Discursos Bento XVI 26707

SAUDAÇÃO À COMUNIDADE DE LORENZAGO DI CADORE Quinta-feira, 26 de Julho de 2007

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No final destas duas semanas transcorridas aqui na bela terra das Dolomitas, posso apenas dizer obrigado de coração a todos e a cada um de vós, pelo vosso serviço e pelo vosso compromisso.

A vossa presença silenciosa, discreta e competente, concederam-me o espaço para um tempo de repouso inesquecível, repouso do corpo e da alma. No livro dos Salmos lemos "A tua bondade, Senhor, circunda-me como os montes eternos". E nós estamos circundados por esta bondade divina visível na beleza da montanha.

Mas em todo este tempo estive sobretudo circundado pela bondade humana, pela vossa bondade, que me acompanhou sempre. Fostes para mim realmente "anjos da guarda" invisíveis, silenciosos mas sempre presentes, disponíveis; e permanece na minha memória a recordação da vossa presença em todos estes dias.



PALAVRAS À COMUNIDADE DE CASTEL GANDOLFO Sexta-feira, 27 de Julho de 2007

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Queridos amigos, transcorri umas férias muito agradáveis na terra das Dolomitas, mas agora sinto-me feliz por estar de novo aqui em Castel Gandolfo, que é para mim uma segunda casa.

Sinto-me sempre em casa aqui em Castel Gandolfo, porque estou circundado pela vossa amizade e pela vossa hospitalidade. Espero que nos vejamos no próximo domingo para a recitação do Angelus.

Desejo-vos boa semana, bom sábado e boas férias. Adeus.



AOS PARTICIPANTES NA "MISSÃO JOVEM" PROMOVIDA PELAS DIOCESES DA PROVÍNCIA ECLESIÁSTICA DE MADRID Palácio Pontifício de Castel Gandolfo, 9 de Agosto de 2007

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Queridos irmãos e irmãs
Queridos jovens espanhóis!

É com prazer que vos recebo hoje, queridos jovens que participastes na "Missão Jovem" da Arquidiocese de Madrid e das dioceses dessa Província Eclesiástica. Viestes acompanhados pelo Senhor Cardeal Antonio María Rouco Varela, Arcebispo de Madrid, ao qual agradeço as amáveis palavras que me dirigiu em nome dos seus Bispos Auxiliares e dos Bispos de Getafe e de Alcalá de Henares e, naturalmente, de todos vós. Quisestes manifestar o vosso afecto ao Papa, Sucessor do Apóstolo Pedro, assim como o vosso compromisso de entrega e serviço à Igreja de Jesus Cristo.

Dou-vos as minhas cordiais boas-vindas e agradeço-vos a vossa presença aqui, em tão grande número, e de modo especial tudo o que fazeis como fruto dessa intensa experiência eclesial e de fé que vivestes.

Alguns de vós destes há pouco um expressivo testemunho dela, que ouvi com atenção. Apreciei a intensidade com que foi vivida a condição de missionário e as cores que adquirem certas facetas da vida quando se decide anunciar Cristo: o entusiasmo de se expor e verificar com surpresa que, contrariamente ao que muitos pensam, o Evangelho atrai profundamente os jovens; descobrir em toda a sua amplidão o sentido eclesial da vida cristã; a delicadeza e a beleza de um amor e de uma família vivida diante dos olhos de Deus, ou a descoberta de uma chamada inesperada a servi-lo totalmente consagrando-se ao ministério sacerdotal.

Visitando os lugares onde Pedro e Paulo anunciaram o Evangelho, onde deram a sua vida pelo Senhor e onde muitos outros foram também perseguidos e martirizados no alvorecer da Igreja, podeis compreender melhor por que a fé em Jesus Cristo, abrindo horizontes para uma vida nova, de autêntica liberdade e de uma esperança sem limites, necessita da missão, o impulso que nasce de um coração entregue generosamente a Deus e do testemunho corajoso d'Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Aconteceu assim aqui, em Roma, há muitos séculos, num ambiente que desconhecia Cristo, único Salvador do género humano e do mundo; aconteceu sempre assim, e também hoje se verifica o mesmo, quando ao vosso redor vedes muitos que o esqueceram ou que se afastam d'Ele, cegos por tantos sonhos passageiros que prometem muito mas que deixam o coração vazio.

Animo-vos a perseverar no caminho empreendido, deixando-vos guiar pelos vossos Pastores, colaborando com eles na tarefa entusiasmante de fazer chegar aos vossos coetâneos a ventura indescritível de saber que se é amado por Deus, o único amor que nunca falha nem termina. Não deixeis de cultivar vós mesmos o encontro pessoal com Cristo, de o ter sempre no centro do vosso coração, porque assim toda a vossa vida se convertirá em missão; deixareis transparecer Cristo que vive em vós.

Sendo jovens, estais para decidir o vosso futuro. Fazei-o à luz de Cristo, perguntai-lhe: que queres de mim?, e segui a vereda que Ele vos indicar com generosidade e confiança, sabendo que, como baptizados, todos sem distinções estamos chamados à santidade e a ser membros vivos da Igreja em qualquer forma de vida que nos corresponda.

A Virgem Maria, Rainha dos Apóstolos e Mãe da Igreja, foi apresentada pelo Concílio Vaticano II como "exemplo daquele amor de mãe que deve animar quantos colaboram na missão apostólica da Igreja para encaminhar os homens numa vida nova" (Lumen gentium
LG 65). Que a sua intercessão materna vos acompanhe e faça com que sejais fiéis aos compromissos que, dóceis ao Espírito Santo, assumistes para glória de Deus e para o bem dos vossos irmãos. Sirva-vos também de ajuda a Bênção Apostólica que vos concedo com afecto.

Muito obrigado pela vossa visita.


VISITA PASTORAL A LORETO POR OCASIÃO DO ÁGORA DOS JOVENS ITALIANOS


VIGÍLIA DE ORAÇÃO COM OS JOVENS NA ESPLANADA DE MONTORSO Sábado, 1 de Setembro de 2007

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AS RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DOS JOVENS DURANTE A VIGÍLIA DE ORAÇÃO
AS RESPOSTAS
ÀS PERGUNTAS DOS JOVENS DURANTE A VIGÍLIA DE ORAÇÃO



Pergunta formulada pelos jovens Piero Tisti e Giovanna Di Mucci:

A muitos de nós, jovens de periferia, falta um centro, um lugar ou pessoas capazes de dar-nos uma identidade. Com frequência vivemos sem história, sem perspectiva e, consequentemente, sem futuro. Parece que aquilo que esperamos verdadeiramente nunca acontece. Disto nasce a experiência da solidão e, às vezes, algumas dependências. Santidade, há algo ou alguém para o qual podemos tornar-nos importantes? Como é possível esperar, quando a realidade nega todos os sonhos de felicidade, todos os projectos de vida?

Resposta do Santo Padre:

Obrigado por esta pergunta e pela apresentação muito realista da situação. Acerca das periferias deste mundo com grandes problemas não é fácil responder agora e não queremos viver um optimismo fácil, mas por outro lado, devemos ter coragem e ir em frente. Anteciparia a substância da minha resposta assim: "Sim, também hoje há esperança, cada um de vós é importante, porque cada um é conhecido e querido por Deus e para cada um Deus tem um seu projecto". Devemos descobri-lo e responder a ele, para que seja possível, não obstante estas situações de precariedade e de marginalização, realizar o projecto de Deus sobre nós.

Mas, para chegar aos pormenores, vós apresentastes realisticamente a situação de uma sociedade: nas periferias parece difícil progredir, mudar o mundo para melhor. Tudo parece concentrado nos grandes centros do poder económico e político, as grandes burocracias dominam e quem se encontra nas periferias, com efeito, parece ser excluído desta vida. Então, um aspecto desta situação de marginalização de tantos é que as grandes células da vida da sociedade, capazes de construir centros também na periferia, estão fragmentadas: a família, que deveria ser o lugar de encontro das gerações desde o bisavô até ao neto deveria ser um lugar onde não só as gerações se encontram, mas onde se aprende a viver, se aprendem as virtudes essenciais para viver, está fragmentada, está em perigo. Devemos fazer o máximo possível para que a família seja viva, seja também hoje uma célula vital, o centro na periferia.

Também a paróquia, a célula viva da Igreja, deve ser realmente um lugar de inspiração, de vida e de solidariedade que ajuda a construir juntos os centros na periferia. E, devo dizer aqui, fala-se com frequência na Igreja de periferia e de centro, que seria Roma, mas na realidade na Igreja não existe periferia, porque onde está Cristo, ali está todo o centro. Onde se celebra a Eucaristia, onde está o Tabernáculo, está Cristo e, por conseguinte, ali é o centro e devemos fazer de tudo para que estes centros vivos sejam eficazes, presentes e, de facto, uma força que se opõe a esta marginalização. A Igreja viva, a Igreja das pequenas comunidades, a Igreja paroquial, os movimentos deveriam formar outros centros na periferia e assim ajudar a superar as dificuldades que a grande política obviamente não supera e devemos ao mesmo tempo também pensar que, não obstante as grandes concentrações de poder, precisamente a sociedade de hoje tem necessidade da solidariedade, do sentido da legalidade, da iniciativa e da criatividade de todos. Sei que é mais fácil falar do que realizar, mas vejo aqui pessoas que se empenham para que cresçam centros inclusive nas periferias, cresça a esperança e, portanto, parece-me que devemos tomar a iniciativa justamente nas periferias, é preciso que a Igreja esteja presente, que o centro do mundo, Cristo, esteja presente.

Vimos e vemos hoje no Evangelho que para Deus não existem periferias. A Terra Santa, no amplo contexto do Império Romano, era periferia; Nazaré era periferia, uma cidade desconhecida. E todavia precisamente aquela realidade era, de facto, o centro que mudou o mundo! E assim também nós devemos formar centros de fé, de esperança, de amor e de solidariedade, de sentido da justiça e da legalidade, de cooperação. Somente assim a sociedade moderna pode sobreviver.

É necessária esta coragem, para criar centros, mesmo se já não parece existir esperança. Devemos opor-nos a este desespero, devemos colaborar com grande solidariedade e fazer o que for possível para que cresça a esperança, para que os homens possam colaborar e viver. Como vemos, o mundo tem que ser mudado, mas é exactamente esta a missão da juventude! Não podemos fazê-lo somente com as nossas forças, mas em comunhão de fé e de caminho. Em comunhão com Maria, com todos os Santos, em comunhão com Cristo podemos fazer algo de essencial e encorajo-vos e convido-vos a ter confiança em Cristo, e ter confiança em Deus. Estar na grande companhia dos Santos e ir adiante com eles pode mudar o mundo, criando centros na periferia, para que realmente se torne visível e se torne realista a esperança de todos e cada um possa dizer: "Eu sou importante na totalidade da história. O Senhor ajudar-nos-á". Obrigado.


Pergunta formulada pela jovem Sara Simonetta:

Eu creio no Deus que tocou o meu coração, mas são muitas as inseguranças, os questionamentos, os medos que trago dentro de mim. Não é fácil falar de Deus com os meus amigos; muitos deles vêem a Igreja como uma realidade que julga os jovens, que se opõe aos seus desejos de felicidade e de amor. Diante desta recusa percebo toda a minha solidão de ser humano e gostaria de sentir a proximidade de Deus. Santidade, neste silêncio, onde está Deus?".

Resposta do Santo Padre

Sim, todos nós, embora crentes, conhecemos o silêncio de Deus. No Salmo que acabámos de recitar há um grito quase desesperado: "Fala Deus, não te escondas!"; e há pouco foi publicado um livro com as experiências espirituais de Madre Teresa e quanto sabíamos já se mostra ainda mais abertamente: com toda a sua caridade, a sua força de fé, Madre Teresa sofria do silêncio de Deus.

Por um lado, devemos suportar este silêncio de Deus, também para poder entender os nossos irmãos que não conhecem Deus. Por outro, com o Salmo podemos sempre de novo gritar a Deus: "Fala, mostra-te!". E, sem dúvida, na nossa vida, se o coração estiver aberto, podemos encontrar os grandes momentos nos quais realmente a presença de Deus se torna sensível também para nós.

Recordo-me neste momento de uma pequena história que João Paulo II contou nos Exercícios pregados por ele no Vaticano quando ainda não era Papa. Contou que depois da guerra recebeu a visita de um oficial russo que era um cientista, o qual lhe disse como cientista: "Estou certo de que Deus não existe. Mas se estou numa montanha, diante da sua majestosa beleza, da sua grandeza, estou igualmente certo de que o Criador existe e que Deus existe". A beleza da criação é uma das fontes onde realmente podemos tocar a beleza de Deus, podemos ver que o Criador existe e é bom, que é verdadeiro como a Sagrada Escritura narra no conto da Criação, isto é, que Deus pensou e fez com o seu coração, com a sua vontade, com a sua razão este mundo e achou-o bom.

Também nós devemos ser bons, a fim de manter o coração aberto para perceber a verdadeira presença de Deus. Depois, ao ouvir a Palavra de Deus nas grandes celebrações litúrgicas, nas festas da fé, na grande música da fé, sentimos esta presença. Lembro-me ainda de outra pequena história que me contou há pouco tempo um bispo em visita "ad Limina": tinha uma mulher não cristã muito inteligente que começava a ouvir a grande música de Bach, Haendel, Mozart. Ficou fascinada e um dia disse: "Devo encontrar a fonte de onde podia vir esta beleza", e ela converteu-se ao Cristianismo, à fé católica, porque achou que esta beleza tem uma fonte, e a fonte é a presença de Cristo nos corações, é a revelação de Cristo neste mundo.

Portanto, grandes festas da fé, da celebração litúrgica, mas também o diálogo pessoal com Cristo: Ele nem sempre responde, mas existem momentos em que realmente responde. Depois há a amizade, a companhia da fé. Agora, reunidos aqui em Loreto, vemos como a fé une, a amizade cria uma companhia de pessoas a caminho. E sentimos que tudo isto não vem do nada, mas realmente há uma fonte, que o Deus silencioso é também um Deus que fala, que se revela e, sobretudo, que nós mesmos podemos ser testemunhas da sua presença, que da nossa fé brota realmente uma luz, inclusive para os outros.

Por conseguinte, diria, por um lado devemos aceitar que neste mundo Deus é silencioso, mas não devemos ser surdos ao seu falar, ao seu aparecer em tantas ocasiões e vemos, sobretudo na Criação, na bela liturgia, na amizade dentro da Igreja, a presença do Senhor e, repletos da sua presença, podemos também nós oferecer luz aos outros. Assim chego à segunda ou à primeira parte da sua pergunta: é difícil falar de Deus aos amigos de hoje e talvez ainda mais difícil que falar da Igreja, porque vêem em Deus somente um limite da nossa liberdade, um Deus de mandamentos, de proibições e na Igreja uma instituição que limita a nossa liberdade, que nos impõe interdições.

Mas devemos procurar tornar-lhes visível a Igreja viva, não esta ideia de um centro de poder na Igreja com estas etiquetas, mas as comunidades de companhia nas quais não obstante todos os problemas da vida, que todos têm, nasce a alegria de viver. Neste ponto, vem-me uma terceira lembrança. Fui ao Brasil e à Fazenda da Esperança, uma grande realidade onde os toxicómanos são cuidados e reencontram a esperança, a alegria de viver e testemunham que exactamente a descoberta de que Deus existe faz com que a cura do desespero tenha um significado para eles.

Assim compreenderam que a sua vida tem um sentido e reencontraram a alegria de estar neste mundo, a alegria de enfrentar os problemas da vida humana. Portanto, em cada coração humano, não obstante todos os problemas que existem, há a sede de Deus e onde Deus desaparece, desaparece também o sol que dá luz e alegria. Esta sede de infinito que está nos nossos corações demonstra-se inclusive na realidade da droga: o homem quer aumentar o valor da vida, ter mais da vida, ter o infinito, mas a droga é uma mentira, um engano, porque não alarga a vida, mas a destrói.


Verdadeira é a grande sede que nos fala de Deus e nos coloca no caminho para Deus, mas devemos ajudar-nos reciprocamente. Cristo veio exactamente para criar uma rede de comunhão no mundo, onde todos juntos podemos levar-nos uns aos outros e assim ajudarmo-nos a encontrar juntos a estrada da vida e entender que os Mandamentos de Deus não são limitações da nossa liberdade, mas os caminhos que guiam para o alto, para a plenitude da vida. Rezemos ao Senhor para que nos ajude a compreender a sua presença, a ser plenos da sua Revelação, da sua alegria, a ajudar-nos uns aos outros na companhia da fé para irmos adiante, e encontrar cada vez mais com Cristo o verdadeiro rosto de Deus e assim a verdadeira vida.



Queridos jovens, que constituís a esperança da Igreja na Itália!

Sinto-me feliz por me encontrar convosco neste lugar tão singular, nesta tarde especial, rica de orações, de cânticos, de silêncios, cheia de esperanças e de emoções profundas. Este vale, onde no passado também o meu amado predecessor João Paulo II se encontrou com muitos de vós, já se tornou a vossa "Ágora", a vossa praça sem muros nem barreiras, onde mil estradas convergem e partem. Escutei com atenção quem falou em nome de todos vós. Viestes a este lugar de encontro pacífico, autêntico e jubiloso por numerosos motivos diversos: uns porque pertencem a um grupo, outros porque são convidados por amigos, por profunda convicção, por dúvidas no coração ou por simples curiosidade... Seja qual for o motivo que vos trouxe aqui, posso dizer-vos que quem nos reuniu, mesmo se é corajoso dizê-lo, foi o Espírito Santo. Sim, é precisamente assim: trouxe-vos aqui o Espírito Santo; viestes com as vossas dúvidas e as vossas certezas, com as vossas alegrias e preocupações. Agora compete a todos nós, a todos vós, abrir o coração e oferecer tudo a Jesus.

Dizei-lhe: eis-me, estou aqui, certamente ainda não sou como tu me queres, nem sequer consigo compreender profundamente a mim mesmo, mas com a tua ajuda estou pronto para te seguir. Senhor Jesus, esta tarde gostaria de te falar, fazendo minha a atitude interior e o abandono confiante daquela jovem mulher, que há mais de dois mil anos pronunciou o seu "sim" ao Pai que a escolheu para ser a tua Mãe. O Pai escolheu-a porque era dócil e obediente à sua vontade. Como ela, como a pequena Maria, cada um de vós, queridos jovens amigos, diga com fé a Deus: Eis-me, "faça-se em mim segundo a tua palavra"!

Que espectáculo maravilhoso de fé jovem e envolvedora estamos a viver esta tarde! Loreto tornou-se esta tarde, graças a vós, a capital espiritual dos jovens; no centro para o qual convergem idealmente as multidões de jovens que povoam os cinco Continentes. Neste momento sentimo-nos como que circundados pelas expectativas de milhões de jovens do mundo inteiro: neste mesmo momento alguns estão vigilantes, outros dormem, outros ainda estudam ou trabalham; há quem espera e quem desespera, quem crê e quem não consegue crer, quem ama a vida e quem, ao contrário, a está desperdiçando. Gostaria que a todos chegassem estas minhas palavras: o Papa está próximo de vós, partilha as vossas alegrias e as vossas tristezas, sobretudo partilha as esperanças mais íntimas que estão no vosso coração e para cada um pede ao Senhor o dom de uma vida plena e feliz, uma vida rica de sentido, uma vida verdadeira.

Infelizmente hoje, com frequência, uma vida repleta e feliz é considerada por muitos jovens como um sonho difícil ouvimos tantos testemunhos e por vezes alguns irrealizáveis. Muitos dos vossos coetâneos olham para o futuro com apreensão e fazem não poucos questionamentos. Perguntam-se preocupados: como inserir-se numa sociedade marcada por numerosas e graves injustiças e sofrimentos? Como reagir ao egoísmo e à violência que por vezes parecem prevalecer? Como dar sentido pleno à vida? Com amor e convicção repito a vós, aos vossos coetâneos do mundo inteiro: não tenhais medo, Cristo pode satisfazer as aspirações mais profundas do vosso coração! Há porventura sonhos irrealizáveis quando quem os suscita e os cultiva no coração é o Espírito de Deus? Há algo que pode impedir o nosso entusiasmo quando estamos unidos a Cristo? Nada e ninguém, diria o apóstolo Paulo, jamais nos poderá separar do amor de Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor (cf.
Rm 35-39).

Deixai que esta tarde eu vos repita: cada um de vós, se permanecer unido a Cristo, pode realizar coisas grandiosas. Eis por que, queridos amigos, não deveis ter medo de sonhar de olhos abertos grandes projectos de bem e não vos deveis desencorajar pelas dificuldades. Cristo tem confiança em vós e deseja que possais realizar cada um dos vossos projectos mais nobres e altos de felicidade autêntica. Nada é impossível para quem confia em Deus e se entrega a Ele. Olhai para a jovem Maria! O Anjo perspectivou-lhe algo verdadeiramente inconcebível: participar do modo mais envolvedor possível no maior dos planos de Deus, a salvação da humanidade. Perante esta proposta Maria, como ouvimos no Evangelho, permaneceu perturbada, sentindo toda a pequenez do seu ser perante a omnipotência de Deus; e perguntou: como é possível, por que precisamente eu? Mas estando disposta a cumprir a vontade divina, pronunciou imediatamente o seu "sim", que mudou a sua vida e a história da humanidade inteira. É graças ao seu "sim" que também nós nos encontramos aqui esta tarde.

Interrogo-me e pergunto-vos: os pedidos que Deus nos faz, por mais empenhativos que nos possam parecer, poderão ser comparados com o que foi pedido por Deus à jovem Maria?

Queridos jovens e moças, aprendamos de Maria a dizer o nosso "sim", porque ela sabe verdadeiramente o que significa responder com generosidade aos pedidos do Senhor. Maria, queridos jovens, conhece as vossas aspirações mais nobres e profundas. Conhece bem, sobretudo, o vosso grande desejo de amor, a vossa necessidade de amar e de ser amados. Olhando para ela, seguindo-a docilmente, descobrireis a beleza do amor, mas não de um amor "descartável", passageiro e enganador, aprisionado por uma mentalidade egoísta e materialista, mas com um amor verdadeiro e profundo. No mais íntimo do coração cada jovem que se prepara para enfrentar a vida, cultiva o sonho de um amor que dê sentido pleno ao próprio futuro. Para muitos isto realiza-se na opção pelo matrimónio e pela formação de uma família na qual o amor entre um homem e uma mulher seja vivido como doação recíproca e fiel, como dom definitivo, selado pelo "sim" pronunciado diante de Deus no dia do matrimónio, um "sim" por toda a existência. Sei bem que este sonho é hoje sempre menos fácil de se realizar. Quantas falências do amor à nossa volta!

Quantos casais abaixam a cabeça, se rendem e se separam! Quantas famílias se fragmentam!

Quantos jovens, também entre vós, viram as separações e o divórcio dos seus pais! Gostaria de dizer esta tarde a quantos se encontram em situações tão delicadas e complicadas: a Mãe de Deus, a Comunidade dos crentes, o Papa estão ao vosso lado e rezam para que a crise que marca as famílias do nosso tempo não se torne uma falência irreversível. Possam as famílias cristãs, com o apoio da Graça divina, manter-se fiéis àquele solene compromisso de amor assumido com alegria diante do sacerdote e da comunidade cristã, no dia solene do matrimónio.

Perante tantas falências é frequente esta pergunta: sou eu melhor que os meus amigos e parentes que tentaram e falharam? Por que eu, precisamente eu, devo conseguir naquilo que tantos se rendem? Este temor humano pode bloquear até os espíritos mais corajosos, mas nesta noite que nos espera, aos pés da sua Santa Casa, Maria repetirá a cada um de vós, queridos jovens amigos, as palavras que ela mesma ouviu do Anjo: Não receeis! Não tenhais medo! O Espírito Santo está convosco e nunca vos abandona. Para quem confia em Deus nada é impossível. Isto é válido para quem está destinado à vida matrimonial, e ainda mais para quantos Deus propõe uma vida de total desapego dos bens da terra para se dedicarem inteiramente ao seu Reino. Entre vós há alguns que se encaminharam para o sacerdócio, para a vida consagrada; outros desejam ser missionários, sabendo quantos e quais perigos isto apresenta. Penso nos sacerdotes, nas religiosas e nos leigos missionários que caíram na trincheira do amor ao serviço do Evangelho. A este propósito poderia dizer-nos algo o Pe. Giancarlo Bossi, pelo qual rezámos durante o período do seu sequestro nas Filipinas, e hoje rejubilamos ao tê-lo entre nós. Nele gostaria de saudar e agradecer a todos os que empregam a sua existência por Cristo nas fronteiras da evangelização. Queridos jovens, se o Senhor vos chamar a viver mais intimamente ao seu serviço, respondei com generosidade. Tende a certeza disto: a vida dedicada a Deus nunca é empregue em vão.

Queridos jovens, termino estas minhas palavras, mas antes desejo abraçar-vos com o coração de pai; abraço-vos um por um e saúdo-vos cordialmente. Saúdo os Bispos presentes começando por D. Angelo Bagnasco, Presidente da CEI e D. Gianni Danzi, que nos recebe na sua Comunidade eclesial. Saúdo os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os animadores que vos acompanham.

Saúdo as Autoridades civis e quantos se ocuparam da realização deste encontro. Estaremos mais uma vez unidos "virtualmente" mais tarde e ver-nos-emos amanhã de manhã, no final desta noite de vigília, para o momento mais alto do nosso encontro, quando se fizer realmente presente o próprio Jesus na sua Palavra e no mistério da Eucaristia. Contudo, desde agora, gostaria de marcar encontro convosco, jovens, em Sidney, onde daqui a um ano se realizará a próxima Jornada Mundial da Juventude. Eu sei, a Austrália é longe e para os italianos é literalmente o outro lado do mundo... Rezemos para que o Senhor que realiza todos os prodígios conceda que muitos de vós lá estejam. Que o conceda a mim, e o conceda a vós. Este é um dos nossos muitos sonhos que esta noite rezando juntos confiaremos a Maria.

Amém.


VISITA AO SANTUÁRIO LAURETANO - ORAÇÃO À NOSSA SENHORA DE LORETO

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Maria, Mãe do sim,
tu escutaste Jesus
e conheces o timbre da sua voz
e o palpitar do seu coração.

Estrela da manhã, fala-nos dele
e conta-nos o teu percurso
para o seguires no caminho da fé.

Maria, que em Nazaré
habitaste com Jesus,
imprime na nossa vida
os teus sentimentos,
a tua docilidade,
o teu silêncio que escuta
e faz florescer a Palavra
em opções de verdadeira liberdade.

Maria, fala-nos de Jesus,
para que o vigor da nossa fé
brilhe nos nossos olhos e anime
o coração de quem nos encontra,
como tu fizeste, visitando Isabel
que na sua velhice
rejubilou contigo pelo dom da vida.

Maria, Virgem do Magnificat,
ajuda-nos a levar a alegria
ao mundo e, como em Caná,
estimula cada jovem,
comprometido no serviço aos irmãos,
a fazer só o que Jesus disser.

Maria, dirige o teu olhar
para a Ágora dos jovens,
para que seja o terreno fecundo
da Igreja italiana.

Pede para que Jesus, morto
e ressuscitado, renasça em nós
e nos transforme numa noite
plena de luz, plena d'Ele.

Maria, Nossa Senhora de Loreto,
porta do céu,
ajuda-nos a elevar para o alto o olhar.
Queremos ver Jesus. Falar com Ele.
Anunciar a todos o Seu amor.


SAUDAÇÃO AOS FRADES CAPUCHINHOS E ÀS CLAUSTRAIS DE LORETO Sábado, 1 de Setembro de 2007

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Queridos Frades e queridas Irmãs

Neste momento de recolhimento e de oração gostaria somente de dizer obrigado a todos vós. Antes de tudo, obrigado aos Frades Capuchinhos, que ajudam para que a Casa de Nossa Senhora seja sempre realmente viva, um lugar de oração, de conversão e de alegria na fé. Sei, queridos Frades, que permaneceis muito tempo no confessionário e ajudais muitas pessoas a encontrar Jesus, a alcançar uma conversão para ir em frente no caminho que Jesus nos mostra, ir em frente em comunhão com o "sim" de Nossa Senhora que nos ajuda com a sua ternura, com a sua bondade, a sua generosidade. Obrigado a todos vós, caros Frades Capuchinhos. Para mim, como bávaro, os Capuchinhos são os Frades por definição, começando da minha juventude, pois eram sempre os Frades Capuchinhos que vinham em missão e sabiam pregar com força e também com alegria.

Queridas Irmãs, obrigado também a vós. Sois realmente a casa orante, viva, que aqui torna presente este sim de Nossa Senhora, o sim da total disponibilidade da vida por Jesus e dessa maneira mostrais a presença do sim de Nossa Senhora, realizando-o dia após dia; e sei que também a vossa é uma vida de sacrifícios. Não é fácil dizer sempre de novo este sim e colocar-se à disposição do Senhor todos os dias. Obrigado a todas vós e, sobretudo, porque estou certo de que rezais pelo Papa, que tem necessidade desta ajuda da oração.

Agora gostaria de conceder a minha Bênção a todos. Mais uma vez confio-me às vossas orações.
Obrigado novamente.

O Senhor abençoe todos.


SAUDAÇÃO AOS FIÉIS DE LORETO Domingo, 2 de Setembro de 2007

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Querido Irmão, Pastor da Igreja que está em Loreto
Senhor Presidente da Câmara Municipal desta singular Cidade mariana
Caríssimos fiéis

Obrigado por este encontro que conclui a minha estadia aqui em Loreto, onde pude entreter-me com muitíssimos jovens e viver junto com eles experiências de grande espiritualidade eucarística e mariana. Não podia contudo faltar um momento, embora breve, que fosse dedicado expressamente à Comunidade de Loreto. As gentis palavras do vosso Pastor e as do vosso primeiro Cidadão manifestaram os sentimentos de estima e afecto que nutris pela pessoa do Papa. Agradeço-vos de coração e saúdo cada um de vós com viva cordialidade. Obrigado pelo vosso acolhimento! Loreto disse o vosso Presidente da Câmara Municipal, ao evocar algumas palavras do meu amado Predecessor João Paulo II é também casa do Papa, e devo dizer que aqui, nestas horas, me senti verdadeiramente em casa. Obrigado pelo que fizestes a fim de tornar profícua não só a minha permanência e a dos meus colaboradores, mas também a dos jovens da "Ágora".

Na verdade vós, moradores de Loreto, sois habituados a semelhantes imponentes reuniões juvenis com o Papa; há pouco, foi recordada a de 1995 dos jovens europeus com João Paulo II, chamada "Eurhope". Estou certo de que, além das inevitáveis dificuldades que necessariamente comportam, estes eventos religiosos, assim como o quotidiano fluxo de peregrinos provenientes de toda a Itália e do mundo, constituem para vós uma preciosa oportunidade a valorizar cada vez mais. Eles são um constante convite a crescer na fé e na devoção a Nossa Senhora. Nunca esqueçais o grande privilégio que tendes de viver ao lado da Santa Casa! Aproveitai para entreter com Maria, nossa Mãe celeste, um diálogo filial tecido de confiança e de amor. Com o vosso acolhimento ofereceis ao visitante e aos devotos um testemunho quotidiano daquele amor materno que neste lugar Maria quis dispensar a todos os seus filhos. A Santa Casa seja verdadeiramente o centro e o coração da vossa Cidade!

Ao despedir-me de vós, queridos amigos, peço-vos que transmitais às vossas famílias a minha saudação e a garantia que continuarei a ter Loreto presente na minha oração. Recordarei cada um dos seus habitantes e, particularmente, os que sofrem e se encontram em dificuldade material e espiritual. De maneira especial, lembrarei dos doentes internados no hospital, que não me foi possível visitar, e aos quais envio a minha afectuosa saudação. Para todos e para cada um invoco mais uma vez a materna assistência de Maria e, enquanto renovo a expressão da minha gratidão, abençoo-vos a todos com afecto.


SAUDAÇÃO NO FINAL DO CONCERTO PARA CELEBRAR O MILÉNIO DA ARQUIDIOCESE DE BAMBERG Terça-feira, 4 de Setembro de 2007

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Palácio Pontifício de Castel Gandolfo

Reverendíssimo, querido Arcebispo Schick
Ilustre Senhor Ministro Goppel
Queridos Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Ilustres Senhoras e Senhores!

Talvez tenha acontecido a vós como a mim: os sons maravilhosos das duas sinfonias fizeram-me esquecer o quotidiano e transportaram-me para o mundo da música que como Vossa Excelência, Senhor Ministro, mencionou no início para Beethoven significava "uma revelação mais alta que qualquer sabedoria e filosofia". A música, de facto, tem a capacidade de remeter, para além de si mesma, para o Criador de qualquer harmonia, suscitando em nós ressonâncias que são como um sintonizar-se com a beleza e a verdade de Deus com aquela realidade que sabedoria humana alguma ou filosofia podem expressar. Foi isto que também Schubert quis expressar, quando disse acerca de um minueto de Mozart: "Parece que os anjos participam com o seu canto". E é isto que eu, como talvez muitos de vós, pude experimentar esta noite. Por esta experiência gostaria de agradecer de coração à "Bamberger Symphoniker" com o seu Director Jonathan Nott. Com a sua vasta gama de tonalidades de timbre e a grande força expressiva na interpretação das duas obras-primas da música afirmastes de novo a fama excelente da vossa orquestra. Que as vossas execuções possam ser para muitos também no futuro uma revelação especial!

O meu agradecimento dirige-se naturalmente também a quantos promoveram esta noite de festa, a Vossa Excelência, querido Arcebispo, e ao ilustre Senhor Ministro, assim como a todos os que com o seu apoio generoso tornaram possível a realização deste concerto. É um dom que interpreto como sinal de um vínculo particular de afecto da Arquidiocese de Bamberg com o sucessor de Pedro; de facto, durante alguns séculos da sua história já milenária a vossa Diocese esteve sob a imediata direcção da Santa Sé. Que a vossa peregrinação jubilar aos túmulos dos Apóstolos e ao actual sucessor de Pedro fortaleça a vossa alegria em Deus, para que possais ser suas testemunhas na vida quotidiana! Para isto peço a Deus uma abundante bênção para todos vós.





Discursos Bento XVI 26707