.
141. Cf. CIC 883, § 2.
142. Cf. CIC 882
143. Cf. CIC 884, § 2.
144. Cf. CIC 883,3


Catecismo Igreja Catól. 1257