Discursos Bento XVI 572

Dezembro 2007



AOS PARTICIPANTES NO FORO DAS ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS DE INSPIRAÇÃO CATÓLICA Sábado, 1 de Dezembro de 2007

Excelências
Representantes da Santa Sé
nas Organizações internacionais
Prezados amigos

É-me grato saudar todos vós que estais reunidos em Roma para reflectir sobre a contribuição que as Organizações Não-Governamentais de inspiração católica podem oferecer, em íntima colaboração com a Santa Sé, para a solução dos numerosos problemas e desafios ligados às várias actividades das Nações Unidas e de outras organizações internacionais e regionais. Dou cordiais boas-vindas a cada um de vós. De modo particular, agradeço ao Substituto da Secretaria de Estado, que teve a amabilidade de interpretar os sentimentos corais, tendo-me ao mesmo tempo informado acerca das finalidades do vosso foro. Saúdo, outrossim, os jovens representantes das Organizações Não-Governamentais aqui presentes.

Participam neste importante encontro representantes de grupos nascidos nos primórdios da presença internacional do laicado católico, junto com membros de grupos nascidos recentemente para responder ao atual processo de integração global. Estão presentes grupos empenhados de modo particular na defesa dos direitos (advocacy) e outros dedicados à promoção de projetos de cooperação ao desenvolvimento. Algumas de vossas organizações são reconhecidas pela Igreja como associações públicas ou privadas de fiéis, outras compartilham o carisma de determinados institutos de vida consagrada e outras preferem ter somente um reconhecimento civil e incluem entre os seus membros pessoas não católicas e também não cristãs. No entanto, todos vós tendes em comum a paixão pela promoção da dignidade humana. Esta mesma paixão tem inspirado constantemente a actividade da Santa Sé no seio da comunidade internacional. Assim, o verdadeiro motivo do presente encontro consiste em expressar a gratidão e o apreço por aquilo que já estais a realizar em colaboração activa com os representantes pontifícios nas organizações internacionais. Além disso, este encontro procura promover um espírito de cooperação entre as vossas organizações e, consequentemente, a eficácia da vossa actividade conjunta em prol do bem integral da pessoa humana e de toda a humanidade.

Esta unidade de intenções só pode ser alcançada através de uma variedade de funções e actividades. Na maior parte dos casos, a diplomacia multilateral da Santa Sé procura confirmar os princípios fundamentais da vida internacional, uma vez que a contribuição específica da Igreja consiste em servir "a formação da consciência na política e ajudar a crescer a percepção das verdadeiras exigências da justiça e, simultaneamente, a disponibilidade para agir com base nas mesmas" (Deus caritas est ). Por outro lado, "o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos fiéis leigos" e no contexto da vida internacional isto inclui os diplomatas e os membros das Organizações Não-Governamentais cristãos que "são chamados a participar pessoalmente na vida pública" e a "configurar de modo recto a vida social, respeitando a sua legítima autonomia e cooperando segundo as respectivas competências e sob a própria responsabilidade" (Ibid., n. 29).

A cooperação internacional entre os governos em geral, que já sobressaía no final do século XIX e que aumentou constantemente ao longo do século passado, não obstante a trágica explosão das duas guerras mundiais, contribuiu de maneira significativa para a criação de uma ordem internacional mais justa. A este propósito, podemos considerar com satisfação conquistas como o reconhecimento universal do primado jurídico e político dos direitos do homem, a adopção de finalidades conjuntas a respeito da fruição integral dos direitos económicos e sociais por parte de todos os habitantes da terra, os esforços que se envidam em vista de desenvolver uma economia global justa e, mais recentemente, a salvaguarda do meio ambiente e a promoção do diálogo intercultural.

573 Ao mesmo tempo, os debates internacionais muitas vezes parecem caracterizar-se por uma lógica relativista que tende a considerar como única garantia para a coexistência pacífica entre os povos a rejeição de admitir a verdade acerca do homem e a sua dignidade, bem como a possibilidade de uma ética fundamentada no reconhecimento da lei moral natural. Com efeito, isto levou à imposição de uma noção da lei e da política que, em última análise, cria consenso entre os Estados um consenso às vezes condicionado por interesses a curto prazo, ou manipulado por pressões ideológicas como a única base genuína para as normas internacionais. Os frutos amargos da lógica relativista são tristemente evidentes: pensemos, por exemplo, na tentativa de considerar como direitos humanos as consequências de determinados estilos de vida egocêntricos; a falta de interesse pelas necessidades económicas e sociais das nações mais pobres; o desprezo pelas leis humanitárias; e a defesa selectiva dos direitos do homem. Faço votos a fim de que o vosso estudo e a vossa reflexão durante estes dias tenham como resultado a descoberta de formas mais eficazes de tornar a doutrina social da Igreja mais bem conhecida e aceite no plano internacional. Vos encorajo a opor ao relativismo a grande creatividade da verdade sobre a dignidade inata do homem e dos directos que dela se derivam. Por sua vez, isto há-de contribuir para a formação de uma resposta mais adequada às numerosas problemáticas que estão a ser debatidas hoje no foro internacional. Sobretudo, ajudará a fazer progredir iniciativas específicas assinaladas por um espírito de comunhão e de liberdade.

Com efeito, é necessário um espírito de solidariedade que leve a promover unidos aqueles princípios éticos que pela sua própria natureza e por ser fundamento da vida social não são negociáveis. Um espírito de solidariedade imbuído de um forte sentido de amor fraternal leva a um melhor apreço das iniciativas dos outros e a um desejo mais profundo de cooperar com os mesmos. Graças a este espírito, sempre que for útil ou necessário, trabalhar-se-á em colaboração com as várias Organizações Não-Governamentais ou com os representantes da Santa Sé, no devido respeito pelas suas diferenças de natureza, de finalidades institucionais e de métodos de trabalho. Além disso, um autêntico espírito de liberdade, vivido na solidariedade, promoverá a iniciativa dos membros das Organizações Não-Governamentais a criarem uma vasta gama de novas abordagens e soluções a propósito das questões que Deus deixou ao juízo livre e responsável de cada um dos indivíduos. Se forem vividos com solidariedade, o pluralismo e a diversidade legítimos não levarão à divisão nem à competição, mas sim a uma maior eficácia. As actividades das vossas organizações hão-de de produzir frutos genuínos, contanto que permaneçam fiéis ao magistério da Igreja, ancorados na comunhão com os seus pastores e, acima de tudo, com o Sucessor de Pedro, enfrentando com um espírito de abertura prudente os desafios do momento presente.

Estimados amigos, agradeço-vos mais uma vez a vossa presença hoje e os vossos esforços dedicados em vista de fazer progredir as causas da justiça e da paz no seio da família humana. Enquanto vos asseguro uma lembrança especial nas minhas orações, invoco sobre vós e as organizações que representais, a salvaguarda maternal de Maria, Rainha do mundo. A vós, às vossas famílias e às vossas associações, concedo cordialmente a minha Bênção apostólica.




À CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA COREIA E AO PREFEITO APOSTÓLICO DE ULAN BATOR (MONGÓLIA) POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2007

Prezados Irmãos Bispos

"Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele" (1Jn 4,16). É com estas saudações fraternas que vos dou as boas-vindas, Bispos da Coreia e Prefeito Apotólico de Ulan Bator, enquanto agradeço ao Reverendíssimo D. John Chang Yik, Presidente da Conferência Episcopal, os amáveis sentimentos expressos em vosso nome. Retribuo-os calorosamente, assegurando as minhas preces e a minha solicitude a todos vós e às pessoas que foram confiadas aos vossos cuidados pastorais. Como servos do Evangelho, viestes para ver Pedro (cf. Ga 1,18) e para fortalecer os vínculos de colegialidade que expressam a unidade da Igreja na diversidade e salvaguardam a tradição legada pelos Apóstolos (cf. Pastores gregis ).

A Igreja que está nos vossos países alcançou progressos notáveis, desde a chegada dos missionários a essa região, há mais de quatrocentos anos, e desde o seu retorno à Mongólia, há apenas quinze anos. Este crescimento é devido, em não pouca medida, ao extraordinário testemunho dos Mártires coreanos e de outros ainda em toda a Ásia, que permaneceram constantemente fiéis a Cristo e à sua Igreja. A persistência do seu testemunho fala de maneira eloquente do conceito fundamental da communio que une e vivifica a vida eclesial em todas as suas dimensões.

As numerosas exortações do Evangelista João a permanecermos no amor e na verdade de Cristo evocam a imagem de uma morada segura e certa. Deus ama-nos primeiro; quanto a nós, atraídos pela sua dádiva da água viva, "bebemos incessantemente da fonte primeira e originária, que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus" (cf. Deus caritas est ). Todavia, São João teve que exortar as suas comunidades a permanecerem nesse amor, dado que algumas delas já se tinham deixado seduzir pelas distracções que levam à debilidade interior e, eventualmente, ao desapego da communio dos fiéis.

Esta admoestação a permanecer no amor de Cristo tem também um significado particular para vós, nos dias de hoje. Os vossos relatórios chamam a atenção para a fascinação do materialismo e para os efeitos negativos de uma mentalidade secularista. Quando os homens e as mulheres se afastam da morada do Senhor, inevitavelmente perambulam pelo deserto do isolamento individual e da fragmentação social, uma vez que "o mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado" (Gaudium et spes GS 22).

Queridos Irmãos, a partir desta perspectiva é evidente que para serdes Pastores eficazes de esperança, deveis esforçar-vos por garantir que o vínculo de comunhão que une Cristo a todos os baptizados seja salvaguardado e experimentado no cerne do mistério da Igreja (cf. Ecclesia in Asia ). Com os seus olhos fixos no Senhor, os fiéis devem fazer ressoar de novo o brado de fé dos Mártires: "Nós conhecemos o amor que Deus tem por nós, pois cremos nele" (1Jn 4,16). Esta fé é sustentada e alimentada por um encontro permanente com Jesus Cristo, que se dirige aos homens e às mulheres através da Igreja: o sinal e o sacramento da comunhão com Deus e da unidade entre todos os povos (cf. Lumen gentium LG 1).

A porta de acesso a este mistério da comunhão com Deus é, naturalmente, o Baptismo. Este sacramento de iniciação, muito mais do que um ritual social ou de recepção numa comunidade em particular, é uma iniciativa da parte de Deus (cf. Rito do Baptismo, 98). As pessoas que renascem através da água da nova vida entram pela porta da Igreja universal e são inseridas no dinamismo da vida de fé. Efectivamente, a profunda importância deste sacramento põe em evidência a vossa solicitude crescente pelo facto de que não poucos dos numerosos adultos que são recebidos na Igreja na vossa região todos os anos não mantêm o compromisso na "plena... participação na celebração litúrgica, que é... por força do Baptismo, um direito e um dever..." (Sacrosanctum concilium SC 14). Encorajo-vos a assegurar, especialmente através de uma mistagogia jubilosa, que a "chama da fé" seja conservada "viva nos corações" (Rito do Baptismo, 100) dos neobaptizados.

574 Naturalmente, a palavra communio refere-se também ao centro eucarístico da Igreja, como São Paulo ensina de maneira eloquente (cf. 1Co 10,16-17). A Eucaristia arraiga a nossa compreensão da Igreja no encontro íntimo entre Jesus e a humanidade, revelando o manancial da unidade eclesial: o gesto de autodoação de Cristo a nós faz com que sejamos o seu corpo. A comemoração da morte e da ressurreição de Cristo na Eucaristia constitui a "suprema manifestação sacramental da communio na Igreja" (Ecclesia de Eucharistia EE 38), quando as Igrejas locais se deixam envolver pelos braços abertos do Senhor e fortalecer na unidade do único Corpo (cf. Sacramentum caritatis, 15).

Os vossos programas destinados a salientar a importância da Missa dominical deveriam ser transmitidos através de uma catequese sólida e animadora sobre a Eucaristia. Isto há-de fomentar um renovado entendimento do autêntico dinamismo da vida cristã entre os vossos fiéis. Uno-me a vós, exortando os leigos e, de maneira especial, os jovens na vossa região a explorarem a profundidade e a amplidão da nossa comunhão eucarística. Congregados todos os domingos na Casa do Senhor, somos consumados pelo amor e pela verdade de Cristo, tornando-nos capazes de dar esperança ao mundo.

Estimados Irmãos, os consagrados e as consagradas são justamente reconhecidos como "testemunhas e artífices daquele "plano de comunhão" que está no centro da história do homem segundo Deus" (Vita consecrata VC 46). Peço-vos que assegureis aos religiosos e às religiosas nos vossos territórios o meu apreço pela contribuição profética que estão a oferecer para a vida eclesial nas vossas nações. Estou persuadido de que, fiéis à sua natureza essencial e aos seus respectivos carismas, eles hão-de dar um testemunho corajoso do específico "dom de si mesmo por amor ao Senhor Jesus e, nele, por amor a cada membro da família humana" (Ibid., n. 3).

Quanto a vós, encorajo-vos a garantir que os religiosos e as religiosas sejam acolhidos e ajudados nos seus esforços em vista de contribuir para a tarefa conjunta de difusão do Reino de Deus. Um dos aspectos mais maravilhosos da história da Igreja diz respeito, certamente, às suas escolas de espiritualidade. Articulando e compartilhando estes tesouros vivos com os leigos, os religiosos e as religiosas hão-de contribuir em grande medida para incrementar o vigor da vida eclesial nas respectivas jurisdições. Eles ajudarão a desmentir a noção de que comunhão significa mera uniformidade, dando assim testemunho da vitalidade do Espírito Santo, animador da Igreja em todas as gerações.

Desejo concluir, reiterando brevemente a importância da promoção do matrimónio e da vida familiar na vossa região. Os vossos esforços neste campo estão no fulcro da evangelização da cultura e contribuem em grande medida para o bem-estar da sociedade no seu conjunto. Este apostolado vital, em que numerosos sacerdotes, religiosos e religiosas já se encontram comprometidos, compete justamente também aos leigos. A crescente complexidade das problemáticas relativas à família incluindo o progresso alcançado no campo da ciência biomédica, a respeito da qual pude falar recentemente ao Embaixador da Coreia junto da Santa Sé apresenta o problema de oferecer uma formação apropriada às pessoas empenhadas nesta área. A este propósito, desejo chamar a vossa atenção para a valiosa contribuição oferecida pelo Instituto para os estudos sobre matrimónio e família, hoje presente em muitas regiões do mundo.

Finalmente, dilectos Irmãos, peço-vos que transmitais ao vosso povo a minha particular gratidão pela sua generosidade à Igreja universal. Tanto o número crescente de missionários como as contribuições oferecidas pelos leigos constituem um sinal eloquente do seu espírito altruísta. Estou também consciente dos gestos concretos de reconciliação realizados em prol do bem-estar dos habitantes da Coreia do Norte. Encorajo estas iniciativas e invoco a solicitude providencial de Deus Todo-Poderoso sobre todos os norte-coreanos. Ao longo das épocas, a Ásia ofereceu à Igreja e ao mundo uma vasta plêiade de heróis da fé, que são comemorados no grande cântico de louvor: Te martyrum candidatus laudat exercitus. Que eles permaneçam como testemunhas perenes da verdade e do amor que todos os cristãos são chamados a proclamar. Confio-vos com afecto fraternal à intercessão de Maria, modelo de todos os discípulos, enquanto do íntimo do coração vos concedo a minha Bênção apostólica, a vós, aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas e aos fiéis leigos das vossas Dioceses e da vossa Prefeitura.



AOS MEMBROS DE UMA DELEGAÇÃO DA ALIANÇA BAPTISTA MUNDIAL Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2007

61207

Sala dos Papas




Queridos amigos

Dou cordiais boas-vindas a todos vós, membros da comissão conjunta internacional, promovida pela Aliança Baptista Mundial e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Estou feliz por saber que vós escolhestes como lugar para a realização do presente encontro esta cidade de Roma, onde os Apóstolos Pedro e Paulo proclamaram o Evangelho e coroaram o seu testemunho do Senhor ressuscitado até ao derramamento do próprio sangue. Estou persuadido de que os vossos colóquios hão-de dar frutos abundantes para o progresso do diálogo e o incremento da compreensão e da cooperação entre católicos e baptistas.

O tema pelo qual vós optastes para esta fase de contactos A Palavra de Deus na vida da Igreja: Escritura, Tradição e "Koinonia" oferece um contexto promissor para a análise de problemáticas historicamente controversas, como a relação entre a Escritura e a Tradição, a compreensão do Baptismo e dos sacramentos, o lugar de Maria na comunhão da Igreja, e a natureza da supervisão e do primado na estrutura ministerial da Igreja. Se quisermos que se realize a nossa esperança de reconciliação e de uma maior fraternidade entre baptistas e católicos, questões como estas deverão ser enfrentadas em conjunto, num espírito de abertura, de respeito recíproco e de fidelidade à verdade libertadora e ao poder salvífico do Evangelho de Jesus Cristo.

Como crentes em Cristo, reconhecemo-lo como o único Mediador entre Deus e a humanidade (cf.
1Tm 2,5), nosso Salvador e nosso Redentor. Ele é a pedra angular (cf. Ef Ep 2,21 1P 2,4-8) e a Cabeça do corpo, que é a Igreja (cf. Col 1,18). Neste tempo de Advento, aguardamos a sua vinda com expectativa orante. Tanto hoje como sempre, o mundo tem necessidade do nosso comum testemunho de Cristo e da esperança anunciada pelo Evangelho. Deste modo, a obediência à vontade do Senhor deveria estimular-nos constantemente a lutar por aquela unidade, expressa de maneira tão comovedora na sua oração sacerdotal: "Para que todos sejam um só... a fim de que o mundo creia" (Jn 17,21), uma vez que a falta de unidade entre os cristãos "não só contradiz abertamente a vontade de Cristo, mas também escandaliza o mundo e prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a todas as criaturas" (Unitatis redintegratio UR 1).

Estimados amigos, formulo-vos os meus bons votos e a certeza das minhas preces pela importante obra que empreendestes. Sobre os vossos colóquios, sobre cada um de vós e os vossos entes queridos, invoco os dons do Espírito Santo, de sabedoria, de compreensão, de fortaleza e de paz.




NO ENCONTRO COM OS MEMBROS DO PONTIFÍCIO INSTITUTO ORIENTAL POR OCASIÃO DO 90º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO Quinta-feira, 6 de Dezembro de 2007

6127
Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Queridos irmãos e irmãs!

É para mim motivo de grande alegria acolher-vos por ocasião do 90º aniversário do Pontifício Instituto Oriental, querido pelo Papa que o fundou, o meu venerado Predecessor Bento XV. Os tempos daquele Papa foram tempos de guerra, quando ele tanto trabalhou pela paz! E para garantir a paz lançou vários apelos, e elaborou também, em 1917, quando foi fundado o vosso Instituto, um plano concreto de paz, um plano pormenorizado que, infelizmente, não teve êxito. Contudo, para garantir a paz no interior da Igreja, ele lançou as bases, no espaço de poucos meses, de três monumentos de valor inestimável: a Congregação para a Igreja Oriental, mais tarde nomeada "para as Igrejas Orientais"; o Pontifício Instituto Oriental para o estudo dos aspectos teológicos, litúrgicos, jurídicos e culturais, que compõem o saber do Oriente cristão; e o Codex Iuris Canonici.

Obrigado pela vossa visita, queridos amigos! Saúdo-vos a todos com afecto. Em primeiro lugar saúdo o Senhor Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, ao qual agradeço os sentimentos expressos em nome de todos; saúdo os outros Senhores Cardeais, os Prelados presentes, os alunos e todos os que fazem parte da Comunidade do Pontifício Instituto Oriental. Faço extensivo o meu pensamento afectuoso a quantos, nestes noventa anos, deram a sua contribuição para fazer com que o vosso Instituto corresponda cada vez mais às expectativas da Igreja e do mundo.

O Papa Bento XV, ao qual me sinto particularmente ligado, criou portanto, a cinco meses e meio de distância, a 1 de Maio a Congregação para as Igrejas Orientais, e a 15 de Outubro o Instituto Oriental. O benefício foi a favor das Igrejas católicas orientais, gozando de um regime mais adequado às suas tradições, sob o olhar dos Romanos Pontífices que manifestaram incessantemente a sua solicitude com gestos efectivos de apoio, como por exemplo o convite a tantos estudantes orientais para virem a Roma a fim de crescer no conhecimento da Igreja universal. Por vezes momentos difíceis puseram à dura prova estas Comunidades eclesiais que, mesmo fisicamente distantes de Roma, permaneceram sempre próximas através da sua fidelidade à Sé de Pedro. O seu progresso e a sua firmeza nas dificuldades teriam sido contudo impossíveis sem o apoio constante que puderam obter daquele oásis de paz e de estudo que é o Pontifício Instituto Oriental, ponto de encontro de vários estudiosos, professores, escritores e editores, entre os melhores peritos do Oriente cristão. Merece uma menção especial aquela preciosidade que é a Biblioteca do mesmo Instituto, fundada pelo meu Predecessor Pio XI, ex-bibliotecário da Ambrosiana e magnífico mecenas do fundo histórico da Biblioteca do Pontifício Instituto Oriental. É uma Biblioteca justamente famosa em todo o mundo, e também uma das melhores sobre o Oriente cristão. Faz parte do meu compromisso fazê-la crescer ainda mais, como sinal do interesse da Igreja de Roma pelo conhecimento do Oriente cristão e como meio para eliminar eventuais preconceitos que poderiam ser nocivos para uma convivência cordial a harmoniosa entre cristãos. De facto, estou convicto de que o apoio dado ao estudo assume também um eficaz valor ecuménico, dado que haurir do património da sabedoria do Oriente cristão enriquece a todos.

Em relação a isto, o Pontifício Instituto Oriental constitui um insigne exemplo do que a sabedoria cristã tem para oferecer a quantos desejam adquirir um conhecimento cada vez mais exacto das Igrejas orientais, quer para aprofundar aquela orientação na vida segundo o Espírito, que representa um tema sobre o qual o Oriente cristão justamente se orgulha da sua riquíssima tradição. Estes são tesouros preciosos não só para os estudiosos, mas também para todos os membros da Igreja. Hoje em dia, graças às diversas edições disponíveis dos Padres Orientais, já não são tesouros "fechados à chave". Decifrá-los e interpretá-los de maneira competente, elaborar sínteses dogmáticas sobre Deus Trinitário, sobre Jesus Cristo e a Igreja, sobre a Graça e os Sacramentos, reflecte sobre a vida eterna da qual já podemos saborear uma antecipação nas celebrações litúrgicas, tudo isto é tarefa de quem estuda no Pontifício Instituto Oriental.

Queridos Professores, expresso a vós, em particular, o meu profundo apreço aos vossos estudantes. Agradeço com afecto à Companhia de Jesus, a cuja competência académica e zelo apostólico está confiado o Pontifício Instituto Oriental há 85 anos. Desejo-vos de coração todo o bem, queridos estudantes, que viestes a Roma para partilhar com muitos outros provenientes de todas as partes do mundo o contacto directo com o centro da Igreja universal. E a minha gratidão não pode esquecer um elo muito importante; refiro-me a quantos, mesmo não se dedicando directamente ao trabalho científico, prestam uma grande contribuição: são os amigos que dão apoio ao Pontifício Instituto Oriental com a sua solidariedade; os benfeitores, aos quais devemos muito do progresso material desta instituição; o pessoal, sem o qual não se poderia garantir o seu funcionamento quotidiano. A todos digo obrigado do fundo do coração e, em penhor da divina recompensa, concedo com afecto a Bênção Apostólica.



ATO DE VENERAÇÃO À VIRGEM IMACULADA NA PRAÇA DE ESPANHA

8127
Solenidade da Imaculada Conceição

da Bem-Aventurada Virgem Maria


Sábado, 8 de Dezembro de 2007


Queridos irmãos e irmãs!

Num encontro que já se tornou tradicional, estamos aqui, na Praça de Espanha, para oferecer a nossa homenagem floreal a Nossa Senhora, no dia em que toda a Igreja celebra a festa da sua Imaculada Conceição. Seguindo os passos dos meus Predecessores, também eu me uno a vós, queridos irmãos de Roma, para vir aqui com afecto e amor honrar Maria, que há cento e cinquenta anos vela do alto desta coluna sobre a nossa Cidade. Portanto, o nosso gesto de hoje é um gesto de fé e de devoção que a nossa comunidade cristã repete de ano para ano, quase a recordar o próprio compromisso de fidelidade para com Aquela que, em todas as circunstâncias da vida quotidiana, nos garante a sua ajuda e a sua protecção materna.

Esta manifestação religiosa é ao mesmo tempo uma ocasião para oferecer a quantos em Roma vivem ou transcorrem alguns dias como peregrinos e turistas, a oportunidade de se sentirem, mesmo na diversidade das culturas, uma única família que se reúne à volta de uma Mãe que compartilhou as fadigas quotidianas de cada mulher e mãe de família. Contudo, uma mãe totalmente singular, escolhida por Deus para uma missão única e misteriosa, a de gerar para a vida terrena o Verbo eterno do Pai, que veio ao mundo para a salvação de todos os homens. E Maria, Imaculada na sua concepção assim a veneramos hoje com reconhecimento devoto percorreu a sua peregrinação terrena amparada por uma fé intrépida, seguindo as pegadas do seu filho Jesus. Esteve ao seu lado com solicitude materna desde o nascimento até ao Calvário, onde assistiu à sua crucifixão petrificada pela dor, mas inabalável na esperança. Depois experimentou a alegria da sua ressurreição, na alvorada do terceiro dia, do novo dia, quando o Crucificado deixou o sepulcro vencendo para sempre e de modo definitivo o poder do pecado e da morte.

Maria, em cujo seio virginal Deus se fez homem, é nossa Mãe! De facto, do alto da cruz Jesus, antes de cumprir o seu sacrifício, no-la deu como mãe e a ela nos confiou como seus filhos. Mistério de misericórdia e de amor, dom que enriquece a Igreja com uma fecunda maternidade espiritual. Dirijamos sobretudo hoje o nosso olhar para ela, queridos irmãos e irmãs, e, implorando a sua ajuda, predisponhemo-nos a fazer tesouro de todos os seus ensinamentos maternos. Esta nossa Mãe celeste não nos convida porventura a evitar o mal e a cumprir o bem seguindo docilmente a lei divina inscrita no coração de cada cristão? Ela, que conservou a esperança mesmo na máxima provação, não nos pede porventura para não desanimar quando o sofrimento e a morte batem à porta das nossas casas? Não nos pede para olharmos para o nosso futuro? Não nos exorta a Virgem Imaculada a ser irmãos uns dos outros, todos irmanados pelo compromisso de construir juntos um mundo mais justo, solidário e pacífico?

Sim, queridos amigos! Mais uma vez, neste dia solene, a Igreja indica ao mundo Maria como sinal de esperança certa e de vitória definitiva sobre o bem e sobre o mal. Aquela que invocamos "cheia de graça" recorda-nos que somos todos irmãos e que Deus é nosso Criador e nosso Pai. Sem Ele, ou ainda pior, contra Ele, nós homens nunca poderemos encontrar o caminho que leva ao amor, nunca poderemos derrotar o poder do ódio e da violência, nunca poderemos construir uma paz estável.

Que os homens de todas as nações e culturas acolham esta mensagem de luz e de esperança: acolham-na como dom das mãos de Maria, Mãe da inteira humanidade. Se a vida é um caminho, e este caminho com frequência se torna escuro, duro e cansativo, poderá aquela estrela iluminá-lo? Na minha encíclica Spe salvi, publicada no início do Advento, escrevi que a Igreja olha para Maria e invoca-a como "estrela da esperança" (n. 49). Na nossa viagem comum pelo mar da história precisamos de "luzes de esperança", isto é, de pessoas que haurem luz de Cristo "e assim oferecem orientação para a nossa travessia" (cf. ibid.). E quem, melhor que Maria, pode ser para nós "Estrela de esperança"? Ela, com o seu "sim", com a oferenda generosa da liberdade recebida do Criador, consentiu que a esperança dos milénios se tornasse realidade, que entrasse neste mundo e na nossa história. Por seu meio Deus fez-se carne, tornou-se um de nós, ergueu a sua tenda entre nós.

Por isso, animados por filial confidência, pedimos-lhe: "Ensina-nos Maria, a crer, a esperar e a amar contigo; indica-nos o caminho que conduz à paz, o caminho para o reino de Jesus. Tu, Estrela da esperança, que trepidante nos esperas na luz sem ocaso da eterna Pátria, brilha sobre nós e guia-nos nas vicissitudes de cada dia, agora e na hora da nossa morte. Amém!".

Uno-me aos peregrinos reunidos nos santuários marianos de Lourdes e de Fourvière para honrar a Virgem Maria, neste Ano jubilar do 150º aniversário das aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadete. Graças à sua confiança em Maria e ao seu exemplo, eles tornar-se-ão verdadeiros discípulos do Salvador. Com as peregrinações, eles apresentam numerosos aspectos da Igreja às pessoas que estão em busca e que vêm visitar os santuários. No seu caminho espiritual, eles são chamados a manifestar a graça do seu Baptismo, a alimentar-se da Eucaristia, a haurir da oração a força para o testemunho e a solidariedade com todos os irmãos em humanidade. Possam os santuários desenvolver a sua vocação à oração e ao acolhimento das pessoas que desejam, sobretudo pelo sacramento do Perdão, reencontrar o caminho de Deus. Dirijo também os meus votos cordiais a todas as pessoas, sobretudo aos jovens, que celebram em alegria a festa da Imaculada Conceição, particularmente as iluminações da metrópole de Lião. Peço à Virgem Maria que vele sobre os habitantes de Lião e de Lourdes, e que lhes conceda a todos, assim como aos peregrinos que participam nas cerimónias, uma afectuosa Bênção Apostólica.



AO SENHOR SUHAIL KHALIL SHUHAIBER NOVO EMBAIXADOR DO KUWAIT JUNTO DA SANTA SÉ Quinta-feira, 13 de Dezembro de 2007

13127 Excelência

Recebo-o de bom grado no Vaticano e aceito as Cartas através das quais Vossa Excelência é acreditado como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Estado do Kuwait junto da Santa Sé. Agradeço-lhe de todo o coração as saudações que me transmitiu da parte de Sua Alteza o Emir Xeque Sabah Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah, e peço-lhe que tenha a amabilidade de lhe transmitir as minhas calorosas saudações pessoais, juntamente com a certeza das minhas preces pela contínua prosperidade da nação e dos seus cidadãos.

No próximo ano celebra-se o 40º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Kuwait e a Santa Sé. Aproveito de bom grado este ensejo para expressar a minha esperança de que estas boas relações sejam ulteriormente consolidadas. O seu país, que superou os efeitos devastadores da violência e da guerra, continua a desempenhar um papel importante no delicado processo de reconciliação que oferece a única esperança segura para a solução de muitos problemas complexos que atingem o Médio Oriente. A Constituição democrática do Kuwait, que reflecte a herança de valores culturais e religiosos da nação, orienta-se segundo os princípios da justiça, do respeito pela regra da lei e pela salvaguarda dos direitos humanos fundamentais. Estes princípios, que em última análise estão alicerçados na dignidade inviolável da pessoa humana, devem encontrar em toda a parte o reconhecimento jurídico e a aplicação concreta, se quisermos que a liberdade genuína, o desenvolvimento integral e a paz reinem no meio das nações e dos povos do mundo.

A este propósito, aprecio enormemente a referência de Vossa Excelência ao reconhecimento por parte do seu país, da importância do diálogo inter-religioso e intercultural para a promoção da paz. Este diálogo e aqui penso com satisfação nos contactos crescentes entre os muçulmanos e os cristãos é essencial para a superação das incompreensões e para a promoção de relações caracterizadas pelo respeito e pela cooperação recíprocos na busca do bem comum de toda a família humana. As crianças, de modo particular, devem ser educadas nos valores autênticos, subjacentes à cultura que lhes é própria, num espírito de abertura às outras culturas, de respeito pelo próximo e de compromisso em prol da paz. Num mundo em que a intolerância, a violência e a opressão são com demasiada frequência propostas como a solução para as discórdias e o conflito, há urgente necessidade de uma "ecologia humana" (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, n. 10), capaz de extirpar estes males e de semear estas virtudes, que hão-de fomentar o crescimento de uma verdadeira cultura humana da honestidade, da solidariedade e da concórdia.

A vida nacional do Kuwait caracteriza-se pela presença de minorias significativas, incluindo um elevado número de trabalhadores estrangeiros residentes. A presença deles no país do Senhor Embaixador constitui por si mesmo uma fonte de enriquecimento e um incentivo constante para definir as condições necessárias para a coexistência pacífica e o progresso social. A este propósito, não posso deixar de mencionar os numerosos católicos que vivem e trabalham no Kuwait, os quais podem prestar livremente o culto nas suas igrejas. A Constituição da sua nação, justamente, defende a liberdade religiosa dos mesmos. Este direito fundamental, assente na dignidade inviolável da pessoa, é oportunamente considerado como a pedra angular de todo o edifício dos direitos humanos. Manifesto o meu apreço pelas cordiais relações que a Igreja mantém com as autoridades civis e os meus bons votos a fim de que, enquanto a comunidade católica no Kuwait continua a crescer, as autoridades os assistam de bom grado a enfrentarem a urgente necessidade de estruturas novas e mais adequadas para o culto e para as assembleias.

Os católicos do Kuwait procuraram contribuir para o desenvolvimento da sociedade mais ampla, também através das suas instituições educativas. Embora sejam pouco numerosos, eles estão inteiramente comprometidos na formação das mentes e dos corações dos seus estudantes, num ambiente que põe em evidência valores espirituais sólidos e inculca o respeito pela dignidade e pela crença do próximo. Formulo votos a fim de que, no livre cumprimento da missão que lhes é própria, incluindo a formação dos jovens estudantes cristãos na sua fé, estas escolas contribuam para fortalecer o tecido da sociedade, preparando os seus estudantes para que colaborem na edificação de um futuro de solidariedade e de esperança para as gerações vindouras.

Excelência, no momento em que o Senhor Embaixador empreende a missão de representante do Estado do Kuwait junto da Santa Sé, peço-lhe que aceite os meus melhores votos pessoais pelo bom êxito do seu importante trabalho. Tenha a certeza de que poderá contar sempre com a ajuda e a assistência dos departamentos da Santa Sé no cumprimento das suas exímias responsabilidades. Sobre Vossa Excelência, a sua família e todo o amado povo do Kuwait, invoco do íntimo do meu coração as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.




Discursos Bento XVI 572