Discursos Bento XVI 236

NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA NO AEROPORTO "JOÃO PAULO II"


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Cracóvia, 28 de Maio de 2006


Senhor Presidente da República da Polónia
Senhor Cardeal, Arcebispo Metropolitano de Cracóvia
Dilectos irmãos e irmãs!

Chegou o momento de me despedir da Polónia. Durante quatro dias percorri como peregrino a vossa terra, visitando lugares particularmente importantes para a vossa identidade histórica e espiritual. Varsóvia, Jasna Góra, Cracóvia, Wadowice, Kalwaria Zebrzydowska, Lagiewniki, Oswiecim quantas lembranças evocam estes nomes! Que riqueza de significado tem eles para os Polacos!

Quando há quatro anos, ao despedir-se da sua Pátria pela última vez, o meu amado Predecessor João Paulo II exortou a Nação polaca a deixar-se guiar sempre pelos sentimentos de misericórdia, de solidariedade fraterna e de dedicação ao bem comum, expressou a firme confiança de que dessa forma ela não teria encontrado somente uma colocação apropriada na Europa Unida, mas também teria enriquecido este continente e o mundo inteiro com a sua tradição. Hoje, enquanto a vossa presença na família dos Estados da Europa está a consolidar-se cada vez mais, desejo de todo o coração repetir aquelas palavras de esperança. Exorto-vos a permanecer guardiães fiéis dos valores cristãos e a transmiti-los às futuras gerações.

Estimados Polacos! Gostaria de confidenciar-vos que esta peregrinação, durante a qual visitei lugares particularmente queridos ao grande João Paulo II, me aproximou ainda mais de vós, seus compatriotas. Agradeço-vos a oração com a qual me circundastes desde o momento da minha eleição. Durante os encontros convosco, nas audiências no Vaticano, muitas vezes percebi este vínculo de intensa oração e de simpatia espontânea. Peço-vos que continueis a recordar-me nas vossas orações, rogando ao Senhor para que aumente as minhas forças no serviço à Igreja universal.

Agradeço ao Senhor Presidente da República da Polónia e ao Episcopado pelo convite. Estou grato ao Senhor Primeiro-Ministro pela frutuosa colaboração do Governo com os representantes da Igreja na preparação desta visita. Exprimo a minha gratidão às autoridades de todos os graus pelo empenho, demonstrado já antes do início da minha visita e durante a sua realização. Agradeço aos representantes dos mass media a fadiga enfrentada ao transmitirem amplas informações sobre esta peregrinação. Dirijo as minhas expressões de reconhecimento e de agradecimento também aos serviços de ordem, ao exército, à polícia, aos bombeiros, ao serviço médico e a todos os que contribuíram para tornar esplêndido este encontro do Papa com a Polónia e comos seus habitantes.

Gostaria de concluir esta visita com as palavras do Apóstolo Paulo, as quais acompanharam a minha peregrinação na terra polaca: "Estai vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos e fortes. Que, entre vós, tudo se faça com amor" (
1Co 16,13-14). A todos a minha Bênção!



PALAVRAS NO ENCERRAMENTO DO MÊS MARIANO NOS JARDINS DO VATICANO Quarta-feira, 31 de Maio de 2006


Queridos irmãos e irmãs!

237 Tenho a alegria de me unir a vós no final deste sugestivo encontro de oração mariana. Encerramos assim, diante da Gruta de Lourdes nos Jardins do Vaticano, o mês de Maio, caracterizado este ano pelo acolhimento da imagem de Nossa Senhora de Fátima na Praça de São Pedro, no 25º aniversário do atentado ao amado João Paulo II, e marcado também pela viagem apostólica que o Senhor me concedeu realizar à Polónia, onde pude visitar os lugares queridos ao meu grande Predecessor. Desta peregrinação, da qual falei esta manhã na Audiência geral, volta-me agora à mente, de modo particular, a visita ao santuário de Jasna Góra em Czestochowa, onde compreendi ainda mais como a nossa celeste Advogada acompanha o caminho dos seus filhos, e não deixa desatendidas as súplicas que lhe são dirigidas com humildade e confiança. Desejo dar-lhe graças mais uma vez juntos e a vós por me terdes acompanhado durante a visita à querida terra da Polónia. Desejo expressar também a Maria a minha gratidão pelo apoio que me oferece no serviço quotidiano à Igreja. Sei que posso contar com a sua ajuda em qualquer situação; aliás, sei que ela prevê com intuito materno todas as necessidades dos seus filhos e intervém eficazmente para os amparar: é esta a experiência do povo cristão desde os seus primeiros passos em Jerusalém.

Na hodierna festa da Visitação, como em qualquer página do Evangelho, vemos Maria dócil aos desígnios divinos e em atitude de amor previdente para com os irmãos. De facto, a humilde jovem de Nazaré ainda surpreendida por tudo o que o anjo Gabriel lhe anunciou isto é, que será a mãe do Messias prometido ouve que também a idosa parente Isabel espera um filho na sua velhice. Sem hesitar põe-se a caminho, anota o evangelista (cf.
Lc 1,39), para alcançar "às pressas" a casa da prima e põe-se à sua disposição num momento de particular necessidade. Como não observar que, no encontro entre a jovem Maria e a já idosa Isabel, o protagonista escondido é Jesus? Maria leva-o no seu seio como um tabernáculo sagrado e oferece-o como o dom maior a Zacarias, à sua esposa Isabel e também ao menino que se está a desenvolver no seu seio. "Pois diz-lhe a mãe de João Baptista logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio" (Lc 1,44).Onde Maria chega está presente Jesus. Quem abre o seu coração à Mãe encontra e acolhe o Filho e é colmado da sua alegria. A verdadeira devoção nunca ofusca nem diminui a fé e o amor a Jesus Cristo nosso Salvador, único mediador entre Deus e os homens. Ao contrário, a entrega a Nossa Senhora é um caminho privilegiado, experimentado por tantos santos, para um seguimento fiel do Senhor. A Ela, portanto, confiemo-nos com filial abandono!

Com estes sentimentos saúdo cordialmente cada um de vós, Senhores Cardeais, venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, e também vós, queridos religiosos e religiosas, queridos fiéis leigos que não quisestes faltar a este encontro anual de fim de Maio. Desejaria recomendar à vossa oração sobretudo a Vigília, que na noite de sábado próximo se realizará na Praça de São Pedro com os Movimentos e as novas Comunidades laicais, estas prometedoras realidades que floresceram na Igreja depois do Concilio Vaticano II. A materna intercessão da Rainha dos Santos obtenha para todos os discípulos de Cristo o dom de uma fé firme e um testemunho evangélico invencível. A todos vós a minha Bênção, que faço extensiva às pessoas que vos são queridas, especialmente aos doentes, aos idosos e a quantos se encontram em dificuldade.







AOS PARTICIPANTES NA TERCEIRA REUNIÃO DO XI CONSELHO ORDINÁRIO DA SECRETARIA GERAL DO SÍNODO DOS BISPOS Quinta-feira, 1 de Junho de 2006

Venerados Irmãos no Episcopado

A todos vós, membros do XI Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, dirijo uma fraterna saudação, que transmito de maneira particular ao Secretário-Geral D. Nikola Eterovic, a quem estou grato também por se ter feito intérprete dos vossos sentimentos. A vossa presença faz-me recordar a experiência vivida na Assembleia sinodal sobre o tema: "Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja", que teve lugar no Outono de 2005. Agora agradeço-vos de todo o coração o trabalho que estais a realizar, em vista de reunir e de ordenar as propostas que sobressaíram por ocasião da última Assembleia sinodal. Além disso, o hodierno encontro constitui uma oportunidade propícia para pôr em evidencia, uma vez mais, a importância da caridade na actividade dos Pastores da Igreja.

Est amoris officium pascere dominicum gregem: esta admirável intuição do Bispo Agostinho (cf. In Io. Ev. tract., 123, 5: PL 35, 1967) volta a ser, também nos dias de hoje, de grande encorajamento para nós Bispos, comprometidos no cuidado do rebanho que não nos pertence a nós, mas ao Senhor. Em cumprimento do seu mandato, nós procuramos proteger a grei, alimentando-a e conduzindo-a para Ele, o Bom Pastor que deseja a salvação de todos. Por conseguinte, alimentar o rebanho do Senhor é um ministério de amor vigilante, que exige a dedicação total, até esgotar as próprias forças e, se for necessário, até ao sacrifício da vida. A Eucaristia é a nascente e o segredo do impulso permanente da nossa missão. Na realidade, na sua existência eclesial, o Bispo configura a imagem de Cristo que nos nutre com a sua carne e com o seu sangue. É da Eucaristia que o Pastor haurirá vigor, para assim exercer aquela particular caridade pastoral, que consiste em dispensar o alimento da verdade ao povo cristão.

De modo especial, não podemos calar acerca da verdade do Amor, porque se trata da própria essência de Deus. Anunciá-la dos telhados (cf. Mt 10,27) é não só amoris officium, mas também uma mensagem necessária para o homem de todos os tempos. A verdade do amor evangélico interessa todo o homem e o homem todo, uma vez que compromete o Pastor a proclamá-la sem quaisquer temores nem hesitações, sem jamais ceder aos condicionamentos do mundo: opportune, importune (cf. 2Tm 4,2).

Prezados Irmãos no Episcopado, numa época como a nossa, caracterizada pelo crescente fenómeno da globalização, torna-se ainda mais necessário fazer chegar a todos, com vigor e clarividência, a verdade de Cristo e o seu Evangelho de salvação. São numerosos os campos onde proclamar e testemunhar com amor a verdade; muitas pessoas tem sede de tal verdade e não podem ser deixadas definhar r procura do alimento (cf. Lm Lm 4,4). Venerados e amados Irmãos, esta é a nossa missão! O Espírito do Senhor, que nos dispomos a acolher na próxima solenidade do Pentecostes, por intercessão de Maria desça sobre vós e vos torne Pastores cada vez mais disponíveis às exigências do coração de Deus. Com estes sentimentos, abençoo todos vós e todos aqueles que forem confiados aos vossos cuidados pastorais.



AOS PATRONOS DAS ARTES

DOS MUSEUS DO VATICANO Quinta-feira, 1 de Junho de 2006


Eminências
Excelências
Queridos amigos

238 Estou feliz por saudar os Patronos das Artes dos Museus do Vaticano, por ocasião da vossa peregrinação a Roma na circunstância do V Centenário de fundação dos Museus do Vaticano.
Ao mesmo tempo, agradeço-vos o vosso interesse incessante, que é motivado não apenas por um sentido de administração do património incomparável dos Museus do Vaticano, mas também por um generoso compromisso na missão evangelizadora da Igreja. Em todos os tempos, os cristãos procuraram dar expressão à visão beatífica da beleza e da ordem da criação de Deus, a nobreza da nossa vocação de homens e de mulheres criados à sua imagem e semelhança, e a promessa de um cosmos redimido e transfigurado pela graça de Cristo. Os tesouros artísticos que nos rodeiam não são simplesmente monumentos impressionantes de um passado distante. Pelo contrário, para as centenas de milhares de visitantes que os contemplam, ano após ano, tais monumentos são um testemunho perene da fé imutável da Igreja no Deus Trino e Uno que, na frase memorável de Santo Agostinho, é ele mesmo "Beleza sempre antiga e sempre nova" (Confissões, X, 27).

Estimados amigos, que o vosso apoio aos Museus do Vaticano produzam abundantes frutos espirituais nas vossas vidas e façam progredir a missão eclesial de levar todas as pessoas a conhecerem e amarem Jesus Cristo, "imagem do Deus invisível" (
Col 1,15), em cujo Espírito eterno toda a criação é reconciliada, restabelecida e renovada. A vós, às vossas famílias e às vossas associações, concedo de todo o coração a Bênção Apostólica como penhor da alegria e da paz duradouras no Senhor.



AOS SUPERIORES E ALUNOS

DA PONTIFÍCIA ACADEMIA ECLESIÁSTICA Sexta-feira, 2 de Junho de 2006


Senhor Presidente e queridos Alunos
da Pontifícia Academia Eclesiástica!

Sinto-me feliz por me encontrar hoje convosco e por dirigir a cada um de vós e a toda a vossa comunidade a minha cordial saudação; saudação que, em primeiro lugar, se destina ao vosso Presidente, D. Justo Mullor García. Agradeço-lhe ter-se feito intérprete, há pouco, dos vossos devotos e filiais sentimentos. A vossa visita oferece-me a oportunidade de vos expressar a atenção com que sigo a vossa Academia: nela vos preparais com empenho e dedicação para aquele modo particular de exercer o ministério sacerdotal, que é o serviço à Santa Sé. É um serviço importante, porque tem por finalidade fazer chegar às Igrejas particulares e às Nações de todo o mundo o testemunho da solicitude do Sucessor de Pedro.

Queridos Alunos, para uma adequada preparação para a missão que vos espera, vós estais chamados antes de tudo a ser uma comunidade de oração, na qual a relação com Deus seja constante, fiel, intensa e se torne para cada um linfa que anima toda a existência. A Eucaristia que celebrais quotidianamente seja o centro vital, a fonte e a raiz de cada uma das vossas actividades nestes anos e no futuro, quando desempenhareis o ministério sacerdotal ao serviço da Santa Sé nos vários Países. De facto, a vossa acção será eficaz na medida em que vos esforçardes por ser testemunhas de Cristo, Verdade que ilumina e orienta o caminho dos povos. Portanto, fazei-vos portadores do seu Evangelho de amor, capaz de renovar os corações e de tornar plenamente humana a convivência dentro de cada sociedade. Unicamente se fordes fiéis à vossa vocação, podereis prestar um serviço válido à Sé Apostólica.

Além de ser escola de oração, a vossa Academia deseja continuar a ser uma palestra de autêntica formação humana e teológica. O ministério pastoral para o qual vos estais a preparar exige uma cuidadosa formação com competências específicas. Hoje mais do que nunca é indispensável uma cultura sólida, que preveja, ao lado da necessária formação teológica, um aprofundamento da doutrina perene da Igreja e das linhas directrizes da actividade da Santa Sé a nível eclesial e internacional. Valorizai as possibilidades didácticas que vos são oferecidas neste tempo de estudos, e continuai no futuro a actualizar-vos constantemente mediante um pessoal e sério empenho de estudo.

A vossa Academia já conta três séculos de história e, no sulco do seu passado, deve continuar a ser um lugar de comunhão. A possibilidade de residir em Roma, onde se sente de maneira única a catolicidade da Igreja, e o facto de virdes de vários continentes constituem uma preciosa oportunidade para alimentar o espírito de unidade e de comunhão. No futuro tereis a oportunidade de entrar em contacto com populações de diversas línguas e civilizações; exercereis o ministério sacerdotal em Igrejas particulares muitas vezes culturalmente diferentes da de origem. Então, devereis ser capazes de compreender, amar, amparar e encorajar cada comunidade cristã para serdes em toda a parte fiéis servidores do carisma de Pedro, que é carisma de unidade e de coesão para toda a estrutura eclesial. Eis por que sois justamente estimulados a transcorrer com espírito de verdadeira fraternidade sacerdotal a vossa permanência na Academia, de forma a amadurecer o sentido pastoral da comunhão e da unidade. Portanto, abri cada vez mais os horizontes da vossa mente e do vosso coração à universalidade da Igreja, de modo a superar qualquer tentação de particularismos e individualismos.

Por fim, não falte no vosso itinerário formativo uma devoção filial e genuína à Virgem Maria. Ela vos ajude a crescer no amor a Cristo e à Igreja, e a tender sempre para a santidade, suprema e irrenunciável aspiração da nossa existência cristã e sacerdotal. Com estes sentimentos e votos, invoco sobre vós a abundância dos dons do Espírito Santo, e concedo com afecto a cada um de vós e às pessoas que vos são queridas, uma especial Bênção Apostólica.




AOS FUNCIONÁRIOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA


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Sexta-feira, 2 de Junho de 2006




Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Queridos irmãos e irmãs no Senhor!

Estou feliz por me encontrar hoje no Vaticano com o pessoal do jornal católico Avvenire, do canal televisivo Sat2000, do circuito radiofónico InBlu e da agência Sir. É uma realidade mediática muito significativa, vinculada à Conferência Episcopal Italiana, que aqui está representada pelo seu Presidente, Cardeal Camillo Ruini, a quem vai a minha deferente saudação em primeiro lugar. Saúdo também com afecto cada um de vós e agradeço ao Director de Avvenire e de Sat2000 as gentis palavras que me dirigiram em nome dos presentes. Queridos amigos, vós desempenhais uma função deveras importante: de facto, também mediante o vosso contributo, o empenho dos católicos italianos de levar o Evangelho de Cristo à vida da Nação encontra continuidade. Apraz-me recordar que nos anos imediatamente posteriores ao Concílio, Paulo VI quis firmemente o nascimento de Avvenire, como jornal católico nacional. Depois, foi uma decisão corajosa a de ampliar o vosso empenho ao campo da transmissão radiotelevisiva, utilizando as tecnologias mais modernas, como auspiciava o Decreto Conciliar Inter mirifica (cf. nn. 13-14). Tornastes-vos assim instrumentos para a difusão da mensagem cristã na Itália.

A fim de compreender o significado global do trabalho ao qual vos dedicais todos os dias, pode ser útil uma breve reflexão sobre as relações entre fé e cultura, como se desenvolveram nos últimos decénios. A cultura europeia, como bem sabeis, formou-se através dos séculos com a contribuição do cristianismo. Depois, a partir do Iluminismo a cultura do Ocidente começou a afastar-se dos seus fundamentos cristãos com uma velocidade crescente. Especialmente no período mais recente a dissolução da família e do matrimónio, os atentados à vida humana e à sua dignidade, a redução da fé a uma experiência subjectiva e a consequente secularização da consciência pública, mostram-nos com dramática clareza as consequências deste distanciamento. Contudo, em várias partes da Europa existem experiências e modalidades de cultura cristã que se afirmam ou que emergem novamente com estímulo crescente. Em particular, a fé católica está presente ainda substancialmente na vida do povo italiano e os sinais de uma sua renovada vitalidade são visíveis para todos. Portanto, no vosso trabalho de comunicadores que se inspiram no Evangelho, é necessário um constante discernimento. Como bem sabeis, os Pastores da Igreja na Itália são solícitos ao conservar as formas cristãs que provêm da grande tradição do povo italiano e que plasmam a vida comunitária, actualizando-a, purificando-a onde for necessário, mas sobretudo reforçando-a e encorajando-a. Também é vossa tarefa apoiar e promover as novas experiências cristãs que estão nascendo e ajudá-las a amadurecer uma consciência cada vez mais esclarecida da própria radicação eclesial e do papel que podem desempenhar na sociedade e na cultura da Itália.

Tudo isto, queridos amigos, faz parte da vossa actividade quotidiana, de uma obra a cumprir não de maneira abstracta ou puramente intelectual, mas estando atentos aos mil aspectos da vida concreta de um povo, aos seus problemas, às suas necessidades e às suas esperanças. A certeza de que a fé cristã está aberta a tudo o que de "verdadeiro, nobre, justo, puro, amável e respeitável" existe na cultura dos povos, como ensinava o Apóstolo Paulo aos Filipenses (cf. 4, 8), vos sustente e vos infunda coragem neste trabalho. Então, ide adiante na vossa obra com este espírito e com esta atitude, dando vós mesmos um testemunho luminoso de profunda vida cristã e, por esta razão, permanecendo unidos a Cristo com tenacidade para poder olhar o mundo com os mesmos olhos d'Ele. Sois felizes por pertencer à Igreja e por introduzir a sua voz e as suas razões no grande circuito da comunicação. Não vos canseis de construir pontes de compreensão e comunicação entre a experiência eclesial e a opinião pública. Assim podereis ser protagonistas de uma comunicação não evasiva, mas amiga, ao serviço do homem de hoje.

Para uma semelhante comunicação, de coração, desejo que se dirijam a atenção e o apoio dos católicos e de todos os italianos solícitos pelos valores autênticos. Da minha parte, asseguro-vos uma constante aproximação e, a fim de que o vosso trabalho dê sempre mais frutos, concedo com afecto a vós e às vossas famílias a Bênção Apostólica, propiciadora da luz e da força que só Deus pode infundir no ânimo dos seus filhos.




AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO ECLESIAL DA DIOCESE DE ROMA Basílica de São João de Latrão

Segunda-feira, 5 de Junho de 2006



Queridos irmãos e irmãs!

240 Sinto-me feliz por estar de novo convosco para introduzir com uma reflexão este nosso Congresso Diocesano, dedicado a um tema de grande beleza e de primária importância pastoral: a alegria que provém da fé e a sua relação com a educação das novas gerações. Retomamos assim e desenvolvemos ulteriomente, numa óptica que se refere mais directamente aos jovens, o discurso iniciado há um ano, por ocasião do precedente Congresso Diocesano, no qual nos ocupamos do papel da família e da comunidade cristã na formação da pessoa e na transmissão da fé. Saúdo com afecto cada um de vós, Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, leigos comprometidos a testemunhar a nossa fé. Saúdo em particular a vós, jovens, que desejais unir ao vosso itinerário formativo pessoal a assunção de uma responsabilidade eclesial e missionária em relação a outros jovens e moças. Agradeço de coração ao Cardeal Vigário pelas palavras que me dirigiu em nome de todos vós.

Com este Congresso, e com o ano pastoral que se inspirará nos seus conteúdos, a Diocese de Roma prossegue aquele itinerário de longo prazo que iniciou, já há dez anos, com a Missão da Cidade querida pelo meu amado Predecessor João Paulo II. De facto, a finalidade é sempre a mesma: reavivar a fé nas nossas comunidades e procurar despertá-la, ou suscitá-la, em todas as pessoas e famílias desta grande cidade, onde a fé foi pregada e a Igreja foi implantada já desde a primeira geração cristã, e em particular pelos Apóstolos Pedro e Paulo. Nos últimos três anos a vossa atenção concentrou-se principalmente sobre a família, para consolidar com a verdade do Evangelho esta realidade humana fundamental, hoje infelizmente muito insidiada e ameaçada, e para a ajudar a cumprir a sua missão insubstituível na Igreja e na sociedade. Pondo agora em primeiro plano a educação na fé das novas gerações, certamente não abandonamos o compromisso pela família, à qual pertence a responsabilidade educativa primária. Antes, vamos ao encontro de uma preocupação difundida em muitas famílias, que no contexto social e cultural de hoje receiam não conseguir transmitir a herança preciosa da fé aos próprios filhos.

Na realidade, descobrir a beleza e a alegria da fé é um caminho que cada nova geração deve percorrer pessoalmente, porque na fé é posto em jogo tudo o que sentimos mais como nosso e que nos é mais íntimo, o nosso coração, a nossa inteligência, a nossa liberdade, numa relação profundamente pessoal com o Senhor que age dentro de nós. Mas a fé é, de igual modo radicalmente, acto e atitude comunitária, é o "nós cremos" da Igreja. A alegria da fé é portanto uma alegria que deve ser partilhada: como afirma o Apóstolo João "o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão connosco... Escrevemo-vos estas coisas para que a vossa alegria seja completa" (
1Jn 1,3-4). Por isso, educar as novas gerações na fé é uma tarefa grande e fundamental que envolve toda a comunidade cristã. Queridos irmãos e irmãs, vós dais-vos pessoalmente conta de como esta tarefa se tornou hoje em vários aspectos bastante difícil, mas precisamente por isso é ainda mais importante e urgente do que nunca. Com efeito, é possível detectar duas linhas de fundo da actual cultura secularizada, entre si claramente interdependentes, que estimulam em direcção contrária ao anúncio cristão e não podem deixar de ter uma incidência sobre aqueles que estão maturando as próprias orientações e opções de vida. Uma delas é aquele agnosticismo que é originado pela redução da inteligência humana a simples razão calculadora e funcional e que tende a sufocar o sentido religioso inscrito no fundo da nossa natureza. A outra é aquele processo de relativização e de desenraizamento que corrói os vínculos mais sagrados e os afectos mais dignos do homem, com o resultado de fragilizar as pessoas e tornar precários e instáveis os nossos relacionamentos recíprocos.

Precisamente nesta situação todos nós temos necessidade, e sobretudo as nossas crianças, adolescentes e jovens têm necessidade, de viver a fé como alegria, de saborear aquela serenidade profunda que nasce do encontro com o Senhor. Na Encíclica Deus caritas est escrevi: "Nós cremos no amor de Deus deste modo pode o cristão exprimir a opção fundamental da sua vida. No início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, a orientação decisiva" (n. 1). A fonte da alegria cristã é esta certeza de sermos amados por Deus, amados pessoalmente pelo nosso Criador, por Aquele que tem nas suas mãos o universo inteiro e que ama cada um de nós e toda a grande família humana com um amor apaixonado e fiel, um amor maior que as nossas infidelidades e pecados, um amor que perdoa. Este amor "é tão grande que chega a virar Deus contra Si mesmo", como se vê de maneira definitiva no mistério da Cruz: "Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor" (Deus caritas est ).

Queridos irmãos e irmãs, esta certeza e esta alegria de ser amados por Deus deve tornar-se de qualquer forma palpável e concreta para cada um de nós, e sobretudo para as jovens gerações que estão a entrar no mundo da fé. Por outras palavras: Jesus disse que era o "caminho" que conduz ao Pai, além de ser a "verdade" e a "vida" (cf. Jn 14,5-7). Portanto, a pergunta é: como podem as nossas crianças e os nossos jovens encontrar n'Ele, na prática e na existência, este caminho de salvação e de alegria? É precisamente esta a grande missão para a qual a Igreja existe, como família de Deus e companhia de amigos na qual somos inseridos com o Baptismo já desde pequeninos e na qual deve crescer a nossa fé e a alegria e a certeza de sermos amados pelo Senhor. Por conseguinte, é indispensável e é a tarefa confiada às famílias cristãs, aos sacerdotes, aos catequistas, aos educadores, aos próprios jovens em relação aos seus contemporâneos, às nossas paróquias, associações e movimentos, finalmente a toda a comunidade diocesana que as novas gerações possam fazer a experiência da Igreja como de uma companhia de amigos na qual podem deveras confiar, próxima em todos os momentos e circunstâncias da vida, quer elas sejam alegres e gratificantes quer difíceis e obscuras, uma companhia que nunca nos abandonará nem sequer na hora da morte, porque tem em si a promessa da eternidade. A vós, queridas crianças e jovens de Roma, gostaria de pedir que confieis por vossa vez na Igreja, que a ameis e que tenhais confiança nela, porque nela está presente o Senhor e porque ela mais não procura do que o vosso verdadeiro bem.

Aquele que sabe que é amado sente-se por sua vez solicitado a amar. Precisamente assim o Senhor, que nos amou primeiro, nos pede para pôr por nossa vez no centro da nossa vida o amor por Ele e pelos homens que Ele amou. Especialmente os adolescentes e os jovens, que sentem impelente a chamada do amor dentro de si, têm necessidade de ser libertados do preconceito difundido de que o cristianismo, com os seus mandamentos e as suas proibições, coloca demasiados obstáculos à alegria do amor, sobretudo que impede apreciar plenamente aquela felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor recíproco. Ao contrário, a fé e a ética cristãs não querem sufocar o amor, mas torná-lo sadio, forte e verdadeiramente livre: é precisamente este o sentido dos dez Mandamentos, que não são uma série de "nãos", mas um grande "sim" ao amor e à vida. De facto, o amor humano tem necessidade de ser purificado, de amadurecer e também de se superar a si mesmo, para poder tornar-se plenamente humano, para ser princípio de uma alegria verdadeira e duradoura, para responder portanto àquele pedido de eternidade que traz dentro de si e ao qual não pode renunciar, se se trair a si mesmo. É este o motivo substancial pelo qual o amor entre o homem e a mulher se só realiza plenamente no matrimónio.

Em toda a obra educativa, na formação do homem e do cristão, não devemos portanto, por receio ou por embaraço, deixar de lado a grande questão do amor: se o fizéssemos apresentaríamos um cristianismo desencarnado, que não pode interessar seriamente o jovem que se abre à vida. Mas também devemos introduzir a dimensão integral do amor cristão, onde amor a Deus e amor ao homem estão indissoluvelmente unidos e onde o amor ao próximo é um compromisso concreto como nunca. O cristão não se contenta com palavras, e nem sequer com ideologias enganadoras, mas vai ao encontro das necessidades do irmão pondo-se verdadeiramente em jogo, sem se contentar com qualquer boa acção ocasional. Propor às crianças e aos jovens experiências práticas de serviço ao próximo mais necessitado faz portanto parte de uma educação na fé plena e autêntica. Juntamente com a necessidade de amar, o desejo da verdade pertence à própria natureza do homem. Por isso, na educação das novas gerações, a questão da verdade certamente não pode ser evitada: ao contrário, deve ocupar um espaço fundamental. Centrando a pergunta na verdade alargamos de facto o horizonte da nossa racionalidade, começamos a libertar a razão daqueles limites demasiado estreitos dentro dos quais ela é confinada quando se considera racional apenas o que pode ser objecto de experimentação e de cálculo. E precisamente aqui dá-se o encontro da razão com a fé: de facto, na fé acolhemos o dom que Deus faz de si mesmo revelando-se a nós, criaturas feitas à sua imagem; acolhamos e aceitemos aquela Verdade que a nossa mente não pode compreender totalmente e não pode possuir, mas que precisamente por isto dilata o horizonte do nosso conhecimento e permite que alcancemos o Mistério no qual estamos imersos e reencontramos em Deus o sentido definitivo da nossa existência.

Queridos amigos, sabemos bem que não é fácil concordar com esta superação dos limites da nossa razão. Por isso a fé, que é um acto humano muito pessoal, permanece uma escolha da nossa liberdade, que também pode ser recusada. Mas aqui ressalta uma segunda dimensão da fé, a de se confiar a uma pessoa: não a uma pessoa qualquer, mas a Jesus Cristo, e ao Pai que O enviou. Crer significa estabelecer um vínculo muito pessoal com o nosso Criador e Redentor, em virtude do Espírito Santo que age nos nossos corações, e fazer deste vínculo o fundamento de toda a vida. De facto, Jesus Cristo "é a Verdade feita Pessoa, que atrai o mundo para si... Qualquer outra verdade é um fragmento da Verdade que Ele é e remete para Ele" (Discurso à Congregação para a Doutrina da Fé CDF 10 Congregação para a Doutrina da Fé, 10 de Fevereiro de 2006). Assim Ele enche o nosso coração, dilata-o e enche-o de alegria, estimula a nossa inteligência para horizontes inexplorados, oferece à nossa liberdade o seu ponto de referência decisivo, aliviando-a das angústias do egoísmo e tornando-a capaz de amor autêntico.

Portanto, na educação das novas gerações não devemos ter receio algum de confrontar a verdade da fé com as autênticas conquistas do conhecimento humano. Os progressos da ciência são hoje muito rápidos e com frequência apresentam-se em contraposição com as afirmações da fé, provocando confusão e tornando mais difícil o acolhimento da verdade cristã. Mas Jesus Cristo é e permanece o Senhor de toda a criação e de toda a história: "porque n'Ele foram criadas todas as coisas... e todas têm n'Ele a sua subsistência" (Col 1,16 Col 1,17). Por isso o diálogo entre fé e razão, se for feito com sinceridade e rigor, oferece a possibilidade de compreender, de modo mais eficiente e convincente, o bom senso da fé em Deus não num Deus qualquer, mas naquele Deus que se revelou em Jesus Cristo e também de mostrar que no próprio Jesus Cristo se encontra o cumprimento de qualquer aspiração humana autêntica. Queridos jovens de Roma, prossegui portanto com confiança e com coragem pelo caminho da busca da verdade. E vós, queridos sacerdotes e educadores, não hesiteis em promover uma verdadeira e própria "pastoral da inteligência", e mais amplamente da pessoa, que tenha seriamente em consideração as interrogações dos jovens quer as existenciais, quer as que surgem do confronto com as formas de racionalidade hoje difundidas para os ajudar a encontrar respostas cristãs válidas e inerentes, e finalmente fazer própria aquela resposta decisiva que é Cristo Senhor.

Falámos da fé como encontro com Aquele que é Verdade e Amor. Também vimos que se trata de um encontro ao mesmo tempo comunitário e pessoal, que deve ter lugar em todas as dimensões da nossa vida, através do exercício da inteligência, das escolhas da liberdade, do serviço do amor.

Mas existe um espaço privilegiado no qual este encontro se realiza de modo mais directo, se fortalece e se aprofunda, e torna-se assim verdadeiramente capaz de penetrar e caracterizar toda a existência: este espaço é a oração. Queridos jovens, muitos de vós estavam certamente presentes na Jornada Mundial da Juventude, em Colónia. Lá, juntos, rezámos ao Senhor, adorámo-lo presente na Eucaristia, oferecemos o seu santo Sacrifício. Meditámos sobre aquele acto de amor decisivo com o qual Jesus na última Ceia antecipa a própria morte, naquela revolução que, única, é verdadeiramente capaz de renovar o mundo e de libertar o homem, vencendo o poder do pecado e da morte. Peço a vós, jovens, e a todos vós que estais aqui, queridos irmãos e irmãs, peço a toda a amada Igreja de Roma, sobretudo às almas consagradas, especialmente dos Mosteiros de clausura, que sejais assíduos na oração, espiritualmente unidos a Maria nossa Mãe, que adoreis Cristo vivo na Eucaristia, que vos apaixoneis cada vez mais por Ele, que é o nosso irmão e amigo verdadeiro, o esposo da Igreja, o Deus fiel e misericordioso que nos amou primeiro. Assim vós, jovens, estareis prontos e disponíveis para receber a sua chamada, se Ele vos quiser totalmente para si, no sacerdócio ou na vida consagrada.

241 Na medida em que nos alimentamos de Cristo e estamos apaixonados por Ele, sentimos também dentro de nós o estímulo de conduzir outros para Ele: de facto, não devemos ter só para nós a alegria da fé, devemos transmiti-la. Esta necessidade torna-se ainda mais forte e urgente na presença daquele estranho esquecimento de Deus que hoje existe em amplas partes do mundo, e em certa medida também aqui em Roma. Deste esquecimento surgem muitos murmúrios efémeros, muitas contendas inúteis, mas também uma grande insatisfação e um sentido de vazio. Por isso, queridos irmãos e irmãs, no nosso humilde serviço de testemunhas e missionários do Deus vivo devemos ser portadores daquela esperança que nasce da certeza da fé: assim ajudaremos os nossos irmãos e concidadãos a reencontrar o sentido e a alegria da própria vida. Sei que trabalhais com empenho nos queridos ambientes da pastoral: alegro-me com isto e convosco dou graças ao Senhor. Em particular no meu primeiro ano de Pontificado já pude experimentar e apreciar a vivacidade da presença cristã entre os jovens e os universitários de Roma, assim como entre as crianças da Primeira Comunhão. Peço-vos que continueis com confiança, tornando cada vez mais profundo o vosso vínculo com o Senhor e assim mais eficaz o vosso apostolado. Não descuideis, neste empenho, dimensão alguma da vida, porque Cristo veio para salvar todo o homem, tanto no íntimo das consciências como nas expressões da cultura e nos relacionamentos sociais.

Queridos irmãos e irmãs, confio-vos com ânimo amigo estas reflexões, como contributo para o vosso trabalho nas tardes do Congresso e depois durante o próximo ano pastoral. O meu afecto e a minha bênção vos acompanhem hoje e no futuro.
Obrigado pela vossa atenção!





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