Discursos Bento XVI 291

AOS DIPLOMATAS DE PAÍSES

MUÇULMANOS ACREDITADOS JUNTO À SANTA SÉ E EXPOENTES DE COMUNIDADES MUÇULMANAS NA ITÁLIA Castel Gandolfo, 25 de Setembro de 2006


Senhor Cardeal
Senhoras e Senhores Embaixadores
Queridos amigos muçulmanos!


Sinto-me feliz por vos receber neste encontro que desejei para consolidar os vínculos de amizade e de solidariedade entre a Santa Sé e as comunidades muçulmanas do mundo. Agradeço ao Senhor Cardeal Paul Poupard, Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, as palavras que acaba de me dirigir, assim como a todos vós, que correspondestes ao meu convite.

As circunstâncias que suscitaram o nosso encontro são bem conhecidas. Já tive a ocasião de falar sobre isso durante a semana passada. Neste contexto particular, desejaria hoje reafirmar toda a estima e o respeito profundo que sinto pelos crentes muçulmanos, recordando os propósitos do Concílio Vaticano II que constitui para a Igreja Católica a Magna Charta do diálogo islâmico-cristão: "A Igreja olha também com estima para os Muçulmanos que adoram o Deus único, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens e a cujos desígnios ocultos eles procuram com toda a alma submeter-se, assim como a Deus se submeteu Abraão, cujo nome a fé Islâmica com agrado pronuncia" (Declaração Nostra aetate NAE 3).

Colocando-me decididamente nesta perspectiva, desde o início do meu pontificado, tive a ocasião de expressar os meus votos de continuar a estabelecer pontes de amizade com os seguidores de todas as religiões, manifestando particularmente o meu apreço pelo crescimento do diálogo entre muçulmanos e cristãos (cf. Discurso aos representantes das Igrejas e Comunidades cristãs, e às outras tradições religiosas, 25 de Abril de 2005). Como ressaltei em Colónia, no ano passado, "o diálogo inter-religioso e intercultural entre os cristãos e os muçulmanos não pode reduzir-se a uma opção ocasional. Com efeito, ela constitui uma necessidade vital, da qual depende em boa parte o nosso próprio futuro" (Discurso aos representantes de Comunidades muçulmanas, 20 de Agosto de 2005). Num mundo marcado pelo relativismo que, com muita frequência, exclui a transcendência da universalidade da razão, nós temos imperativamente a necessidade de um diálogo autêntico entre as religiões e entre as culturas, capaz de nos ajudar a superar juntos todas as tensões, num espírito de colaboração frutuosa. Prosseguindo a obra empreendida pelo meu predecessor, o Papa João Paulo II, desejo portanto profundamente que as relações confiantes que se desenvolveram entre cristãos e muçulmanos desde há muitos anos, não só prossigam, mas se desenvolvam num espírito de diálogo sincero e respeitoso, fundado sobre um conhecimento recíproco cada vez mais verdadeiro que, com alegria, reconheça os valores religiosos que temos em comum e que, com lealdade, respeite as diferenças.

292 O diálogo inter-religioso e intercultural é uma necessidade para construir juntos o mundo de paz e de fraternidade ardentemente desejado por todos os homens de boa vontade. Neste campo, os nossos contemporâneos esperam de nós um testemunho eloquente a fim de mostrar a todos o valor da dimensão religiosa da existência. Desta forma, fiéis aos ensinamentos das suas próprias tradições religiosas, cristãos e muçulmanos devem aprender a trabalhar juntos, como já se verifica em diversas experiências comuns, para evitar qualquer forma de intolerância e se opor a todas as manifestações de violência; e nós, Autoridades religiosas e Responsáveis políticos, devemos guiá-los e encorajá-los neste sentido. De facto, "embora ao longo dos séculos não poucas dissenções e inimizades tenham surgido entre Cristãos e Muçulmanos, o Santo Concílio exorta a todos a que, esquecendo o passado, pratiquem sinceramente a mútua compreensão, defendam e promovam em comum a justiça social, os bens morais, a paz e a liberdade para todos os homens" (Declaração Nostra aetate NAE 3). Por conseguinte, as lições do passado devem ajudar-nos a procurar caminhos de reconciliação, a fim de viver no respeito da identidade e da liberdade de cada um, em vista de uma colaboração frutuosa ao serviço de toda a humanidade. Como declarou o Papa João Paulo II no seu discurso memorável aos jovens, em Casablanca, Marrocos, "o respeito e o diálogo exigem a reciprocidade em todos os âmbitos, sobretudo no que diz respeito às liberdades fundamentais e sobretudo à liberdade religiosa. Eles favorecem a paz e o entendimento entre os povos" (n. 5).

Queridos amigos, estou profundamente convencido de que, na situação que o mundo de hoje vive, é imperativo que cristãos e muçulmanos se comprometam juntos para enfrentar os numerosos desafios que se apresentam à humanidade, sobretudo no que se refere à defesa e à promoção da dignidade do ser humano, assim como dos direitos que dela derivam. Quando aumentam as ameaças contra o homem e contra a paz, reconhecendo o carácter central da pessoa e, trabalhando com perseverança para que a sua vida seja sempre respeitada, cristãos e muçulmanos manifestem a sua obediência ao Criador, o qual deseja que todos vivam na dignidade que Ele lhes concedeu.

Queridos amigos, desejo de coração que Deus misericordioso guie os nossos passos pelos caminhos de uma compreensão recíproca cada vez mais verdadeira. No momento em que começa para os muçulmanos a preparação espiritual do mês do Ramadão, dirijo a todos os meus votos cordiais, para que o Todo-Poderoso lhes proporcione uma vida serena e pacífica. O Deus da paz vos conceda a abundância das suas Bênção, assim como às comunidades que representais!




AO SENHOR HANS-HENNING HORSTMANN NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006


Senhor Embaixador!

Aproveito de bom grado a ocasião da apresentação das Cartas que hoje o acreditam oficialmente como Embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Federal da Alemanha junto da Santa Sé para lhe dar as boas-vindas e, congratulando-me pela sua nomeação, lhe transmitir os meus melhores votos pela sua nova alta missão. Agradeço-lhe as palavras cordiais que me dirigiu em nome do Presidente Federal, Sr. Horst Köhler e do Governo Federal Alemão. Por meu lado, envio ao Presidente da República Federal, aos Membros do Governo Federal e a todo o povo alemão as minhas saudações. Que as boas relações entre a República Federal da Alemanha, a minha amada pátria, e a Santa Sé se tornem nos próximos anos ainda mais fecundas para o bem do homem!

Nos dias passados pude reflectir com gratidão sobre a minha visita pastoral à Baviera, que teve como tema "Quem acredita nunca está sozinho!".Quis unir a recordação de pessoas e de lugares aos quais me sinto ligado por motivos biográficos, com encontros na comunidade de fé. Pude anunciar às numerosas pessoas que participaram na Santa Missa, a mensagem de amor libertador e salvífico de Deus. Nesta ocasião desejo mais uma vez agradecer às autoridades estatais da Federação e do Estado Livre da Baviera assim como aos numerosos voluntários o grande apoio oferecido, mediante o qual contribuíram para a realização da minha viagem apostólica. As mensagens que nos últimos dias recebi dos participantes nas Missas na Baviera e também dos telespectadores da Alemanha e de outros países demonstram que naqueles dias houve comunhão autêntica. Considero que tudo isto tenha também uma importância social: onde a sociedade cresce e as pessoas se fortalecem no bem graças à mensagem da fé, também beneficia a convivência social e os cidadãos incrementam a própria disponibilidade para assumir responsabilidades em benefício do bem comum.

Senhor Embaixador! A missão da Santa Sé é universal. A atenção e a solicitude do Papa e dos seus colaboradores na Cúria Romana referem-se, na medida do possível, a todos os homens e a todos os povos. Naturalmente a Santa Sé dirige-se em primeiro lugar aos cristãos nos diversos Países da Terra, mas atribui grande significado ao bem de todos os homens independentemente da sua cultura, língua e pertença religiosa. Por conseguinte, a Santa Sé procura colaborar com todos os homens de boa vontade ao serviço da dignidade, da integridade e da liberdade do homem. A Igreja Católica preocupa-se pela sua salvação. Por isso, o indivíduo e as comunidades, às quais ele pertence e nas quais vive, estão no centro das actividades da Santa Sé. A sua acção, também no cenário internacional, demonstra que a Igreja defende o homem, aqui na Europa e em todas as partes do mundo. De facto, a Igreja partilha "as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem" (Concílio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes GS 3). Contudo a Igreja não se impõe. Ela não obriga pessoa alguma a acolher a mensagem do Evangelho. De facto, a fé em Jesus Cristo anunciada pela Igreja só pode existir na liberdade. Por conseguinte, a tolerância e a abertura cultural devem caracterizar o encontro com o próximo. Mas a tolerância nunca deve ser confundida com o indiferentismo. Pois qualquer forma de indiferença é radicalmente contrária ao profundo interesse cristão pelo homem e pela sua salvação. A tolerância autêntica pressupõe sempre também o respeito do outro, do homem, da criatura de Deus cuja existência Deus quis. A tolerância, da qual o nosso mundo tem necessidade, recordei isto também em München, inclui "o temor de Deus, o respeito por aquilo que para outros é sagrado. Portanto, este respeito por aquilo que os outros consideram sagrado pressupõe que nós mesmos aprendamos de novo o temor de Deus. Este sentido de respeito só pode ser regenerado no mundo ocidental se crescer de novo a fé em Deus" (Homilia, 10 de Setembro, München).

Senhor Embaixador! No seu discurso realçou justamente as relações eclesiais existentes entre a República Federal da Alemanha e a Santa Sé e a feliz cooperação destes dois Estados nalguns sectores. Nestas boas relações reflecte-se certamente também a sólida relação entre Estado e Igreja na Alemanha. Em ocasiões precedentes foi várias vezes indicada a boa cooperação das duas instituições em diversos âmbitos para o bem do homem na nossa pátria. É desejável que esta provada colaboração entre Igreja e Estado na Alemanha possa prosseguir e desenvolver-se também nas premissas variáveis a nível europeu.

Como em cada nação, também na Alemanha, a relação entre Estado e Igreja está estreitamente ligada à legislação. Por isso a Santa Sé segue com grande interesse os desenvolvimentos e as tendências na Federação e em cada um dos Länder. Desejo agora ressaltar apenas alguns âmbitos considerados importantes pela Igreja Católica que, como já disse, se preocupa antes de tudo pelo homem e pela sua salvação. Em primeiro lugar cito a Tutela do matrimónio e da família que é reconhecida pela Lei Fundamental, mas que está ameaçada, por um lado, pela mudança de interpretação da comunhão matrimonial que se verifica na opinião pública e, por outro, por novas formas previstas pelo legislador, que se afastam das da família natural. A interrupção da gravidez, absolutamente injustificável, que custa a vida como sempre aconteceu, de numerosas crianças inocentes, permanece uma preocupação dolorosa para a Santa Sé e para toda a Igreja. Talvez o actual debate dos responsáveis políticos sobre a interrupção da gravidez em estado avançado pode fortificar a consciência do facto de que a deficiência diagnóstica da criança não pode ser um motivo para abortar porque também a vida com deficiência é querida e apreciada por Deus e que nesta terra ninguém pode ter a certeza de viver sem limites físicos ou espirituais. Por conseguinte, a Igreja jamais se cansará de indicar às instituições europeias competentes e a cada uma das nações os problemas éticos ínsitos no contexto da pesquisa sobre as células estaminais embrionárias e das chamadas "terapias inovativas".

Senhor Embaixador, a Alemanha ofereceu uma nova pátria e um abrigo a refugiados e a muitas pessoas que nos próprios Países de origem estão ameaçadas de perseguição por motivos quer políticos quer religiosos. A rede de ajuda e de solidariedade, que inclui também estrangeiros necessitados, representa de facto uma ordem social humana. A capacidade desta rede depende das contribuições de todos. Por conseguinte é desejável que o refúgio seja garantido segundo a intenção do legislador, em conformidade com as directrizes justas e segundo o princípio de justiça. É necessário ter presente que para grande número de refugiados encontrar abrigo na Alemanha é vital. A este propósito a Santa Sé pede às instituições estatais competentes para não afastar os cristãos estrangeiros cuja vida e bem-estar estão ameaçados por causa da própria fé e que lhes facilitem a integração na Alemanha.

293 Com razão a Alemanha sente-se orgulhosa da sua grande tradição cultural. A transmissão de cultura às gerações sucessivas é uma das tarefas importantes do Estado. Contudo, o saber deve estar unido com os valores para que a formação seja autêntica. Na maior parte dos Länder alemães o Estado partilha este grande desafio com a Igreja, que está presente nas escolas através da lição de religião, como "matéria habitual de ensino". Em muitos lugares os estudantes que não pertencem a profissão religiosa alguma, seguem uma lição de ética "neutra sob o ponto de vista religioso". Esta lição de ética não pode e não deve em nenhum caso ser "neutra sob o ponto de vista dos valores". Deve permitir que os estudantes familiarizem com a grande tradição do espírito ocidental que plasmou a História e a cultura da Europa e as continua a inspirar.

A Igreja considera importante que esta lição de ética seja dada juntamente com a da religião confessional, mas absolutamente sem a substituir.

Senhor Embaixador, a Alemanha é um País aberto ao mundo. A nossa pátria possui hoje o seu lugar firme e reconhecido na comunidade dos Estados e dos povos europeus. Além disso, a Alemanha, além das questões de interesse nacional, não se esquece dos muitos problemas de numerosos Países pobres noutras partes do mundo. Também as obras de ajuda eclesiais internacionais da Igreja Católica, que têm sede na Alemanha, podem contar com a generosidade autêntica da população. Em numerosas questões humanitárias e internacionais, relativas aos direitos do homem, a Santa Sé pode contar com uma colaboração baseada na confiança por parte do Governo federal alemão. Por todos estes motivos eu e a Igreja estamos sinceramente gratos. Com a sua longa experiência diplomática ao serviço da República Federal da Alemanha Vossa Excelência, Senhor Embaixador, pode fazer com que esta colaboração seja sempre sólida e esteja ao serviço do homem. Imploro de coração sobre Vossa Excelência, a sua família e todos os membros da Embaixada a protecção constante de Deus e as suas abundantes bênçãos.


AO SENHOR RROK LOGU NOVO EMBAIXADOR DA ALBÂNIA JUNTO DA SANTA SÉ Sexta-feira, 29 de Setembro de 2006



Senhor Embaixador

Ao dar-lhe as boas-vindas no início da sua missão, agradeço-lhe as gentis expressões que me dirigiu e os sentimentos de estima profunda que me quis manifestar em relação à Santa Sé. Peço-lhe que comunique ao Senhor Presidente da República que retribuo cordialmente as suas saudações, fazendo o meu pensamento extensivo a todo o Povo albanês, cuja aspiração pela verdade e liberdade, como Vossa Excelência observou oportunamente, não foi cancelada nem sequer pela longa e pesada ditadura comunista, da qual saiu há poucos anos. Para crescer num clima de autêntica liberdade é necessário um contexto ético-espiritual adequado, fundado numa concepção do homem e do mundo que reflicta a sua natureza e vocação. A Europa, com o seu riquíssimo património de ideias e instituições, constituiu certamente ao longo destes milénios um privilegiado laboratório de civilização, mesmo se à custa de grandes e numerosos sacrifícios.

Quantas guerras! Inclusive as do século passado, que assumiram proporções mundiais. A Albânia aspira a integrar-se também institucionalmente com as nações europeias, sentindo-se já ligada a elas não só por motivos geográficos, mas sobretudo por razões histórico-culturais. Não posso deixar de desejar que tal aspiração encontre uma válida e plena realização, e que o processo harmonioso de unificação da Europa possa oferecer um contributo peculiar.

Senhor Embaixador, apreciei muito que Vossa Excelência tenha ressaltado, seja olhando para o passado como para o presente, como foram importantes a presença e a obra da Igreja Católica na Albânia, para a promoção da fé e dos valores espirituais assim como para o apoio a numerosas situações de necessidade. A este propósito gostaria de recordar Madre Teresa, proclamada Beata em 2003 pelo meu venerado predecessor João Paulo II. Com o testemunho de uma vida evangélica e com a coragem desarmante dos seus gestos, das suas palavras e dos seus escritos, esta filha eleita da Albânia anunciou a todos que Deus é amor e que ama cada homem, especialmente quem é pobre e abandonado. Na realidade, é precisamente o amor a verdadeira força revolucionária que muda o mundo e o faz progredir para o seu cumprimento; a Igreja pretende dar testemunho deste amor com as suas obras educativas e assistenciais, abertas não só aos católicos mas a todos. Foi este o estilo que Jesus Cristo ensinou: isto é, o bem deve ser feito em si mesmo e não para outros fins. Ao ressaltar este compromisso da Igreja na prática do amor evangélico, desejo recordar que uma forma eminente de caridade é a actividade política vivida como serviço à polis, à "administração pública", na óptica do bem comum.

Os católicos, especialmente os fiéis leigos, sentem-se chamados a desempenhar este serviço, no respeito pela autonomia legítima da política e colaborando com os outros cidadãos para a construção de uma nação próspera, fraterna e solidária. São numerosos os desafios que a Albânia deve enfrentar neste momento. Gostaria de mencionar, entre outros problemas, o da emigração de muitos dos seus filhos. Se por um lado é necessário combater as causas deste fenómeno, é necessário também criar as condições para que quantos o desejarem possam regressar à pátria. Apraz-me prestar aqui homenagem aos albaneses que, fiéis aos melhores valores da sua tradição, se sabem fazer apreciar na Itália, na Europa e noutros Países do mundo.

No que diz respeito às relações oficiais entre a Igreja Católica e o Estado, expresso o apreço pela normativa à qual Vossa Excelência fez referência aprovada a fim de tornar executivo o Acordo de 2002 entre a Santa Sé e a República da Albânia, e faço votos por que se verifiquem os oportunos entendimentos que regulem também os aspectos económicos que assumem não pouca importância.

A Santa Sé deseja contribuir desta forma para a consolidação na Albânia do estado de direito e do necessário quadro jurídico para a prática real dos direitos dos cidadãos no âmbito religioso. Além disso, isto favorecerá a convivência entre as diversas Confissões religiosas presentes no País, que até agora souberam oferecer um exemplo de respeito e colaboração recíprocos, que devem ser preservados e promovidos.

294 Senhor Embaixador, formulo os melhores votos para uma missão serena e proveitosa, garantindo-lhe a cordial colaboração de quantos trabalham nos vários Departamentos da Sé Apostólica. Apraz-me reafirmar, no final destas reflexões, os votos que o Servo de Deus João Paulo II dirigiu ao amado Povo albanês durante a histórica visita de 25 de Abril de 1993, isto é, "prosseguir unidos e firmes no caminho que conduz à plena liberdade, no respeito por todos e seguindo os passos que já vos são familiares da convivência pacífica, da colaboração aberta e do entendimento entre os diversos componentes étnicos, culturais e espirituais" (Cf. Discurso na cerimónia de boas-vindas, n. 3: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, XVI, 1 [1993], 1003). Neste caminho a Albânia poderá contar com o apoio da Igreja Católica e, sobretudo, da Santa Sé. Garanto isto assim como a minha recordação na oração, enquanto invoco as celestes bênçãos sobre Vossa Excelência, a sua família, o Presidente da República e todo o Povo albanês.




AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO MALÁVI EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM » Quinta-feira, 28 de Setembro de 2006



Amados Irmãos Bispos

É-me grato dar-vos as boas-vindas hoje aqui, Bispos do Malávi, por ocasião da vossa visita ad limina Apostolorum, e agradeço-vos as amáveis palavras que me foram dirigidas no vosso nome pelo Arcebispo D. Tarcisius Ziyaye, Presidente da vossa Conferência Episcopal. A vosa visita exprime os profundos vínculos de comunhão e de afecto que unem as vossas Igrejas locais, na África Oriental, à Sé de Roma. Simão Pedro foi exortado a fortalecer os seus irmãos (cf. Lc 22,32) e a alimentar o rebanho do Senhor (cf. Jn 21,17), mas também vós fostes escolhidos como líderes e pastores do vosso povo, para o ensinar, santificar e governar em nome do Senhor. Ao venerardes os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, rezo a fim de que, através da sua intercessão, sejais revigorados e alimentados no vosso ministério no meio da população do Malávi, e assim continueis a proclamar impavidamente o Evangelho de Jesus Cristo, que "veio para que tenham vida, e a tenham em abundância" (Jn 10,10).

A exuberância com que os povos da África louvam a Deus nos seus cultos litúrgicos é mundialmente conhecida, e a Igreja no Malávi não constitui uma excepção. A sua celebração jubilosa manifesta a grande vitalidade das vossas comunidades eclesiais, enquanto reflecte a predominância dos jovens na vossa população. Continuai a orientá-las com autêntica atenção paterna, em vista de uma maior compreensão do seu Senhor crucificado e ressuscitado, oferecendo-lhes sempre uma sólida catequese na fé. Tendo em vista esta finalidade, é importante que os professores e os catequistas recebam uma boa preparação para a sua nobre missão, uma vez que, como sabeis, eles desempenham um papel vital quando se trata de ajudar o Bispo a assumir a sua responsabilidade, como aquele que ensina com a autoridade de Cristo. Por conseguinte, eles deveriam ser bem formados na fé e capazes de comunicar tanto a alegria como o desafio de seguir Cristo. Formulo votos a fim de que a recém-inaugurada Universidade Católica do Malávi possa oferecer uma contribuição significativa neste campo, e encorajo-vos a fazer tudo o que estiver ao vosso alcance, em vista de a enriquecer com recursos suficientes e de manter elevado o nível do ensino, em fidelidade ao magistério da Igreja.

Num mundo dominado por valores seculares e materialistas, pode ser difícil seguir um estilo de vida contracultural, tão necessário no sacerdócio e na vida religiosa. Os clérigos no vosso país, assim como as pessoas que eles servem pastoralmente, às vezes encontram-se em situações de carência, necessitadas dos meios de subsistência para a sua "honesta sustentação... para o exercício de obras de caridade e apostolado" (Presbyterorum ordinis PO 17). Estou convicto de que fareis tudo o que estiver ao vosso alcance para suprir às necessidades legítimas dos vossos colaboradores enquanto, ao mesmo tempo, não deixareis de os admoestar contra a preocupação excessiva pelas posses materiais. Ajudai o vosso clero a não cair na armadilha de considerar o sacerdócio um meio de progresso social, recordando-lhes que "a única ascensão no ministério pastoral é a Cruz" (Homilia de Ordenação, 7 de Maio de 2006). Os encarregados pela formação nos seminários têm necessidade de ensinar aos estudantes que o sacerdote está chamado a viver para os outros, e não para si mesmo, à imitação de Cristo, que "não veio para ser serviço, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos" (Mc 10,45). Sobretudo o exemplo oferecido pelo Bispo, de um ministério verdadeiramente centrado em Cristo, pode servir de inspiração para os seus presbíteros.

Meus queridos Irmãos Bispos, vivei como autênticos seguidores de Cristo e permiti assim que o vosso discipulado constitua o fundamento da autoridade que vós mesmos exerceis. Rezo a fim de que, deste modo, consigais fortalecer os laços de caridade fraterna no seio do presbyterium de cada uma das vossas Igrejas locais.

Alegro-me por observar que vós continuais a exercer o vosso múnus magisterial, comentando questões de interesse social. Com efeito, a vossa Carta Pastoral do Pentecostes, intitulada Renewing Our Lives and Society with the Power of the Holy Spirit, que publicastes no início do corrente ano, chamou a atenção para alguns dos males sociais e morais que estão a atingir o país. A segurança alimentar está ameaçada não apenas pela seca, mas também por uma ineficaz e injusta gestão da agricultura; a propagação da Sida tem aumentado devido ao facto de as pessoas não permanecerem fiéis a um só companheiro/a no matrimónio e não praticarem a abstinência; os direitos das mulheres, das crianças e dos nascituros são cinicamente violados pelo tráfico humano, pela violência doméstica e pelas pessoas que defendem o aborto. Jamais cesseis de proclamar a verdade, insistindo sobre ela "oportuna e inoportunamente" (2 Tm 4, 2), pois "a verdade libertar-vos-á" (Jn 8,32). O Bom Pastor, que nunca abandona o seu rebanho, vela sobre as suas ovelhas e protege-as sempre. Seguindo este exemplo, continuai a afastar o vosso povo dos perigos que o ameaçam e guiai-o rumo a pastagens seguras. Rezo para que a população preste atenção aos vossos conselhos, de tal modo que a face da terra consiga ser transformada (cf. Sl Ps 104,30) e o Espírito de Deus possa verdadeiramente conservar a unidade da vossa nação no vínculo da paz (cf. Ef Ep 4,3).

Ao concluir as observações que vos quis dirigir no dia de hoje, desejo recordar-vos a imagem dos Apóstolos congregados no Cenáculo com Maria, Mãe do Senhor, em oração pela vinda do Espírito Santo, a mesma cena que vós descreveis de maneira tão maravilhosa no parágrafo conclusivo da vossa recente Carta Pastoral. Nesse documento, vós animais o vosso povo a reunir-se para rezar, no seio das suas respectivas famílias e nas pequenas comunidades cristãs. Sei que também vós continuareis a rezar unidos, em comunhão com o clero e os leigos, pelos dons do Espírito à Igreja no vosso país. O Espírito é a energia "que transforma o coração da comunidade eclesial para ser, no mundo, testemunha do amor do Pai, que quer fazer da humanidade uma única família, em seu Filho" (Deus caritas est ). Também eu oro para que o Espírito possa ser derramado abundantemente sobre todos vós, e enquanto confio cada um de vós e o vosso clero, os religiosos, as religiosas e os fiéis leigos à intercessão de Maria, Mãe da Igreja, concedo-vos de todo o coração a minha Bênção Apostólica como penhor da graça e da fortaleza em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.




ÀS COMUNIDADES DE CASTEL GANDOLFO Sábado, 30 de Setembro de 2006

Queridos irmãos e irmãs

295 Está a terminar a minha estadia na residência de Verão de Castel Gandolfo mas, antes de regressar ao Vaticano, desejo agradecer cordialmente a quantos contribuíram de várias maneiras para tornar profícua e serena a minha permanência. Por conseguinte, é com alegria que hoje encontro todos vós e a cada um apresento a minha grata saudação. Antes de mais, saúdo o Bispo de Albano, D. Marcello Semeraro, agradecendo-lhe a atenção que me dedica sempre. Saúdo o Pároco de Castel Gandolfo e a Comunidade paroquial. Dirijo uma afectuosa saudação aos Jesuítas do Observatório Vaticano e às Comunidades religiosas e laicais, masculinas e femininas, presentes em Castel Gandolfo. Nestes meses senti a vossa proximidade espiritual e agradeço-vos de coração, desejando a todos vós que correspondais com renovada generosidade à chamada de Deus, destinando as próprias energias ao serviço do Evangelho.

Depois, o meu deferente pensamento vai ao Senhor Presidente da Câmara Municipal, à Administração e à Câmara Municipal. Por intermédio dele desejo estender a minha saudação a toda a população de Castel Gandolfo, que de muitos modos me mostra a sua atenção, e a quantos transcorrem os meses de Verão junto comigo. Além disso, são muito conhecidas a cortesia e a hospitalidade dos Castelanos para com os numerosos peregrinos e visitantes que vêm visitar o Papa, especialmente no encontro dominical do Angelus.

Dirijo com agradecido apreço uma afectuosa saudação ao pessoal médico e aos agentes dos vários Serviços do Governatorato que, certamente com não poucos sacrifícios, garantiram a sua presença e os seus competentes serviços. Com estima saúdo os funcionários e os agentes das Forças da Ordem italianas que, colaborando validamente com a Gendarmaria Vaticana e a Guarda Suíça Pontifícia, puderam garantir uma tranquila e segura permanência a mim e aos meus colaboradores, assim como um ordenado acesso dos visitantes e dos peregrinos ao Palácio Apostólico. E não posso esquecer os oficiais e os soldados da aviação do 31º Esquadrão da Aeronáutica Militar, que gentilmente garantem os meus deslocamentos de helicóptero. A todos e a cada um vai o agradecimento mais sincero, que confirmo com a garantia de uma lembrança constante na oração por cada um de vós, queridos amigos, pelos vossos familiares e pelas pessoas a vós queridas.

Neste dia de sábado, dedicado a Nossa Senhora, invoco sobre cada um a sua materna protecção, enquanto vos agradeço mais uma vez a vossa oração, formulando para todos, pelo vosso trabalho e projectos, sinceros votos de todo o bem desejado. Com esses votos, de coração concedo a Bênção Apostólica, penhor de abundantes favores celestiais, a vós e às pessoas que vos são queridas.




AOS FUNCIONÁRIOS DAS VILAS PONTIFÍCIAS Sábado, 30 de Setembro de 2006


Queridos irmãos e irmãs

Também este ano chega ao fim a minha estadia de Verão em Castel Gandolfo. Dou graças ao Senhor por ter podido transcorrer esses meses, em serena distensão, numa localidade tão agradável dos Castelos Romanos. A minha gratidão estende-se a cada um de vós que, de certo modo, fazeis parte da "família" do Papa quando ele mora aqui. Dia após dia pude apreciar a vossa dedicação e generosidade. Por isso agradeço-vos, enquanto vos saúdo com afecto. Em primeiro lugar, saúdo o Dr. Saverio Petrillo, Director-Geral das Vilas Pontifícias, sempre atencioso e zeloso.

A ele vai a minha sincera gratidão também pelas gentis palavras que quis dirigir-me em vosso nome. Depois, estendo o meu grato pensamento a quantos prestam a própria colaboração, de várias formas, nas Vilas Pontifícias e peço a Deus que vos recompense, queridos amigos, pelo empenho e pela fidelidade com que desempenhais as tarefas que vos são confiadas. De bom grado uno à minha lembrança as vossas famílias e os que vos são queridos.

Da minha parte, garanto que não deixarei de rezar por cada um de vós e por todas as vossas intenções e peço-vos para que vos recordeis de mim nas vossas orações. O Senhor, rico de bondade e de misericórdia, que nunca deixa faltar a sua ajuda a quem confia nele, seja sempre o vosso firme apoio. Sobre vós vele com materna protecção a Virgem Maria, que no mês de Outubro invocaremos de modo especial com a recitação do santo Rosário. Que Ela vos acompanhe, a vós e as vossas famílias, em todos os momentos. Com esses sentimentos, abençoo-vos de modo afectuoso, juntamente com os vossos familiares e todas as pessoas que vos são queridas.




AOS FIÉIS DAS DIOCESES DA ROMAGNA (ITÁLIA) Sábado, 7 de Outubro de 2006

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Estimados peregrinos da Romagna


É-me grato dar-vos as minhas mais cordiais boas-vindas. Saúdo todos com carinho, a começar por D. Giuseppe Verucchi, Arcebispo de Ravena-Cérvia, a quem agradeço as amáveis palavras que me dirigiu em vosso nome. Juntamente com ele, saúdo os Bispos de Faenza-Modigliana, de Forli-Bertinoro, de Ímola, de Cesena-Sarsina e de Rímini, bem como o Arcebispo Emérito de Ravena-Cérvia, D. Luigi Amaducci. Dirijo uma particular e deferente saudação aos queridos Cardeais Ersilio Tonini e Pio Laghi, que quiseram unir-se a este nosso encontro, um dos "momentos fortes" da vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos.

Além disso, dirijo o meu pensamento afectuoso não só a vós aqui presentes, mas também a quantos nas vossas Dioceses estão espiritualmente unidos a nós, com uma lembrança especial para as crianças, os jovens, as famílias, as pessoas sozinhas e quantos vivem momentos difíceis. Asseguro a cada um a minha proximidade espiritual na oração.

Prezados irmãos e irmãs, hoje viestes particularmente numerosos, para recordar com gratidão a visita pastoral que, em Maio de há vinte anos, o meu Predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, realizou à vossa amada Terra. Preparastes-vos para este encontro com um significativo momento de oração, orientados pela palavra do venerando Cardeal Tonini, que na parte da tarde presidirá à solene Concelebração eucarística em programa na Basílica de São Pedro.

Foi uma alegria saber que para esta ocasião providencial quisestes retomar nas mãos os discursos que o amado João Paulo II teve a oportunidade de pronunciar durante a sua inesquecível peregrinação apostólica à Romagna. As suas palavras permaneceram impressas no vosso coração e na vossa memória. Por conseguinte, a revisitação do seu precioso ensinamento constitui uma singular oportunidade para as vossas bonitas e entusiastas Comunidades diocesanas; é um estímulo à reflexão e ao aprofundamento da comunhão afectiva e efectiva entre todos os componentes das respectivas Igrejas particulares; trata-se de um convite a caminhardes unidos aos vossos Pastores e ao Sucessor de Pedro; é um encorajamento para os membros das vossas Dioceses a continuarem, com um renovado impulso, a comum missão evangelizadora, dando testemunho do Evangelho da esperança nesta nossa época.

Só é possível completar este comprometedor mandato missionário, graças à ajuda de Deus e à valorização convicta e corajosa do património espiritual que a população da Romagna soube salvaguardar e defender ao longo dos séculos, como desejou sublinhar João Paulo II, reconhecendo nela "uma comunidade humana e cristã repleta de fervor operativo, consciente do seu papel no seio da sociedade no actual momento histórico; uma comunidade de cristãos que, segundo a tradição dos católicos da Romagna, quer conservar unidas a firmeza da fé e a coragem do testemunho social, a adesão à comunidade eclesial e a lealdade para com a sociedade civil" (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, 1986, vol. I, págs. 1386-1387).

Estas palavras do meu venerado Predecessor sejam para vós um impulso a não vos deixardes desanimar pelas dificuldades que também a vossa Região encontra nesta nossa época. Com efeito, à distância de vinte anos daquele significativo acontecimento, tanto na Romagna como noutras regiões, não faltam desafios nem problemas para quem quer viver de modo coerente a própria fé, esforçando-se por uni-la às exigências da vida quotidiana. Penso nas crises que ameaçam numerosas famílias, na crescente necessidade de vocações sacerdotais e religiosas diante da preocupante diminuição numérica e da progressão da idade dos sacerdotes; penso nas inúmeras ameaças de uma sociedade consumista e secularizada, que procura seduzir um número cada vez maior de pessoas, induzindo-as a padecer um progressivo desapego dos valores da fé na vida familiar, civil e política.

Trata-se de desafios que devem ser enfrentados sem desanimar, olhando com confiança para os numerosos motivos de esperança que, graças a Deus, não faltam. Por exemplo, há muitas pessoas desejosas de darem um sentido e um valor sólido à sua própria existência, homens e mulheres interessados numa vigorosa e sincera busca religiosa. A este propósito, é actual aquilo que então João Paulo II teve a oportunidade de dizer aos jovens e hoje repito-o a vós, dilectos irmãos e irmãs: "Este é o momento de viver plenamente a alegria de ser cristãos. Dai testemunho deste júbilo perante o mundo. Cristo caminha convosco; Ele, o Ressuscitado, sobre quem a morte já não tem poder, porque Ele a derrotou uma vez para sempre. Cristo, perenemente jovem, seja o vosso sustento e guia hoje, amanhã e sempre!" (Insegnamenti, op. cit., pág. 1391). Dar testemunho da alegria de serdes cristãos: seja este o vosso compromisso coral. Com esta finalidade continuai e, aliás, intensificai a comunhão eclesial e sede protagonistas generosos da missão evangelizadora que o Senhor está a confiar-vos, valorizando as indicações sugeridas pela memorável Visita de há vinte anos e corroborados também pela graça da peregrinação do dia de hoje.

A Bem-Aventurada Virgem Maria, que hoje veneramos com o título de Nossa Senhora do Rosário, continue a acompanhar-vos e a orientar-vos no vosso itinerário espiritual e pastoral. Por minha vez, asseguro-vos uma lembrança ao Senhor e, do íntimo do coração, abençoo-vos juntamente com as vossas famílias, as vossas comunidades paroquiais e religiosas, assim como todas as pessoas que vos são queridas.


Discursos Bento XVI 291