Discursos Bento XVI 22417


AOS PARTICIPANTES NO SÍNODO EXTRAORDINÁRIO DA IGREJA DE ANTIOQUIA DOS SÍRIO-CATÓLICOS Sábado, 28 de Abril de 2007

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Beatitude
Venerados Irmãos!

"Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (
1Co 1,3). Com estas palavras que o Apóstolo das nações dirige aos cristãos da comunidade de Corinto, acolho-vos e saúdo-vos a todos, no final do vosso encontro.

A preocupação de todas as Igrejas, em conformidade com o mandato que Cristo confiou ao Apóstolo Pedro e aos seus Sucessores, estimulou-me a convocar o vosso Sínodo extraordinário, que foi presidido em meu nome pelo Secretário de Estado, o Cardeal Tarcisio Bertone, ao qual saúdo e agradeço cordialmente. Agradeço também a Sua Beatitude e a cada um de vós pela participação activa nos trabalhos do Sínodo e pela vossa generosa contribuição para a solução dos problemas e dificuldades que encontra há um certo tempo a merecedora Igreja sírio-católica.

Ao convocar-vos para esta assembleia extraordinária, a minha única intenção era reviver cada vez mais intensamente os vínculos seculares que unem a vossa Igreja à Sé Apostólica e, ao mesmo tempo, manifestar-vos a estima e a preocupação que a Igreja de Roma sente por todos vós, Pastores de uma porção do Povo de Deus que não é grande mas é antiga e significativa. A minha saudação dirige-se também aos vossos colaboradores, em primeiro lugar aos sacerdotes e aos diáconos, assim como a todos os membros da Igreja sírio-católica.

A liturgia do tempo pascal, que estamos a viver, convida-nos a dirigir o nosso olhar e o nosso coração para o acontecimento fundamental da fé cristã: a morte e a ressurreição de Cristo. Os Actos dos Apóstolos, que lemos nestes dias, apresentam-nos o andamento da Igreja nascente, um caminho que nem sempre é fácil, mas é rico de frutos apostólicos. Desde as origens, não faltaram as hostilidades nem as perseguições vindas de fora, nem os riscos de tensões e de oposições no interior das comunidades. Não obstante estas sombras, e as dificuldades de diferentes tipos com os quais os primeiros cristãos tiveram que se confrontar, a luz resplandecente da fé da Igreja em Jesus Cristo nunca faltou. Desde os seus primeiros passos, a Igreja, guiada pelos Apóstolos e pelos seus colaboradores, animada por uma coragem extraordinária e por uma força interior, soube conservar e fazer crescer o tesouro precioso da unidade e da comunhão, além das diferenças de pessoas, línguas e culturas.

Venerados irmãos, no momento em que termina o Sínodo extraordinário no qual participastes, consciente das dificuldades que vos preocuparam ao longo de todos estes anos e que procurais superar, penso com gratidão no meu venerado Predecessor, o Papa João Paulo II, que estava próximo de vós de tantas formas. Ele ouviu-vos, e encontrou-se convosco e, incansavelmente, exortou-vos várias vezes, sobretudo mediante a sua carta de Agosto de 2003, a procurar a unidade e a reconciliação, com o concurso de todos. No que me diz respeito, também eu prossegui a obra que ele tinha empreendido, com a minha carta de Outubro de 2005, porque estou profundamente convicto de que hoje, como no alvorecer do cristianismo, cada comunidade é chamada a oferecer um testemunho claro de fraternidade. É comovedor ler nos Actos dos Apóstolos que "a multidão dos que haviam abraçado a fé tinham um só coração e uma só alma" (4, 32). É nisto, neste amor partilhado que é dom do Espírito Santo, que se encontra o segredo da eficiência apostólica.

Nestes dias, queridos e venerados irmãos, reflectistes sobre as formas para superar os obstáculos que impedem o desenvolvimento normal da vossa vida eclesial. Estais muito conscientes do que é necessário e até indispensável. É o ministério que o Senhor vos confiou no seu rebanho que o exige; é o bem da Igreja sírio-católica que o exige. Também o exige a situação particular que o Médio Oriente vive e o testemunho que as Igrejas católicas, na sua unidade, podem dar. Que ressoe nos vossos corações a exortação repleta de tristeza dirigida por Paulo aos fiéis de Corinto: "Irmãos, exorto-vos em nome do Senhor Jesus Cristo a estardes verdadeiramente unidos; que não haja divisões entre vós, estai em harmonia perfeita de pensamento e de sentimentos" (cf. 1Co 1,10).

Na nossa época, há tantos desafios que devem ser enfrentados pelas comunidades cristãs em todas as partes do mundo, quando perigos e numerosas chagas ameaçam encobrir os valores do Evangelho. No que diz respeito à vossa Igreja, as violências e os conflitos que marcam uma parte do rebanho que vos está confiado constituem dificuldades suplementares que põem ainda mais em perigo não só o viver juntos em paz, mas o próprio caminho das pessoas. Nestas situações, é fundamental que a Comunidade eclesial sírio-católica possa anunciar o Evangelho com vigor, promover uma pastoral adequada aos desafios da pós-modernidade e oferecer um exemplo luminoso de unidade em um mundo fragmentado e dividido.

Venerados irmãos, o Concílio Ecuménico Vaticano II ressalta que as Igrejas católicas orientais, em resposta à oração de Cristo ut unum sint, são chamadas a desempenhar um papel particular na promoção do caminho ecuménico, "antes de tudo, com a oração, com o exemplo da sua vida, com a sua fidelidade religiosa às antigas tradições orientais, com um melhor conhecimento recíproco, com a colaboração e a estima fraterna das coisas e dos homens" (Decreto Orientalium Ecclesiarum OE 24). Eis mais um elemento que, com as exigências ditadas pelo diálogo inter-religioso, não pode deixar de vos estimular a exercer com confiança a missão apostólica que o Senhor confiou à vossa Igreja. Precisamente ontem, a liturgia latina fez-nos compreender o episódio emocionante da conversão de Paulo no caminho de Damasco. Também vós sois chamados hoje a prosseguir com entusiasmo, confiança e perseverança a acção missionária do Apóstolo Paulo, seguindo os vestígios de Santo Inácio de Antioquia, de Santo Efrém e dos vossos outros santos Padroeiros.

Maria, que venerais com o título de Nossa Senhora do Livramento, interceda sempre por vós e vos proteja. Com estes sentimentos, garanto-vos o meu pleno apoio e o dos meus colaboradores, e concedo-vos, a vós aqui presentes, Patriarca e membros do Santo Sínodo, uma particular Bênção Apostólica, assim como a todos os fiéis de rito sírio-católico.





AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL INTERNACIONAL DOS SANTOS CIRILO E METÓDIO POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sexta-feira, 4 de Maio de 2007

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Venerados Irmãos no Episcopado!

"O Deus da esperança vos encha plenamente de alegria e de paz na vossa crença, para que abundeis na esperança pela virtude do Espírito Santo" (
Rm 15,13). Sinto-me feliz por vos receber com estas palavras tiradas da Carta do apóstolo Paulo aos Romanos: sim, o Deus da esperança vos encha do seu conforto celeste! Com estes votos abraço fraternalmente cada um de vós, queridos Pastores de uma porção do rebanho do Senhor que me é particularmente querida! Vós provindes de Países diversos, que têm etnias, culturas e línguas diferentes, mas cujas comunidades eclesiais são irmanadas pela mesma fé em Cristo ressuscitado que nos foi transmitida pelos Apóstolos. Sede bem-vindos.

Saúdo cada um de vós, enquanto agradeço de coração as gentis palavras que me dirigiu o Arcebispo Stanislav Hocevar, Presidente da vossa Conferencia Episcopal Internacional dos Santos Cirilo e Metódio, erigida em Dezembro de 2004 pelo meu Predecessor, o Servo de Deus João Paulo II. O vosso Presidente fez-se intérprete dos sentimentos de comunhão que vos unem ao Sucessor de Pedro: por isso vos estou grato. Esta casa é também a vossa; nela podeis experimentar a catolicidade da Igreja de Cristo, que alarga as suas tendas até aos extremos confins da terra. Na conclusão da vossa visita ad limina Apostolorum, renovo-vos a expressão da minha cordial gratidão, que vos peço que transmitais também às vossas comunidades, das quais espero com confiança o seu apoio orante. Garanti a todos sacerdotes, religiosos e religiosas, crianças e jovens, idosos e famílias que o Papa está próximo deles e os recorda todos os dias ao Senhor. Exorto todos a perseverar na unidade, na abertura recíproca e no espírito de fraternidade.

Os diversos países e os vários contextos sociais e religiosos, nos quais se encontram os vossos fiéis, venerados Irmãos, reflectem não poucas repercussões sobre a sua vida cristã. Penso, por exemplo, no matrimónio entre casais de confissão ou religião diversas, que exige da vossa parte, queridos Pastores, uma especial solicitude espiritual e uma cooperação mais harmoniosa também com as outras Igrejas cristas. Penso além disso na educação religiosa das novas gerações, que devem ser previstas obrigatoriamente no âmbito dos programas escolares. E depois, como não mencionar o aspecto fundamental para a vida eclesial que é constituído pela formação dos sagrados ministros e do seu acompanhamento espiritual no contexto pluriconfessional mencionado? Sei que está em projecto um Seminário Maior em Subotica: encorajo cordialmente a iniciativa pelo bom serviço que poderia prestar às diversas dioceses. É necessário ajudar os seminaristas a crescer com a clara consciência de que o presbítero é "alter Christus", o qual deve cultivar uma relação intima com Jesus, se deseja cumprir plenamente a sua missão e não considerar-se simples "funcionário" de uma organização eclesiástica. O sacerdote está totalmente ao serviço da Igreja, organismo vivo e espiritual que tira a sua energia não de componentes nacionalistas, étnicas ou politicas, mas da acção de Cristo presente nos seus ministros. De facto, o Senhor quis a sua Igreja aberta a todos; os Apóstolos edificaram-na assim desde os primeiros passos do Cristianismo e os Mártires deram testemunho com o seu sangue da sua santidade e da sua "catolicidade". Ao longo dos séculos, a Tradição manteve inalterado o seu carácter de universalidade, enquanto se ia propagando e entrando em contacto com as línguas, raças, nacionalidades e culturas diferentes. Desta unidade na diversidade da Igreja vós podeis fazer experiência quotidiana.

Queridos e venerados Irmãos, durante estes dias tive a oportunidade de conhecer melhor a realidade das vossas Dioceses, constituídas com frequência por um pequeno rebanho inserido em vastos contextos de multiplicidade étnica, cultural e religiosa. Portanto, a vossa missão não é fácil! Mas com a ajuda do Senhor, e na docilidade ao seu Espírito, exortai quantos Ele mesmo confiou aos vossos cuidados a não se cansarem de ser "fermento" evangélico que leveda a sociedade. Deste modo podereis juntos, segundo a exortação do apóstolo Pedro, dar testemunho da esperança que vos anima (1P 3,15). Realizareis isto graças a uma constante fidelidade a Cristo, a uma assídua prática sacramental e a uma generosa dedicação apostólica. Para esta finalidade será necessário comprometer cada membro do Povo de Deus, utilizando qualquer instrumento disponível de formação cristã, preparado nas diversas línguas da população.

Esta acção partilhada certamente terá repercussões benéficas também em âmbito civil. De facto, consciências rectas formadas segundo o Evangelho serão mais facilmente estimuladas a construir uma sociedade à dimensão humana. Uma modernidade mal compreendida hoje tende para exaltar excessivamente as necessidades do individuo em desvantagem dos deveres que cada pessoa tem para com Deus e para com a comunidade à qual pertence. É importante, por exemplo, pôr em evidência a recta concepção da responsabilidade civil e pública, porque precisamente desta visão provém o compromisso pelo respeito dos direitos de cada um e pela integração convicta da própria cultura com as outras, tendendo juntos para o bem comum.

A Providência colocou os vossos povos no contexto de um continente europeu que nestes anos se vai restruturando. Deste processo histórico também as vossas Igrejas se sentem participes, sabendo bem que podem dar a sua peculiar contribuição. Infelizmente, não faltarão os obstáculos: a escassez de meios à disposição devido à situação económica e a insuficiência das forças católicas poderiam desencorajar-vos. Não é fácil esquecer a herança pesada de mais de quarenta anos de pensamento único, que causaram comportamentos sociais sem as marcas da liberdade e da responsabilidade pessoal, e é, ao mesmo tempo, difícil resistir às tentações do materialismo ocidental com os riscos de relativismo e liberalismo ético, de radicalismo e fundamentalismo politico. Não desanimeis, mas ao contrário, uni as forças e continuai pacientemente a vossa obra, na certeza de que um dia, com a ajuda de Deus, se poderão recolher aqueles frutos que Ele mesmo fará amadurecer segundo os seus misteriosos desígnios de salvação.

Neste momento, tenho a preocupação de vos garantir que o Papa está próximo de vós e vos encoraja a prosseguir, confiando na ajuda do Senhor, o Bom Pastor. Queridos Irmãos, permanecei sempre ao lado dos vossos fiéis: eles tem necessidade de mestres sábios, de pastores santos, de guias seguras, que com o seu exemplo os precedam no caminho da plena adesão a Cristo. Sede unidos entre vós, cuidai das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada; sede solícitos para com os agentes pastorais; exortai os leigos a assumir as responsabilidades que lhes são próprias, em âmbito civil e eclesial, segundo o espírito da Gaudium et spes, para que sejam capazes de dar um testemunho harmonioso verdadeiramente católico. O Senhor colocou-vos em estreito contacto com os irmãos ortodoxos: como membros de um único Corpo, procurai toda a colaboração possível ao serviço do único Reino de Deus. Nunca falte a disponibilidade para colaborar com outras confissões cristas e com todas as pessoas de boa vontade na promoção do que se pode tornar útil para a difusão dos valores evangélicos.

Queridos e venerados Irmãos, neste nosso encontro eu quis evidenciar alguns aspectos da vida das vossas Comunidades como sobressaíram nos nossos encontros individuais. Ao despedir-me de vós, confirmo-vos mais uma vez o meu afecto e garanto-vos a minha oração. Ao invocar a celeste protecção de Maria, Rainha dos Apóstolos, e dos Santos Cirilo e Metódio, Padroeiros da vossa Conferencia Episcopal Internacional, concedo-vos uma cordial Bênção Apostólica, fazendo-a extensiva de bom grado a todos os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais.




À GUARDA SUÍÇA POR OCASIÃO DO JURAMENTO DOS NOVOS RECRUTAS Sábado, 5 de Maio de 2007

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Senhor Comandante
Queridos Guardas Suíços!

É para mim um verdadeiro prazer encontrar-me convosco por ocasião do juramento dos novos Guardas Suíços. A cada um de vós, queridos recém-alabardeiros, dirijo antes de tudo a minha cordial saudação, que faço extensiva a todos os Guardas Suíços, agradecendo-vos por terdes escolhido dedicar alguns anos da vossa juventude ao serviço do Papa e dos seus mais estreitos colaboradores. O meu grato pensamento dirige-se também ao vosso Comandante, que gentilmente se fez intérprete dos sentimentos comuns. Saúdo o vosso Capelão, assim como os parentes, os familiares, os ex-Guardas Suíços e os amigos que desejaram estar presentes num acto tão solene e significativo para a Sé Apostólica, como é precisamente o juramento dos novos Guardas Suíços.

Ainda está muito impressa na minha memória a recordação das solenes celebrações comemorativas do V Centenário da fundação do Corpo da Guarda Suíça Pontifícia, realizadas no ano passado com grande participação do povo. Essas celebrações contribuíram para fazer conhecer melhor a origem, a história e o valor do vosso Corpo e do significativo testemunho de fé e amor, que há mais de 500 anos vós prestais à Igreja. De facto, tudo teve início quando a 22 de Janeiro de 1506 chegou ao Vaticano um grupo de 150 homens a pedido do meu predecessor Júlio II à Confederação da Alta Alemanha. A partir daquele dia até aos nossos tempos a história do vosso Corpo da Guarda Suíça entrelaçou-se intimamente com os acontecimentos da vida da Igreja e, em particular, do Papa. É uma longa história de fidelidade e de generoso serviço prestado sempre com dedicação, por vezes até ao heroísmo do sacrifício da vida. Esta vossa apreciada dedicação mereceu justamente a estima e a confiança de todos os Pontífices, que no vosso Corpo de Guarda encontraram constantemente ajuda, apoio e protecção. Obrigado, queridos amigos, por esta vossa silenciosa, mas eficiente presença ao lado da pessoa do Papa; obrigado pela profissionalidade e também pelo amor com que desempenhais a vossa missão.

Sim, a vossa prestação não é só profissional; é também uma verdadeira missão ao serviço de Cristo e da sua Igreja. No Novo Regulamento da Guarda Suíça Pontifícia, por mim aprovado precisamente no ano passado por ocasião do V Centenário do seu nascimento, está escrito que "os Guardas Suíços devem demonstrar-se em todas as circunstâncias bons cristãos e soldados exemplares" (art. 37); e ainda "devem evitar tudo o que contrasta com a fé, a moral cristã e os deveres do próprio estado. Devem ser também sempre fiéis às características e tradições do Corpo, com um estilo de vida simples e sóbrio" (art. 75). Acrescenta-se também que "a fim de formar uma verdadeira comunidade, devem cultivar a nível pessoal e exercer reciprocamente um espírito de solidariedade cristã, que sirva para conservar e promover a união recíproca das almas" (art. 77). Trata-se, como é fácil ver, de indicações muito claras e concretas para levar a cumprimento o desígnio que Deus tem para cada um de vós, chamando-vos a servi-lo numa tão benemérita Instituição. Em conclusão, o Senhor chama-vos à santidade, isto é, a ser seus discípulos, sempre prontos para ouvir a sua voz, para cumprir a sua vontade e para a realizar no quotidiano cumprimento dos vossos deveres. Isto contribuirá para fazer de vós "bons cristãos" e ao mesmo tempo "soldados exemplares", animados por aquele espírito evangélico, que torna cada baptizado "fermento" adequado para levedar a massa e "luz" que ilumina e aquece o ambiente onde vive e trabalha.

Queridos amigos, que o Senhor vos ajude a realizar totalmente esta vossa peculiar missão, trabalhando todos os dias "acriter et fideliter", com coragem e com fidelidade. Por isso, não cesseis de alimentar o vosso espírito com a oração e com a escuta da palavra de Deus; participai com devoção na Santa Missa e cultivai uma filial devoção a Maria. Invocai e procurai imitar os vossos santos Padroeiros Martinho, e Nicolau de Flüe, defensor pacis et pater patriae", para que do Céu vos assistam, e possais "servir fiel, leal e honradamente o Sumo Pontífice e os seus legítimos Sucessores", como cada um de vós pronuncia na fórmula de juramento. Quanto a mim, ao agradecer-vos mais uma vez a vossa dedicação, expresso bons votos particularmente aos novos Guardas Suíços. A todos, depois, e a cada um concedo de coração a minha Bênção, fazendo-a extensiva às vossas famílias e às pessoas que vos são queridas.



AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO DO CONSELHO SUPERIOR DAS PONTIFÍCIAS OBRAS MISSIONÁRIAS Sábado, 5 de Maio de 2007

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Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caros irmãos e irmãs

Estou particularmente feliz por me encontrar convosco, depois da solene Celebração Eucarística presidida pelo Senhor Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Dirijo-lhe, em primeiro lugar, o meu cordial pensamento, enquanto lhe agradeço as palavras que me dirigiu em vosso nome. Estendo a minha saudação ao Secretário e aos colaboradores da Congregação missionária, aos Prelados e aos sacerdotes presentes, aos religiosos, às religiosas e a todos aqueles que participaram no Congresso realizado nos dias passados para comemorar o 50º aniversário da Carta Encíclica Fidei donum, do Servo de Deus Papa Pio XII.

Transcorreram cinquenta anos desde que este meu venerado Predecessor, diante da evolução dos tempos e da apresentação no cenário da história, de novos povos e nações, com uma sabedoria pastoral clarividente compreendeu que estavam a abrir-se horizontes e itinerários missionários inéditos e providenciais para o anúncio do Evangelho na África. Com efeito, Pio XII olhava especialmente para a África quando, com intuição profética, pensou naquele novo "sujeito" missionário, que das primeiras palavras da Encíclica hauriu o nome de "Fidei donum". Ele queria encorajar, além das formas tradicionais, mais um tipo de cooperação missionária no meio das comunidades cristãs chamadas "antigas" e as recém-nascidas ou nascentes nos territórios de nova evangelização: isto é, as primeiras eram exortadas a enviar alguns sacerdotes ao encontro das Igrejas "jovens" e em promissor desenvolvimento, para que colaborassem com os Ordinários do lugar por um determinado período. Assim escrevia o Papa Pacelli: "Considerando por um lado as inúmeras plêiades dos nossos filhos que, sobretudo nos países de antiga tradição cristã, são partícipes do bem da fé e, por outro, a multidão ainda mais numerosa daqueles que até agora esperam a mensagem da salvação, sentimos o desejo ardente de vos exortar, Veneráveis Irmãos, a ajudar com o vosso zelo a santa causa da expansão da Igreja no mundo. Queira Deus que, a seguir ao nosso apelo, o espírito missionário penetre mais profundamente no coração de todos os sacerdotes e, através do seu ministério, inflame todos os fiéis" (AAS XLIX [1957], p. 226).

Portanto, era dupla a finalidade que animava o venerado Pontífice: por um lado, suscitar em cada um dos componentes do povo cristão uma renovada "chama" missionária e, por outro, promover uma colaboração mais consciente entre as dioceses de antiga tradição e as regiões de primeira evangelização. Durante estas cinco décadas, o convite de Pio XII foi reiterado diversas vezes por todos os meus Predecessores e, graças também ao impulso dado pelo Concílio Vaticano II, foi-se multiplicando o número de sacerdotes "fidei donum", que partiam juntamente com religiosos e voluntários leigos em missão para a África e para outras regiões do mundo, às vezes à custa de não poucos sacrifícios para as suas dioceses de pertença. Aqui, gostaria de manifestar o meu especial agradecimento a estes nossos irmãos e irmãs, alguns dos quais derramaram o seu próprio sangue para propagar o Evangelho. Como vós bem sabeis, a experiência missionária deixa um sinal indelével naqueles que a cumprem e, ao mesmo tempo, contribui para alimentar aquela comunhão eclesial que leva todos os baptizados a sentir-se membros da única Igreja, Corpo místico de Cristo.

Ao longo destas décadas, os contactos e os intercâmbios missionários intensificaram-se, graças também ao desenvolvimento e à multiplicação dos meios de comunicação, de tal forma que a Igreja entrou em contacto praticamente com todas as civilizações e culturas. Por outro lado, a troca de dons entre as Comunidades eclesiais de antiga e de recente fundação constituiu um enriquecimento recíproco e favoreceu o crescimento da consciência de que todos são "missionários", ou seja, todos estão comprometidos, embora de várias maneiras, no anúncio e no testemunho do Evangelho.

Enquanto damos graças ao Senhor pelo compromisso missionário em acto, ao mesmo tempo, não podemos deixar de ponderar sobre as dificuldades que surgem neste campo. Entre elas, limito-me a sublinhar a diminuição e o envelhecimento do clero nas dioceses que outrora enviavam missionários para as regiões remotas. No contexto de uma difundida crise vocacional, isto constitui sem dúvida um desafio que é necessário enfrentar. O Congresso organizado pela Pontifícia União Missionária, para comemorar os cinquenta anos da Fidei donum, ofereceu-vos a ocasião de analisar atentamente esta situação, que hoje a Igreja está a viver. Embora não possamos ignorar os problemas e as sombras, todavia é preciso dirigir o olhar para o futuro com confiança, conferindo uma renovada e mais autêntica identidade aos missionários fidei donum, num contexto mundial indubitavelmente transformado em relação aos anos 50 do século passado. Se são numerosos os desafios que se apresentam à evangelização nesta nossa época, há também muitos sinais de esperança, que em todas as partes do mundo dão testemunho de animadora vitalidade missionária do povo cristão. Sobretudo, que nunca definhe a consciência de que o Senhor, antes de deixar os discípulos e subir ao Céu, quando os enviou para anunciar o seu Evangelho em todas as latitudes do mundo, assegurou: "E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (
Mt 28,20).

Caros irmãos e irmãs, esta certeza nunca nos deve abandonar. O Senhor da messe não permitirá que faltem trabalhadores para a sua messe se, com confiança e insistentemente, lho pedirmos na oração e na dócil escuta da sua palavra e dos seus ensinamentos. A este propósito, apraz-me reconsiderar o convite que Pio XII dirigiu aos fiéis dessa época: "Especialmente nestes anos escrevia ele na sua Encíclica que talvez sejam decisivos para o futuro do catolicismo em muitos países, multipliquemos as Missas celebradas pelas Missões; isto corresponde aos desejos do Senhor, que ama a sua Igreja e quer que ela seja difundida e florescente em todos os lugares da terra" (AAS, op. cit., pág. 239). Faço minha esta mesma exortação, persuadido de que o Senhor, vindo ao encontro dos nossos pedidos incessantes, continuará a abençoar com copiosos frutos apostólicos o compromisso missionário da Igreja. Confio estes bons votos a Maria, Mãe e Rainha dos Apóstolos, enquanto de coração vos concedo, a vós aqui presentes e a todos os missionários do mundo, uma especial Bênção apostólica.






ÀS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DA UNIÃO INTERNACIONAL DAS SUPERIORAS-GERAIS (UISG) Segunda-feira, 7 de Maio de 2007

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Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caras Irmãs

É com prazer que me encontro convosco, por ocasião da Assembleia Plenária da União Internacional das Superioras-Gerais. Saúdo e agradeço ao Cardeal Franc Rodé, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, as amáveis palavras que me dirigiu; estendo o meu agradecimento à Presidente da vossa União, Irmã Therezinha Rasera, que se fez intérprete não somente dos vossos sentimentos carinhosos, mas também dos sentimentos das religiosas do mundo inteiro. Além disso, saúdo cada uma de vós, queridas Superioras-Gerais, que representais 794 Famílias religiosas femininas presentes em 85 países dos cinco continentes. E em vós agradeço o imenso exército de testemunhas do amor de Cristo, que trabalham nas fronteiras da evangelização, da educação e da caridade social.

Como recordou a vossa Presidente, o tema da Assembleia Plenária que estais a realizar durante estes dias é particularmente interessante: "Chamadas a tecer uma nova espiritualidade que gere esperança e vida para toda a humanidade". A temática que vós escolhestes é o fruto de uma ampla reflexão sobre a seguinte pergunta: "Ao contemplar o nosso mundo, ouvindo os seus clamores, as suas necessidades, a sua sede e as suas aspirações, qual é o fio que nós, religiosas, responsáveis pelas nossas Congregações, somos chamadas a tecer neste momento, para nos tornarmos assim "tecedoras de Deus", proféticas e místicas?".

A análise atenta das respostas enviadas levou o Conselho Executivo da vossa União a compreender que o símbolo escolhido, ou seja, "tecer", uma imagem puramente feminina que é utilizada em todas as culturas, correspondia a quanto as Superioras-Gerais sentiam como uma urgência espiritual e apostólica do momento presente. Nas mesmas respostas foram evidenciados alguns "fios" a mulher, os migrantes, a terra e a sua sacralidade, os leigos, o diálogo com as religiões do mundo que vós considerais mais úteis para "tecer", nesta nossa época, uma renovada espiritualidade da Vida Consagrada e proceder assim a uma abordagem apostólica mais correspondente às expectativas das pessoas.

E é precisamente sobre estes temas que estais a reflectir durante os trabalhos da vossa Plenária. Vós estais conscientes de que cada Superiora-Geral é chamada a ser animadora e promotora, como oportunamente ressaltou a vossa Presidente, de uma Vida Consagrada "mística e profética", fortemente comprometida na realização do Reino de Deus. São estes "fios" com que o Senhor vos impele, queridas Religiosas, a "tecer" hoje o tecido vivo de um serviço profícuo à Igreja e de um eloquente testemunho evangélico, "sempre antigo e sempre novo", enquanto fiel à radicalidade do Evangelho e corajosamente encarnada na realidade contemporânea, de maneira especial onde há mais pobreza humana e espiritual.

Sem dúvida, não são poucos os desafios sociais, económicos e religiosos com que a Vida Consagrada se deve confrontar na época contemporânea! Os cinco âmbitos pastorais que pusestes em evidência constituem "fios" para tecer e entrelaçar na complicada trama da vivência quotidiana, nos relacionamentos interpessoais e no apostolado. Não raro, trata-se de percorrer caminhos missionários e espirituais ainda não explorados, conservando todavia sempre com firmeza a relação interior com Cristo. Com efeito, somente desta união com Deus promana e é alimentado o papel "profético" da vossa missão, que consiste no "anúncio do Reino dos céus", anúncio indispensável em todos os tempos e em todas as sociedades.

Portanto, nunca cedais à tentação de vos afastardes da intimidade com o vosso Esposo celestial, deixando-vos capturar excessivamente pelos interesses e pelos problemas da vida quotidiana. Os Fundadores e as Fundadoras dos vossos Institutos conseguiram ser "pioneiros proféticos" na Igreja, porque jamais perderam de vista a profunda consciência de estar no mundo, mas de não ser do mundo, em conformidade com o clarividente ensinamento de Jesus (cf.
Jn 17,14). Na esteira do seu exemplo, eles procuraram comunicar com as palavras e os gestos concretos o amor de Deus através do dom total de si mesmos, conservando sempre o seu olhar e coração fixos nele.

Queridas Religiosas, se vós mesmas quiserdes repercorrer fielmente o caminho dos vossos Fundadores e das vossas Fundadoras, ajudando as vossas Irmãs de hábito a seguir os seus exemplos, cultivai a dimensão "mística" da Vida Consagrada, ou seja, conservando a vossa alma sempre unida a Deus, mediante a contemplação. Como ensina a Escritura, o "profeta" primeiro ouve e contempla e depois fala, deixando-se impregnar totalmente por aquele amor a Deus que nada teme e é mais forte do que a morte. Por isso, o autêntico profeta não se preocupa tanto em realizar obras, algo que é sem dúvida importante, mas jamais essencial. Ele esforça-se, sobretudo, por ser testemunha do amor de Deus, procurando viver no meio das realidades do mundo, embora a sua presença possa às vezes ser "incómoda", porque oferece e encarna valores alternativos.

Então, que a vossa preocupação prioritária consista em ajudar as vossas irmãs de hábito a buscar em primeiro lugar Cristo e a pôr-se generosamente ao serviço do Evangelho. Não vos canseis de reservar todo o cuidado possível à formação humana, cultural e espiritual das pessoas que vos foram confiadas, a fim de que elas se tornem capazes de enfrentar os hodiernos desafios culturais e sociais. Sede as primeiras a dar o exemplo, evitando as comodidades, os privilégios e as conveniências, para cumprir a vossa missão. Compartilhai as riquezas dos vossos carismas com quantos estão comprometidos na única missão da Igreja, que é a construção do Reino.

Tendo em vista esta finalidade, instaurai uma colaboração pacífica e cordial com os sacerdotes, com os fiéis leigos e especialmente com as famílias, para irdes ao encontro dos sofrimentos, das necessidades, das pobrezas materiais e sobretudo espirituais de muitos dos nossos contemporâneos. Além disso, cultivai uma comunhão sincera e uma colaboração simples com os Bispos, primeiros responsáveis pela evangelização nas Igrejas particulares.

Estimadas Religiosas, esta vossa Assembleia Geral realiza-se no período pascal, em que a liturgia nos convida a proclamar com exultação incessante: "Este é o dia que fez o Senhor, alegremo-nos e exultemos!". O júbilo e a paz da Páscoa vos acompanhem e permaneçam sempre convosco, em cada uma das vossas Comunidades. Em todas as circunstâncias, fazei-vos mensageiras desta alegria pascal como as mulheres que, tendo ido ao sepulcro, o encontraram vazio e tiveram o privilégio de encontrar Cristo ressuscitado. Então, felizes, correram para transmitir o anúncio aos Apóstolos. Velem sobre vós e sobre as vossas respectivas Famílias religiosas, Maria, Rainha das Virgens, e os vossos Santos e Beatos Fundadores e Fundadoras. Enquanto vos confio à sua intercessão, asseguro-vos de todo o coração uma lembrança na oração e, de bom grado, concedo-vos uma especial Bênção Apostólica.



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