Discursos Bento XVI 13517

CERIMÔNIA DE DESPEDIDA Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos Domingo, 13 de maio de 2007

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Senhor Vice-Presidente:

Ao deixar esta terra abençoada do Brasil, eleva-se na minha alma um hino de ação de graças ao Altíssimo, que me permitiu viver aqui horas intensas e inesquecíveis, com o olhar dirigido à Senhora Aparecida que, do seu Santuário, presidiu o início da V (Quinta) Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe.

Na minha memória ficarão para sempre gravadas as manifestações de entusiasmo e de profunda piedade deste povo generoso da Terra da Santa Cruz que, junto à multidão de peregrinos provindos deste Continente da esperança, soube dar uma pujante demonstração de fé em Cristo e de amor pelo Sucessor de Pedro. Peço a Deus que ajude os responsáveis, seja no âmbito religioso que no civil a imprimir um passo decidido àquelas iniciativas, que todos esperam, pelo bem comum da grande Família Latino-Americana.

A minha saudação final, repassada de gratidão, vai para o Senhor Presidente da República, para o Governo desta Nação e do Estado de São Paulo, e para as demais Autoridades brasileiras que tantas provas de delicadeza quiseram-me dispensar nestes dias.

Estou também agradecido às autoridades consulares, cuja diligente atuação facilitou sobremaneira a participação das próprias Nações nestes dias de reflexão, oração e compromisso pelo bem comum dos participantes a este grande evento.

Um particular pensamento de estima fraterna dirijo-o, com profundo reconhecimento, aos Senhores Cardeais, aos meus Irmãos no Episcopado, aos Sacerdotes e Diáconos, Religiosos e Religiosas, aos Organizadores da Conferência. Todos contribuíram para abrilhantar estas jornadas, deixando a quantos nelas tomaram parte cheios de alegria e de esperança - gaudium et spes! - na família cristã e na sua missão no meio da sociedade.

Tende a certeza de que levo a todos no meu coração, donde brota a Bênção que vos concedo e que faço extensiva a todos os Povos da América Latina e do Mundo.

Muito obrigado!



AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DO MALI POR OCASIÃO DA VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM" Sexta-feira, 18 de Maio de 2007

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Queridos irmãos no episcopado

É com alegria que vos recebo, Pastores da Igreja do Mali, no momento em que realizais a vossa visita ad limina Apostolorum. Para vós próprios e para a vida das vossas comunidades diocesanas, é um momento importante que manifesta a comunhão das vossas Igrejas locais com o Sucessor de Pedro e com a Igreja universal, e que vos ajudará a perseverar no dinamismo missionário. As vossas Igrejas locais saibam que ocupam um lugar no coração e na oração do Papa! Agradeço a D. Jean Gabriel Diarra, Presidente da vossa Conferência episcopal, as amáveis palavras que pronunciou em vosso nome e pela apresentação das realidades da Igreja no vosso País. Feliz por verificar a estima da qual goza a comunidade católica do Mali por parte das Autoridades e da população, gostaria de saudar calorosamente os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os catequistas e todos os fiéis leigos das vossas dioceses. Encorajo-os a viver com generosidade o Evangelho de Cristo que receberam dos seus pais na fé. A minha saudação dirige-se também a todos os habitantes do Mali, pedindo a Deus que abençoe cada família e conceda a todos a graça de viver em paz e na fraternidade.

Queridos Irmãos no episcopado, ao procurar a vossa unidade interior e a fonte das vossas energias na caridade pastoral, alma do vosso apostolado, assim como no afecto que manifestais para com o rebanho que vos foi confiado, o vosso ministério encontrará o seu pleno desenvolvimento e uma eficácia renovada. Sede fervorosos pastores que guiam o povo de Deus como homens de fé, com confiança e coragem, sabendo estar próximos de todos, para suscitar a esperança, mesmo nas situações mais difíceis. De facto, "à imagem de Jesus e seguindo as suas pegadas, também o Bispo sai para O anunciar ao mundo como Salvador do homem, de cada homem. Missionário do Evangelho, actua em nome da Igreja, perita em humanidade e solidária com os homens do nosso tempo" (Pastores gregis ).

Guiado por uma caridade sincera e por uma solicitude particular, vós sois para cada um dos vossos sacerdotes um pai, um irmão e um amigo. Eles cooperam generosamente na vossa missão apostólica, vivendo com frequência em situações humanas e espirituais difíceis. Dado que hoje o clero diocesano é chamado a desempenhar um papel maior na evangelização, em colaboração fraterna e confiante com os missionários, dos quais recordo a obra corajosa, é necessário que os sacerdotes vivam a sua identidade sacerdotal doando-se totalmente ao Senhor, para o serviço abnegado dos seus irmãos, sem se desencorajarem perante as dificuldades com as quais se confrontam. Numa comunhão mais íntima com Aquele que os chamou, encontrarão a unidade da sua via assim como a força para o seu ministério ao serviço dos homens e das mulheres que lhes estão confiados, apesar da dispersão das ocupações quotidianas. A vida de oração e a vida sacramental são para os sacerdotes uma autêntica prioridade pastoral, que os ajudará a responder com determinação ao apelo à santidade recebido do Senhor e à missão de guiar os fiéis por este mesmo caminho. Que eles nunca esqueçam, como escrevi na encíclica Deus caritas est, que "quem reza não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características duma emergência e parece impelir unicamente para a acção" (n. 36).

Para que os sacerdotes possam trabalhar eficazmente na evangelização e contribuir para o crescimento espiritual da comunidade cristã, a sua formação deve ser encarada com grande cuidado. De facto, ela não se limita à transmissão de noções abstractas. Deve preparar os candidatos para o ministério sacerdotal, estando efectivamente relacionada com as realidades da missão e da vida presbiteral. A formação humana está na base da formação sacerdotal. Uma atenção particular à sua maturidade afectiva permitir-lhes-á dar uma resposta livre à vida no celibato e na castidade, dom precioso de Deus, e ter deles uma consciência solidamente estável ao longo de toda a sua existência.

No momento em que a Igreja que está no vosso continente se prepara para celebrar a segunda Assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a África, o compromisso dos fiéis ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz é um imperativo urgente. Por conseguinte, os leigos devem tomar uma consciência renovada da sua missão particular no seio da única missão da Igreja e das exigências espirituais que com elas estão relacionadas pela sua própria existência.

Comprometendo-se resolutamente pela edificação de uma sociedade justa, solidária e fraterna, serão então autênticos mensageiros da Boa Nova de Jesus e contribuirão para o advento do Reino de Deus, santificando o mundo e inserindo o espírito do Evangelho. Para que esta participação na transformação da sociedade seja eficaz, é indispensável formar leigos competentes para servir o bem comum. Esta formação, cujo conhecimento da doutrina social da Igreja é um elemento fundamental, deve ter em consideração o seu compromisso na vida civil, para que sejam capazes de enfrentar as tarefas quotidianas nos campos político, económico, social e cultural, mostrando que a probidade na vida pública abre o caminho da confiança da parte de todos e de uma sadia gestão dos assuntos.

Mediante a acção das comunidades religiosas e dos leigos comprometidos, a Igreja dá também uma contribuição para a vida da sociedade, sobretudo mediante a sua obra educativa em favor das jovens gerações, pela sua atenção às pessoas que sofrem e de modo geral mediante as suas obras caritativas. Contudo, estas obras devem ser efectivamente a expressão da presença amorosa de Deus junto das pessoas que se encontram em necessidade. Como ressaltei na minha encíclica Deus caritas est, a actividade caritativa da Igreja tem um perfil específico e, desta forma, é importante que "mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva na organização assistencial comum, tornando-se uma simples variante da mesma" (n. 31). O apoio efectivo dos responsáveis da nação a estas obras escolares, sociais e no campo da saúde, que estão ao serviço de toda a população, sem exclusivismos, é uma ajuda preciosa para o desenvolvimento da própria sociedade.

Queridos Irmãos no Episcopado, os vossos relatórios quinquenais fazem sobressair que a pastoral do matrimónio é uma preocupação principal na vida das vossas dioceses. De facto, quando o número dos matrimónios cristãos permanece relativamente baixo, compete à Igreja ajudar os baptizados, particularmente os jovens, a compreender a beleza e a dignidade deste sacramento na existência cristã. Para responder ao receio expresso em relação ao carácter definitivo do matrimónio, uma sólida preparação, com a colaboração de leigos peritos, também permitirá que os casais cristãos permaneçam fiéis às promessas do matrimónio. Eles tornar-se-ão conscientes de que a fidelidade dos esposos e a indissolubilidade da sua aliança, cujo modelo é a fidelidade manifestada por Deus na aliança indestrutível que ele mesmo estabeleceu com o homem, são uma fonte de bem-estar para os que se unem. E este bem-estar também será o dos seus filhos, reflexos do amor que os seus pais têm. Uma educação humana e cristã feita a partir da primeira infância e fundada no exemplo dos pais permitirá que as crianças acolham, e depois façam crescer nelas, os germes da fé. Neste espírito, dou graças pelos jovens que aceitam acolher o apelo de Deus para o servir no sacerdócio e na vida consagrada.

Por fim, gostaria de expressar a minha satisfação por saber que os fiéis católicos do Mali mantêm relações cordiais com os seus compatriotas muçulmanos. Assim é primordial que seja dada uma justa atenção ao seu aprofundamento, para favorecer a amizade e uma colaboração frutuosa entre cristãos e muçulmanos. Para esta finalidade, é legítimo que a identidade própria de cada comunidade possa expressar-se visivelmente, no respeito recíproco, reconhecendo a diversidade religiosa da comunidade nacional e favorecendo uma coexistência pacífica, a todos os níveis da sociedade. Então é possível caminhar juntos, num compromisso comum pela justiça, a concórdia e a paz.

Ao terminar, queridos Irmãos no episcopado, dirijo-vos o meu encorajamento caloroso pela vossa missão ao serviço do Evangelho de Cristo. A experiência cristã que vos deve animar é um apoio para a fé e um estímulo para a caridade. Nossa Senhora do Mali proteja todas as famílias da vossa Nação! A cada um de vós, aos vossos religiosos, religiosas, seminaristas, catequistas e a todos os leigos das vossas dioceses, concedo de todo o coração uma afectuosa Bênção Apostólica.



AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PROMOVIDO PELA FUNDAÇÃO "CENTESIMUS ANNUS PRO PONTIFICE" Sábado, 19 de Maio de 2007


Senhor Cardeal
Venerados Irmãos
463 no Episcopado e no Presbiterado
Caros amigos

É para mim motivo de verdadeiro prazer acolher-vos nesta visita, que se segue à celebração da Eucaristia, em que participastes hoje de manhã na Basílica de São Pedro. Dirijo a minha saudação a cada um de vós e, em primeiro lugar, ao Senhor Cardeal Attilio Nicora, Presidente da Administração do Património da Sé Apostólica, agradecendo a todos os representantes as palavras que me dirigiram. Em seguida, dirijo a minha saudação ao Conde Lorenzo de Montelera, vosso Presidente, aos Bispos e sacerdotes presentes, e torno-a extensiva a todos os membros da vossa benemérita Agremiação, e também a quantos não conseguiram participar no hodierno encontro, assim como aos vossos familiares.

Durante a vossa reunião do corrente ano, reflectistes sobre o compromisso fundamental que caracteriza a Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice: ou seja, de aprofundar os aspectos mais actuais da Doutrina Social da Igreja, com referência às problemáticas e aos desafios mais urgentes no mundo de hoje. Em segundo lugar, viestes para apresentar ao Papa o fruto da vossa generosidade, a fim de que disponha do mesmo para responder aos inúmeros pedidos de ajuda que lhe chegam de todas as regiões do mundo. E garanto-vos são realmente muitos! Portanto, obrigado por esta vossa contribuição, obrigado por aquilo que estais a realizar e pelo compromisso com que vos dedicais às actividades da vossa Associação, desejada pelo meu venerado predecessor João Paulo II.

Aproveito a ocasião para oferecer à vossa consideração algumas breves reflexões sobre o tema social, vasto e estimulador, que vos empenhou durante os vossos trabalhos. Com efeito, analisastes sob os aspectos económico e social a mudança que está em curso nos países "emergentes", com as repercussões de índoles cultural e religioso, que dela derivam. Em particular, prestastes atenção às nações da Ásia, caracterizadas por vigorosas dinâmicas de crescimento económico, que contudo nem sempre comportam um verdadeiro desenvolvimento social, e às da África, onde infelizmente o progresso económico e o desenvolvimento social encontram muitos obstáculos e desafios.

Aquilo de que estes povos, como de resto os de todas as regiões da terra, têm necessidade é sem dúvida um progresso social e económico harmonioso e com uma dimensão realmente humana. A este propósito, apraz-me citar um trecho incisivo da Encíclica Centesimus annus, do amado João Paulo II, onde ele afirma que "o progresso não deve ser entendido de modo exclusivamente económico, mas num sentido integralmente humano". Depois, acrescenta que "não se trata apenas de elevar todos os povos ao nível que hoje gozam somente os países mais ricos, mas de construir no trabalho solidário uma vida mais digna, fazer crescer efectivamente a dignidade e a criatividade de cada pessoa, a sua capacidade de corresponder à própria vocação e, portanto, ao apelo de Deus" (n. 29).

Encontramos aqui um ensinamento constante da Doutrina Social da Igreja, várias vezes reiterado pelos meus Predecessores ao longo destas últimas décadas. Celebra-se precisamente no corrente ano o 40º aniversário da publicação de uma grande Encíclica social, do Servo de Deus Paulo VI, a Populorum progressio. Neste texto, diversas vezes citado nos documentos sucessivos, aquele grande Pontífice já asseverava que "o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico". Com efeito, "para ser autêntico [o desenvolvimento] deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo" (n. 14).

A atenção às verdadeiras exigências do ser humano, o respeito pela dignidade de cada pessoa e a busca sincera do bem comum são os princípios inspiradores que é bom ter presente, quando se programa o desenvolvimento de uma nação. Mas infelizmente, isto não acontece. A hodierna sociedade globalizada registra muitas vezes desequilíbrios paradoxais e dramáticos. Com efeito, quando consideramos o forte incremento das taxas de crescimento económico, quando paramos para analisar as problemáticas ligadas ao progresso moderno, sem excluir a elevada poluição e o consumo irresponsável dos recursos naturais e ambientais, parece evidente que somente um processo de globalização atento às exigências da solidariedade pode assegurar à humanidade um porvir de autêntico bem-estar e de paz estável para todos.

Prezados amigos, sei que vós, profissionais e fiéis leigos activamente comprometidos no mundo, desejais contribuir para resolver estas problemáticas à luz da Doutrina Social da Igreja. A vossa finalidade consiste também em promover a cultura da solidariedade e em favorecer um desenvolvimento económico atento às expectativas reais dos indivíduos e dos povos. Enquanto vos encorajo a dar continuidade a este vosso compromisso, gostaria de afirmar que somente do entrelaçamento ordenado dos três aspectos irrenunciáveis do desenvolvimento económico, social e humano pode nascer uma sociedade livre e solidária.

É de bom grado que faço meu, na presente circunstância, aquilo que o Papa Montini expressava com clarividência apaixonada na sua já mencionada Encíclica Populorum progressio: "Se a procura do desenvolvimento requer um número cada vez maior de técnicos, exige um número cada vez maior de sábios de reflexão profunda, em busca de um humanismo novo, que permita ao homem moderno o encontro de si mesmo, assumindo os valores superiores do amor, da amizade, da oração e da contemplação" (n. 20). Esta é a vossa missão; esta é a tarefa que o Senhor vos confia ao serviço da Igreja e da sociedade, e sei que a estais a cumprir com zelo e generosidade. A este propósito, foi com prazer que tomei conhecimento do facto de que a vossa Fundação está a ampliar a própria presença em vários países da Europa e da América. Sinto-me realmente feliz por isto!

Sobre vós e sobre as vossas iniciativas, assim como sobre as vossas famílias, invoco cordialmente a Bênção de Deus.




AO SENHOR JUSTINO MARIA APARÍCIO GUTERRES, PRIMEIRO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

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Segunda-feira, 21 de Maio de 2007



Senhor Embaixador!

A sua presença hoje aqui representa o coroamento dos vínculos entre o povo timorense e esta Sé Apostólica que vêm de longe mas registaram um salto qualitativo ao assumir a forma de relações diplomáticas a 20 de Maio de 2002, ou seja, no próprio dia em que despontou no horizonte internacional a sua jovem Nação. É, pois, com muito prazer que recebo as cartas credenciais que designam Vossa Excelência como o primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Democrática de Timor-Leste junto da Santa Sé.

Ao dar-lhe as boas-vindas a este Acto de apresentação, começo por agradecer a nobre expressão dos sentimentos que o animam, desejando assegurar-lhe, desde já, a minha estima no desempenho da elevada missão que lhe foi confiada, assim como testemunhar, na sua pessoa, o profundo afecto que sinto por todos os amados filhos e filhas do seu País. O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, para Sua Excelência o Senhor Presidente Kay Rala Xanana Gusmão, pedindo-lhe, Senhor Embaixador, que o certifique do meu reconhecimento pela deferente saudação de que Vossa Excelência se fez intérprete e que retribuo desejando as melhores felicidades para a sua pessoa, bem como para todos os que colaboram com ele no serviço da Nação. Para o seu sucessor, o Presidente eleito José Ramos Horta, vão as minhas felicitações com votos de feliz êxito no exercício das suas altas funções.

A enorme afluência às urnas para a eleição do novo Presidente da Republica demonstrou a grande maturidade cívica do povo timorense mas também a esperança que o mesmo deposita no «processo de construção de um Estado de direito democrático», para usar as palavras do Senhor Embaixador, que lembrava ainda as eleições de Junho próximo para a Assembleia da República.

Aos novos representantes e servidores deste povo, que já sofreu demais, peço que não desiludam tal esperança mas se empenhem numa progressiva democratização da sociedade, procurando aumentar a participação de todos os grupos numa ordem da vida pública que seja representativa e juridicamente tutelada. Como é sabido, o mundo assistiu, incrédulo e preocupado, à grave crise gerada pelo desespero de uns e pela impaciência de outros que transtornou o último biénio da vida nacional de Timor-Leste, fazendo reaparecer na alma colectiva os fantasmas do passado sob as formas de medo, suspeita e divisão. Que a recordação daqueles dias trágicos torne o governo e a oposição particularmente solícitos em empreender a via do diálogo e da colaboração, evitando a tentação de se abandonarem ao confronto com o adversário político, não só porque é moralmente inaceitável mas também porque esta atitude se revela sempre prejudicial para a consolidação de uma correcta dialéctica democrática e para o desenvolvimento integral de todos os cidadãos do País.

Todos sabem como a tarefa que hoje se apresenta aos responsáveis da vida política, social e económica de Timor-Leste é árdua e não está isenta de obstáculos. Não faltam incompreensões internas e externas; não se dispõe de todos os recursos necessários para responder às numerosas necessidades de habitação, saúde, educação, emprego; nem todos estão dispostos a prescindir de interesses pessoais ou partidários. Para não encalharem de novo em tais obstáculos, faço apelo à fé cristã que, há quatrocentos anos, se radicou no vosso solo pátrio e hoje é senha e glória de noventa e oito por cento da população timorense, bem ciente de ter encontrado na Igreja, com os seus Pastores na vanguarda, uma instância inspiradora e promotora de uma cultura de solidariedade e convivência pacífica na justiça, impelindo as vontades a colaborarem a favor do progresso e do bem comum, sem esquecer a atenção que merecem os mais pobres e desamparados.

Tomando a palavra durante o conflito, os Bispos timorenses não se cansaram de indicar aos seus concidadãos a estrada-mestra para um futuro de paz e de prosperidade na rejeição da violência e do ressentimento e na oferta do perdão e da reconciliação com os demais. Por isso, no passado dia 8 de Abril – como Vossa Excelência amavelmente anotava – quis juntar a minha voz à deles para suplicar, primeiro a Cristo Ressuscitado mas depois também aos homens e mulheres de boa vontade, a força da reconciliação e o dom da paz entre a população de Timor-Leste. Seja-me permitido hoje dirigir um veemente apelo às pessoas investidas de autoridade pública para que façam tudo o que lhes for possível para restaurar uma ordem pública eficiente com meios legais e restituir aos cidadãos a segurança na vida quotidiana, graças também à reencontrada confiança nas instituições legítimas do Estado.

Este, em razão das suas prerrogativas e funções, é o primeiro garante das liberdades e dos direitos da pessoa humana, que lhe devem ser reconhecidos em virtude da sua própria dignidade: enquanto ser espiritual, o homem é o valor fundamental e vale mais do que todas as estruturas sociais em que participa. Ora, será esta atenção aos direitos do homem por parte das autoridades timorenses que há-de dar a todos os cidadãos confiança nas instituições nacionais, encarregadas de assegurar a sua protecção. Estas considerações, Senhor Embaixador, são uma expressão do meu afecto e solicitude de Pastor pelo amado povo do seu País e um sinal de esperança que a Igreja depõe num provir mais justo e prometedor para Timor-Leste.

Vossa Excelência conhece certamente a atenção que a Santa Sé dedica à dignidade e promoção das pessoas e dos povos, assim como o seu desejo de que cada um possa ocupar o seu lugar e oferecer a própria colaboração na vida nacional e internacional. O desenvolvimento dos povos depende em grande parte duma autêntica integração numa ordem mundial solidária. À Igreja cabe não tanto propor programas operativos concretos, que são alheios à sua competência, como sobretudo iluminar melhor a consciência moral dos responsáveis políticos, económicos e financeiros. Para isso, ela põe em evidência o princípio da solidariedade como fundamento de uma verdadeira economia de comunhão e participação de bens, na ordem tanto internacional como nacional. Esta solidariedade exige que se compartilhem, de modo equitativo, os esforços por resolver os problemas do subdesenvolvimento e os sacrifícios necessários para superar as crises económicas e políticas, tendo em conta as necessidades das populações mais indefesas.

Mas esta solidariedade manifesta-se também como uma comunhão de serviços e permuta de conhecimentos. Com efeito, mediante uma assistência técnica e uma formação apropriada, é preciso encorajar os países que saem de períodos difíceis a favorecerem instituições democráticas estáveis, a valorizarem as suas próprias riquezas para o bem de todos os habitantes e a assegurarem às populações uma digna educação moral, cívica e intelectual. Quero neste momento congratular-me com a Organização das Nações Unidas e demais entes governamentais e não governamentais pela solidariedade demonstrada para com o povo de Timor-Leste pedindo-lhes que não o abandonem nesta fase de consolidação nacional. Com efeito é através da promoção integral das pessoas que se ajudará os países a desenvolverem-se, a serem fautores do seu progresso e parceiros da vida internacional e a enfrentarem o futuro com confiança.

Não se pode esquecer que não poucos dos problemas sócio-económicos e políticos na vida dos povos, têm as suas raízes e grande repercussão na ordem moral. Neste campo, a Igreja, fiel ao mandato recebido do seu divino Fundador, procura iluminar a partir do Evangelho as realidades temporais, movida sempre pelo seu afã de servir o bem comum e as grandes causas do homem. A este respeito posso assegurar que os Pastores, sacerdotes e comunidades religiosas de Timor-Leste continuarão incansavelmente no cumprimento da sua missão evangelizadora, assistencial e caritativa. Eles são os continuadores duma plêiade de homens e mulheres que, chamados a uma vocação de serviço desinteressado, dedicaram as suas vidas a mitigar a dor, a instruir e a educar, dando testemunho de abnegada entrega em favor dos mais necessitados. Assim aprouve salientá-lo Vossa Excelência, prestando homenagem a estes servos do Evangelho que, até aos lugares mais remotos do País, levam ajuda e conforto, infundindo amor e esperança.

Senhor Embaixador!

Ao apresentar-lhe os votos mais cordiais para a nobre missão que lhe foi confiada pelo seu País, desejo assegurar-lhe a plena e leal colaboração de quantos coadjuvam o Papa na realização do ministério apostólico que lhe é próprio. Neles poderá encontrar uma valiosa contraparte pelo que diz respeito às questões bilaterais e, mais em geral, uma constante colaboração em ordem à prossecução do bem comum na comunidade internacional. Enquanto confio os governantes e os cidadãos de Timor-Leste à protecção da Virgem Maria, celeste padroeira da Nação, elevo a minha oração pedindo-Lhe que assista Vossa Excelência, as Autoridade civis e quantos estão ao serviço do povo timorense, sempre perto do coração do Papa, e a todos envio a minha Bênção.



NO FINAL DO CONCERTO "RESURREXI" OFERECIDO PELA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA Quarta-feira, 23 de Maio de 2007

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Senhores Cardeais
Venerados Irmãos no Episcopado
e no Sacerdócio
Gentis Senhores e Senhoras!

A poucos dias da conclusão do tempo pascal celebraremos no próximo domingo a solenidade de Pentecostes tivemos esta noite uma ulterior oportunidade de nos determos a meditar sobre o evento admirável da Ressurreição de Cristo. A ocasião foi-nos dada pela execução deste sugestivo Oratório que a Conferência Episcopal Italiana, reunida em Assembleia Geral, quis oferecer a mim e aos meus colaboradores pelo meu octagésimo aniversário e como coroamento da visita ad Limina dos Prelados da Itália, realizada no curso deste ano pastoral num clima de profunda comunhão eclesial. Obrigado, venerados e queridos Irmãos Bispos italianos, por este apreciado dom. Juntos escutámos a reevocação de personagens e cenas do Evangelho que nos reconduzem ao mistério central da nossa fé: a Ressurreição do Senhor. Pudemos saborear uma composição concertista e poética caracterizada por um harmónico entrelaçamento entre expressividade artística e simbologia espiritual, melodia e estimulantes temas de meditação.

No final deste agradável concerto, sinto a necessidade de agradecer quantos o promoveram, preparando-o atentamente e agora, executando-o magistralmente. Antes de tudo, gostaria de dirigir o meu grato pensamento ao Arcebispo Angelo Bagnasco, que há alguns meses assumiu a guia, como Presidente, da Conferência Episcopal Italiana. Saúdo-o com afecto e agradeço as cordiais palavras que me dirigiu no início deste nosso encontro, e asseguro-lhe a minha benevolência, acompanhada pela constante oração pela elevada tarefa que é chamado a desempenhar ao serviço da Igreja na Itália. Saúdo os Senhores Cardeais, os Bispos, os sacerdotes, as Autoridades presentes e quantos não quiseram faltar a esta noite musical. Com sincera gratidão saúdo o coro, com o Maestro Marco Faelli e a orquestra da Arena de Verona, dirigida pelo maestro Julian Kovatchev. Agradeço o coro de vozes brancas "Alive" e o maestro Paolo Facincani, assim como o das vozes brancas "Benjamin Britten", dirigido pelo maestro Marco Tonini. A cada um de vós, queridos artistas e músicos, o meu cordial obrigado pela admirável execução deste oratório sacro, composto por Alberto Colla, na parte musical, e por Roberto Mussapi, o texto poético: a eles dirijo a mais viva e reconhecida estima.

No início, dizia que esta noite musical nos proporcionou a ocasião de meditar sobre o evento central da nossa fé: a Ressurreição de Cristo. Com efeito, o título Resurrexi "Ressuscitei", tirado do incipit latino da antífona de entrada da Missa de Páscoa, ressoa como a auto-apresentação de Jesus, que na liturgia se identifica e se faz reconhecer, exactamente na sua condição de Ressuscitado. O Oratório faz reviver os sentimentos de enlevo e de alegria experimentados por aqueles que foram as primeiras testemunhas oculares da Ressurreição. Através de cinco "quadros" harmonicamente ligados num entrelaçamento melódico e poético, os autores deste melodrama ajudaram-nos a meditar sobre o alvorecer do Terceiro Dia, rico de luz resplandecente, que abriu o coração dos Apóstolos e lhes permitiu compreender, no seu significado pleno, os eventos dramáticos da morte e ressurreição do divino Mestre, como também os gestos precedentes e os ensinamentos da sua vida.

A Páscoa constitui o coração do cristianismo. Para cada crente e cada comunidade eclesial é importante o encontro com Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Sem esta experiência pessoal e comunitária, sem uma íntima amizade com Jesus, a fé permanece superficial e estéril. Desejo muito que também este oratório, que seguimos com religiosa atenção e participação, nos ajude a amadurecer a nossa fé. Na Páscoa de Cristo antecipa-se a vida nova do mundo ressuscitado: quanto mais formos firmemente convictos disto, mais consciente será o nosso testemunho evangélico e mais ardoroso o zelo apostólico. O Espírito Santo, que desceu abundantemente no Pentecostes sobre a Igreja nascente, nos obtenha este dom. Com estes sentimentos, também em nome dos presentes, enquanto renovo um cordial agradecimento aos idealizadores desta noite, e aos talentosos maestros, músicos e cantores, a todos concedo de coração uma especial Bênção Apostólica.




A UMA DELEGAÇÃO DA REPÚBLICA DA BULGÁRIA Quinta-feira, 24 de Maio de 2007

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Senhor Presidente do Parlamento
Honráveis Membros do Governo
Venerados Irmãos Representantes
da Igreja Ortodoxa
e da Igreja Católica

É-me grato apresentar a cada um as minhas cordiais boas-vindas na memória litúrgica dos Santos Cirilo e Metódio. Esta ocasião é mais propícia do que nunca para manifestar a minha estima e proximidade do povo búlgaro, que também hoje quis dar testemunho das suas raízes cristãs mediante o envio desta Delegação. Vejo neste gesto também o desejo de confirmar as próprias tradições europeias, profundamente impregnadas de valores evangélicos. Sem dúvida, considerando a sua origem, a história da Bulgária precede a revelação cristã. É, porém, indubitável que no Evangelho a Nação encontrou uma nascente de valores, capaz de reforçar a cultura, a identidade e o génio típico do povo. Deste modo, o ensinamento dos Irmãos de Tessalonica contribuiu para modelar a fisionomia espiritual do povo búlgaro, permitindo a sua justa inserção na tradição cultural do continente europeu.

Depois da triste e dura dominação comunista, hoje em dia a Bulgária está orientada para uma plena integração com as outras nações europeias. Inspirando-se precisamente nos ensinamentos de Cirilo e Metódio, esta nobre Nação poderá reforçar as finalidades até agora alcançadas, haurindo daquela fonte de preciosos valores humanos e espirituais que têm alimentado a sua vida e o seu desenvolvimento. Formulo os meus ardentes bons votos a fim de que os fundamentos culturais e espirituais presentes na sociedade búlgara continuem a ser cultivados não apenas no território da República mas, com a sua válida contribuição, possam ser defendidos e propostos também nas assembleias das quais ela já é uma autorizada protagonista. Em particular, faço votos para que a Bulgária e o seu povo conservem e promovam as virtudes cristãs que derivam dos ensinamentos dos Santos Cirilo e Metódio, ainda hoje mais actuais e necessários do que nunca. Nesta circunstância, desejo recordar que os pensamentos e as preocupações do povo búlgaro me estão sempre presentes e que, para isto, asseguro a minha oração e a minha proximidade espiritual.

Com estes sentimentos, renovo a expressão da minha estima e, enquanto garanto que a Santa Sé acompanhará o caminho desta Nação com atenção amistosa, renovo-lhe, Senhor Presidente, bem como aos ilustres Componentes da Delegação, a minha saudação abençoadora e orante, com que pretendo alcançar também todos os cidadãos da querida República búlgara.





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