Discursos Bento XVI 11507

ENCONTRO E CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS COM OS BISPOS DO BRASIL Catedral da Sé, São Paulo Sexta-feira, 11 de maio de 2007

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Amados irmãos no Episcopado,

«O Filho de Deus aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. Tendo chegado à perfeição, tornou-se causa de eterna salvação para todos os que lhe obedecem» (cf . Hb
He 5,8-9).

1. O texto que acabamos de ouvir na Leitura Breve das Vésperas de hoje contém um ensinamento profundo. Também neste caso constatamos como a Palavra de Deus é viva e mais penetrante do que uma espada de dois gumes, chega até à juntura da alma, reconfortando-a, estimulando os seus fiéis servidores (cf. Hb He 4,12).

Agradeço a Deus por ter permitido encontrar-me com um Episcopado de prestígio, que está à frente de uma das mais numerosas populações católicas do mundo. Eu vos saúdo com sentimentos de profunda comunhão e de afeto sincero, bem conhecendo a dedicação com que seguis as comunidades que vos foram confiadas. A calorosa acolhida do Senhor Pároco da Catedral da Sé e de todos os presentes fez-me sentir em casa, nesta grande Casa comum que é nossa Santa Mãe a Igreja Católica.

Dirijo uma especial saudação à nova Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e, ao agradecer as palavras do seu Presidente, Dom Geraldo Lyrio Rocha, faço votos de um profícuo desempenho na tarefa de consolidar sempre mais a comunhão entre os bispos e de promover a ação pastoral comum num território de dimensões continentais.

2. O Brasil está acolhendo os participantes da V Conferência do Episcopado Latino-americano com a sua tradicional hospitalidade. Exprimo o meu agradecimento pela cortês recepção dos seus membros e o meu profundo apreço pelas orações do povo brasileiro, formuladas especialmente em prol do bom êxito do encontro dos bispos em Aparecida.

445 É um grande evento eclesial que se situa no âmbito do esforço missionário que a América Latina deverá propor-se, precisamente a partir daqui, do solo brasileiro. Foi por isso que quis dirigir-me inicialmente a vós, Bispos do Brasil, evocando aquelas palavras densas de conteúdo da Carta aos Hebreus: «O Filho de Deus aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve. E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação para todos os que lhe obedecem» (He 5,8-9). Exuberante no seu significado, este versículo fala da compaixão de Deus para conosco, concretizada na paixão de seu Filho; e fala da sua obediência, da sua adesão livre e consciente aos desígnios do Pai, explicitada especialmente na oração no monte das Oliveiras: «Não seja feita a minha vontade, mas a tua» (Lc 22,42). Assim, é o próprio Jesus a nos ensinar que a verdadeira via de salvação consiste em conformar a nossa vontade à vontade de Deus. É exatamente o que pedimos na terceira invocação da oração do Pai Nosso: que seja feita a vontade de Deus, assim na terra como no céu, porque onde reina a vontade de Deus, aí está presente o reino de Deus. Jesus nos atrai para a sua vontade, a vontade do Filho, e deste modo nos guia para a salvação. Indo ao encontro da vontade de Deus, com Jesus Cristo, abrimos o mundo ao reino de Deus.

Nós Bispos somos convocados para manifestar essa verdade central, pois estamos vinculados diretamente a Cristo, Bom Pastor. A missão que nos é confiada, como Mestres da fé, consiste em recordar, como o mesmo Apóstolo das Gentes escrevia, que o nosso Salvador «quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1Tm 2,4-6). Esta é a finalidade, e não outra, a finalidade da Igreja, a salvação das almas, uma a uma. Por isso o Pai enviou seu Filho, e «como o Pai me enviou, também eu vos envio» (Jn 20,21). Daqui, o mandato de evangelizar: «Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo» (Mt 28,19-20). São palavras simples e sublimes nas quais estão indicadas a obrigação de pregar a verdade da fé, a urgência da vida sacramental, a promessa da contínua assistência de Cristo à sua Igreja. Estas são realidades fundamentais e se referem à instrução na fé e na moral cristã, e à prática dos sacramentos. Onde Deus e a sua vontade não são conhecidos, onde não existe a fé em Jesus Cristo e nem a sua presença nas celebrações sacramentais, falta o essencial também para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos. A fidelidade ao primado de Deus e da sua vontade, conhecida e vivida em comunhão com Jesus Cristo, é o dom essencial, que nós Bispos e sacerdotes devemos oferecer ao nosso povo (cf. Populorum progressio PP 21).

3. O ministério episcopal nos impele ao discernimento da vontade salvífica, na busca de uma pastoral que eduque o Povo de Deus a reconhecer e acolher os valores transcendentes, na fidelidade ao Senhor e ao Evangelho.

É verdade que os tempos de hoje são difíceis para a Igreja e muitos dos seus filhos estão atribulados. A vida social está atravessando momentos de confusão desnorteadora. Ataca-se impunemente a santidade do matrimônio e da família, iniciando-se por fazer concessões diante de pressões capazes de incidir negativamente sobre os processos legislativos; justificam-se alguns crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual; atenta-se contra a dignidade do ser humano; alastra-se a ferida do divórcio e das uniões livres. Ainda mais: no seio da Igreja, quando o valor do compromisso sacerdotal é questionado como entrega total a Deus através do celibato apostólico e como disponibilidade total para servir às almas, dando-se preferência às questões ideológicas e políticas, inclusive partidárias, a estrutura da consagração total a Deus começa a perder o seu significado mais profundo. Como não sentir tristeza em nossa alma? Mas tende confiança: a Igreja é santa e incorruptível (cf. Ef Ep 5,27). Dizia Santo Agostinho: "Vacilará a Igreja se vacila o seu fundamento, mas poderá talvez Cristo vacilar? Visto que Cristo não vacila, a Igreja permanecerá intacta até o fim dos tempos" (Enarrationes in Psalmos, 103,2,5; PL, 37, 1353.)

Entre os problemas que afligem a vossa solicitude pastoral está, sem dúvida, a questão dos católicos que abandonam a vida eclesial. Parece claro que a causa principal, dentre outras, deste problema, possa ser atribuída à falta de uma evangelização em que Cristo e a sua Igreja estejam no centro de toda explanação. As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas - que é motivo de justa preocupação – e incapazes de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata. Na Encíclica Deus caritas est recordei que "Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (n. 1). É necessário, portanto, encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho que constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo. Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo, através de uma pastoral da acolhida que os ajude a sentir a Igreja como lugar privilegiado do encontro com Deus e mediante um itinerário catequético permanente.

Uma missão evangelizadora que convoque todas as forças vivas deste imenso rebanho. Meu pensamento dirige-se, portanto, aos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que se prodigalizam, muitas vezes com imensas dificuldades, para a difusão da verdade evangélica. Dentre eles, muitos colaboram ou participam ativamente nas Associações, nos Movimentos e em outras novas realidades eclesiais que, em comunhão com seus Pastores e de acordo com as orientações diocesanas, levam sua riqueza espiritual, educativa e missionária ao coração da Igreja, como preciosa experiência e proposta de vida cristã.

Neste esforço evangelizador, a comunidade eclesial se destaca pelas iniciativas pastorais, ao enviar, sobretudo entre as casas das periferias urbanas e do interior, seus missionários, leigos ou religiosos, procurando dialogar com todos em espírito de compreensão e de delicada caridade. Mas se as pessoas encontradas estão numa situação de pobreza, é preciso ajudá-las, como faziam as primeiras comunidades cristãs, praticando a solidariedade, para que se sintam amadas de verdade. O povo pobre das periferias urbanas ou do campo precisa sentir a proximidade da Igreja, seja no socorro das suas necessidades mais urgentes, como também na defesa dos seus direitos e na promoção comum de uma sociedade fundamentada na justiça e na paz. Os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho e um Bispo, modelado segundo a imagem do Bom Pastor, deve estar particularmente atento em oferecer o divino bálsamo da fé, sem descuidar do "pão material". Como pude evidenciar na Encíclica Deus caritas est, "a Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra" (n. 22).

A vivência sacramental, especialmente através da Confissão e da Eucaristia, adquire aqui uma importância de primeira grandeza. A vós Pastores cabe a principal tarefa de assegurar a participação dos fiéis na vida eucarística e no Sacramento da Reconciliação; deveis estar vigilantes para que a confissão e a absolvição dos pecados sejam, de modo ordinário, individual, tal como o pecado é um fato profundamente pessoal (cf. Exort. ap. pós-sinodal Reconciliatio et penitentia RP 31, III). Somente a impossibilidade física ou moral escusa o fiel desta forma de confissão, podendo neste caso obter a reconciliação por outros meios (Cân. 960; cf. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, CEC 311). Por isso, convém incutir nos sacerdotes a prática da generosa disponibilidade para atender aos fiéis que recorrem ao Sacramento da misericórdia de Deus (Carta ap. Misericordia Dei, 2).

4. Recomeçar a partir de Cristo em todos os âmbitos da missão. Redescobrir em Jesus o amor e a salvação que o Pai nos dá, pelo Espírito Santo. Esta é a substância, a raiz, da missão episcopal que faz do Bispo o primeiro responsável pela catequese diocesana. Com efeito, ele tem a direção superior da catequese, rodeando-se de colaboradores competentes e merecedores de confiança. É óbvio, portanto, que os seus catequistas não são simples comunicadores de experiências de fé, mas devem ser autênticos transmissores, sob a guia do seu Pastor, das verdades reveladas. A fé é uma caminhada conduzida pelo Espírito Santo que se resume em duas palavras: conversão e seguimento. Essas duas palavras-chave da tradição cristã indicam com clareza, que a fé em Cristo implica uma práxis de vida baseada no dúplice mandamento do amor, a Deus e ao próximo, e exprimem também a dimensão social da vida cristã.

A verdade supõe um conhecimento claro da mensagem de Jesus, transmitida graças a uma compreensível linguagem inculturada, mas necessariamente fiel à proposta do Evangelho. Nos tempos atuais é urgente um conhecimento adequado da fé, como está bem sintetizada no Catecismo da Igreja Católica com o seu Compêndio. Faz parte da catequese essencial também a educação às virtudes pessoais e sociais do cristão, como também a educação à responsabilidade social. Exatamente porque fé, vida e celebração da sagrada liturgia como fonte de fé e de vida, são inseparáveis, é necessária uma mais correta aplicação dos princípios indicados pelo Concílio Vaticano II no que diz respeito à Liturgia da Igreja, incluindo as disposições contidas no Diretório para os Bispos (nn.145-151), com o propósito de devolver à Liturgia o seu caráter sagrado. É com esta finalidade que o meu Venerável predecessor na Cátedra de Pedro, João Paulo II, quis renovar "um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística" (...) "A liturgia jamais é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios" (Carta encl. Ecclesia de Eucharistia EE 52). Redescobrir e valorizar a obediência às normas litúrgicas por parte dos Bispos, como "moderadores da vida litúrgica da Igreja", significa testemunhar a própria Igreja, una e universal que preside na caridade.

5. É necessário um salto de qualidade na vivência cristã do povo, para que possa testemunhar a sua fé de forma límpida e esclarecida. Essa fé, celebrada e participada na liturgia e na caridade, nutre e fortifica a comunidade dos discípulos do Senhor e os edifica como Igreja missionária e profética. O Episcopado brasileiro possui uma estrutura de grande envergadura, cujos Estatutos foram há pouco revistos para o seu melhor desempenho e uma dedicação mais exclusiva ao bem da Igreja. O Papa veio ao Brasil para pedir-vos que, no seguimento da Palavra de Deus, todos os Veneráveis Irmãos no episcopado saibam ser portadores de eterna salvação para todos os que lhe obedecem (cf. Hb He 5,9). Nós, pastores, na esteira do compromisso assumido como sucessores dos Apóstolos, devemos ser fiéis servidores da Palavra, sem visões redutivas e confusões na missão que nos é confiada. Não basta observar a realidade a partir da fé pessoal; é preciso trabalhar com o Evangelho nas mãos e fundamentados na correta herança da Tradição Apostólica, sem interpretações movidas por ideologias racionalistas.

446 Assim é que, "nas Igrejas particulares compete ao Bispo conservar e interpretar a Palavra de Deus e julgar com autoridade aquilo que está ou não de acordo com ela" (Congr. para a Doutrina da Fé, Instr. sobre a vocação eclesial do teólogo, n. 19). Ele, como Mestre de fé e de doutrina, poderá contar com a colaboração do teólogo que "na sua dedicação ao serviço da verdade, deverá, para permanecer fiel à sua função, levar em conta a missão própria do Magistério e colaborar com ele" (ib. 20). O dever de conservar o depósito da fé e de manter a sua unidade exige estreita vigilância, de modo que este seja "conservado e transmitido fielmente e que as posições particulares sejam unificadas na integridade do Evangelho de Cristo" (Diretório para o Ministério Pastoral dos Bispos, n. 126).

Eis então a enorme responsabilidade que assumis como formadores do povo, mormente dos vossos sacerdotes e religiosos. São eles vossos fiéis colaboradores. Conheço o empenho com que procurais formar as novas vocações sacerdotais e religiosas. A formação teológica e nas disciplinas eclesiásticas exige uma constante atualização, mas sempre de acordo com o Magistério autentico da Igreja.

Faço apelo ao vosso zelo sacerdotal e ao sentido de discernimento das vocações, também para saber complementar a dimensão espiritual, psico-afetiva, intelectual e pastoral em jovens maduros e disponíveis ao serviço da Igreja. Um bom e assíduo acompanhamento espiritual é indispensável para favorecer o amadurecimento humano e evita o risco de desvios no campo da sexualidade. Tende sempre presente que o celibato sacerdotal é um dom "que a Igreja recebeu e quer guardar, convencida de que ele é um bem para ela e para o mundo" (Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, n. 57).

Gostaria de recomendar à vossa solicitude também as Comunidades religiosas que se inserem na vida da própria Diocese. É uma contribuição preciosa que oferecem, pois, apesar da "diversidade de dons, o Espírito é o mesmo" (
1Co 12,4). A Igreja não pode senão manifestar alegria e apreço por tudo aquilo que os Religiosos vêm realizando mediante Universidades, escolas, hospitais e outras obras e instituições.

6. Conheço a dinâmica das vossas Assembléias e o esforço por definir os diversos planos pastorais, que dêem prioridade à formação do clero e dos agentes da pastoral. Alguns dentre vós fomentastes movimentos de evangelização para facilitar o agrupamento dos fiéis numa linha de ação. O Sucessor de Pedro conta convosco para que vossa preparação se apóie sempre naquela espiritualidade de comunhão e de fidelidade à Sé de Pedro, a fim de garantir que a ação do Espírito não seja vã. Com efeito, a integridade da fé, junto à disciplina eclesial, é, e será sempre, tema que exigirá atenção e desvelo por parte de todos vós, sobretudo quando se trata de tirar as consequências do fato que existe «uma só fé e um só batismo».

Como sabeis, entre os vários documentos que se ocupam da unidade dos cristãos está o Diretório para o ecumenismo publicado pelo Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos. O Ecumenismo, ou seja, a busca da unidade dos cristãos torna-se nesse nosso tempo, no qual se verifica o encontro das culturas e o desafio do secularismo, uma tarefa sempre mais urgente da Igreja católica. Com a multiplicação, porém, de sempre novas denominações cristãs e, sobretudo diante de certas formas de proselitismo, frequentemente agressivo, o empenho ecumênico torna-se uma tarefa complexa. Em tal contexto é indispensável uma boa formação histórica e doutrinal, que habilite ao necessário discernimento e ajude a entender a identidade específica de cada uma das comunidades, os elementos que dividem e aqueles que ajudam no caminho de construção da unidade. O grande campo comum de colaboração deveria ser a defesa dos fundamentais valores morais, transmitidos pela tradição bíblica, contra a sua destruição numa cultura relativística e consumista; mais ainda, a fé em Deus criador e em Jesus Cristo, seu Filho encarnado. Além do mais vale sempre o princípio do amor fraterno e da busca de compreensão e de proximidade mútuas; mas também a defesa da fé do nosso povo, confirmando-o na feliz certeza, que a "unica Christi Ecclesia... subsistit in Ecclesia catholica, a successore Petri et Episcopis in eius communione gubernata" ("a única Igreja de Cristo... subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele") (Lumen gentium LG 8).

Neste sentido se procederá a um franco diálogo ecumênico, através do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs, zelando pelo pleno respeito das demais confissões religiosas, desejosas de manter-se em contato com a Igreja Católica no Brasil.

7. Não é nenhuma novidade a constatação de que vosso País convive com um déficit histórico de desenvolvimento social, cujos traços extremos são o imenso contingente de brasileiros vivendo em situação de indigência e uma desigualdade na distribuição da renda que atinge patamares muito elevados. A vós, veneráveis Irmãos, como hierarquia do povo de Deus, vos compete promover a busca de soluções novas e cheias de espírito cristão. Uma visão da economia e dos problemas sociais, a partir da perspectiva da doutrina social da Igreja, leva a considerar as coisas sempre do ponto de vista da dignidade do homem, que transcende o simples jogo dos fatores econômicos. Deve-se, por isso, trabalhar incansavelmente para a formação dos políticos, dos brasileiros que têm algum poder decisório, grande ou pequeno e, em geral, de todos os membros da sociedade, de modo que assumam plenamente as próprias responsabilidades e saibam dar um rosto humano e solidário à economia.

Ocorre formar nas classes políticas e empresariais um autêntico espírito de veracidade e de honestidade. Quem assume uma liderança na sociedade, deve procurar prever as conseqüências sociais, diretas e indiretas, a curto e a longo prazo, das próprias decisões, agindo segundo critérios de maximização do bem comum, ao invés de procurar ganâncias pessoais.

8. Queridos irmãos, se Deus quiser, encontraremos outras oportunidades para aprofundar as questões que interpelam a nossa solicitude pastoral conjunta. Desta vez, desejei, certamente de maneira não exaustiva, expor os temas mais relevantes que se impõem à minha consideração de Pastor da Igreja universal. Transmito-vos o meu afetuoso encorajamento que é, ao mesmo tempo, uma fraterna e sentida súplica: para que procedais e trabalheis sempre, como vindes fazendo, em concórdia, tendo como vosso fundamento uma comunhão que na Eucaristia encontra o seu momento culminante e o seu manancial inesgotável. Confio todos vós a Maria Santíssima, Mãe de Cristo e Mãe da Igreja, enquanto de todo o coração vos concedo, a cada um de vós e às vossas respectivas Comunidades, a Bênção Apostólica.

Obrigado!



ENCONTRO COM AS IRMÃS CLARISSAS Fazenda da Esperança, Guaratinguetá Sábado, 12 de maio de 2007

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Louvado sejas, meu Senhor, por todas as tuas criaturas

Com esta saudação ao Onipotente e Bom Senhor, o santo Pobrezinho de Assis reconhecia a bondade única do Deus Criador e a doçura, a força e a beleza que serenamente se espalham em todas as criaturas, tornado-as espelho da onipotência do Criador.

Este nosso encontro, queridas irmãs Clarissas, nesta Fazenda da Esperança, quer ser a manifestação de um gesto de carinho do sucessor de Pedro às irmãs de clausura e também um sereno murmúrio de amor que ecoa por estas colinas e vales da Serra da Mantiqueira e ressoe em toda a terra: "Não são discursos nem frases ou palavras, nem são vozes que possam ser ouvidas; seu som ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do universo a sua voz" (
Ps 18,4-5). Daqui as filhas de santa Clara proclamam; "louvado sejas, meu Senhor, por todas as tuas criaturas! ".

Onde a sociedade não vê mais futuro ou esperança, são os cristãos chamados a anunciar a força da Ressurreição: justamente aqui nesta Fazenda da Esperança, onde estão tantas pessoas, principalmente jovens, que procuram superar o problema das drogas, do álcool e da dependência química, testemunha-se o Evangelho de Cristo no meio de uma sociedade consumista afastada de Deus. Quão outra é a perspectiva do Criador em sua obra! As irmãs Clarissas e outros religiosos de clausura - que, na vida contemplativa, perscrutam a grandeza de Deus e descobrem também a beleza das criaturas - podem, com o autor sagrado, contemplar o próprio Deus, embevecido, maravilhado diante de Sua obra, de Sua criatura amada: "Deus contemplou tudo o que tinha feito e eis que estava tudo muito bom!" (Gn 1,31).

Quando o pecado entrou no mundo e, com ele, a morte, a criatura amada de Deus - embora ferida - não perdeu totalmente sua beleza: ao contrário, recebeu um amor maior: "Ó feliz culpa que nos mereceu um tão grande Redentor" - proclama a Igreja na noite misteriosa e clara da Páscoa (Exultet). Éo Cristo ressuscitado que cura as feridas e salva os filhos e filhas de Deus, salva a humanidade da morte, do pecado e da escravidão das paixões. A Páscoa de Cristo une a terra e o céu. Nesta Fazenda da Esperança unem-se as orações das Clarissas e o trabalho árduo da medicina e da laborterapia para vencer as prisões e quebrar os grilhões das drogas que fazem sofrer os filhos amados de Deus.

Recompõe-se, assim, a beleza das criaturas que encanta e maravilha seu Criador. Este é o Pai todo-poderoso, o único cujo ser é o amor e cuja glória é o ser humano vivo - no dizer de Santo Irineu. Ele "tanto amou o mundo, que enviou o seu Filho" (Jn 3,16) para recolher o caído no caminho, assaltado e ferido pelos ladrões na estrada de Jerusalém a Jericó. Nos caminhos do mundo, Jesus é "a mão que o Pai estende aos pecadores; é o caminho pelo qual nos chega a paz" (anáfora eucarística). Sim, aqui descobrimos que a beleza das criaturas e o amor de Deus são inseparáveis. Francisco e Clara de Assis também descobrem este segredo e propõem aos seus filhos e filhas uma só coisa - e bem simples: viver o Evangelho. Esta é sua norma de conduta e sua regra de vida. Clara o expressou muito bem, quando disse às suas Irmãs: "Tende entre vós, minhas filhas, o mesmo amor com o qual Cristo vos amou" (Testamento).

É neste amor que Frei Hans convidou-as para serem a retaguarda de todo o trabalho desenvolvido na Fazenda da Esperança. Na força da oração silenciosa, nos jejuns e penitências, as filhas de santa Clara vivem o mandamento do amor a Deus e ao próximo, no gesto supremo de amar até o fim.

Isto significa jamais perder a esperança! Donde o nome desta obra de Frei Hans: "Fazenda da Esperança". Pois é preciso edificar, construir a esperança, tecendo a tela de uma sociedade que, no estender-se dos fios da vida, perde o próprio sentimento de esperança. Esta perda - no dizer de Paulo - é como maldição que a pessoa humana impõe a si mesma: "pessoas sem afeto" (Rm 1,31).

Caríssimas irmãs, sejam as proclamadoras de que "a esperança não decepciona" (Rm 5,5). A dor do Crucificado, que atravessou a alma de Maria ao pé da cruz, console tantos corações maternos e paternos que choram de dor por seus filhos ainda dependentes de drogas. Anunciem pelo silêncio oferente da oração, silêncio grandiloqüente que o Pai escuta; anunciem a mensagem do amor que vence a dor, as drogas e a morte. Anunciem Jesus Cristo, humano como nós, sofredor como nós, que tomou sobre si os nossos pecados para deles nos libertar!

Estamos para iniciar a V (Quinta) Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho, no Santuário de Aparecida - tão perto desta Fazenda da Esperança. Confio também em suas orações, para que nossos povos tenham vida em Jesus Cristo e todos nós sejamos seus discípulos e missionários. Rogo a Maria - a Mãe Aparecida, a Virgem de Nazaré - quem, no seguimento de seu Filho, guardava todas as coisas no seu coração, que as guarde no silêncio fecundo da oração.

A todas as irmãs de clausura, de maneira especial às Clarissas presentes a esta obra, minha bênção e afeto.



ENCONTRO COM A COMUNIDADE Fazenda da Esperança, Guaratinguetá Sábado, 12 de maio de 2007

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Queridos amigos e amigas,
Eis-me finalmente na Fazenda Esperança!

1. Com particular afeto, saúdo ao Frei Hans Stapel, Fundador da Obra Social Nossa Senhora da Glória, também conhecida como Fazenda da Esperança. Desejo desde já congratular-me com todos vocês, por terem acreditado num ideal de bem e de paz que este lugar significa.

A todos que se encontram em fase de recuperação, bem como aos reabilitados, voluntários, famílias, ex-internos e benfeitores de todas as fazendas representadas nesta ocasião para encontrar-se com o Papa, digo: Paz e Bem!

Sei que aqui se encontram reunidos os representantes de diversos países, onde a Fazenda da Esperança possui sedes. Viestes ver o Papa. Viestes para ouvir e assimilar o que ele vos queria dizer.

2. A Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência da tarefa de repropor ao mundo a voz d’Aquele que disse: «Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (
Jn 8,12). Por sua vez, a tarefa do Papa é renovar nos corações essa luz que não ofusca, pois quer iluminar o íntimo das almas que buscam o verdadeiro bem e a paz, que o mundo não pode dar. Um fulgor como este, só necessita de um coração aberto aos anseios divinos. Deus não força, não oprime a liberdade individual; pede só abertura daquele sacrário da nossa consciência por donde passam todas as aspirações mais nobres, mas também afetos e paixões desordenadas que ofuscam a mensagem do Altíssimo.

3. «Eis que estou à porta, e bato: Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo» (Ap 3,20). São palavras divinas que tocam o fundo da alma e que removem até as suas raízes mais profundas.

449 A um certo momento da vida, Jesus vem e toca, com suaves batidas, no fundo dos corações bem dispostos. A vocês, Ele o fez através de uma pessoa amiga ou de um sacerdote ou, possivelmente, providenciou uma série de coincidências para dizer que sois objeto de predileção divina. Mediante a instituição que os abriga, o Senhor proporcionou esta experiência de recuperação física e espiritual de vital importância para vocês e seus familiares. Além disso, a sociedade espera que saibam divulgar este bem precioso da saúde entre os amigos e membros de toda a comunidade.

Vocês devem ser os embaixadores da esperança! O Brasil possui uma estatística, das mais relevantes, no que diz respeito à dependência química de drogas e entorpecentes. E a América Latina não fica atrás. Por isso, digo aos que comercializam a droga que pensem no mal que estão provocando a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vai-lhes exigir satisfações. A dignidade humana não pode ser espezinhada desta maneira. O mal provocado recebe a mesma reprovação dada por Jesus aos que escandalizavam os “pequeninos”, os preferidos de Deus (cf.
Mt 18,7-10).

4. Mediante uma terapia, que inclui a assistência médica, psicológica e pedagógica, mas também muita oração, trabalho manual e disciplina, já são numerosas as pessoas, sobretudo jovens, que conseguiram livrar-se da dependência química e do álcool e recuperar o sentido da vida.

Desejo manifestar o meu apreço por esta Obra, que tem como alicerce espiritual o carisma de São Francisco e a espiritualidade do Movimento dos Focolares.

A reinserção na sociedade constitui, sem dúvida, uma prova da eficácia da iniciativa de vocês. Mas o que mais chama atenção, e confirma a validade do trabalho, são as conversões, o reencontro com Deus e a participação ativa na vida da Igreja. Não basta curar o corpo, é preciso adornar a alma com os mais preciosos dons divinos conquistados através do Batismo.

Vamos agradecer a Deus por ter querido colocar tantas almas no caminho de uma esperança renovada, com o auxílio do Sacramento do perdão e da celebração da Eucaristia.

5. Queridos amigos, não poderia deixar passar esta oportunidade para agradecer também a todos os que colaboram material ou espiritualmente para dar continuidade à Obra Social Nossa Senhora da Glória. Que Deus abençoe Frei Hans Stapel e Nelson Giovanelli Ros por terem acolhido o convite d'Ele para dedicarem sua vida a vocês. Abençoe também todos os que trabalham nesta Obra: os consagrados e as consagradas; os voluntários e as voluntárias. Uma Bênção especial vai para todas as pessoas amigas que a sustentam: autoridades, grupos de apoio e todos que amam a Cristo presente nestes seus filhos prediletos.

Meu pensamento vai agora a muitas outras instituições do mundo inteiro que trabalham para restituir a vida, e vida nova, a estes nossos irmãos presentes na nossa sociedade, e que Deus ama com um amor preferencial. Penso também nos muitos grupos de Alcoólicos Anônimos e de Narcóticos Anônimos, e na Pastoral da Sobriedade que já trabalha em muitas comunidades, prestando seus generosos auxílios em favor da vida.

6. A proximidade do Santuário de Aparecida nos assegura que a Fazenda da Esperança nasceu sob as suas bênçãos e o seu olhar maternal. Há muito que venho pedindo à Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil, que estenda seu manto protetor sobre os que participarão na V (Quinta) Conferencia Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. A presença de vocês aqui, supõe uma ajuda considerável para o sucesso desta grande assembléia; ponham suas orações, sacrifícios e renúncias no altar da Capela, certos de que, no Santo Sacrifício do Altar, estas ofertas subirão aos céus como um suave aroma na presença do Altíssimo. Conto com a ajuda de vocês. Que o Santo Frei Galvão e Santa Crescência amparem e protejam a cada um. A todos vocês abençôo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.




ORAÇÃO DO SANTO ROSÁRIO E ENCONTRO COM OS SACERDOTES, OS RELIGIOSOS, AS RELIGIOSAS, OS SEMINARISTAS E OS DIÁCONOS Sábado, 12 de maio de 2007

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Basílica do Santuário da Aparecida


Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e Presbiterado,
Amados religiosos e todos vós que, impelidos pela voz de Jesus Cristo, O seguistes por amor!
Estimados seminaristas, que vos estais preparando para o ministério sacerdotal!
Queridos representantes dos Movimentos eclesiais, e todos vós leigos que levais a força do Evangelho ao mundo do trabalho e da cultura, no seio das famílias,
bem como às vossas paróquias!

1. Como os Apóstolos, juntamente com Maria, «subiram para a sala de cima» e ali «unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração» (
Ac 1,13-14), assim também hoje nos reunimos aqui no Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que é para nós nesta hora «a sala de cima», onde Maria, Mãe do Senhor, se encontra no meio de nós. Hoje é Ela que orienta a nossa meditação; Ela nos ensina a rezar. É Ela que nos mostra o modo como abrir nossas mentes e os nossos corações ao poder do Espírito Santo, que vem para ser transmitido ao mundo inteiro.

Acabamos de recitar o Rosário. Através dos seus ciclos meditativos, o Divino Consolador quer nos introduzir no conhecimento de um Cristo que brota da fonte límpida do texto evangélico. Por sua vez, a Igreja do terceiro milênio se propõe dar aos cristãos a capacidade de «conhecerem - com palavras de São Paulo - o mistério de Deus, isto é Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência» (Col 2,2-3). Maria Santíssima, a Virgem Pura e sem Mancha é para nós escola de fé destinada a conduzir-nos e a fortalecer-nos no caminho que leva ao encontro com o Criador do Céu e da Terra. O Papa veio a Aparecida com viva alegria para vos dizer primeiramente: "Permanecei na escola de Maria". Inspirai-vos nos seus ensinamentos, procurai acolher e guardar dentro do coração as luzes que Ela, por mandato divino, vos envia lá do alto.

Como é bom estarmos aqui reunidos em nome de Cristo, na fé, na fraternidade, na alegria, na paz, "na oração com Maria, a Mãe de Jesus" (Ac 1,14). Como é bom, queridos Presbíteros, Diáconos, Consagrados e Consagradas, Seminaristas e Famílias Cristãs, estarmos aqui no Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que é Morada de Deus, Casa de Maria e Casa de Irmãos e que nesses dias se transforma também em Sede da V Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha. Como é bom estarmos aqui nesta Basílica Mariana para onde, neste tempo, convergem os olhares e as esperanças do mundo cristão, de modo especial da América Latina e do Caribe!

2. Sinto-me muito feliz em estar aqui convosco, em vosso meio! O Papa vos ama! O Papa vos saúda afetuosamente! Reza por vós! E suplica ao Senhor as mais preciosas bênçãos para os Movimentos, Associações e as novas realidades eclesiais, expressão viva da perene juventude da Igreja! Que sejais muito abençoados! Aqui vai minha saudação muito afetuosa a vós Famílias aqui congregadas e que representais todas as caríssimas Famílias Cristãs presentes no mundo inteiro. Alegro-me de modo especialíssimo convosco e vos envio o meu abraço de paz.

Agradeço a acolhida e a hospitalidade do Povo brasileiro. Desde que aqui cheguei fui recebido com muito carinho! As várias manifestações de apreço e saudações demonstram o quanto vós quereis bem, estimais e respeitais o Sucessor do Apóstolo Pedro. Meu predecessor, o Servo de Deus Papa João Paulo II referiu-se várias vezes à vossa simpatia e espírito de acolhida fraterna. Ele tinha toda razão!

451 3. Saúdo aos estimados padres, aqui presentes, penso e oro por todos os sacerdotes espalhados pelo mundo inteiro, de modo particular pelos da América Latina e do Caribe, neles incluindo os que são fidei donum. Quantos desafios, quantas situações difíceis enfrentais, quanta generosidade, quanta doação, sacrifícios e renúncias! A fidelidade no exercício do ministério e na vida de oração, a busca da santidade, a entrega total a Deus a serviço dos irmãos e irmãs, gastando vossas vidas e energias, promovendo a justiça, a fraternidade, a solidariedade, a partilha, - tudo isso fala fortemente ao meu coração de Pastor. O testemunho de um sacerdócio bem vivido dignifica a Igreja, suscita admiração nos fiéis, é fonte de bênçãos para a Comunidade, é a melhor promoção vocacional, é o mais autêntico convite para que outros jovens também respondam positivamente aos apelos do Senhor. É a verdadeira colaboração para a construção do Reino de Deus!

Agradeço-vos sinceramente e vos exorto a que continueis a viver de modo digno a vocação que recebestes. Que o ardor missionário, que a vibração por uma evangelização sempre mais atualizada, que o espírito apostólico autêntico e o zelo pelas almas estejam presentes em vossas vidas! O meu afeto, orações e agradecimentos vai também aos sacerdotes idosos e enfermos. A vossa conformação ao Cristo Sofredor e Ressuscitado é o mais fecundo apostolado! Muito obrigado!

4. Queridos Diáconos e Seminaristas, a vós também que ocupais um lugar especial no coração do Papa, uma saudação muito fraterna e cordial. A jovialidade, o entusiasmo, o idealismo, o ânimo em enfrentar com audácia os novos desafios, renovam a disponibilidade do Povo de Deus, tornam os fiéis mais dinâmicos e fazem a Comunidade Cristã crescer, progredir, ser mais confiante, feliz e otimista. Agradeço o testemunho que ofereceis, colaborando com os vossos Bispos nos trabalhos pastorais das dioceses. Tenhais sempre diante dos olhos a figura de Jesus, o Bom Pastor, que "veio não para ser servido, mas para servir e dar sua vida para resgatar a multidão" (
Mt 20,28). Sede como os primeiros diáconos da Igreja: homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo, de sabedoria e de fé (cf. At Ac 6,3-5). E vós, Seminaristas dai graças a Deus pela chamada que Ele vos faz. Lembrai-vos que o Seminário é o "berço da vossa vocação e palco da primeira experiência de comunhão" (Diretório para o Ministério e vida dos Presbíteros, 32). Rezo para que sejais, se Deus quiser, sacerdotes santos, fiéis e felizes em servir a Igreja!

5. Detenho meu olhar e atenção agora sobre vós, estimados Consagrados e Consagradas, aqui reunidos no Santuário da Mãe, Rainha e Padroeira do Povo Brasileiro, e também espalhados por todas as partes do mundo.

Vós, religiosos e religiosas, sois uma dádiva, um presente, um dom divino que a Igreja recebeu do seu Senhor. Agradeço a Deus a vossa vida e o testemunho que dais ao mundo de um amor fiel a Deus e aos irmãos. Esse amor sem reservas, total, definitivo, incondicional e apaixonado se expressa no silêncio, na contemplação, na oração e nas atividades mais diversas que realizais, em vossas famílias religiosas, em favor da humanidade e principalmente dos mais pobres e abandonados. Isso tudo suscita no coração dos jovens o desejo de seguir mais de perto e radicalmente o Cristo Senhor e oferecer a vida para testemunhar aos homens e mulheres do nosso tempo que Deus é Amor e que vale à pena deixar-se cativar e fascinar para dedicar-se exclusivamente a Ele (cf. Exort. ap. Vita Consecrata, 15).

A vida religiosa no Brasil sempre foi marcante e teve um papel de destaque na obra da evangelização, desde os primórdios da colonização. Ontem ainda, tive a grande satisfação de presidir a Celebração Eucarística na qual foi canonizado Santo Antonio de Sant'Ana Galvão, presbítero e religioso franciscano, primeiro santo nascido no Brasil. Ao seu lado, um outro testemunho admirável de consagrada é Santa Paulina, fundadora das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Teria muitos outros exemplos para citar. Que todos eles vos sirvam de estímulo para viverdes uma consagração total. Deus vos abençoe!

6. Hoy, en vísperas de la apertura de la V Conferencia General de los Obispos de América Latina y del Caribe, que tendré el gusto de presidir, siento el deseo de deciros a todos vosotros cuán importante es el sentido de nuestra pertenencia a la Iglesia, que hace a los cristianos crecer y madurar como hermanos, hijos de un mismo Dios y Padre. Queridos hombres y mujeres de América Latina sé que tenéis una gran sed de Dios. Sé que seguís a Aquel Jesús, que dijo "Nadie va al Padre sino por mí" (Jn 14,6). Por eso el Papa quiere deciros a todos: ¡La Iglesia es nuestra Casa! ¡Esta es nuestra Casa! ¡En la Iglesia Católica tenemos todo lo que es bueno, todo lo que es motivo de seguridad y de consuelo! ¡Quien acepta a Cristo: "Camino, Verdad y Vida", en su totalidad, tiene garantizada la paz y la felicidad, en esta y en la otra vida! Por eso, el Papa vino aquí para rezar y confesar con todos vosotros: ¡vale la pena ser fieles, vale la pena perseverar en la propia fe! Pero la coherencia en la fe necesita también una sólida formación doctrinal y espiritual, contribuyendo así a la construcción de una sociedad más justa, más humana y cristiana. El Catecismo de la Iglesia Católica, incluso en su versión más reducida, publicada con el título de Compendio, ayudará a tener nociones claras sobre nuestra fe. Vamos a pedir, ya desde ahora, que la venida del Espíritu Santo sea para todos como un nuevo Pentecostés, a fin de iluminar con la luz de lo Alto nuestros corazones y nuestra fe.

7. É com grande esperança que me dirijo a todos vós, que se encontram dentro desta majestosa Basílica, ou que participaram do lado de fora, do Santo Rosário, para convidá-los a se tornarem profundamente missionários e para levar a Boa Nova do Evangelho por todos os pontos cardeais da América Latina e do mundo.

Vamos pedir à Mãe de Deus, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que zele pela vida de todos os cristãos. Ela, que é a Estrela da Evangelização, guie nossos passos no caminho do Reino celestial:

"Mãe nossa, protegei a família brasileira e latino-americana!

Amparai, sob o vosso manto protetor, os filhos dessa Pátria querida que nos acolhe,

452 Vós que sois a Advogada junto ao vosso Filho Jesus, dai ao Povo brasileiro paz constante e prosperidade completa,

Concedei aos nossos irmãos de toda a geografia latino-americana um verdadeiro ardor missionário irradiador de fé e de esperança,

Fazei que o vosso clamor de Fátima pela conversão dos pecadores, seja realidade, e transforme a vida da nossa sociedade,

E vós que, do Santuário de Guadalupe, intercedeis pelo povo do Continente da esperança, abençoai as suas terras e os seus lares,

Amém".




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