Discursos Bento XVI 348

DECLARAÇÃO CONJUNTA E DE SUA BEATITUDE CHRISTODOULOS

348

1. Nós, Bento XVI, Papa e Bispo de Roma, e Christodoulos, Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, neste lugar sagrado de Roma, tornado ilustre pela pregação evangélica e pelo martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo, desejamos viver cada vez mais intensamente a nossa missão de dar um testemunho apostólico, de transmitir a fé aos que estão próximos e a quantos estão distantes e anunciar-lhes a Boa Nova do nascimento do Salvador, que vamos celebrar, uns e outros, proximamente. É também nossa comum responsabilidade superar, no amor e na verdade, as numerosas dificuldades e as experiências dolorosas do passado, para glória de Deus, Trindade Santa, e da sua santa Igreja.

2. O nosso encontro na caridade torna-nos em primeiro lugar conscientes da nossa tarefa comum: percorrer juntos o caminho árduo do diálogo na verdade em vista de restabelecer a plena comunhão de fé no vínculo do amor. Desta forma obedeceremos ao mandamento divino e realizaremos a oração de nosso Senhor Jesus Cristo e, iluminados pelo Espírito Santo que acompanha e nunca abandona a Igreja de Cristo, prosseguiremos o nosso compromisso neste caminho, seguindo o exemplo apostólico e dando provas de amor recíproco e de espírito de reconciliação.

3. Reconhecemos os passos importantes realizados no diálogo da caridade e pelas decisões do Concílio Vaticano II em matéria de relações recíprocas. Por outras palavras, esperamos que o diálogo teológico bilateral faça frutificar estes elementos positivos para formular propostas aceitáveis de ambas as partes num espírito de reconciliação, a exemplo do nosso ilustre Padre da Igreja, São Basílio o Grande, que, durante um período de múltiplas divisões do corpo eclesial, dizia estar persuadido de "que com a comunicação recíproca mais duradoura e os diálogos sem espírito de contenda, e se necessário que sejam acrescentados novos esclarecimentos, o Senhor providenciará, ele que faz cooperar todas as coisas para o bem de quantos o amam" (Carta 113).

4. Afirmamos unanimemente a necessidade de perseverar no caminho de um diálogo teológico construtivo. Pois, não obstante as dificuldades verificadas, este caminho é uma das vias fundamentais de que dispomos para restabelecer a unidade tão desejada do corpo eclesial à volta do altar do Senhor, assim como para fortalecer a credibilidade da mensagem cristã num período de perturbações nas sociedades, que vivemos, mas também de grandes buscas espirituais, num grande número dos nossos contemporâneos, que estão também apreensivos perante a globalização crescente, que por vezes ameaça o homem, até na sua existência e na sua relação com Deus e com o mundo.

5. De modo muito especial, renovamos solenemente o nosso desejo de anunciar ao mundo o Evangelho de Jesus Cristo, e sobretudo às novas gerações, porque "o amor de Cristo nos constrange" (
2Co 5,14), de lhes fazer descobrir o Senhor que veio ao nosso mundo para que todos tenham vida, e a tenham em abundância. Isto é particularmente importante nas nossas sociedades nas quais numerosas correntes de pensamento afastam de Deus e não dão sentido à existência. Desejamos anunciar o Evangelho de graça e de amor para que todos os homens estejam, também eles, em comunicação com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo e para que a sua alegria seja perfeita.

6. Pensamos que as religiões têm um papel a desempenhar para garantir a irradiação da paz no mundo e que elas não devem ser absolutamente focos de intolerância nem de violência. Como chefes religiosos cristãos, exortamos juntos todos os chefes religiosos a prosseguir e a incrementar o diálogo inter-religioso, e a trabalhar para criar uma sociedade de paz e de fraternidade entre as pessoas e entre os povos. Esta é uma das missões das religiões. É neste sentido que os cristãos trabalham e desejam continuar a sua acção no mundo, com todos os homens e mulheres de boa vontade, num espírito de solidariedade e de fraternidade.

7. Queremos prestar homenagem ao impressionante progresso realizado em todos os âmbitos da ciência, sobretudo no que diz respeito ao homem, convidando todavia os Responsáveis e os cientistas ao respeito do carácter sagrado da pessoa humana e da sua dignidade, porque a vida é um dom divino. Preocupa-nos ver que as ciências praticam experiências sobre o ser humano, que não respeitam nem a dignidade nem a integridade da pessoa em todas as etapas da sua existência, desde a concepção até ao seu termo natural.

8. Pedimos igualmente que sejam dadas provas de sensibilidade para proteger mais eficazmente, nos nossos países, na Europa e a nível internacional, os direitos fundamentais do homem, fundados na dignidade da pessoa criada à imagem de Deus.

9. Auspiciamos uma colaboração fecunda para fazer redescobrir aos nossos contemporâneos as raízes cristãs do Continente europeu, que forjaram as diferentes nações e contribuíram para o desenvolvimento dos vínculos cada vez mais harmoniosos entre elas. Isto ajudá-los-á a viver e a promover os valores humanos e espirituais fundamentais, quer para as pessoas quer para o progresso das próprias sociedades.

10. Reconhecemos os merecimentos dos progressos da tecnologia e da economia para um grande número de sociedades modernas. No entanto, convidamos também os países ricos a dedicar maior atenção aos países em vias de desenvolvimento e aos países mais pobres, num espírito de partilha solidária e reconhecendo que todos os homens são nossos irmãos e que nos compete ajudar os mais pequenos e os mais pobres, que são os amados do Senhor. Neste sentido, é importante também não explorar de maneira abusiva a criação, que é obra de Deus. Fazemos apelo às pessoas que desempenham responsabilidades na sociedade e a todos os homens de boa vontade para que todos se comprometam numa gestão racional e respeitosa da criação, para que seja correctamente administrada, com preocupação pela solidariedade, sobretudo em relação aos povos que padecem fome, e para deixar às gerações futuras uma terra verdadeiramente habitável para todos.

11. Em virtude das nossas comuns convicções, reafirmamos o nosso desejo de colaborar para o progresso da sociedade, numa cooperação construtiva, ao serviço do homem e dos povos, e dando testemunho da fé e da esperança que nos animam.

12. Pensando de modo especial nos fiéis ortodoxos e católicos, nós os saudamos e os confiamos a Cristo Salvador, para que sejam testemunhas infatigáveis do amor de Deus, e elevamos uma fervorosa oração para que o Senhor conceda a todos os homens o dom da paz, na caridade e na unidade da família humana.


Vaticano, 14 de Dezembro de 2006.


Benedictus PP. XVI


S. B. Christodoulos





AO SENHOR LARS MØLLER NOVO EMBAIXADOR DA DINAMARCA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2006

14136 Senhor Embaixador

É-me grato recebê-lo e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador e Ministro Plenipotenciário da Dinamarca junto da Santa Sé. Estou grato pela mensagem de saudação que me transmitiu da parte da Rainha Margrethe II. É com prazer que me recordo do encontro com Sua Majestade na Primavera passada, e peço-lhe a amabilidade de comunicar as minhas saudações, juntamente com os meus sinceros bons votos pela felicidade e prosperidade do povo dinamarquês.

Neste contexto, o 25º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Dinamarca, desejo manifestar a estima da Santa Sé pelos esforços do seu país em vista de promover uma solidariedade concreta para com as nações mais pobres, fomentando o desenvolvimento integral e trabalhando para aliviar a trágica situação de pobreza, violência, fome e doença que pesa sobre uma boa parte da família humana. A Dinamarca está na vanguarda dos esforços internacionais que visam a realização das chamadas Finalidades de Desenvolvimento do Milénio, dado que contribui generosamente para o estabelecimento de mecanismos para a segurança e a pacificação nas regiões do mundo mais atingidas pelos conflitos armados.

Estas iniciativas meritórias inspiram-se no sóbrio reconhecimento de que os problemas mundiais exigem soluções planetárias. A coordenação entre os governos nacionais, as várias instituições e agências da comunidade internacional, bem como os numerosos organismos regionais e locais comprometidos no fortalecimento do tecido social, representam um caminho seguro para o maior respeito pelos direitos humanos fundamentais e a promoção da justiça e da paz a todos os níveis.

Agradeço-lhe as palavras de apreço pela presença e a contribuição da Santa Sé no seio da comunidade internacional. Este serviço à paz está alicerçado numa convicção firme, inspirada pela fé, da unidade da família humana e da dignidade e dos direitos de cada pessoa, concedidos por Deus. Em conformidade com as palavras do profeta Isaías (cf. 32, 17), a paz é o fruto da justiça, mas é inclusive fruto do amor, que ultrapassa aquilo que só a justiça pode garantir (cf. Gaudium et spes
GS 78). Na sua proclamação do Evangelho e no seu serviço de caridade, a Igreja deseja cooperar com todos os homens e mulheres de boa vontade, na construção de uma comunidade global em que o ódio e a intolerância, a injustiça e a violência cedam o caminho à compreensão recíproca, à reconciliação e à cooperação generosa na busca do bem comum. Em última análise, somente esta cooperação, capaz de transcender as fronteiras nacionais, étnicas e religiosas, pode prevenir contra as numerosas ameaças contemporâneas à paz, inclusive o flagelo do terrorismo internacional e as ideologias que o inspiram.

Enquanto o povo dinamarquês está a confrontar-se com algumas complicadas problemáticas políticas e éticas, que hão-de determinar o porvir da sua sociedade, o rico legado de fé cristã do seu país pode servir como nascente de sabedoria e inspiração da exigente tarefa de respeitar a identidade singular e da herança cultural da Dinamarca, e para enfrentar os desafios do tempo presente. Uma vida pública vigorosa recebe benefícios da contribuição dos fiéis e do diálogo criativo com a tradição e os valores religiosos da nação, dado que uma democracia saudável exige um sólido fundamento ético e o respeito pela "estrutura moral da liberdade" (cf. Ecclesia in Europa, 98). Por sua vez, a Igreja propõe-se "contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais, sem as quais não se constroem estruturas justas, nem estas permanecem operativas por muito tempo" (Deus caritas est ).

Asseguro-lhe que, embora seja numericamente exígua, a comunidade católica da Dinamarca deseja desempenhar o papel que lhe cabe, em cooperação com os outros fiéis cristãos, nesta obra de discernimento e na elaboração de políticas sociais sábias e clarividentes. É particularmente assim, no que se refere ao papel e à missão essenciais da família fundada sobre o matrimónio, à educação dos filhos, ao respeito pelo dom divino da vida, desde a concepção até à morte natural, e à gestão responsável do meio ambiente.

Senhor Embaixador, no momento em que Vossa Excelência começa a sua missão formulo-lhe os meus melhores votos pelo trabalho que empreenderá ao serviço da sua nação, enquanto lhe asseguro a constante disponibilidade dos vários departamentos da Cúria Romana, para o assistir no cumprimento das suas responsabilidades. Estou persuadido de que a sua representação contribuirá para consolidar os bons relacionamentos já existentes entre a Santa Sé e a Dinamarca. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o amado povo dinamarquês, invoco cordialmente as Bênçãos divinas da alegria e da paz.




AO SENHOR MARATBEK SALIEVIC BAKIEV NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO QUIRGUISTÃO JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2006

14146
Senhor Embaixador

É com prazer que hoje lhe dou as boas-vindas ao Vaticano e aceito as Cartas Credenciais através das quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Quirguistão junto da Santa Sé. Nesta significativa circunstância, pedir-lhe-ia a amabilidade de transmitir as minhas cordiais saudações a Sua Excelência o Senhor Presidente Kurmanbek Bakiyev e ao povo do seu país. Comunique-lhes a certeza da minha gratidão pelos seus bons votos e das minhas preces pela paz e o bem-estar de toda a nação.

As relações diplomáticas da Igreja fazem parte da sua missão de serviço à comunidade internacional. O seu compromisso em prol da sociedade civil está fundamentado na persuasão de que a tarefa de edificar um mundo mais justo deve reconhecer e considerar a vocação sobrenatural do homem. Consequentemente, a Santa Sé esforça-se por promover uma compreensão da pessoa humana, que "recebe de Deus a sua dignidade essencial e com ela a capacidade de transcender todo o regime da sociedade, rumo à verdade e ao bem" (Centesimus annus
CA 38). A partir desta compreensão, a Igreja assiste a vasta gama de culturas e de nações que constituem o nosso mundo, a articularem e a defenderem os valores universais que salvaguardam a dignidade de cada pessoa e servem o bem comum.

A extraordinária beleza natural do Quirguistão é uma bênção para o seu país. Esta dramática evidência da mão do Criador alegra o coração do seu povo e ajuda-o a elevar o próprio pensamento ao Todo-Poderoso. Com efeito, o povo do Quirguistão conhece muito bem a importância da liberdade religiosa e está consciente de que, se a dimensão espiritual das pessoas for reprimida ou até negada, a alma da nação será esmagada. Durante a trágica época da intimidação na história da Ásia Central, quando havia a supremacia da força, os fiéis religiosos no seu país alimentavam a esperança da liberdade e da justiça, de um futuro em que prevalecessem a verdade acerca da pessoa humana e as finalidades da sociedade. Actualmente, esta esperança manifesta-se de numerosas formas, inclusive na tolerância entre as comunidades religiosas e étnicas, no respeito pelo papel da família no centro da sociedade e no florescimento das obras de arte no seu país. Estas características e valores, que efectivamente adornaram a sua história, adquirem uma importância excelsa de significado regional, considerando a singular posição geográfica do Quirguistão como uma encruzilhada cultural.

Enquanto continua a forjar a sua identidade nacional, a República do Quirguistão deve ter em consideração o facto de que o importante componente do desenvolvimento económico contém um aspecto moral, de relevância crucial para o bem-estar e o progresso pacífico de uma nação. É nele que se satisfaz a exigência da justiça (cf. Sollicitudo rei socialis SRS 10). O direito a um trabalho digno e a um padrão de vida que seja aceitável, a certeza de uma distribuição equitativa dos bens e das riquezas, bem como o uso responsável dos recursos naturais, tudo depende de um conceito de crescimento que não se limite exclusivamente à satisfação das necessidades materiais. Pelo contrário, esta noção deve salientar também a dignidade de cada pessoa humana o verdadeiro sujeito de todo o progresso e, desta maneira, promover o bem comum da humanidade inteira.

As aspirações legítimas do desenvolvimento económico estão intrinsecamente ligadas aos princípios e às práticas que favorecem a estabilidade cívica necessária para a prosperidade. O seu país já deu alguns passos em vista da salvaguarda dos direitos fundamentais dos cidadãos e da promoção das práticas democráticas. Um governo responsável e transparente, livre de interferências, a manutenção da lei e da ordem, a liberdade de imprensa e a participação pública nas instituições cívicas comprometidas no autêntico desenvolvimento da nação, todos estes elementos têm um seu papel específico a desempenhar na contribuição para uma cultura de paz e de colaboração. Encorajo o seu governo nos próprios esforços para assegurar que este processo não entre numa fase de estagnação, mas seja verdadeiramente revigorado.

Senhor Embaixador, os membros da Igreja católica no seu país são realmente poucos. Enquanto gozam de relacionamentos amistosos com as comunidades muçulmanas e ortodoxas, desejam ardente e imparcialmente estabelecer contactos com todas as populações do Quirguistão. A sua capacidade caritativa já vai do ensino universitário à visita às prisões e à assistência aos portadores de deficiência. Isto faz parte do compromisso da Igreja no amor prático e concreto por todos os seres humanos e, de maneira especial, pelos pobres. Quando oferece estes serviços, ela não busca poder nem privilégios, mas simplesmente a liberdade de expressar o seu credo no "nexo indivisível entre o amor a Deus e o amor ao próximo" (Deus caritas est ), através de obras de generosidade, de justiça e de paz. Estou persuadido de que, na medida em que forem surgindo novas necessidades sociais e espirituais na sua terra, a comunidade católica saberá responder com generosidade e sabedoria.

Senhor Embaixador, no momento em que entra na comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, asseguro-lhe a assistência disponível dos vários departamentos e agências da Cúria Romana. Vossa Excelência teve a amabilidade de observar que as relações já existentes entre a República do Quirguistão e a Santa Sé são amistosas e estão alicerçadas sobre o respeito e a cooperação recíprocos. Possa a sua missão servir para fortalecer estes vínculos de compreensão. Com os meus sinceros bons votos, invoco sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os seus concidadãos, as abundantes Bênçãos de Deus Todo-Poderoso.



AO SENHOR CARLOS DOS SANTOS NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2006

14156
Excelência,

Com particular satisfação, dou-lhe as boas-vindas ao Vaticano como primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Moçambique junto da Santa Sé. Nesta significativa ocasião, gostaria de lhe pedir que transmitisse a minha cordial saudação ao Senhor Presidente Armando Guebuza, ao Governo e ao povo do seu país. Certifique-os a minha gratidão pelos votos formulados e das minhas orações pela paz e o bem-estar da nação.

A actividade diplomática da Igreja faz parte da sua missão de serviço à comunidade internacional. Visa especificamente a promover a dignidade da pessoa humana e a encorajar a paz e a harmonia no seio das nações e entre os povos do mundo. Estas condições essenciais para se avançar na realização dum autêntico desenvolvimento dos países encontram o seu significado mais profundo na ordem moral estabelecida por Deus, que procura atrair todos os homens e mulheres para a plenitude da sua vida. Por este motivo, a Santa Sé manifesta-se, com tanta insistência e tenacidade, acerca do respeito pelos indivíduos, da importância vital da família, como célula primária e vital da sociedade, e da necessidade de um bom governo que garanta a promoção dos direitos humanos fundamentais e das legítimas aspirações.

O povo de Moçambique bem sabe que «a paz é um anseio irreprimível presente no coração de cada pessoa» (Mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz de 2006, 6). Durante os anos da guerra civil, que devastou a sua nação, as feridas, físicas e psicológicas, de inumeráveis homens, mulheres e crianças inocentes, tornaram-se uma dolorosa lembrança de conflito e de agressão. Nos últimos anos, a devastação da guerra deu lugar, graças a Deus, a um compromisso de paz. Construindo sobre uma reconciliação duradoura, que deriva do perdão e da decisão de olhar para a frente, os moçambicanos vivem hoje esperançados num futuro de maior serenidade. De facto, a sua nação já goza de estabilidade política, de significativo progresso económico e os inícios duma redução da pobreza.

A paz é mais do que a mera ausência de guerra. A paz contém uma intrínseca e invencível verdade, que provém duma ordem planeada e querida por Deus (cf. Ib.,3) Assim, para a alcançar, requer-se o exercício da mais alta responsabilidade a todos os níveis. Cabe a todos os cidadãos - especialmente das autoridades civis, políticas e religiosas - contribuir com todos os meios possíveis para o respeito da pessoa humana e a promoção da justiça e equidade a fim de que indivíduos e comunidades possam crescer, livres da ameaça de opressão e corrupção, da afronta da pobreza, dívida ou discriminação.

Senhor Embaixador, o seu Governo introduziu numerosas iniciativas destinadas a aumentar o nível de vida dos cidadãos da nação. A prioridade dada à promoção de projectos sociais e comerciais capazes de criar uma sociedade mais justa e de dar trabalho aos mais necessitados, constitui um estímulo, não obstante a dificuldade do desafio, para todos os que orientam e trabalham no sector dos negócios. Um autêntico desenvolvimento requer um plano coordenado de progresso nacional, que respeite as aspirações razoáveis de todos os segmentos da sociedade. Com efeito, a história humana ensina-nos repetidamente que, se tais planos visam realizar uma mudança duradoura para melhor, devem ser baseados no exercício de um governo responsável e transparente, e acompanhados por um sistema judicial imparcial, pela liberdade política e por uma Imprensa decididamente independente. Sem estes fundamentos comuns a todas as sociedades civilizadas, a esperança de progresso, a que todo ser humano aspira, permanece ilusória.

Ao longo das gerações, as culturas africanas têm celebrado com grande alegria o lugar do matrimónio e da família no coração da sociedade. Com a introdução de leis acerca da família, o seu Governo tem procurado proteger esta verdade e valor fundamental, que permanece na base de todas as civilizações. Todavia, ainda circulam no continente africano tendências para esvaziar o matrimónio do seu conteúdo próprio. A instituição do matrimónio estabelecida pelo Criador com sua natureza e finalidade próprias, e preservada na lei moral natural, não é algo que pode ser modificada para satisfazer os interesses de grupos particulares. O matrimónio implica necessariamente a complementaridade entre marido e esposa que participam na obra criadora de Deus através da geração de filhos. Por isso, os esposos garantem a sobrevivência da sociedade e da cultura e, como Moçambique reconheceu, merecem justamente o reconhecimento legal específico do Estado.

Como Vossa Excelência delicadamente observou, a Igreja em Moçambique serve a nação através de um vasto apostolado educativo e social. Fiel à sua missão espiritual e humanitária, ela procura activamente contribuir para o progresso do povo. Entre as várias obras de caridade em que está comprometida, contam-se o cuidado dos órfãos, cujo número está aumentando devido à tragédia do SIDA, clínicas sanitárias, projectos de desenvolvimento integral, escolas e uma universidade. Estou certo de que a comunidade católica continuará a responder generosamente às necessidades sociais e espirituais dos moçambicanos que vão surgindo.

Senhor Embaixador, a missão que hoje inicia muito contribuirá para reforçar os laços de compreensão e cooperação entre nós, e espero que o Acordo entre a Santa Sé e Moçambique, em fase de estudo há alguns anos, seja logo levado a cabo. Ao assumir as suas novas responsabilidades, posso assegurar-lhe que os vários Departamentos da Cúria Romana estão prontos a ajudá-lo no cumprimento das suas funções. Sobre Vossa Excelência, sua família e seus concidadãos invoco abundantes bênçãos de Deus Omnipotente.



À SUA ALTEZA REAL A PRINCESA ELIZABETH BAGAYA NOVA EMBAIXADORA DA REPÚBLICA DE UGANDA JUNTO DA SANTA SÉ

14166
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2006


Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designada Embaixadora Extraordinária e Plenipotenciária da República de Uganda junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as saudações que me comunicou da parte de Sua Ex.cia o Senhor Yoweri Museveni, Presidente da República, e é de bom grado que lhe retribuo, expressando-lhe os bons votos e a certeza das minhas preces por Sua Excelência e pelo povo de Uganda.

Situado precisammente no centro da Região dos Grandes Lagos, o seu país compartilha muitas das características presentes na cultura africana. Alguns destes valores maravilhosos vêm claramente ao pensamento: o respeito que se deveria reservar a cada vida humana, desde a concepção até à morte natural, o lugar da família como pedra angular da sociedade, e um sentido inspirador do sagrado.

Tenho acompanhado de perto os desafios que estão a ser enfrentados no continente africano, alguns dos quais se apresentam com vários graus de urgência na sua pátria. Infelizmente, estes acontecimentos muitas vezes derivam do orgulho e da violência. Enquanto a população do seu país aspira por um futuro de estabilidade pacífica, o seu governo está a enfrentar a urgente obrigação de responder com determinação às necessidades de todos aqueles que sofrem as trágicas consequências das prolongadas violências no Norte. A comunidade internacional está chamada a prestar a devida atenção à grave crise humanitária que atinge mais de um milhão de pessoas na região. Muitos ugandenses e algumas organizações internacionais têm trabalhado diligentemente, muitas vezes colocando em grande perigo a sua própria vida, para assistir estas pessoas deslocadas e marginalizadas, mas tal situação exige uma maior cooperação, se se quiser criar um clima de segurança e de estabilidade.

O progresso em Uganda pode ser alcançado através do autêntico desenvolvimento integral, permanecendo fiel às raízes que lhe são próprias. A este propósito, a sua nação deve continuar a lutar em favor de uma equilibrada mistura do que é antigo e novo, promovendo sempre o respeito pela família e por uma comunidade mais vasta, pelo progresso material e pelo enriquecimento cultural, juntamente com a liberdade individual e a solidariedade nacional. Uma das garantias para assegurar o bom êxito de uma democracia é a participação num diálogo sincero e fecundo e o seu encorajamento.

O intercâmbio mútuo de opiniões e de ideias nem sempre é fácil. Todavia, o bom governo exige que as pessoas com opiniões diferentes sejam ouvidas, respeitadas e envolvidas no processo decisório. Somente em tal atmosfera de compreensão e de cooperação é que o progresso autêntico e duradouro poderá realizar-se e sustentar-se. Neste contexto, formulo votos a fim de que as pessoas responsáveis façam tudo o que estiver ao seu alcance para assegurar que a Igreja permaneça um interlocutor importante neste intercâmbio de ideias, atribuindo-lhe as garantias jurídicas que possam reconhecer a sua liberdade no cumprimento da missão que lhe foi confiada. Ela deseja promover a esperança e a coragem através da proclamação da Boa Nova a todos os povos (cf. Ecclesia in Africa ).

Gostaria de lhe confirmar que a Igreja católica se encontra sinceramente comprometida na promoção de todos os esforços envidados em vista da paz. Como já o Concílio Vaticano II nos recordava, a Igreja tem o dever de fomentar e exaltar tudo o que é verdadeiro, tudo o que é bom e tudo o que é belo na comunidade humana, consolidando assim a paz entre os homens, para glória de Deus (cf. Gaudium et spes
GS 76). A este propósito, a Santa Sé faz votos a fim de que o II Encontro da Conferência da Região dos Grandes Lagos, que tem início no dia de hoje, suscite a esperança num futuro de segurança fundamentado no diálogo e na cooperação.

Nos vários conflitos alcançaram-se determinados acordos e muitas pessoas armadas, aproveitando o novo clima de reconciliação instaurado, puderam voltar para casa. Estou convicto de que este impulso regional será sustentado e que os responsáveis farão tudo o que estiver ao seu alcance, a fim de que as expectativas que nasceram nos corações de tantas pessoas enfim possam ser realizadas. Rezo a Deus Todo-Poderoso para que conceda sabedoria e coragem renovadas às pessoas que ocupam lugares de responsabilidade, a fim de que todas as partes interessadas voltem à mesa do diálogo e promovam a busca de soluções pacíficas e duradouras.

É encorajador tomar conhecimento do progresso que o seu país está a alcançar na promoção do desenvolvimento a longo prazo, através da redução da pobreza e da extensão das oportunidades no sector da educação. A elevada proporção de jovens na população do seu país incute vitalidade e renovada esperança à nação. A colaboração entre a Igreja e a sociedade civil tem suscitado muitas Bênçãos em Uganda, sobretudo nos campos da educação, da assistência à saúde e na luta contra o Hiv/Sida, onde as estatísticas confirmam o valor prático de uma política de prevenção assente na continência e na promoção da fidelidade no matrimónio. A minha esperança sincera é de que a população de Uganda continue a haurir cada vez maiores benefícios de todo este empreendimento.

Excelência, asseguro-lhe as minhas preces pelo bom êxito da sua missão como representante do seu país junto da Santa Sé. A Senhora Embaixadora pode ter a certeza de que os vários departamentos da Cúria Romana estarão prontos para a assistir. Invoco, pois, as abundantes Bênçãos de Deus Omnipotente sobre a sua pessoa e o querido povo de Uganda.




À SUA EXCELÊNCIA O SENHOR MAKRAM OBEID NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA ÁRABE DA SÍRIA JUNTO DA SANTA SÉ

14176
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS


Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2006



Senhor Embaixador

Tenho o prazer de lhe dar as boas-vindas ao Vaticano e de aceitar as Cartas que o credenciam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Árabe da Síria junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as palavras que proferiu e as saudações que me comunicou da parte do seu Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Bachar Al Assad. Peço-lhe a amabilidade de lhe assegurar os meus sinceros bons votos e as minhas preces contínuas pelo bem-estar e a prosperidade da sua nação.

Como o Senhor Embaixador indicou, desde os tempos mais antigos, a Síria tem dado testemunho de um grande florescimento de civilizações e religiões. A capital do seu país, Damasco, é estimada pelos cristãos como o lugar do baptismo de São Paulo, a seguir à sua dramática experiência de conversão durante a sua viagem ali. E numerosos grandes Santos viveram uma santidade exemplar no solo sírio. Durante séculos houve relações harmoniosas entre as comunidades cristãs e muçulmanas no seu país. Assim, a Síria é particularmente capaz de oferecer ao mundo um exemplo de coexistência pacífica e de tolerância entre os seguidores de diferentes religiões. A este propósito, posso assegurar-lhe a assistência da Santa Sé nos esforços envidados por parte do seu governo, tanto no próprio país como no estrangeiro, visando a promoção do diálogo entre as religiões e as culturas. Como recentemente tive a oportunidade de confirmar, "todos os povos estão vinculados mediante uma profunda solidariedade reíproca, e devem ser encorajados a reiterar as suas próprias diferenças históricas e culturais, não em vista de uma confrontação, mas para promover o respeito mútuo" (Discurso ao Corpo Diplomático, Ancara, 28 de Novembro de 2006).

O Senhor Embaixador falou sobre a preocupação do seu governo pela anexação das Alturas de Golan por parte de Israel, em 1967. Com o coração magoado, observo que nos últimos tempos uma vasta gama de contendas territoriais e de outros tipos terminaram em conflitos armados, o que representa uma ameaça para a paz e a estabilidade de todo o Médio Oriente. Reiteradamente, supliquei a cessação da violência no Líbano, na Terra Santa e no Iraque. O mundo observa com profunda tristeza o ciclo de morte e de destruição, enquanto pessoas inocentes continuam a sofrer e os indivíduos são vítimas de raptos ou de assassínios. Como muitos observadores imparciais, a Santa Sé acredita que é possível encontrar soluções no contexto da lei internacional através da implementação das importantes resoluções da Organização das Nações Unidas. A este propósito, exortei frequentemente a fim de que as várias nações do Médio Oriente recebam assistência nas suas aspirações em vista de poderem viver em paz, dentro de fronteiras seguras, reconhecidas no plano internacional.

Como o Senhor Embaixador sabe, a Igreja rejeita enfaticamente a guerra como um instrumento de resolução das contendas internacionais, enquanto salienta o facto de que ela só leva a conflitos novos e cada vez mais complicados. Infelizmente, a actual situação no Médio Oriente frisa com grande evidência que é mesmo assim. De modo particular, o flagelo do terrorismo faz aumentar o medo e a insegurança, experimentados por um número de pessoas tão elevado nessa região nos dias de hoje (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2006, n. 9) e, a este respeito, é-me grato realçar as suas palavras acerca do compromisso assumido pelo governo sírio, em vista de se opor a esta crescente ameaça à paz e à estabilidade. O mundo olha de maneira especial para os países significativamente influentes no Médio Oriente, com a expectativa esperançosa de sinais de progresso rumo à resolução destes antigos conflitos.

Como é do conhecimento do Senhor Embaixador, a comunidade católica na Síria deseja ardentemente desempenhar o papel que lhe cabe na vida nacional, em cooperação com os seus irmãos cristãos das várias Igrejas Orientais ali representadas. O seu país é certamente um solo fértil para o progresso nos relacionamentos ecuménicos entre os seguidores de Cristo, e gostaria de garantir o apoio permanente da Igreja católica nesta obra tão importante.

Com efeito, recentemente tive a oportunidade de o fazer de maneira pública, quando me foi concedida a alegria de visitar o Patriarca Ecuménico no Fanar; nessa ocasião pudemos assinar uma Declaração Conjunta, manifestando o compromisso das Igrejas católica e ortodoxa, em trabalhar de todas as formas para alcançar a finalidade da comunhão plena e visível. Aprecio de modo particular a recente legislação decidida pelo governo da Síria, em que se reconhece a situação das Igrejas católicas presentes no país, em conformidade com as normas contidas no Direito Canónico. Esta iniciativa é uma boa promessa para a crescente compreensão recíproca entre os membros das diferentes Igrejas e as diversas religiões presentes na Síria.

Além disso, ela prepara o terreno para uma maior cooperação entre a Igreja e o Governo, que deveria facilitar a descoberta de uma solução para as divergências, como a questão das propriedades da Igreja tomadas pelo Estado. Trata-se de um sinal de maturidade concreta nos relacionamentos, em que problemáticas como esta podem ser debatidas com abertura, honestidade e respeito mútuo.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a nobre tarefa que asssume hoje há-de consolidar estas boas relações entre a República Árabe da Síria e a Santa Sé. Enquanto lhe formulo os meus melhores votos pelo bom êxito da sua missão, gostaria de assegurar-lhe que os vários departamentos da Cúria Romana terão sempre a alegria de oferecer a própria ajuda e assistência para o cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o povo da Síria, invoco do íntimo do coração as copiosas Bênçãos de Deus.




Discursos Bento XVI 348