Discursos Bento XVI 10407


VIA-SACRA NO COLISEU Sexta-feira Santa, 6 de Abril de 2007

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NO FINAL DA VIA-SACRA


Queridos irmãos e irmãs!

Seguindo Jesus no caminho da Sua paixão vemos não só a paixão de Jesus, mas todos os sofrimentos do mundo e esta é a profunda intenção da oração da Via-Sacra: abrir os nossos corações e ajudar-nos a ver com o coração.

Os Padres da Igreja consideram como o maior pecado do mundo pagão a insensibilidade, a dureza do coração e amavam a profecia do profeta Ezequiel: "arrancarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne" (cf. Ez
Ez 36,26). Converter-se a Cristo, tornar-se cristão significava receber um coração de carne, um coração sensível à paixão e aos sofrimentos dos outros.

O nosso Deus não é um Deus distante, intocável na sua bem-aventurança: o nosso Deus tem um coração. Aliás, tem um coração de carne, fez-se carne precisamente para poder sofrer connosco e estar connosco nos nossos sofrimentos. Fez-se homem para nos dar um coração de carne e para despertar em nós o amor pelos sofredores e necessitados.

Nesta noite, rezemos ao Senhor por quantos sofrem no mundo. Rezemos ao Senhor para que nos dê realmente um coração de carne, nos torne mensageiros do seu amor não só com palavras, mas com toda a nossa vida. Amém.




DURANTE O ENCONTRO COM O CARDEAL FRIEDRICH WETTER, ADMINISTRADOR APOSTÓLICO DE MÜNCHEN UND FREISING Segunda-feira, 16 de Abril de 2007


Estimado Senhor Cardeal
Prezado Senhor Cónego
Queridos amigos

Há tanto para agradecer, que não sei por onde começar. E quando o coração está repleto, às vezes a palavra pode transbordar, mas por vezes também os lábios podem emudecer. Neste momento, faltam-me as palavras para expressar a gratidão como, segundo o meu coração, gostaria de fazer. Desejo agradecer-te de coração, querido Irmão, tudo aquilo que ofereceste durante estes longos anos como Arcebispo de München toda a tua força, a tua fé, o teu amor, o teu conhecimento, a tua coragem e a tua amizade. Na minha opinião, a Arquidiocese sente tudo isto e sabe que está a ser orientada por um bom Pastor. Nestas horas, oremos ao bom Deus a fim de que nos ajude a encontrar a pessoa justa, que possa tomar nas suas mãos o báculo de São Corbiniano.

425 Sobretudo, gostaria de agradecer de coração tudo o que pude experimentar durante aqueles bonitos dias da minha visita à Baviera especialmente a München e a Freising: o amor, a atenção, o cuidado na preparação, a dedicação e, obviamente, as preces em comum. Aqueles dias desde o início, no aeroporto, e particularmente na Marienplatz, na Catedral de München e na Catedral de Freising, na Feira e no próprio Paço Episcopal. estão presentes na minha mente de maneira luminosa. O homem tem necessidade de lembranças que o ajudem. Habitualmente, volto a percorrer com a alma reconhecida a paisagem das lembranças; e então, em particular, gosto de voltar com a mente àqueles dias abençoadas.

Agradeço a todos vós, caros Irmãos: estou ligado a cada um, de alguma maneira, através de um particular relacionamento pessoal; não é necessário que agora os enumere e nem sequer conseguiria fazê-lo. Bem sei como vós, cada um no seu lugar, desempenhais o vosso serviço para o bem da Arquidiocese, da Igreja de Deus, na profunda comunhão com aquele que foi escolhido como Sucessor de Pedro. Bem sei como, por assim dizer, todo um caminho existencial e a entrega de uma vida, a luta interior e a dificuldade de uma existência estão entrelaçados no vosso compromisso, irradiando-se na Arquidiocese e contribuindo para fazer com que assim possais viver a fé na comunhão da Igreja, na comunhão com o Senhor e na comunhão com Nossa Senhora de München, e transmiti-la alegremente no futuro. Vós sois o Cabido Metropolitano de Nossa Senhora que bonito nome que une, nomeadamente, a metrópole, ou seja, a cidade-mãe da fé à própria Mãe da fé, para assim transmitir o vigor e a cordialidade da fé na nossa terra da Baviera.


Hoje de manhã tive dois diálogos animadores: o primeiro com o Ministro-Presidente da Baviera, e o segundo com o Ministro-Presidente de Schleswig-Holstein que, embora sejam provenientes de ambientes e tenham temperamentos notavelmente diferentes, contudo ambos manifestaram esta certeza interior, de que a fé abre um futuro e que neste momento do encontro das culturas, mas também do conflito predominante entre as várias culturas, é extremamente importante que a força interior, pacificadora e purificadora da fé cristã, permaneça viva no nosso povo, influenciando desta forma o futuro como força do bem.

E hoje de manhã realizou-se depois mais um encontro: com o Metropolita Ioannis Zizioulas de Pérgamo, enviado pelo Patriarca de Constantinopla, um dos grandes promotores do diálogo católico-ortodoxo. Ele é animado por uma profunda convicção interior, ou seja, que o encontro entre Roma e a Ortodoxia seja de importância fundamental para o continente europeu e para o futuro da história universal e que devemos envidar todos os esforços possíveis, a fim de que este encontro leve verdadeiramente à comunhão fraterna, e que dela venha a nascer em seguida a bênção da comunhão da fé: a bênção para que a humanidade possa ver que somos "um só" e, fundamentada nisto, possa crer em Cristo. Penso que é esta a missão que compete a todos nós: comprometermo-nos cada qual na função que lhe é própria a fim de que a força da fé se torne concreta neste mundo, eficaz como alegria, como confiança e como dom neste momento.

Mais uma vez, obrigado pelo encontro de München e pelo encontro desta hora. Oremos em conjunto ao Senhor, a fim de que Ele ajude cada um de nós a fazer o que é justo, para que desta maneira a nossa história seja abençoada. Obrigado a todos de coração, e transmiti os meus cumprimentos à Baviera!





PALAVRAS NO FINAL DO ALMOÇO COM OS CARDEAIS POR OCASIÃO DO SEU 80º ANIVERSÁRIO Sala Ducal Segunda-feira, 16 de Abril de 2007

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Queridos irmãos e amigos, neste momento posso apenas dizer obrigado de todo o meu coração.

Antes de tudo, obrigado ao Senhor Cardeal Decano do Colégio Cardinalício, quer pelas palavras que me dedicou ontem com requintada benevolência, quer por quanto escreveu em "30 Giorni", e depois pela preparação tão delicada e competente deste bom almoço, durante o qual vivemos um momento da nossa colegialidade afectiva e efectiva; diria antes um momento não só de colegialidade mas de autêntica fraternidade. Experimentamos realmente como é agradável estar juntos. "Ecce quam bonum et quam iucundum / habitare fratres in unum" (
Ps 133 [132], 1).

Estou grato por esta experiência de fraternidade que sinto também na minha vida quotidiana. Mesmo se não nos vemos continuamente, sinto sempre e verifico a colaboração de quem me ajuda.

O Colégio Cardinalício oferece realmente um apoio eficiente e grande ao trabalho do Sucessor de Pedro. Desejo agradecer também a todos os Cardeais que escreveram tantas palavras gentis em "30 Giorni" e no Suplemento especial de "Avvenire" e também noutras publicações. Obrigado também aos que não escreveram mas pensaram e rezaram. O verdadeiro dom deste dia para mim é a oração que me dá a certeza de que sou aceite no interior e, sobretudo, ajudado e apoiado no meu ministério petrino, um ministério que não posso desempenhar sozinho, mas unicamente em comunhão com todos os que comigo colaboram, também rezando, para que o Senhor esteja com todos nós e comigo. Hoje no Escritório das Cartas recitamos as palavras de um Salmo que têm um sabor particular de verdade e que são para mim muito preciosas: "In manibus tuis sortes meae" (Ps 31 [30], 16); na Vetus latina o texto ressoava: "In manu tua tempora mea"; na tradição italiana diz-se: "Nas tuas mãos estão os meus dias"; no texto grego fala-se de Kairoí mou. Todas estas versões são o reflexo de uma única verdade, isto é, que o nosso tempo, todos os dias, as vicissitudes da nossa vida, o nosso destino, o nosso agir está nas boas mãos do Senhor. Esta é a grande confiança com a qual vamos em frente, sabendo que estas mãos do Senhor são amparadas pelas mãos e pelos corações de tantos Cardeais. Este é para mim o motivo da grande alegria deste dia.

Obrigado a todos vós, e bons votos!




NO FINAL DO CONCERTO DA «RADIO-SINFONIEORCHESTER» DE STUTTGART POR OCASIÃO DO SEU 80º ANIVERSÁRIO Segunda-feira, 16 de Abril de 2007

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Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Senhoras e Senhores
Prezados amigos

No final deste maravilhoso concerto, que a orquestra sinfónica da radiotelevisão de Stuttgart nos ofereceu, elevando os nossos espíritos, desejo em primeiro lugar saudar todos vós com profunda cordialidade.

Estou agradecido ao Ministro Willi Stächele e ao Director-Geral da "Südwestrundfunks", Professor Peter Voß, pelas amáveis palavras introdutivas que me dirigiram.

Foi de bom grado e com alegria que aceitei o vosso dom musical, este maravilhoso presente de aniversário da Alemanha sul-ocidental, sobretudo porque o Estado de Baden-Württemberg está vinculado a uma importante fase formativa da minha vida. O Ministro já recordou as minhas raízes.

De facto, penso com prazer nos anos transcorridos em Tübingen, no intercâmbio intelectual e científico naquela importante universidade e nos numerosos e preciosos encontros humanos, que ali se realizaram, que duraram anos e décadas e que ainda estão vivos. Agora, gostaria de agradecer sobretudo aos artistas desta tarde, os instrumentalistas da "Stuttgarter Radio-Sinfonieorchester", a "Swr" que, com a sua habilidade, ofereceram a todos nós uma autêntica experiência de força inspiradora de grande música. Estou grato ao Director, Gustavo Dudamel, bem como à solista Hilary Hahn e a todos vós, senhoras e senhores! Dado que a linguagem da música é universal, vemos pessoas de origens culturais e religiosas completamente diferentes, que se deixam arrebatar e de igual forma orientar por ela, tornando-se os seus intérpretes.

Hoje, esta universalidade da música é particularmente salientada, graças aos instrumentos electrónicos e digitais da comunicação. Quantas pessoas, nos mais diversificados países, tem a possibilidade de participar, permanecendo nas suas próprias casas, nesta execução musical ou mesmo de a reviver num segundo momento! Estou persuadido de que a música e aqui penso em particular no grande Mozart e nesta tarde, naturalmente, na maravilhosa música de Gabrieli e no majestoso "Novo Mundo", de Dvorák é realmente a linguagem universal da beleza, capaz de unir entre si os homens de boa vontade em toda a terra e de os levar a elevar o seu olhar ao Alto e a abrir-se ao Bem e à Beleza absolutos, que tem a sua nascente última no próprio Deus. Ao reflectir sobre a minha vida, dou graças a Deus por ter posto ao meu lado a música, quase como uma companheira de viagem, que sempre me ofereceu conforto e alegria. Estou grato também às pessoas que, desde os primeiros anos da minha infância, me aproximaram desta fonte de inspiração e de serenidade.

Agradeço àqueles que unem a música e a oração no louvor harmonioso de Deus e das suas obras: eles ajudam-nos a glorificar o Criador e Redentor do mundo, que é a obra maravilhosa das suas mãos. Estes são os meus bons votos: que a grandeza e a beleza da música possam infundir inclusive em vós, queridos amigos, uma renovada e contínua inspiração para construir um mundo de amor, de solidariedade e de paz. Por isso invoco sobre vós, aqui congregados nesta tarde no Vaticano, e sobre todos aqueles que estão sintonizados connosco através da rádio e da televisão, a constante protecção de Deus, daquele Deus de amor que deseja acender continuamente nos nossos corações a chama do bem e alimentá-la com a sua Graça. Ele, o Senhor e Dador da vida nova e definitiva, cuja vitória celebramos com júbilo neste período pascal, abençoe todos vós!
Agradeço-vos mais uma vez a vossa presença e os bons votos formulados! Desejo um bom período pascal a todos vós.

Obrigado!




AOS MEMBROS DA "PAPAL FOUNDATION" Sexta-feira, 20 de Abril de 2007

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Sala Clementina


Queridos amigos

É-me grato saudar-vos, membros da Papal Foundation, por ocasião da vossa peregrinação anual a Roma. Este ano, o nosso encontro é mais uma vez repleto da alegria do período pascal, em que a Igreja comemora a passagem de Cristo da morte para a vida, a aurora da nova criação e a efusão do Espírito Santo. Que este mesmo Espírito encha os vossos corações com os dons da sabedoria, do júbilo e da paz, e que a vossa peregrinação aos túmulos dos Apóstolos e Mártires renove o vosso amor ao Senhor e à sua Igreja.

Desde o seu início, a Papal Foundation procurou fomentar a missão da Igreja, promovendo obras de caridade específicas, próximas ao coração do Sucessor de Pedro na sua solicitude por todas as Igrejas (cf.
1Co 11,28). É de bom grado que aproveito esta oportunidade para manifestar o meu agradecimento não apenas pela assistência que a Fundação tem oferecido aos países menos desenvolvidos, através de concessões que contribuem para uma variedade de programas educativos e caritativos, mas inclusive mediante bolsas de estudo concedidas a fiéis leigos, sacerdotes, religiosos e religiosas, para que possam estudar nas Universidades Pontifícias aqui em Roma. Desta forma, vós estais a oferecer uma significativa contribuição para a formação dos líderes do futuro, cujas mentes e corações sejam modelados pelo ensinamento do Evangelho, pela sabedoria do Magistério social da Igreja e por um profundo sentido de comunhão com a Igreja universal, no seu serviço a toda a família humana.

Durante este período pascal, encorajo todos vós a redescobrir cada vez mais plenamente na Eucaristia, o sacramento do amor sacrifical de Cristo, a inspiração e a fortaleza necessárias para trabalhar de forma cada vez mais generosa pela propagação do Reino de Deus e pelo crescimento da civilização do amor (cf. Sacramentum caritatis, 90). É com profundo carinho que vos confio, assim como as vossas famílias, à intercessão amorosa de Maria, Mãe da Igreja, enquanto vos concedo cordialmente a minha Bênção Apostólica como penhor da alegria e da paz no Senhor.



VISITA PASTORAL À VIGEVANO E PAVIA


AOS JOVENS E DOENTES REUNIDOS NA PRAÇA SANTO AMBRÓSIO EM VIGEVANO Sábado, 21 de Abril de 2007

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Queridos irmãos e irmãs

Estou feliz por me encontrar no meio de vós, e agradeço-vos a vossa cordial e festiva hospitalidade. Ao descer do helicóptero, quase ouvi o eco dos sinos de todas as igrejas da Diocese que, ao meio-dia, soaram festivamente para me dirigir uma saudação coral. Estou-vos reconhecido também por este gesto de carinho. O meu primeiro encontro foi com os jovens das escolas e das sociedades desportivas, que vieram acolher-me no estádio municipal. Depois, ao longo do percurso, vi muita gente. Obrigado a todos e a cada um. Aqui em Vigevano, a única Diocese da Lombardia que o meu venerado Predecessor João Paulo II não visitou, desejei dar início a esta minha peregrinação pastoral na Itália. Assim, é como se retomasse o caminho por ele percorrido para continuar a proclamar aos homens e às mulheres da amada Itália o anúncio, antigo e sempre novo, que ressoa com particular vigor neste tempo pascal: Cristo ressuscitou! Cristo está vivo! Cristo está connosco hoje e sempre!

Saúdo o Presidente da Câmara Municipal desta Cidade, a quem agradeço as amáveis palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome da comunidade civil. Exprimo um agradecimento cordial a quantos cooperaram de diversos modos para a preparação e a realização desta minha visita, para a qual vos predispusestes especialmente com a oração. Dirijo um pensamento especial às Irmãs Adoradoras Perpétuas do Santíssimo Sacramento, que acabei de encontrar; a sua presença orante constitui para toda a Diocese uma exortação perene a considerar cada vez mais a importância da Eucaristia, centro e ápice da vida da Igreja. A estas queridas Irmãs, que consagraram toda a sua existência ao Senhor, cheguem o meu encorajamento e o meu reconhecimento. Além disso, saúdo os doentes e, enquanto me dirijo a vós aqui presentes, estendo o meu pensamento àqueles que nos países e nas cidades da Diocese sofrem, estão em dificuldade ou são marginalizados. A protecção materna da Virgem Santa seja para cada um sustento e conforto na prova.

Agora dirijo uma saudação especial a vós, caros jovens reunidos nesta praça, enquanto espiritualmente abraço todos os jovens de Vigevano e da Lomellina. Prezados amigos, Cristo ressuscitado renova a cada um de vós o seu convite a segui-lo. Não hesiteis em confiar nele: encontrai-o, ouvi-o e amai-o com todo o vosso coração; na amizade com Ele haveis de experimentar a verdadeira alegria que dá sentido e valor à existência.

Caros irmãos e irmãs, teria aceite de bom grado o convite a prolongar a minha estadia na vossa Diocese, mas não me é possível, e então permiti-me que estreite num grande abraço cada habitante desta Cidade e dos Vicariatos de Mortara, Garlasco, Mede e Cava Manara. Daqui a pouco, reunidos todos espiritualmente em volta do altar para a solene Concelebração eucarística, rezaremos para que o Senhor ressuscitado faça com que a visita do Sucessor de Pedro suscite em cada membro da vossa Comunidade diocesana um renovado fervor espiritual. Com estes bons votos, concedo cordialmente a todos uma especial Bênção Apostólica.




AOS JOVENS REUNIDOS NA PRAÇA DA CATEDRAL DE PAVIA Sábado, 21 de Abril de 2007

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Queridos irmãos e irmãs

Depois de ter transcorrido esta tarde em Vigevano, eis-me agora no meio de vós, em Pavia, nesta praça, com a majestosa e imponente Catedral do século XV que lhe serve de moldura. Nesta igreja estão há séculos conservadas ciosamente, como num cofre, os despojos de São Siro, primeiro Bispo, dos séculos III-IV. Neste momento, tais relíquias estão provisoriamente conservadas na igreja do Carmo. Estou grato a todos vós por me terdes esperado e ouvido com ardor. Neste nosso primeiro encontro, desejo saudar a Senhora Presidente da Câmara Municipal e o Ministro Mastella, aos quais agradeço as cordiais palavras que me dirigiram. Saúdo também as demais Autoridades civis presentes. Desejo dirigir uma saudação especial ao Pastor da Diocese, o Bispo D. Giovanni Giudici e, juntamente com ele, saúdo os sacerdotes, as religiosas, os religiosos e quantos se dedicam activamente ao trabalho pastoral.

Desejo dirigir uma palavra particularmente afectuosa de modo especial a vós, estimados jovens, reunidos em tão grande número para este meu primeiro contacto com a vossa Diocese. Dela vós representais a esperança e o futuro: por isso, estou feliz por começar a minha primeira visita precisamente convosco. Obrigado pela presença numerosa. Venho ao meio de vós esta tarde para vos renovar um anúncio que é sempre jovem, para vos confiar uma mensagem que, quando é ouvida, muda a existência, renovando-a e tornando-a repleta. A Igreja proclama esta mensagem com particular alegria neste tempo pascal: Cristo ressuscitado está vivo no meio de nós! Também hoje! Quantos dos vossos coetâneos ao longo da história, queridos jovens, O encontraram e se tornaram seus amigos! Seguiram-no fielmente e deram testemunho do seu amor com a própria vida!

E então, não tenhais medo de oferecer a vossa existência a Cristo: Ele nunca desilude as nossas expectativas, porque sabe o que há no nosso coração. Seguindo-o com fidelidade, não será difícil para vós encontrar a resposta às interrogações que trazeis na alma: "O que devo fazer? Que tarefa me espera na vida?". A Igreja, que tem necessidade do vosso compromisso para transmitir especialmente aos vossos coetâneos o anúncio evangélico, ajuda-vos no caminho de conhecimento da fé e do amor a Deus e aos irmãos. A sociedade, que neste nosso tempo está assinalada por inúmeras mudanças sociais, conta com o vosso contributo para construir uma convivência comum menos egoísta e mais solidária, realmente animada pelos grandes ideais da justiça, da liberdade e da paz.

Eis a vossa missão, caros jovens amigos! Trabalhemos pela justiça, pela paz, pela solidariedade e pela verdadeira liberdade! Cristo ressuscitado vos acompanhe e, juntamente com Ele, a Virgem Maria, sua e nossa Mãe. Com o seu exemplo e a sua intercessão constante, Nossa Senhora vos ajude a não desanimar nos momentos do fracasso e a confiar sempre no Senhor. Agradeço-vos mais uma vez de coração esta vossa presença e abençoo todos vós com carinho.
Boa noite e até amanhã!



DURANTE A VISITA NA POLICLÍNICA «SÃO MATEUS» DE PAVIA Domingo, 22 de Abril de 2007

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Estimados irmãos e irmãs

No programa da visita pastoral a Pavia, não podia faltar uma visita à Policlínica "São Mateus", para me encontrar convosco, queridos doentes, que vindes não apenas da Província de Pavia, mas de toda a Itália. A cada um, exprimo a minha proximidade e solidariedade, enquanto abraço espiritualmente também os enfermos, os que sofrem e as pessoas em dificuldade que se encontram na vossa Diocese e quantos cuidam deles com solicitude amorosa. A todos vós gostaria de transmitir uma palavra de encorajamento e de esperança. Dirijo uma saudação respeitosa ao Presidente da Policlínica, Senhor Alberto Guglielmo, e agradeço-lhe as cordiais expressões que acaba de me dirigir. A minha gratidão estende-se aos enfermeiros e a todo o pessoal, que trabalha aqui quotidianamente. Dirijo um pensamento agradecido aos Padres Camilianos que, com vivo zelo pastoral, trazem todos os dias aos doentes o conforto da fé, assim como às Irmãs da Providência, comprometidas num generoso serviço segundo o carisma do seu Fundador, São Luís Scrosoppi.

Transmito um agradecimento cordial à representante dos enfermos e com afecto penso também nos familiares dos doentes que, com o seus entes queridos, compartilham momentos de trepidação e de expectativa confiante.

O hospital é um lugar que poderíamos dizer de certo modo "sagrado", onde se experimenta a fragilidade da natureza humana, mas também as enormes potencialidades e recursos do engenho do homem e da técnica ao serviço da vida. A vida do homem! Este grande dom, por mais que seja explorado, permanece sempre um mistério. Sei que esta vossa estrutura hospitalar, a Policlínica "São Mateus", é bem conhecida nesta Cidade e no resto da Itália, sobretudo devido a algumas operações de vanguarda. Aqui, vós procurais aliviar o sofrimento das pessoas, na tentativa de uma completa recuperação das condições de saúde, e com muita frequência isto acontece, também graças às modernas descobertas científicas. Aqui, alcançam-se resultados verdadeiramente confortadores. Os meus votos sinceros são por que o necessário progresso científico e tecnológico seja acompanhado constantemente pela consciência de promover, juntamente com o bem do doente, também aqueles valores fundamentais, como o respeito e a defesa da vida em cada uma das suas fases, dos quais depende a qualidade autenticamente humana de uma convivência.

Ao encontrar-me no meio de vós, é-me espontâneo pensar em Jesus que, durante a sua existência terrena, manifestou sempre uma atenção particular pelos sofredores, curando-os e dando-lhes a possibilidade de um regresso à vida de relação familiar e social que a enfermidade tinha comprometido. Penso também na primeira comunidade cristã onde, como lemos nestes dias nos Actos dos Apóstolos, muitas curas e prodígios acompanhavam a pregação dos Apóstolos.

Seguindo o exemplo do seu Senhor, a Igreja manifesta sempre uma especial predilecção por aqueles que sofrem e, como afirmou o Senhor Presidente, vê na pessoa que sofre o próprio Cristo, e não cessa de oferecer aos doentes a ajuda necessária, a assistência técnica e o amor humano, consciente de ser chamada a manifestar o amor e a solicitude de Cristo para com eles e para com os que cuidam deles. O progresso técnico, tecnológico e o amor humano devem caminhar sempre juntos!

Além disso, ressoa particularmente actual neste lugar a palavra de Jesus: "Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (
Mt 25,40 Mt 25,45). Em cada pessoa atingida pela doença, é Ele mesmo que espera o nosso amor. Sem dúvida, o sofrimento causa repugnância à alma humana; porém, é sempre verdade que, quando é acolhido com amor, com compaixão, e iluminado pela fé, se torna uma ocasião preciosa que une de maneira misteriosa a Cristo Redentor, o Homem das dores, que na Cruz assumiu sobre si a dor e a morte do homem. Com o sacrifício da sua vida, Ele redimiu o sofrimento humano e fez dele o instrumento fundamental da salvação. Queridos doentes, confiai ao Senhor as dificuldades e as penas que tendes de enfrentar, e no seu plano tornar-se-ão meios de purificação e de redenção para o mundo inteiro.

Caros amigos, asseguro a cada um de vós a minha lembrança na oração e, enquanto invoco Maria Santíssima, Salus infirmorum Saúde dos enfermos, para que vos proteja, bem como as vossas famílias, os dirigentes, os médicos e toda a comunidade da Policlínica, a todos concedo com afecto uma especial Bênção Apostólica.



DURANTE O ENCONTRO COM A COMUNIDADE DA UNIVERSIDADE DE PAVIA Domingo, 22 de Abril de 2007

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Magnífico Reitor
Ilustres Professores
Queridos estudantes!


A minha visita pastoral a Pavia, mesmo sendo breve, não podia deixar de prever uma paragem nesta Universidade, que constitui há séculos um elemento caracterizante da vossa cidade. Portanto, sinto-me feliz por me encontrar no meio de vós para este encontro ao qual atribuo particular valor, vindo também eu do mundo académico. Saúdo com cordial deferência os professores e, em primeiro lugar, o Reitor, Prof. Angiolino Stella, ao qual agradeço as gentis palavras que me dirigiu. Saúdo os estudantes, em especial o jovem que se fez porta-voz dos sentimentos dos outros universitários. Fortaleceu-me na coragem na dedicação à verdade, na coragem de procurar além dos limites do conhecido, de não se render à debilidade da razão. E estou muito grato por estas palavras. Faço o meu pensamento de bons-votos extensivo também a quantos fazem parte da vossa comunidade académica e não puderam estar aqui presentes hoje.

A vossa é uma das mais antigas e ilustres Universidades italianas, e conta repito quanto já disse o Magnífico Reitor entre os professores que a honraram personalidades como Alessandro Volta, Camillo Golgi e Carlo Forlanini. Apraz-me recordar também que passaram pelo vosso Ateneu professores e estudantes que se distinguiram por um eminente nível espiritual. Eles foram Michele Ghislieri, que foi depois Papa São Pio V, São Carlos Borromeu, Santo Alexandre Sauli, São Riccardo Pampuri, Santa Gianna Beretta Molla, o beato Contardo Ferrini e o servo de Deus Teresio Olivelli.

Queridos amigos, cada Universidade tem uma originária vocação comunitária: de facto, ela é precisamente uma universitas, uma comunidade de professores e estudantes comprometidos na busca da verdade e na aquisição de competências superiores culturais e profissionais. A centralidade da pessoa e a dimensão comunitária são dois polos co-essenciais para uma válida orientação da universitas studiorum. Cada Universidade deveria conservar sempre a fisionomia de um Centro de estudos "à medida do homem", na qual a pessoa do estudante seja preservada pelo anonimato e possa cultivar um diálogo fecundo com os professores, obtendo incentivo para o seu crescimento cultural e humano.

Desta orientação provêm algumas aplicações relacionadas entre si. Antes de tudo, não há dúvida que só pondo no centro a pessoa e valorizando o diálogo e as relações interpessoais pode ser superada a fragmentação especialista das disciplinas e recuperada a perspectiva unitária do saber. As disciplinas tendem natural, e também justamente, para a especialidade, enquanto a pessoa tem necessidade de unidade e de síntese. Em segundo lugar, é de importância fundamental que o compromisso da pesquisa científica se possa abrir à pergunta existencial de sentido para a própria vida da pessoa. A pesquisa tende para o conhecimento, enquanto a pessoa precisa também da sabedoria, isto é, daquela ciência que se expressa no "saber-viver". Em terceiro lugar, só valorizando a pessoa e as relações interpessoais a relação didáctica pode tornar-se relação educativa. Um caminho de maturação humana. De facto, a estrutura privilegia a comunicação, enquanto as pessoas aspiram pela partilha.

Sei que esta atenção à pessoa, à sua experiência integral de vida e à sua propensão para a comunhão está muito presente na acção pastoral da Igreja de Pavia em âmbito cultural. Disto dão testemunho a obra dos Colégios universitários de inspiração cristã. Entre eles, também eu gostaria de recordar o Colégio Borromeu, querido por São Carlos Borromeu com Bula de fundação do Papa Pio IV e o Colégio Santa Catarina, fundado pela Diocese de Pavia por vontade do Servo de Deus Paulo VI com contribuição determinante da Santa Sé. Neste sentido, é importante também a obra das paróquias e dos movimentos eclesiais, em particular do Centro Universitário Diocesano e da F.U.C.I.: a sua actividade destina-se a acolher a pessoa na sua globalidade, a propor caminhos harmoniosos de formação humana, cultural e cristã, a oferecer espaços de partilha, de confronto e de comunhão. Gostaria de aproveitar esta ocasião para convidar os estudantes e os professores a não se sentirem apenas objecto de atenção pastoral, mas a participar activamente e a oferecer o seu contributo para o projecto cultural de inspiração cristã que a Igreja promove na Itália e na Europa.

Queridos amigos, ao encontrar-me convosco vem espontâneo pensar em Santo Agostinho, co-padroeiro desta Universidade juntamente com Santa Catarina de Alexandria. O percurso existencial e intelectual de Agostinho testemunha a fecunda interacção entre fé e cultura. Santo Agostinho era um homem animado por um desejo incansável de encontrar a verdade, de encontrar o o que é a vida, de saber como viver, de conhecer o homem. E precisamente devido à sua paixão pelo homem necessariamente procurou Deus, porque só na luz de Deus também a grandeza do homem, a beleza da aventura de ser homem, pode sobressair plenamente. Este Deus inicialmente parecia-lhe muito distante. Depois encontrou-o: este Deus grande, inacessível, fez-se próximo, fez-se um de nós. O grande Deus é o nosso Deus, é um Deus com um rosto humano. Assim a fé em Cristo não pôs fim á sua filosofia, à sua audácia intelectual, mas, ao contrário, estimulou-o ulteriormente a procurar as profundezas do ser homem e a ajudar os outros a viver bem, a encontrar a vida, a arte de viver. Isto era para ele a filosofia: saber viver, com toda a razão, com toda a profundidade do nosso pensamento, da nossa vontade, e deixar-se guiar pelo caminho da verdade, que é um caminho de coragem, de humildade, de purificação permanente. A fé em Cristo deu cumprimento a toda a pesquisa de Agostinho. Cumprimento, todavia, no sentido que ele permaneceu sempre a caminho. Aliás, diz-nos: também na eternidade a nossa busca não terá terminado, será uma aventura eterna descobrir novas grandezas, novas belezas. Ele interpretou a palavra do Salmo "procurai sempre o seu rosto" e disse: isto é válido para a eternidade; e a beleza da eternidade consiste no facto de ela não ser uma realidade estática, mas um progresso imenso na beleza imensa de Deus. Assim podia encontrar Deus como a razão fundante, mas também como o amor que nos abraça, nos guia e dá sentido à história e à nossa vida pessoal.

Esta manhã tive a ocasião de dizer que este amor a Cristo deu forma ao seu compromisso pessoal. De uma vida concentrada na busca, ele passou para uma vida totalmente doada a Cristo e desta forma, a uma vida para o próximo. Descobriu foi esta a sua segunda conversão que se converter a Cristo significa não viver para si, mas estar realmente ao serviço de todos. Santo Agostinho seja para nós, precisamente também para o mundo académico, modelo de diálogo entre a razão e a fé, modelo de um diálogo amplo, o único que pode procurar a verdade e também a paz. Como escreveu o meu venerado Predecessor João Paulo II na Encíclica Fides et ratio, "o Bispo de Hipona conseguiu elaborar a primeira grande síntese do pensamento filosófico e teológico, nela confluindo correntes dos pensamentos grego e latino. Também nele a grande unidade do saber, que tinha o seu fundamento no pensamento bíblico, acabou por ser confirmada e sustentada pela profundidade do pensamento especulativo" (n. 40). Invoco portanto a intercessão de Santo Agostinho para que a Universidade de Pavia se distinga sempre por uma especial atenção à pessoa, por uma acentuada dimensão comunitária na pesquisa científica e por um fecundo diálogo entre fé e cultura. Agradeço-vos a vossa presença e, desejando o melhor para os vossos estudos, concedo a todos a minha Bênção, fazendo-a extensiva aos vossos familiares e às pessoas que vos são queridas.




Discursos Bento XVI 10407