Discursos Bento XVI 207

À COMUNIDADE DO COLÉGIO DE SANTA MARIA DA ALMA NO VI CENTENÁRIO DA ERECÇÃO CANÓNICA Sexta-feira, 12 de Maio de 2006


Prezados Irmãos no Sacerdócio
Estimados membros da Colegia da da Alma
Amados Irmãos e Irmãs

A lembrança da erecção canónica do Colégio de Santa Maria da Alma, ocorrida há 600 anos, traz-vos hoje até à casa do Papa. Assim, transmito-vos de todo o coração as minhas boas-vindas aqui ao Vaticano e saúdo de modo particular o Reitor e os responsáveis deste Pontifício Instituto.

Aquilo que teve início em 1406, com a Bula Piae postulatio, do meu predecessor Inocêncio VII, produziu frutos copiosos ao longo dos séculos: o Colégio de Santa Maria da Alma era e continua a ser a morada dos católicos de língua alemã em Roma, daqueles que visitam a Cidade Eterna e sobretudo de um grande e constante número de fiéis cristãos de língua alemã, que vive e trabalha aqui. De igual modo, o nome Alma significa também colégio de sacerdotes, cujos residentes estudam numa das pontifícias escolas superiores da Urbe ou então trabalham na Cúria Romana, ao serviço da Igreja universal. Transmito a todos vós um cordial "olá!", juntamente com o meu agradecimento pela vossa fidelidade ao Sucessor de Pedro, que desejais revigorar com o presente encontro!

208 Desde o início, o Instituto da Alma caracterizou-se por dois sinais distintivos: a veneração da Mãe de Deus, Maria, e a particular união com a Santa Sé, à qual está subordinado. O facto de que no vosso Instituto e na vossa comunidade a Santa Virgem é venerada com o raro título de "Santa Maria da Alma", Mãe das almas, põe em evidência dois aspectos: Maria estende a sua preciosa mão sobre as almas dos peregrinos que, em grande número, percorrem o caminho da vida tornando-se, para Roma, uma estação importante e em muitos casos determinante. Ao mesmo tempo, este título de Maria recorda-nos os defuntos, a quem na nossa língua chamamos "pobres almas", e cuja recordação nos torna conscientes da nossa mortalidade e do nosso destino eterno, para uma vida na infinidade da luz e do amor de Deus. Que Maria, nossa Mãe celestial, possa estender a sua mão protectora sobre a vida da comunidade do Instituto da Alma e dos membros de toda a colegiada!

Desde que, em 1859, o meu Predecessor, o Beato Papa Pio IX, confiou à Fundação da Alma a gestão de um colégio sacerdotal, este Instituto desempenha uma singular função de vínculo eclesial.

Os sacerdotes e inclusive os seminaristas que residem no Instituto da Alma podem aprender a grandeza e a beleza da Igreja universal, além da sua catolicidade, e descobrir o gosto pela "romanitas Ecclesiae". Formulo votos a fim de que a direcção desta instituição alemã, e ao mesmo tempo romana, transmita aos seus residentes e aos seus hóspedes um amor especial pelos Sucessores do Apóstolo Pedro e pela Santa Sé.

A comunidade de língua alemã que vive em Roma encontra a sua pátria na igreja de Santa Maria da Alma. Ela oferece aos católicos dos países de expressão alemã a possibilidade de rezar, de cantar e de receber os Sacramentos na sua própria língua. Exorto os presbíteros e todos os responsáveis a conferir sempre à vida sacramental na comunidade do Instituto da Alma a prioridade em relação a todas as outras actividades. Pois lá onde os católicos de expressão alemã em Roma procuram e encontram a sua pátria espiritual, Jesus Cristo, Senhor da Igreja, gostaria de se sentir em casa nos seus corações. Se o Senhor estiver no âmago da vossa vida paroquial, a vossa comunidade será cada vez mais apostólica e missionária, irradiando-se no ambiente que vos circunda e sobretudo entre os numerosos visitantes dessa igreja.

Queridos amigos, as comemorações por ocasião dos 600 anos da erecção canónica do Colégio de Santa Maria da Alma devem constituir para todos vós um fecundo jubileu espiritual. Enquanto vos manifesto o meu agradecimento pelo vosso carinho, concedo a todos vós a minha Bênção Apostólica, por intercessão de Maria, a Santa Virgem e Mãe de Deus.




AO SENHOR VALENTIN VASSILEV BOZHILOV NOVO EMBAIXADOR DA BULGÁRIA JUNTO À SANTA SÉ Sábado, 13 de Maio de 2006

Senhor Embaixador

Sinto-me feliz por receber Vossa Excelência por ocasião da apresentação das cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da Bulgária junto da Santa Sé.
Ao agradecer-lhe os votos calorosos que me dirigiu por ocasião do primeiro aniversário do meu pontificado, assim como as saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Sr. Georgi Parvanov, Presidente da República, agradeço-lhe a amabilidade de lhe retribuir os votos cordiais que formulo pela sua pessoa, assim como pelo conjunto do povo búlgaro. Rezo ao Senhor em particular pelas populações recentemente provadas por enormes inundações, a fim de que encontrem rapidamente as condições de vida normais e que sejam apoiadas por toda a comunidade nacional.

Como Vossa Excelência recordou, o exemplo dos irmãos, os santos Cirilo e Metódio, primeiros evangelizadores do vosso país, ainda hoje constitui um modelo de diálogo entre as culturas. Graças ao seu zelo apostólico, a Boa Nova de Cristo alcançou os habitantes da Europa central e oriental na sua própria língua, e uma cultura nova, alimentada pelo Evangelho e pela tradição cristã, pôde nascer e desenvolver-se sob o seu impulso, através da liturgia, do direito e das instituições, até se tornar o bem comum dos povos eslavos. Estes dois apóstolos, superando as rivalidades e os desentendimentos da época, mostraram-nos o caminho do diálogo e da unidade a ser sempre construída e, por este motivo, tornaram-se eles também, santos padroeiros da Europa. Cada ano, por ocasião da sua festa, uma delegação do vosso país visita o Bispo de Roma para os recordar e para continuar a tecer, a seu exemplo e seguimento, os vínculos de fraternidade e de paz.

O seu País, Senhor Embaixador, prepara-se hoje para aderir à União europeia. Devido à sua história e cultura, o povo búlgaro, que continua a fazer frutificar a sua herança cristã, está convidado a desempenhar um papel importante a fim de contribuir para dar ao nosso continente um impulso espiritual que com frequência lhe falta. Penso sobretudo na situação da juventude dos nossos países, que testemunham de boa vontade as suas nobres aspirações por ocasião de grandes encontros como as Jornadas Mundiais da Juventude, mas que dificilmente encontram o seu lugar nas nossas sociedades tão exclusivamente centradas no consumo de bens materiais e na busca por vezes individualista do bem-estar, mesmo quando os jovens têm necessidade dos valores espirituais e morais, para edificar a sua personalidade e para se prepararem para participar na construção da sociedade. O seu País saberá contribuir com a sua pedra original para a edificação comum, para que não seja unicamente um grande mercado de intercâmbios de bens materiais sempre mais abundantes, mas para que tenha também uma alma, uma verdadeira dimensão espiritual, que reflicta a herança de tantos testemunhos do passado e seja um terreno gerador de vida e de criatividade, para suscitar o homem europeu de amanhã. Também as jovens gerações poderão ter confiança no futuro e comprometer-se sem receio em projectos a longo prazo, dando origem a novas famílias, solidamente edificadas no matrimónio e abertas ao acolhimento dos filhos, aprendendo a pôr-se ao serviço do bem comum da sociedade mediante a actividade política, económica e social, tendo também a preocupação pela solidariedade com os mais desfavorecidos e pelos migrantes que provêm de outros horizontes para procurar um refúgio ou uma nova oportunidade.

209 Num mundo incerto e perturbado como o nosso, a Europa pode tornar-se testemunha e mensageira do diálogo necessário entre as culturas e as religiões. A história do velho continente, profundamente marcada pelas suas divisões e guerras fratricidas mas também pelos seus esforços para as vencer, convida-a de facto a cumprir a sua missão, a fim de responder às expectativas de tantos homens e mulheres que ainda aspiram, em muitos países do mundo, pelo desenvolvimento, pela democracia e pela liberdade religiosa. A Santa Sé, como Vossa Excelência sabe, não cessa de trabalhar para promover, no lugar que lhe compete, um verdadeiro diálogo entre as nações e entre os responsáveis das religiões. Trata-se em primeiro lugar de eliminar a violência, que hoje se desenvolve perigosamente, abatendo sobretudo os muros da ignorância e da desconfiança que a pode fazer desencadear. E, dado que a Europa não se pode fechar em si mesma, convém favorecer uma melhor partilha das riquezas no mundo e suscitar um verdadeiro desenvolvimento da África, que possa corrigir as injustiças do desequilíbrio actual entre o Norte e o Sul, factor de tensões e de ameaças à paz. Não duvido de que o seu governo saberá dedicar-se a ser, ele também, mensageiro de tolerância e de respeito recíproco no concerto das nações, como Vossa Excelência recordou.

Sinto-me feliz, Senhor Embaixador, por poder saudar por seu intermédio, a comunidade católica que vive na Bulgária. Ela preserva a recordação preciosa do Beato Papa João XXIII, que foi Delegado apostólico no seu País, e a memorável visita do meu predecessor, o Papa João Paulo II.

Conheço a parte importante que a Igreja católica desempenha no desenvolvimento do País, sobretudo graças às obras sociais guiadas pela Cáritas, e encorajo cada um a prosseguir a comprometer-se activamente ao serviço do bem comum do País. Convido os fiéis católicos, unidos em redor dos seus pastores, a terem a preocupação de colaborar sempre que for possível com os irmãos da Igreja ortodoxa búlgara, cujos pastores saúdo igualmente, para que resplandeça o Evangelho de Deus. Saibam eles que podem contar com os encorajamentos e com a oração do Sucessor de Pedro, para que encontrem no testemunho que dão de Cristo uma alegria e uma vitalidade sempre renovadas!

Senhor Embaixador, no momento em que inicia oficialmente a sua missão junto da Santa Sé, formulo os meus melhores votos pelo seu feliz cumprimento. Tenha a certeza de que encontrará sempre junto dos meus colaboradores um acolhimento atento e uma compreensão cordial.
Sobre Vossa Excelência, sobre a sua família, seus colaboradores da Embaixada e sobre todo o povo búlgaro, invoco de coração a abundância das Bênçãos divinas.




AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO DA FAMÍLIA Sábado, 13 de Maio de 2006


Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Amados Irmãos e Irmãs

É para mim motivo de alegria encontrar-me convosco no final da Sessão Plenária do Pontifício Conselho para a Família, que nestes dias está a celebrar os seus vinte e cinco anos de vida, tendo sido criado pelo meu venerado Predecessor João Paulo II no dia 9 de Maio de 1981. Dirijo a cada um de vós a minha cordial saudação, com um pensamento particular ao Cardeal Alfonso López Trujillo, a quem agradeço ter-se feito intérprete dos sentimentos corais. Esta vossa reunião ofereceu-vos a ocasião de examinar os desafios e os projectos pastorais relativos à família, justamente considerada como "igreja doméstica" e santuário da vida. Trata-se de um campo apostólico vasto, complexo e delicado, ao quais vós dedicais energia e entusiasmo, com a intenção de promover o "Evangelho da família e da vida". Como deixar de recordar, a este propósito, a visão ampla e clarividente dos meus Predecessores, e de maneira particular do Papa João Paulo II, que promoveram com coragem a causa da família, considerando-a como realidade determinante e insubstituível para o bem comum dos povos?

210 A família fundamentada no matrimónio constitui um "património da humanidade", uma instituição social fundamental; é a célula vital e o pilar da sociedade, e isto diz respeito tanto aos crentes como aos não-crentes. Trata-se de uma realidade que todos os Estados devem ter na máxima consideração porque, como João Paulo II gostava de reiterar, "o futuro da humanidade passa através da família" (Familiaris consortio FC 86).

Além disso, na visão cristã o matrimónio, elevado por Cristo à altíssima dignidade de sacramento, confere maior esplendor e profundidade ao vínculo conjugal e compromete mais vigorosamente os esposos que, abençoados pelo Senhor da Aliança, se prometem fidelidade recíproca até à morte, no amor aberto à vida. Para eles, o cerne e o coração da família é o Senhor, que os acompanha na missão de educar os filhos rumo à maturidade. De tal maneira, a família cristã coopera com Deus não somente na geração da vida natural, mas inclusive na cultivação dos gérmens da vida divina recebida mediante o Baptismo. Estes são os conhecidos princípios da visão cristã do matrimónio e da família. Recordei-os uma vez mais na quinta-feira passada, quando falei aos membros do Pontifício Instituto "João Paulo II" para os Estudos sobre Matrimónio e Família.

No mundo contemporâneo, em que se vão difundindo algumas concepções equívocas sobre o homem, a liberdade e o amor humano, nunca nos devemos cansar de apresentar sempre de novo a verdade sobre a instituição familiar, como foi desejada por Deus desde a criação. Infelizmente, continua a aumentar o número de separações e de divórcios, que fragmentam a unidade familiar e criam não poucos problemas para os filhos, vítimas inocentes de tais situações. Hoje em dia, a estabilidade da família está particularmente em perigo; para a salvaguardar, é necessário ir com frequência contra a corrente, em relação à cultura predominante, e isto exige paciência, esforço, sacrifício e busca incessante de compreensão mútua.

Mas também nos dias de hoje os cônjuges podem superar as dificuldades e conservar-se fiéis à sua vocação, recorrendo ao auxílio de Deus através da oração e participando assiduamente nos sacramentos, de maneira particular na Eucaristia. A unidade e a solidez das famílias ajuda a sociedade a respirar os valores humanos autênticos e a abrir-se ao Evangelho. Para isto contribui o apostolado de não poucos Movimentos, chamados a trabalhar neste campo em harmoniosa sintonia com as Dioceses e as paróquias.

Além disso, actualmente um tema mais delicado do que nunca é o respeito devido ao embrião humano, que deveria nascer sempre de um acto de amor e ser já tratado como pessoa (cf. Evangelium vitae EV 60). Os progressos da ciência e da técnica, alcançados no âmbito da bioética, transformam-se em ameaças quando o homem perde o sentido dos seus limites e, a nível prático, pretende subsituir-se a Deus Criador. A Carta Encíclica Humanae vitae confirma com clarividência que a procriação humana deve ser sempre o fruto do acto conjugal, com o seu dúplice significado unitivo e procriativo (cf. n. 12). Exige-o a grandeza do amor conjugal, segundo o projecto divino, como recordei na Encíclica Deus caritas est: "O eros degradado a puro "sexo" torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma "coisa" que se pode comprar e vender; antes, o próprio homem torna-se mercadoria... Na verdade, encontramo-nos diante duma degradação do corpo humano" (n. 5).

Graças a Deus não poucas pessoas, especialmente no meio dos jovens, continuam a descobrir o valor da castidade, que se manifesta cada vez mais como uma garantia segura do amor genuíno. O momento histórico que estamos a viver exige que as famílias cristãs dêem com corajosa coerência o testemunho de que a procriação é fruto do amor. Este testemunho não deixará de estimular os políticos e os legisladores a salvaguardarem os direitos da família. Com efeito, sabe-se que se estão a acreditar soluções jurídicas para as chamadas "uniões de facto" que, embora rejeitem as obrigações do matrimónio, pretendem gozar de direitos equivalentes. Além disso, às vezes deseja-se mesmo chegar a uma nova definição do matrimónio para legalizar uniões homossexuais, atribuindo-lhes também o direito à adopção de filhos.

Vastas áreas do mundo estão a padecer o chamado "inverno demográfico", com o consequente progressivo envelhecimento da população; por vezes parece que as famílias são ameaçadas pelo medo da vida, da paternidade e da maternidade. É necessário dar-lhes nova confiança, para que possam continuar a cumprir a sua nobre missão de procriar no amor. Estou grato ao vosso Pontifício Conselho porque, em vários encontros continentais e nacionais, procura dialogar com aqueles que têm responsabilidades políticas e legislativas a este propósito, e também se esforça por tecer uma vasta rede de colóquios com os Bispos, oferecendo às Igrejas locais a oportunidade de cursos abertos aos responsáveis pela pastoral. Depois, aproveito este ensejo para reiterar a todas as comunidades diocesanas o convite a participar com as suas delegações no V Encontro Mundial das Famílias, que terá lugar no próximo mês de Julho em Valença, na Espanha e no qual, se Deus quiser, também eu terei a alegria de participar pessoalmente.

Obrigado, uma vez mais, pelo trabalho que estais a levar a cabo; que o Senhor continue a torná-lo fecundo! Asseguro para isto a minha lembrança na oração enquanto, invocando a protecção materna de Maria, concedo a todos vós a minha Bênção, que de bom grado faço extensiva às famílias, a fim de que continuem a construir o seu lar seguindo o exemplo da Sagrada Família de Nazaré.




À PEREGRINAÇÃO DO "BUND DER BAYERISCHEN GEBIRGSSCHÜTZEN-KOMPANIEN" Sábado, 13 de Maio de 2006

Eminência
Caríssimo Embaixador
211 Queridos Gebirgsschützen

É uma alegria para mim saudar-vos aqui no Vaticano, durante a vossa peregrinação em honra da Patrona Bavariae. Pelas palavras cordiais que me dirigiu em nome de todos os presentes estou grato a Vossa Eminência, querido Cardeal Wetter, que está particularmente ligado a mim, enquanto meu sucessor imediato como Arcebispo de Mónaco e Frisinga.

Há noventa anos, o meu predecessor Bento XV, sob a solicitação do último rei bavarês, Ludwig III, confirmou com a instituição da festa eclesial da Patrona Bavariae a decisão do Duque Maximiliano da Baviera, que já trezentos anos antes, em 1616, colocou o próprio ducado sob a protecção da Virgem Maria, Mãe de Deus. A 14 de Maio de 1916, em Mónaco, celebrou-se a festa litúrgica pela primeira vez. Foi um importante sinal de encorajamento e de esperança para um país que no tumulto da primeira Guerra Mundial temia pelo seu precioso património cultural e religioso. Ao mesmo tempo, foi o coroamento de doze séculos de veneração mariana na Baviera: com efeito, no ano de 724 quando chegou São Corbiniano, existia já uma igreja dedicada a Maria, o gérmen da actual Catedral de Frisinga.

Com a celebração anual do dia em honra da Patrona Bavariae, o primeiro domingo de Maio, no "Bund der Bayerischen Gebirgsschützen-Kompanien", colocais-vos sob a protecção da grande Padroeira da nossa pátria comum, mas também ao seu serviço. Não tendes mais a tarefa, como nos séculos passados, de defender o país dos inimigos estrangeiros empunhando armas, mas hoje existem perigos talvez até mais sérios porque frequentemente não são reconhecidos como tais.

Após dois conflitos mundiais há muitas pessoas, num certo sentido "desenraizadas", que nunca souberam o significado de pátria nem do modo como a pertença a ela pode dar ao homem uma segurança interior, pois trata-se de algo mais do que um mero facto geográfico. Para nós, ao mesmo tempo, é uma radicação na fé crista que plasmou profundamente a Baviera e toda a Europa e doa r nossa vida o seu sentido autentico. Na nossa terra, assim como em outras regiões, esta fé expressou-se de formas especiais, desde o estilo barroco das nossas igrejas até aos humildes crucifixos nos campos, das alegres procissões do Corpus Domini às pequenas peregrinações aos numerosos santuários, da grande música sacra aos cantos populares dos territórios alpinos.

Fizestes vossa a tarefa de guardar e defender a cultura popular bavaresa. Com este objectivo colocais-vos ao serviço da Patrona Bavariae. A herança cultural que desejais tutelar e cuidar, não constitui uma finalidade em si mesma, mas deve contribuir para a radicação das pessoas, onde desapareceu, e reconduzi-las através de sinais aos conteúdos, ao que pode oferecer apoio e orientação às suas vidas. A cultura popular bavaresa, nas suas múltiplas expressões, torna visível a alegria profunda e indestrutível que Jesus Cristo quis doar-nos quando disse: "Vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (
Jn 10,10).

Desejo encorajar-vos a permanecer firmes na fidelidade aos valores cristãos que representam o fundamento peculiar da Baviera. Que a Santíssima Virgem e Mãe de Deus Maria, Patrona Bavariae, mantenha a sua mão protectora sobre todos vós. Por sua intercessão concedo-vos de coração a Bênção Apostólica




AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES Segunda-feira, 15 de Maio de 2006


Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado e no Presbiterado
Amados Irmãos e Irmãs!

212 Sinto-me feliz por vos receber por ocasião da Sessão Plenária do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Saúdo em primeiro lugar o Senhor Cardeal Renato Raffaele Martino, ao qual agradeço as palavras com que introduziu o nosso encontro. Saúdo também o Secretário, os Membros e os Consultores deste Pontifício Conselho, de modo especial os que foram nomeados recentemente, e dirijo a todos um cordial pensamento com votos de um trabalho proveitoso.

O tema escolhido para esta Sessão "Migração e itinerância de e para os países de maioria islâmica" diz respeito a uma realidade social que se torna cada vez mais actual. A mobilidade relativa aos Países muçulmanos merece portanto uma reflexão específica, não só pela relevância quantitativa do fenómeno, mas sobretudo porque a islâmica é uma identidade característica, sob o perfil quer religioso quer cultural. A Igreja católica sente com crescente consciência que o diálogo inter-religioso faz parte do seu compromisso ao serviço da humanidade no mundo contemporâneo. Esta convicção tornou-se, como se diz, "pão quotidiano", especialmente para quem trabalha directamente com os migrantes, os refugiados e as diversas categorias de pessoas itinerantes.

Estamos a viver tempos nos quais os cristãos estão chamados a cultivar um estilo de diálogo aberto sobre o problema religioso, sem renunciar a apresentar aos interlocutores a proposta cristã em coerência com a própria identidade. Depois, sente-se cada vez mais a importância da reciprocidade no diálogo, reciprocidade que a Instrução Erga migrantes caritas Christi define justamente como um "princípio" de grande importância. Trata-se de uma "relação fundada no respeito recíproco" e, ainda antes, de uma "atitude do coração e do espírito" (n. 64). Da importância e do interesse deste compromisso dão testemunho os esforços que em tantas comunidades se estão a fazer para estabelecer com os migrantes relacionamentos de conhecimento e estima recíprocos, que parecem ser úteis como nunca para superar preconceitos e fechamentos mentais.

Na sua acção de acolhimento e de diálogo com os migrantes e os itinerantes, a comunidade cristã tem como ponto de referência Cristo que deixou aos seus discípulos, como regra de vida, o mandamento novo do amor. O amor cristão é, por sua natureza, preveniente. Eis por que todos os crentes estão chamados a abrir os seus braços e o seu coração a cada pessoa, seja qual for o País de onde provém, deixando depois às autoridades responsáveis pela vida pública a responsabilidade de estabelecer as relativas leis consideradas oportunas para uma sadia convivência. Continuamente estimulados a testemunhar aquele amor que o Senhor Jesus ensinou, os cristãos devem abrir o coração especialmente aos pequeninos e aos pobres, nos quais o próprio Cristo está presente de modo singular. Fazendo assim, manifestam o carácter mais qualificante e próprio da identidade cristã: o amor que Cristo viveu e continuamente transmite à Igreja mediante o Evangelho e os Sacramentos. Sem dúvida, é desejável que também os cristãos que emigram para Países de maioria islâmica encontrem acolhimento e respeito pela sua identidade religiosa.

Queridos irmãos e irmãs, aproveito de bom grado esta ocasião para vos agradecer quanto fazeis em favor de uma orgânica e eficaz pastoral para os migrantes e itinerantes, pondo ao serviço dessa tarefa o vosso tempo, as vossas capacidades e a vossa experiência. A ninguém passa despercebido que esta é uma fronteira significativa da nova evangelização no mundo actual globalizado. Encorajo-vos a prosseguir o vosso trabalho com renovado zelo, enquanto, por minha vez, vos sigo com atenção e vos acompanho com a oração, para que o Espírito Santo torne proveitosa cada uma das vossas iniciativas para o bem da Igreja e do mundo. Vele sobre vós Maria Santíssima, que viveu a sua fé como peregrinação nas diversas circunstâncias da sua existência terrena. A Virgem Santa ajude cada homem e mulher a conhecer o seu Filho Jesus e a receber d'Ele o dom da salvação.

Com estes votos concedo a minha Bênção a todos vós e às pessoas que vos são queridas.




AOS CINCO NOVOS EMBAIXADORES JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 18 de Maio de 2006

Excelências

Sinto-me feliz por vos receber para a apresentação das Cartas que vos acreditam como Embaixadores extraordinários e plenipotenciários dos vossos países: Chade, Índia, Cabo Verde, Moldova e Austrália. Estou-vos grato por me terdes transmitido as palavras gentis dos vossos Chefes de Estado, na certeza de que lhes transmitireis as minhas saudações de retribuição e os meus deferentes votos pelas suas pessoas e pelo seu alto cargo ao serviço dos respectivos países.

Através de vós, desejo saudar as Autoridades civis e religiosas das vossas nações, assim como todos os vossos compatriotas, com um pensamento particular para as comunidades católicas.

Pertenceis à grande família dos diplomatas que, em todo o mundo, se esforçam por criar pontes entre os países, na perspectiva da instauração e da consolidação da paz e relacionamentos mais fortes entre os povos, quer a nível da solidariedade fraterna quer dos intercâmbios económicos e culturais, para o bem-estar de todas as populações do planeta. Isto exige, da vossa parte e da parte das Autoridades legítimas dos diferentes Países do globo e das várias organizações internacionais uma vontade firme, assim como uma clarividência, para não limitar as decisões a serem tomadas às simples urgências do momento.

213 De facto, não é suficiente decidir sobre a paz ou sobre a colaboração entre as nações para as obter. É necessário que cada um se comprometa concretamente, aceitando não olhar só para o interesse do próximo ou de uma classe particular da sociedade, em desvantagem do interesse geral, mas considerando antes de mais o bem comum das populações do país e mais amplamente da humanidade inteira. Na era da mundialização, é fundamental que a gestão da vida política não seja orientada de modo preponderante ou apenas por considerações de ordem económica, pela busca de uma rentabilidade crescente, por um uso desconsiderado dos recursos do planeta, em desvantagem das populações, sobretudo das que são mais desfavorecidas, e arriscando hipotecar a longo prazo o futuro do mundo.

De igual modo, a paz enraíza-se no respeito da liberdade religiosa, que é um aspecto fundamental e primordial da liberdade de consciência das pessoas e da liberdade dos povos. É fundamental que, em qualquer parte do mundo, todas as pessoas possam aderir à religião que escolheram e praticá-la livremente e sem receio, pois ninguém pode fundar a sua existência unicamente na busca do bem-estar material. Aceitar tal andamento pessoal e comunitário terá sem dúvida alguma efeitos benéficos na vida social. De facto, amar o Todo-Poderoso e acolhê-lo convida todos a pôr-se ao serviço dos seus irmãos e a construir a paz.

Por conseguinte, encorajo os Responsáveis das nações e todos os homens de boa vontade a comprometer-se sempre mais resolutamente na construção de um mundo livre, fraterno e solidário, no qual a atenção para com as pessoas tem a primazia sobre os simples aspectos económicos. É nosso dever aceitar ser responsáveis uns pelos outros, e pelo andamento global do mundo. Pois ninguém pode dizer como Caim disse a Deus no livro do Génesis: "Sou porventura o guarda do meu irmão?".

No momento em que iniciais a vossa missão junto da Santa Sé, permiti-me, Senhores Embaixadores, que vos dirija os meus melhores votos; peço ao Todo-Poderoso que faça descer as bênçãos divinas sobre vós, os vossos familiares, os vossos colaboradores e todos os habitantes dos vossos países.


AO SENHOR MOUKHTAR WAWA DAHAB NOVO EMBAIXADOR DO CHADE JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 18 de Maio de 2006

Senhor Embaixador

Sinto-me feliz por dar as boas-vindas a Vossa Excelência por ocasião da apresentação das Cartas que o acreditam como Embaixador extraordinário e plenipotenciário do Chade junto da Santa Sé.

Sensibilizado com as suas amáveis palavras, agradeço-lhe as cordiais saudações que me transmitiu da parte de Sua Excelência o Sr. Deby Itno, Presidente da República, assim como do Governo e do povo do Chade. Peço-lhe a amabilidade de transmitir a Sua Ex.cia o Presidente da República os votos de bem-estar e de prosperidade que formulo pela sua pessoa e por todos os cidadãos do Chade, pedindo ao Todo-Poderoso que preserve a Nação na paz e na concórdia.

Como Vossa Excelência ressaltou, o seu país está comprometido na consolidação do processo democrático. Trata-se de um empreendimento de longo alcance, que precisa em particular da aceitação da parte de todos de um certo número de valores, como a dignidade da pessoa humana, o respeito pelos direitos do homem, o bem comum como fim e critério de regulação da vida política e social (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 407).

De facto, a pessoa humana deve estar no centro de toda a vida social. Os responsáveis do Estado e todas as Autoridades civis têm por missão servir os cidadãos, procurando pôr em prática o que pode contribuir para o bom andamento da sociedade, segundo os princípios da justiça. É também fundamental que a riqueza produzida pela exploração dos recursos naturais seja gerida de modo cada vez mais transparente, para que seja efectivamente utilizada para o progresso integral e solidário da população, e para o melhoramento das suas condições de vida.

Mencionando a difícil situação que actualmente o País vive, Vossa Excelência desejou que se instaure uma paz verdadeira e definitiva. A paz é uma aspiração profunda, presente no coração de todos os homens. É portanto indispensável que todos se sintam comprometidos em realizá-la de modo autêntico e duradouro, sobre bases sólidas e justas.

214 Para esta finalidade, o diálogo e a harmonia entre todas as partes em causa são fundamentais. Favorecem o bem comum da nação, evitando recorrer às armas para superar as divisões, que a violência jamais pode resolver. De facto, o diálogo é um acto de confiança entre todos os homens, que tem a capacidade de ultrapassar divisões, e quando não existe o diálogo a paz está ameaçada.

A Igreja católica, em relação a isto, consciente de que o compromisso por edificar a paz e a justiça faz parte da missão que recebeu do seu Fundador, deseja contribuir, com os meios que lhe são próprios, para o restabelecimento e para a consolidação da paz nas sociedades e entre os povos.

Para ela, uma paz verdadeira não é possível sem o diálogo fundado no perdão e na reconciliação, assim como no respeito pelos direitos de todos. Todavia, ela está também convencida de que isto não exclui a necessidade de ter em consideração as exigências da justiça e da verdade, que são as condições de uma autêntica reconciliação.

Portanto, desejo vivamente, Senhor Embaixador, que no seu país, através de um diálogo entre as partes envolvidas, terminem todas as violências e chegue o tempo da reconciliação, para dar a todos os chadianos a possibilidade de viver em paz e de construir juntos uma sociedade cada vez mais fraterna e solidária.

Para conseguir estes objectivos, desejo também que todos os governantes da região ponham no centro das suas preocupações uma determinação firme e garantida em favor da paz e da justiça para o bem dos seus povos e favoreçam entre eles relacionamentos de boa vizinhança e de solidariedade.

Nesta circunstância solene, através da sua pessoa, Senhor Embaixador, desejaria saudar também a comunidade católica do Chade, apreciando a atenção que dedica à sua missão espiritual e à sua acção na sociedade. Com os seus Bispos ela testemunha generosamente o amor que os discípulos de Cristo devem ter por todos. Convido-a a permanecer unida aos seus Pastores e a trabalhar fervorosamente pela reconciliação e pela paz.

No momento em que inicia a sua missão junto da Santa Sé, apresento-lhe os meus melhores votos pelo seu feliz cumprimento. Tenha a certeza de que encontrará junto dos meus colaboradores o acolhimento atento e a compreensão cordial de que poderá ter necessidade.

Invoco de todo o coração sobre Vossa Excelência, sobre os seus colaboradores e familiares, assim como sobre o povo chadiano e os seus dirigentes a abundância das Bênçãos divinas.




Discursos Bento XVI 207