Discursos Bento XVI 241

AOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO DOS SANTOS PEDRO E PAULO Sábado, 17 de Junho de 2006

Queridos amigos!

Ao aproximar-se a solenidade dos santos Apóstolos Pedro e Paulo é para mim um prazer encontrar-me convosco e com as vossas famílias. A vossa visita de hoje permite-me renovar-vos a minha gratidão pelo serviço que prestais há tantos anos ao Sucessor de Pedro. Saúdo-vos a todos com afecto, agradecendo ao vosso Presidente que se fez gentilmente intérprete dos sentimentos comuns.

A vossa Associação dos Santos Pedro e Paulo, que em 1970 recebeu a herança da Guarda Palatina, desempenha com dedicação um serviço de voluntariado à Santa Sé. As três secções que formam o desenrolar-se da sua acção refiro-me às secções litúrgica, caritativa e cultural reflectem três aspectos complementares da vida e da acção das comunidades eclesiais. Em primeiro lugar é importante para vós cuidar da liturgia, a qual, como ensina o Concílio Vaticano II, "quotidianamente edifica os que estão dentro, fazendo deles um templo santo no Senhor... até à estatura proporcionada à plenitude de Cristo, é de modo maravilhoso que simultaneamente revigora as suas energias para pregarem Cristo" (Sacrosanctum Concilium SC 2). Uma vida intensa de oração e a assídua participação na liturgia continuem a ser o vosso primeiro compromisso como indivíduos e como associação.

Queridos amigos, só se nos deixarmos formar constantemente pela Palavra de Deus e se nos alimentarmos com assiduidade do Corpo e Sangue de Cristo poderemos transmitir aos outros o amor de Deus, que é dom do Espírito Santo. Na Encíclica Deus caritas est eu quis recordar que o amor ao próximo radicado no amor divino é antes de tudo uma tarefa para cada um dos fiéis, mas também para toda a comunidade eclesial, e isto a todos os seus níveis (cf. n. 20). Vós procurais ser testemunhas deste amor para com os pobres, no refeitório da Casa "Dom de Maria" e no consultório pediátrico de Santa Marta, assim como nas iniciativas sociais promovidas nas vossas paróquias. A caridade anime cada uma das vossas actividades. Regra da vossa existência seja a exortação que o apóstolo Paulo dirige aos Colossenses: "acima de tudo, revesti-vos do amor, que é o laço da perfeição" (3, 14).

Não é menos importante a atenção que desejais destinar a uma adequada formação cultural para poder crescer na fé. Hoje, evangelizar exige um conhecimento responsável das situações culturais modernas e um aprofundamento constante da sua doutrina católica. Queridos amigos, vós fazeis bem em não descuidar também este aspecto e encorajo-vos a prosseguir no caminho que já estais proveitosamente a percorrer. Vós nascestes para estar ao serviço do Sucessor de Pedro e agradeço-vos a generosidade com que cumpris esta vossa tarefa. O Senhor o torne cada vez mais fecundo e, com a força do seu Espírito, faça de vós seus discípulos autênticos.

A Virgem Maria, Virgo fidelis, cuja imagem venerais na vossa Capela, vos proteja e vos acompanhe sempre. Garanto-vos a minha oração e concedo-vos com afecto a Bênção Apostólica a todos vós, fazendo-a de bom grado extensiva às vossas famílias e às pessoas que vos são queridas.




AOS PARTICIPANTES NA REUNIÃO DAS OBRAS DE AJUDA ÀS IGREJAS ORIENTAIS (R.O.A.C.O.)


Quinta-feira, 22 de Junho de 2006




Beatitude
242 Venerados Irmãos no Episcopado
e no Presbiterado
Estimados membros e amigos
da R.O.A.C.O.

Recebo-vos com alegria e saúdo-vos com carinho. Agradeço cordialmente ao Cardeal Ignace Moussa Daoud, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, que se fez intérprete dos sentimentos de todos os presentes. Estendo a minha saudação ao Secretário, Mons. António Maria Vegliò, aos Colaboradores do Dicastério, aos demais Prelados provenientes das amadas Igrejas da Terra Santa e de outras regiões do Médio Oriente, assim como aos responsáveis e aos amigos de cada uma das Agências aqui representadas. Agradeço-vos queridos amigos da R.O.A.C.O., o serviço que levais a cabo desde 1968, dando voz às Igrejas das várias tradições orientais e latinas dos territórios confiados à competência da Congregação para as Igrejas Orientais, promovendo as suas actividades pastorais, educativas e assistenciais, e indo ao encontro das suas necessidades urgentes. Fostes sempre orientados pela inspiração evangélica e por uma perspicaz sensibilidade eclesial que brota do vínculo existente entre vós e o Sucessor de Pedro.

O encontro hodierno oferece-me a agradável oportunidade para dar graças a Deus, Pai providencial e misericordioso, pela acção apostólica realizada ao longo destes anos pelos discípulos de Cristo no Médio Oriente que, mesmo no meio de numerosas dificuldades, estão comprometidos no testemunho do Evangelho da paz e do amor com solicitude fraterna.

Além disso, estou-vos grato pelos esforços que não vos cansais de envidar em vista de salvaguardar o cariz específico da actividade caritativa eclesial. Continuai a cultivar nos educadores e nos operadores da caridade, que recebem a vossa ajuda, a "formação do coração" para alcançardes, como recordei na Encíclica Deus caritas est, "aquele encontro com Deus em Cristo que neles suscite o amor e abra o seu íntimo ao outro de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor" (n. 31 a).

É com afecto que dirijo o meu pensamento às venerandas Comunidades Católicas Orientais e em primeiro lugar à da Terra Santa, à qual dedicais uma solicitude constante. Todos os cristãos desejam poder encontrar sempre na terra onde nasceu o nosso Redentor, uma comunidade cristã viva. As graves dificuldades que ela está a viver, em virtude do clima de grave insegurança, pela falta de trabalho, pelas inúmeras restrições com a crescente pobreza que disto deriva, constituem motivo de sofrimento para todos nós. Trata-se de uma situação que torna bastante incerto o futuro educativo, profissional e familiar das jovens gerações, infelizmente demasiado tentadas a abandonar para sempre a tão amada terra natal. Isto verifica-se também noutras regiões do Médio Oriente, como o Iraque e o Irã, que beneficiam providencialmente da vossa generosa consideração.

Como enfrentar problemáticas tão graves? O nosso dever primário e fundamental consiste em perseverar numa oração confiante ao Senhor que nunca abandona os seus filhos na prova. A esta acrescenta-se uma activa solicitude fraterna, capaz de encontrar caminhos sempre novos e às vezes inesperados para ir ao encontro das necessidades daquelas populações. Dirijo um convite aos pastores e aos fiéis, a todos aqueles que desempenham funções de responsabilidade na comunidade civil para que, favorecendo o respeito mútuo entre as culturas e as religiões, se criem quanto antes em toda a região do Médio Oriente as condições de uma convivência tranquila e pacífica.

Com esta finalidade, asseguro uma recordação quotidiana ao Senhor e invoco a salvaguarda de Maria, Mãe de Deus, sobre cada um de vós, queridos amigos da R.O.A.C.O., sobre quantos tendes a peito e sobre as beneméritas instituições por vós representadas. Que Deus torne fecunda a vossa actividade! Acompanho estes sentimentos com uma especial Bênção Apostólica, que concedo de bom grado a vós aqui presentes e a quantos vos são queridos.




AOS BISPOS DOS PAÍSES BÁLTICOS EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sexta-feira, 23 de Junho de 2006

Senhores Cardeais
243 Venerados Irmãos no Episcopado!

Obrigado pela vossa agradável visita. Viestes das terras pacíficas do Báltico em visita ad limina Apostolorum para confirmar a vossa comunhão com o Sucessor de Pedro e para lhe trazer a saudação cordial de quantos estão confiados aos vossos cuidados pastorais. A cada um de vós o meu pensamento grato, que se dirige antes de tudo ao Senhor Cardeal Jlnis Pujats, Arcebispo de Riga, e a D. Sigitas Tamkevicius, Arcebispo Metropolitano de Kaunas.

Eles expressaram sentimentos de adesão convicta ao ministério do Bispo de Roma em nome vosso e das comunidades diocesanas, às quais garanto a minha cordial recordação na oração. Nos dias passados ouvi com atenção participe o que cada um de vós me quis assinalar pessoalmente sobre o andamento da própria Diocese, sobre o compromisso generoso dos sacerdotes, sobre as esperanças do laicado e sobre as orientações das sociedades civis. Ao agradecer-vos a confiança espontânea, em espírito de colegial co-responsabilidade pelo Povo de Deus, encorajo-vos a discernir os germes de bem que Deus semeou nas vossas Comunidades, para guiar uma acção missionária cada vez mais convicta, corajosa e incansável.

Entre os numerosos temas que gostaria de tratar convosco, detenho-me hoje sobre um de grande actualidade também nos vossos Países, isto é, o da família. Ao lado dos núcleos familiares exemplares, existem com frequência outros infelizmente marcados pela fragilidade dos vínculos conjugais, pela chaga do aborto e da crise demográfica, pela pouca atenção à transmissão dos valores autênticos aos filhos, pela precariedade do trabalho, pela mobilidade social que debilita os vínculos entre as gerações, e por um crescente sentido de desorientação interior dos jovens.

Uma modernidade que não está radicada em autênticos valores humanos está destinada a ser dominada pela tirania da instabilidade e da desorientação. Por isso, cada comunidade eclesial, rica da própria fé e amparada pela graça de Deus, está chamada a ser ponto de referência e a dialogar com a sociedade na qual está inserida. A Igreja, mestra de vida, haure da lei natural e da Palavra de Deus aqueles princípios que indicam as bases irrenunciáveis para edificar a família segundo o desígnio do Criador. Queridos e venerados Irmãos, não vos canseis de ser sempre corajosos defensores da vida e da família; prossegui os esforços empreendidos para a formação humana e religiosa dos noivos e das jovens famílias. Esta é uma obra altamente nobre, que espero seja apreciada e apoiada também pelas instituições da sociedade civil.

A vós, Pastores, está confiada a tarefa de guiar o Povo de Deus, protege-lo, defende-lo e instruí-lo na verdade e no amor. Cristo, Sumo Sacerdote, é o seu verdadeiro Chefe e, como ensina o Concilio Vaticano II, está presente entre os crentes na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros (cf. Lumen gentium
LG 21). "Tal como, por disposição do Senhor, São Pedro e os demais Apóstolos, formam um só Colégio Apostólico recorda o Concílio assim do mesmo modo o Romano Pontífice, Sucessor de Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si" (Ibid., 22). Destinados às Igrejas particulares os Bispos exercem "o seu poder pastoral sobre a porção do Povo de Deus que lhe foi confiado, mas não sobre as outras Igrejas, nem sobre a Igreja universal" (Ibid., 23). Por conseguinte, é importante que no pleno respeito do ministério de cada um se fortaleça entre o Sucessor de Pedro e todos os Pastores uma colegialidade afectiva e efectiva. Corpo bem unido e harmonioso, o Povo de Deus pode assim crescer em santidade e vitalidade missionária graças ao contributo de cada um dos seus membros.

Venerados Irmãos, alimentai incansavelmente a comunhão entre vós e no âmbito de cada uma das vossas Dioceses, valorizando o contributo de todos. Amai os sacerdotes, vossos primeiros colaboradores e co-responsáveis na pastoral, amparai-os espiritualmente e, se for necessário, materialmente. Quanto mais eles dispuserem das garantias indispensáveis para um nível de vida digno, tanto mais poderão dedicar-se serenamente ao ministério pastoral que lhe foi confiado.

Cuidai a formação constante, graças também a cursos de actualização, que os ajudem a aprofundar os ensinamentos do Concilio Ecuménico Vaticano II e a valorizar a riqueza contida nos textos litúrgicos e nos documentos da Igreja traduzidos nas vossas respectivas línguas. Favorecei neles o fervor missionário, para que anunciem e testemunhem com alegria e entusiasmo a Boa Nova. Cada sacerdote seja como que a "pupila" do Bispo, seguido sempre com afecto e estima paternos. Se os presbíteros forem animados pela confiança e por um espírito evangelho autêntico, saberão acompanhar validamente o prometedor despertar do laicado, já activo nas vossas circunscrições eclesiásticas.

Venerados Irmãos, sei que unis oportunamente à solicitude pelos sacerdotes outra preocupação, isto é, a das vocações e da formação dos seminaristas e dos aspirantes à vida consagrada.

Também junto das comunidades infelizmente a irrupção de uma mentalidade secularizada desencoraja cada vez mais a resposta positiva dos jovens ao convite de Cristo a segui-lo mais de perto, e por isso deve ser promovida uma atenta pastoral juvenil e vocacional. Não hesiteis em propor explicitamente à juventude o ideal evangélico, a beleza da sequela Christi sine glossa, sem compromissos; ajudai quantos se encaminham pela estrada do sacerdócio e da vida consagrada a responder com generosidade ao Senhor Jesus, que não cessa de olhar com amor para a sua Igreja e para a humanidade.

No que respeita aos seminários, garanti a presença de formadores dotados de sólida humanidade e de profunda piedade, abertos ao diálogo e à colaboração; professores fiéis ao ensinamento do Magistério e testemunhas criveis do Evangelho.

244 Venerados Irmãos, o Senhor escolheu-vos para trabalhar na sua vinha numa sociedade que saiu há poucos anos do triste inverno da perseguição. Enquanto ainda não estão totalmente cicatrizadas as feridas que o comunismo causou às vossas populações, vai aumentando a influencia de um secularismo que exalta as ilusões do consumismo e que faz do homem a medida de si próprio.

Tudo isto torna ainda mais difícil a vossa acção pastoral, mas sem perder a confiança, prossegui incansáveis no anúncio do Evangelho de Cristo, palavra de salvação para os homens de todos os tempos e de todas as culturas. O Evangelho não mortifica a liberdade do homem nem o autêntico progresso social; ao contrário, ajuda o ser humano a realizar-se plenamente e renova a sociedade através da doce e exigente lei do amor.

Ampare-vos na vossa missão a intercessão poderosa de Maria, nossa Mãe celeste, e vos seja de encorajamento o exemplo dos mártires que permaneceram fiéis a Cristo durante as terríveis perseguições do tempo passado. Garanto-vos a minha fraterna e orante proximidade, enquanto vos abençoo a vós, aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e a todos os fiéis leigos confiados aos vossos cuidados pastorais.


NO FINAL DO CONCERTO APRESENTADO PELA FUNDAÇÃO "DOMENICO BARTOLUCCI" Sábado, 24 de Junho de 2006


Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Presbiterado
Irmãos e irmãs no Senhor!

No final deste concerto, sugestivo devido ao lugar onde nos encontramos a Capela Sistina e pela intensidade espiritual das composições executadas, a alma sente espontaneamente a necessidade de louvar, de abençoar e de agradecer. Este sentimento dirige-se antes de tudo ao Senhor, máxima beleza e harmonia, que deu ao homem a capacidade de se expressar com a linguagem da música e do canto. "Ad Te levavi animam meam", dizia há pouco o Ofertório de Giovanni Pierluigi da Palestrina, fazendo ressoar o salmo (24, 1).

Verdadeiramente as nossas almas elevaram-se a Deus, e por isso desejo manifestar o meu reconhecimento ao Maestro Domenico Bartolucci e à Fundação a ele intitulada, que projectou e realizou esta iniciativa. Querido Maestro, Vossa Excelência ofereceu a mim e a todos nós um dom precioso, preparando o programa no qual harmonizou sabiamente uma escolha de obras-primas do "Príncipe" da música polifónica com algumas das obras compostas por si mesmo.

Em particular, agradeço-lhe por ter querido dirigir pessoalmente o concerto e pelo moteto Oremus pro Pontifice, que escreveu logo após a minha eleição para a Sé de Pedro. Também lhe estou grato pelas amáveis palavras que me dirigiu há pouco, testemunhando o seu amor pela arte da música e a sua paixão pelo bem da Igreja. Congratulo-me sentidamente com o Coro da Fundação e faço o meu "obrigado" extensivo a quantos colaboraram de várias formas. Por fim, dirijo uma saudação cordial a quantos honraram com a sua presença este nosso encontro.

245 Todos os trechos que ouvimos e sobretudo o seu conjunto, onde estão em paralelo os séculos XVI e XX concorrem para confirmar a convicção de que a polifonia sacra, em particular a chamada "escola romana", constitui uma herança que deve ser preservada com solicitude, mantida viva e dada conhecer, em benefício não só dos estudiosos e dos cultores, mas da Comunidade eclesial no seu conjunto, para a qual constitui um inestimável património espiritual, artístico e cultural.

A Fundação Bartolucci tem precisamente por finalidade preservar e difundir a tradição clássica e contemporânea desta célebre escola polifónica, que se distinguiu sempre pela orientação centrada no canto puro, sem acompanhamento de instrumentos. Uma actualização autêntica da música sacra só pode ser feita em continuidade com a grande tradição do passado, do canto gregoriano e da polifonia sacra. Por isso, no campo musical, assim como no das outras formas artísticas, a Comunidade eclesial sempre promoveu e apoiou quantos procuram novas formas expressivas sem renegar o passado, a história do espírito humano, que é também história do seu diálogo com Deus.

Vossa Excelência, estimado Maestro, sempre procurou valorizar o canto sacro, também como veículo de evangelização. Mediante os numerosos concertos executados na Itália e no estrangeiro, com a linguagem universal da arte, a Capela musical pontifícia por si guiada cooperou assim com a própria missão dos Pontífices, que consiste em difundir no mundo a mensagem cristã. E Vossa Excelência continua a desempenhar ainda esta obra sob a direcção atenta do Maestro Giuseppe Liberato.

Queridos irmãos e irmãs, para concluir esta agradável elevação musical, dirijamos o olhar à Virgem Maria, colocada à direita de Cristo Senhor no "Juízo" de Miguel Ângelo: à sua protecção materna confiamos de modo particular todos os cultores do canto sacro, para que, sempre animados pela fé genuína e por um amor sincero à Igreja, ofereçam o seu precioso contributo à oração litúrgica e concorram eficazmente para o anúncio do Evangelho. Concedo de coração ao Maestro Domenico Bartolucci, aos membros da Fundação e a todos vós aqui presentes a Bênção Apostólica.



À DELEGAÇÃO DO PATRIARCADO ECUMÉNICO

DE CONSTANTINOPLA Quinta-feira, 29 de Junho de 2006


Queridos Irmãos em Cristo

Com grande alegria e sincero afecto no Senhor recebo hoje Vossa Eminência, Metropolita Ioannis, e os demais Membros da Delegação, que Sua Santidade Bartolomeu I e o Santo Sínodo do Patriarcado Ecuménico tiveram a gentileza de enviar para a festa dos Santos Pedro e Paulo, padroeiros da Igreja de Roma. A cada um de vós dirijo a minha cordial saudação. Apraz-me dar-vos as boas-vindas com as palavras do apóstolo Pedro: "Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus Cristo, àqueles a quem coube em sorte, pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, uma fé tão preciosa como a nossa: graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso" (2P 1,1-2).

Estas palavras exortam-nos à fé comum e ao mistério da salvação recebida, dom que nós devemos transmitir aos homens e mulheres do nosso tempo. O facto de que a festa dos Santos Pedro e Paulo seja celebrada no mesmo dia pelos católicos e pelos ortodoxos evoca a compartilhada sucessão apostólica e a fraternidade eclesial.

Agrada-me recordar aqui que a hinografia bizantina atribui a São Pedro um título denso de significado, protocorifeu, o primeiro que no coro tem o dever de manter a harmonia das vozes, para glória de Deus e serviço dos homens. Portanto, estou grato a vós que viestes unir a vossa oração à nossa, animados pelo comum compromisso de continuar o caminho que nos conduz à progressiva eliminação de todas as dissonâncias no coro da única Igreja de Cristo.

No futuro haverá importantes ocasiões de encontro e de diálogo fraterno. A sua presença, Eminência, como co-Presidente da Comissão Mista Internacional para o diálogo teológico entre ortodoxos e católicos, faz-me pensar na sessão plenária dessa Comissão, que se realizará em Belgrado, no mês de Setembro, graças ao acolhimento oferecido pelo Patriarcado ortodoxo sérvio.

O diálogo retoma assim a sua estrada com uma nova etapa. Surge espontâneo o desejo de rezar a fim de que o Espírito Santo ilumine e inflame os vossos corações, reforce a vontade comum de responder, por quanto depende de nós, à fervorosa oração do Senhor: "Ut unum sint", a fim de que os discípulos de Cristo, unidos na fé, anunciem juntos o seu Evangelho ao mundo inteiro para que, acreditando nele, todos sejam salvos.

246 Além disso, respondendo ao convite formulado pelo Governo, pelo Patriarcado e pela Comunidade católica local, espero poder realizar uma peregrinação apostólica à Turquia, país de antiga e rica cultura, um nobre país onde viveram muitos Santos Padres da nossa tradição eclesial, teológica e espiritual. Isto me permitirá participar nas celebrações por ocasião da Festa do apóstolo Santo André, irmão de São Pedro.

Ao repetir os gestos dos meus Predecessores de venerada memória, PauloVI e João Paulo II, por ocasião das suas visitas ao Fanar, será para mim uma alegria encontrar Sua Santidade Bartolomeu I, restituindo assim as agradáveis visitas que ele teve a bondade de realizar aqui em Roma. Estou certo de que este intercâmbio recíproco reforçará a fraternidade eclesial e facilitará a colaboração nas nossas iniciativas comuns.

Que o Senhor nos ajude a progredir com renovada confiança rumo ao dia em que poderemos celebrar juntos a Santa Eucaristia do Senhor, como sinal de plena comunhão.

Com estes sentimentos cordiais, peço-lhe, Eminência, e a quantos o acompanham, para levar a minha fraterna saudação ao Patriarca Bartolomeu I e ao Santo Sínodo, enquanto dou graças ao Senhor que nos concede dar um novo passo na implementação da sua vontade de unidade e de paz.


AO SENHOR MARIO JUAN BOSCO CAYOTA ZAPPETTINI NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DO URUGUAI JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 30 de Junho de 2006



Senhor Embaixador

1. É com prazer que lhe apresento as boas-vindas a este acto no qual me entrega as Cartas Credenciais de Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Oriental do Uruguai junto da Santa Sé. Agradeço-lhe as amáveis palavras que me dirigiu, assim como a gentil saudação do Presidente da República, Senhor Tabaré Vázques Rosas, do qual se fez portador. Peço-lhe que transmita os meus melhores auspícios de bem-estar pessoal e familiar, assim como os meus melhores votos de prosperidade e convivência pacífica e solidária para essa nobre Nação.

2. No seu percurso, o Uruguai foi assumindo os ideais cristãos de justiça e de paz. Nele convivem pacificamente e em mútuo respeito concepções do homem e o seu destino, sem que isso diminua o apreço sincero e real pela dimensão religiosa e, em particular, pela missão da Igreja. Uma demonstração de afecto de tantos uruguaios pela Sé Apostólica é, como Vossa Excelência disse, a recordação sem igual das duas visitas ao seu País do meu venerado predecessor, João Paulo II, que permaneceu plasmado num monumento no lugar onde celebrou a sua primeira Missa em Montevidéu.

Desta perspectiva, é desejável que a visão cristã do homem, criado à imagem e semelhança de Deus, e chamado a um destino sobrenatural, se possa manifestar abertamente na educação das novas gerações. De facto, a tarefa educativa não pode limitar-se ao aspecto meramente técnico e profissional, mas deve compreender todos os aspectos da pessoa, da sua faceta social e do seu anseio de transcendência, que se manifesta numa das suas dimensões mais nobres, que é o amor.

3. Os valores mais nobres, arraigados no coração das pessoas e no tecido social, são como a alma dos povos, que os torna fortes nas adversidades, generosos na colaboração leal e esperançosos na construção de um futuro melhor e cheio de vida, na qual todos sem excepção tenham a oportunidade de desenvolver a plena dignidade do ser humano. Por isso, se vêem com preocupação algumas tendências que procuram limitar o valor inviolável da própria vida humana, desde a sua concepção até ao seu fim natural, ou de a separar do seu ambiente natural, como o amor humano no matrimónio e na família. A Igreja promove sem dúvida uma "cultura da vida", generosa e criadora de esperança, e não só por motivos estrictamente confessionais. Como sabe, Senhor Embaixador, há muitas pessoas eminentes, também no seu País, que partilham preocupações semelhantes por motivos éticos e racionais.

Com isso está relacionado, pela sua própria natureza, a questão da família, estrutura fundamental da sociedade, e da união em matrimónio de um homem com uma mulher, segundo o desígnio impresso pelo Criador na natureza humana. Não faltam aqueles que, através de alguns meios de comunicação social, difamam ou ridicularizam o nobre valor do matrimónio e da família, favorecendo desta forma o egoísmo e a desorientação, em vez da generosidade e do sacrifício necessários para manter vigorosa esta autêntica "célula primária" da comunidade humana. Fomentar a família, ajudá-la a cumprir as suas incumbências indispensáveis, significa também unidade social e, sobretudo, respeitar os seus próprios direitos, que não podem ser dissipados perante outras formas de união que os pretendem usurpar.

247 4. Actualmente, o grande problema da pobreza e a marginalização é um desafio urgente para os governantes e responsáveis das instituições públicas. Por outro lado, o chamado processo de globalização criou novas possibilidades e também novos riscos, que é necessário enfrentar no âmbito mais amplo das Nações. Trata-se de uma oportunidade para ir tecendo como que uma rede de compreensão e solidariedade entre os povos, sem limitar tudo a intercâmbios meramente mercantis ou pragmáticos, e na qual sejam também considerados os problemas humanos de cada lugar e, sobretudo, dos emigrantes forçados a deixar a sua terra para procurar melhores condições de vida, o que por vezes comporta graves consequências no âmbito pessoal, familiar e social.

A Igreja, ao considerar a prática da caridade como uma dimensão fundamental do seu ser e da sua missão, desempenha de modo abnegado uma valiosa dedicação aos necessitados de qualquer condição ou proveniência, e colabora nesta tarefa com as diversas entidades e instituições públicas com a finalidade de que a quantos procuram apoio nunca falte uma mão amiga que os ajude a superar as suas dificuldades. Para esta finalidade oferece os seus recursos pessoais e materiais, mas sobretudo a proximidade humana que procura socorrer a pobreza mais triste, a solidão e o abandono, sabendo que "o amor, na sua pureza e gratuidade, é o melhor testemunho de Deus no qual cremos e que nos estimula a amar" (Deus caritas est ).

5. Senhor Embaixador, antes de concluir este encontro desejo expressar-lhe os meus melhores votos para que a missão que inicia seja fecunda e contribua para estreitar os relacionamentos diplomáticos do seu País com a Santa Sé, tornando-os ao mesmo tempo fluentes e cordiais. Peço-lhe de novo que se faça intérprete dos meus sentimentos e esperanças junto do Senhor Presidente da República e demais Autoridades do seu País, e invoco a materna protecção da Virgem dos Trinta e Três sobre Vossa Excelência, sobre a sua distinta família, seus colaboradores e sobre os queridos filhos e filhas uruguaios.


AOS ARCEBISPOS METROPOLITANOS QUE RECEBERAM OS PÁLIOS Sexta-feira, 30 de Junho de 2006


Queridos irmãos e irmãs!

O encontro de hoje é como que um eco da solene celebração que se realizou ontem na Basílica Vaticana, durante a qual tive a alegria de impor o Pálio aos Arcebispos Metropolitanos aqui presentes com os familiares, os amigos e uma numerosa representação das suas comunidades diocesanas. A sua diversa proveniência manifesta a índole católica da Igreja: de todas as partes da terra os fiéis das diversas Igrejas particulares sentem-se unidos à Sé de Pedro com um singular vínculo de comunhão, que é bem expresso também pela insigne litúrgica do Pálio revestido pelos seus Metropolitanos. Saúdo com afecto cada um de vós, venerados Irmãos, e convosco saúdo os vossos fiéis que vieram em peregrinação aos túmulos dos Apóstolos.

Saúdo afectuosamente e em primeiro lugar a vós, venerados e amados Pastores da Igreja que está em Itália! Saúdo o Senhor Cardeal Crescenzio Sepe que, depois de vários anos de serviço directo à Santa Sé, foi chamado para ser Pastor da ilustre Arquidiocese de Nápoles; D. Tommaso Valentinetti, Arcebispo de Pescara-Penne; D. Luigi Conti, Arcebispo de Fermo; D. Ignazio Sanna, Arcebispo de Oristano; e D. Andrea Mugione, Arcebispo de Benevento. Quem vos escolheu como Pastores do seu rebanho, o Senhor Jesus, vos ampare no vosso serviço quotidiano e vos torne fiéis arautos do Evangelho com a força do Espírito Santo.

Saúdo calorosamente os peregrinos vindos da França e da África para acompanhar os novos Arcebispos Metropolitanos aos quais tive a alegria de conferir o Pálio, sinal de comunhão muito especial com a Sé de Pedro. Dirijo as minhas saudações a D. Odon Razanakolona, Arcebispo de Antananarivo (Madagáscar), a D. Cornelius Esua, Arcebispo de Bamenda (Camarões), a D. François-Xavier Maroy Rusengo, Arcebispo de Bukavu (RDC), a D. Jean-Pierre Kutwa, Arcebispo de Abijão (Costa do Marfim), e a D. Georges Pontier, Arcebispo de Marselha (França). Através de vós, desejo ter presentes na oração todos os fiéis das vossas dioceses e dos vossos países. Sentindo-me de modo muito especial próximo da África neste momento, peço ao Senhor que ajude os países a progredir pelo caminho da paz e do desenvolvimento das pessoas e dos povos. Que possais tornar-vos cada vez mais testemunhas de Cristo, preocupando-vos por anunciar o Evangelho aos vossos irmãos e ajudá-los a amar sempre mais o nosso Pai dos Céus e a Igreja.

Dirijo uma cordial saudação aos Arcebispos Metropolitanos de língua inglesa aos quais ontem impus o Pálio: D. George Niderauer, de São Francisco (E.U.A.); D. Daniel DiNardo, de Galveston-Houston (E.U.A.); D. António Javellana Ledesma, de Cagayan de Oro (Filipinas); D. Sylvan Lavoie, de Keewatin-Le Pas (Canadá); e D. Donald Wuerl, de Washington (E.U.A.). Dou também as boas-vindas aos familiares, aos amigos e aos fiéis das suas Arquidioceses que os acompanharam a Roma. O Pálio é vestido pelos Arcebispos como símbolo da sua comunhão hierárquica com o Sucessor de Pedro no governo do povo de Deus. É feito com lã de ovelha, como símbolo de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e o Bom Pastor que vela atentamente pelo seu amado rebanho. Esta veste recorda aos Bispos, como Vigários de Cristo nas suas Igrejas locais, que estão chamados a ser Pastores segundo o coração de Jesus. A todos vós concedo com afecto a minha Bênção Apostólica, como penhor de alegria e paz no Senhor.

Saúdo com afecto os Arcebispos de língua espanhola e todos os que os acompanharam na significativa cerimónia da imposição do Pálio, que os distingue e manifesta a sua função como Metropolitanos. Refiro-me aos Arcebispos D. Jorge Liberato Urosa Savino, de Caracas; D. Jorge Enrique Jiménez Carvajal, de Cartagena; D. Fabriciano Sigampa, de Resistência, e D. José Luis Mollaghan, de Rosário. Queridos fiéis que os acompanhais, peço-vos para os seguirdes de perto com a oração e com a colaboração generosa, constante e leal, para que cumpram a sua missão segundo os desejos de Deus. Peço à Santíssima Virgem Maria, tão devotamente venerada nas vossas terras Venezuela, Colômbia e Argentina que ampare o ministério dos Arcebispos e acompanhe com ternura os sacerdotes, as comunidades religiosas e os fiéis das suas Arquidioceses. Levai a todos a minha afectuosa saudação, juntamente com a Bênção Apostólica, que agora vos concedo de coração.

A Igreja no Brasil alegra-se hoje, pois as sedes arquiepiscopais de São Luís do Maranhão, Ribeirão Preto e Londrina estão em festa com a imposição do Pálio aos seus novos Arcebispos D. José Belisário da Silva, D. Joviano de Lima Júnior e D. Orlando Brandes, que hoje estão acompanhados pelos seus sacerdotes, fiéis e familiares. Por isso, desejo saudar com afecto vossas Igrejas particulares, fazendo votos por que esta significativa celebração ajude a reforçar a unidade e a comunhão com a Sé Apostólica, e estimule uma generosa dedicação pastoral dos seus bispos para o crescimento da Igreja e para a salvação das almas.


Discursos Bento XVI 241