Discursos Bento XVI 372

A UMA DELEGAÇÃO ECUMÉNICA VINDA DA FINLÂNDIA POR OCASIÃO DA FESTA DE SANTO HENRIQUE Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2007


Queridos Bispos Peura e Wróbel
Ilustres amigos

É com alegria que vos dou as boas-vindas, membros da delegação ecuménica da Finlândia, que visitais Roma por ocasião da festa de Santo Henrique, Padroeiro da vossa nação.

A vossa presença aqui coincide com a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos do corrente ano. O tema desta semana "Ele faz ouvir os surdos e falar os mudos" (Mc 7,37) explica como Jesus liberta todos nós da surdez espiritual, tornando-nos capazes de ouvir a sua palavra salvífica e de proclamá-la aos outros. Esta responsabilidade do testemunho conjunto com palavras e gestos alimenta o nosso caminho ecuménico. Aproximando-nos ulteriormente de Cristo e convertendo-nos para a sua verdade e o seu amor, ela aproxima-nos também uns dos outros.

373 Nos anos mais recentes, as relações entre os cristãos na Finlândia desenvolveu-se de modo a oferecer muita esperança para o futuro do ecumenismo. Eles rezam e trabalham de bom grado em conjunto, dando um testemunho público comum da palavra de Deus. É precisamente este testemunho persuasivo das verdades orientadoras e salvíficas do Evangelho que todos os homens e mulheres buscam ou têm necessidade de ouvir. Ele exige coragem da parte dos cristãos. Com efeito, como sugeri nas Vésperas ecuménicas durante a minha visita à Baviera, por detrás "deste debilitamento do tema da justificação e do perdão dos pecados encontra-se, na realidade, um enfraquecimento do nosso relacionamento com Deus. Por isso, a nossa tarefa primordial talvez consista em redescobrir de outra forma o Deus vivo na nossa vida, no nosso tempo e na nossa sociedade" (Homilia, 12 de Setembro de 2006).

Na Declaração Conjunta sobre a Justificação, luteranos e católicos percorreram um considerável caminho teológico. Ainda há muito a fazer e, por isso, é animador o facto de que o diálogo nórdico luterano-católico na Finlândia e na Suécia está a examinar o tema: "A Justificação na vida da Igreja". Espero e rezo a fim de que estes diálogos contribuam de maneira concreta para a busca da unidade plena e visível da Igreja e, ao mesmo tempo, ofereçam uma resposta mais clara às questões fundamentais que estão a atingir a vida e a sociedade.

Confiantes na convicção de que o Espírito Santo é o autêntico protagonista do esforço ecuménico (cf. Unitatis redintegratio
UR 1 UR 4), continuemos a rezar e a trabalhar pelo estabelecimento de laços de amor e de cooperação mais estreitos entre os luteranos e os católicos na Finlândia. Sobre cada um de vós e todo o querido povo da Finlândia, invoco as abundantes Bênçãos divinas da paz e da alegria.




À COMUNIDADE DO ALMO COLÉGIO CAPRÂNICA DE ROMA Sexta-feira, 19 de Janeiro de 2007


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
Monsenhor Reitor
Queridos alunos
do Colégio Caprânica!

Estou feliz por vos receber na iminência da festa da vossa Padroeira, Santa Inês. Saúdo-vos com afecto, iniciando pelo Cardeal Vigário Camillo Ruini e pelo Arcebispo Pio Vigo, que formam a Comissão Episcopal designada para o Colégio. Saúdo o Reitor, Mons. Ermenegildo Manicardi. Dou especiais boas-vindas a vós, queridos Alunos, que fazeis parte da comunidade do mais antigo colégio eclesiástico romano.

Com efeito, passaram 550 anos desde quando, a 5 de Janeiro de 1457, o Cardeal Domenico Caprânica, proveniente de Fermo, fundou o Colégio ao qual deu o nome, destinando-lhe todos os seus bens e um prédio junto de Santa Maria in Aquiro, onde pudessem ser acolhidos os jovens estudantes chamados ao sacerdócio. A recém-criada instituição era a primeira no seu género em Roma; inicialmente reservada aos jovens provenientes de Roma e de Fermo, alargou em seguida a hospitalidade a alunos de outras regiões italianas e de diversas nacionalidades. O Cardeal Caprânica faleceu cerca de dois anos depois, mas a sua fundação já tinha iniciado o seu caminho, que continua até hoje, tendo sido fechado apenas um decénio, de 1798 a 1807, durante o período da chamada República Romana. Dois Papas foram alunos do Caprânica: Bento XV, por quase quatro anos, que justamente vós considerais "Parens alter" pelo afecto especial que sempre nutriu pela vossa casa, e depois, por um período mais breve, o Servo de Deus Pio XII. Os meus Predecessores, alguns dos quais foram visitar-vos em circunstâncias especiais, sempre demonstraram benevolência ao vosso Colégio.

374 Também o nosso hodierno encontro se realiza, além de ser em memória de Santa Inês, no contexto de um significativo aniversário da vossa instituição. Nesta perspectiva histórica e espiritual é útil questionar-nos sobre as motivações que impeliram o Cardeal Caprânica a fundar esta próvida obra, e acerca do valor que elas conservam para vós, actualmente. Antes de tudo, é preciso lembrar que o fundador teve experiência directa dos colégios das Universidades de Pádua e de Bolonha, onde foi estudante, e também em Sena, Florença e Perugia. Tratava-se de instituições nascidas para hospedar jovens versados nos estudos e não pertencentes a famílias facultosas. Ao tomar alguns elementos desses modelos, idealizou um que fosse exclusivamente destinado à formação dos futuros sacerdotes, com atenção preferencial pelos candidatos menos abastados.

Dessa maneira precedeu de mais de um século a instituição dos "seminários", actuada pelo Concílio de Trento. Contudo, não focalizamos ainda a motivação de fundo da prudente iniciativa: ela consiste na convicção de que a qualidade do clero depende da seriedade da sua formação. Mas nos tempos do Cardeal Caprânica, faltava uma cuidadosa selecção dos aspirantes às sagradas Ordens: às vezes eles eram examinados sobre literatura e canto, mas não sobre teologia, moral e direito canónico, com imagináveis repercussões negativas sobre a Comunidade eclesial. Eis porque, nas Constituições do seu Colégio, o Cardeal impôs aos estudantes de teologia a aproximação aos melhores autores, especialmente Tomás de Aquino; aos de direito, a doutrina do Papa Inocêncio III, e para todos a ética aristotélica. Depois, não se contentando com as lições do Studium Urbis, ele garantiu repetições suplementares realizadas por especialistas directamente no Colégio. Esta organização dos estudos estava inserida num quadro de formação integral, centrada sobre a dimensão espiritual, que tinha como pilares os Sacramentos da Eucaristia quotidiana e da Penitência pelo menos mensal e era apoiada pelas práticas de piedade prescritas ou sugeridas pela Igreja.

Também a educação caritativa tinha uma grande importância, quer na vida fraterna comum quer na assistência aos doentes; como também a que hoje chamamos "experiência pastoral". De facto, era previsto que nos dias festivos os alunos prestassem serviço na Catedral ou nas demais igrejas do lugar. O próprio estilo comunitário, por fim, dava uma válida contribuição formativa, caracterizado por uma forte co-participação nas decisões relativas à vida do Colégio.

Encontramos aqui a mesma escolha de fundo que em seguida farão os Seminários diocesanos, naturalmente com um sentido mais completo de pertença à Igreja particular, ou seja, a escolha de uma séria formação humana, cultural e espiritual, aberta às exigências próprias dos tempos e dos lugares. Queridos amigos, peçamos ao Senhor, por intercessão de Maria Santíssima e de Santa Inês, para que o Almo Colégio Caprânica prossiga este seu caminho, fiel à sua longa tradição e aos ensinamentos do Concílio Vaticano II. A vós, queridos Alunos, faço votos para que renoveis todos os dias, do fundo do coração, a vossa oferta a Deus e à Santa Igreja, conformando-vos cada vez mais a Cristo Bom Pastor, que vos chamou a segui-Lo e a trabalhar na sua vinha. Agradeço-vos esta agradável visita e, enquanto vos garanto a minha oração, concedo com afecto a todos vós e às pessoas a vós queridas, uma especial Bênção Apostólica.




AO SENHOR MARIUS GABRIEL LAZURCA NOVO EMBAIXADOR DA ROMÉNIA JUNTO DA SANTA SÉ Sábado, 20 de Janeiro de 2007

Senhor Embaixador

Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência no Vaticano para a apresentação solene das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da Roménia junto da Santa Sé. Tenha a amabilidade de expressar a Sua Ex.cia o Senhor Traian Basescu, Presidente da Roménia, os meus votos cordiais pela sua pessoa assim como pelo bem-estar e a prosperidade do povo romeno. Peço a Deus que acompanhe os esforços da cada um na obra de edificação de uma nação cada vez mais fraterna e solidária.

Senhor Embaixador, no início deste ano o seu País alegrou-se legitimamente por ser admitido oficialmente, depois de longos anos de esforços, na União Europeia. A Santa Sé, que mantém desde há anos relações estreitas e frutuosas com a Roménia, como Vossa Excelência acabou de ressaltar, acolheu esta nova situação com satisfação, pois ela consagra cada vez mais a unidade reencontrada do continente europeu, depois do longo e triste período da separação e da guerra fria. O seu País tem uma longa tradição cristã, viva e fecunda na sua cultura assim como no dinamismo das diferentes Igrejas e comunidades eclesiais, e na sua participação activa na vida social. Por conseguinte, "alegro-me por que a Roménia, rica deste inegável património cristão, e que contribuiu em grande medida para modelar a Europa das Nações e a Europa dos povos" (cf. Discurso ao Corpo Diplomático, 8 de Janeiro de 2007), possa dar a sua contribuição original para a casa europeia, a fim de permitir que ela não seja apenas uma força económica e um grande mercado de bens de consumo, mas que possa encontrar um novo impulso político, cultural e espiritual, capaz de construir um futuro prometedor para as novas gerações. Como recordei recentemente ao Corpo Diplomático, "respeitando a pessoa humana é possível promover a paz e é construindo a paz que são lançadas as bases de um humanismo integral autêntico. Nisto encontra uma resposta a preocupação de tantos dos nossos contemporâneos em relação ao futuro" (ibidem).

Depois de muitos anos, o seu País comprometeu-se num profundo trabalho de renovação da sociedade, com a preocupação de curar as feridas do passado e de permitir que todos gozem das liberdades fundamentais e beneficiem do progresso económico e social. Alegro-me por isto e encorajo os responsáveis políticos a prestar atenção às exigências de uma solidariedade activa entre todas as camadas da população, para evitar que no momento da globalização não se crie um abismo crescente entre cidadãos que acedem legitimamente aos benefícios do desenvolvimento económico e os que se encontram progressivamente marginalizados, por vezes excluídos deste processo, como se observa, infelizmente, em muitas sociedades modernas. De igual modo é importante garantir a todos o acesso equitativo a uma justiça independente e transparente, capaz de lutar de maneira eficaz contra quantos não respeitam o bem comum e usam as leis para seu benefício. Nesta perspectiva, desejo também que seja dedicada uma atenção renovada às famílias mais pobres, para que possam fazer crescer os seus filhos em dignidade.

Congratulo-me também pelo progresso feito pelo seu governo na gestão delicada da restituição dos bens confiscados às comunidades religiosas. É uma obra de longo alcance, orientada pela justiça e pela equidade, que deve permitir que todos os cultos reconhecidos encontrem o seu lugar legítimo no seio da sociedade. Desejo igualmente que as regras da liberdade religiosa, que é uma liberdade fundamental, sejam plenamente respeitadas, sobretudo no que diz respeito à Igreja Greco-Católica.

Sei que a Igreja Católica, por seu lado, está sempre pronta a estudar com as Autoridades competentes, num espírito de diálogo, os meios de superar as eventuais dificuldades que poderão surgir nas relações recíprocas. Isto contribuirá em grande medida para a paz social. A este respeito, desejo manifestar a minha preocupação em relação ao caso da Catedral Saint-Joseph de Bucareste, em favor do qual o Arcebispo de Bucareste fez numerosas solicitações junto dos órgãos competentes do Estado, a fim de preservar o património histórico que ela constitui e os valores de fé que representa, não só para a comunidade católica mas para toda a população romena.

375 A visita do Papa João Paulo II, em 1999, marcou, como Vossa Excelência observou, "o coração e o espírito dos Romenos". Ela permitiu sobretudo um renovado estímulo nas relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Romena. Ao saudar cordialmente, por seu intermédio, Sua Beatitude Teoctist, Patriarca ortodoxo da Roménia, que por sua vez veio visitar a Igreja de Roma em 2002, formulo votos por que os fiéis católicos e ortodoxos continuem a enlaçar relações cada vez mais fraternas na vida quotidiana e por que sejam igualmente incrementadas a todos os níveis as ocasiões de diálogo. Desejo sobretudo que o encontro ecuménico europeu, que terá lugar em Sibiu em Setembro próximo, possa constituir uma etapa importante no caminho empreendido juntos rumo à unidade.

Permita-me que eu saúde também a comunidade católica da Roménia, unida à volta dos seus Pastores. Ela teve, como recordou o meu predecessor, "a oportunidade providencial de ver prosperar lado a lado, depois de séculos, as duas tradições, latina e bizantina, que embelezam juntas o rosto da única Igreja" (João Paulo II, Discurso aos Bispos da Roménia em visita ad limina, 1 de Março de 2003), o que lhe impõe que testemunhe particularmente a unidade católica e a qualifica de modo especial para trabalhar em favor do ecumenismo. Sei que os fiéis católicos participam activamente na vida católica do país, sobretudo a nível espiritual e social, e encorajo-os vivamente a testemunhar com coragem o lugar insubstituível da família no seio da sociedade.

No momento em que Vossa Excelência inicia oficialmente as suas funções junto da Santa Sé, formulo os meus melhores votos pelo feliz cumprimento da sua missão. Tenha a certeza, Senhor Embaixador de que encontrará sempre atenção e compreensão cordiais.
Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, os seus colaboradores da Embaixada e sobre todo o povo romeno, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.






AOS PARTICIPANTES NA REUNIÃO PLENÁRIA DA PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA A AMÉRICA LATINA Sábado, 20 de Janeiro de 2007


Senhores Cardeais
Queridos irmãos no Episcopado!

É motivo de grande alegria receber e saudar com afecto os Conselheiros e Membros da Pontifícia Comissão para a América Latina por ocasião da sua Reunião Plenária. Agradeço ao seu Presidente, o Cardeal Giovanni Battista Re, as suas amáveis palavras que expressam os sentimentos de todos vós e o desejo profundo de renovar o vosso compromisso de servir cum Petro et sub Petro, a Igreja que peregrina na América Latina, continuando o exemplo de Cristo, o Bom Pastor, que ama e se entrega pelas suas ovelhas.

Pensando nos desafios que no início deste terceiro milénio se apresentam à Evangelização, foi escolhido como tema de reflexão deste encontro "A família e a educação cristã na América Latina", em perfeita sintonia com o inesquecível Encontro Mundial das Famílias no verão passado em Valência, na Espanha. Foi um agradável acontecimento que pude partilhar com famílias católicas de todo o mundo, muitas delas latino-americanas.

A vossa presença faz-me pensar na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que convoquei em Aparecida, Brasil, e que terei o prazer de inaugurar. Peço ao Espírito Santo, que assiste sempre a sua Igreja, que a glória de Deus Pai misericordioso e a presença pascal do seu Filho iluminem e guiem os trabalhos deste importante acontecimento eclesial a fim de que seja sinal, testemunho e força de comunhão para toda a Igreja na América Latina.

Esta Conferência, em continuidade com as quatro anteriores, está chamada a dar um impulso renovado à Evangelização nesta vasta região do mundo eminentemente católica, na qual vive grande parte da comunidade dos crentes. É preciso proclamar integralmente a Mensagem da Salvação, para que impregne as raízes da cultura e se encarne no momento histórico latino-americano actual, para responder melhor às suas necessidades e aspirações legítimas.

376 Ao mesmo tempo, deve ser reconhecida e defendida sempre a dignidade de cada ser humano como critério fundamental dos projectos sociais, culturais e económicos, que ajudem a construir a história segundo o desígnio de Deus. De facto, a história latino-americana oferece numerosos testemunhos de homens e mulheres que seguiram fielmente Cristo de modo tão radical que, cheios desse fervor divino que a todos consome, forjaram a identidade cristã dos seus povos. A sua vida é um exemplo e uma invocação a seguir os seus passos.

A Igreja na América Latina enfrenta enormes desafios: a mudança cultural originada por uma comunicação social que incide sobre os modos de pensar e sobre os costumes de milhões de pessoas; os fluxos migratórios, com tantas repercussões na vida familiar e na prática religiosa nos novos ambientes; o surgimento de novos questionamentos sobre como os povos devem assumir a sua memória histórica e o seu futuro democrático; a globalização, o secularismo, a pobreza crescente e a deterioração ecológica, sobretudo nas grandes cidades, assim como a violência e o narcotráfico.

Antes de tudo isto, vê-se a urgente necessidade de uma nova Evangelização, que nos estimule a aprofundar os valores da nossa fé, para que sejam linfa e configurem a identidade desses amados povos que um dia receberam a luz do Evangelho. Por isso, o tema escolhido como guia para as reflexões da mencionada Conferência é oportuno: Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que os nossos povos n'Ele tenham a vida. Com efeito, a V Conferência deve fomentar que todos os cristãos se convertam em verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, por Ele enviados como apóstolos, e como dizia o Papa João Paulo II, "não de reevangelização mas de uma nova evangelização. Nova no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão", a fim de que a Boa Nova se enraíze na vida e na consciência de todos os homens e mulheres da América Latina (Discurso na abertura da XIX Assembleia do Conselho do Episcopado Latino-Americano, Port-au-Prince, Haiti, 9 de Março de 1983).

Queridos Irmãos, os homens e mulheres da América têm grande sede de Deus. Quando na vida das comunidades se produz um sentimento de orfandade em relação a Deus Pai, é vital o trabalho dos Bispos, dos sacerdotes e dos demais agentes de pastoral, que dêem testemunho, como Cristo, de que o Pai é sempre Amor providente que se revelou em seu Filho. Quando a fé não se alimenta da oração e da meditação da Palavra divina, quando a vida sacramental se debilita, prosperam as seitas e os novos grupos pseudo-religiosos, provocando o afastamento da Igreja de muitos católicos. Não recebendo estas respostas às suas aspirações mais profundas, que poderiam encontrar-se na vida de fé partilhada, produzem-se também situações de vazio espiritual. Na tarefa evangelizadora é fundamental recordar sempre que o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo no Pentecostes, e que esse mesmo Espírito continua a estimular a vida da Igreja. Por isso é importante o sentido de pertença eclesial, no qual o cristão cresce e amadurece na comunhão com os seus irmãos, filhos de um mesmo Deus e Pai.

"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim" (
Jn 14,6). Como ressaltou o meu venerado predecessor João Paulo II na sua Exortação Apostólica Ecclesia in America, "Jesus Cristo é, portanto, a resposta definitiva à pergunta acerca do sentido da vida, às questões fundamentais que inquietam hoje tantos homens e mulheres do Continente americano" (n. 10). Só vivendo intensamente o seu amor a Jesus Cristo e entregando-se de maneira generosa ao serviço da caridade, os seus discípulos serão testemunhas eloquentes e credíveis do amor imenso de Deus por todos os seres humanos. Desta forma, amando com o mesmo amor de Deus, chegarão a ser agentes de transformação do mundo, instaurando nele uma nova civilização, que o amado Papa Paulo VI chamava justamente "a civilização do amor" (cf. Discurso no encerramento do Ano Santo, 25 de Dezembro de 1975).

Para o futuro da Igreja na América Latina e no Caribe é importante que os cristãos aprofundem e assumam o estilo de vida próprio dos discípulos de Jesus: simples e alegre, com uma fé sólida arraigada no mais íntimo do seu coração e alimentada pela oração e pelos sacramentos. De facto, a fé cristã alimenta-se sobretudo da celebração dominical da Eucaristia, na qual se realiza um encontro comunitário, único e especial com Cristo, com a sua vida e a sua palavra.

O verdadeiro discípulo cresce e amadurece na família, na comunidade paroquial e diocesana; converte-se em missionário quando anuncia a pessoa de Cristo e o seu Evangelho a todos os ambientes; a escola, a economia, a cultura, a política e os meios de comunicação social. De modo especial, os frequentes fenómenos de exploração e injustiça, de corrupção e violência, são uma chamada urgente a que os cristãos vivam a sua fé com coerência e se esforcem por receber uma sólida formação doutrinal e espiritual, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa, mais humana e cristã.

É um dever fundamental estimular os cristãos que, animados pelo seu espírito de fé e caridade, trabalham incansavelmente para oferecer novas oportunidades a quantos se encontram na pobreza ou nas zonas periféricas mais abandonadas, para que possam ser protagonistas activos do seu próprio desenvolvimento, levando-lhes uma mensagem de fé, de esperança e de solidariedade.

Para terminar, volto ao tema do vosso encontro destes dias sobre a família cristã, lugar privilegiado para viver e transmitir a fé e as virtudes. No lar é guardado o património da fé; nele os filhos recebem o dom da vida, sentem-se amados por aquilo que são e aprendem os valores que os ajudarão a viver como filhos de Deus. Desta forma, a família, acolhendo o dom da vida, converte-se no ambiente propício para responder ao dom da vocação (cf. Alocução do Angelus, Valência, 8 de Julho de 2006), especialmente neste momento no qual se sente tanto a necessidade de que o Senhor envie trabalhadores para a sua messe.

Peçamos a Maria, modelo de mãe na Sagrada Família e Mãe da Igreja, Estrela da Evangelização, que guie com a sua materna intercessão as comunidades eclesiais da América Latina e do Caribe, e assista os participantes na V Conferência para que encontre os caminhos mais apropriados a fim de que aqueles povos tenham a vida em Cristo e construam, no chamado "Continente da esperança", um futuro digno para todos os homens e mulheres. Estimulo-vos a todos nos vossos trabalhos e concedo-vos de coração a minha Bênção Apostólica.






AO SENHOR ANTUN SBUTEGA PRIMEIRO EMBAIXADOR DE MONTENEGRO JUNTO DA SANTA SÉ Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2007

377

Senhor Embaixador

É para mim motivo de particular alegria receber as Cartas com que Sua Ex.cia o Sr. Filip Vujanovic, Presidente da República de Montenegro, o acredita como primeiro Embaixador junto da Sé Apostólica. Seja bem-vindo! Os sentimentos do Sucessor de Pedro, hoje, tem origens antigas e alimenta-se de uma memória que restabelece um diálogo jamais interrompido ao longo dos séculos entre as estirpes de Montenegro e o Bispo de Roma. Por seu intermédio, Senhor Embaixador, desejo expressar o meu júbilo, em primeiro lugar, ao Senhor Presidente da República, que tive a alegria de encontrar recentemente, e depois também às outras Autoridades do Estado e a toda a sociedade civil montenegrina que, no seu pluralismo étnico, quis instaurar um diálogo directo e cordial com a Santa Sé.

Como é do seu conhecimento, desde os tempos apostólicos a Boa Nova alcançou as terras que hoje formam a República à qual Vossa Excelência pertence. Tais vínculos espirituais fortaleceram-se por obra do apóstolo dos monges beneditinos, a ponto de chegar, durante o pontificado do grande Papa Gregório VII, ao público reconhecimento da independência do Reino de Coclea, quando chegaram ao Príncipe Mihail as insígnias da realeza da Sé de Pedro. Durante as alternadas vicissitudes dos séculos, os povos activos na actual Crna Gora conservaram sempre uma relação dinâmica e cordial com os outros povos vizinhos, a ponto de oferecer interessantes contribuições para a vida das Nações europeias, também à Itália, a qual, no século passado, deram inclusivamente uma Rainha.

Os antigos documentos falam de um diálogo proveitoso entre a Sé Apostólica e o Príncipe Nicola de Montenegro, que levou em 1886 à estipulação de uma convenção com a qual se providenciava às necessidades espirituais dos cidadãos católicos, dependentes da então capital Cetinje. A clarividência das resoluções adoptadas por aquele Chefe de Estado em relação ao reconhecimento dos direitos de uma parte dos seus concidadãos impõe-se ainda hoje à nossa admiração, ressaltando a necessidade de uma justa consideração das exigências objectivas da prática religiosa de cada um. Cada católico está bem consciente das prerrogativas do Estado, mas ao mesmo tempo, está de igual modo consciente dos seus deveres em relação aos imperativos evangélicos. Portanto, reflectindo sobre os séculos transcorridos, quando a mensagem evangélica da salvação alcançou as terras de Montenegro, abraçando a tradição oriental e ao mesmo tempo a ocidental, a sua Pátria, Senhor Embaixador, caracterizou-se sempre como lugar privilegiado daquele encontro ecuménico que todos desejam. Também o encontro entre cristãos e muçulmanos encontrou em Montenegro realizações convincentes.

É necessário prosseguir este caminho, sobre o qual a Igreja deseja que todos convirjam no compromisso de unir os esforços ao serviço da originária nobreza do ser humano. De facto, a Igreja vê nisto uma parte significativa da sua missão ao serviço do homem na sua inteireza de pensamento, de acção, de projectação, no respeito das tradições que identificam uma terra como tal. Estou certo de que, no âmbito europeu, Montenegro não deixará de dar a própria contribuição quer no campo civil, quer no político, social, cultural e religioso.

Uma das prioridades sobre as quais certamente está a reflectir a nova República independente, que Vossa Excelência representa, é o fortalecimento do estado de direito nos vários âmbitos da vida pública, mediante a adopção de providencias que garantam a efectiva consecução de todos aqueles direitos que são previstos pelas leis fundamentais do Estado. Isto há-de promover o crescimento nos cidadãos da confiança social, permitindo-lhes sentir-se livres de perseguir os seus legítimos objectivos quer como indivíduos quer como comunidades no interior das quais escolheram reunir-se, e isto traduzir-se-á numa maturação geral na cultura da legalidade.

Montenegro pertence r família das Nações europeias, às quais mesmo na pequena dimensão, deu e deseja continuar a dar o seu generoso contributo. O pleno reconhecimento da vida e das finalidades da comunidade católica no contexto da sociedade montenegrina, realizado há mais de um século, resultou ser útil para a soberania do Estado e agradável para a missão específica da Igreja. Naquela específica circunstância histórica, como não observar a atitude respeitadora da Igreja Ortodoxa da época, que não se opôs a um entendimento com a Sé Apostólica? Aliás, ela viu neste passo um instrumento útil para satisfazer melhor as necessidades espirituais da população. É desejável que esta disposição cristã possa desenvolver-se ulteriormente.

Como no passado, a Sé Apostólica deseja reafirmar também hoje a sua estima, afecto e consideração pelas nobres estirpes que habitam em Montenegro, dando também continuidade a um diálogo fraterno com a Ortodoxia, tão presente e viva no País. São testemunhas desta atitude as relações milenares de consideração recíproca. Também hoje é preciso aprofundar esta atitude construtiva, para servir melhor o povo por Vossa Excelência hoje aqui dignamente representando. Ele, com grande abertura de ânimo, olha contemporaneamente quer para Oriente quer para Ocidente, pondo-se como ponte entre as duas realidades. Em plena cordialidade, como nos séculos transcorridos, é possível estabelecer aqueles entendimentos que vão em benefício do País e da comunidade católica, sem lesar minimamente os direitos legítimos de outras comunidades religiosas. É este o caminho escolhido pela Europa de hoje e que o seu País pretende percorrer com tanta esperança.

Senhor Embaixador, as credenciais que Vossa Excelência hoje me apresenta são o sinal de uma vontade positiva de contribuir para a vida internacional com a própria identidade específica. Neste sentido, Vossa Excelência encontrará na Sé Apostólica um interlocutor que conhece bem a história, o presente e os desejos do seu povo. Em mim e nos meus válidos colaboradores, Vossa Excelência encontrará atenção e consideração, baseada sobre as milenárias relações recíprocas. Ao pedir-lhe que se faça intérprete junto das Autoridades que o acreditam da minha estima e da minha gratidão, peço-lhe que transmita a expressão dos meus sentidos votos de prosperidade, de paz e de progresso para todos os habitantes de Montenegro, sobre os quais invoco as abundantes bênçãos do Altíssimo.




AO CONSELHO ORDINÁRIO DA SECRETARIA GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2007

Prezados e venerados Irmãos

378 Obrigado pela vossa visita. Saúdo todos vós com carinho, a começar pelo Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos vós. Sob a sua orientação, reunistes-vos pela quinta vez com a finalidade de cumprir os deveres previstos a seguir à XI Assembleia Geral Ordinária e dar início à preparação para a próxima Assembleia. Recebo-vos com a saudação do Apóstolo das Nações, cuja extraordinária conversão comemoramos precisamente hoje: "Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (1Co 1,3). Jesus é o supremo Pastor da Igreja, e é no seu nome e sob a sua ordem que nós temos o cuidado de velar sobre a grei com plena disponibilidade, até ao dom total das nossas existências.

A futura XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos terá como tema: "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja". A ninguém passa despercebida a importância deste tema que, de resto, é o resultado mais exigido por parte dos Pastores das Igrejas particulares. Trata-se de um tema desejado há muito tempo. E isto compreende-se facilmente porque a acção espiritual, que exprime e alimenta a vida e a missão da Igreja, se fundamenta necessariamente na Palavra de Deus. Além disso ela, destinada a todos os discípulos do Senhor como nos recordou a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos exige especiais veneração e obediência, a fim de que seja acolhida também como urgente exortação à plena comunhão entre os crentes em Cristo.

A propósito do tema supramencionado, trabalhastes com empenhamento e já chegastes à fase final da redacção dos Lineamenta, um documento que deseja corresponder à exigência, tão sentida pelos Pastores, de favorecer cada vez mais o contacto com a Palavra de Deus na meditação e na oração. Estou-vos grato pelo apreciado trabalho que, juntamente com a Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos e com um válido grupo de peritos, estais a levar a cabo. E considerei muito interessante a breve exposição que Vossa Excelência me apresentou, da qual pude compreender quanto realizastes. Estou persuadido de que, quando forem publicados, os Lineamenta servirão como instrumento precioso para que toda a Igreja possa aprofundar a temática da próxima Assembleia sinodal. Formulo cordiais bons votos a fim de que isto contribua para a redescoberta da importância da Palavra de Deus na vida de todos os cristãos, de cada comunidade eclesial e também civil a redescobrir inclusive o dinamismo missionário, ínsito na Palavra de Deus. Como recorda a Carta aos Hebreus, a Palavra de Deus é viva e eficaz (cf. 4, 12), porque ilumina o nosso caminho na peregrinação terrena rumo ao pleno cumprimento do Reino de Deus.

Estimados Irmãos, agradeço-vos mais uma vez a vossa visita hodierna. Asseguro uma especial lembrança na oração pelas vossas intenções, enquanto invoco sobre vós a protecção maternal da Bem-Aventurada Virgem Maria, que ofereceu ao mundo Jesus Cristo, Palavra viva que se fez carne. Como sinal de gratidão e de bons votos pela assistência do Espírito Santo na futura consulta da Igreja universal, concedo a Bênção Apostólica a todos vós e, de bom grado, torno-a extensiva a quantos são confiados aos vossos cuidados pastorais.





Discursos Bento XVI 372