Discursos Bento XVI 553

553 Alegro-me por terdes previsto fazer proximamente uma reflexão aprofundada sobre o ministério sacerdotal, a fim de propor aos sacerdotes e aos seminaristas uma existência de sacerdotes diocesanos, enraizados numa vida espiritual forte, que corresponde à exigência da configuração a Jesus Cristo, Cabeça e Servo da Igreja, e fundada num amor à missão e numa vida conforme com os compromissos da Ordenação. É necessário "expor a fé de modo irrepreensível", através do ensinamento e dos comportamentos, como já tive ocasião de frisar.

A grande diminuição do número de matrimónios canónicos é um verdadeiro desafio que pesa sobre a família, da qual conhecemos a característica insubstituível para a estabilidade do edifício social. A legislação civil, a fragilidade da estrutura familiar, assim como o peso de certas práticas tradicionais, sobretudo o preço exorbitante do dote, são um impedimento real ao compromisso dos jovens no matrimónio. É necessária uma reflexão pastoral de fundo para promover a dignidade do matrimónio cristão, reflexo e realização do amor de Cristo pela sua Igreja. É importante ajudar os casais a adquirir a maturidade humana e espiritual necessária para assumir de modo responsável a sua missão de esposos e de pais cristãos, recordando-lhes que o seu amor é único, indissolúvel e que o matrimónio contribui para a plena realização da sua vocação humana e cristã.

Que a Igreja continue a desempenhar um papel profético ao serviço de todos os habitantes do país, em particular dos mais pobres e dos que não têm voz, revelando a cada um a sua dignidade e propondo-lhe o amor de Deus plenamente revelado em Jesus Cristo! O amor "é a luz fundamentalmente, a única que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir" (Deus caritas est ). Mediante a intercessão da Virgem Santa, Estrela da evangelização, concedo-vos de bom grado a Bênção Apostólica, assim como às vossas comunidades diocesanas.




AOS MEMBROS DE UMA DELEGAÇÃO MUNDIAL MENONITA Sexta-feira, 19 de Outubro de 2007

Caros amigos

"Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo" (2Co 1,2). Estou feliz por vos dar as boas-vindas a Roma, onde Pedro e Paulo deram testemunho de Cristo, derramando o seu sangue pelo Evangelho.

No espírito ecuménico dos últimos tempos, começamos a manter contactos recíprocos depois de séculos de isolamento. Sei que os líderes da Conferência Mundial Menonita aceitaram o convite do meu amado predecessor, o Papa João Paulo II, a reunirem-se com ele em Assis, primeiro em 1986 e depois em 2002, para rezar pela paz no mundo, num grandioso encontro de chefes das Igrejas e das Comunidades eclesiais, bem como das outras Religiões. Estou feliz por saber que os Oficiais do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos responderam aos vossos convites para participar nas vossas Assembleias mundiais em 1997 e em 2003.

Uma vez que é o próprio Cristo que nos chama à unidade cristã, é justo e deveras apropriado que os menonitas e os católicos tenham entrado em diálogo para compreender as razões do conflito que surgiu entre nós no século XVI. Compreender significa dar o primeiro passo rumo à purificação. Bem sei que o relatório deste diálogo, publicado em 2003 e actualmente a ser analisado em vários países, deu particular ênfase à purificação da memória.

Os menonitas são bastante conhecidos pelo seu vigoroso testemunho cristão da paz em nome do Evangelho, e neste sentido, apesar dos séculos de divisão, o relatório sobre o diálogo: "Chamados em conjunto a ser pacificadores", demonstrou que temos numerosas convicções em comum.

Ambos pomos em evidência o facto de que o nosso trabalho em prol da paz está arraigado em Jesus Cristo, "que é a nossa paz, que fez de nós um só... instaurando a paz a fim de nos reconciliar em Deus, num só corpo através da cruz (cf. Ef Ep 2,14-16)" (Relatório, n. 174). Ambos compreendemos que "a reconciliação, a não-violência e a pacificação concreta estão inseridas no cerne do Evangelho (cf. Mt 5,9 Rm 12,14-21 Ep 6,15)" (n. 179). A nossa busca contínua da unidade dos discípulos do Senhor tem a máxima importância. Enquanto o mundo continuar a ver as nossas divisões, o nosso testemunho permanecerá frágil. Sobretudo, aquilo que nos impele a buscar a unidade cristã é a oração de nosso Senhor ao Pai, "a fim de que todos sejam um só... para que o mundo creia que Tu me enviaste" (Jn 17,21).

Formulo votos a fim de que a vossa visita venha a constituir mais um passo rumo à compreensão mútua e à reconciliação. A paz e a alegria de Cristo estejam com todos vós e com os vossos entes queridos.



VISITA PASTORAL A NÁPOLES


AOS CHEFES RELIGIOSOS NA AULA MAGNA DO SEMINÁRIO EPISCOPAL DE CAPODIMONTE Domingo, 21 de Outubro de 2007

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Santidade,
Beatitudes
Ilustres Autoridades representantes
das Igrejas e Comunidades eclesiais
Gentis representantes
das grandes Religiões mundiais!

Aproveito de bom grado esta circunstância para saudar as Personalidades reunidas aqui em Nápoles para o XXI Encontro sobre o tema: "Para um mundo sem violência Religiões e culturas em diálogo". O que vós representais expressa num certo sentido os diferentes mundos e patrimónios religiosos da humanidade, para os quais a Igreja católica olha com sincero respeito e cordial atenção. Dirijo uma palavra de apreço ao Senhor Cardeal Crescenzio Sepe e à Arquidiocese de Nápoles que hospeda este Encontro e à Comunidade de Santo Egídio que trabalha com dedicação para favorecer o diálogo entre religiões e culturas no "espírito de Assis".

O encontro hodierno leva-nos idealmente a 1986, quando o meu venerado Predecessor João Paulo II convidou altos Representantes religiosos a rezar pela paz na colina de São Francisco, ressaltando desta forma o vínculo intrínseco que une uma atitude religiosa autêntica com a viva sensibilidade por este bem fundamental da humanidade. Em 2002, depois dos dramáticos acontecimentos de 11 de Setembro do ano precedente, João Paulo II voltou a convocar em Assis os Representantes religiosos, para implorar de Deus que impedisse os graves perigos que ameaçavam a humanidade, sobretudo por causa do terrorismo.

No respeito das diferenças das várias religiões, todos somos chamados a trabalhar pela paz e por um compromisso real para promover a reconciliação entre os povos. Este é o autêntico "espírito de Assis", que se opõe a qualquer forma de violência e ao abuso da religião como pretexto para a violência. Perante um mundo lacerado por conflitos, onde por vezes se justifica a violência em nome de Deus, é importante reafirmar que as religiões nunca se podem tornar veículos de ódio; nunca, invocando o nome de Deus, se pode chegar a justificar o mal e a violência. Ao contrário, as religiões podem e devem oferecer recursos preciosos para construir uma humanidade pacífica, porque falam de paz ao coração do homem.

A Igreja católica pretende continuar a percorrer o caminho do diálogo para favorecer o entendimento entre as diversas culturas, tradições e sabedorias religiosas. Faço sentidos votos por que este espírito se difunda cada vez mais sobretudo onde são mais fortes as tensões, onde a liberdade e o respeito pelo outro são negados e homens e mulheres sofrem devido às consequências da intolerância e da incompreensão.

Queridos amigos, estes dias de trabalho e de escuta orante sejam frutuosos para todos. Por isso, dirijo a minha oração ao Eterno Deus, para que derrame sobre cada um dos participantes no Encontro a abundância das suas bênçãos, da sua sabedoria e do seu amor. Ele liberte o coração dos homens de qualquer ódio e raiz de violência e nos torne a todos artífices da civilização do amor.


PALAVRAS DE SAUDAÇÃO NO FINAL DO MOMENTO CONVIVAL Domingo, 21 de Outubro de 2007

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Antes de nos despedirmos, desejo dirigir mais uma vez uma saudação cordial a cada um de vós, com os quais tive a alegria de partilhar este momento convival.

Agradeço de novo ao Cardeal Crescenzio Sepe, Pastor desta Arquidiocese, que o Senhor me concedeu a oportunidade de visitar hoje e, através dele, renovo a expressão do meu sincero reconhecimento pelo acolhimento que me foi reservado segundo o estilo de imediata simpatia que é típico dos napolitanos. Saúdo também os outros Cardeais, os Bispos que vieram transcorrer connosco este dia de festa e quantos estão presentes.

Não pode faltar um agradecimento a quem preparou com solicitude e serviu com profissionalidade este agradável almoço. Obrigado por nos terdes alegrado com uma refeição apreciada e saborosa.

Ao despedir-me, gostaria de vos garantir uma recordação na oração, enquanto invoco sobre vós e sobre as pessoas queridas as abundantes bênçãos de Deus. Obrigado a todos vós e parabéns por este importante encontr




AOS PROFESSORES E ALUNOS DAS UNIVERSIDADES ECLESIÁSTICAS ROMANAS NO INÍCIO DO ANO ACADÉMICO Quinta-feira, 25 de Outubro de 2007

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Senhores cardeais
Venerados irmãos
no episcopado e no sacerdócio
Prezados irmãos e irmãs


Dou graças ao Senhor, que me concede também no corrente ano a possibilidade de me encontrar, no início de um novo ano académico, com os professores e os estudantes das Universidades pontifícias e eclesiásticas presentes em Roma. Trata-se de um encontro de oração acaba de terminar a celebração da Santa Missa que constitui o fulcro de toda a nossa vida cristã e, ao mesmo tempo, é uma ocasião propícia para fazer considerações sobre o sentido e o valor da vossa experiência de estudo aqui em Roma, no coração da cristandade. Dirijo a cada um de vós uma afectuosa saudação, que dirijo em primeiro lugar ao Senhor Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, enquanto lhe agradeço as amáveis expressões que me dirigiu em nome de todos vós. Saúdo o Cardeal Dias e também os demais Prelados aqui presentes, os Reitores das Universidades e os Membros dos respectivos Corpos académicos, os Responsáveis e os Superiores dos Seminários e Colégios, e os estudantes que provêm praticamente de todas as regiões do mundo.

O encontro anual, que vê idealmente reunida aqui na Basílica Vaticana toda a família académica das Universidades eclesiásticas romanas, permite-vos prezados amigos compreender melhor a singularidade da experiência de comunhão e de fraternidade, que podeis realizar nestes anos: experiência que, para ser fecunda, tem necessidade da contribuição de todos e de cada um.

Participastes em conjunto na Celebração eucarística, e é em conjunto que haveis de transcorrer este novo ano. Procurai criar no meio de vós um clima em que o compromisso do estudo e a fraterna cooperação vos sirvam de enriquecimento comum não somente no que diz respeito aos aspectos cultural, científico e doutrinal, mas também no que se refere aos aspectos humano e espiritual. Sabei aproveitar ao máximo as oportunidades que, a este propósito, vos são oferecidas em Roma, Cidade deveras única também deste ponto de vista.

Roma é rica de memórias históricas, de obras-primas de arte e de cultura; está sobretudo cheia de eloquentes testemunhos cristãos. Ao longo do tempo, nasceram universidades e faculdades eclesiásticas, mais que seculares, onde se formaram gerações inteiras de sacerdotes e de agentes pastorais, entre os quais não faltam grandes santos e ilustres homens de Igreja. Neste mesmo sulco, também vós estais inseridos, dado que dedicais anos importantes da vossa existência ao aprofundamento de várias disciplinas humanistas e teológicas. As finalidades destas instituições beneméritas escrevia em 1979 o amado João Paulo II na Constituição Apostólica Sapientia christiana consistem, entre outras, em "cultivar e promover, mediante a investigação científica, as próprias disciplinas, e sobretudo em aprofundar o conhecimento da Revelação cristã e daquilo que está vinculado à mesma, em revelar sistematicamente as verdades nela contidas, em considerar à luz de tais verdades os novos problemas que surgem, e em apresentá-las aos homens do próprio tempo de um modo adequado às diversas culturas" (Título I, art. 3 1). Trata-se de um compromisso mais urgente do que nunca na nossa época pós-moderna, onde se sente a necessidade de uma nova evangelização, que tem necessidade de mestres na fé e de arautos e testemunhas do Evangelho convenientemente preparados.

Com efeito, o período de permanência em Roma pode e deve servir para vos preparar em vista de desempenhar do melhor modo a tarefa que vos cabe em vários campos de acção apostólica. A missão evangelizadora própria da Igreja exige, nesta nossa época, não apenas que se propague em toda a parte a mensagem evangélica, mas que penetre em profundidade nos modos de pensar, nos critérios de juízo e nos comportamentos das pessoas. Em síntese, é necessário que toda a cultura do homem contemporâneo seja imbuída pelo Evangelho. Para responder a este vasto e urgente desafio cultural e espiritual, quer contribuir a multiplicidade dos ensinamentos, que são propostos nos ateneus e centros de estudo por vós frequentados.

A possibilidade de estudar em Roma, sede do Sucessor de Pedro e portanto do ministério petrino, ajuda-vos a revigorar o sentido de pertença à Igreja e o compromisso de fidelidade ao Magistério universal do Papa. Além disso, a presença nas instituições académicas e nos colégios e seminários, de professores e alunos provenientes de todos os continentes oferece-vos uma ulterior oportunidade para vos conhecer uns aos outros e para experimentar a beleza de fazer parte da única e grande família de Deus: sabei valer-vos disto de maneira plena!

No entanto, prezados irmãos e irmãs, é indispensável que o estudo das ciências humanistas e teológicas seja acompanhado sempre de um conhecimento progressivo, íntimo e profundo de Cristo. Isto comporta que, ao necessário interesse pelo estudo e pela pesquisa acrescenteis um anseio sincero pela santidade. Estes anos de formação em Roma, além de serem um compromisso intelectual sério e assíduo, sejam em primeiro lugar de intensa oração, em constante sintonia com o Mestre divino, que vos escolheu para o seu serviço. De igual modo, o contacto com a realidade religiosa e social da cidade, seja útil para vós, em vista de um enriquecimento espiritual e pastoral.

Invoquemos a intercessão de Maria, Mãe dócil e sábia, para que vos ajude a estar prontos em todas as circunstâncias, a reconhecer a voz do Senhor, que vos conserva e vos acompanha no vosso itinerário de formação e em cada momento da vida.

Asseguro-vos uma lembrança na oração e, enquanto vos formulo votos de um ano tranquilo e rico de frutos, corroboro estes meus bons votos com uma especial Bênção Apostólica.




AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO GABÃO EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM» Sexta-feira, 26 de Outubro de 2007


Estimados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio!

557 É com alegria que vos recebo, Pastores da Igreja no Gabão, desejando que a vossa visita ad Limina seja para vós um tempo forte de comunhão eclesial e de vida espiritual. Reafirmais assim a vossa missão apostólica, para serdes cada vez mais servos e guias do povo que vos está confiado.

Agradeço a D. Timothée Modibo-Nzockena, Bispo de Franceville e Presidente da vossa Conferência Episcopal, o quadro que me apresentou dos aspectos pastorais. No vosso ministério, com as forças activas das vossas dioceses, vós sois chamados a desenvolver uma pastoral, diocesana e nacional, cada vez mais orgânica. De igual modo, convém organizar de maneira cada vez mais apropriada a vossa Conferência episcopal, nos vossos encontros e nas estruturas que devem ser concretizadas para vos assistirem. Partilhando as vossas riquezas pastorais e os vossos projectos, podereis dar às vossas dioceses um dinamismo renovado. Quanto maior for a comunhão entre vós e entre todos os católicos, mais forte será a eficiência da evangelização.

Os gaboneses deixam-se por vezes atrair pela sociedade de consumo e de permissivismo, dedicando assim menos atenção aos mais pobres do país. Encorajo-vos a fazer crescer o seu sentido fraterno e a solidariedade. Verifica-se igualmente um certo relaxamento na vida dos cristãos, atraídos pelas seduções do mundo. Faço votos por que eles tenham sempre um comportamento exemplar no que diz respeito aos valores espirituais e morais.

Entre as tarefas urgentes da Igreja no Gabão, convém antes de tudo notar a transmissão da fé e o aprofundamento do mistério cristão. Para fazer face às solicitações, os fiéis têm necessidade de uma sólida formação que lhes permita aprofundar a possibilidade de fundar a sua vida cristã sobre princípios claros. Isto exige que organizeis as estruturas de formação de modo que elas sejam realmente eficazes. Não hesiteis em preparar para esta tarefa sacerdotes e leigos que sejam competentes. De igual modo, as comunidades eclesiais serão mais vivas e os fiéis haurirão da liturgia, da oração pessoal, familiar e comunitária, as forças para serem em todos os campos da vida social, testemunhas da Boa Nova, artífices da reconciliação, da justiça e da paz, de que o nosso mundo tem necessidade como nunca.

Como sucessores dos Apóstolos, vós sois para todos os vossos diocesanos pais, chamados a dedicar uma atenção particular à juventude do vosso país. Todos os cristãos, e sobretudo os pais, se mobilizem para convidar os jovens a abrir o seu coração a Cristo e a segui-lo. O Senhor deseja dar a cada um a graça de uma vida bela e boa, e a esperança que permite encontrar o sentido verdadeiro da existência, através das vicissitudes da vida quotidiana. Faço votos por que os jovens não receiem ser também os primeiros evangelizadores dos seus coetâneos. É muitas vezes graças à amizade e à partilha que eles poderão descobrir a pessoa de Cristo e afeiçoar-se a ele. Ressaltais nos vossos relatórios que as vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada ainda são numerosas. É sempre um sofrimento para um pastor quando faltam jovens que aceitam responder à chamada do Senhor.

A presença de um seminário em Livreville deve ser para vós objecto de uma atenção especial, pois é o futuro da evangelização e da Igreja que está em jogo; isto será um estímulo para que, em cada diocese, a pastoral vocacional se desenvolva e se intensifique. Que os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, assim como as famílias, se mobilizem mediante a oração, pelo acompanhamento dos mais jovens, pela preocupação da transmissão da chamada de Cristo, para que nasçam e se desenvolvam as vocações de que o vosso país tem necessidade.

Não podemos esquecer o papel do ensino católico, no qual professores e educadores têm como tarefa a educação integral dos jovens, que tem necessidade do testemunho e da transmissão da fé, assim como de uma atenção às vocações. Convosco, desejo também dar graças por todos os missionários, homens e mulheres, que permitiram que o vosso país recebesse a semente do Evangelho. Manifestamos-lhes a nossa gratidão pela obra que realizaram e que prosseguem com fidelidade, em colaboração com os pastores gaboneses.

O meu pensamento afectuoso dirige-se aos sacerdotes, aos quais agradeço a generosidade no ministério. Vivendo incessantemente a sua vida em intimidade com Cristo, terão uma consciência mais viva da exigência da fidelidade aos compromissos assumidos diante de Deus e da Igreja, sobretudo mediante a obediência e a castidade no celibato. Assim, eles viverão cada vez mais o seu ministério sacerdotal como um serviço aos fiéis. Que eles se recordem também que, no ministério, fazem parte de um presbitério em volta do Bispo. Na fraternidade sacerdotal, confortados por vós que para eles sois pais e irmãos, encontrarão um apoio espiritual; então, podeis realizar projectos pastorais comuns, que darão um renovado impulso à missão. Exorto cada sacerdote a procurar antes de tudo o bem da Igreja e não vantagens pessoais, conformando a vida e a missão com o gesto do lava-pés (cf.
Jn 13,1-11). Este amor vivido numa perspectiva de serviço abnegado dá origem a uma profunda alegria.

Levai aos sacerdotes, a todas as pessoas que colaboram na vida pastoral, a todos os gaboneses as saudações afectuosas do Papa. Ao confiar-vos à intercessão da Virgem Maria, estrela da evangelização, concedo-vos, assim como a todos os vossos diocesanos, a Bênção Apostólica.



AO SENHOR FAUSTO CORDOVEZ CHIRIBOGA

NOVO EMBAIXADOR DO EQUADOR JUNTO DA SANTA SÉ Sábado, 26 de Outubro de 2007

Senhor Embaixador

558 1. É-me grato receber as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República do Equador junto da Santa Sé. Ao dar-lhe as minhas cordiais boas-vindas a este solene acto, desejo expressar mais uma vez o afecto sincero que sinto por todos os filhos e filhas dessa nobre Nação.

Agradeço-lhe a deferente saudação que se dignou transmitir-me da parte do Senhor Presidente Constitucional, Dr. Rafael Correa Delgado, assim como as amáveis expressões para com esta Sé Apostólica e para com a minha pessoa, as quais testemunham também os sentimentos filiais do povo equatoriano. Peço-lhe, portanto, a amabilidade de lhe fazer chegar o meu sincero reconhecimento.

2. Durante a minha visita ao Equador, como representante do Papa João Paulo II no ano de 1978, tive a ventura de me encontrar com um povo pacífico, sensível e acolhedor, mas sobretudo muito arraigado na fé cristã que, como Vossa Ex. ressaltou nas suas palavras, deu tantos frutos ao longo de várias gerações. Neste sentido desejo recordar Santa Marianita de Jesus e, de modo especial, a jovem leiga, Beata Narcisa de Jesus, tão querida pelo povo fiel, o qual deseja poder vê-la depressa canonizada.

Nos seus santos, os fiéis cristãos descobrem o fruto maduro de uma fé que marcou a sua história. Trata-se de um património transmitido ao longo dos séculos, e que sob diversas expressões de piedade popular e da arte, juntamente com os valores morais, cívicos e sociais, fazem parte da sua identidade como Nação.

3. Hoje a humanidade encontra-se perante novos cenários de liberdade e esperança, com frequência perturbados por situações políticas instáveis e pelas consequências de estruturas sociais débeis. Além disso, vai-se ampliando cada vez mais a interdependência entre os Estados. Por isso é necessário e urgente trabalhar para a construção de uma ordem interna e internacional que promova a convivência pacífica, a cooperação, o respeito dos direitos humanos e o reconhecimento, antes de tudo, do lugar central da pessoa e da sua inviolável dignidade.

Neste sentido, e pensando nos numerosos equatorianos que emigram para outros países em condições difíceis, procurando um futuro melhor para si mesmos e para as suas famílias, não podemos esquecer que "o amor caritas será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa.

Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor, prepara-se para se desfazer do homem" (Deus caritas est ).

Portanto, a caridade é aquela que, como dom generoso de si ao outro, gerou e continua a gerar uma rede de obras educativas, assistenciais, de promoção e desenvolvimento, que honram a Igreja e a sociedade equatoriana.

4. A Igreja católica, mediante o seu próprio ministério pastoral, e que "em virtude da sua missão e natureza, não está ligada a forma alguma de cultura humana ou sistema político, económico ou social" (Gaudium et spes
GS 42), realiza uma importante contribuição para o bem comum do País. Vê-se assim a necessidade de promover e estimular o âmbito de liberdade que os textos constitucionais e legais do Equador lhe reconheceram. Por isso é desejável também que o novo ordenamento constitucional contemple as mais amplas garantias para a liberdade religiosa dos equatorianos, de modo que a Nação possa contar com uma ordem legal, também conforme com o contexto e os acordos internacionais.

5. A liberdade de acção da Igreja, além de ser um direito inalienável, é condição primordial para levar a cabo a sua missão entre o povo, inclusive em circunstâncias difíceis. Por isso, "não precisamos de um Estado que regule e domine tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie, segundo o princípio de subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais" (Deus caritas est ).

6. Nem sequer pode ser outra a aspiração de um governo democrático empenhado em fomentar uma cultura de respeito e igualdade perante a lei, assim como uma prática exemplar da autoridade, orientada para servir todo o povo. Por tudo isto, o Governo equatoriano manifestou a sua decidida vontade de se preocupar com prioridade dos mais necessitados, inspirando-se na Doutrina Social da Igreja. É desejável, portanto, que os cidadãos possam usufruir de todos os direitos, juntamente com as suas relativas obrigações, obtendo melhores condições de vida e um acesso mais fácil a uma vida digna e ao trabalho, à educação e à saúde, no pleno respeito da vida desde a sua concepção até ao seu fim natural.

559 7. Senhor Embaixador, antes de concluir este encontro desejo expressar-lhe os meus melhores votos pelo feliz desempenho da sua alta missão, que ajude a fortalecer os vínculos tradicionais de diálogo e cooperação entre o Equador e a Santa Sé, pedindo-lhe a amabilidade de se fazer intérprete dos meus sentimentos junto do seu Governo e demais Autoridades nacionais. Ao mesmo tempo, tenho presente nas minhas orações o querido povo equatoriano, e imploro abundantes bênçãos do Altíssimo sobre o Equador, sobre Vossa Excelência, sua distinta família e seus colaboradores.




NO FINAL DO CONCERTO DA ORQUESTRA SINFÓNICA E DO CORO DA RÁDIO DA BAVIERA Sala Paulo VI

Sábado, 27 de Outubro de 2007



Senhores Cardeais
Ilustre Senhor Ministro-Presidente
Estimados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Distinto Senhor Professor Gruber
Senhoras e senhores

Depois deste emocionante evento musical, desejo manifestar a minha profunda gratidão a quantos contribuíram para a sua realização. Naturalmente em primeiro lugar agradeço à orquesta sinfónica e ao coro da rádio bávara, juntamente com os excelentes solistas e o seu grande director, Mariss Jansons. A interpretação sensível e envolvedora da IX sinfonia de Beethoven renovada prova do seu talento extraordinário voltará a ressoar ainda durante muito tempo no meu íntimo e permanecerá na minha memória como um presente particular. Porém, gostaria de expressar o meu agradecimento também pela excelente execução do "Tu es Petrus", que foi composto aqui em Roma, para a basílica de São Pedro, e faz parte das grandes obras da literatura coral. Enfim, agradeço ao cardeal Friedrich Wetter e ao professor Thomas Gruber, as amáveis e profundas palavras com que, por assim dizer, me "entregaram" o dom deste concerto.

A IX sinfonia, esta obra-prima imponente, que como vossa eminência, senhor cardeal, disse pertence ao património universal da humanidade, suscita sempre de novo a minha admiração: após anos de auto-isolamento e de vida retirada, em que Beethoven teve que combater com dificuldades interiores e exteriores que lhe causavam depressão e profunda amargura, ameaçando sufocar a sua criatividade artística, o compositor já totalmente surdo, no ano de1824 surpreendeu o público com uma composição que subverte a forma tradicional da sinfonia e, na cooperação de orquestra, coro e solistas, eleva-se a um extraordinário final, cheio de optimismo e de alegria. O que tinha acontecido?

Para ouvintes atentos, a própria música deixa intuir algo daquilo que se encontra no fundamento desta inesperada explosão de júbilo. O arrebatador sentimento de alegria, aqui transformado em música, não é algo de ligeiro e de superficial: trata-se de um sentimento conquistado com dificuldade, ultrapassando o vazio interior de quem, na surdez, tinha sido impelido ao isolamento as quintas vazias do primeiro movimento e a reiterada irrupção de uma atmosfera sombria são uma expressão disto.

560 Porém, a solidão silenciosa tinha ensinado a Beethoven um novo modo de ouvir, que ia muito além da simples capacidade de experimentar na imaginação o som das notas que se lêem ou se escrevem. Neste contexto, vem-me ao pensamento uma misteriosa expressão do profeta Isaías que, falando de uma vitória da verdade e do direito, dizia: "Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras de um livro [ou seja, palavras simplesmente escritas]; livres da obscuridade e das trevas, os olhos dos cegos verão" (cf. 29, 18-24). Assim, acena-se a uma perceptividade que recebe em dom quem de Deus obtém a graça de uma libertação exterior e interior.

Quando em 1989, por ocasião da "queda do muro" o coro e a orquestra da rádio bávara, executando sob a guia de Leonard Bernstein a sinfonia que acabamos de ouvir, mudaram o texto da "Ode à alegria", em "Liberdade, bonita centelha de Deus", expressaram portanto mais que o simples sentimento desse momento histórico: a verdadeira alegria está arraigada naquela liberdade que, no fundo, somente Deus pode conceder. Ele por vezes precisamente através de períodos vazios e de isolamento interior quer tornar-nos atentos e capazes de "ouvir" a sua presença silenciosa, não apenas "acima da abóbada estrelada",mas inclusivamente no íntimo da nossa alma. É ali que arde a centelha do amor divino, que pode libertar-nos daquilo que somos verdadeiramente.

Com um "Vergelt's Gott" de coração um "obrigado" cordial concedo a todos vós a minha Bênção.




AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO INTERNACIONAL DOS FARMACÊUTICOS CATÓLICOS Segunda-feira, 29 de Outubro de 2007



Senhor Presidente
Queridos amigos!

Sinto-me feliz por vos receber, membros do Congresso internacional dos Farmacêuticos católicos, por ocasião do vosso 25º Congresso, que tem como tema: "As novas fronteiras do acto farmacêutico". O desenvolvimento actual do arsenal de medicamentos e as possibilidades terapêuticas a que dão origem exige que os farmacêuticos reflictam sobre as funções sempre maiores que estão chamados a ter, em particular como intermediários entre o médico e o doente; eles têm um papel educativo junto dos doentes para um correcto uso dos remédios e sobretudo para fazer conhecer as implicações éticas da utilização de determinados medicamentos.

Neste campo, não é possível anestesiar as consciências, por exemplo sobre os efeitos de moléculas que têm por finalidade evitar a fecundação de um embrião ou abreviar a vida de uma pessoa. O farmacêutico deve convidar todos a um despertar de humanidade, para que todos os seres sejam protegidos desde a sua concepção até à sua morte natural, e para que os remédios desempenhem verdadeiramente o seu papel terapêutico. Por outro lado, ninguém pode ser usado, de modo desconsiderado, como um objecto, para realizar experiências terapêuticas; elas devem ser realizadas segundo protocolos que respeitem as normas éticas fundamentais. Qualquer terapia ou experiência deve ter como perspectiva um eventual melhoramento da pessoa, e não apenas a busca de progressos científicos.

A pesquisa de um bem para a humanidade não pode ser feita em detrimento do bem de pessoas tratadas. No campo moral, a vossa Federação está convidada a enfrentar a questão de objecção de consciência, que é um direito que deve ser reconhecido à vossa profissão, permitindo que não colaboreis, directa ou indirectamente, no fornecimento de produtos que tenham por finalidade escolhas claramente imorais, como por exemplo o aborto e a eutanásia.

Convém também que as diferentes estruturas farmacêuticas, dos laboratórios aos centros hospitalares e aos gabinetes de investigação científica, assim como todos os nossos contemporâneos, tenham a preocupação da solidariedade no campo terapêutico, a fim de permitir um acesso aos cuidados e aos medicamentos de primeira necessidade a todas as camadas da população e em todos os países, sobretudo às pessoas mais pobres.

Como farmacêuticos católicos, que possais, sob a guia do Espírito Santo, haurir da vida de fé e do ensinamento da Igreja os elementos que vos guiarão no vosso percurso profissional junto dos doentes, que têm necessidade de um apoio humano e moral para viver na esperança e para encontrar as energias interiores que os ajudarão ao longo dos seus dias. Compete-vos também ajudar os jovens que entram nas diferentes profissões farmacêuticas a reflectir sobre as implicações éticas cada vez mais delicadas das suas actividades e das suas decisões.


Discursos Bento XVI 553