Discursos Bento XVI 248

248 Saúdo os peregrinos da Polónia. É costume da Igreja que na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo os novos Metropolitanos recebam o Pálio. É sinal de um vínculo de cada Metropolitano com o Sucessor de Pedro. Ontem, entre os Metropolitanos provenientes de várias partes do mundo, também o vosso concidadão, D. Wojciech Ziemba, Metropolitano de Warmia, recebeu o Pálio. Desejo a ele e a todos os Metropolitanos da Polónia abundantes dons no ministério apostólico, em união com o Sucessor de Pedro. A todos os peregrinos aqui presentes, que acompanham o novo Metropolitano, concedo de coração a minha bênção. Louvado seja Jesus Cristo!

Dirijo uma cordial saudação ao Arcebispo de Maribor, D. Franc Kramberger, ao qual ontem conferi o Pálio. Querido irmão no Episcopado, os santos Apóstolos Pedro e Paulo, grandes servos da unidade da Igreja, te sirvam de modelo no teu compromisso pelo bem do Povo de Deus que te foi confiado. Saúdo também todos os Eslovenos teus concidadãos que hoje te acompanham. Concedo a todos de coração a Bênção Apostólica.

Queridos irmãos e irmãs, também este nosso encontro ressalta como o Senhor continua a ocupar-se do seu povo, não lhe deixando faltar pastores e guias certas. Ao agradecer-lhe, não podemos deixar de estar conscientes de que cada um de nós, segundo a própria vocação, está chamado a trabalhar diligentemente na sua vinha, para sermos todos membros vivos do seu Corpo místico que é a Igreja. De facto, "também vós como pedras vivas entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo" (
1P 2,5). Maria, Mãe da Igreja, interceda por nós e nos ajude a ser sempre fiéis a esta nossa missão. Garanto a todos vós e às comunidades diocesanas das quais provindes uma recordação quotidiana na oração, e concedo-vos de bom grado a minha Bênção.



                                                                Luglio 2006








AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA CROÁCIA EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Quinta-feira, 6 de Julho de 2006

60706
Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado!

É com grande alegria que vos apresento as cordiais boas-vindas à casa de Pedro, fazendo minhas as palavras do apóstolo Paulo: "Todas as vezes que me lembro de vós, dou graças ao meu Deus, sempre, em toda a minha oração por todos vós" (
Ph 1,3-5). O vosso compromisso no anúncio da Boa Nova em espírito de convicta comunhão eclesial é confirmado também pela vossa visita ad Limina, com a qual desejais testemunhar a adesão sincera da Igreja que está na Croácia à Cátedra de Pedro. Estou grato ao Senhor Cardeal Josip Bozanic que, como Presidente da Conferencia Episcopal Croata, me dirigiu palavras de saudação, fazendo-se representante de todos vós e do rebanho de Deus confiado a cada um.

Os encontros fraternos e os frutuosos colóquios destes dias, nos quais partilhastes comigo os resultados positivos e as esperanças assim como as dificuldades e as preocupações das vossas dioceses, constituíram a ocasião para me pôr melhor ao corrente da situação da Igreja nas vossas regiões. Sois orgulhosos, justamente, de quatorze séculos de herança crista e da fé do vosso povo, mas ao mesmo tempo estais bem conscientes de que decidir-se por Deus não é só um fruto de um passado, mas acto pessoal que compromete cada indivíduo diante de Deus, seja qual for a geração a que pertença. Para tornar possível às almas das quais vos ocupais um conhecimento mais profundo de Jesus Cristo e um encontro pessoal com Ele, preparastes numerosos projectos pastorais, que testemunham o vosso grande compromisso e justificam esperança e optimismo. São particularmente importantes as vossas iniciativas para uma sólida preparação para os Sacramentos e para uma participação conveniente na liturgia. Observei também o compromisso pela formação religiosa e por uma catequese de qualidade, quer nas escolas quer nas paróquias. Como não realçar depois o cuidado pelas devoções tradicionais e pelas frequentes peregrinações, especialmente aos santuários marianos? Merece uma menção também a abertura prudente aos novos estímulos do Espírito, que distribui os seus carismas e prepara para assumir responsabilidades e cargos, úteis para a renovação e o maior desenvolvimento da Igreja. Desejo de coração que, confiando na promessa do Senhor de permanecer sempre presente entre nós, continueis a caminhar com as vossas populações pelo caminho de uma adesão coerente ao Evangelho de Cristo.

O vosso País, a Croácia, vive desde sempre no âmbito da civilização da Europa, e por isso justamente deseja ver-se reconhecido como parte da União Europeia. O seu desejo é cooperar, com a própria entrada nessa Instituição, para o bem de todos os habitantes do Continente. Assim, a Nação poderá entrar em relação, com sentimentos de respeito e de diálogo, com os outros povos europeus dando o contributo da sua cultura e das suas tradições, na busca partilhada da plena verdade sobre o homem. De facto, é fundamental que a edificação da casa comum europeia esteja sempre apoiada na verdade acerca do homem, baseando-se portanto na afirmação do direito de cada um à vida desde a concepção até à morte natural; sobre o reconhecimento da componente espiritual do ser humano, no qual se radica a sua dignidade inalienável; sobre o respeito das opções religiosas de cada um, nas quais se testemunha a insuprimível abertura ao transcendente. Sobre estes valores é possível encontrar o consentimento também de quem, mesmo não aderindo à Igreja Católica, aceita a voz da razão, sensível aos ditados da lei natural. Sei que, nesta perspectiva, vos estais empenhando juntamente com os vossos sacerdotes e fiéis. Ao encorajar-vos a perseverar, garanto-vos o apoio da Santa Sé, que olhou sempre para a Croácia com apreço e afecto. Os vínculos entre a Sé Apostólica e a vossa Nação, já firmes no passado, continuaram a fortalecer-se, como demonstra também a recente aprovação de Acordos bilaterais. A Santa Sé, também no futuro, estará ao vosso lado e com solicitude seguirá e apoiará os esforços do vosso povo pelos caminho do progresso autentico.

Contudo, é necessário considerar que os itinerários também para metas boas e desejáveis não estão livres das insídias das correntes culturais de hoje, como a secularização e o relativismo. Portanto, é necessário um anúncio incansável dos valores evangélicos, para que os fiéis possam evitar tais perigos. Seguindo o exemplo e os ensinamentos de grandes figuras das vossas Igrejas particulares penso de modo especial no beato Alojzije Stepinac, bispo e mártir não tenhais medo de lhes indicar o que o Evangelho ensina, advertindo-os do que lhe é contrário, para que as vossas comunidades sejam estímulo para toda a sociedade no perseguimento do bem comum e na atenção aos mais necessitados. O meu pensamento dirige-se, neste momento, às famílias numerosas, aos que, apesar do trabalho árduo, vivem numa situação de precariedade, aos desempregados, aos idosos e aos doentes. Infelizmente o vosso País ressente ainda das consequências do recente conflito, cujos efeitos negativos se encontram não só na economia, mas também nos corações dos habitantes, os quais por vezes sentem o peso desta herança. Sede sempre anunciadores de reconciliação e operários de paz entre os cidadãos da vossa pátria, encorajando-os pelo caminho da reconciliação crista: o perdão liberta antes de mais quem tem a coragem de o conceder.

Venerados Irmãos, os desafios pastorais são numerosos e o tempo no qual vivemos não está privado de dificuldades. Contudo, nós temos a certeza da ajuda do Alto. A este propósito torna-se ainda mais importante o serviço do Bispo. Para dar a todos um testemunho credível, ele não deve pensar em mais nada, a não ser no serviço a Cristo. Por isso, sede generosos ao servir a Igreja e o vosso povo, perseverantes na oração e cheios de zelo no anúncio. Segui com particular solicitude a formação dos sacerdotes, vossos colaboradores; promovei as vocações sacerdotais e vigiai atentamente sobre os vossos seminaristas. Exorto-vos a guiar no amor e em espírito de colaboração recíproca as comunidades religiosas e os movimentos, quer de vida consagrada quer leigos. Continuai a promover nas famílias o amor fiel, a harmonia e a oração quotidiana, encorajando-as a uma generosa abertura à vida. Depois, como não ver a importância da presença dos católicos na vida pública, como também nos meios de comunicação? Depende também deles fazer com que se possa sentir sempre uma voz de verdade sobre os problemas do momento. Rezo para que cada um saiba trabalhar para glória de Deus e em favor dos homens, de forma que ressoe em toda a parte a acção de graças ao Dador de todos os bens, segundo as palavras do Apóstolo: "Aquele que pode fazer imensamente mais do que pedimos ou imaginamos, de acordo com o poder que eficazmente exerce em nós, a Ele a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos!" (Ep 3,20-21).

Venerados Irmãos, tende a certeza do meu apoio e da minha oração para a obra que Deus vos confiou a favor das vossas comunidades. A vossa visita ad Limina mostrou que sois "um só coração e uma só alma" com os vossos fiéis e que cultivais um sentido profundo de comunhão com o Sucessor de Pedro e por isso com a Igreja universal. Ao invocar sobre vós e sobre o vosso ministério a intercessão de Maria, a Nossa Senhora do Grande Voto Baptismal Croata, concedo de coração a minha Bênção a vós, aos vossos sacerdotes, aos consagrados e às consagradas, assim como a todo o povo croata. Louvados sejam Jesus e Maria!



VIAGEM APOSTÓLICA A VALÊNCIA (ESPANHA) POR OCASIÃO DO V ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS



NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS Aeroporto de Manises Sábado, 8 de Julho de 2006

8706
Majestades
Senhor Presidente do Governo e distintas Autoridades
Senhores Cardeais e Irmãos no Episcopado
Queridos irmãos e irmãs

1. É com grande emoção que hoje chego a Valência, à nobre e sempre querida Espanha, que me deixou tão agradáveis recordações nas minhas visitas precedentes para participar em Congressos e reuniões.

2. Saúdo-vos a todos cordialmente, os que estão presentes aqui e quantos seguem este acto através dos meios de comunicação.

Agradeço à Sua Majestade o Rei Juan Carlos a sua presença, juntamente com a Rainha e, em especial, as palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome do povo espanhol.

Expresso também o meu deferente reconhecimento ao Senhor Presidente do Governo e às demais Autoridades nacionais, autonómicas e municipais, manifestando-lhes a minha gratidão pela colaboração prestada para a melhor realização deste V Encontro Mundial.

Saúdo com afecto D. Agustín García-Gasco, Arcebispo de Valência, e seus Bispos Auxiliares, bem como toda a Arquidiocese levantina que me oferece um caloroso acolhimento por ocasião deste Encontro Mundial, e que nestes dias acompanha no sofrimento as famílias que choram os seus entes queridos, vítimas de um trágico episódio, e que se sente próxima também aos feridos.

Dirijo as minhas cordiais saudações ao Presidente do Pontifício Conselho para a Família, Cardeal Alfonso López Trujillo, e aos demais Cardeais, ao Presidente e aos membros da Conferência Episcopal Espanhola, aos Sacerdotes, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos.

3. O motivo desta esperada visita é participar no V Encontro Mundial das Famílias, cujo tema é "A transmissão da fé na família". Meu desejo é realçar o papel central que a família fundada no matrimónio desempenha para a Igreja e a sociedade. Ela é uma instituição insubstituível segundo os planos de Deus, cujo valor fundamental a Igreja não pode deixar de anunciar e promover, para que seja vivido sempre com sentido de responsabilidade e alegria.

4. O meu venerado predecessor e grande amigo da Espanha, o querido João Paulo II, convocou este Encontro. Movido pela mesma solicitude pastoral, amanhã terei a honra de concluí-lo com a celebração da Santa Missa na Cidade das Artes e das Ciências.

Em união com todos os participantes, implorarei ao Senhor, por intercessão de Nossa Mãe Santíssima e do Apóstolo São Tiago, abundantes graças para as famílias da Espanha e do mundo inteiro.

Que o Senhor abençoe copiosamente todos vós e as vossas queridas famílias!




DURANTE A VIGÍLIA DE ORAÇÃO Cidade das Artes e das Ciências Sábado, 8 de Julho de 2006

8716
Amados irmãos e irmãs

Tenho muito prazer em participar neste encontro de oração, no qual se deseja celebrar com grande alegria o dom divino da família. Sinto-me muito próximo na oração, de todos os que recentemente, padeceram o luto nesta cidade e com a esperança em Cristo ressuscitado, que dá alento e luz mesmo nos momentos da maior desgraça humana.

Unidos na mesma fé em Cristo, reunimo-nos aqui, de tantas partes do mundo, como uma comunidade que agradece e dá testemunho com júbilo do ser humano que foi criado à imagem e semelhança de Deus para amar e que só se realiza plenamente a si mesmo quando faz entrega sincera de si aos demais. A família é o ambiente privilegiado onde cada pessoa aprende a dar e receber amor. Por isso a Igreja manifesta constantemente a sua solicitude pastoral por este espaço fundamental para a pessoa humana. Assim ensina no seu Magistério: "Deus, que é amor e criou o homem por amor, chamou-o a amar. Criando o homem e a mulher, chamou-os ao Matrimónio a uma íntima comunhão de vida e amor entre eles, "de maneira que já não são dois, mas uma só carne" (
Mt 19,8)" (Catecismo da Igreja Católica. Compêndio, 337).

Esta é a verdade que a Igreja proclama ao mundo sem cessar. Meu querido predecessor João Paulo II dizia que "O homem se tornou "imagem e semelhança" de Deus, não somente através da própria humanidade, mas também através da comunhão das pessoas que o varão e a mulher formam desde o princípio. Tornam-se a imagem de Deus não tanto no momento da solidão quanto no momento da comunhão (Audiência geral de 14.11.1979). Por isso confirmei a convocação deste V Encontro Mundial das Famílias na Espanha, e concretamente em Valência, rica em suas tradições e orgulhosa da fé cristã que se vive e cultiva em tantas famílias.

A família é uma instituição de mediação entre o indivíduo e a sociedade, e nada a pode substituir totalmente. Ela mesma apoia-se sobretudo numa profunda relação interpessoal entre o esposo e a esposa, sustentada pelo afecto e compreensão mútuos. No sacramento do Matrimónio, ela recebe a abundante ajuda de Deus, que comporta a verdadeira vocação para a santidade. Queira Deus que os filhos contemplem mais os momentos de harmonia e afecto dos pais e não os de discórdia e distanciamento, pois o amor entre o pai e a mãe oferece aos filhos uma grande segurança e ensina-lhes a beleza do amor fiel e duradouro.

A família é um bem necessário para os povos, um fundamento indispensável para a sociedade e um grande tesouro dos esposos durante toda a sua vida. É um bem insubstituível para os filhos, que hão-de ser fruto do amor, da doação total e generosa dos pais. Proclamar a verdade integral da família, fundada no matrimónio, como Igreja doméstica e santuário da vida é uma grande responsabilidade de todos.

O pai e a mãe deram-se um "sim" total diante de Deus, o qual constitui a base do sacramento que os une; do mesmo modo, para que a relação interna da família seja completa, é necessário que digam também um "sim" de aceitação aos seus filhos, aos que geraram ou adoptaram e que têm a sua própria personalidade e carácter. Assim, eles irão crescendo num clima de aceitação e amor, e é de se desejar que ao alcançar uma maturidade suficiente queiram dar, por sua vez, um "sim" a quem lhes deu a vida.

Os desafios da sociedade actual, marcada pela dispersão que acontece sobretudo no ambiente urbano, fazem necessário garantir que as famílias não estejam sós. Um pequeno núcleo familiar pode encontrar obstáculos difíceis de superar se se acha isolado do resto dos seus parentes e amizades. Por isso, a comunidade eclesial tem a responsabilidade de oferecer acompanhamento, estímulo e alimento espiritual que fortaleçam a coesão familiar, sobretudo nas provações ou momentos críticos. Neste sentido, é muito importante o trabalho nas paróquias, assim como das diversas associações eclesiais, chamadas a colaborar como redes de apoio e auxílio à Igreja para o crescimento da família na fé.

Cristo sempre revelou qual é a fonte suprema da vida para todos e, portanto, também para a família: "Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos" (Jn 15,12-13). O amor do próprio Deus foi derramado sobre nós no baptismo. Portanto, as famílias sejam chamadas a viver essa qualidade de amor, pois o Senhor é quem se faz garante de que isso é possível para nós através do amor humano, sensível, afectuoso e misericordioso como o de Cristo.

Junto com a transmissão da fé e do amor do Senhor, uma das maiores tarefas da família é a de formar pessoas livres e responsáveis. Por isso os pais devem ir desenvolvendo nos seus filhos a liberdade, da qual durante algum tempo são tutores. Se estes vêem que seus pais e em geral os adultos que os rodeiam vivem a vida com alegria e entusiasmo, apesar das dificuldades, crescerá neles mais facilmente esse prazer imenso de viver que os ajudará a superar certamente os possíveis obstáculos e contrariedades que a vida humana comporta. Ademais, quando a família não se fecha em si mesma, os filhos vão aprendendo que toda a pessoa é digna de ser amada, e que tem uma fraternidade fundamental universal entre todos os seres humanos.

Este V Encontro Mundial convida-nos a reflectir sobre um tema de particular importância e que encerra uma responsabilidade para nós: "A transmissão da fé na família". Expressa-o muito bem o Catecismo da Igreja Católica: "Tal como uma mãe ensina os seus filhos a falar e, dessa forma, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, ensina-nos a linguagem da fé, para nos introduzir na inteligência e na vida da fé" (n.171).

Como simboliza na liturgia do baptismo, com a entrega da vela acesa, os pais são associados ao mistério da nova vida como filhos de Deus, que se recebe com as águas baptismais.

Transmitir a fé aos filhos, com a ajuda de outras pessoas e instituições como a paróquia, a escola ou as associações católicas, é uma responsabilidade que os pais não podem esquecer, descuidar ou delegar totalmente. "A família cristã é chamada Igreja doméstica porque manifesta e realiza a natureza comunitária e familiar da Igreja enquanto família de Deus. Cada membro, segundo seu próprio papel, exerce o sacerdócio baptismal, contribuindo para fazer da família uma comunidade de graça e de oração, escola de virtudes humanas e cristãs e lugar do primeiro anúncio da fé aos filhos" (Catecismo da Igreja Católica. Compêndio, 350). Ademais: "Os pais, partícipes da paternidade divina, são os primeiros responsáveis da educação dos seus filhos e os primeiros anunciadores da fé. Têm o dever de amar e de respeitar os seus filhos como pessoas e como filhos de Deus... Especialmente, têm a missão de educá-los na fé cristã" (Ibid.,460).

A linguagem da fé aprende-se nos lares onde esta fé cresce e se fortalece através da oração e da prática cristã. Na leitura do Deuteronómio ouvimos a oração repetida constantemente pelo povo eleito, o Shma Israel, e que Jesus escutaria e repetiria em seu lar de Nazaré. Ele mesmo a recordaria durante a sua vida pública como nos refere o evangelho de Marcos (12, 29). Esta é a fé da Igreja que vem do amor de Deus, por meio das vossas famílias. Viver a integridade desta fé, na sua maravilhosa novidade, é um grande dom. Mas nos momentos em que parece que se oculta o rosto de Deus, é difícil crer e custa um grande esforço.

Este encontro dá novo alento para seguir anunciando o Evangelho da família, reafirmar a sua vigência e identidade apoiada no matrimónio aberto ao dom generoso da vida e onde se acompanham os filhos no seu crescimento corporal e espiritual. Deste modo, opõe-se um hedonismo muito difundido, que banaliza as relações humanas e as esvazia do seu genuíno valor e beleza. Promover os valores do matrimónio não impede de saborear plenamente a felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor mútuo. A fé e a ética cristã, portanto, não pretendem sufocar o amor mas fazê-lo mais são, forte e realmente livre. Para isso, o amor humano necessita de se purificar e amadurecer para ser plenamente humano e princípio de uma alegria verdadeira e duradoura (cf. Discurso em São Latrão, 5 de Junho de 2006).

Depois, exorto os governantes e os legisladores a reflectirem sobre o bem evidente que os lares em paz e harmonia garantem ao homem, à família, centro nevrálgico da sociedade, como recorda a Santa Sé na Carta dos Direitos da Família. O objecto das leis é o bem integral do homem, a resposta às suas necessidades e aspirações. Isto é uma notável ajuda para a sociedade, da qual não se pode privar e para os povos é uma salvaguarda e uma purificação. Além disso, a família é uma escola de humanização do homem, a fim de que cresça até se fazer verdadeiramente homem.

Neste sentido, a experiência de ser amado pelos pais leva os filhos a ter consciência da sua dignidade de filhos.

A criatura concebida tem de ser educada na fé, amada e protegida. Os filhos, com o fundamental direito a nascer e ser educados na fé, têm direito a um lar que tenha como modelo o de Nazaré e sejam preservados de todo o tipo de insídias e ameaças.

Como escutámos, sou o avô do mundo. Desejo referir-me agora aos avós, tão importantes nas famílias. Eles podem ser e muitas vezes são garantes do afecto e da ternura que todo o ser humano necessita de dar e receber. Eles dão às crianças a perspectiva do tempo, são memória e riqueza das famílias. Deus queira que, por nenhuma razão, sejam excluídos do círculo familiar. São um tesouro que não podemos arrebatar às novas gerações, sobretudo quando dão testemunho da fé diante da proximidade da morte.

Agora gostaria de recitar uma parte da oração que rezastes pedindo pelo bom fruto deste Encontro Mundial das Famílias:

Oh, Deus, que na Sagrada Família
nos deixastes um modelo perfeito de vida familiar
vivida na fé e na obediência da vossa vontade.
Ajudai-nos a ser exemplo de fé e amor dos vossos mandamentos.
Socorrei-nos na nossa missão de transmitir a fé aos nossos filhos.
Abri seu coração para que cresça neles
a semente da fé que receberam no baptismo.
Fortalecei a fé dos nossos jovens,
para que cresçam no conhecimento de Jesus.

Aumentai o amor e a fidelidade em todos os casais,
especialmente naqueles que passam por momentos de sofrimento ou dificuldade.
(...)
Unidos com José e Maria,
Pedimos-vos por Jesus Cristo vosso Filho, nosso Senhor.
Amém.



NA CERIMÓNIA DE DESPEDIDA Domingo, 9 de Julho de 2006

9706
Aeroporto Internacional de Valência-Manises




Majestades
Senhor Presidente do Governo e distintas Autoridades
Senhores Cardeais e Irmãos no Episcopado
Queridos irmãos e irmãs

1. Ao concluir a minha agradável estadia em Valência, por ocasião do V Encontro Mundial das Famílias, agradeço imensamente às Suas Majestades os Reis da Espanha, às Autoridades da Nação, da Generalitat, da Câmara Municipal e da Província, assim como ao Senhor Arcebispo e a todos vós, a amável hospitalidade que me oferecestes e as demonstrações de afecto em todos os momentos da minha visita a esta florescente terra levantina.

2. Espero que, com a ajuda do Altíssimo e a maternal protecção da Virgem Maria, esse Encontro continue a ressoar um canto jubiloso de amor, de vida e de fé compartilhada nas famílias, ajudando o mundo de hoje a compreender que a aliança matrimonial, na qual o homem e a mulher estabelecem um vínculo permanente, é um grande bem para toda a humanidade.

3. Obrigado pela vossa presença aqui. Viestes de todos os continentes do mundo, com não poucos sacrifícios que enfrentastes e oferecestes ao Senhor. Levo-vos no meu coração. Meus sentimentos unem-se à minha oração a fim de que o Todo-Poderoso vos abençoe hoje e sempre.



PALAVRAS DE REFLEXÃO NA PARÓQUIA DE RHÊMES-SAINT GEORGES Vale de Aosta, 23 de Julho de 2006

23706
Somente uma breve palavra de meditação sobre a leitura que acabamos de ouvir. Surpreende-nos, por detrás da dramática situação no Próximo Oriente, a beleza da visão ilustrada pelo Apóstolo Paulo (cf. Ef
Ep 2,13-18): Cristo é a nossa paz. Ele reconciliou uns aos outros, judeus e pagãos, unindo-os no seu Corpo. Ultrapassou a inimizade no seu Corpo, na Cruz. mediante a sua morte, Ele superou a inimizade e uniu todos nós na sua paz.

Porém, surpreende-nos ainda mais que a beleza desta visão, o contraste com a realidade que vivemos e vemos. E, num primeiro momento, não podemos senão dizer ao Senhor: "Mas Senhor, o que é que nos diz o vosso Apóstolo: "Estão reconciliados"?". Na realidade, nós vemos que não estão reconciliados... Ainda existe a guerra entre cristãos, muçulmanos e judeus; e há outros que fomentam a guerra e tudo ainda está repleto de inimizade e de violência. Onde está a eficácia do vosso sacrifício? Onde está, na história, aquela paz de que o vosso Apóstolo nos fala?

Nós, homens, não podemos resolver o mistério da história, o mistério da liberdade humana de dizer "não" à paz de Deus. Não podemos resolver todo o mistério do relacionamento Deus-homem, do seu agir e do nosso responder. Temos que aceitar o mistério. Todavia, existem elementos de resposta que o Senhor nos oferece. Um primeiro elemento esta reconciliação do Senhor, este seu sacrifício não permaneceu sem eficácia. Há a grande realidade da comunhão da Igreja universal, de todos os povos, a rede da Comunhão eucarística, que transcende as fronteiras de culturas, de civilizações, de povos e de tempos. Existe esta comunhão, existem estas "ilhas de paz" no Corpo de Cristo. Existem. E são forças de paz no mundo. Quando observamos a história, podemos ver os grandes Santos da caridade que criaram "oásis" desta paz de Deus no mundo, que acenderam sempre de novo a sua luz e também eram sempre de novo capazes de reconciliar e de criar a paz.

Há os mártires que sofreram com Cristo, que deram este testemunho da paz, do amor que impõe um limite à violência.

E vendo que a realidade da paz existe não obstante subsista a outra realidade podemos entrar mais profundamente na mensagem desta Carta de São Paulo aos Efésios. O Senhor venceu na Cruz.

Não venceu com um novo império, com uma força mais poderosa do que as outras, e capaz de aniquilá-las; não venceu de maneira humana, como nós imaginamos, com um império mais forte do que o outro. Ele venceu com um amor capaz de chegar até à morte. Este é o novo modo de Deus vencer: à violência Ele não opõe uma violência mais vigorosa. À violência opõe o contrário: o amor até ao fim, a sua Cruz. Esta é a forma humilde de Deus vencer: com o seu amor e somente assim é possível Ele põe um limite à violência. Trata-se de uma maneira de vencer que nos parece muito lenta, mas é o verdadeiro modo de vencer o mal, de derrotar a violência, e devemos confiar-nos a este modo divino de vencer.

Confiarmo-nos quer dizer entrarmos activamente neste amor divino, participarmos nesta obra de pacificação, para estarmos em sintonia com aquilo que o Senhor diz: "Bem-aventurados os pacificadores, os promotores da paz, porque são os filhos de Deus". Na medida da nossa capacidade, devemos levar o nosso amor a todos os sofredores, conscientes de que o Juiz do Juízo Final se identifica com as pessoas que sofrem. Por conseguinte, aquilo que realizamos pelos sofredores, fazemo-lo ao Juiz Último da nossa vida.

É isto que é importante: que neste momento possamos anunciar ao mundo esta sua vitória, participando de maneira activa na sua caridade. Hoje, num mundo multicultural e multirreligioso, muitos se sentem tentados a dizer: "É melhor para a paz no mundo entre as religiões e as culturas, não falar demasiado sobre as especificidades do Cristianismo, ou seja, de Jesus, da Igreja e dos Sacramentos. Contentemo-nos com coisas que possam ser mais ou menos comuns...". Mas não é verdade. Precisamente neste momento na hora de um grande abuso do nome de Deus precisamos do Deus que vence na Cruz, que não derrota com a violência, mas sim com o seu amor. É exactamente neste momento que temos necessidade do Rosto de Cristo, para conhecermos o autêntico Rosto de Deus e para transmitirmos, assim, reconciliação e luz a este mundo. Por isso, juntamente com o amor, com a mensagem do amor, com tudo quanto podemos fazer pelos sofredores neste mundo, temos que oferecer também o testemunho deste Deus, da vitória de Deus, precisamente mediante a não-violência da sua Cruz.

Assim, voltamos ao ponto de partida. O que podemos realizar é dar o testemunho do amor, o testemunho da fé; é sobretudo elevar um clamor a Deus: podemos rezar! Estamos certos de que o nosso Pai ouve o brado dos seus filhos. Na Missa, preparando-nos para a Sagrada Comunhão, para receber o Corpo de Cristo que nos une, oremos com a Igreja: "Livrai-nos, ó Senhor, de todos os males e dai-nos hoje a vossa paz". Seja esta a prece no momento presente: "Livrai-nos de todos os males e dai-nos hoje a vossa paz". Não amanhã ou depois de amanhã: Senhor, dai-nos hoje a vossa paz!

Amém.



PAPA BENTO XVI

ANGELUS Castel Gandolfo, 30 de Julho de 2006

30706
Queridos irmãos e irmãs

Há dois dias, ao terminar a minha estadia no Vale de Aosta, vim directamente para Castel Gandolfo, onde permanecerei até ao fim do Verão, com uma breve interrupção em Setembro, para a Viagem Apostólica à Baviera. Em primeiro lugar, desejo dirigir a minha carinhosa saudação à comunidade eclesial e civil desta bonita cidadezinha, aonde venho sempre de muito bom grado.

Agradeço cordialmente ao Bispo de Albano, ao Pároco e aos Sacerdotes, assim como ao Presidente da Câmara, à Administração Municipal e às outras Autoridades civis. Dirijo um pensamento especial à Direcção e aos Funcionários das Vilas Pontifícias, assim como às Forças da Ordem, a quem agradeço o precioso serviço. Além disso, saúdo os numerosos peregrinos que, com a sua calorosa presença contribuem para fazer ressaltar, também no ambiente mais familiar da residência de Verão, o horizonte eclesial universal deste nosso encontro para a oração mariana.

Neste momento, não posso deixar de pensar na situação, cada vez mais grave e trágica, que se está a viver no Médio Oriente: centenas de mortos, numerosíssimos feridos, uma enorme multidão de desalojados e de refugiados, casas, cidades e infra-estruturas destruídas, enquanto nos corações de muitos parecem aumentar o ódio e o desejo de vingança. Estes factos demonstram claramente que não se pode restabelecer a justiça, criar uma nova ordem e instaurar uma paz autêntica, quando se recorre ao instrumento da violência. Mais do que nunca, vemos como a voz da Igreja é profética e ao mesmo tempo realista quando, diante das guerras e dos conflitos de todos os tipos, mostra o caminho da verdade, da justiça, do amor e da liberdade, como se indica na Encíclica imortal Pacem in terris, do Beato Papa João XXIII. Também hoje, a humanidade deve percorrer este caminho para alcançar o almejado bem da paz genuína.

Em nome de Deus, dirijo-me a todos os responsáveis desta espiral de violência, para que todas as partes abandonem as armas imediatamente! Aos Governantes e às Instituições internacionais, peço que não poupem qualquer esforço para alcançar este fim necessário das hostilidades, para assim poder começar a construir, através do diálogo, uma convivência duradoura e estável entre todos os povos do Médio Oriente. Aos homens de boa vontade, peço que continuem a intensificar o envio das ajudas humanitárias àquelas populações tão provadas e necessitadas. Mas sobretudo, que continue a elevar-se de todos os corações a oração confiante a Deus, bom e misericordioso, a fim de que conceda a sua paz àquela região e ao mundo inteiro. Confiemos esta súplica urgente à intercessão de Maria, Mãe do Príncipe da Paz e Rainha da Paz, tão venerada nos países do Médio Oriente, onde em breve esperamos ver reinar a reconciliação pela qual o Senhor Jesus ofereceu o seu Sangue precioso.


***

Depois do Angelus

Saúdo-vos cordialmente, amados amigos francófonos, que viestes para participar na recitação do Angelus. Com a intercessão da Virgem Maria possa Cristo, que se fez nosso alimento, incutir no coração de todos os homens desejos de paz e de concórdia fraterna. Peçamos-lhe insistentemente que conceda o dom da paz a todas as pessoas que vivem na terra em que Ele mesmo viveu e em toda a região do Médio Oriente.

Que o Senhor vos abençoe, assim como as vossas famílias.

É-me grato saudar os peregrinos e visitantes anglófonos, presentes neste Angelus dominical, especialmente o grupo dos jovens da Movimento "Regnum Christi". No Evangelho de hoje, vemos que Jesus alimenta as multidões que têm fome. Com o mesmo amor generoso, Ele continua a oferecer-nos diariamente o Pão da Vida. Que a Eucaristia nos sustente sempre no nosso amor a Deus e abra o nosso coração ao próximo, de modo especial às pessoas que estão em necessidade.

Desejo um abençoado domingo a todos vós!

Saúdo com afecto os peregrinos de língua italiana, recordando que nos próximos dias celebraremos a memória de alguns grandes Santos: amanhã, Santo Inácio de Loyola, Fundador dos Jesuítas; 2 de Agosto, Santo Afonso Maria de Ligório, Fundador dos Redentoristas; e 4 de Agosto, São João Maria Vianney, Cura d'Ars, Padroeiro dos Párocos. O exemplo e a intercessão destas testemunhas luminosas nos ajudem a progredir ao longo do caminho da santidade.

257 Desejo um bom domingo a todos!



                                                             Agosto 2006


Discursos Bento XVI 248