Discursos Bento XVI 547

547 Senhor Embaixador, ao concluir estas minhas reflexões, gostaria de lhe garantir a estima e o apoio dos meus colaboradores, para que Vossa Excelência possa cumprir com êxito a alta missão que lhe foi confiada. Para esta finalidade, invoco a intercessão celeste do Pobrezinho de Assis, de Santa Catarina de Sena e especialmente a protecção de Maria "Castellana d'Italia", concedendo-lhe de bom grado, bem como à sua família e ao amado Povo italiano uma especial Bênção Apostólica.


AOS MEMBROS DA COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL Sala dos Papas

Sexta-feira, 5 de Outubro de 2007



Senhor Cardeal
Venerados Irmãos no Episcopado
Ilustres Professores
Queridos Colaboradores

É com particular prazer que vos acolho no final dos trabalhos da vossa Sessão Plenária anual. Desejo, em primeiro lugar, expressar um sentido agradecimento pelas palavras de homenagem que, em nome de todos o Senhor Cardeal, como Presidente da Comissão Teológica Internacional, desejou dirigir-me no seu discurso de saudação.

Como o Senhor Cardeal recordou, os trabalhos deste sétimo "quinquénio" da Comissão Teológica Internacional já deram um fruto concreto com a publicação do documento "A esperança da salvação para as crianças que morrem sem baptismo". Nele, este tema é abordado no contexto da vontade salvífica universal de Deus, da universalidade da única mediação de Cristo, do primado da graça divina e da sacramentalidade da Igreja. Espero que este documento possa constituir um ponto de referência útil para os Pastores da Igreja e para os teólogos, mas também uma ajuda e uma fonte de consolação para os fiéis que sofreram nas suas famílias a morte inesperada de uma criança, antes que recebesse o lavacro da regeneração. As vossas reflexões poderão ser inclusive uma ocasião para ulteriores aprofundamentos e investigações sobre esta temática. Com efeito, é necessário penetrar cada vez mais profundamente na compreensão das diversas manifestações do amor de Deus que nos foi revelado em Cristo para com todos os homens, especialmente para com os mais pequeninos e os mais pobres.

Congratulo-me convosco pelos resultados já alcançados e, ao mesmo tempo, encorajo-vos a continuar com dedicação o estudo dos outros temas propostos para este quinquénio e sobre os quais já trabalhastes nos anos passados e nesta Sessão Plenária. Como o Senhor Cardeal recordou, eles constituem os fundamentos da lei moral natural e os princípios da teologia e do seu método.

Por ocasião da Audiência do dia 1 de Dezembro de 2005, apresentei algumas linhas fundamentais do trabalho que o teólogo deve realizar em comunhão com a voz viva da Igreja, sob a guia do Magistério. Agora, gostaria de reflectir sobre o tema da lei moral natural. Como provavelmente já se sabe, a convite da Congregação para a Doutrina da Fé, foram realizados ou estão a ser organizados por parte de vários centros universitários e por associações congressos ou dias de estudo, com a finalidade de salientar linhas e convergências úteis para um aprofundamento construtivo e eficaz da doutrina sobre a lei moral natural. Até agora, este convite encontrou um acolhimento positivo e uma ressonância notável. Portanto, é com grande interesse que se espera a contribuição da Comissão Teológica Internacional, sobretudo para justificar e explicar os fundamentos de uma ética universal, pertencente ao grande património da sabedoria humana, que de certa forma constitui uma participação da criatura racional na lei eterna de Deus. Por conseguinte, não se trata de um tema de tipo exclusiva ou principalmente confessional, embora a doutrina sobre a lei moral natural seja iluminada e desenvolvido de modo completo à luz da Revelação cristã e da realização do homem no mistério de Cristo.

548 O Catecismo da Igreja Católica resume oportunamente o conteúdo central da doutrina sobre a lei moral, relevando que ela "enuncia os preceitos primários e essenciais que regem a vida moral. Ela tem como eixo a aspiração e a submissão a Deus, fonte e juiz de todo o bem, assim como o sentido do outro, como igual a si mesmo. É exposta, nos seus preceitos principais, no Decálogo. É chamada lei natural, não em relação à natureza dos seres irracionais, mas porque a razão que a dita é própria da natureza humana" (n. 1955).

Com esta doutrina, alcançam-se duas finalidades essenciais: por um lado, compreende-se que o conteúdo ético da fé cristã não constitui um delineamento ditado à consciência do homem a partir de fora, mas uma norma que encontra o seu fundamento na própria natureza humana; por outro, partindo da lei natural por si mesma acessível a todas as criaturas racionais, lança-se com ela a base para entrar em diálogo com todos os homens de boa vontade e, de modo mais geral, com a sociedade civil e secular.

Mas precisamente por causa do influxo de factores de ordem cultural e ideológico, hoje a sociedade civil e secular encontra-se numa nova situação de extravio e de confusão: perdeu-se a evidência originária dos fundamentos do ser humano e do seu agir ético, e a doutrina da lei moral natural embate-se contra outras concepções que são a sua negação directa. Tudo isto tem enormes e graves consequências na ordem civil e social. Hoje, em não poucos pensadores parece predominar uma concepção positivista do direito. Segundo eles, a humanidade ou a sociedade, ou de facto a maioria dos cidadãos, torna-se a fonte derradeira da lei civil. O problema que se apresenta não é, portanto, a busca do bem, mas a do poder ou, ao contrário, o equilíbrio dos poderes.

Na raiz desta tendência está o relativismo ético, em que alguns chegam a ver uma das principais condições da democracia, porque o relativismo garantiria a tolerância e o respeito recíproco das pessoas. Mas se fosse assim, a maioria de um momento tornar-se-ia a fonte última do direito. A história demonstra com grande clareza que as maiorias podem errar. A verdadeira racionalidade não é garantida pelo consenso de um grande número, mas somente pela transparência da razão humana à Razão criadora e pela escuta comum desta Fonte da nossa racionalidade.

Quando estão em jogo as exigências fundamentais da dignidade da pessoa humana, da sua vida, da equidade do ordenamento social, ou seja, os direitos fundamentais do homem, nenhuma lei feita pelos homens pode subverter a norma escrita pelo Criador no coração humano, sem que a própria sociedade seja dramaticamente atingida naquilo que constitui a sua base irrenunciável.

Assim, a lei natural torna-se a verdadeira garantia oferecida a cada um para viver livre e respeitado na sua dignidade, e defendido de todas as manipulações ideológicas e de todo o arbítrio e abuso da parte dos mais fortes. Ninguém poderá subtrair-se a este apelo. Se, por um trágico obscurecimento da consciência colectiva, o cepticismo e o relativismo ético chegassem a apagar os princípios fundamentais da lei moral natural, o próprio ordenamento democrático seria radicalmente ferido nos seus alicerces.

Contra este obscurecimento, que é crise da civilização humana, ainda antes que cristã, é preciso mobilizar todas as consciências dos homens de boa vontade, leigos ou também pertencentes a religiões distintas do Cristianismo, para que em conjunto e de modo eficaz se empenhem em criar, na cultura e na sociedade civil e política, as condições necessárias para uma plena consciência do valor inalienável da lei moral natural. Com efeito, do seu respeito depende o progresso dos indivíduos e da sociedade ao longo do caminho do desenvolvimento autêntico, em conformidade com a recta razão, que é participação na Razão eterna de Deus.

Caríssimos, com reconhecimento manifesto a todos vós o meu apreço pela dedicação que vos distingue e a minha estima pelo trabalho levado a cabo, e que ainda estais a realizar. Enquanto vos formulo os meus bons votos para os vossos trabalhos futuros, concedo-vos com afecto a minha Bênção.


AOS MEMBROS DO CABIDO VATICANO Sala Clementina

Segunda-feira, 8 de Outubro de 2007


Queridos membros
549 do Cabido Vaticano!

Há muito tempo desejava encontrar-vos e aproveito de bom grado esta oportunidade para vos manifestar pessoalmente a minha estima e o meu afecto. A cada um de vós dirijo uma cordial saudação. Saúdo em particular o Arcipreste, D.Angelo Comastri, a quem agradeço as palavras com que apresentou esta antiga e venerável instituição. Juntamente com ele saúdo o Vigário, D. Vittorio Lanzani, os Cónegos e os Coadjutores. Apreciei que Vossa Excelência, Senhor Arcipreste, tenha recordado a presença ininterrupta do clero orante na Basílica Vaticana desde os tempos de São Gregório Magno: uma presença contínua, intencionalmente não ostentosa, mas fiel e perseverante.

Vós, queridos Cónegos, bem sabeis que o vosso Cabido teve início em 1053, quando o Papa Leão IX confirmou ao Arcipreste e aos Cónegos de São Pedro, estabelecidos no mosteiro de Santo Estêvão Maior, os domínios e os privilégios concedidos pelos seus predecessores. Depois foi com o pontificado de Eugénio IV (1145-1153) que o Cabido adquiriu as características de uma comunidade bem estruturada e autónoma. Substancialmente, foi uma longa e gradual passagem de uma estrutura monasterial, colocada ao serviço da Basílica para a actual estrutura canonical. Sob a guia do Arcipreste, a actividade do Cabido Vaticano dirigiu-se desde as origens a vários campos de empenho: o litúrgico para a celebração coral e para os cuidados diários dos serviços anexos ao culto; o administrativo para a gestão do património da Basílica e das igrejas filiais; o pastoral, no qual ao Cabido era confiado o cuidado do bairro "Borgo"; o campo caritativo, no qual o Cabido desenvolvia formas assistenciais próprias e de colaboração com o hospital Santo Espírito e outras instituições.

Desde o século XI até hoje são 11 os Papas que fizeram parte do Cabido Vaticano e entre eles, apraz-me recordar em particular os Papas do século XX, Pio XI e Pio XII. A partir do século XVI, no momento em que começou a construção da nova Basílica no ano passado celebrámos o 5º centenário da colocação da primeira pedra a história do Cabido Vaticano entrelaça-se com a da Fábrica de São Pedro, duas instituições separadas mas unidas na pessoa do Arcipreste, que zela por garantir uma recíproca e proveitosa colaboração.

No século passado, especialmente nas últimas décadas, a actividade do Cabido na vida da Basílica Vaticana progressivamente orientou-se para a redescoberta das suas verdadeiras funções originárias, que consistem sobretudo no ministério da oração. Se a oração é fundamental para todos os cristãos, para vós, queridos irmãos, é uma tarefa, por assim dizer "profissional". Como eu disse durante a recente viagem à Áustria, a oração é serviço ao Senhor, que merece ser sempre louvado e adorado, e é ao mesmo tempo testemunho para os homens. E onde Deus é louvado e adorado com fidelidade, a bênção não falta (cf. Discurso em Heiligenkreuz, 9 de Setembro de 2007). Esta é a natureza própria do Cabido Vaticano e o contributo que o Papa espera de vós: recordar com a vossa presença orante junto do túmulo de Pedro que nada se antepõe a Deus; que a Igreja toda está orientada para Ele, para a sua glória; que o primado de Pedro está ao serviço da unidade da Igreja e que ela por sua vez está ao serviço do desígnio salvífico da Santíssima Trindade.

Queridos e venerados irmãos, confio muito em vós e no vosso ministério a fim de que a Basílica de São Pedro possa ser um autêntico lugar de oração, de adoração e de louvor ao Senhor. Neste lugar sagrado, onde chegam todos os dias milhares de peregrinos e turistas de todo o mundo, mais do que nas outras partes, é necessário que ao lado do túmulo de Pedro esteja presente uma comunidade estável de oração, que garanta a continuidade com a tradição e ao mesmo tempo interceda pelas intenções do Papa no hoje da Igreja e do mundo. Nesta perspectiva invoco sobre vós a protecção de São Pedro, de São João Crisóstomo, cujas relíquias estão conservadas exactamente na vossa Capela, e dos demais Santos e Beatos presentes na Basílica. Sobre vós vigie a Virgem Imaculada, cuja imagem venerada na vossa Capela do Coro foi coroada pelo Beato Pio IX em 1854 e circundada de estrelas cinquenta anos depois, em 1904, por São Pio X. Agradeço-vos mais uma vez o zelo com o qual realizais a vossa tarefa e, enquanto vos garanto uma especial recordação na Santa Missa, concedo de coração a vós e aos vossos entes queridos a Bênção Apostólica.


AO SENHOR JI-YOUNG FRANCISCO KIM, NOVO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DA COREIA JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 11 de Outubro de 2007

Excelência

É-me grato dar-lhe as boas-vindas ao Vaticano e aceitar as Cartas Credenciais mediante as quais o Presidente da República da Coreia o nomeou Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto da Santa Sé. Aproveito esta ocasião para renovar a expressão do meu respeito e o meu carinho caloroso pelo povo coreano, enquanto lhe peço que transmita ao Senhor Presidente Moo-hyun Roh e a todos os seus compatriotas os meus sinceros bons votos pela paz e pela prosperidade da sua nação.

Vossa Excelência fez observações sobre o crescimento notável da Igreja católica no seu país, em boa parte devido ao exemplo heróico de homens e de mulheres cuja fé os levou a dar a própria vida por Cristo e pelos seus irmãos e irmãs. O seu sacrifício recorda-nos que nenhum sacrifício é tão grande, quando se trata de perseverar na fidelidade à verdade. Infelizmente, no nosso mundo contemporâneo pluralista, algumas pessoas questionam ou até chegam a negar a importância da verdade. No entanto, a verdade permanece a única base segura para a coesão social. A verdade não depende do consenso, mas precede-o e torna-o possível, gerando uma solidariedade autenticamente humana. A Igreja sempre consciente do poder que a verdade tem de unir os povos, e sempre atenta à irreprimível aspiração da humanidade à coexistência pacífica esforça-se intensamente por revigorar a concórdia e a harmonia social, tanto na vida eclesial como na existência cívica, proclamando a verdade acerca da pessoa humana, como no-la revela a razão natural e como a mesma é plenamente manifestada através da revelação divina.

Excelência, a comunidade internacional une-se aos cidadãos do seu país, nas suas excelsas aspirações por uma renovada paz na Península Coreana e em toda essa região. Aproveito esta oportunidade para reiterar o apoio da Santa Sé a todas as iniciativas que visam uma reconciliação sincera e duradoura, pondo fim à inimizade e a rancores insolúveis. O progresso genuíno só se constrói a partir de atitudes de honestidade e de confiança. Aprecio os esforços envidados por parte do seu país, em vista de promover um diálogo fecundo e aberto, enquanto está a trabalhar, simultaneamente, para aliviar a dor das pessoas que sofrem por causa das feridas da divisão e da desconfiança. Com efeito, cada nação participa na responsabilidade de garantir um mundo mais estável e seguro. Desejo ardentemente que a participação permanente de vários países envolvidos no processo de negociação leve à interrupção dos programas destinados a desenvolver e a produzir armas com potencialidades assustadoras para destruições inauditas.

550 Senhor Embaixador, o seu país alcançou êxitos notáveis na investigação científica e na área do desenvolvimento, entre os quais sobressaem os progressos no campo da biotecnologia, com a potencialidade de tratar e de curar enfermidades, em vista de melhorar a qualidade da vida na sua pátria e igualmente no estrangeiro. Descobertas neste campo convidam o homem a uma maior consciência das graves responsabilidades exigidas na sua aplicação. A utilização que a sociedade espera poder fazer da ciência biomédica deve ser constantemente equiparada a padrões éticos sólidos e firmes (cf. Discurso aos membros da Pontíficia Academia das Ciências, 6 de Novembro de 2006). O principal deles é a dignidade da vida humana, pois em nenhuma circunstância o ser humano pode ser manipulado ou tratado como um mero instrumento para fins de experiência. A destruição de embriões humanos, quer para adquirir células estaminais, quer para qualquer outra finalidade, contradiz a intenção objectiva dos investigadores, dos legisladores e dos oficiais que trabalham no campo da saúde, de promover o bem humano. A Igreja não hesita em aprovar e encorajar a investigação sobre as células estaminais somáticas, e não apenas por causa dos resultados favoráveis alcançados através destes métodos alternativos, mas sobretudo porque eles estão em sintonia com a supramencionada intenção, no respeito pela vida do ser humano em todas as fases da sua existência (cf. Discurso aos participantes no Congresso da Pontíficia Academia para a Vida, 16 de Setembro de 2006). Senhor Embaixador, rezo a fim de que a sensibilidade moral inerente ao povo coreano, como é evidenciada pela sua rejeição da clonagem humana e por outros procedimentos análogos, ajude a comunidade internacional a sensibilizar-se diante das profundas implicações éticas e sociais da investigação científica e dos seus recursos.

A promoção da dignidade humana exorta também as autoridades públicas a assegurarem que os jovens recebam uma educação sólida. As escolas confessionais têm muito a contribuir a este propósito. Cabe aos governos conceder aos pais a oportunidade de enviar os próprios filhos para escolas religiosas, facilitando a fundação e o financiamento de tais instituições. Na medida do possível, os subsídios públicos deveriam libertar os pais de fardos financeiros indevidos, que diminuem a sua capacidade de escolher os meios mais apropriados de educar os seus filhos. As escolas católicas e de outras religiões deveriam poder gozar da justa medida de liberdade para determinar e implementar os programas que alimentam a vida do espírito, sem a qual a vida intelectual seria seriamente desvirtuada. Dirijo o meu apelo aos líderes eclesiais e cívicos para que continuem, em espírito de cooperação, a garantir um futuro para as escolas católicas no seu país, o que há-de contribuir para o amadurecimento moral e intelectual das gerações mais jovens, para o benefício da sociedade inteira.

Excelência, nesta feliz ocasião, no momento em que o Senhor Embaixador dá início à sua missão, asseguro-lhe que a Santa Sé e os seus vários departamentos estarão sempre prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Invoco as bênçãos divinas sobre Vossa Excelência, a sua família e a população do seu país, que ocupam um lugar especial nos meus pensamentos e, neste momento, nas minhas preces.




NA INAUGURAÇÃO DO PORTÃO DE BRONZE RESTAURADO Sexta-feira, 12 de Outubro de 2007

Venerados Irmãos
Ilustres Senhores e Senhoras
Queridos irmãos e irmãs!

Marcamos encontro neste lugar que constitui a entrada principal para o Palácio Apostólico, para benzer e inaugurar o Portão de Bronze completamente restaurado depois de dois anos de paciente e habilidoso trabalho. Trata-se, em si, de um acontecimento não de grande realce, mas significativo devido à função que este singular Portão desempenha e pelos séculos de história eclesial que ele viu passar. Portanto, agradeço-vos a vossa presença e dirijo a cada um de vós a minha cordial saudação.

Este Portão foi realizado por Giovanni Battista Soria e Orazio Censore durante o pontificado de Paulo V, que entre 1617 e 1619 quis renovar completamente a estrutura da Porta Palatii. Em 1663, depois da colossal intervenção arquitectónica devida ao génio de Gian Lorenzo Bernini, ele foi deslocado para a actual posição, isto é, para o limiar entre a Colunata da Praça de São Pedro e o Braço de Constantino. Consumido pelo tempo, pensou-se em restaurá-lo por ocasião do Grande Jubileu do Ano 2000, mas esta obra de restauro radical só foi possível alguns anos depois. O Portão foi então desmontado e não só cuidadosamente reconduzido à sua beleza originária segundo os métodos e as técnicas mais modernas, mas também consolidado com um núcleo de aço. E agora retomou o seu lugar e a sua função, sob o bonito mosaico que representa Nossa Senhora com o Menino Jesus entre os Santos Pedro e Paulo.

Precisamenteporquemarca o acesso à Casa daquele que o Senhor chamou para guiar como Pai e Pastor todo o Povo de Deus, este Portão assume um valor simbólico e espiritual. Passam-no quantos vêm para se encontrarem com o Sucessor de Pedro. Transitam por ele peregrinos e visitantes que vão aos vários escritórios do Palácio Apostólico. Expresso de coração os votos por que quantos entram pelo Portão de Bronze se possam sentir desde a sua entrada acolhidos pelo abraço do Papa. A Casa do Papa está aberta a todos.

O meu pensamento de apreço e o meu reconhecimento dirigem-se a quantos tornaram possível esta urgente e radical obra de restauro. Antes de tudo a quem dirigiu e realizou os trabalhos nas suas diversas fases: os Serviços Técnicos do Governatorato e os Laboratórios de Restauro dos Museus do Vaticano, que se serviram da competência de empresas especializadas para as partes em madeira e em metal. Foi possível empenhar esta longa e exigente intervenção graças ao generoso apoio financeiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro e do Crédito Artigiano. Portanto, expresso viva gratidão a estas duas Instituições, que quiseram desta forma renovar uma expressão de fidelidade ao Sumo Pontífice e de atenção aos bens artísticos da Santa Sé. Dirijo o meu obrigado muito sincero a quantos, de várias formas, ofereceram a sua contribuição.

551 Garanto agora aos responsáveis, aos operários e aos benfeitores, assim como a cada um de vós aqui presentes uma recordação na oração, e concedo com afecto a todos a Bênção Apostólica.




AOS PROFESSORES E ESTUDANTES DURANTE A VISITA AO PONTIFÍCIO INSTITUTO DE MÚSICA SACRA Sábado, 13 de Outubro de 2007


Venerados irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Estimados Professores e Alunos
do Pontifício Instituto de Música Sacra!

No dia memorável de 21 de Novembro de 1985 o meu amado Predecessor, o Papa João Paulo II veio visitar esta "aedes Sancti Hieronymi de Urbe", onde, desde a fundação, em 1932, por obra do Papa Pio XI, uma eleita comunidade de monges beneditinos tinha trabalhado alacremente na revisão da Bíblia Vulgata. Era o momento em que, por vontade da Santa Sé, o Pontifício Instituto de Música Sacra se tinha transferido, mesmo conservando na antiga sede do Palácio do Apollinare a histórica Sala Gregório XIII, a Sala Académica ou Aula Magna do Instituto, que ainda é, por assim dizer, o "santuário" no qual se realizam as solenes academias e os concertos. O grande órgão, oferecido ao Papa Pio XI por M. Justine Ward em 1932, foi agora integralmente restaurado com a contribuição generosa do Governo da "Generalitat de Catalunya". Sinto-me feliz por saudar, neste momento os representantes do mencionado Governo aqui presentes.

Foi com alegria que vim à sede didáctica do Pontifício Instituto de Música Sacra, completamente renovada. Com esta minha visita são inaugurados e abençoados os imponentes trabalhos de restauro realizados nestes últimos anos por iniciativa da Santa Sé e com o significativo contributo de vários benfeitores, entre os quais sobressai a "Fundação Pró-Música e Arte Sacra", que se ocupou do restauro integral da Biblioteca. Pretendo inaugurar e abençoar idealmente os restauros efectuados na Sala Académica onde, no palco, ao lado do mencionado grande órgão, foi colocado um magnífico piano, oferecido pela "Telecom Italia Mobile" ao amado Papa João Paulo II para o "seu" Instituto de Música Sacra.

Desejo agora expressar o meu reconhecimento ao Senhor Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica e vosso Grão-Chanceler, as gentis expressões de bons votos que, também em vosso nome, me quis dirigir. Confirmo de bom grado nesta circunstância a minha estima e o meu apreço pelo trabalho que o Corpo académico, reunido à volta do Reitor, desempenha com sentido de responsabilidade e com apreciada profissionalidade. A minha saudação dirige-se a todos vós aqui presentes: aos familiares, com as suas crianças, e aos amigos que os acompanham, aos oficiais, ao pessoal, aos alunos e aos residentes, bem como aos representantes da Consociatio Internationalis Musicae Sacrae e da Foederatio Internationalis Pueri Cantores.

O vosso Pontifício Instituto está a encaminhar-se a grandes passos rumo ao centenário da sua fundação por obra do Santo Pontífice Pio X, o qual erigiu em 1911 com o Breve Expleverunt desiderii a "Escola Superior de Música Sacra"; ela, após sucessivas intervenções de Bento XV e de Pio XI, tornou-se depois, com a Constituição apostólica Deus scientiarum Dominus do próprio Pio XI, Pontifício Instituto de Música Sacra, activamente comprometido também hoje no cumprimento da sua missão originária ao serviço da Igreja universal. Numerosos estudantes, aqui reunidos de todas as partes do mundo para se formarem nas disciplinas da música sacra, se tornam por sua vez formadores nas respectivas Igrejas locais. E foram tantos no espaço de quase um século! Neste momento, sinto-me feliz por dirigir uma grata saudação a quantos, na sua maravilhosa longevidade, representam um pouco a "memória histórica" do Instituto e personificam muitos outros que trabalharam aqui: o Maestro Mons. Domenico Bartolucci.

Nesta sede, apraz-me recordar quanto predispõe, em relação à música sacra, o Concílio Vaticano II: movendo-se na esteira de uma secular tradição, o Concílio afirma que ela "é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária e integrante da Liturgia solene" (Sacrosanctum Concilium SC 112). Como é rica a tradição bíblica e patrística ao ressaltar a eficiência do canto e da música sacra para mover os corações e elevá-los a afundar, por assim dizer, na própria intimidade da vida de Deus! Bem consciente disto, João Paulo II observava que, hoje como sempre, três características distinguem a música sacra litúrgica: a "santidade", a "arte verdadeira", a "universalidade", isto é, a possibilidade de ser proposta a qualquer povo ou tipo de assembleia (cf. Quirógrafo "Impelido por um profundo desejo", de 22 de Novembro de 2003).

552 Precisamente em vista disto, a Autoridade eclesiástica deve comprometer-se a orientar sabiamente o desenvolvimento de um género e música tão exigentes, não "congelando" o seu tesouro, mas procurando inserir na herança do passado as novidades valiosas do presente, para chegar a uma síntese digna da alta missão que lhe é reservada no serviço divino. Tenho a certeza de que o Pontifício Instituto de Música Sacra, em harmoniosa sintonia com a Congregação para o Culto Divino, não deixará de oferecer a sua contribuição para uma "actualização" adequada aos nossos tempos das preciosas tradições de que é rica a música sacra. Portanto, a vós caríssimos professores e alunos deste Pontifício Instituto, confio esta tarefa exigente e ao mesmo tempo apaixonante, na consciência de que ele constitui um valor de grande realce para a própria vida da Igreja.

Ao invocar sobre vós a materna protecção de Nossa Senhora do Magnificat e a intercessão de São Gregório Magno e de Santa Cecília, garanto-vos da minha parte uma recordação constante na oração. Ao desejar que o novo ano académico que está para iniciar seja repleto de todas as graças, concedo a todos uma especial Bênção Apostólica.




AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA REPÚBLICA DO CONGO EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sexta-feira, 19 de Outubro de 2007


Queridos Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio!

Sinto-me feliz por vos acolher, a vós que recebestes do Senhor o cargo de ser pastores do povo de Deus que está na República do Congo. Faço votos por que o nosso encontro, expressão da comunhão com o Sucessor de Pedro, seja também fonte de uma comunhão cada vez mais intensa entre vós e entre as vossas Igrejas diocesanas, dando-vos confiança e encorajando-vos a perseverar no anúncio do Evangelho. Agradeço a D. Louis Portella Mbuyu, Bispo de Kinkala e Presidente da vossa Conferência Episcopal, a sua apresentação da vida da Igreja na República do Congo. Através de vós, saúdo cordialmente os sacerdotes, os diáconos, os religiosos, as religiosas, os catequistas e os fiéis leigos das vossas Dioceses, que manifestaram com frequência o seu apego a Cristo e a sua solidariedade com os seus irmãos nos momentos difíceis da história recente do vosso País e convido-os a permanecer, com todos os homens de boa vontade, infatigáveis artífices de justiça e de paz.

A vossa Conferência Episcopal não cessa de despertar as consciências e de confirmar as vontades, dando uma contribuição específica e concreta para o estabelecimento da paz e da reconciliação no país. Portanto, faço apelo aos cristãos de toda a população do país a abrir caminhos de reconciliação, para que as diferenças étnicas e sociais, vividas no respeito e no amor recíproco, se tornem uma riqueza comum e não um motivo de divisão.

Os vossos relatórios quinquenais evidenciam a urgência de desenvolver um verdadeiro dinamismo missionário nas vossas Igrejas locais. A Igreja não pode evitar esta missão primordial, que a convida a uma exigência fundamental de coerência e de harmonização entre fé e normas éticas.

Para evangelizar verdadeira e profundamente, é preciso ser testemunha cada vez mais credível de Cristo. Compete-vos de modo particular esta responsabilidade primordial. Permanecei "homens de Deus", presentes nas vossas dioceses ao lado dos sacerdotes, preocupados antes de tudo com o anúncio do Evangelho, haurindo da vossa intimidade com Cristo a força para tecer laços sempre mais fortes de fraternidade e de unidade entre vós e com todos. Esta exigência concerne também à Conferência Episcopal, chamada a ser cada vez mais um lugar privilegiado de comunhão, mas também de vida fraterna e de trabalho harmonioso para projectos comuns. Este comportamento dará numerosos frutos.

Numa real preocupação missionária para construir a Igreja-Família, a vossa acção pastoral baseia-se em comunidades eclesiais vivas. Lugares concretos de anúncio do Evangelho e da prática da caridade, sobretudo em relação aos mais pobres, elas realizam uma pastoral de proximidade e constituem também um poderoso baluarte contra as seitas. Convido-vos a dedicar uma solicitude atenta à formação cristã inicial e permanente dos fiéis, para que conheçam o mistério cristão e vivam, baseando-se na leitura da Escritura e da vida sacramental. Desta forma, descobrirão a riqueza da sua vocação baptismal e o valor dos seus compromissos cristãos segundo os princípios éticos, em vista de uma presença cada vez mais activa na sociedade. Agradeço às pessoas empenhadas na formação dos leigos, em particular os catequistas e os seus familiares, coadjutores preciosos da evangelização, fazendo votos por que sejam postas à sua disposição estruturas de formação apropriadas para um bom êxito da sua importante missão.

Levai aos vossos sacerdotes o encorajamento do Papa. Compete-vos apoiá-los, convidando-os a levar, em plena comunhão convosco e num real espírito de serviço a Cristo e à comunidade cristã, uma existência cada vez mais digna e mais santa, fundada numa vida espiritual profunda e numa maturidade afectiva vivida no celibato para o qual eles oferecem, com a graça do Espírito e mediante a livre resposta da sua própria vontade, a totalidade do seu amor e a sua solicitude a Jesus Cristo e à Igreja (cf. Pastores dabo vobis PDV 44). Estando próximos dos sacerdotes, vós próprios sereis modelos de vida sacerdotal e ajudá-los-eis a ter uma consciência cada vez mais clara da fraternidade sacramental na qual a ordenação sacerdotal os estabeleceu. Faço apelo também aos numerosos sacerdotes congoleses que residem fora do País para que considerem com prioridade as necessidades pastorais das suas dioceses e para que façam as opções necessárias para responder aos urgentes apelos das suas Igrejas diocesanas.


Discursos Bento XVI 547